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Bruno Petenuci , Maria de Fátima Pires da Silva Machado
Endereços:
1
Sandoz do Brasil Indústria Farmacêutica Ltda, Cambé – Pr, Brasil.
2
Departamento de Biotecnologia, Genética e Biologia Celular, Universidade Estadual de Maringá, Maringá – Pr, Brasil.
INTRODUÇÃO
De acordo com Vermasvuori (9), os mAbs podem ser agrupados baseados na origem
proteica.
• Murinos (camundongo): anticorpos que são 100% proteínas murinas e por isso tem
aplicações terapêuticas limitadas devido aos seus efeitos colaterais, meia-vida curta,
incapacidade de iniciar efeitos imunológicos em humanos.
• Quiméricos: são mAbs modificados geneticamente e contém componentes proteicos
murinos e humanos, aproximadamente um terço do anticorpo é composto de
proteínas murinas; pode desencadear reações alérgicas.
• Anticorpos humanizados são mAbs modificado geneticamente, constituído em sua
grande maioria por proteínas humanas e somente 5 – 10% de proteínas murinas.
Estes anticorpos também podem desencadear reações alérgicas, porém em menor
intensidade.
• Anticorpos humanos são mAbs a partir de células humanas ou de células murinas
geneticamente modificadas. Estes anticorpos têm o menor perfil de efeito colateral, e
pequenas doses são necessárias, uma vez que eles não são eliminados como
proteína estranha ao corpo humano.
Os mAbs tem aumentado as opções terapêuticas para diversas doenças. Esta competição
requer investimentos em pesquisa e desenvolvimento e também no processo de fabricação,
para minimizar o tempo de chegada destas novas terapias ao mercado. O custo do produto
final tem um importante papel na terapia, e pode ser afetado pela dosagem ou a
durabilidade do anticorpo in vitro, pelo rendimento de expressão, e pelo número de passos
de purificação (10, 11).
A escolha da célula hospedeira para a produção de mAbs tem um profundo impacto na
caracteristica do produto e no rendimento do processo. As reações quimicas que ocorrem
na células hospedeira conferem aos produtos as propriedades como solubilidade,
estabilidade, atividade biológica, o tempo de permanência no organismo humano, e a
segurança do produto. A célula escolhida também não deve permitir a propagação de
agentes patogênicos como vírus. Na perspectiva industrial, a célula deve possuir
capacidade de crescer em suspensão para uso em biorreatores, permitir introdução de DNA
estranho para modificações genéticas, e alta capacidade de expressão da proteína
desejada (12). Os mAbs são primariamente produzidos em células de mamíferos devido as
complexas reações que só ocorrem com eficiência dentro das células de mamíferos apesar
do longo tempo de desenvolvimento e processo de fabricação quando comparados a
células de bactérias. O primeiro medicamento biológico produzido com células de
mamíferos foi em 1987 pela Genentech Inc. Atualmente, a produção de medicamentos
biológicos em células de mamíferos domina o cenário mundial: dos 58 produtos
biofarmacêuticos aprovados entre 2006 e 2010, 32 foram produzidos com esta tecnologia e
os outros com tecnologia baseada em bactérias, fungos, animais e plantas transgênicos e
cultura de insetos (13,14). A produção de todos os anticorpos monoclonais seguem o
mesmo principio básico; dependendo do anticorpo e a da aplicação, pode não ser
necessário utilizar todos os estágios demonstrados no esquema da Figura 1 (15).
Fluxo básico da produção de mAbs
Cromatografia com
Banco de células Células genéticamente modificadas Separação dos mAbs do meio celular
proteina A
Cromatografia de troca
Crescimento Adição de nutrientes Remoção de impurezas
ionica
Colheita
Remoção de células Ultrafiltração Filtração antes do envase.
(centrifugação/filtração)
Figura 1: Fluxograma básico do processo de fabricação dos mAbs. Adaptados a partir de (16,17)
A célula de mamífero mais comumente usada para produção de mAbs é a célula de ovário
de hamster chinês (CHO) que foi isolada em 1950. No inicio da década de 1980, dois
derivados das células de CHO (CHO-K1 e CHO pro-3), deram inicio as duas linhas
celulares utilizadas até hoje, a DUKX-X11 e DG44. Ambas as linhas celulares foram
modificadas geneticamente para não conter a enzima dihidrofolato redutase (DHFR). As
células deficientes da atividade da DHFR requerem a adição de glicina, hipoxantina e
timidina (GHT) no meio de cultura para sobrevivência, o que permite a implementação de
um sistema baseado na inserção de um gene DHFR clonado, combinado com o gene que
expressa a proteína de interesse. Quando em um meio ausente de GHT, somente as
células que contém o vetor recombinante sobrevivem e produzem a proteína de interesse.
Contando com um pequeno número de células de mamíferos disponíveis no mercado
mundial os cientistas tem colocado esforços em modificar geneticamente as células e
otimizar os processos produtivos. Pressionado pela crescente demanda do mercado de
produtos biofarmacêuticos, as linhas celulares de CHO tem aumentado sua capacidade
produtiva em mais de 20 vezes. Na década de 1980 um processo produtivo de
medicamento biológico durava cerca de 7 dias e atingia 1–2 milhões de células/mL que
produzia algo em torno de 50–100 mg/L. Atualmente um processo típico demora mais
tempo, algo em torno de 21 dias, porém atinge 10-15 milhões de células/mL que produz 1–5
g/L de mAbs (14). Este ganho de produtividade pode ser atribuído a otimização para
seleção de um clone ideal e também composição do meio e condições do
bioprocessamento como temperatura, pH, pressão osmótica e adição de pequenos
compostos químicos como butirato, sulfato de zinco, etc que sustentam o crescimento
celular em alta densidade (18).
As células CHO possuem diversos atrativos como o crescimento rápido, alta expressão, e a
habilidade de se adaptar em meios de culturas artificiais, não replicar vírus como HIV, gripe,
herpes, etc. Um extensivo histórico de estudos de segurança da cultura de células CHO
acumulados durante duas décadas, mostrou que o mais importante é sua adaptabilidade a
manipulação genética (12). Em 2007, a capacidade mundial de produção com células de
mamíferos era de 2,3 milhões de litros, e espera-se atingir em 2013 o equivalente a 4
milhões de litro. Considerando uma produtividade de 5 g/L de mAbs e com rendimento de
purificação de 75% chega-se a uma produção estimada de 300 toneladas/ano de mAbs em
2013 (15).
As culturas de bactérias ainda não podem ser veículo de produção de mAbs humanizados,
pela complexidade da estrutura de imunoglobulinas humanas e pela incapacidade de
promover as modificações secundárias apropriadamente executadas pelas células de
mamíferos (19).
Muitas empresas têm desenvolvido tecnologias para produzir proteínas animais através de
plantas. As espécies de tabaco e milho são as preferidas para pesquisa. O gene de
interesse é associado a um marcador que então é inserido na planta, que expressa à
proteína de interesse durante a fase de crescimento. A produção de mAbs usando plantas
transgênicas pode levar algo em torno de 10 meses. Após extração da proteína de interesse
por solvente e purificação, pode se chegar a um rendimento de 1 mg/g de material. A
ausência de patógenos capaz de migrar das plantas para humanos, juntamente com
facilidade e a velocidade de aumento de produtividade, tem tornado este método bem
atrativo (8). Uma das desvantagens é a falta de legislação sanitária para este sistema
produtivo, e também a diferença da glicosilação realizada entre as células de mamíferos e
as células vegetais, que pode desencadear respostas imunogênicas ou mesmo alergênicas
(20). Uma excelente revisão sobre o uso de plantas, diferentes métodos produtivos para
anticorpos, enzimas e biopolímeros tem sido publicado recentemente por Xu et al (21).
CONCLUSÃO:
Dos mAbs em fase de desenvolvimento a grande maioria será para a área de oncologia e
imunologia, seguido por doenças infecciosas e por um menor número de indicações (23,
24). De acordo com Reichert e Dhimolea (25) existe 165 mAbs em desenvolvimento para
o tratamento de câncer. Destes existem 25 mAbs no estágio clinico final para logo entrar no
Mercado farmacêutico (1). A cultura de células de mamíferos é considerada uma tecnologia
bem conhecida, porém novas tecnologias estão sendo exploradas para tornar o processo
de fabricação de mAbs cada vez mais robusto, e reduzir o custo de operação (26). Em
síntese, os mAbs permitem tratamentos eficientes para doenças crônicas que não tinham
terapias ou não eram suficientemente bem-sucedidas ou efetivas para todo tipo de
pacientes. O entendimento do metabolismo celular, a expressão proteica é fator primordial
no aumento do rendimento do processo produtivo dos mAbs. Avanços nas técnicas de
purificação e concentração dos mAbs também são esperadas para melhorar a estabilização
proteica e estabilidade dos mAbs. Portanto, apesar do potencial e da importância dos mAbs
para a indústria farmacêutica serem elementos inquestionáveis, ainda existem muitos
fatores e parâmetros técnicos que limitam a proposta de uma ampla produção.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
3. GRUPEMEF, http://www.grupemef.com.br/noticias_completa.php?not_id=2348.
Acessado dia 01/04/2012.
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