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A OBRA

Publicado na revista PIXO n.10 v.03 em 02 de fevereiro de 2020, o artigo


“PENSAMENTO FEMINISTA NO PLANEJAMENTO URBANO: Pensar o território
pela perspectiva de gênero - prática e epistemologia” propõe uma reflexão sobre
a produção de conhecimento na sociedade moderna para a formulação de um
Planejamento Urbano que incorpore as relações das mulheres com a moradia,
mobilidade e lazer na cidade, visando concretizar mudanças que possibilitem a
construção de perspectivas urbanas mais inclusivas e igualitárias e a criação de
cidades não perpetuadoras de desigualdades.

Isabela Rapizo Peccini fez Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (2016), Especialização em Sociologia
Urbana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ (2017-2019) e
Mestrado em andamento pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional - IPPUR/UFRJ. Participou como bolsista PIBEX do antigo grupo de pesquisa
Cidade, Habitação e Educação (CiHabE) orientado pela Prof. Luciana da Silva
Andrade no PROURB/UFRJ e também como bolsista PIBEX no projeto de extensão
APROXIMA: transferência de conhecimento pela aproximação entre a graduação em
arquitetura e urbanismo e a sociedade civil de baixa renda, através da criação do
EMAU e do Canteiro Experimental Integrado da FAU - UFRJ de iniciativa estudantil.
Em 2017 seu trabalho final de graduação foi selecionado para representar a
FAU/UFRJ no 28º Prêmio Ópera Prima. Tem como tema central de pesquisa a
vivência da mulher trabalhadora no espaço público da cidade tendo como recorte
espacial o território da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

RESUMO

O estudo parte do entendimento do espaço vivenciado, ocupado e transformado


pelas pessoas no dia a dia (RENDELL, 2000). Destaca-se a produção desse espaço,
influenciada pelo patriarcado e pelo capital, como agente de manutenção das
desigualdades que são decorrentes destes sistemas. O objetivo é mapear e
espacializar lugares, diagnosticar problemas e conflitos, e atuar na produção de
espaços que proporcionem uma vivência mais igualitária.
A busca por uma verdade através da racionalidade científica, que se propõe a ser
imparcial e neutra, estabelece binarismos, como razão versus emoção, objetividade
versus subjetividade, contribuindo para a dominação de corpos, pensamentos e
territórios. O ideal de verdade e neutralidade na Ciência Moderna cria associações
entre características consideradas aceitáveis (associadas à ciência, masculinidade,
etc.) e características condenadas (associadas à natureza, feminilidade, etc.). Essas
associações, disseminadas na sociedade, afetam a vida cotidiana, influenciando
ideias sobre gênero, educação, e ciência.

O cientista racional é descrito como pertencente ao grupo majoritário, reforçando


desigualdades sociais. O argumento é respaldado por reflexões de autoras como
Cecilia Sardenberg e Isabelle Stengers, que questionam a neutralidade da ciência e
propõem outras epistemologias. A invisibilização de diferentes formas de
conhecimento é discutida em relação à produção de conhecimento no campo do
Planejamento Urbano e seu impacto na vida cotidiana das pessoas.

Peccini analisa a transição do feudalismo para o capitalismo sob a perspectiva de


Silvia Federici, destacando a caça às bruxas como elemento crucial na consolidação
do sistema capitalista. A autora explora o conceito de “disciplinamento do corpo” por
Foucalt, evidenciando a dominação dos corpos como preocupação central da Ciência
desde o século XVI. Federici argumenta que a destruição do conceito medieval do
corpo, associado a poderes mágicos, foi essencial para a ascensão do corpo
mecânico, alinhado à filosofia mecanicista da época, que afasta do que é natural e
contribui para a dominação de grupos sociais específicos, surgindo a classe
trabalhadora, a mulher sendo utilizada apenas pela sua função biológica reprodutiva
e os povos colonizados como submissos (PECCINI, 2020).

“O crime de bruxaria é, portanto, um crime feminino” (PECCINI, 2020), surge então


a perseguição às bruxas, especialmente mulheres, a qual é interpretada como uma
reação agressiva à resistência destas contra as lógicas capitalistas, relacionando-se
ao controle reprodutivo, poder sobre a sexualidade e conexão com a natureza. A caça
às bruxas é apresentada como a primeira perseguição na Europa a utilizar
propaganda multimídia, contribuindo para uma psicose em massa e a subalternização
das mulheres está ligada à assimilação de parte da população como proletariado,
sendo a divisão sexual do trabalho essencial para a exploração da classe
trabalhadora.

O texto enfoca a divisão sexual do trabalho na contemporaneidade, ressaltando


as desigualdades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho. A inserção
desigual se reflete na vivência do espaço público e privado, com mulheres
acumulando funções e enfrentando discriminações. Isso inclui a dinâmica da dupla
jornada e suas implicações na vivência do espaço urbano, considerando
deslocamentos, transporte público precário e vulnerabilidade das mulheres nesses
espaços.

A autora propõe uma virada epistêmica que inclua uma perspectiva feminista e
antirracista na análise da ciência e do espaço, reconhecendo a diversidade de vozes
e conhecimentos. Destaca-se a importância de considerar gênero e raça como
categorias de análise para entender a produção de conhecimento e as estruturas
sociais.

CONCLUSÃO DA AUTORA

A precariedade dos serviços públicos afeta principalmente as mulheres, que são


as principais responsáveis pelos trabalhos de reprodução, incluindo o trabalho
doméstico e o cuidado com filhos. Para planejar o território com base nas
necessidades específicas das mulheres e de grupos marginalizados requer
visibilidade e uma abordagem mais detalhada e atenta às diferenças, considerando a
escala local. Essa transformação no planejamento da cidade busca reafirmar a
diversidade e inclusão de diversos corpos e relações, reconhecendo as desigualdades
existentes e combatendo-as em vez de mantê-las.

ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A OBRA

A obra pode ser acessada facilmente pela internet através de sites públicos
institucionais. As teses e referências conceituais do texto são bem explicadas e
esclarecedoras para os argumentos formulados. O texto é dividido em cinco partes,
sendo a primeira a introdução, a segunda um questionamento direto à Ciência
Moderna e a construção histórica do conhecimento, a terceira uma explicação de
como o “disciplinamento do corpo” foi crucial para consolidação do sistema capitalista
atual, a quarta parte discorre os paradigmas determinados socialmente à mulher e à
cidade e as dificuldades cotidianas enfrentadas nos diversos aspectos urbanos e de
sobrevivência delas e a quinta parte dispõe as considerações finais da escritora.

Conclui-se que a importância de entender as vivências de grupos vulneráveis,


especificamente as mulheres. É essencial a utilização de dados do cotidiano das
mulheres para implementar ações na cidade que considerem e respeitem as diversas
formas de uso e criação do espaço visto que os elementos urbanísticos têm impacto
direto na vida das mulheres. Portanto, tornar o espaço mais acessível para as
mulheres envolve proporcionar novas possibilidades que atendam às suas
necessidades e desejos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PECCINI, Isabela Rapizo. Pensamento feminista no planejamento urbano: pensar o


território pela perspectiva de gênero – prática e epistemologia. Pixo, v. 3, n. 10, p. 58-
73, 2019.

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