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INTRODUÇÃO: NOTAS NECESSÁRIAS.

Por Christine Peter

__Afinal, o que é a introdução? Estado da arte da discussão


A introdução é a parte mais importante de qualquer trabalho
acadêmico, pois é o contrato da autora/pesquisadora com as
leitoras/examinadoras1, de forma que deve ser escrita com muito cuidado.
Conforme insisto: a introdução é uma dissertação sobre o projeto de
pesquisa e, por causa disso, será escrita, com maior ou menor dificuldade,
quanto maior ou menor for o nível de amadurecimento do seu projeto de
pesquisa.
É preciso lembrar que o projeto de pesquisa (concreto ou
imaginário) é já um fruto da atividade de pesquisa. Assim, a introdução do
seu trabalho de conclusão de curso não é o momento inicial, puramente
fundante, mas, sim, momento de continuação qualificada do processo de
pesquisa que já começou e já está registrado em algum lugar (que pode ser,
inclusive, a sua potente memória).
O Trabalho de conclusão de curso não deve começar pelo seu
desenvolvimento, para depois descobrir/produzir a introdução (que é a
essência do projeto) que o inspirou...Apesar de ser esta uma metodologia
possível, e até preferida por muitos orientadores, os resultados não são
garantidos e podem ser, não raras as vezes, materializados em fracasso (ou
pelo menos a sensação de fracasso).
Apesar de ser minoritária com a tese de que a introdução deva ser
escrita antes do desenvolvimento do trabalho, mesmo que sejam necessários
ajustes ao final, insisto nisso por causa das premissas aqui postas.

1 Aqui já começo fazendo a utilização do feminino universal para chamar a atenção de todas e todos vocês
para uma das linhas de pesquisa do meu grupo NEC: o Constitucionalismo Feminista. Mas, por favor, você
que é do sexo masculino continue sendo meu orientando, pois gosto muito de diversidade e ficaria
realmente mais triste e mais infeliz se somente as alunas fizessem parte do meu diletíssimo grupo de
orientação. Fiquem firmes rapazes, aqui a igualdade é o norte dos trabalhos.
Como, em termos metodológicos, a introdução é uma dissertação
sobre o projeto de pesquisa, você só terá dificuldades de escrever a
introdução se o seu projeto não estiver pronto ou não estiver maduro o
suficiente para conduzir a pesquisa. Então, pare, reflita, trabalhe e pesquisa
mais, para que o seu projeto esteja redondo e concluído.
Diante dessa constatação, a tarefa de orientação do trabalho de
conclusão de curso recomeça, se você está com dificuldade de escrever a
introdução, pelas perguntas e conceitos básicos da metodologia da pesquisa
jurídica: Qual a delimitação de seu tema? Qual o seu problema e hipóteses
de pesquisa? Qual o seu marco teórico? Que metodologia vai utilizar? Qual
a estrutura do seu trabalho? O que já está iniciado até este momento?
Imagine como é duro retomar esses pontos faltando uma semana
para expirar o prazo de entrega do texto final para o núcleo de pesquisa e
monografia jurídica da sua instituição de ensino??? Isso tem que acontecer
com tempo suficiente para que tudo possa ser reformulado, reajustado e
reencaminhado.
Na minha opinião, embasada na experiência pessoal de pesquisa
jurídica e de orientação de mais de quatro centenas de alunos de graduação,
a redação da introdução, ao final da pesquisa, desqualifica a sua missão
dentro do próprio processo de pesquisa, pois ela, que poderia servir de guia
para o desenvolvimento do trabalho (planejando o tempo e minimizando, na
medida do possível, as angústias ínsitas ao processo de pesquisa), acaba se
tornando um relatório de vitórias e fracassos, papel que, de onde vejo a
estrutura do trabalho acadêmico, deveria ser destinado à conclusão.
Não posso deixar de reconhecer, entretanto, que é uma técnica
eficiente para trabalhar as condições de possibilidade do próprio processo de
pesquisa... “Eu vou dizer que planejava fazer exatamente aquilo que fiz...”
Ótimo resultado para uma pesquisa ametódica, mas longe de ser o resultado
satisfatório de um projeto de pesquisa que pretende ser original e autêntico
(especialmente se você quer contribuir com possíveis mudanças e melhorias
na realidade que o circunda).
É uma questão do próprio foco e finalidade da pesquisa jurídica:
declarar/registrar ou constituir/construir. Entretanto, o que importa é que o
aluno e a aluna saibam que introdução e conclusão não são a mesma coisa,
apesar de ambas (pela corrente majoritária) poderem (ou deverem para
muitos professores) ser escritas ao final. É muito comum que vocês fiquem
perdidos, ao final do processo, já exaustos do caminhar, em saber o que
escrever na introdução e o que escrever na conclusão.
Meus alunos e alunas não sentirão isso!!!
Já nas primeiras reuniões de orientação eu exijo, em tom de
convite: escreva e vamos debater a sua introdução? E é para você que estou
escrevendo esse trabalho. Para escrever a sua introdução você precisa ter, em
seu repertório mental material para escrever os seguintes tópicos:
a) a apresentação do tema e de suas delimitações (tanto
positivas – o que se vai pesquisar; quanto negativas – o que não se vai
pesquisar), bem como os objetivos do trabalho;
b) as justificativas do tema: tanto para a sociedade em geral,
quanto para a comunidade jurídica e acadêmica (incluindo o próprio
pesquisador).
c) o problema de pesquisa e as hipóteses de trabalho;
d) o referencial teórico, com apresentação dos principais
autores/autoras e das premissas teóricas da análise;
e) a metodologia a ser utilizada;
f) apresentação dos capítulos, destacando alguns tópicos
interessantes que serão neles abordados;
g) convite à leitura do seu trabalho.
A introdução deverá ter de 3 a 5 páginas (900 a 1800 palavras) e
não deve conter paráfrases, nem citações literais, mas, se for necessário pode
ter algumas poucas notas de rodapé com referências documentais a obras de
autores citados ou a obras de metodologia.
É importante ressaltar que não se trata de um texto livre do autor
ou autora do trabalho, mas de uma parte da pesquisa que tem regulação
metodológica bastante restrita. Tem que seguir o caminho estabelecido pelas
normas técnicas e também pela linha de pesquisa do professor ou professora
e da instituição a que você está vinculado ou vinculada.
Espero você para discutirmos a sua introdução!

Brasília, 25 de agosto de 2020

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