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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

InEAC – INSTITUTO DE ESTUDOS COMPARADOS EM ADMINISTRAÇÃO


DE CONFLITOS

DSP – DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA

VINICIUS VELOSO COUTINHO

O SOM DA GUERRA:

O SIMBOLISMO DAS ARMAS NOS CONFLITOS DO HAITI

NITERÓI – RIO DE JANEIRO

2022
2

Vinicius Veloso Coutinho

O SOM DA GUERRA:

O SIMBOLISMO DAS ARMAS NOS CONFLITOS DO HAITI

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Instituto de
Estudos Comparados em
Administração de Conflitos
(InEAC) da Universidade Federal
Fluminense de Niterói (UFF –
Niterói) como requisito parcial
para obtenção do título de
Bacharel em Segurança Pública e
Social.

Orientadora:

Profª. Dra. Danieli Machado Bezerra

Niterói – Rio de Janeiro

2022
3

C871s Coutinho, Vinicius Veloso


O SOM DA GUERRA: O SIMBOLISMO DAS ARMAS NOS CONFLITOS DO
HAITI / Vinicius Veloso Coutinho; Danieli Machado Bezerra,
orientadora. Niterói, 2022.
55 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Segurança


Pública e Social)-Universidade Federal Fluminense, Instituto
de Estudos Comparados em Administração de Conflitos,
Niterói, 2022.

1. Haiti. 2. Paisagem Sonora. 3. Operações Especiais. 4.


ONU. 5. Produção intelectual. I. Bezerra, Danieli Machado,
orientadora. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de
Estudos Comparados em Administração de Conflitos. III.
Título.

CDD -
4

Vinicius Veloso Coutinho

O SOM DA GUERRA:

O SIMBOLISMO DAS ARMAS NOS CONFLITOS DO HAITI

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Instituto de
Estudos Comparados em
Administração de Conflitos
(InEAC) da Universidade Federal
Fluminense de Niterói (UFF –
Niterói) como requisito parcial
para obtenção do título de
Bacharel em Segurança Pública e
Social.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profª. Dra. Daniele Machado Bezerra

(Orientadora Universidade Federal Fluminense)

__________________________________________

Prof. Dr. Lenin dos Santos Pires

(Universidade Federal Fluminense)

_________________________________________

Prof. Dr. Gladson Paulo Milhomes da Fonseca

(Universidade Federal do Amapá)

Niterói – Rio de Janeiro

2022
5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, à minha mãe que jamais desistiu de mim e sempre


acreditou no meu potencial, aos demais familiares, aos meus amigos que vem me
apoiando desde o segundo semestre de 2018, em toda a caminhada na universidade até
este momento final da graduação. A minha eterna gratidão à professora e orientadora,
Danieli Machado Bezerra, que sem hesitar aceitou o meu pedido e me direcionou com
extremo conhecimento e maestria até que eu conseguisse concluir este trabalho. Ao
secretário do curso de Segurança Pública, Cláudio Márcio Ribeiro, pessoa
extremamente solícita e atenciosa ao esclarecer qualquer natureza de dúvida que
surgisse no decorrer da formação. E principalmente a banca examinadora por selar esta
grande passagem pela academia composta pelos professores Lenin dos Santos Pires do
DSP e ao professor Gladson Paulo Milhomes da Fonseca da UNIFAP. Por fim, aos
valorosos integrantes do Comando de Operações Especiais do Exército Brasileiro que
viabilizaram a criação deste trabalho a partir das suas experiências de vida lutando em
solo estrangeiro.
6

“A violência humana é inerente a condição biológica do homem, manifesta-se em todos


os conflitos de relação a partir do processo mais remoto de socialização”

Sigmund Freud
7

RESUMO

O trabalho a seguir pretende trazer um conhecimento a cerca da paisagem sonora


dentro dos conflitos armados com os integrantes do Comando de Operações Especiais
do Exército Brasileiro durante a missão de paz no Haiti realizada pela ONU. Cabe
ressaltar que a consideração pertinente ao tema da Segurança Pública estará relacionada
ao poder simbólico a respeito das armas de fogo. Também serão abordados os conceitos
técnicos e científicos a respeito da Paisagem Sonora, as Operações Especiais, os
amparos legais e constitucionais a cerca do envolvimento do Brasil em ações dessa
natureza, os fatos históricos do Haiti que precederam e culminaram na ajuda
humanitária e os acontecimentos positivos e negativos que mais marcaram as atividades
durante as ações da ONU no Haiti. Merece ênfase que o Brasil foi o país responsável
por chefiar a missão em solo estrangeiro trazendo para si uma responsabilidade
imensurável, tendo em vista o envolvimento de diversas etnias com a tentativa de
reestabelecer a ordem da nação.

Palavras-chave: Haiti, Paisagem Sonora, Operações Especiais, Brasil, ONU.


8

ABSTRACT

This work intends to propose a reflection about the soundscape within the armed
conflicts with the members of the Special Operations Command of the Brazilian Army
during a peace mission in Haiti, carried out by the UN. It is noteworthy that the
relevance on the theme of Public Security will be related to the symbolic power
regarding firearms. Also included will be technical and scientific concepts regarding
Soundscape, Special Operations, legal and constitutional support for Brazil’s
involvement in actions of this nature, historical facts in Haiti that preceded and
culminated in humanitarian aid and the most positive and negative events. Marked as
activities during UN actions in Haiti. It is important to remember that Brazil was the
country responsible for heading a mission in a foreign land, bringing an immeasurable
responsibility to itself, bearing in mind the involvement of different ethnic groups in an
attempt to re-establish order in the nation.

Keywords: Haiti, Soundscape, Special Operations, Brazil, UN.


9

LISTA DE ABREVIATURAS

CIA: Agência Central de Inteligência

MINUSTAH: Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti

BRABAT: Batalhão Brasileiro de Infantaria de Força de Paz

MINUTUSH: Missão de Apoio à Justiça no Haiti

ONU: Organização das Nações Unidas

COPESP: Comando de Operações Especiais

Op Esp: Operações Especiais

F Op Esp: Forças de Operações Especiais

DOFEsp: Destacamento Operacional de Forças Especiais

DAC: Destacamento de Ações de Comandos

DOPaz: Destacamento de Operações de Paz

F Convl: Forças Convencionais

GLO: Garantia da Lei e da Ordem


10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10
1. CAPÍTULO I 12
1.1 Conceitos sobre a Paisagem Sonora 12
1.2 Aspectos geográficos e históricos do Haiti 17
1.3 Ajuda da Organização das Nações Unidas 20
1.4 As Unidades do COPESP do Exército Brasileiro em atuação no Haiti 24
2. CAPÍTULO II 27
2.1 Amparos legais e constitucionais para a ida do Brasil para o Haiti 27
2.2 Manual de Operações de Paz do Ministério da Defesa 29
2.3 Manual de Campanha de Operações Especiais do Exército Brasileiro 35
3. CAPÍTULO III 40
3.1 Paisagem Sonora e os Conflitos Armados no Haiti 40
3.2 Poder simbólico do som nos conflitos armados 48
Considerações Finais 51
Referências Bibliográficas 53
11

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade trazer a título de conhecimento mais uma
pesquisa sobre a Missão de Paz no Haiti realizada pela ONU. Sobre isso, o
direcionamento fim terá como abordagem a paisagem sonora dentro dos conflitos
armados envolvendo os integrantes do Destacamento de Operações de Paz, unidade de
elite composta por integrantes Comandos e Forças Especiais do Comando de Operações
Especiais do Exército Brasileiro.

Inicialmente, para que toda a contextualização do trabalho seja compreendida,


tendo em vista ser um tema de considerável complexidade, ele foi elaborado a partir de
revisões bibliográficas, manual Operações de Paz do Ministério da Defesa, de
Operações Especiais do Exército Brasileiro e entrevistas com interlocutores que
integraram o destacamento em solo haitiano. Em consequência, a monografia foi
dividida em 3 capítulos com o intuito de situar o leitor a respeito dos temas que serão
abordados e vão construir uma linha de raciocínio até a conclusão do trabalho. Também
foi utilizada metodologia de entrevistas com militares que estiveram no Haiti, essas
conversas ocorreram durante os meses de agosto e setembro de 2021 por aplicativo de
mensagem.

No capítulo I e nos seus tópicos serão abordados os conceitos sobre as definições


de paisagem sonora, história e geografia do Haiti e assuntos pertinentes ao
envolvimento da ONU e das unidades do COPESP. No capítulo II são tratadas as
temáticas a respeito das leis e dos manuais que compõe as regras para atuação no
exterior e de Operações Especiais. Por fim, no capítulo III a temática principal do
trabalho: a relação entre a paisagem sonora e os conflitos armados, seguido de
considerações a respeito do simbolismo do som das armas no cenário de batalha.

A importância de tratar de um assunto dessa complexidade reluz a necessidade


de conhecer as pessoas que estão inseridas nessas ações para conhecer a partir da ótica
deles, como é a natureza do combate na sua mais pura realidade. Posteriormente foram
realizadas considerações a partir da temática dos sons, simbolismos referentes ao
barulho, armas e por fim as aplicações em relação às reflexões pertinentes a temática da
Segurança Pública.
12

Em suma, o objetivo principal desta monografia é propor uma reflexão a respeito


da paisagem sonora e dos simbolismos dentro de um conflito armado, tendo em vista
que a guerra em si contribui para diversas mudanças no ser humano, partindo de reações
comportamentais até as mentais em relação às vivências dentro de um cenário de
batalha a partir do que é visto e ouvido lá.
13

Capítulo I

1.1 – Conceitos sobre a Paisagem Sonora.

É possível entender que o ambiente sonoro está presente no cotidiano das


pessoas em qualquer atividade a ser realizada, por mais sigilosa ou silenciosa que sejam.
É interessante observarmos as ideias de Murray Schafer 1 sobre o ambiente sonoro e este
pode ser visto como um campo de estudos. Sobre isso, Murray Schafer a define como:

Paisagem sonora – O ambiente sonoro. Tecnicamente, qualquer


porção do ambiente sonoro vista como um campo de estudos. O termo
pode referir-se a ambientes reais ou a construções abstratas, como
composições musicais e montagens de fitas, em particular quando
consideradas como ambiente (SCHAFER, 2001, p.366).

Entendemos acerca da importância da percepção sonora que pode ser


identificada através do estudo unificado existente entre ouvinte e o lugar onde ele
ocupa, extraindo a informação a respeito do ambiente e as relações possíveis que se dão
a partir de sua percepção sobre os sons.

Mais adiante, a teoria de James Jerome Gibson intitulada de Os Sentidos


considerados como Sistemas Perceptuais de 1966, trata a respeito da audição
incorporada e situada nos ambientes sonoros, acrescentando que não devemos
considerar somente a função do ouvido em si, mas sim todo o sistema perceptivo que
faz parte de determinado meio que trabalha para detectar e receber as informações.
Também merece ênfase, a invariante transformacional elaborada por Gibson, que trata a
respeito das reações comportamentais a partir de um ataque de um objeto sonoro no
ambiente. Inclusive essa invariante atua podendo levar a um padrão comportamental de
tal objeto especificado pelo tipo de distúrbio mecânico que o produziu (TOFFOLO,
OLIVEIRA, ZAMPRONHA, 2003, p. 6).

O emprego do som foi utilizado com diversas finalidades distintas ao longo da


humanidade, partindo de relações de prazer, como ouvir música, por exemplo,
incentivos nos grandes conflitos e até mesmo tortura psicológica. Cabe destacar o que

1
As ideias de Murray Schafer foram desenvolvidas no final dos 1960 e início dos anos 1970 com o
Projeto de Paisagem Sonora Mundial, tendo por objetivo estudar o ambiente sonoro através de um curso
sobre poluição sonora. Disponível em: https://www.sfu.ca/~truax/wsp.html. Acesso em 04/08/2021
14

mais chama a atenção é o emprego histórico desse método para fins de crueldade com o
ser humano, ou seja, o som utilizado como instrumento de tortura. Além disso, é
possível observar que ao combinar métodos de emprego do som e da música é possível
desenvolver novas formas de causar dor e sofrimento à pessoa sem a necessidade de ter
o contato diretamente físico. Além do mais, é de suma importância observar que a
maioria dos métodos utilizados como tortura foi praticada por forças do governo que
deveriam zelar e reestabelecer a ordem e não causar mais sofrimento alheio em
decorrência de um “bem maior”, mostrando que tais métodos continuarão a ser
empregados nos conflitos existentes ao longo da história do homem, por exemplo, na
guerra ao terror a CIA2 fez uso de música como meio de tortura durante os
interrogatórios (BBC, 2014).

E pelo fato dos sons serem utilizados com diversos fins, incluindo para provocar
maldade, é válido tratar a respeito das reações do corpo humano a partir das exposições
sonoras. Sobre isso, destaca-se que grandes partes das ações do homem iniciaram com
estímulos, que em sua maioria são sonoros, por exemplo: liberar a passagem da via ao
retirar o veículo da estrada ao ouvir a sirene de alguma ambulância em deslocamento no
serviço de emergência. Alguns desses atos estão atrelados à percepção dos sons que
preenchem as paisagens sonoras que existem no mundo.

É interessante observarmos que a paisagem sonora possui capacidades de


modificar o plano territorial no qual ela está inserida. Podendo ser utilizada em diversas
formas como uma maneira de analisar determinado contexto dentro de um evento
cultural e histórico da humanidade ou de alguma região específica. O resultado disso,
com o passar do tempo pode levar a uma forma de adestramento sonoro no qual o
ouvido estará sempre atento aos diversos estímulos presentes dentro de uma zona de
trabalho ou habitacional, por exemplo, reforçando a ligação da paisagem sonora com
todos os ambientes.

2
A CIA, Agência Central de Inteligência americana utilizou como técnicas de interrogatório e tortura
música como um de seus métodos para alcançar os objetivos em prol da guerra contra o terror. Disponível
em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141210_eua_cia_tortura_hb. Acesso em:
11/08/2021.
15

Mais adiante, também é visto que o ambiente urbano traz consigo uma carga
sonora diversificada tendo em vista a história da evolução das coisas que integram
determinado espaço, seja a produção realizada a partir de objetos, interações entre as
pessoas e entre outros fatos e atividades que integrem a paisagem sonora. Por
conseguinte, também merece ênfase as relações dos sons com as convivências e
conexões que são proporcionadas a começar dele, seja entre as pessoas, animais ou
objetos que fazem parte do ambiente sonoro. O resultado disso é uma manifestação
acústica (WESTERKAMP, 1991), que caracteriza os ambientes nos quais são criadas as
paisagens sonoras a partir das atitudes daqueles que habitam determinados meios e
também das coisas que integram aquele espaço.

Ademais, reforçando o uso do som e analisando a paisagem sonora que também


possui outra qualidade negativa quando se trata dos malefícios que os homens fazem
uns aos outros se tratando a respeito dos conflitos armados. Os sons nesses ambientes
deixam marcas pelo resto da vida naqueles que vivenciaram, presenciaram e ouviram os
tiros, os gritos de dor e desespero, o rugir dos canhões, o ressoo das metralhadoras e até
mesmo as súplicas pela morte. Sobre isso, a paisagem sonora merece destaque, pois se
trata de qualquer ambiente sonoro ou qualquer porção do ambiente sônico visto como
um campo de estudos, podendo ser esse um ambiente real ou uma construção abstrata
qualquer, como composições musicais, programas de rádio, etc. (SCHAFER, 1977, p.
274-275).

De agora em diante, é possível evidenciar que a paisagem sonora é capaz de


impactar a vida das pessoas a partir das formas de ouvir e das reações desenvolvidas
com os sons. O que leva a perceber que a maneira de escutar e condicionar os ouvidos
pode fazer os indivíduos a fortalecerem percepções minimalistas do ambiente sonoro ao
seu redor. Resultando em uma audição adestrada para atender determinados tipos de
atenção dentro de demandas que concernem a algumas atividades laborais3.

Paralelo a isso, também é válido observar que como os olhos necessitam de


leitura, os ouvidos também precisam escutar para que se mantenham atentos e sensíveis
às percepções acerca da paisagem sonora. Além disso, cabe destacar que essa atenção e

3
Por exemplo, os comandos do Mestre Salto Paraquedista para os saltadores necessitam de bastante
atenção tendo em vista o deslocamento das aeronaves serem realizados de porta aberta a
aproximadamente 240km/h causando um ruído ensurdecedor no interior do avião necessitando de
bastante atenção e percepção dos saltadores as ordens do Mestre de Salto. Disponível em:
https://bdex.eb.mil.br/jspui/handle/1/1268. Acesso em: 11/08/2021.
16

sensibilidade, contribuem para o estado de alerta que é necessário para que o ser
humano esteja sempre condicionado a perceber e identificar as coisas que ocorrem
dentro e fora do seu campo auditivo.

Além do mais pode ser compreendido que a paisagem sonora também possibilita
ser utilizada como um norte para poder dar início aos estudos e debates relacionados
com o som. Reforçando a ideia de que a paisagem sonora se trata de todo o meio no
qual as pessoas vivem e que produzam sons de diversas maneiras e para diversos fins.

Sobre esses estudos, algumas definições merecem ênfase por se tratarem de


aspectos que definem determinadas áreas de atuação referentes à paisagem sonora.
Dentre os quais se destacam o conceito de ambiente sonoro hi-fi (alta fidelidade) e lo-fi
(baixa fidelidade). O hi-fi quando aplicado a paisagem sonora pode ser compreendido
como um som que pode ser facilmente identificado pelo fato de não possuir nenhum
ruído dividindo o ambiente na mesma intensidade (SCHAFER, 1977, p. 43). Por
exemplo, uma casa onde habita um recém-nascido que no silêncio da noite começa a
chorar e os seus pais rapidamente identificam o choro e sabem que se trata de sons
proferidos pelo filho.

A lo-fi por se tratar de uma definição de baixa qualidade em um ambiente


repleto de diversidade sonora, é possível imaginar um lugar em conflito armado onde
diversos disparos de armas de diferentes calibres estão vindos de diversas direções.
Resultando em uma possível dificuldade das unidades em identificar a origem dos tiros
para buscar abrigo ou revidar a agressão.

A necessidade de conhecer os conceitos supracitados é a importância que em


uma análise de um ambiente acústico a classificação de som de alta ou baixa fidelidade
poderá ajudar a identificar os componentes de uma paisagem sonora independente do
lugar que esteja ocorrendo a pesquisa. Sobre isso, a importância de se conhecer os
detalhes da paisagem sonora do ambiente onde estamos inseridos poderá trazer
habilidades imprescindíveis para o ser humano, tendo em vista que:

O homem gosta de produzir sons para imaginar que não está só. Desse
ponto de vista, o silêncio total é a rejeição da personalidade humana.
O Homem teme a ausência de som do mesmo modo que teme a
ausência de vida. [...] A contemplação do silêncio absoluto tem se
tornado negativa e aterradora para o homem ocidental [...]. A
reconquista da contemplação nos ensinaria a ver o silêncio como um
17

estado positivo e feliz em si mesmo, como a grande e magnífica tela


de fundo sobre a qual se esboçam as nossas ações, sem o que
permaneceriam incompreensíveis ou não poderiam sequer existir. [...]
Quando não há som, a audição fica mais alerta. Se temos esperança de
melhorar o projeto acústico mundial, isso só ocorrerá após a
descoberta do silêncio como um estado positivo em nossa vida.
(SCHAFER, 2001, p. 354-538)

A ideia expressa na citação reluz basicamente sobre a necessidade de nos


adaptarmos ao silêncio de maneira que ele também seja visto como parte do ambiente
sonoro, mesmo não havendo a produção do som. Porque no silêncio é possível prestar
mais atenção em nós, no ambiente ao nosso redor e ouvirmos com mais clareza nessa
denominação de lugar.

Dando continuidade, é válido lembrar que além do silêncio, alguns ruídos


também surtem determinados efeitos na sociedade, podendo ser rejeitados por
determinadas classes sociais4 ou ser acolhidos por outras. Isso destaca o poder da
sonoridade no ambiente, criando uma familiarização das coisas cuja interpretação e
lembrança poderá nos fazer lembrar os fatos passados, vivências que presenciamos e
traumas. Inclusive é em razão das recordações e memórias a partir da audição que essa
pesquisa será direcionada.
Sobre isso, diante da exposição supracitada do conceito de paisagem sonora,
vale destacar a relação com o que foi discutido com base nos relatos dos integrantes do
Comando de Operações Especiais do Exército Brasileiro. Tratando a respeito do
ambiente sonoro direcionado às vivências durante a Missão de Paz no Haiti com a
ONU5. Mas antes de tudo, é necessário conhecer a história do Haiti, o que culminou na
intervenção das Nações Unidas, o motivo do Brasil ser selecionado para tal atividade, os
amparos constitucionais, legais, parte das doutrinas de Op Esp e conhecer as unidades
das Operações Especiais do Exército Brasileiro.

4
Para Émile Durkheim as classes sociais podem ser compreendidas a partir de status, privilégios e cargos
profissionais ou funcionais, que são distribuídos a partir da divisão do trabalho, dentre outras
especificações. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/classe-social.htm. Acesso
em: 09/09/2021.

5
A Organização das Nações Unidas ou ONU tem por objetivo reunir os países integrantes com o intuito
de discutir problemas de natureza mundial para chegarem a soluções que ajudem toda a humanidade.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/georgrafia/onu.htm. Acesso em: 11/08/2021.
18

1.2 – Aspectos geográficos e históricos do Haiti.

Inicialmente a respeito da República do Haiti, ele é um país localizado na


América Central, em uma ilha que faz fronteira com a República Dominicana, sendo
banhado pelo oceano Atlântico ao norte e o mar do Caribe a oeste e ao sul.
Apresentando em sua geografia um clima tropical e um território montanhoso com flora
originalmente tropical, possuindo uma extensão territorial de 27.750 km².

Mapa do Haiti. Disponível em: https://suburbanodigital.blogspot.com/2015/04/mapa-do-haiti.html.


Acesso em: 09/09/2021.

A sua população, em maioria possui raízes africanas e tem como idiomas oficiais
o francês e o crioulo (língua nativa), sobre as religiões as duas principais praticadas é o
catolicismo 6 e o vodu7. A respeito da economia, a sua moeda é o Gourde e o país se

6
O catolicismo são as práticas e os costumes da religião católica. A Igreja Católica é dividida em dois
grupos dentro do exercício do catolicismo: os romanos e os ortodoxos. A história afirma que a religião
surgiu na época de Jesus Cristo, no qual o mesmo criou a igreja primitiva. Disponível em:
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/religiao/catolicismo. Acesso em 09/09/2021.
7
O vodu foi criado na África Ocidental e chegou ao Haiti através dos escravos, a religião pratica as suas
atividades através do culto aos antepassados e entidades conhecidas como loas. Geralmente os cultos são
conduzidos por líderes homens (hougan) ou mulheres (mambo), os ritos ocorrem por via de
19

destaca negativamente devido aos índices altíssimos de pobreza que atinge a maior parte
da população, levando a República ao título de nação mais pobre economicamente das
Américas.
Ainda assim alguns serviços fomentam a economia como cargos políticos,
turismo, comércio, restaurantes e agricultura, entretanto, tais atividades não conseguem
ser suficientes para afastar os problemas socioeconômicos que assolam o país e os
aproximam de alguns países africanos devido à natureza das mesmas situações.
Fazendo um apanhado histórico começando pelo nome do país, o significado do
nome Haiti é origem do idioma arahuaca, língua dos indígenas locais e a tradução
significa “terra de montanhas” (BBC, 2016). O Haiti se destaca por ter sido a primeira
nação da América Latina a declarar independência em 1º de janeiro de 1804, mas não
muito distante do Brasil, também foi marcado por instabilidades políticas ao longo da
sua história. No ano de 1492, na chegada de Cristóvão Colombo 8, o território era
povoado por índios Aruaques, e os espanhóis batizaram a ilha de Hispaniola,
escravizaram os indígenas, culminando na redução de quase toda sua população
original. (FRANCISCO, c2021)
Em 1697, com a assinatura do Tratado de Ryswick9, no qual estavam envolvidas
França e Espanha, a parte da ilha onde ficava o Haiti foi entregue à França, e acabou
batizada de Saint Domingue. Durante esse período, o país se destacou através do cultivo
de cana de açúcar, sendo viabilizado por escravos africanos. Contudo, no ano de 1791
motivados pela Revolução francesa ocorreu uma rebelião no qual o ex-escravizado
Toussaint L’Ouverture liderou o movimento, resultando na abolição da escravidão em
1794 (FRANCISCO, c2021).
Em consequência, Toussaint foi nomeado governador permanente em 1801, mas
uma expedição francesa com a missão de recapturar a ilha prendeu Toussaint, sendo
enviado de volta para a França e posteriormente vindo a falecer em 1803. Após esse fato

incorporações, transe e sacrifícios de animais. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/religiao/vodu.htm. Acesso em: 09/09/2021.

8
Cristóvão Colombo foi um navegador e explorador genovês que em 1492 foi o primeiro homem
europeu, junto de sua frota de navios a conhecer o continente americano. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/cristovao-colombo/. Acesso em: 16/09/2021.
9
O Tratado foi feito em 20 de setembro de 1967 encerrando os conflitos onde a França lutou contra a
Grande Aliança na Guerra dos Nove Anos, O nome Ryswick foi pelo motivo de ter sido assinado na
cidade holandesa de Ryswick (atual Rijswijk). Um dos termos foi a entrega por parte da Espanha aos
Franceses a parte ocidental da ilha de Santo Domingo (Haiti atualmente). Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Rijswijk. Acesso em: 18/08/2021.
20

Jean-Jacques Dessalines, também escravo deu prosseguimento a resistência resultando


na independência no ano de 1804 passando a se chamar de Haiti (FRANCISCO, c2021).
Após a libertação do país, havia alguma esperança de melhoras nas condições de
vida da população, entretanto, em 1806, Dessalines foi assassinado pelo fato de
membros da elite ficarem insatisfeitos com a política empregada no país. Em
decorrência disso, a administração pública ficou dividida entre norte e sul, e apenas em
1820, através do governo de Jean-Pierre Boyer, o país se uniu novamente
(FRANCISCO, c2021).
Já no século XX o país voltou a ter problemas referentes à administração quando
em 1957 o médico François “Papa Doc” Duvalier foi eleito presidente trazendo um
governo ditatorial, tendo como modo de atuação a repressão militar, perseguindo
qualquer forma de oposição. Em 1971 o médico foi assassinado, mas o seu filho Jean-
Claude Duvalier sucedeu o seu cargo com a mesma forma de política, resultando em
mais revoltas populares que após atingir o seu limite, fez o presidente fugir para a
França em 1986. Cabe ressaltar que o presidente não abandonou por completo o poder,
mas deixou uma comissão comandada pelo general Henri Namphy até 1988, sendo
deposto após um golpe de Estado em setembro do mesmo ano (FRANCISCO, c2021).
O motivo do golpe foi o objetivo de restaurar a honra das forças armadas do
Haiti e principalmente encerrar os problemas dentro do comando do exército sob o
general Namphy. Logo em seguida o tenente-general Prosper Avril foi indicado para a
presidência onde ficou como chefe do regime militar até março de 1990. Durante esse
interstício, em 1987 foi promulgada a 23ª Constituição do Haiti seguindo o modelo das
diretrizes francesas e americanas.
Ainda em 1990, o país realizou as eleições presidenciais, levando ao chefe da
nação o padre Jean-Bertrand Aristide. Entretanto, no mesmo ano ocorreu outro golpe
militar instaurando a ditadura novamente, e removendo o padre do poder. Somente em
1994, Aristide retornou a presidência após a ONU punir o Haiti economicamente para
trazer de volta a democracia, mas 10 anos depois devido aos problemas políticos do país
Aristide renunciou o cargo e fugiu10 para a África em fevereiro de 2004. Ainda no
mesmo mês, o presidente sucessor Bonifafe Alexandre solicita a ONU ajuda
internacional devido à situação instaurada no país.
10
Segundo uma matéria da BBC Brasil, em entrevista a CNN, Aristide informou que foi obrigado a
deixar o poder, resultando em um golpe de Estado. O padre disse que foi “orientado” por agentes
americanos a deixar o país tendo em vista o risco de um derramamento de sangue. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/story/2004/03/printable/040302_haiti2rg. Acesso em:
18/08/2021
21

1.3 – Ajuda da Organização das Nações Unidas.

Atendendo ao chamado devido à tamanha crise política e humanitária, a


atenção do mundo foi desviada para o país, resultando na intervenção das Nações
Unidas criada através da Resolução 1.542 do Conselho de Segurança e com base no
Capítulo VII da Carta da ONU em 30 de abril de 2004. A operação teve início em
setembro de 2004 e terminou em outubro de 2017. No decorrer dos 13 anos de missão,
o Brasil11 foi o país responsável por comandar as tropas internacionais de 20 nações que
estavam em solo haitiano. (BRABAT 26, 2017)
Nomeada como MINUSTAH12 a missão teve por objetivo a estabilização do
país, pacificar o lugar por meio de ações contra gangues locais, reestabelecer a ordem
política, fornecer alimentos para a população e fomentar o desenvolvimento
institucional e econômico. Antes de iniciar as atividades propriamente ditas, em junho
de 2004 a Brigada Haiti foi criada por militares brasileiros com o intuito de exercer
ações de logística, operacional e auxiliando a população daquele país. (BRABAT 26,
2017)
Paralelo a isso, a primeira fase da missão contava aproximadamente com 6.700
militares, além disso, outro efetivo foi composto por forças policiais voluntárias e civis
voluntários para ajudar nas demais esferas políticas e psicossociais. Já na segunda fase,
com início no segundo semestre de 2005, as atividades foram direcionadas para ações
militares devidamente autorizadas contra as gangues, respeitando as regras de combate.
A atuação da MINUSTAH também visou à realização de obras, pavimentação de ruas e
avenidas que atendessem ao objetivo da missão. (BRABAT 26, 2017)
A terceira fase da missão teve início no segundo semestre de 2007, objetivando
uma grande interação cultural entre as forças de paz, policia local e cidadãos Haitianos.
A quarta e última fase começou em janeiro de 2010 e durou até o término da missão em
2017. Um dos grandes marcos nesse período foi em decorrência do terremoto que
destruiu o país ainda em janeiro do mesmo ano. Destacando principalmente a
necessidade do comando da missão em gerir decisões para atender as demandas do país,
tendo em vista a enorme crise instaurada. (BRABAT 26, 2017)

11
O motivo de o Brasil ser selecionado para chefiar a missão de paz, é o fato de o país ser um dos
fundadores da ONU e tem por objetivo a defesa da solução pacífica dos conflitos. Fazendo jus inclusive
aos princípios do art. 4º da CF de 1988, no qual rege as suas relações internacionais. Disponível em:
https://www.politize.com.br/minustah-missao-de-paz-no-haiti/. Acesso em: 18/08/2021.
12
Missão das Nações Unidas para estabilização no Haiti.
22

Foto tirada por Ricardo Rojas após o terremoto em 2010 no Haiti mostrando o rastro de destruição
causado pelo terremoto. Disponível: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-01/terremoto-
que-matou-300-mil-no-haiti-faz-10-anos. Acesso em 16/09/2021.

A tragédia ocasionada pelo terremoto merece destaque por tamanha destruição


no país, no qual contribuiu para piorar a crise humanitária no lugar. No fatídico dia 12
de janeiro de 2010, um abalo sísmico de nível 7,0 na escala Richter13, levando a morte
mais de 200.000 pessoas, dentre os quais 22 brasileiros vieram a falecer por causa do
terremoto. Alguns anos depois, a ilha foi novamente assolada por um desastre natural,
mas dessa vez pelo céu. O Furacão Matthew foi um ciclone que atingiu o Haiti com
ventos de quase 230km/h em outubro de 2016, deixando um rastro de destruição de
aproximadamente 1000 mortos, desabrigando cerca de 40.000 pessoas e atingindo mais
de 1 milhão. Convém mencionar que grande parte dos mortos foi devido ao fato de
árvores caírem sob seus corpos. Além disso, a recuperação do país após essa tragédia se
prolongou até depois do término da missão de paz. (BRABAT 26, 2017)

13
Criada por Charles Richter e Breno Gutenberg, a escala é um método de medição de magnitude dos
terremotos para ter uma ideia exata da potencialidade dos abalos sísmicos ocorridos na litosfera.
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/escala-richter.htm. Acesso em: 16/09/2021.
23

Imagem de Carlos Garcia Rawlins mostrando os sobreviventes dentro de suas casas em Jerimie,
localidade do Haiti após o caos instaurado devido à passagem do furacão Matthew. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/06/internacional/1475746470_475357.html. Acesso em:
16/09/2021.

Ao longo dos 13 anos da missão, em 2017 o Conselho de Segurança da ONU,


por via da Resolução 2.350, decretou o fim da MINUSTAH no dia 15 de outubro do
referente ano. Após a retirada dos militares nesse período, apenas uma pequena
quantidade de integrantes da MINUTUSTH14 ocupa o país com o intuito de atender as
demandas referentes à justiça local e no fortalecimento das instituições democráticas do
país. Entregando para o povo uma ideia de país estabilizado para prosseguir com a
administração pública local. Também merece ênfase que o fim da operação foi selado
com as eleições em 2016, nomeando Jovenel Moise presidente do país. (BRABAT 26,
2017)
Em contra partida, alguns aspectos negativos referentes aos 13 anos da missão
de paz merecem destaque a título de conhecimento. Por mais que as ações da ONU
fossem direcionadas para a reestruturação do país, algumas questões prejudiciais
contribuíram para os problemas no decorrer da missão, um dos fatos foi a insatisfação
de parte da população local por tratar a missão de paz como intervenção militar
estrangeira disfarçada de ajuda humanitária. Um dos motivos dessa crítica seria o fato
14
Missão de Apoio à Justiça no Haiti.
24

dos recursos destinados ao país ficarem em posse da ONU, afrontando a soberania


nacional. (MORAIS, 2018)

Imagem do Jornal New York Times mostrando uma criança com cólera no Haiti em 2010. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/mundo/onu-processada-por-epidemia-de-colera-no-haiti-10308848. Acesso em:
22/11/2021.

Além disso, questões de saúde também afetaram o país por causa do surto de
cólera levando mais de 10 mil pessoas a óbito, cabe ressaltar que os primeiros casos
foram identificados em militares do Nepal. Também ocorreram relatos de estupros por
militares da MINUSTAH resultando em gravidezes indesejadas, execuções durante as
ações em Cité Soleil, bairro pobre da capital Porto Príncipe e reduto dos criminosos
locais, dentre outros excessos cometidos por parte dos integrantes da missão de paz.
Após o término da missão, o cenário de miséria permaneceu e a instabilidade política
retornou ao país que após alguns anos o resultado foi o assassinato15 do presidente
Jovenel Moise em 7 de julho de 2021. (MORAIS, 2018)

15
Na referida data um atentado ocorreu em sua casa na capital Porto Príncipe no qual o presidente
morava resultando em sua morte onde na mesma ocorrência a sua esposa, a primeira-dama Martine Moise
também foi baleada, mas não veio a óbito. Na ação, mercenários estrangeiros, em sua maioria ex-militares
colombianos adentraram a casa do presidente e o executaram por volta de 1 hora da manhã. Disponível
em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/07/07/presidente-do-haiti-e-morto-em-ataque-anuncia-
primeiro-ministro.ghtml. Acesso em 16/09/2021.
25

Dopaz em Cité Soleil em 2007. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/dopaz-conheca-a-


tropa-de-elite-que-o-brasil-levou-para-pacificar-as-favelas-violentas-do-haiti.ghtml. Acesso em:
16/09/2021.

1.4 – As Unidades do COPESP do Exército Brasileiro em atuação no Haiti.

Entrando no último assunto deste capítulo, será abordado a seguir a respeito dos
integrantes do Comando de Operações Especiais do Exército Brasileiro, os Comandos e
os Forças Especiais do Brasil que participaram da missão de paz no Haiti. Segundo o
Exército Brasileiro
Os Comandos tem como missão realizar ações de captura, resgate,
eliminação, interdição e ocupação de alvos compensadores do ponto
de vista estratégico, operacional ou tático, situado em área hostil ou
sob controle do inimigo, em tempos de paz, crise ou conflito armado,
visando contribuir com a consecução de objetivos políticos,
econômicos, psicossociais ou militares. Para cumprir tais missões, o
batalhão é moldado de forma a ter garantidas as seguintes
possibilidades: - realizar infiltrações e exfiltrações terrestres, aéreas e
aquáticas; - atuar em qualquer ambiente operacional, particularmente
em regiões semiáridas, de montanha, de planalto e de selva; - conduzir
o fogo terrestre, aéreo e naval; - participar em conjunto com outras F
Op Esp, de operações contraterrorismo e de guerra irregular; - realizar
operações contra forças irregulares; - realizar operações de
reconhecimento especial, principalmente em proveito próprio; -
realizar outras operações de inteligência de combate; - assessorar
outras forças quanto ao emprego dos elementos operacionais de
26

Comandos. Disponível em: http://www.ciopesp.eb.mil.br/en/curso-de-


acoes-de-comandos.html. Acesso em: 26/08/2021.

Sobre os Operadores de Forças Especiais

São especialistas em Guerra Não Convencional, Reconhecimento


Especial, Operações Contra Forças Irregulares e Contraterrorismo.
Organizam-se em Destacamentos Operacionais de Forças Especiais,
podendo ser empregados em ambientes hostis, negados ou
politicamente sensíveis. O DOFEsp é capaz de estabelecer e cultivar
laços de confiança com a população local a despeito das barreiras
culturais, apoiando ou evitando uma confrontação militar formal, com
repercussões nos níveis político e estratégico do conflito. Os Forças
Especiais são caracterizados por serem um grupo de elite de altíssimo
desempenho que cumpre missões e tarefas em áreas profundas, além
das capacidades das forças convencionais. Estas frações são
exclusivamente especializadas, organizadas equipadas e empregadas
de acordo com as seguintes condicionantes: capacitação em línguas
estrangeiras, compatibilidade étnico-cultural com a região de
emprego, habilidade de percepção dos traços culturais locais,
preparação para adaptar-se ao contexto político local, especialização
em mediação e negociação e proficiência na coordenação de
interagências e aplicação de avançadas tecnologias. Disponível em
http://www.ciopesp.eb.mil.br/en/curso-de-forcas-especiais.html.
Acesso em: 26/08/2021

Em 2004 as primeiras tropas brasileiras foram solicitadas para compor o


primeiro contingente no Haiti. Com isso, os Comandos e os Forças Especiais do Brasil
prestaram treinamentos para o efetivo convencional do Exército Brasileiro que foi
designado para a primeira ida ao país, mas somente no ano de 2005 que o primeiro
efetivo de Comandos e Forças Especiais foi oficialmente para o Haiti. E até lá,
continuaram a ministrar adestramentos as F Convl do Exército que iriam para o país,
mas ainda em solo brasileiro, com o intuito de passar conhecimentos de combate.
(PORTUGUÊS, 2017)

Com a ida do primeiro efetivo do Exército Brasileiro, cabe ressaltar que alguns
Comandos e Forças Especiais que estavam lotados em outros quartéis do Brasil
integraram o primeiro contingente, formando o “Destacamento Caveira”
desempenhando ações de segurança ao acompanhar as operações militares.
Posteriormente a chegada oficialmente do DOPAZ foi composta com 24 militares para
o Haiti (PORTUGUÊS, 2017). Sobre o Destacamento Operacional de Paz, a
composição tinha os militares sendo distribuídos em Estado-Maior formado por 4
oficiais, 4 sargentos especialistas em demolições, saúde, armamento e comunicações, 4
27

sargentos auxiliares de inteligência, 6 cabos e soldados auxiliares dos especialistas e 6


oficiais e sargentos caçadores16. (BRABAT 26, 2017)

Dopaz em adestramento no Haiti. Foto: Revista BRABAT 26, 2017.

Tendo como objetivo em solo Haitiano durante a estabilização do país, o DOPaz


realizou ações de inteligência operacional17, reconhecimento e avaliação de área e a
continuidade do adestramento das tropas convencionais. Além disso, o destacamento
prestava auxílio ao comando do BRABAT 18 em referência aos assuntos de inteligência e
atualizações pertinentes ao teatro de operações no Haiti. (PORTUGUÊS, 2017)
Ademais, o destacamento teve como atividade fim o engajamento direto nas
situações mais críticas de conflito armado, captura de criminosos locais, e a garantia das
ações dos batalhões convencionais e administração dos adestramentos para as unidades
comuns, destacando a presença fundamental para o bom andamento da missão.
(PORTUGUÊS, 2017)

16
Caçador de Operações Especiais é o militar habilitado a efetuar disparos precisos à longa distância, a
comando ou não, em alvos pré-determinados, escolhidos ou de oportunidade. Devido à complexidade das
ações existia a necessidade de apoio de caçadores para a proteção das equipes em terra que estavam se
deslocando em terreno hostil, possibilitando a notificação dos times em solo sobre eventuais ameaças e a
eliminação destas. http://www.ciopesp.eb.mil.br/en/?option=com_content&view=article&id=231. Acesso
em: 26/08/2021
17
A Inteligência Operacional nas ações militares de Operações Especiais abrange níveis táticos,
operacionais e estratégicos visando a capacidade de obter dados não disponíveis e protegidos em
ambientes hostis ou sob controle do inimigo. (BRASIL, 2017)
18
Batalhão de Infantaria de Força de Paz.
28

A seguir, o próximo capítulo pretende apresentar uma parte do amparo legal


sobre a participação do Brasil, mostrando as regulamentações a respeito das missões de
paz, e também destrinchar sobre os conceitos e fundamentos das Operações Especiais.

Capítulo II

2.1 – Amparos legais e constitucionais para a ida do Brasil para o Haiti.

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu título 1, que trata dos


princípios fundamentais, expressa em um dos seus artigos o seguinte:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos povos da América
Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 02/09/2021.

No seu inciso VI é citado à defesa da paz no qual a Carta Magna prega para que
o país tenha como um dos seus objetivos nos seus pilares constitucionais, se tratando
das relações internacionais. Em consequência é importante observar sobre as entidades
que devem garantir o cumprimento dessas ações, além do corpo político, as Forças
Armadas se destacam por terem como atividade fim à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(CONSTITUIÇÃO, 1988)

Sobre isso, destaca-se uma das missões do Exército Brasileiro a respeito de


participar de Operações Internacionais o seguinte:
(...) d. Participar de Operações Internacionais
Implica empregar a Força Terrestre:
1) Na defesa dos interesses nacionais afetados por conflitos na
América do Sul.
29

2) Sob a égide de organismos internacionais:


- em operações de paz e humanitárias; e
- como Força Expedicionária integrando Força
Multinacional.
3) Para salvaguardar pessoas, bens e recursos nacionais ou sob
jurisdição brasileira, fora do território nacional. Disponível em:
https://portal.tcu.gov.br. Acesso em: 02/09/2021.

A partir daí é possível ter uma dimensão do amparo legal a respeito da


participação do Brasil nas missões de paz pela ONU. Também merece ênfase que o
Itamaraty19 reconhece o Brasil como fator prioritário na manutenção dos laços
históricos e culturais entre as nações que foram ocupadas pelas missões de paz. Além
disso, é importante observar pelo lado diplomático no ambiente internacional a posição
do Brasil referente às atuações nas comunidades internacionais reforçando inclusive a
sua importância na presença de ações dentro desse contexto de Missões de Paz perante a
ótica da ONU. (MORAES, 2018).

Ex-presidente Lula com as tropas brasileiras integrantes da Missão de Paz em 2004. Foto: Ricardo
Stuckert, Agência Brasil.

Também merecem destaque as atuações do Governo brasileiro no início da


Operação de Paz no ano de 2004. Após a eclosão dos problemas políticos do Haiti para
o mundo, e atendendo ao chamado da ONU, o Brasil e os países vizinhos se
prontificaram em prol da solidariedade.
Por conta disso, destacaremos as informações de mais valia presentes no Manual
de Operações de Paz do Ministério da Defesa. Esse documento tem por finalidade

19
Ministério das Relações Exteriores do Brasil
30

estabelecer os procedimentos a serem empreendidos pelo Ministério da Defesa (MD) e


pelas Forças Armadas (FA) para a participação militar brasileira em Operações de Paz
(Op Paz) junto a organismos internacionais. (BRASIL, 2013)

2.2 – Manual de Operações de Paz do Ministério da Defesa.

Sobre as normas, o norte a ser seguido pelo Brasil nas Missões de Paz se baseia
a partir da diplomacia preventiva, promoção, manutenção, imposição e consolidação da
paz. Sobre as ações diplomáticas, o manual prevê que o Brasil seja o administrador de
conflitos no que tange as disputas de interesses nas zonas conflagradas, com o intuito de
evitar lutas armadas. Evidenciando também a forma pacífica de solucionar as
controvérsias dentro de um ambiente sensível e politicamente instável. (BRASIL, 2013)

Já a promoção da paz, tem por finalidade medidas após o início dos conflitos
objetivando a negociação para dar fim às ações que resultaram no clima hostil. Cabe
ressaltar que as atitudes supracitadas tem amparo na solução pacífica de controvérsias
previstos no capítulo VI da Carta das Nações Unidas20, viabilizando inclusive, medidas
sancionatórias com caráter punitivo, também previsto no capítulo VII21 da Carta
mencionada anteriormente. (BRASIL, 2013)

20
“A Carta da ONU tem como objetivos principais o respeito aos direitos e liberdades fundamentais do
indivíduo, a manutenção da paz e segurança internacional e promoção do desenvolvimento social, com
melhorias nas condições de vida dos indivíduos”. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/dh/br/pb/dhparaiba/2/carta.html. Acesso em: 18/10/2021.
21
Fala sobre a Ação em Caso de Ameaça à Paz, Rutura da Paz e Ato de Agressão. Disponível em: Carta
das Nações Unidas e o Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça, 1941. Acesso em: 18/10/2021
31

Cerimônia de assinatura da Carta das Nações Unidas em São Francisco no dia 26 de junho de 1945. Foto:
AP Images. Disponível em: https://share.america.gov/pt-br/carta-das-nacoes-unidas-completa-75-anos/.
Acesso em 19/10/2021.

A manutenção da paz já dispõe a respeito das atividades no terreno com o aval


das partes em conflito para que seja possível uma trégua e posteriormente gerir as crises
através de acordos de paz, dentre outras ações apaziguadoras em conjunto com as
iniciativas políticas para estabilizar o terreno em conflito. Já a imposição da paz retrata
o engajamento de forças armadas para reestabelecer a ordem nas localidades que
ofereçam qualquer forma de ameaça ou até mesmo cometeram atos contra a paz e a
segurança internacional. Por fim, a consolidação da paz são atos posteriores ao conflito
que visa os efeitos colaterais para atenuá-los por via de conciliações, projetos em
diversas áreas de caráter econômico e social, para fortalecer novamente as estruturas
institucionais. (BRASIL, 2013)

Além disso, é válido destacar a Estrutura Geral da ONU para fins de


conhecimento, os órgãos principais informados na sua Carta são o Secretariado,
Assembleia-Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Conselho de
Tutela e Corte Internacional de Justiça. Destaca-se que dentre os órgãos citados na
figura a seguir, o Conselho de Segurança merece ênfase, tendo em vista ser a peça
chave da referência para a paz mundial pelo motivo de ser a única parte que trata das
pautas referentes à paz e à segurança obrigando a todos os integrantes do Conselho
seguirem as suas decisões, tendo como orientação a Carta das Nações Unidas.
(BRASIL, 2003)
32

Estrutura Geral da ONU. Fonte: Manual de Operações de Paz, 2013.

Ainda sobre o Conselho de Segurança, convém mencionar o seu caráter


emergencial de ser acionado a qualquer momento, por alguma federação que pertença
ou não a ONU para poder levar ao Conselho situações referentes a alguma ameaça à paz
mundial. Como a intimidação nessas situações políticas instáveis pode resultar em
confrontos armados, a Carta aceita o combate em duas circunstâncias: legítima defesa e
quando se esgotam os meios para solução pacífica. Contudo, cabe ressaltar que as forças
integrantes das Operações de Paz não têm como atividade fim o enfrentamento direto
com forças adversas, um dos seus pilares são a imparcialidade tendo em vista não
reconhecer como inimigos os instigantes dos conflitos armados e sim como partes para
alcançar a paz. Ainda assim, se por ventura esgotarem os meios pacíficos as ações de
legítima defesa podem ser empregadas visando a proteção dos objetivos da missão em
solo estrangeiro (BRASIL, 2013)
33

Integrantes de diversas nações reunidos no Conselho de Segurança da ONU. Foto: Shannon


Stapleton/Reuters. Disponível em: https://www.politize.com.br/conselho-de-seguranca-da-onu/. Acesso
em: 19/10/2021

Mais adiante, o início das Operações de Paz é marcado a partir da observação do


Conselho de Segurança identificando os grupos que ameaçam a paz e a soberania
nacional de determinada federação, colocando em risco também a segurança
internacional. A respeito dos aspectos pertinentes ao Comando e Controle da Missão de
Paz, o manual regula que através de uma Portaria Ministerial será indicado o
Comandante de Contingente brasileiro, militar das Forças Armadas mais antigo 22, além
disso, também serão definidas as competências a respeito dos tópicos disciplinares.
Cabe ressaltar que o comando operacional será exercido pela ONU, entretanto os
contingentes dos países integrantes da missão ainda serão comandados pelas suas
nações de origem sob a bandeira das Nações Unidas seguindo as suas regras e

22
Segundo a Lei Nº 5.821, de 10 de Novembro de 1972 que dispõe sobre as promoções dos oficiais da
ativa das Forças Armadas e dá outras providências. No seu Art. 21 que trata da efetuação das promoções,
informa o seguinte no seu parágrafo único: “A antiguidade no posto é contada a partir da data do ato de
promoção, ressalvados os casos de desconto de tempo não computável de acordo com o Estatuto dos
Militares e promoção post mortem, por bravura e em ressarcimento de preterição, quando poderá ser
estabelecida outra data”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5821.htm. Acesso em:
18/10/2021.
34

padronizações, por exemplo, com ressalva do uniforme nacional, o emprego do capacete


azul23, boinas e a insígnia da ONU. (BRASIL, 2013)

Integrante do DOPaz no Haiti com uma criança local, destaque do capacete azul e a insígnia azul no braço
direito caracterizando membro das Nações Unidas. Foto: Tereza Sobreira.

23
O capacete azul faz parte da padronização do uniforme das tropas das Nações Unidas independente da
nacionalidade. Cabe ressaltar que a única diferença são nos modelos de capacete Ops Core atualmente
utilizados exclusivamente pelas tropas de Operações Especiais. Vide o modelo de capacete na foto de
Tereza Sobreira de um militar brasileiro com uma criança haitiana.
35

Insígnia da ONU utilizada pelos integrantes da MINUSTAH. O emblema consiste numa “projeção
azimutal equidistante do mapa mundo, centrada no Pólo Norte, inscrita numa coroa consistindo de ramos
cruzados de oliveira, em dourado, com a água representada em branco. O mapa estende-se a 60 graus de
latitude sul e inclui cinco círculos concêntricos”. Acesso em: 24/12/2021. Disponível em:
https://unric.org/pt/qual-e-a-historia-do-emblema-da-onu/.

Sobre as Operações de Paz no Âmbito Operacional os documentos


normativos de atuação da ONU estabelecem as premissas das ações no terreno.
Inicialmente, as Regras de Engajamento são as normas que estabelecem os critérios do
uso da força respeitando os limites legais e políticos. Em virtude disso, as Regras de
Engajamento possuem perfil defensivo, entretanto as ações que forem ameaçadas
visando comprometer a segurança do exercício das tarefas da Força de Paz ou ações de
legítima defesa podem assumir um caráter ofensivo, desde que seja o último recurso a
ser empregado. (BRASIL, 2013)

Também merece destaque que devido aos critérios de imparcialidade das


missões de paz, não exista uma caracterização formal do inimigo, entretanto há
necessidade de levantar as informações referentes às partes em conflito. Cabe ressaltar
que o ambiente de inteligência operacional na Missão de Paz visa direcionar a atenção à
população local, um dos motivos é a possibilidade dos habitantes serem aliciados para
grupos armados, sofrerem ameaças, dentre outras ações que possam comprometer as
ações da ONU e oferecer risco a população local. (BRASIL, 2013)
36

No último tópico deste capítulo, será abordada, a título de conhecimento, parte


da doutrina de Operações Especiais através do Manual de Campanha de Operações
Especiais do Exército Brasileiro, tendo em vista que os integrantes das unidades de Op
Esp do Exército Brasileiro, através das suas vivências no Haiti contribuíram para a
elaboração desta monografia.

2.3 – Manual de Campanha de Operações Especiais do Exército Brasileiro.

Antes de aprofundarmo-nos no assunto, é necessário conhecer os significados de


Op Esp, F Op Esp e F Convl para ter dimensão das diferenças. Por definição as Op Esp
são:
Operações conduzidas por forças militares especialmente organizadas,
treinadas e equipadas, em ambientes hostis, negados ou politicamente
sensíveis, visando a atingir objetivos militares, políticos, psicossociais
e/ou econômicos, empregando capacitações militares específicas não
encontradas nas forças convencionais. Podem ser conduzidas de forma
singular, conjunta ou combinada, normalmente em ambiente
interagências, em qualquer parte do espectro dos conflitos. (BRASIL,
2017)

Já o conceito de F Op Esp é:
São forças destinadas à execução das Operações Especiais: frações de
Forças Especiais, Comandos e os seus apoios que possuem
habilitações e especializações para operar em ambientes hostis,
negados ou politicamente sensíveis. As F Op Esp, em termos gerais,
podem ser caracterizadas por serem tropas de altíssimo desempenho
que realizam missões especiais baseadas em suas capacidades
específicas. Também são consideradas F Op Esp as tropas especiais
análogas das demais Forças Singulares. (BRASIL, 2017)

Sobre as F Convl, o Manual informa que:


São aquelas destinadas à execução das operações militares
convencionais (singulares conjuntas ou combinadas). Compreendem,
de modo geral, as frações, as subunidades (SU) e as unidades (U) das
Armas, Quadro e Serviço, assim como as grandes unidades (GU) e os
grandes comandos operativos (G Cmdo Op) da Força Terrestre (F
Ter). (BRASIL, 2017)

A respeito do Ambiente Operacional Contemporâneo no contexto de Operações


Especiais, é válido destacar que devido às instabilidades presentes nessas localidades
ocorre uma elevação do grau da complexidade da missão. Sobre isso, as situações de
conflito são caracterizadas por sua longa duração, natureza crônica, baixa intensidade e
impacto difuso (BRASIL, 2017). Além do mais, a identificação dessas características
37

supracitadas pode ser compreendida no cenário do Haiti antes da ocupação por parte das
Nações Unidas.

Fonte: Caracterização do ambiente operacional segundo o Manual de Campanha de Operações Especiais.


(Brasil, 2017).

Dando continuidade, é importante ressaltar que devido à evolução das


características dos combates atualmente, as Op Esp possuem influência ímpar ao serem
inseridas nesses ambientes desestabilizados. O motivo pode ser compreendido através
das estratégias de emprego de unidades de Op Esp, que visam o sigilo desde o
planejamento até a execução, e também podem atuar no contexto de prevenção de
ameaças, de gerenciamento de crises e/ou de solução de conflitos armados (BRASIL,
2017). Além disso, possuem emprego variável no tempo, dependendo da necessidade da
missão. Por exemplo, na Missão de Paz no Haiti, que após a inserção do primeiro
DOPaz, o destacamento se manteve ativo até o término da missão, realizando apenas a
troca de efetivo.
38

Base do DOPaz no Haiti. Fonte: G1, Acesso em 22/11/2021. Disponível em:


https://g1.globo.com/mundo/noticia/dopaz-conheca-a-tropa-de-elite-que-o-brasil-levou-para-pacificar-as-
favelas-violentas-do-haiti.ghtml.

Também merece destaque que as F Op Esp atuam de forma ostensiva, coberta e


sigilosa. A respeito disso, o Manual evidencia que a ação:
Ostensiva: quando, após a sua execução ser tornada pública, o que deverá
ocorrer somente se a operação for bem-sucedida, nenhuma medida é tomada
para ocultar a operação ou sua autoria.
Coberta: operações em que, após a execução ser tornada pública, são
adotadas medidas adicionais de contrainteligência (CI) destinadas a manter
em sigilo a sua autoria.
Sigilosa: operações em que se procura ocultar a autoria da ação, além de
negar a própria existência delas. (BRASIL, 2017)

Sobre o preparo do Ambiente Operacional pelas F Op Esp, as ações visam


atitudes no geral não militares, pelo objetivo de identificar possíveis problemas que
comprometam as futuras operações militares, reduzir oposições de naturezas políticas e
sociais e cessar a continuidade de situações que possam agravar a crise local ou eclodir
num conflito armado. Em consequência, para o êxito dessas ações de organização do
Ambiente Operacional, é necessário que as F Op Esp estejam em sintonia com os meios
civis, forças aliadas e tenha ciência também das características das forças adversas.
39

A respeito dos Princípios das Op Esp, eles podem ser caracterizados pela forma
de atuação das F Op Esp dentro do Teatro de Operações ou Área de Operações devido a
sua forma de atuação e emprego diferente das F Convl. Sobre isso, a diferença pode ser
compreendida pelo fato das F Op Esp utilizarem os meios de guerras tradicionais
através de uma abordagem mais assimétrica, aliando aos seus pilares de atuação durante
as missões a surpresa, rapidez, ousadia, sigilo, dissimulação, novas táticas, técnicas e
procedimentos para ter êxito em suas ações. (BRASIL, 2017)

Integrantes do DOPaz durante adestramento. Fonte: Centro de Comunicação Social do Exército.

Por conseguinte, entrando no penúltimo tópico deste capítulo, também é


necessário conhecer os tipos de Operações Especiais que se definem como: ação direta,
ação indireta e reconhecimento especial. Convém mencionar que devido a
complexidade das atuações das F Op Esp, não é possível definir com exatidão cada tipo
de operação durante o emprego no terreno, tendo em vista que as ações podem ser
executadas em conjunto, interdependentes ou complementares. Contudo, é válido
destacar que os 3 tipos de operações supracitados no início do parágrafo, são os
alicerces das F Op Esp. (BRASIL, 2017)

Para melhor elucidação, o Manual define os tipos das operações da seguinte


maneira:
40

Ação direta: Ação direta é uma ação ofensiva de pequena envergadura


e de curta duração, realizada por tropa capacitada, de valor e
constituição variáveis, por meio de uma infiltração terrestre, aérea
e/ou aquática, contra alvos de valor significativo, localizados em
ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis. É uma operação
cumprida exclusivamente por F Op Esp, particularmente tropas de
Comandos. Podem ser conduzidas de forma autônoma ou em apoio a
operações militares convencionais. (...) diferem das ações
convencionais pelo nível de risco físico, pelo risco político-
estratégico, pelas técnicas operativas, bem como pelo grau de precisão
e uso seletivo da força para alcançar objetivos específicos. Possuem
baixa visibilidade e reduzido efeito colateral. No Exército Brasileiro,
são também chamadas de Ações de Comandos. (BRASIL, 2017)

Ação indireta: Consiste na organização, desenvolvimento, equipagem,


instrução, direção e/ou assessoramento de forças irregulares,
regulares, auxiliares e de atores estatais e não estatais, para a
consecução de objetivos políticos, econômicos, psicossociais e/ou
militares em situação de guerra e de não guerra. As ações indiretas são
realizadas por integrantes das forças especiais. Constituem-se em
alternativa viável em todo o espectro dos conflitos. Podem incluir, por
exemplo, esforços de apoio ao desenvolvimento local, fomento à
cooperação civil-militar, mobilização de lideranças, estruturação de
redes de informantes e treinamento de forças convencionais e/ou
auxiliares. Nas situações de guerra, as ações indiretas orientam-se pela
condução da guerra irregular24 (GI). (Brasil, 2017)

Reconhecimento especial: É a operação realizada por forças de


operações especiais, em áreas hostis, negadas ou politicamente
sensíveis, com o propósito de obter, confirmar ou atualizar dados e
conhecimentos de importância estratégica, operacional ou,
eventualmente, tática, fundamentais para o planejamento e para a
condução de operações militares, empregando capacidades
normalmente não encontradas em forças convencionais. As operações
de reconhecimento especial são normalmente definidas pela execução
das seguintes ações táticas, dentre outras: localizar, reconhecer,
avaliar, monitorar e realizar vigilância e levantamento estratégico de
área (LEA) do mais alto escalão em presença. (BRASIL, 2017)

Devido a natureza dos conflitos irregulares a exigência das F Op Esp aumentam


por causa do amplo emprego nas ações de GLO25, contraterrorismo e ações sob o
amparo de órgãos internacionais, por exemplo, a ONU. Por fim, os fatores de êxito das
Op Esp são vastos, mas se definem em algumas palavras: superioridade relativa,
simplicidade no planejamento, repetição na preparação, segurança, oportunidade, sigilo,
surpesa, eficiência, rapidez e o propósito. É válido lembrar que os fatores de êxito das

24
Guerra irregular é todo conflito armado conduzido por uma força que não dispõe de organização militar
formal e, sobretudo, de legitimidade jurídico-institucional. É a guerra travada por uma força não regular.
São consideradas formas de GI nesse contexto: a guerra de guerrilha; a subversão; a sabotagem; o
terrorismo; e a fuga e evasão. (BRASIL, 2017)
25
Garantia da Lei e da Ordem
41

Op Esp são elementos únicos pertinentes a execução de ações por parte de F Op Esp,
unidades que estão aptas a realizar esse tipo de ação com o máximo de eficácia.
(BRASIL, 2017) No capítulo a seguir, a reta final deste trabalho relembra e faz uma
conexão com a linha de raciocínio a cerca da paisagem sonora com as situações de
conflitos armados vivenciados por integrantes do DOPaz no Haiti.

CAPÍTULO III

3.1 – Paisagem Sonora e os Conflitos Armados no Haiti.

Retomando as ideias abordadas no primeiro capítulo a respeito da discussão


sobre o conceito de paisagem sonora, Schafer em A Afinação do Mundo apresenta que
devido aos avanços industriais e tecnológicos, os sons ao redor do mundo aumentaram
de proporção de tal forma que dificulta as percepções do que deve e o que pode ser
ouvido em determinado ambiente. (SCHAFFER, 1977)

Isso reluz ao cenário caótico dentro do campo de batalha tendo em vista a


necessidade dos militares em captar e dar ordens, identificar através da sonoridade
ouvida a direção dos tiros para se abrigar ou revidar, fora os outros integrantes da
paisagem sonora: moradores locais em desespero, membros de gangues em investidas
contra a ONU, feridos de ambos os lados e demais atores do cenário de conflito armado.
Além disso, é interessante observar que os ruídos produzidos na guerra possuem uma
superioridade em relação aos sons da natureza devido a sua força de expressividade em
a respeito das características dos fatos alusivos ao combate.

Outro ponto importante possui vinculação às questões de poder a partir dos sons,
desde os tempos passados os ruídos fortes evocavam o temor e o respeito nos primeiros
tempos (SCHAFFER, 1977, p. 113). Sobre isso e trazendo para o contexto do Haiti é
válido observar o som produzido pelas armas, no qual os tiros ensurdecedores podem
criar situações de pânico, tensão, respeito e legitimação por aqueles que detêm o
poderio bélico e ditam os meios normativos de determinada área respeitando,
confrontando ou não os pilares institucionais de um Estado. Além disso, é válido
observar que as relações de poder criadas pelas armas, pela sua capacidade de expressão
e imposição tendo em vista a sua potencialidade, letalidade e barulho de alto poder
intimidador na dimensão tática e territorial, faz com que as vozes daqueles que sofrem,
sejam abafadas por tamanha agressividade e horror dentro do campo de batalha.
42

Caçadores de Operações Especiais integrantes do DOPaz no Haiti. Fonte: Centro de Comunicação Social
do Exército.

Sobre isso, é interessante observarmos o cenário caótico dentro de um conflito


armado a partir dos relatos de integrantes do DOPaz que vivenciaram a experiência
dentro do campo de batalha durante a Missão de Paz no Haiti, destacando as suas
particularidades sobre a ótica de cada operador especial. Cabe ressaltar que os
testemunhos neste trabalho não vão seguir a ordem cronológica, eles apresentam
opiniões distintas, porém semelhantes ainda que os mesmos sejam integrantes da
mesma tropa especializada. Além disso, por razões de proteger a identidade pessoal
tendo em vista as peculiaridades dos integrantes das Operações Especiais, os nomes dos
informantes e os anos das ações são fictícios.

O primeiro informante que será alcunhado de Dias Cardoso narra e explica como
funciona a preparação propriamente dita antes da ida para as incursões, o durante e o
depois do cumprimento da missão e a sua sensação pessoal durante e após a operação.
Sobre isso, ele informa o seguinte:

Toda missão nossa no Haiti, nós temos uma preparação antes, a


equipe que vai partir tem um briefing antes da missão e na sala de
preparação a gente aborda toda a trajetória da missão e isso acontece
43

antes da partida, o briefing tem o intuito de situar o que cada um vai


fazer propriamente dito na ação. Feito isso a gente equipa, da o pronto
dentro das equipes, cada um dentro da sua especialidade da o pronto
com “ok”, checa o rádio de todo mundo, o especialista em armamento
antes de embarcar nas viaturas ele dá o último “check” de armamento
e munição, embarca e parte para missão. Patrulhando em Boston no
ano de 2016, a minha equipe “Bravo” foi desovada em um
determinado local, depois partimos a pé e as viaturas seguiram para
uma base mais próxima desse lugar e nós progredíamos durante a
madrugada patrulhando por becos e vielas, verificando tudo e sabendo
que naquela área por ser considerada “quente” a qualquer momento
poderia haver um confronto ou uma rendição. Prosseguindo no
patrulhamento, eu estava na ponta da minha equipe e após quase 1
hora incursionando naquela localidade, fomos para a rua principal
dessa comunidade e tinha alguns postes com luz e outros não, segui na
ponta progredindo e em um determinado lugar eu vi uns vultos saindo
de um beco e vindo para rua, fui me aproximando, chegando mais
perto e quando percebi que eram pessoas, acendi a lanterna do meu
fuzil e visualizei 4 homens armados de fuzis oferecendo risco
eminente para o destacamento, automaticamente como eu identifiquei,
atirei primeiro. Iniciado o tiroteio, logo em seguida um integrante da
minha equipe foi para o outro lado da rua e fez esse combate comigo,
a partir dali os homens armados foram baleados e ao chegar ao local
onde eles estavam, identificamos rastros de sangue, confirmando que
eles conseguiram se evadir e após isso, o comandante da minha
patrulha decidiu acionar o resgate para poder sair daquele lugar.
Chegando à base, eu estava tranquilo, mas geralmente quem não está
acostumado e quando participa de uma situação dessa pela primeira
vez fica tenso, a gente que já está acostumado com esse realismo, essa
troca, ou seja, dando tiro ou recebendo tiro, nós temos que ficar
tranquilos, ligados, antenados, mas tranquilos. Após essa ocorrência,
eu fiquei sabendo que 3 homens faleceram e 1 estava internado ainda,
mas a minha mente, cara, estava tranquila, missão cumprida e assim é
a mente de um combatente, a mente de um profissional. No combate,
se eu falar para você que eu não fiquei tenso eu estou mentindo, a
gente fica tenso para não acontecer nada com ninguém da nossa
equipe, mas graças a Deus, devido aos treinamentos, nosso
equipamento e a nossa capacidade mental, intelectual e psicológica,
nós estamos preparados para tudo, até para sermos alvejados, nós
estamos, nós temos que manter a tranquilidade para poder saber onde
que o companheiro ou a própria pessoa que está na ponta foi alvejada,
se é muito grave ou se não é ou se da para prosseguir ou se tem que
chamar apoio e ai prossegue. Se for muito grave a gente isola a área e
faz um 360º, socorre o companheiro, conforme for à gente pede
retraimento, ambulância para poder levar o mais rápido possível esse
companheiro para o Hospital, mas de antemão eu te falo, cabeça
tranquila porque a qualquer momento que você está patrulhando tudo
pode acontecer, você pode ser surpreendido ou surpreender, então o
treinamento serve pra isso, combate, instruções, tranquilidade. E essa
exposição sonora do tiroteio também não interfere em nada, por isso
que os treinamentos tem que ser constantes, você acostuma com o
barulho do seu fuzil, nós de 2 em 2 dias íamos para o estande de tiro,
exercitávamos o tiro real ou a seco, então, isso ali para gente, o ato do
primeiro disparo é sinal que a coisa já está doida, entendeu? Então o
barulho não afeta muito, a concentração naquilo que nós vamos fazer
44

tem muito profissionalismo e outra coisa, a equipe é um tomando


conta do outro, eu estava na ponta, mas o último estava tomando conta
da retaguarda, mesmo escutando os primeiros tiros que saíram da
frente, o cara de trás já sabe, ele tem ciência que está acontecendo
alguma coisa na frente, mas ele tem que ficar antenado atrás, não é
todo mundo voltar para frente e deixar a retaguarda livre, aquele que
ficou por último, a missão dele mesmo tendo um confronto na frente,
ele escutando o tiro e não vindo de trás ele mantém a posição dele,
tendo cuidado com a frente, sempre de olho para ver o que está
acontecendo, mas a missão do último do homem é cuidar da nossa
retaguarda. Claro que dentro de um tiroteio, de um confronto, todo
mundo fica tenso, mas conscientes e sabendo de tudo o que está
acontecendo e é só botar em prática tudo aquilo que nós treinamos, o
que a gente acredita, o que nós somos fiéis para fazer, então no outro
dia eu estava tranquilo, aquilo ficou para trás e vamos pensando nas
próximas missões, quando tudo acabou eu só agradeci a Deus pela
missão cumprida, a equipe “ok”, todos que foram voltaram, então é
isso que é mais importante, “comandos”. E após o combate é
tranquilo, nós temos o debriefing da missão assim que a gente chega e
no outro dia nós vamos relatar para toda a equipe, mas nem sempre
vai todo mundo, eu só estava com a minha equipe “Bravo”, mas
dependendo da missão vão 3 equipes, 1 equipe e nesse dia só estava a
minha e nós realizamos o debriefing, contamos munição, verificamos
se perdemos alguma coisa e depois a gente faz um relatório para
mandar para o escalão superior, após isso é banho, descanso ou comer
alguma coisa. Além disso, nós temos psicólogos, toda missão no
exterior que tem confronto ou aqui no Brasil, uma equipe de
psicólogos conversa com a gente para saber como está a nossa cabeça,
como estamos reagindo após o combate, mas para uma equipe que
está acostumada com o combate, isso ai é só glória, mas tenso nós
ficamos sim, pois a qualquer momento pode haver tiroteio, granadas
explodindo, então a gente fica tenso na missão, mas é de cumpri-la,
para tudo dar certo, a equipe tem que ir junto, voltar junto, ninguém
pode se machucar, mas tudo pode acontecer e após a missão, o
debriefing, a cabeça fica tranquila e prosseguindo nas próximas
missões, é assim que eu via, é assim que eu pensava, é assim que eu
agia, em todos os confrontos ali fui só com aquele dever de missão
cumprida, então eu voltei bem, com a cabeça boa, não tive surto nem
nada.
45

Dois integrantes do DOPaz (com os fuzis M4 apontados para cima) acompanhando patrulhamento em
Boston no Haiti. Cabe ressaltar que a foto não tem referência com o relato supracitado, apenas na mesma
localidade. Fonte: Revista BRABAT 23, 2015.

Com base no relato abordado anteriormente, é possível realizar uma análise


sobre o ambiente sonoro dentro de um conflito armado, a respeito disso é válido
observar os conceitos de Gibson sobre a audição incorporada e situada nos ambientes
sonoros. É interessante examinar que durante o deslocamento a pé do destacamento, a
disciplina de sons e ruídos é imprescindível para garantir o sigilo e a surpresa, mas com
base no relato ao identificar uma possibilidade de um disparo ocorrer por parte das
forças adversas, merece ênfase o conceito da invariante transformacional (GIBSON,
1966) ao evitar o ataque de um objeto sonoro no ambiente (disparo). Dias Cardoso ao
identificar as ameaças já teve uma reação comportamental (GIBSON, 1966) se
prevenindo dos possíveis efeitos colaterais se por ventura algum disparo viesse a atingir
algum integrante da equipe, sobre isso é possível identificar que os fatores de êxito das
Op Esp possuem vínculo com o padrão comportamental criado a partir da invariante
transformacional (GIBSON, 1966) em relação ao distúrbio mecânico que o cenário de
batalha pode produzir (TOFFOLO, OLIVEIRA, ZAMPRONHA, 2003). Dando
continuidade, os dois próximos relatos apresentam experiências que ocorreram no ano
de 2015, porém em meses diferentes, mas no mesmo lugar que será apresentado a
seguir. Cabe ressaltar que as vivências dependendo do convívio com o cenário de
batalha, mudam a partir das particularidades de cada combate e o seu contato repetitivo
com situações dessa natureza. O relato do próximo transmissor, chamado de Gilberto
informa que:
Em 2015 na cidade de Belecur, na capital do Haiti, Porto Príncipe, nós
fomos fazer uma patrulha pelo fato de ter um alvo significativo que
nós fomos procurar e nos deparamos com alguns homens armados de
fuzil e pistola nessa cidade, em específico numa rua que fica entre
Belecur e Boston que na época eram rivais. E nessa rua assim que os
homens armados nos avistaram, já abriram fogo contra o
destacamento que estava fazendo essa infiltração ali, houve aquela
46

troca de tiros, aquele fogo cruzado ali e foi até intenso, não durou
muito tempo, mas foi bem intenso, e assim, nós sabemos né cara,
atirar e sabemos o que nós estamos fazendo né, eles não tinham essa
preocupação, mas após essa situação nós fomos ver o lado deles,
alguns elementos foram baleados, outros vieram a óbito. E a sensação
que fica depois é uma situação muito complicada, porque é você
acertando ou tirando a vida de alguém, combatendo pessoas iguais a
você, né cara, e realmente fica uma situação ruim porque você vê
aquela pessoa ali, ferida, abatida e você pensa que poderia ser você e
fica uma situação ruim para você depois tirar essa imagem da sua
cabeça, a imagem daquilo que você viu ali e também o pensamento né
cara, poderia ser você, poderia ter sido você estar naquela situação que
aquela pessoa do outro lado estaria. E o barulho também te deixa meio
atordoado e é difícil de apagar da mente também.

A cerca das informações anteriores é possível observar a paisagem sonora no seu


aspecto mais negativo a partir do contexto do cenário de batalha. Em consequência, o
relato de Gilberto sobre um conflito armado com as gangues no Haiti durante uma ação
do DOPaz, apresenta os impactos iniciados a partir do engajamento direto com o
emprego de armas de fogo. Sobre isso, é notório que o resultado produzido pelas armas
por mais que atinjam a sua atividade fim, seja para ataque ou defesa, exibe o DOPaz a
uma exposição sonora e visual que poderá marcar as suas memórias positiva ou
negativamente pelo resto de suas vidas tendo em vista que a paisagem sonora é
composta por uma série de relações entre sons, objetos e seres que compõem o
ambiente. Além disso, também merece destaque a manifestação acústica
(WESTERKAMP, 1991) a partir do momento que os membros das gangues avistaram o
destacamento já abriram fogo, contribuindo para caracterizar aquela determinada
localidade como uma paisagem sonora a partir dos sons produzidos pelas armas de
fogo.
47

Apreensões durante ações do DOPaz no Haiti, a foto não tem relação direta com os testemunhos. Fonte:
G1, Acesso em 22/11/2021. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/dopaz-conheca-a-tropa-
de-elite-que-o-brasil-levou-para-pacificar-as-favelas-violentas-do-haiti.ghtml.

Por fim, o último relato a respeito dos conflitos armados presenciados no Haiti
será testemunhado a partir da vivência de Padilha, inclusive a sua primeira situação de
combate real em solo estrangeiro, sobre essa experiência ele narra que:

Isso foi no ano de 2015, eu cheguei ao Haiti em junho, a missão foi


em Belecur, uma periferia do Haiti. A sensação de estar saindo de
dentro do BRABAT né, do batalhão para uma missão de confronto, a
adrenalina é cinco vezes maior do que se você estiver dentro de um
avião para poder saltar de paraquedas, porque quando você está ali
pegando os seus carregadores, que eram seis, fora o da arma, o de
pistola eram três, e isso já dava uma adrenalina do caramba só para
você sair da base. A primeira situação que eu tive foi quando nós
estávamos fazendo uma patrulha e do nada fomos acionados por ter
um Grupamento de Combate da Cavalaria que tinha sido encurralado
lá em Belecur, que era uma área semelhante a uma favela do Rio de
Janeiro. E nisso os caras foram fazer uma patrulha e foram
encurralados e lá no Haiti nós éramos como se o BOPE fosse, saia e
fazia patrulha em todo território haitiano, então nós fomos convocados
para ir para lá. Chegando, vimos a patrulha encurralada e começou o
confronto, o meu primeiro no Haiti, cara quando eu vi um homem
dando tiro com revólver calibre .38 em cima dos caras da cavalaria, eu
saquei o fuzil e naquela hora foi colocar em prática tudo o que a gente
vem aprendendo e tudo o que nós treinamos antes de ir para missão.
Ai o primeiro tiro que eu acertei no cara, tu fica estatelado, a
48

adrenalina vai de 0 a 1000 entendeu, porque querendo ou não você


não está adaptado a tirar uma vida independente da onde for, então o
primeiro cara que eu acertei, irmão, a tua pupila dilata, ai tu parte pra
cima com os camaradas em volta e quando quebra o sigilo não tem
mais silêncio, é o tiro comendo e é uma situação surreal. Na hora que
o tiro está cantando, é engraçado que você só ouve a voz dos seus
companheiros, você não ouve tiro, porque no treinamento é
justamente isso né, você só ouve “vamos lá”, “pra cá”, “pra lá”,
“entrei”, “limpo” e você não consegue ouvir tiro, não consegue ouvir
se alguém do outro lado está gritando ou gemendo, você não consegue
ouvir isso, só o seu companheiro do lado e progredir, a concentração é
tanta que você não ouve tiro em volta. Primeira coisa: você quer
cuidar de você e quer cuidar do seu companheiro, não tem outra coisa
entendeu, essa foi a minha forma de sentir e a adrenalina quando o tiro
está comendo, é você ficar ligado o tempo todo, mas tenso, tenso
irmão, é surreal. E o prêmio maior disso tudo não é nem alvejar
ninguém, porque nesse dia eu alvejei um e o camarada alvejou outro,
mas foi resgatar a equipe que estava encurralada, o prazer todo foi
esse, chegar ao batalhão e olhar aqueles camaradas que você resgatou
e eles vierem te agradecer é surreal. Depois de todo o acontecido, que
você vai para o alojamento, que você pensa na missão e no ocorrido,
ai você olha e pensa meu Deus do céu, é uma parada difícil de
lembrar, mas sei lá, pode ser coisa de louco, mas a vontade que dá é
de você voltar lá de novo, é uma sensação de missão cumprida, é coisa
de “cachorro louco”, até que depois teve outras, várias, mas a primeira
da à sensação de querer voltar para o front de novo, de você estar lá,
com o tiro comendo, nas outras eu já comecei a ouvir, a me ligar nas
coisas, mas a primeira você entra em ecstasy, você só ouve seus
companheiros, o tiro que está do seu lado não importa, não interessa,
entendeu? Acho que até por isso que o cara nas missões quando é
alvejado e o cara não sente, porque o primeiro front a adrenalina é
aquela igual antes de saltar do avião, mas é cinco vezes maior porque
o tiro está comendo.

Sobre as informações anteriores, é notório que a paisagem sonora e o ambiente


em si do conflito armado impactam de diversas maneiras as pessoas envolvidas nesse
meio. A partir daí é possível perceber com o relato de Padilha que na sua primeira ação
em combate com o DOPaz foi possível identificar os conceitos de Schafer sobre as
definições e qualificações do ambiente sonoro. Inicialmente, cabe ressaltar que tendo
em vista a adrenalina envolvida dentro de um combate real, dentre os fatores de êxito
das Op Esp se destaca o fator da repetição na preparação, tendo em vista que ao iniciar o
tiroteio, por mais caótica que a situação fosse para um primeiro conflito armado e por
mais que o cenário real o deixasse em ecstasy, Padilha estava atento às ordens e aos
direcionamentos dentro do destacamento.

A partir daí é possível compreender as ideias de Schafer sobre o ambiente


sonoro de alta e baixa fidelidade. Retomando o último trecho do parágrafo anterior e ao
último relato, Padilha ao falar que iniciado o confronto armado e informando a
49

impossibilidade de ouvir os tiros, apenas as vozes de seus companheiros, é interessante


classificar em um ambiente sonoro de alta fidelidade, mesmo que dividindo o som dos
tiros, a única coisa que ele conseguiu ouvir naquele momento inicial do confronto foram
as falas dos integrantes do DOPaz. Mais adiante, também é válido observar que com o
decorrer das ações e se ambientando com as diversas missões, a tendência da paisagem
sonora dentro de um conflito armado é se transformar em uma definição de baixa
fidelidade por motivos diversos tendo em vista que as percepções dentro do tiroteio
aumentam por conseguir ouvir não só apenas as vozes dos companheiros, mas todo o
ambiente sonoro do cenário de batalha.

Integrante de alguma gangue haitiana portando uma Uzi, submetralhadora Israelense. Acesso em:
22/11/2021. Disponível em: https://apnews.com/article/health-caribbean-coronavirus-pandemic-united-
nations-haiti--1ebc8a7adb5d295c69ad89fce484b99.

3.2 – Poder simbólico do som nos conflitos armados.

Antes de iniciar este último tópico da monografia e com base nos fatos
supracitados, para melhor elucidação das ideias que serão abordadas aqui e nas
considerações finais, é interessante conhecer os conceitos de Pierre Bourdieu a respeito
do Poder Simbólico. No capítulo I do seu livro intitulado: O Poder Simbólico de 1989,
as ideias abordadas no texto transmitem as questões que circulam no meio social a
respeito dos simbolismos que as classes dominantes impõem entre os indivíduos. Sobre
50

isso, o texto aborda como os sistemas simbólicos exercem as suas funções a partir da
política e da comunicação.

Os símbolos atingem as pessoas de maneira que a ordem social seja cumprida


como forma de moralidade perante a cultura dominante. Influenciando, inclusive de
maneira que as classes dominadas se comportem com o intuito de que a internalização
de valores e princípios constituam o estilo de vida das pessoas agindo como uma
estrutura estruturada (BOURDIEU, 1989).
Por conseguinte, a atuação dessas ações resulta no reforço das relações de
comunicações, dando mais ênfase ao poder simbólico das instituições de dominação.
Devido a isso, a política ganha força nas questões de imposição e legitimação, dando
mais poder às classes dominantes e trazendo à tona as ingerências da violência
simbólica.
Em virtude disso, a violência simbólica é definida pelas ações indiretas ou
diretas que ferem o próximo ou por agressões morais, porém para que esses fatos sejam
consumados, existe uma necessidade de consenso social para o seu efeito. O
simbolismo, muita vezes, é compreendido como um poder de construção sobre a
realidade ou imposição de crenças, trazendo ao mundo social uma luta para definirem as
ordenações sociais.
Em suma, o texto de Bourdieu retrata uma noção sociológica de como o
simbolismo está presente em todas as áreas da sociedade. E como que o consenso social
é o principal elo para que as forças que detém o poder consiga atingir os seus propósitos
pertinentes às relações de comunicação para praticar o poder simbólico e o som é um
instrumento simbólico que se encaixa muito bem nas reflexões de Bourdieu.
Sobre as premissas abordadas anteriormente com as ideias apresentadas no
decorrer deste trabalho, é possível chegar às conclusões que retomando inicialmente a
dois contrapesos evidenciados nos capítulos I e II a respeito das legitimações das
Nações Unidas. Uma se tratando do chamado por parte do governo haitiano na crise que
precedeu a intervenção e a outra por parte da população por repulsa em referência as
ações de Operações de Paz, é possível compreender as dimensões do Poder Simbólico
através dos sons.
Os fatos abordados sobre os períodos históricos do país resultaram em uma
sequência de fatos que trouxeram uma ajuda humanitária com vertentes civis e militares
devido à natureza de atuação da ONU e as particularidades da violência que assolam os
locais em crise. Sobre isso, por mais que existam preceitos legais, constitucionais e
51

mundiais a cerca da estabilização da paz, cabe ressaltar que o principal instrumento que
impõe e garante a execução das ações, é uma arma de fogo, um objeto que pode ser
usado tanto de forma ofensiva ou defensiva simbolizando o poderio e a execução das
atividades daquela estrutura no território do Haiti, destacando que a percepção da arma
de fogo é simbolizada através do ruído dos tiros.
Vale ressaltar que o Brasil em consolidação com a ONU reconhece as
circunstâncias acerca do emprego de armas de fogo nas regras de engajamento
conforme foi exposto no ítem 2.2 em relação às missões de paz. Sobre isso, é notório
pela natureza das ações que se espere resistência por parte dos movimentos locais por
causa da não aceitação em decorrência de estrangeiros ditarem as regras naquele local
durante determinado período.
Por conseguinte é válido observar que o ponto de ebulição entre as relações de
aceitação ou não em determinados locais, como em Cité Soleil, resultou nos conflitos
armados como foi exposto nos relatos. A partir daí é possível refletir a cerca das ideias
sobre o poder simbólico pelo seguinte viés: ajuda humanitária, representando um corpo
composto por diversas etnias, impõem a uma população novos valores vinculados a uma
política externa para estabilizar e assegurar a paz interna através de métodos
indiretamente e diretamente coercitivos para cessar e controlar qualquer ameaça interna
que ofereçam riscos a paz nacional e internacional.
52

Considerações Finais

Observando os fatores políticos e socioeconômicos do Haiti é possível realizar


uma observação em relação aos conflitos armados nas comunidades do país e que
possuem pautas semelhantes aos temas pertinentes à área da Segurança Pública no
Brasil. Contudo, vale destacar que por mais que os problemas sejam semelhantes, não é
interessante fazer uma comparação em relação à mesma aplicação de técnicas e
tecnologias sociais tendo em vista as ingerências e as particularidades de cada nação.

Sobre isso, um dos objetivos deste trabalho teve por finalidade trazer a tona mais
um conteúdo a respeito da missão de paz no Haiti no qual o Brasil foi um dos principais
protagonistas, mas trazer principalmente a ótica dos integrantes das Operações
Especiais do Exército Brasileiro dentro de um conflito armado. Além disso, realizar
principalmente uma reflexão a partir de um ponto de vista mais direcionado para os
símbolos que compõem os conflitos armados e os seus participantes diretos e indiretos.
Além do mais, independente de cada nação possuir os seus problemas pessoais, a
linguagem das armas é mundial e compreensível em qualquer lugar do mundo. No
Brasil, em específico o Rio de Janeiro, por exemplo, as pessoas que residem em áreas
dominadas pelo crime organizado já possuem a capacidade de identificar o som dos
tiros e tomar alguma atitude para se proteger durante os conflitos armados entre os
grupos rivais ou as ações do Estado através das incursões policiais.

Em consequência, o simbolismo referente ao som produzido pelas armas pôde


ser compreendido através das ideias dos demais autores mencionados no decorrer da
monografia a respeito da paisagem sonora e por último de Murray Schafer em Vozes da
tirania: templos de silêncio. No livro é evidenciada uma interpretação a partir de
políticas musicais praticadas durante a 2ª Guerra Mundial, no qual a música foi utilizada
para fins de Guerra Psicológica contra a Alemanha nazista com o intuito de influenciar a
população local através dos seus meios culturais. A relação desse livro com o trabalho
pode ser esclarecida pelo fato de existirem dois lados no Haiti que possuíram os meios
que asseguraram e disputaram o controle local: de um lado as gangues locais, e do outro
as forças da ONU.

Sobre isso, é possível chegar à conclusão de que a depender de quem possuir as


armas e o que elas representam dentro de cada contexto social, elas podem ser
interpretadas e utilizadas como sinônimos de liberdade ou de opressão a partir das suas
53

legitimações dentro de cada ambiente e da sua atividade fim, os tiros. Em suma, o som
da guerra e os conflitos armados propriamente ditos continuarão a fazer parte da
conservação das políticas através dos meios que mais levam os homens ao limite da
humanidade em prol de interesses de pessoas e ideias que expõe a civilização a tamanha
agressividade e violência.
54

Referências Bibliográficas

SCHAFER, R. Murray: A afinação do mundo. São Paulo: 1997.

SCHAFER, R. Murray. Vozes da tirania: templos de silêncio. São Paulo: 2019.

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