Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PA L AV R A S - C H AV E S RESUMO
Correspondência: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo: Av. Bandeirantes, 3.900, Ribeirão Preto-SP,
14049-900
e-mail: edumrego@hotmail.com
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
Manufatura de células
Centro de
Manufatura
Manufatura Viral
Figura 1. Produção de células CAR-T em um laboratório conforme com as boas práticas de manufatura.
No entanto, antes da validação de uma plataforma de grau clí- lidade de transduzir eficientemente a maioria dos tipos celula-
nico, muitos ensaios pré-clínicos foram realizados. Há vários res, incluindo células não proliferativas, como as células T naive
experimentos imperativos exigidos por diferentes agências re- (3). Ambos os retrovírus-γ e os lentivírus se integram, de forma
guladoras internacionais – por exemplo, o FDA e a European Me- semialeatória, no genoma da célula hospedeira. Portanto, apre-
dicines Agency (EMA) – como dados essenciais prévios às etapas sentam um risco de mutagênese insercional e desregulação de
para o estabelecimento de um dossiê robusto de uma nova dro- genes adjacentes ao local da integração (4, 5).
ga investigacional. No Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária O desenvolvimento e o uso de vetores não integrativos, ou dos
(ANVISA) incorporou ao seu marco regulatório os mesmos prin- que se integram em locais específicos, são objetivos importan-
cípios do FDA e da EMA (65). tes para a terapia com CAR. O desenvolvimento de novos ve-
Há grandes expectativas para a iminente introdução da terapia tores tem sido conduzido, principalmente, pela necessidade de
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
se abordar a questão da segurança, em especial, o problema da reconhecem o alvo com afinidades diferentes nas moléculas de
mutagênese insercional (6). CAR, pode potencialmente permitir a discriminação entre as cé-
Vetores não virais, como o Sleeping Beauty (SB), PiggyBac (PB) ou lulas saudáveis e as tumorais. Alguns grupos exploraram essa
Tol2, derivados de transposons, tipicamente, necessitam da co- abordagem, especialmente no cenário pré-clínico, (9) e a revisa-
transfecção do DNA do transposon com uma transposase, como ram (10). Resultados recentes mostraram uma potencial toxici-
um plasmídeo de expressão ou mRNA. Em consequência, isso dade devido ao reconhecimento do alvo fora do tumor quando
resulta em integração genômica geralmente nas regiões genô- se usam CARs de alta afinidade (11), e isso também advoga a fa-
micas ricas de AT (7). Embora o perfil de integração do trans- vor das afinidades reduzidas de CAR em contextos específicos. A
poson possa ser considerado biologicamente seguro, recente- redução da afinidade dos scFvs anti-CD19 também demonstrou
mente, dois pacientes desenvolveram linfoma maligno após um benefícios potenciais, como a cinética tardia da ativação das cé-
tratamento com células T-CAR anti-CD19 com o uso do vetor PB lulas T (e potencialmente menos indução de CRS) sem a perda
(8). Além disso, é mais fácil produzi-los em larga escala, abrigam da capacidade de eliminação do tumor (12). Um aspecto crítico
maior capacidade transgênica e geram menos preocupações dessa abordagem é que alguns antígenos alvo podem ser modu-
com relação à biossegurança. Contudo, uma diferença impor- lados em diferentes tipos celulares, de acordo com o status de
tante entre as diversas tecnologias é a duração da expressão de inflamação do tecido da exposição farmacológica. Como exem-
CAR na célula modificada. Para uma expressão mais duradoura plo, CD22, um antígeno alvo da LLA, pode ser modulado com
(várias semanas), a transdução viral é geralmente empregada, drogas tanto in vitro como in vivo, aumentando o reconheci-
enquanto os resultados da eletroporação de mRNA na expressão mento e destruindo a partir dos CARs específicos das CD22 (13).
transiente duram cerca de uma a duas semanas. Tais contextos tornam desafiador o ajuste do reconhecimento
A afinidade do scFv pode impactar a especificidade de CAR e do alvo com base no equilíbrio da afinidade de scFv e o direcio-
potencial fora do alvo namento da densidade de expressão da molécula.
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
Caracterização e teste de controle da produção de vetores conta as partículas capazes de transdução produtiva (IFU/ml).
A produção viral pode ser medida a partir do uso de técnicas de
Produção de vetores de DNA diluição limitantes do vírus que vai transduzir um número es-
pecífico de células e a atividade de transdução pode ser medida
Seja com o uso de vetores virais ou não virais, o início da pro- por citometria de fluxo ou por qPCR (16) (17).
dução da maioria dos vetores se dá com a produção do DNA do
plasmídeo. Os testes dos vetores de DNA devem incluir testes de Caracterização e teste de controle da produção de células
identidade e integridade genética, incluindo a confirmação da T-CAR
sequência terapêutica e sequências regulatórias/controladoras,
ausência de agentes externos, esterilidade e níveis de endoto- Testes sorológicos
xina. Além disso, a presença/ausência de características espe-
cíficas, como as sequências de CpG, deve ser confirmada por Geralmente, os pacientes submetidos à terapia com células
métodos viáveis (66). T-CAR são repetidamente hospitalizados e expostos a produtos
sanguíneos. Portanto, o teste para agentes infecciosos deve ser
Bancos de células realizado como uma etapa de controle de qualidade para garan-
tir a biossegurança do material fonte. O painel mínimo sugeri-
Os testes de banco de células eucariótica (bancos mestres e em do para doenças infecciosas antes da manufatura das células T
operação) conduzidos em linhagens celulares produtoras/empa- -CAR é o seguinte:
cotadoras (do inglês producer/packing cell lines) devem incluir • Anti-HTLV I e HTLV II (HTLV I/II);
identidade, pureza, número de células, viabilidade, caracteriza- • Anticorpo de CMV;
ção da cepa, genotipagem/fenotipagem. Além disso, os testes • Antígeno de hepatite B (HBSAG);
devem ser realizados para verificar uma possível contaminação • Anticorpo contra antígeno do núcleo da hepatite B (HBCAB);
por vírus acidentais, ausência de contaminação bacteriana ou • Teste de sorologia para sífilis (RPR);
fúngica, bem como de micoplasma (67). • Antígeno de HIV/HCV, realizado por Teste de Ácido Nucleico
(NAT);
Vetores virais • HIV por NAT;
• HCV por NAT;
Qualquer preparação de vetores virais deve ser totalmente ca- • Anti-HIV-1 e HIV-2 (HIV 1/2);
racterizada com relação à atividade de transdução e outras ca- • Anticorpo contra o vírus da hepatite C (HCVAB ou HCV).
racterísticas relevantes para as partículas de vetores e a ausência Os resultados esperados devem ser HIV/HCV por NAT, Anti-
de RCL (lentivírus competente em replicação) ou RCR (retrovírus -HIV1/2, HTLV I/II, HBSAG, HBCAB, HCVAB (HCV) e RPR = Não
competente em replicação). As especificações de liberação de reagente (NR). O CMV pode ser tanto positivo quanto negativo e
lote devem estar baseadas em testes adequados para caracteri- é realizado apenas a critério de informações.
zar e garantir a integridade do vetor. Para qualquer vetor viral, o
nível máximo de contaminação pelo DNA do plasmídeo, no lote Citogenética
final, deve ser estabelecido e recomenda-se o tratamento com
DNase para remover o DNA do plasmídeo. O tratamento com O longo período de cultura e expansão das células T demanda
DNase é essencial para eliminar possíveis contaminações no a realização de testes de integridade genômica para assegurar
produto viral com VSV-G que codifica o plasmídeo, outras pro- que não sejam gerados clones aberrantes como consequência
teínas do envelope ou outras proteínas virais como Gag/Pol (66). da integração viral ou deleções/duplicações de genes ou que
Vetores retrovirais estão sendo usados em um número crescen- ocorram padrões maiores de bandas cromossômicas. Geralmen-
te de aplicações clínicas de T-CAR. À medida que aumenta o uso te, a análise de pelo menos 20 metafases em um cariótipo de
desse tipo de vetor, há uma preocupação de segurança quanto banda G é o teste mínimo de informação para checar anomalias
a uma possível recombinação viral e risco de desenvolvimen- cromossômicas ou aneuploidias. No entanto, os testes de carió-
to de um retrovírus competente em replicação (RCR), durante a tipo não informam sobre deleções ou duplicações em nível mo-
manufatura do material do vetor. A patogenicidade potencial lecular. Caso seja necessário um teste mais preciso, um arranjo
da presença de retrovírus competente em replicação (RCR) exige genômico deve ser considerado para um teste amplo de genoma
um teste de vigilância para excluir a presença de RCR em pro- de anomalias de número de cópias e a detecção da perda da
dutos de terapia gênica para humanos à base de vetores. O RCR heterozigosidade (18).
de lentivírus é referido como lentivírus competente em repli-
cação (RCL). Para gerenciar esse risco, as agencias regulatórias Testes de esterilidade
têm exigido o teste para RCR/RCL nos produtos com células T
infundidos em pacientes (14, 15). Como a produção de células T-CAR envolve a manipulação in-
tensa do produto com uma diversidade de reagentes e consu-
Atividade de transdução míveis plásticos e os sistemas totalmente fechados nem sempre
estão disponíveis, os testes de esterilidade são obrigatórios para
Aspectos importantes da atividade de transdução são a capaci- verificar a presença de contaminantes microbiológicos antes da
dade de integração, expressão transgênica e funcionalidade. Há infusão. Basicamente, os testes de rotina checam a contamina-
dois tipos comuns de medidas: física, que determina a concen- ção por micoplasma, bactérias, fungos e endotoxina (19). Todos
tração da partícula, e.g. quantificação de p24 ou funcional que os testes devem ser realizados, preferencialmente, com kits
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
granzima-B, IFN-gama, MI- GM-CSF, IL-2, IL-5, IL-7, IL-4, IL-10, IL-13, IL-22, IL-1B, IL-6, IL-17A, IL-17F, CCL-11, IP-10, MIP-1beta,
P-1alfa, perforina, TNF-al- IL-8, IL-9, IL-12, IL-15, IL- TGF-beta1, sCD137, sC- MCP-1, MCP-4 RANTES
fa, TNF-beta 21 D40L
Abreviações: GM-CSF: Fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos; IL: Interleucina; TGF-Beta1: Fator de transformação do cresci-
mento beta 1; MCP: proteína quimiotática de monócitos; CCL11: ligante de motivo 11 quimiocina; IP-10: proteína induzida por interferon gama 10;
MIP: proteína inflamatória de macrófago; RANTES: Regulada por Ativação, célula T Normal Expressa e Secretada.
aprovados pelas agências reguladoras competentes. Produtos proliferar e chegar à exaustão (25) (26) (27). Os marcadores mais
contaminados não devem ser usados para infusão em nenhuma comuns usados para definir as subpopulações de célula T se
circunstância. baseiam na expressão dos marcadores de superfície CD45RA,
Os testes de micoplasma, no geral, envolvem duas técnicas di- CD45RO, CCR7, CD62L, CD95 e CD27 (28) (29) (30). As caracterís-
ferentes: 1) O uso de bioluminescência para checar a presença ticas fenotípicas e funcionais dos diferentes subconjuntos de
de enzimas de micoplasma no produto final ou 2) um teste de células T CD8+ estão detalhados na Figura 2, de acordo com Gat-
PCR com oligos que amplificam regiões específicas do genoma tinoni e colaboradores (31).
do micoplasma. Ambas as abordagens usam uma amostra pe-
quena do sobrenadante do produto final para extrair o material Produção de citocinas
citoplasmático/genético do micoplasma. A realização das duas
técnicas é comparável, contudo, a validação interna é necessária A avaliação da produção de citocinas representa uma etapa im-
(19). portante para o perfilhamento dos produtos finais de células
A contaminação bacteriana ou fúngica pode ser avaliada por T-CAR. A liberação de citocinas pode oferecer informações fun-
meio de métodos automatizados de cultura e pode ser condu- cionais sobre o status de diferenciação (e.g. perfil efetor, de me-
zida tanto antes quanto depois da produção de células T-CAR. mória ou progenitor), espectro de polifuncionalidade adquirida,
Os métodos mais comuns para detectar a produção de CO2 por bem como a amplitude e potência das respostas das células T,
microrganismos mostram os resultados a partir das alterações considerando também seu potencial neurotóxico (32).
na cor do meio de cultura ou pressão da garrafa. Os principais Os testes mais aplicados para avaliar a produção de citocinas
painéis de patógenos incluem S. aureus, P. aeruginosa, B. subti- incluem o ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA), ensaio
lis, C. sporogenes e C. albicans (20). imunospot enzimático (ELISpot) (33), coloração de citocina in-
Por fim, o teste de endotoxina bacteriana (BET) visa detectar a tracelular por citrometria de fluxo (34) e técnicas de multiplex
presença de substâncias liberadas por bactérias lisadas que po- recém-descritas para avaliar os compostos em nível celular in-
dem causar efeitos tóxicos (e.g. LPS gram-negativo). O BET mais dividual (35). A produção de citocinas representa um ensaio im-
popular é o Limulus Amebocyte Lysate (LAL) que se baseia na re- portante para a caracterização dos produtos de células T-CAR
atividade dos amebócitos extraídos de cavalo-marinho quando funcionais, embora não haja diretrizes definindo essa etapa
expostos a endotoxinas. Os quatro tipos principais de testes LAL como um requisito de validação para infusão.
incluem um qualitativo (gel composto por proteínas coaguladas) Uma série de estudos usaram um painel padrão de citocinas
e três ensaios quantitativos (turbidimétrico, cromogênico e fator para a caracterização clássica de ativação das células T, incluin-
C recombinante). Os níveis indicados de endotoxina no produto do IFN-gama, TNF-alfa, Granzima B dentre os fatores avaliados
final devem ser inferiores a 5 EU/kg (21). (28) (36) (37) (38). O padrão de produção de citocinas pode dife-
renciar de acordo com a escolha do tipo celular original para a
Caracterização fenotípica e funcional dos produtos de células manufatura de células T-CAR. O uso de células mononucleares
T-CAR de sangue periférico (PBMC) ou células T CD3+ totais na primei-
ra etapa de seleção celular pode conduzir o perfil de citocinas/
Caracterização molecular quimiocinas para um fenótipo misto, incluindo também citoci-
Os produtos de células T-CAR são, geralmente, avaliados de nas tipicamente produzidas por células T CD4+ auxiliares, como
acordo com seu fenótipo efetor-de memória via análise transcri- IL-2, IL-4, IL-5, IL-10, IL-13, IL-17. Em contraste, as células T-CAR
tômica e/ou proteômica. As técnicas mais comuns usadas para geradas a partir de células T CD8+ isoladas produzirão, sobretu-
caracterizar as células T-CAR podem incluir sequenciamento de do, IFN-gama, TNF-alfa, perforina e granzima-B mediante esti-
RNA, sequenciamento de RNA de célula individual e citometria mulação.
de fluxo multiparamêtrica (22) (23) (24). Fatores de transcrição e Importante ressaltar que achados recentes por Alizadeh e co-
moléculas de superfície também podem definir o status da di- laboradores (39) descreveram um papel importante das células
ferenciação da célula T, que pode corresponder a sua habilidade T-CAR que produzem IFN-gama não apenas na eliminação de
em responder aos antígenos tumorais, autorrenovar-se, migrar, células tumorais e controle do tumor, mas também na estimula-
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
Strenght of
APC signal
Proliferative
capacity
Functional
differentiation
Antitumour
efficacy
Figura 2. Descrição dos estados de diferenciação das células T CD8+ (Gattinoni e colaboradores) (31).
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
do vetor (VCN) por célula for alto. Devido à vasta distribuição de o tecido tumoral humano na ausência de um sistema imune
locais de inserção de DNA pró-viral, o risco de oncogênese por funcional, e os modelos de xenoenxerto são ferramentas para
causa da mutagênese insercional aumenta com o número de testar a seletividade de novos ou mais complexos construtos de
inserções por genoma celular. Por essa razão, é altamente reco- CAR. Uma área de interesse está no desenvolvimento de CARs
mendável que o VCN seja <5 cópias por genoma (67). A medição que dependam de múltiplos TAAs para ativação total para di-
rápida e precisa do VCN é uma etapa importante no controle de minuir a chance de efeitos fora do tumor ou fuga de antígeno.
qualidade necessário para a liberação dos produtos com células Exemplos de novas estratégias de células T-CAR avaliadas em
T-CAR para infusão no paciente e a identificação dos locais de modelos de xenoenxerto são a) CARs biespecíficos direcionando
integração no genoma humano pode contribuir para a garantia tanto CD19 quanto CD20 para o tratamento de linfomas e leu-
da segurança. cemia linfoblástica aguda (59), b) CARs anti-EGFR mascarados
(masked CARs) em que os scFVs são complexados com um pep-
Ensaios in vivo – metodologias e modelos animais tídeo que possui um ligante que é clivado pelas proteases ex-
pressas pelas células tumorais, mas não pelos tecidos saudáveis
Modelos de camundongos são de importância central na deter- (60) c) Ativação mediada por dispositivo e redirecionamento das
minação da eficácia e segurança da terapia com células T-CAR. células T-CAR (Switch-CAR) que direcionam a um novo epítopo
De acordo com a natureza do enxerto do tumor e seu receptor, introduzido em um anticorpo de ligação por TAA (61). Os mo-
os modelos animais podem ser categorizados em quatro grupos: delos de xenoenxerto também foram usados para compreender
a) singênico; b) xenoenxertos humanos; c) transgênico imuno- os mecanismos de exaustão das células CAR-T. Em duas células
competente; e d) modelos de camundongos transgênicos huma- CAR-T humanas de segunda geração, a exaustão foi evitada com
nizados (54). a coestimulação de 4-1BB e exacerbada pela coestimulação de
Modelos de aloenxertos de camundongos singênicos ou imu- CD28 (62).
nocompetentes usam células T-CAR, tumores e antígenos alvo Modelos de xenoenxerto derivados (PDX) de pacientes represen-
que são todos derivados de murinos. A grande base desse mode- tam um subtipo específico de modelo de xenoenxerto gerado
lo é que o receptor tenha um sistema fisiológico imune, então, pela implantação de uma biópsia de tumor primário em vez
configurando-se em uma excelente ferramenta para observar a da injeção de linhagens celulares tumorais em um hospedeiro
interação das células T-CAR com outras células e elementos do imunocomprometido. As vantagens dos modelos de PDX são a
sistema imune. Além disso, modelos singênicos podem revelar melhor obtenção da heterogeneidade do tumor e prevenção da
toxicidades causadas pela presença de antígenos associados ao exposição a ambientes artificiais usados nos experimentos in
tumor (TAA) em tecidos murinos saudáveis, as chamadas toxi- vitro. Em um modelo de PDX de hepatocarcinoma, Jiang et al.
cidades do alvo fora do tumor. No entanto, como a biologia dos mostraram que ele prevê com precisão a resposta do paciente
camundongos nem sempre recapitula precisamente a biologia e poderia ser útil em determinar o curso do tratamento, como
humana e muitos eventos adversos importantes associados à uma combinação de bloqueio de checkpoint e terapias com
terapia com células T-CAR não foram observados em modelos T-CAR (63).
singênicos, como a chamada síndrome de liberação de citoci- Camundongos transgênicos imunocompetentes têm sido o mo-
na (CRS). Além disso, a persistência na circulação das células delo usado com menos frequência nos estudos com T-CAR. Sua
T-CAR murinas é menor comparada às células T-CAR humanas utilidade conta com seu potencial para avaliação dos efeitos tu-
(55). Um exemplo importante da contribuição dos modelos sin- morais do alvo fora do tumor. Esses camundongos transgênicos
gênicos foi fornecido pelos estudos do grupo de David Gilham são desenvolvidos por engenharia para não possuírem a expres-
que mostraram que CARs de segunda geração com domínios são de um TAA murinho (knockout) e para expressar um TAA
co-estimuladores de CD28 induziram aplasia de células B e toxi- humano (knockin) em tecidos específicos e em certo nível. Pe-
cidade crônica seguida de um aumento de células supressoras gram et al. relataram que o tratamento com células T-CAR CD19
derivadas de CD11b+Gr‐1+ mieloides (MDSCs) (56) (57). O efei- específicas, que foram posteriormente modificadas para secre-
to inesperado das MDSCs poderia ser detectado apenas em um tar IL-12 constitutivamente, foi capaz de erradicar a doença es-
modelo singênico. tabelecida na ausência de condicionamento prévio (36). Além
Os modelos de xenoenxerto se baseiam na injeção de tumores disso, a eliminação do tumor exigiu subconjuntos de células T
humanos e células T-CAR em camundongo imunocomprome- CD4(+) e CD8(+), estimulação autócrina de IL-12 e secreção sub-
tido. Atualmente, a maioria dos modelos de camundongos de sequente de IFNγ por células CAR(+) T. Os autores propõem que
xenoenxerto de terapia com T-CAR usam a linhagem de camun- a terapia adotiva com o uso de células T direcionadas por CAR
dongos NOD‐SCID‐IL2rγnull (NSG) (58). A linhagem parental de e modificadas para secretar IL-12 poderia prevenir ou reduzir a
NOD-SCID foi obtida pelo cruzamento de camundongos não necessidade de regimes de condicionamento (36).
obesos diabéticos (NOD), que possuem imunidade inata pre- Camundongos transgênicos humanizados são camundongos
judicada, com camundongos com imunodeficiência combina- imunocomprometidos submetidos ao implante de células imu-
da grave (SCID), que são deficientes quanto ao sistema imune nes humanas além do tumor humano e das células T-CAR-T. A
adaptativo. Os camundongos NSG foram desenvolvidos a partir principal vantagem desse modelo é o fato de que esses camun-
da introdução de uma mutação no gene da cadeia γ do receptor dongos são tolerantes às células humanas e ainda possuem
de IL-2 que resultou na perda da transdução de sinal de inú- aspectos do sistema imune humano. Vários grupos usaram ca-
meras citocinas e imunodeficiência aumentada comparada aos mundongos NSG transplantados com células CD34+ humanas
camundongos NOD-SCID. Os modelos de xenoenxerto são fre- para investigar a toxicidade das CAR-T contra as células-tronco
quentemente usados para validar estudos de prova de conceito. hematopoiéticas (CTH). Em um modelo de sistema imune hu-
Como nesse modelo, as células T-CAR humanas interagem com manizado (HIS), camundongos recém-nascidos BALB/c Rag2‐/‐
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
18. Rack KA, van den Berg E, Haferlach C, Beverloo HB, Cos- cape of polyfunctional antigen-specific response. Journal for
ta D, Espinet B, et al. European recommendations and quality as- immunotherapy of cancer. 2017;5(1).
surance for cytogenomic analysis of haematological neoplasms. 36. HJ P, JC L, EG H, GH I, TF T, M S, et al. Tumor-targeted
Leukemia. 2019;33(8):1851-67. T cells modified to secrete IL-12 eradicate systemic tumors wi-
19. X W, I R. Clinical manufacturing of CAR T cells: fou- thout need for prior conditioning. Blood. 2012;119(18).
ndation of a promising therapy. Molecular therapy oncolytics. 37. M Y, R Z, P G, C W, M B, LJ M, et al. Overcoming Immuno-
2016;3. logical Resistance Enhances the Efficacy of A Novel Anti-tMUC-
20. G L, J S, S P, W L, S Z, Y W, et al. Comparison of the Per- 1-CAR T Cell Treatment against Pancreatic Ductal Adenocarcino-
formance of Three Blood Culture Systems in a Chinese Tertiary- ma. Cells. 2019;8(9).
-Care Hospital. Frontiers in cellular and infection microbiology. 38. E D, XZ Y, L S, BR L, QQ L, Y Y, et al. IFN-γ surmounts
2019;9. PD-L1/PD1 inhibition to CAR-T cell therapy by upregulating
21. D H, J S, M P, S B, O B-O, C T, et al. Manufacturing vali- ICAM-1 on tumor cells. Signal transduction and targeted thera-
dation of biologically functional T cells targeted to CD19 antigen py. 2021;6(1).
for autologous adoptive cell therapy. Journal of immunotherapy 39. D A, RA W, S G, M M, M A, X Y, et al. IFNg is Critical for
(Hagerstown, Md : 1997). 2009;32(2). CAR T Cell Mediated Myeloid Activation and Induction of Endo-
22. I X, B D, G L, D K, Y X, R F. Single-cell Analysis of CAR-T genous Immunity. Cancer discovery. 2021.
Cell Activation Reveals A Mixed T H 1/T H 2 Response Indepen- 40. RE T, EK R, HC T. Revisiting the role of CD4 + T cells in
dent of Differentiation. Genomics, proteomics & bioinformatics. cancer immunotherapy-new insights into old paradigms. Can-
2019;17(2). cer gene therapy. 2021;28(1-2).
23. A S, V V, LA H, HA D, M Y, R H, et al. Clonal kinetics and 41. K F, J W, SK J, A G, X A, TT B, et al. CAR T-cells that tar-
single-cell transcriptional profiling of CAR-T cells in patients get acute B-lineage leukemia irrespective of CD19 expression.
undergoing CD19 CAR-T immunotherapy. Nature communica- Leukemia. 2021;35(1).
tions. 2020;11(1). 42. J R, P P, YW S, K M, B F, A K, et al. Preinfusion polyfunc-
24. R C-R, RB DR, FS S, ST R. Leveraging Single-Cell Sequen- tional anti-CD19 chimeric antigen receptor T cells are associated
cing for Chimeric Antigen Receptor T Cell Therapies. Trends in with clinical outcomes in NHL. Blood. 2018;132(8).
biotechnology. 2021. 43. JN K, RPT S, T L, V S, A B, J R, et al. Lymphoma Remis-
25. H S, E G-A, W Z, P R, C Y, CJ L, et al. BATF and IRF4 co- sions Caused by Anti-CD19 Chimeric Antigen Receptor T Cells
operate to counter exhaustion in tumor-infiltrating CAR T cells. Are Associated With High Serum Interleukin-15 Levels. Journal
Nature immunology. 2021;22(8). of clinical oncology : official journal of the American Society of
26. RC L, EW W, E S, D G, P X, Z G, et al. c-Jun overexpres- Clinical Oncology. 2017;35(16).
sion in CAR T cells induces exhaustion resistance. Nature. 44. R DG, MM VL, A G, BP N, JJ F-VH, OJHM V, et al. Polyfunc-
2019;576(7786). tional tumor-reactive T cells are effectively expanded from non-
27. J C, IF L-M, H S, CJ L, LJ H, T S, et al. NR4A transcrip- -small cell lung cancers, and correlate with an immune-engaged
tion factors limit CAR T cell function in solid tumours. Nature. T cell profile. Oncoimmunology. 2019;8(11).
2019;567(7749). 45. JL T, CL C, J C, AC T, P B, F H, et al. Personalized cancer
28. F B, D S, T K, S W, R L, AD K, et al. Induction of a cen- vaccine strategy elicits polyfunctional T cells and demonstrates
tral memory and stem cell memory phenotype in functionally clinical benefits in ovarian cancer. NPJ vaccines. 2021;6(1).
active CD4 + and CD8 + CAR T cells produced in an automated 46. ZC D, L H, BR B, H Y, AL M, DH M, et al. Polyfunctional
good manufacturing practice system for the treatment of CD19 CD4⁺ T cells are essential for eradicating advanced B-cell lym-
+ acute lymphoblastic leukemia. Cancer immunology, immuno- phoma after chemotherapy. Blood. 2012;120(11).
therapy : CII. 2018;67(7). 47. T K, A F, Y H, E C. Cancer immunotherapy: moving fo-
29. M S, J H, M S, S G, V F, JD H, et al. Generation of clinical- rward with peptide T cell vaccines. Current opinion in immuno-
-grade CD19-specific CAR-modified CD8+ memory stem cells for logy. 2017;47.
the treatment of human B-cell malignancies. Blood. 2016;128(4). 48. EJ C, H G, V B, V H, RE H, DE G. CAR T cells: driving the
30. S T, TN Y, RA G, CJ T, MC J, SR R. Generation of CD19-chi- road from the laboratory to the clinic. Immunological reviews.
meric antigen receptor modified CD8+ T cells derived from vi- 2014;257(1).
rus-specific central memory T cells. Blood. 2012;119(1). 49. S H, O H, R F. Mechanisms and Dynamics of T Cell-Me-
31. L G, DE S, M L, C B. T memory stem cells in health and diated Cytotoxicity In Vivo. Trends in immunology. 2017;38(6).
disease. Nature medicine. 2017;23(1). 50. WA L, CH J. The Principles of Engineering Immune Cells
32. J G, R P, WC L, GA G, CJ T. Cytokines in CAR T Cell-Asso- to Treat Cancer. Cell. 2017;168(4).
ciated Neurotoxicity. Frontiers in immunology. 2020;11. 51. MA S, VC M, HT M. Ex vivo analysis of T-cell function.
33. AM M, S S, K D, MR S, TJ S. ELISPOT Assay for Monitoring Current opinion in immunology. 2005;17(4).
Cytotoxic T Lymphocytes (CTL) Activity in Cancer Vaccine Clini- 52. A S, AD B, KM J, JW W, RH W, H Y, et al. Antigen pre-
cal Trials. Cells. 2012;1(2). sented by tumors in vivo determines the nature of CD8+ T-cell
34. TM C, AC H, PJ M, HK L, MA M. Assays for monitoring cytotoxicity. Cancer research. 2009;69(16).
cellular immune responses to active immunotherapy of cancer. 53. GG K, VS D, AD D, W G, TL W. A novel multiparametric
Clinical cancer research : an official journal of the American As- flow cytometry-based cytotoxicity assay simultaneously immu-
sociation for Cancer Research. 2001;7(5). nophenotypes effector cells: comparisons to a 4 h 51Cr-release
35. Q X, E B, P P, C N, A K, T M, et al. Single-cell multiplexed assay. Journal of immunological methods. 2007;325(1-2).
cytokine profiling of CD19 CAR-T cells reveals a diverse lands- 54. EL S, P W. Preclinical Models in Chimeric Antigen Recep-
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.
Consenso da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular sobre Células Geneticamente Modificadas, Agosto/2021
tor-Engineered T-Cell Therapy. Human gene therapy. 2018;29(5). States of America. 2016;113(4).
55. BM H, F W, L T, JP L, DW H. Concise review: humanized 62. AH L, WM H, JF S, KM W, M M, M I, et al. 4-1BB costimu-
models of tumor immunology in the 21st century: convergence lation ameliorates T cell exhaustion induced by tonic signaling
of cancer research and tissue engineering. Stem cells (Dayton, of chimeric antigen receptors. Nature medicine. 2015;21(6).
Ohio). 2015;33(6). 63. Z J, X J, S C, Y L, X W, B L, et al. Anti-GPC3-CAR T Cells Su-
56. EJ C, RE H, H B, AL ON, SJ D, DE G. Natural expression of ppress the Growth of Tumor Cells in Patient-Derived Xenografts
the CD19 antigen impacts the long-term engraftment but not of Hepatocellular Carcinoma. Frontiers in immunology. 2017;7.
antitumor activity of CD19-specific engineered T cells. Journal of 64. AA H, A G, M C, F M, J K, B G, et al. Superior Therapeu-
immunology (Baltimore, Md : 1950). 2010;184(4). tic Index in Lymphoma Therapy: CD30(+) CD34(+) Hematopoie-
57. EJ C, V S, DG R, JS B, G A, V H, et al. Differential role tic Stem Cells Resist a Chimeric Antigen Receptor T-cell Attack.
of Th1 and Th2 cytokines in autotoxicity driven by CD19-spe- Molecular therapy : the journal of the American Society of Gene
cific second-generation chimeric antigen receptor T cells in a Therapy. 2016;24(8).
mouse model. Journal of immunology (Baltimore, Md : 1950). 65. Brasil. MS. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolu-
2014;192(8). ção RDC No 508, de 27 de maio de 202. Dispõe sobre as Boas
58. NC W, LL K, S J, KE A, DL G, MA B, et al. Humanized Práticas em Células Humanas para Uso Terapêutico e pesqui-
Mouse Models of Clinical Disease. Annual review of pathology. sa clínica, e dá outras providências [Internet]. Disponível em:
2017;12. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-rdc-n-508-de-
59. E Z, MY L, A S-B, MC J, YY C. T Cells Expressing CD19/ -27-de-maio-de-2021-323013606
CD20 Bispecific Chimeric Antigen Receptors Prevent Antigen 66. EMA. Guideline on the quality, non-clinical and clinical as-
Escape by Malignant B Cells. Cancer immunology research. pects of gene therapy medicinal products. 2018. (https://www.
2016;4(6). ema.europa.eu/en/documents/scientific-guideline/guideline-
60. X H, PD B, Y Z, GE C, S L, Y G, et al. Masked Chimeric An- -quality-non-clinical-clinical-aspects-gene-therapy-medicinal-
tigen Receptor for Tumor-Specific Activation. Molecular therapy -products_en.pdf).
: the journal of the American Society of Gene Therapy. 2017;25(1). 67. FDA. Testing of Retroviral Vector-Based Human Gene Therapy
61. DT R, M M, EN H, Y C, NS R, IR H, et al. Switch-mediated Products for Replication Competent Retrovirus During Product
activation and retargeting of CAR-T cells for B-cell malignancies. Manufacture and Patient Follow-up. 2020 (https://www.fda.gov/
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United media/113790/download).
Este artigo está em processo de publicação na revista Hematology, Transfusion and Cell Therapy.
© 2021 Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Todos os direitos reservados.