Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Título da Palestra:
“As transformações nas medidas de vibração”
Por Ricardo Góz
Sinopse da Palestra
O objetivo da palestra é mostrar como os procedimentos de medidas mudaram nas últimas
décadas, como estão atualmente e quais são as expectativas de novas formas de medição e
quais serão as próximas ferramentas de análise.
Não há nenhum interesse em saudosismos, nem de dizer “na minha época...”. O interesse é
mostrar como as disponibilidades de eletrônica e de informática influenciaram os analisadores
de vibração, as medidas de vibração e os analistas de vibração.
O interesse maior é valorizar nos analistas a capacidade avaliar as formas de medidas e
saber adequá-las às suas necessidades de medição. Com isto espera-se aumentar tanto a
eficiência do monitoramento como os acertos nos diagnósticos de possíveis defeitos e no
prognóstico da vida útil remanescente das máquinas monitoradas.
Objetivo:
Comentar como eram feitas as medições de vibração algumas décadas atrás, como
mudaram sob a influência das novas técnicas eletrônicas e sob o avanço da disponibilidade da
informática. Fazer um comentário rápido de como as medidas de vibração estão atualmente.
Justificativas:
Não será dada nenhuma conotação saudosista aos comentários. A intenção é valorizar nos
analistas a capacidade crítica nas interpretações das medições. Espera-se com isto garantir
índices maiores de acertos nos diagnósticos de possíveis defeitos das máquinas e nos
prognósticos de vida útil.
Resumo
Não importa muito quando foi feito o primeiro sensor de vibração ou o primeiro
instrumento de medida. É apenas curiosidade. A primeira carta de severidade de vibração foi
publicada por Rathbone em 1939. Pelo menos é uma data aceita como a primeira.
Porém, a percepção de respostas dinâmicas não tem idade. O efeito de uma cacetada era
conhecido desde as primeiras caçadas. O titio Neandertal dava um cacete na cabeça do primo
Dino e nem se importava em determinar as freqüências naturais. O vento e o trovão eram tão
fortes que eram considerados deuses.
Página 1
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Um pouco de História
Apitos e tambores existem desde o começo da humanidade e representam o uso da
vibração. Nesta fase primitiva apareceram instrumentos musicais de percussão, sopro e cordas.
Pitágoras de Samos (570 a 497 AC) passou em uma ferraria e percebeu uma associação dos
sons das diversas marteladas, pensou e criou o diapasão para medir freqüências. Tornou-se o Pai
da Acústica. Montou o primeiro laboratório conhecido para a pesquisa de vibração. Descobriu
que as freqüências naturais são propriedade dos sistemas e não dos martelos. Pitágoras provou
que:
1. A freqüência natural de uma corda é depende dos inversos do comprimento e do diâmetro
e depende diretamente da tensão. Pelo que se sabe, seu equacionamento é correto.
2. A freqüência natural da vibração longitudinal de uma coluna é inversamente proporcional
ao seu comprimento.
3. Em discos de bronze, as naturais variam com o inverso de suas espessuras.
4. Pitágoras mudava a freqüência natural de recipientes colocando água dentro deles.
O primeiro texto de acústica foi escrito por Aristóteles que criou o termo ‘acústica’.
Página 2
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
É ... . A vida do analista de ontem não era assim tão fácil. Além de saber vibração
tinha de ser bom em instrumentação.
Página 3
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Até os anos 70, existiam instrumentos analógicos fantásticos. Existiam alguns instrumentos
de campo, portáteis com baterias recarregáveis. Uma época marcada pelos analisadores de
freqüência. Os analisadores eram filtros de banda estreita. A Schenck tinha um filtro heterodino
muito estreito, quase impossível fazer varredura manual. Os instrumentos tinham um diagrama
funcional do tipo mostrado na Figura 4. Diagrama funcional. Fisicamente eram várias unidades.
Uma para cada função.
Página 4
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Fig. 6: dado o start, a pena vinha traçando, subia e caia marcando cada pico. Se
aquele era o de 1x. Era esperar os picos de 2x, 3x ... . Depois outras famílias. Eu já
conhecia: era engrenagem, não era rolamento. O gráfico avançava 1 mm/s. Este
conjunto tem uma faixa de 50 dB (1:316).
Curiosidade:
Existia uma grande desvantagem vantajosa: não dava para medir espectros em muitos
pontos, demorava muito. Não dava para inventar muitos tipos de medida. O analista da época,
bem ao lado da máquina, usando todo seu conhecimento de máquina, fazia uma análise prévia e
media o espectro no melhor ponto, talvez em uma direção radial e outra medida na axial.
Eram muitas emoções: a máquina vibrando, a instrumentação formada de várias partes,
tudo demorado, poucas opções de medida, responsabilidade de acertar o diagnóstico. Legal.
O espectro era feito com filtros analógicos. A Transformada de Fourier já era conhecida,
mas não cabia em computadores.
Alguns laboratórios começavam a trabalhar com técnicas digitais. Uma maravilha está
mostrada na Figura 7. Não eram muitas as empresas fabricantes de sistemas de análise de
vibração. Eram sistemas muito grandes.
Página 5
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Eis que chega 1967. Dois matemáticos geniais descobrem uma simplicidade e criam o FFT.
Na década de 70 chegam ao mercado analisadores digitais com o recurso do FFT. Um dos
primeiros portáteis, senão o primeiro, foi o Bruel 2515.
Uma maravilha de 16 kg, 256 linhas, zoom de 5x e memória para armazenar 50 espectros.
Fantástico. Veja Figura 8.
Sucesso total. Agora podia até ver e medir a forma de onda. Alternar forma de onda e
espectro. A forma de onda podia de aceleração ou de velocidade ou de deslocamento. Sensacional.
Vendeu muito. Tinha comunicação para o PC XT (aquele de monitor verde).
Mas a história da humanidade sempre teve muitas surpresas e nada escapa disso.
Não pretendo atribuir culpa ou mérito para este ou aquele. O fantástico BK 2515 de 16 kg
foi ficando pesado e a Bruel não colocou um substituto mais leve. Então apareceu a CSI, a DLI, a
MicroLog, a Entek, a Nicolet e vários outros mais leves. Não sei se melhores, mas eram de 2,5 ou
3 kg. Perto dos 16 kg, invadiram o mercado e o tomaram.
Junto com eles veio a filosofia americana de medir vibração. Para nós brasileiros, foi um
impacto. Uma empresa de São José dos Campos mandou parar tudo e até reorganizar os métodos
de monitoramento. Eles tinham um BK 2515, compraram um analisador/coletor mais novo, mais
rápido e com muito mais memória.
Foi o maior sucesso. Bombou.
Então compraram outros (acho que mais dois) e colocaram pessoas para cumprir rotas. Eles
voltavam com as memórias lotadas e descarregavam no sistema de análise e iam cumprir outra
rota. E voltavam, e descarregavam. O sistema ficou inviável. Eram muitos MBytes de memória e
muitas centenas de espectros por dia.
Tudo parecia mais fácil. Bastava contratar mais funcionários e mandar coletar rotas.
Página 6
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Uma mineradora do Pará, comprou um analisador novo dentro de um pacote que incluía 6
meses de um profissional de Belo Horizonte para montar todas as rotas. Dá para imaginar a
probabilidade deste esquema ter sucesso. Mais um detalhe, a mineradora era nova e a previsão de
entrar em operação era posterior a do carinha ir embora.
Os analistas aprenderam como fazer rotas. Porém são suscetíveis aos inúmeros palpites de
todos em volta. Seguem um padrão não personalizado.
Como os softwares aceitam a identificação dos rolamentos, os números de dentes das
engrenagens, tudo parece muito óbvio e fácil.
Eu não vendo nenhum instrumento, não recebo nada de ninguém. Minha preocupação é
ministrar cursos na área de vibração e fazer algum serviço quando solicitado. Mas tenho
responsabilidade com os participantes dos meus cursos.
Eu não posso incutir nos participantes que “façam isso!” ou “não meçam assim”.
Na década de 70 os FFT se tornaram disponíveis. Esta foi a porta para muitas outras
novidades de análise.
A captura dos sinais envelopados com uma banda passante. A escolha desta banda tem 3
variações:
1 – uma banda passante bem larga, tipo do filtro 3 da SKF;
2 – uma banda passante estreita ajustada bem na ressonância estrutural dos elementos dos
mancais, opções disponíveis no 01 dB e no Bruel;
3 – uma banda estreita ajustada ao lado da freqüência de ressonância estrutural dos
rolamentos, talvez a forma usada pelo PeakVue.
Cada uma destas formas tem suas vantagens e cada fabricante diz que usa a melhor delas.
“a minha medida é que a correta”.
Página 7
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Vivas à Informática
Vivas à Matemática
Na transição do analógico para o digital, lá na década de 70, o recurso do uso das médias
foi um grande avanço. Os analistas conseguiam analisar os elementos de um moinho. Médias no
tempo, médias em freqüência, médias exponencial, média ‘force’. Depois, a CSI lançou a média
negativa – legal, outra ajuda boa.
Os diversos tipos de trigger ajudaram os analistas a medir vibrações em situações bem
difíceis.
Lá naquela época, os analistas ficaram fascinados com as novas possibilidades de análise.
Não foi só o recurso do Fourier digital.
Avanços Adicionais
Com a tecnologia, já estão mais acessíveis os analisadores de vários canais, que trazem
mais opções de medida e análise.
Página 8
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Para que tantos recursos, se um analista compra uma tela LCD de 5 ou 7 polegadas
(polegadas!!!) e usa um mínimo ridículo com escala linear, veja o espectro mostrado abaixo na
Figura 9.
Outro fato estranho é alguém acompanhar a evolução da vibração da máquina com uma
curva de tendência como a mostrada na Figura 10.
Página 9
As Transformações nas Medidas de Vibração por Ricardo Góz
Outro fato que causa alguma forma de questionamento é a escolha do número de linhas
para o cálculo do espectro. Para análise quanto melhor a resolução de freqüência melhor. Lógico
que existe um limite, o analista não precisa de resolução de 0.01 Hz/linha, mas se precisar que
use.
Então vem um e diz: “eu não me sinto confortável medindo mais do que 1 Hz/linha”. Tudo
bem, é uma opinião pessoal. Mas para que? O analista vai passar 36 meses medindo com 3200 ou
6400 ou 12800 ou 25600 linhas? E o tempo de medida? E o tamanho do banco de dados?
Depois vêm os criadores de opinião, os ditadores de regras e dizem que o software permite
aplicar 20 máscaras sobre o espectro medido cada uma com seus níveis de alerta, alarme e trip?
Então se é aceito monitorar a máquina em 20 setores do espectro, para que usar em todas as
medições aquela quantidade de linhas?
Ah! Se o analista quiser ver os detalhes todas as vezes que medir, ele pode.
Legal, cada vez que eu for de carro na padaria vou mandar fazer um check-list geral antes
de sair (no carro e em mim).
Um fabricante para ganhar tempo na coleta de dados, insinua para o analista fazer um
overlap de 70%. Então aparece um espertinho muito inteligente que diz: “eu uso 50%”. Legal.
Todos sabem quais são as implicações do overlap? E quando usarem um processador mais rápido?
Assim tipo um i7, vai acontecer o que?
Recomendação Final
Então que faça o melhor possível para o seu caso específico, que meça a vibração da
melhor forma possível, que otimize seus recursos, que colabore com o resto da humanidade
divulgando seus resultados.