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LEGISLAÇÃO
Lisiane Mezzomo
Medicalização da sociedade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir a medicalização.
Relacionar o uso de medicamentos com as demandas oriundas da
medicalização.
Explicar por que o farmacêutico é um agente de saúde.
Introdução
Atualmente, o modelo de assistência à saúde é excessivamente medicalizado;
ou seja, os medicamentos assumem um papel importante no processo
saúde–doença, de forma que é praticamente impossível pensar a prática
médica ou a relação médico–paciente sem a presença desses medicamentos.
A medicalização tem sido foco de debates sobre a saúde durante o
último meio século, e as suas manifestações múltiplas e divergentes são
alvo de ações frente ao Poder Público. Nesse contexto, o farmacêutico
se insere como agente de saúde e representa um papel fundamental,
especialmente nas ações visando ao uso racional dos medicamentos.
Neste capítulo, você vai ler sobre os conceitos de medicalização, além
de relacionar o uso de medicamentos com as demandas oriundas da
medicalização e ver o papel do farmacêutico como um agente de saúde.
Medicalização
A palavra medicamento é definida pela Lei nº. 5.991, de 17 de dezembro de
1973, vigente até hoje, como o produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou
elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diag-
nóstico (BRASIL, 1973). Nesse contexto, insere-se o conceito de medicação,
que envolve o ato de medicar, ou seja, tratar mediante o uso de medicamentos.
Os medicamentos ocupam um papel importante nos sistemas sanitários, pois
salvam vidas e melhoram a saúde.
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alcoolismo;
ansiedade e humor;
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Os nomes das doenças são bem conhecidos, entre eles, citamos como
exemplos o transtorno de déficit de atenção, a hiperatividade, a dislexia, a
bipolaridade, entre outros.
políticas de preços;
atividades promocionais;
falta de informação;
falta de educação sobre o uso correto de medicamentos.
tristeza;
desamparo;
solidão;
receio;
insegurança;
ausência de felicidade.
Farmaceuticalização
O uso de medicamentos como via de resolução dos problemas define o termo
farmaceuticalização (ESHER; COUTINHO, 2017). Nesse contexto, o fármaco
passa a ser visto como uma cura imediata e fácil para uma grande quantidade
de males.
O crescimento do mercado farmacêutico pode ser atribuído a uma série de
fatores, desde a ampliação do acesso em decorrência de aumentos no nível de
renda ou de políticas públicas na área de saúde, até a introdução no mercado
de novos medicamentos, oferecendo soluções terapêuticas para problemas de
saúde até então não passíveis de tratamento por meio desses produtos.
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SIL, 2015). Essa determinação baseia-se no fato de que o TDAH não pode ser
confirmado por nenhum exame laboratorial ou de imagem, o que gera, inclusive,
questionamentos quanto à sua existência enquanto diagnóstico clínico.
Além do TDAH, as doenças psiquiátricas, como os transtornos de humor e
ansiedade, são comuns e identificadas com frequência. Para o tratamento desses
transtornos de humor e ansiedade, é comum a prescrição de benzodiazepíni-
cos, um dos psicotrópicos mais prescritos, com atividade ansiolítica, sedativa,
hipnótica, anticonvulsivante, relaxante muscular e coadjuvante anestésico.
Quando bem indicados, os benzodiazepínicos mostram-se úteis por apre-
sentarem rápido início de ação, poucos efeitos colaterais e boa margem de
segurança. O grande problema do seu uso indevido e indiscriminado é a me-
dicalização de problemas de vida ou pessoais, sociofamiliares e profissionais.
O uso contínuo de benzodiazepínicos pode provocar o fenômeno de to-
lerância, sendo necessárias doses cada vez mais altas para manter os efeitos
terapêuticos desejados. Assim, a dependência química torna-se um fenômeno
preocupante e comum, sendo que, muitas vezes, os usuários dependentes
relutam em retirar gradualmente a medicação, alegando alterações no padrão
de sono e repouso, como a insônia e ansiedade.
https://goo.gl/QnvcC4
https://goo.gl/Bq6XeF
medicina antroposófica;
termalismo-crenoterapia.
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