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Reinaldo Gonçalves

Economia
Política
Internacional

Fundamentos Teóricos eas Relações Internacionais do Brasil


\
Consultoria Editorial
Honório Kume
Pesquisador do /PEA eprofessor da UERJ

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DISTRIBUIÇÃO CAMPUS
EXCLUSIVA PARA
PRCF'ESSORES
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Economia Política Internacional: ()
Método de Análise 1)
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Ló ia - na versão cinematográfica ou na fliada e na Odisséia de I-Ion1ero - )
sugere algumas interpretações a respeito das causas e conseqüências da guer-
r··ra que ocorreu há 23 séculos. Quais foram os fatores deterrninantes desse )
! evento histórico? O politólogo afirma que o fator determinante foi o projeto )
\de poder de Agamemnon, rei de Micenas, no sentido de expandir, unificar e )
consolidar a Grécia. O geopolítico argumenta que a conquista de Tróia deri-
vou da posição geográfica e estratégica dessa cidade, situada na entrada elo )
estreito de Dardanelos, que liga os mares Egeu e de Mármara sendo impor- )
tante rota de navegação entre o Oriente e o Ocidente. O sociólogo avalia que )
a guerra de Tróia resultou da ação dos estamentos militares das cidades-esta-
do gregas, ou seja, nobres que procuravam manter posições de prestígio e )
influência por meio de contínuas atividades guerreiras. )
O economista conclui que o importante mesmo foi o interesse dos arma-
dores gregos, que acumularam riqueza com a construção dos n1il barcos usa-
J
dos na guerra. O advogado foca o problema no seqüestro de I-Ielena por Páris, )
que recebeu a proteção de seu pai Príamo, rei de Tróia, gerando o conflito )
com as outras cidades gregas. O psicólogo eh.ama atenção para o papel do
~
indivíduo na história e ressalta a ânsia de glória de Aquiles, o semideus; a
bravura de Ajax, o mais valente guerreiro grego depois de Aquiles; a sede de )
vingança e a ira de Nienelau,'tei de Esparta e marido traído por I-Ielena; a ~
vaidade de Páris, o conquistador de I-Ielena; a coragem e a sabedoria de I-Iei- _)
.)
Economia Polilica ln!ernacional ELSEVIER

tor, irmão de Páris e filho de Prían10; a insensatez de Príarno, rei de Tróia, que
permitiu a entrada do famoso cavalo, "presente de grego"; e a solércia de
Ulisses, rei-de Ítaca, personagem de destaque na Ilíada e personagem central
na Oclisséia. E, por fim, há, ainda, aqueles que, ao verem o filme, destacam
como fato causador da guerra os lábios e os olhos de Helena!
A guerra de Tróia seria mais um evento histórico (ou uma peça ficcional)
desinteressante, se fosse explicada por um único fator determinante. A guer-
ra de Tróia tem valor simbólico não só por ser tema das obras clássicas de
Homero, mas também por mostrar a complexidade das relações humanas.
Essa complexidade envolve a interação de fatores heterogêneos como a ânsia
de poder e glória-:-- os principais determinantes da conduta do ser humano,
segundo o filósofo Bertrand Russell (Russell, 1938, p. 8). Ou, então, a ação
humana é determinada pela obtenção de riqueza-~-.~ l~teresse econô~ié-oj
como determinante principal dos eventos e transformações históricas na vi--:
são de Marx e, também, ~º.~ºvariável-chave da ação social, segundo Weber.
Não precisa1nos entrar no debate metodológico entre individualismo e holismo
para identificar a importância tanto dãtfVariáVéiS"-c-eSffé'CífiCal; (isto é, indiví-
duos) quanto das variáveis·sistêmicà:S,1( ou seja, modo de produção) para expli-
car a dinâ1nica da conduta humana ou das relações internacionais.
Economistas, politólogos, sociólogos, geógrafos, advogados, psicólogos e
outros profissionais têm olhares distintos a respeito de um evento histórico
corno a guerra de Tróia. Se fôssemos examinar esse evento com as lent"es espe-
cíficas da Economia, Ciência Política, Sociologia, Direito, Estratégia, Geogra-
fia e Psicologia, a análise seria incompleta e distante da realidade. O mesmo
ocorreria se deixássemos a análise da guerra de Tróia com especialistas de
Economia Internacional - além de incompleta e irrealista, a análise do eco~
nomista seria, muito provavelmente, entediante. Na realidade, todos os espe-
cialistas têm uma certa razão no exame do evento em questão, ou seja, todos
têm uma contri?uição específica, mas que não captura a complexidade e a
heterogeneidade do fenômeno.
-/ AEconon1ia Política Internacional (EPl)fprocura superar essas limitações
específicas de cada campo teórico ao apresentar um1E_!foque ~!lalíti~_o eclétiçpl
ou abrang_ente p~ra os fenômenos próprios do sistema internacional,.em ge-
·r·a1,-e do sistema econômico internacional, em particular. Esse enfoque ~clético '.
remonta, na realidade, ao entendimento da Economia Política não como um;
corpo teórico fechado com "leis de aplicação universal", mas,--sim como ~/
aplicação da teoria aos problemas do- mundo real cbm a ajuda de outras ciên-
~
ELSEVIER
Economia Polílica Inter.nacional: Método de Ana1ise 5

Quadro 1.1 · . _ . :.

ffDesde o século XIX,_ ... distinções foram feitas entre uma ciência e uma arte da economia
política, a primeira sendo vista por muitos economistas como um corpo de teoria pura de
Validade universal, a última como a aplicação da teoria aos problemas do mundo real com
ou sem a ajuda de outras ciências sociais. Pelo final do século [XIX] o termo economia
política foi sendo gradualmente superado, nos países de llngua inglesa, pela simples
palavra Economia ... A mudança de nome .. não aboliu os problemas ou a discussão de
escopo e método.N (Bullock e Stallybrass, 1977, p. 481)
NA expressão clássica Economia Política, que predominou universalmente até quase o
término da primeira metade deste século [século XX], foi criada por Antoine de
Montchréstien de Vateville (Traité de l'Economie Politique, 1615), significando a arte de
bem gerir as finanças do Estado. Foram os fisiocratas franceses os primeiros a dar a essa
expressão o conteúdo semântico de ciência teórica que, posteriormente, passou
apropriadamente a designar a relação necessária da matéria especificamente económica
com a via social regulada pela polftka." (Seldon e Pennance, 1977, p. 169)
"O principal objeto da economia política de todo país é o aumento da riqueza;;e do
poder;desse pafs." (Sniith,:"1776, p. 352)
uE~onomia: o estudo da produção, distribuição e consumo da riqueza na sociedade
humana". (Bannock et ai., 1998, p. 122)
Definição de Lionel Robbins: NA Economia é a ciência que estuda o comportamento
humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos:'
(Seldon e Pennance, 1977, p. 168)

Fontes:
G. 8annock et ai., Diclionoty of Economics. londres: Penguin 800\:s, 1998.
Adam Smith, An lnquiry into lhe Na/ure ond Causes of the Weo/rh of Norions. Nova York: The Modem libraiy, 1937 (1776).
A. S. Seldon e F. G. Pennance, Oidondrio de Economia. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1977.
A Bullod: e O. Stallybrass. The fontano D/c/ionary of Modem Thought. londres; Fontana: Collins, 1977.

lcias sociais. E, desde Adam Smith, a Economia Política trata de dois temas:'
._riqueza e poder (Quadro 1.1). ,..J

PARA ALÉM DO ESTADO E DO MERCADO./


Poder e riqueza; Estados e mercados; política e moeda. Essas são as ex-
pressões mais freqüentemente usadas para se definir a Economia Política In-
ternacional (EPI). Os principais trabalhos de referência no mundo acadê1ni-
co anglo-americano utilizam-se desses contrapontos. Por exemplo, Charles
Kindleberger, no seu Power andMoney de 1970; Klaus Knorr, no Power and Wealth
6 Economia Política Internacional ELSEVIER

de 1973; Susan George, no States andMarketsde 1988. O principal livro de refe-


rência no campo da EPI nos Estados Unidos é o de Robert Gilpin, ThePolitical
Econotny of Jnternational Relations, ae 1987, que, certamente, poderia ter como_,/
subtítulo a expressão "Estados e mercados nas relações internacionais".
Nas expressões anteriores, Estado identifica-se com poder e política, e mer-
cado identifica-se com moeda e riqueza. Como resultado,,a.EPI é entendidfl
pela maioria dos especialistas como a área do conhecimento cujo principal objeto
de estudo é "o impacto da economia mundial de mercado sobre as relações dos
Estados e as formas pelas quais os Estados procuram influenciar as forças de
mercado para sua própria vantagem" ( Gilpin, 1987, p. 24). Ao fim e ao cabo,
trata-se da g'eraçãci edistribll'ição"de riqueza e poder·en1 escala rilundi~l.
.--/ No entanto, essa definição·de EPl:é::o~§tritaie insatisfatótja. É restrita na
,medida em que tem Um viés.jnstitucionalist;~1l.o limitar a EPI.à interação en-
tre duas instituições, a saber, ~Estado ·e· o' mercado. Ademais, ao focar adi-
mensão econô1nica da EPI no mercado, ela tende a concentrar a análise em
um número restrito de atores: produtores, consumidores e Estados. Assim~
negligenciam-se os c'onflitoS de Classes sociais"e o papel-de 9utros atores im-
portantes na arena internacional, co1no os grupos de interesses. Entre esses !
grupos podemos mencionar as máfias, os grupos terroristas não-estatais ou/J
paraestatais, os movimentos nacionalistas, os lobbies empresariais, os
ambientalistas, os pacifistas, os movimentos antiliberalismo, os movimentos
religiosos e outras organizações não-governamentais.
O foco no mercado e no Estado também tende a restringir a complexida-
de das determinações do comportamento dos atores. O "mercado" é definido
como o locus de encontro da oferta e da demanda de bens, serviços e fatores
de produção. O mercado é o reino do homo economicus: O homo economicus tem
como objetivo único__maximizar seus benefício~·econômicos (interesses mate-
riais) e, portanto, adota uma função-objetivo que ele procura maximizar, con-
siderando as restrições de renda, dotação de fatores, tecnologia, assimetria de
informação, poder de mercado etc. O homo economicus é, naturalmente, "cao-
lho", pois enxerga o mundo somente pela ótica da objetividade, mais especi-
ficamente do interesse material.
O Estado, por seu turno, é o reino do homo politicus. O homo politicus é
igualmente "caolho", pois também restringe o seu olhar do mundo ao plano
da objetividade da política e, mais especificamente, da max~mização do poder
com base nas restrições existentes. O poder é aqui entendido no sentido clássi-
co weberiano, como a probabilidade de ·um ator social maximizar sua própria vonta-
)

~
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Economia Política Internacional: Método de Análise 7
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de independentemente da vontade alheia. A política trata, então, de maximizar ")
essa probabilidade.
)
É fato que tanto a política quanto a economia são relacionai.S;pois depen-
dem da relação com o outro, ou seja, de cada ator político (indivíduos, gru- )
pos etc.) ou agente econômico (consumidor, produtor) com outro ator ou )
agente. Entretanto, as relações humanas e, portanto, o rebatimento dessas
)
relações na arena internacional transcendem as lógicas tão objetivas quanto
restritas da economia e da política. Ou seja, as relações hun1anas, tanto no )
plano interno como no internacional, não se restringem às lógicas restritas )
dos interesses materiais e do poder, ou do mercado e do Estado. )
Não há dúvida de que as relações econômicas e políticas são detertninadas
)
por uma {iubjetividade específic~r (que envolve tradição, valores e ideais) e
por uma subjetividade dispersa ('que repercute o "insondável abismo" da alma )
humana). Essa última reconhece que os homens também se comportam segun- )
do seus caracteres e circunstâncias, assim corno segundo vícios e virtudes os\
)
mais distintos: inveja, ira, vaidade, arrogância, prudência, temperança, cora-
gem, compaixão, preconceito,justiça, misericórdia, tolerância, solidariedade, )
cooperação etc. E não esqueçamos que o acaso faz parte dos processos sociais e, )
portanto, também é u1n determinante da ação do homem na sociedade. ,' )
/
Os interesses podem prevalecer sobre as paixões {Hirschman, 1977). No
)
entanto, é impossível entender a história humana, inclusive a política, se1n a
compreensão do papel dominante das paixões sobre os interesses, be1n como )
do papel, por vezes predominante, da i~sensa~~;·,-.Cj_ue fazen1 co1n que a ação )
política seja contrária aos próprios interesses. Conforme mostra Tuclunan
)
(1984), não faltam exemplos históricos importantes da "marcha da insensa-
tez", com repercussões mundiais: a cisão protestante nos séculos XV e XVI; a )
revolução e independência dos Estados Unidos no século XVIII; e a derrota J
americàna no Vietnã no sáculo XX. í
./
Esses fatos indicam, na realidade, que a Economia Polític_a Internacional
/hão pode ser entendidª-•--·~çlu.sjyªmt~t<;.~Q~~~-~-ç_9~~~-~T~_di.P9lí~~~~i~te!"- -
)
E-acion~~~~E.S>li~~~-~-c!-'! ~_c_onQrn_ütjD_ter!lªcionaI.~t-~~i11Jç.ioJÜ~J<.t 2 ";r:i_f?_q~~--.9·ª­ )
EPI (à laGil~_!.~)__q_~~ !J.'ata as relações econ~_~icas internacionais (leia-se, re- )
- ' ' -···-·"··-·-------------------·--·-·· -- ... _ ----·- .. '' ----~----

lações de mercado L~~-~-~_E.l_e_g!~s§.~~ ~~clusjv~_?.!.~I,Jy_a~i~,~,~~~-l~~-~Xe.sta_t~~-s_:..


)
Com a retomada do papel claramente hegemônico dos Estados UnidOs,
..
--"-"·----~ .------
----~-~-~--·--------- -
)
2rincipalmente a partir d?-~--~P.C?~ 90/agravou-se ._e_ssa_ tendênc_ia re~uci_o_nista _
~~?_~mb~t?_.4~_Eij.J~~~~p~~~e,-~e~~~i~~~ii~--/i ,~~--~~9_fd~g~ITT.i(~-~-~;~~~t;; P~-líti~ _)

)
8 Econom1a Política Internacional ELSEVIER

cos internacionais que introdm.e..ro...com~grão....de..gr.'._si_ti.~~~es ecQD.Ôfili.;


__ççi,~j~~-~ _<:~P!_e.~,~ -~~~!:.~nacio~~~' seja a banca internacional.
Por um lado, é verdade que a complexidade e a heterogeneidade das rela-
ções internacionais transcendem tanto as lógicas isoladas da economia e da
política quanto a lógica da interação entre a economia e a política. Por outro,
é ainda mais verdadeiro que~.não.:.:há.;!l_fil:_~_p_9~--t_~§_rico;_es_p.e.Çff!_Ç2~-dq__qµ_~,
J?~-~-~1'.!:X-4~J-l.b.ffill?-ª9..Q:J~t~ ·:·~· -ja·PQlí!:ica::Interp.acional.11§~9-l?~~-P!E''ITq~e.. e,.
EPI refere-se a ur:p. método de análise de te~~laci_onados às relaçõe&,,,,estrµ-
,,f tura§ e a9s_ procs.§~ÇI}~iú_aciqp_.,ais_,_....,.
// A EPI não se constitui num campo teórico específico e, sim, num método
/ - - . -·-~-·-··-··--=--_.•_,_.,~-~~··-- ··-·-··-'"-··--- ' .. _ - - ----- - -__;~~·

(~~º?~~~p;;~~i1!~:~~7tl:;~~~~=~~~;~;_;~~!A~~~~~~it:.··
!- V;p~re~I:?s a1~~!ít~c~s e _teqri_as pa_ra _o rnéto_çlp _abrangente da Ecoilorii_i~ ):~9_li__ti-..
ca -ln.terna~ionaL
\ "---. -------~------
Na realidade, a EPI ancora-se não somente nos fundamen-
tos teóricos da Economia Internacional e da Política Internacional, como tam-
bém nas contribUições de outras ciências e áreas de conhecimento como Geo-
grafia, I-Iistória, Sociologia, Psicologia e Direito.
O uso do enfoque da EPI não é recente no âmbito das relações interna-
cionais, ou seja, aquelas que envolvem relações entre residentes de pelo me-
/ nos dois países ou relações entre atores transnacionais. !:~~~.9._ e_?'-<::rci,tap.dq_ a _
r!-Pl t()_d~s o_s analistas que, de uma__~OX!Jl_<o\. QU_de 9utra_, procuram analisar as
1 ,Jel~ções internacionais a partir da-1nteraçao entre as._ç1_e_Q.ç1a;i .d~ EconomI.a _e

{ .?-~~~ítica, !?~~-~.g~:rp_q _d_e_Qutro_s_@.mp_QS_ d9 __ç_q_n!i_l!ç_i~eJ'.lt9_.,_


' Cabe aqui lembrar que, na sua origem, a própria Ciência Econômica mo-
derna era denominada Economia Política. Mais recentemente, a expressão
Economia Política ~~~--refe~e1rCHfdâ ãáriáliSe'.econõID.iCi·q11~-Vá:iOriii-as ·refàÇõés,
~ est1uturas e__ os prqcessóS--sóCiài.SY (inclusive conflitos de classes sociais), ou seja,
que supera a lógica reducionista do sistema de preços e da alocação de recursos
(leia-se, o mercad(~>,)--;-E-ntais, na Economia Política moderna o Estado pode ser
entendido como ~ locus de encontro de classes e gnipos sociais, bem como de
resolução de contiítos-e"6'tre distintas classes e grupos sociais em cada país.
No mundo acadêrnico anglo-americano o surgimento da EPI é relativa-
mente recente. Somente nos últimos 10 ou 15 anos é que começaram a surgir
trabalhos que utilizam explicitamente a expressão Economia Política Interna-
cional. Para ilustrar esse argumento, pode-se mencionar um número especial
da revista International Organization de 1975 sobre a integração analítica de
fatores econômicos e políticos na análise das relações internacionais. Nesse
~
ELSEVlER
Economia PolfUca Internacional: Método de Análise 9

número, não se encontra explicitamente a expressão EPI en1 nenhum dos


títulos dos artigos. E, na introdução preparada pelos editores, a expressão EPI
aparece uma única vez. Deve-se notar que essa revista se tornou um dos prín-
cipais veículos do debate no âmbito da EPL
Mesmo se considerarmos-G. ,trabalho de um dos fundadores da EPI nos
Estados Unidos, Roberf.Qilpin.?:'verifica-se que o seu livro pioneiro de 1987
tem como título The Politi~al Êconomy of International Relations. Outra autora
pioneira nos Estados Unidos éJoan Endelman Sperci, q1jo livro de 1977 intitula-
se The Politics ofInternationalEconomic Relations:·Na··Eúropa, a Economia Políti-
ca Internacional tem como referência os trabalhos de Susan St~~:(e na Ingla-
terra, com destaque para o States and Ma1*ets, de 1988. Nos outros países euro-
peus, como a França, a influência anglo-americana é determinante, con1 a
exceção dos autores de tradição marxista.
Correndo o risco da simplificação exagerada, pode-se afirmar que a EPI
moderna ( niainstream) at~ªl-~p,i;~JJte encontrada ni Eu_rop_a e no-S~f<ldO!fU_iii=-
F-~~~~t~§i..~~-.d.__ ~:·~e.~~e:~~.···;;·1. vi._-·.d.~-'.f.. ~-~_çl.am
. en·.. t.·al·m._~nte,_por_pi;-of1ssio~ajs qu~ vê~~-~.
l c~_p~~--t-~ór~~_?_ da_ ~?lí_t~~-~--I~.t~~a_c_i?11:i)Por exemplo, entre os fundadores
?.

·aa EPI moderna, vale mencionar que Robert Gilpin esteve vinculado ao..Ce_n_ter '?
oflntemational Studies da Universidade de Princeton, enquantq_?usan Gp?,i~
começou suas atividades acadêmicas no Royal Institute oflntematiÔilã.I-Aff:iirs,
ambos como professores da área de Relaçõ_i;s Políticas Internacionais.
A melhor demonstração do "·viés polític~ 1 r no âmbito da EPI é o fato de --J
que as classificações das perspectiv~;teo-n.cas·'da EPI tendem a coincidir con1 \
--~---------- -- .,- - --- .--- • - -- -- • -- -· • - - •- j

as classificações tradicionais das correntes de pensamento no campo d_a_s_ ~~!!:-_ ;


ções PõíltíC-iS"Ii·i"ie-r-nacTOUaiS- (Quadro i~·2). ASsiID,-é·p~;;f~~l e-nc~~trar a co~
-~·~~-"-.~ .. _,,,_~---·--·--~'-"'''º'··· , __ - __ ,,_ ·----------~----,,--- .
nhecida classificação de correntes: realismo; liberalismo e marxismo. E1n u1n
autor consagrado como Gffpin~·-essa cG;;ifi~~ÇãO ~p~;~c~--;;·f~-;~;;· Úberalis-
mo; nacionalismo; e marxismo. No entanto 1 o conteúdo ai;.mlít.i.ç_q__cJ._o---·--------,....,
naciona-
... ~S_f9.:9_t.~~-~jl_~!:.~5l~~~A~;~~~X:-~!:~?, !!~ .~!:~~i~~--~_? -~ea~~Ip._9_,_
Esse viés não quer dizer que os economistas e profissionais de outras áreas
(sociólogos, geógrafos, historiadores etc.) não tenham dado contribuições
diretas à EPL Muito pelo contrário. Para ilustrar, há referências a trabalhos de
economistas conten1porâneos que, de uma forma ou de outra, têm usado o
enfoque da EPI, como, por exemplo, o já mencionado Power and Money, de
Charles P. Kindleberger, de 1970. No entanto, a enorme influência da tradi-
ção anglo-americana vem da área das Relações Políticas Internacionais.
10 Economia Polílica Internacional ELSEVIER

Autores Perspectivas teóricas

Balaam e Veseth Realista/nacionalismo/mercantilismo; liberal; estruturalista/marxista;


escolha racional

Burch e Denemark liberal; realista; estruturalista/marxista; estabilidade hegemónica;


construtivista

Chavagneux Realista; estabilidade hegemónica; liberal; regimes; marxista/classes


dominantes

Cohn Realista; liberal; histórica/estruturalista

Crane e Amawi Mercantilismo; liberalismo; marxista; neoliberalismo/


interdependência; neomarxista; neo-realista; escolha pública;
estabilidade hegemónica; regimes; pós-modernismo

Gi!pin Liberal; nacionalista; marxista

Kebabdjian Liberal; marxista; realismo; regimes; estabilidade hegemônica;


neoliberal; neo-realista; cognitivist.:i; construtivista

Fof/les:
O. N. Balaarn e M. Veselh, ln1roductôon lo lnternotionol Po/itico/ Economy. Englewood: Prenlice Hall, 3• ediç3o, 2003.
K. Burch e R. A Denemark, Constituting /nternoliono/ Pan·ca1 Economy. Boulde1: tynne Rienner Publishers, lnc., 1997.
C. Chavagneux, Economie Politique lnternotiono/e. Paris: La Décmiverte, 2004.
T. H. Cohn, Globo/ Politicof Econamy. Theory ond Proclice. Neva York: longman, 2' ediçao, 2003.
G. T. Crane e A. M. Amawi (eds.), Theoreticof Evalution o( lnternotiono/ Po/iticol Economy. A Reoder. Oxford: Odord University
Press, 1997.
R. Gílpin, The Politicu/ Eccmamy o/ lnlemationol Re/otions. Princeton: Princeton University Pcess. 1967.
G. Kebabdjian, les Théorif's de l'Econamie Politique /nrernotionole. Paris: Editions du Seuil, 1999.

Para compensar o "viés político", no Capítulo 4 apresentam-se os funda-


mentos básicos da teoria econômica moderna relacionados ao comércio de
bens e serviços e ao investimento internacional.

EPI: QUESTÃO DE MÉTODO


fa1::_ «~.~-~.H~~ ~c;9.1::~c~ .e. ..e_rµgírj_c~ q~\~._pr9c:ur~~os apresentar neste livro tem
como objetivo superar.as limitações da EPI 11iainstrea1n fo~~d~E-.9 E_sta~_?...~-~g .-
mercado. A Economia Política Internacional deve superar as limitações pró-
)

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ELSEVIER
Economia Polí!ica Internacional: Hétodo de Análise 11
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)

l
prias de campos teóricos especializados por meio de um método cujo objetivo 1
é capturar a essência d~ relações internacionais. Portanto, a EPI é um méto-
)
do na medida em que utiliza conceitos, teorias e aparelhos analíticos prove-
nientes de diferentes campos teóricos, principalmente da Economia, da Polí-
tica, do Direito e da Sociologia. '!
Iniciemos a discussão com a proposta de um conceito de EPI, ou seja, pela
)
sua representação por meio de suas características gerais.
)
A EPI é um método de análise que tem como foco a dinâmica do sistema econô1nico )
internacional e~~;~-;;;-df;lfui;J ~ifirO.S' e·aimensões, 4ue resuuãdaS-déCFs'óeS~êã'ÇOeS
)
.}!·~a.T~i-~~~~~-;~~~is~·~:.tran_$?J:~a-~i~1lél-Z-s, 'iüJd-CôTtdUtlz i ditermi7iàâtij1orfaiüreS-ob}e- _
~~~!1__~-~ e_s_u]Jjetivos, )
)
A dinâmica __QQ___sistema __econômi.c.o.lDJe_rr:!.~_çjQ_n-_al __~om2reende relações~\
)
'í\ processos -~_'estrutur~s. As _E.~4.ÇÔ.es signific~):P.JGraçãb°~;\s_esf~:a~_!!.fü.q :;~~=-
~---~~-~------- - '

'i mercial, a produtivo-:r~~l_, a te_cpq}_Qgic~ ~a mo~et~1io-financ~e_i_ra~_.ascd_irn~µ_-: _J )

\
tW~s:{ã;_Q~iJiü~J;;Jª1:~ª-.pl_u_r:UateraLe.amultilater~LQ§_.a~o~e~ . ~_~\iona~~--e tra~s:_~ )
nacionais s_áo _esta_tais,_ para_estat_ais _e não_~statais. A _conduta d~~ses atores é
)
· determin~d~ Po~ fat~r~s obj~ti~O-~:~·~;;~- ~-s i;;~~r~~~~~-~~-t~~i;_i~ Di~~aÇão· de
. r1quez·a5·-~·--pOiítíCOS -(ge.râÇãO"'êíe- pó·deT); e··por fator~-~ -su-bjetivos (com desta- )
que par-a os va10res..·e-os·1a-eãíSJ~~-- )
~- ---x;·si~~-·~~~~f~~~-;b~"Il-gerltê da EPI permite associar uma análise econôrni-
)
ca e política profunda a uma apreciação ideológico-cu] tural fina. O esquema
analítico básico da EPI (Quadro 1.3) envolve o uso do método abrangente pro:--1 )
, 1/ p~sto aqui anteri9_rmente. Segundo esse esquema,_<1; E::r?I procura identificar as . : )
'. riioti:y~ç_õ.~~--º-ª-ªÇão)qs __~tgr.Ç'!_,s.qµe_.op~ram.n_o_ ~.ist~JP..ª iµ.te_~'!lª~~~-~-<:1.l.~_Ço111 rela- ,
)
\ çàõ··ao-sistema·ecbríômico internacional, é analiticamente importante distin.:--'
guir as esferas e dimensões de atuação dos atores nacionais e transnacionais. )
A melhor definição ou compreensão do método da EPI exig·e esclareci- )
mentos quanto a alguns conceitos-chave.
)
Iniciemos com o conceito de~ que __EOde se:c_enten<l_ido.~~~!9._~.~ll­
como "9..1.:1~(1-_lg~e[ c_onjµnto.de~a:riáv.eis em.interaçãg:~ (Dougherty e Pfaltzgraff, 1/ )
·-Jr., i97J, p. 102). A interação de variáveis no sistema internacional se expressa )
num conjunto integrado de relações, processos e estruturas. No s_i~~c1na _~11~er~
)
nacio_n~),_ a.. _rrdaçfi,p_~~-um_ "ato-~~ _!1~~-r~z_a_ determi_nada-"__e1_1volve~çlo.r~ lo rn_e-_.
--;-~~-dois.-ªJ9I$1L§.~_sliÍe~e-nte~--~-~-~~?.-~.i!~i~es .9~-itq_~-~-~~-~~i:.aci2~--~~Jl-Uto- -. )
,.C!:~~~--_gp;:~~~u.1.___uyoluç.<!Q)~-m..~-~~--~.§._Qecifican1ente a ~ão çl~~.cstar.1-QS__QU,... )
)
}
11 Economia Política Internacional ELSEVIER

Quadro 1.3 .

DIMENSÃO ESFERA

Bilateral Comercial
Plurilateral Produtivo-real
Multilateral
Tecnológica
Monetário-financeira

ECONÔMICO

Político Cultural

SISTEMA INTERNACIONAL

ATORES
Estados Org. intergovernamentais
Empresas transnacionais Banca internacional
Org. não-governamentais Opinião pública e mfdia
Grupos sociais Grupos de interesse
Classes sociais Indivíduos

DETERMINANTES DA AÇÃO
Interesse material Poder
Valores e ideais Subjetividade dispersa

mudanças" ~~2~~elas rtl-ª.ç§_ǧ,_~p.tre ~~~?~!.~: f\_es_~T}±~'lf.r_~~E~P-:r:~~-~!!!?":~_e.:'.4!~,:-_.,


posição e ordem das-E.artes de um todo", ou seja, a disposição ordenada do
·=·-----··--,,,..Ã,_,,Ã
conjunto ou subconjunto de variáveis que compõem o sistema internacional.
Sistemas podem ser classificados de diferentes formas. A distinção básica é
entre sistemas de equilíbrio e sistemas de conflito (Mackenzie, 1975, p. 55) .Q___
sistema internacional é um sistema de equilíbrio instá~l ~de conflito cíclico
.. . . . . . ·········~··· r-
._E~r_~?.r~.~~~<?:_A idéia de que o sistema internacioii'~d-emarcado por confli~o
~
ELSEVIER
Economia Polf!ica Internacional: Hé1odo de Análise 11

cíclico ou recorrente se expressa pela dicotomia clássica das relações interna~-\


cionais: harmonia versus conflito; paz vasus guerra; e cooperação versus rival~
dade (Frenkel, 1969).
Vontade, escolha, decisão e ação são próprias ao ser humano. As relações
humanas envolvem, portanto, conflito de vontades, que se manifestam por
1neio do exercício do poder. Seguindo a concepção weberiana clássiC1~~· p;de-;~
a probabilidade de realizar a própria vontade independentemente dà~vonta­
dc alheia. Quando se considera o problema do poder em uin determinado
sistema, "somos levados a escolher um sistema que postula tanto o conflito de
vontades quanto o equilíbrio instável" (Mackenzie, 1975,_.EJ'ifi).
A amplitude, a abrangência ou o ecletisn10 da EP~ão~~Jg?.tf!.S'.~;L!h_ne­
cessariamente, que esse método possa ser usado para trataftodo e qualquer
tema pertinente ao sistema internacional. A análise dos principais livros-texto
de EPI indica, por um lado, uma grande dispersão quanto aos temas da EPI
(Quadro 1.4).
Nesses livros, discutem-se tanto temas que são restritos ao campo econô-
mico (comércio e investimento externo), como temas mais pertinentes ao
campo social (desigualdade, alimentos e fome) e ao político (governanç_aglo:,._
bal e hegemonia). Por outro lado, identifica-se nesses textos um foco.~m ...__ seis .·')
grandes temas. Cinco desses temas referem-se ao sistema econômico interna..:··
cional: comércio; sistemas financeiro e monetário; empresas transnacionais e
investimento externo direto; desenvolvimento econômico; e integração regio-
J
nal. O tema político predominante é o da hierarquia do sistema político interna-
cional, com ênfase na heg~moniâ 1 particu~armente dos Estados Unidos.
A análise da experiência l?_rasileira_s~cente com relação aos ternas econó-
micos que são considerados priOritifios no âmbito da EPI é feita na Parte II.

SISTEMA INTERNACIONAL
_No sistema internacional, Cl:S.J:~~La,Ç_Q.ç:,s__g~ _ç9_1!_[lj_t2_~~~.,situações
de equilí-
_E~iq_i_~~~ve~~ffuaÇõe~.~~~9,uilÇ!:?xü~-'"nJJ_rg, con~e_xto di_~ªfi?.i.~, asseg_t;!llTu-
se em relações de conflito. O sistema internacional é, na sua essência, um
··-- --.-.--------------.~------------ -·· ... "••··-·-.
... _
.... ---- - -
sistema dinâmico .q~_e_ eJ:lvol_ve .Poder e 1 portanto, é um sistema de conflito
perffiãilelltê·(~berto o;~·~UítO) ~· ~quilíbrio instável. Assim, no sistema inter-
nacional,~ guerra e a paz, a har~~<!:_.<7_.~5.Q_ºJ.li!;Q)J'ª-Q.§~Q!Jµs C:~-~L~~~~º~·
e, sim, meios_ de se alcançarem objetivos específicos nos camP.?.s.. eço_i:i{im,i~_<:»_
Po~êcltITTaiCflii.li~~Ne;;;;r;tema <liiiãffiíC·~;r~-Çõ~; e processo~ pro~
vocam mudanças nas estruturas.
Ecàn ~·ini ~ ·Po·1 ílii~r :ín~~r·nci·Ci·~·~a i :_·. p ~íriéip3i·s leT_~s- 'fr at.âdo~

Balaam e Crane e Frieden Grieco e Total de


Temas/aulores Veseth 1 Chavagneux Cohn Amawi e Lake 1 Gílpin lkenberry Kebabdjian \ Maswood relerênci<:s

Comércio internacional X X X X X X X X X 9
Sistema monetário/financeiro internacional X X X X X X X X 8
Empresas transnacionais/investimento externo direto X X X X X X X 7
Hierarquia/hegemonia/Estados Unidos X X X X X 5
Desenvolvimento económico/países em desenvolvimento X X X X
Integração regional X X X X 4
Dívida externa X X X 3
Países em transiç~o/Rússia/China X X X 3
Governança global X X X 3
Segurança X X 2
Tecnologia X
Energia/petróleo X
Meio ambiente X
Alimentos e fome X
Normas trabalhistas X
Desigualdade X
Estabilização macroeconômica/inflação X
Fontes: J. Frieden e O. lake (eds). lnternotionol Po/ifico/ Ei:onomy. Belmont: Wodsworth, 4• ediç~o. 2000.
D. N. Sataam e M. Veseth, lntroduction to lnternotionol Po/iricol Economy. Englewood: ?rentice Hall, 3• R. Gi1pin, The Po/itko/ Economy of lntemotionol Re/t:Jtions. Pririceton: Princeton University Press, 1987.
ediç3o, 2003. J. M. M. Grieco e G. J. lkenberry, Sro!e Power ond World Morkeis: The /n/ernationol Politicol Economy.
C. Chavagneux, Economie Politique lnrernotionole. Paris: La D~couverte, 2004. Nova York: Norton, 2003.
T. H. Cohn, C/obo/ Po/i1ia1/ Economy. Theory ond Proctice. Nova York: Longman, 2' edfçao, 2003. G. Kebabd)ian, Lei; Théories de /'Economie Politique /nternotionole. Paris: Editions du Seuil, 1999.
G. T. Çrane e A. M. Amawi (eds.). Theorericol Evolu1ton of lnternotionol Polí~"col Economy. A Reoder. S. J. Maswood. lnternotionol Pofü"co/ Economy ond G/obo/izction. New Jersey: World Scientific
Oxford: Oxford University Press, 1997. Publishil'lg Co., 2000.
,)

!!
ELSEVIER
Economia Polírica Internacional: Mé!odo <le Análise 15
}

1
/ )
O sistema internacional envolve três su_l:i~i_steµias ou siste:rnas básicos, que
. .._,.., ____________ ·---·-··' ____ ;,,'Ç ·- .. - -----·--,:------------..,-~~-, 1
s~q intê:Q.~_p-~p.Q~_I)J_e_~---~-~ses_ si~ten;ias_,são ()_ :eol(~ico;_o -~ul_tl1ral e· o econ?mico.
-- ·c-~-m relação ao sist~;;.-a polític~~"-~pt;;;.-~s--p~; s·~glli-r a'definiçio filais )

geral apresentada por Urbani (1994, p. 1.163) no Dicionário de Política, orga- )

,l
nizado por Bobbio et al. (1994): "Sistema político refere-se a qualquer con-
junto ~~-~n._stituiçõ_~~·__g_~1!.Pº. ~ º-~ pr~c.esSO·s· pof~tlCo_~ -~a_r~cte~i;,~d~-~-~-?-~ ~:1:.
certo grau de interdependência recípro~á"; Nesse sentido, no sistema políti-
)
)

7õTn.tern.ãCiOnãlhã_a__iiltef3.ÇãO-p01fti~a entre atores de diferentes naciona- )


lidades e atores transnacionais. Ocorre que '_'.o_conce_ito _~e ~-ol_ítica, entendi- )
da corilo forma de atividade ou de pr~x_j.s hµ~~·~;-:-e~:t~- éStréiiã-ffi~nte ligado
.,ao-cfe- )Jo.éler" (Bóbbio,-1994, p: 954). O sistema internacional é, então, o l
l~CUs Cfe enc~ntro de atores de diferent;snãCionaifdâ.Cfes-·e-arpres transila- )
e _____ -••--•- ---- -- --

cionais no exercício do pode_r. )


~à~~-~~~~~-;i~t;;~ P~lítico internacional e _poder aponta uma ge-
neralização ou~êfhO~.-·Uma-eXt~~;ãO- d·~ cOilceit~·;o~~~ do entendi- )
mento da essência dos sistemas econômico e cultural. Nesse sentido, ..o_siste- )
ma econômico internacional é o locus de encontro de atores .. de_diferentes )
~~lidack~t~res tr;~-;~~~ÍÔn~is no e;-;;;~f~i~-d~ :eoder ec9~ô-~-ico'..·
)
Ainda como extensão do conceito, o sistema-cultur-;_l é-?~z~-~:-~}~.:~cori~~~~ __
atores de diferentes nacionalidades e atores transnacionais no exercício do )
----·-~-· --~--.~- ·-----------------
.J~9_9:er ~ult_~ral. )
Alguns autores agregam aos sistemas político, cultural e econômico ou-
)
tros dois sistemas: o da Ciência (Técnica) e o da Segurança (Militar). Por
exemplo, Susan G501ge (1988) identifica o que chama de quatro estruturas )
de poder na economia mundial: produção, financeira, segurança e conheci- )
mento. Diferentemente de Susan G~, preferimos tratar o que ela identifi-
)
ca como estruturas de produção e financeira corno esferas específicas do siste-
ma econômico internacional,juntamente com a esfera comercial e tecnológica )
(conhecimento). Há fundamentação técnica para isso, principalmente, ateo- )
ria moderna da internacionalização da produção. Isso é discutido mais adian-
)
te, no Capítulo 4.
No que diz respeito ao sistema da--Ciência e da Técnica, para citar um )
único autor nacional,]. C. Santos (2000), na sua análise da globalização, tarn-
.J
bém distingue esse sistema dos sistemas económico, político e cultural. Aqui,
preferimos reconhecer o sistema da Ciência e da Técnica co1no parte elos J
sistemas econômico e político. Naturalmente, esse proccdiJnento corre o ris- j
co da simplificação exagerada, principalmente quando se considera que o
J
)
)
16 Economia Políuca Internacional ELSEVJER

"mundo da técnica" tem uma autonomia relativa vis-à-vis relações, processos~


e estruturas próprias dos sistemas eco11flmico e político. Entretanto, não é l
pássível negligenciar a interdependênci·;· ·entre, de um lado, a Ciência e a ~
Técnica e, de outro, a Economi_a_ ~-~-~olítica. O que, aliás, é reconhecido por.r
autores que valorizam a ciência e a técnica, mais especificamente, a relação
orgânica entre o poder militar e a capacitação tecnológica.

~
De fato, é difícil compreender a dinâmica dos processos de desenvolvi-
mento científico e de inovaçã~ tecnológica nos países desenvolvidos Sé::rii.fe-
ar em conta as estratégias e as políticas dos Estados-nacionais, tanto no que
se refere ao desenvolvimento econômico quanto à estratégia de defesa nacio-
nal. Isso é evidente nas análises clássicas de Alexander Hamilton, no Relatório
sobre as Manufaturas ~os Estados Unidos, em 1791, e de Georg Friedrich Li-;t~\
no Sistenia Nacional de Economia Política na Alemanha, em 1841. O nacionalis:.
1
mo econômico de Hamilton e de Listou as· políticas do Pentágono fornecem
~r/; :Ó1 (f urna lição básica: "O poderio econômico na produção é a chave da segurança
~~.&'nacional" (Earle, vol. !, 1980, p. 166). Não é por outra razão que tanto Hamil-
:(1 ton como Listsão incluídos entre os grandes mestres da estratégia (ibid.). No
que se refere aos Estados Unidos, tomemos a declaração de Hamilton-{-I-'7-91,
p. 88): "Não somente a riqueza, mas a independência e a segurança de um
país parecem estar intimamente ligadas à prosperidade das manufaturas."
A relação orgânica entre sistema nacional de inovações, desenvolvimento
econômico e poderio militar também é marcante nas análises mais compe-
tentes e abrangentes a respeito das políticas do governo dos Estados Unidos
relativas ao seu moderno complexo industrial-militar (Medeiros, 2003). Me-
lhor evidência disso foi dada por Dwight D. Eisenhower, general, republicano
e presidente dos Estados Unidos no período 1953-1960, que no seu discurso
de despedida afirmou: icEssa conjunção de um imenso aparato militar e uma
enorme indústria de armas é nova na experiência americana. A total influên-
cia- econômica, política e, mesmo, espiritual - é sentida em todas as cidades,
estados e órgãos do governo federal." (Eisenhower, 1961, p. 229)
Vale destacar, também, a tradição, que vem pelo menos desde os séculos
XIV e XV, que identifica a forte relação entre riqueza, poder político e a
organização militar. Já no século XVI, no seu livro Discursos sobre a Primeira
( Década de Tito Lívio, Maquiavel defendia a tese de que "o poderio militar é o
fundamento do poder político e que o dinheiro só se torna uma força polí-
tica na medida em que ela é realmente convertida em capital militar" (Gilbert,
1980, p. 26).
~ELSEVIER
Economia Polflica Internacional: Hélodo de Análise 17

Assim, preferimos incluir tanto a questão tecnológica quanto a questão


militar como partes dos sistemas econômico e político, respectivamente.
Na reaHdade,_ os outros grandes temas_ d<iS r_elaçõe_s internacionais fazem
pa~~-.--d~. l~~-;:'{Qfffià ou-d~O~-tr~:-d-;;~·-~~ê~ ;i~t~~;; básicos- ~~con_?mico, polí-
tico e cultural) .. Al . é_~.--~?~~.~~.~~-~Já_~w-.c
. . ion..ªdº.. '.·. (seg. uran_ç;_~.·
..' mili_tar, ciÇp. c._i_ci~}
técnica, co~p.ec~~~I!!.Q1..J~ç~~Lggj~~1.),_~~tro,s g~?-ndes_ temas sili,.por exerµplo,
_e_n_t;!g~-~~::in!=!iº~--- q~..ÇR_~~~!ç_~,Ç~_p,_ ç_rjJnf.;_-~r8-aniZàê:h:r;:-:proféÇão _do_ rµe_io_ ~~­
biente,.normª$,Xt!!.P~Jl:il~J~•.cie.§~_nv,pl,YJm~:r:i-~o, _vu}!1:eFª.~~-~i9.?:~e e~terna, f o;_ne,
.-t;:_pidemias, organismos internaçig_µai~ e_r_egi~~s_ _ regulatÇrios.
Todos os grandes tem~-~ fa:~~ parte de um ~os siste~~J_c.:._~_O!!Ô~~?.1.1?.9_:_.
J~ti~o ~:-~1:~-~':!aj). e, ~~~?_f~-~qµ~!lr~~l?,~_!.1..!':!.~~-9-_?_~~--<2-~ .1:f!~_5.!!_1_2.s.!os_ ~~~s ~i~~-~~~~
Para ilustrar, o tema da energia é parte tanto do sistema econômico internacio-
nal quanto do sistema político internacional. Ninguém conseguiria fazer uma
análise da evolução da oferta e do preço do petróleo sem levar em conta
variáveis políticas (inclusive militares e geopolíticas). Outro exemplo: o tema
da proteção ao meio ambiente, que atravessa os sistemas econômico e políti-
co internacionais. Esse tema também tem referência no sistema de valores e
ideais. Esses fatos talvez expliquem por que o movimento ambientalista tem
uma forte representação transnacional.
Há temas que estão mais diretamente vinculados ao sistema econômico
internacional, ainda que tenham relação com os sistemas.p.q!~tico e cultural.
Esses temas fazem parte, portanto, das quatro esferas temáticas ci~ EPI relativas
ao sistema econômico internacional: comercial, -produtivo-reãl~- tecnológica e
monetário-financeira.
--->-~-~-º--~~~-t-~ffi.'!.JI?:t_~1:"~?-S-~9~-~11 _Ç>~_l?.~~.:_:?_~?.:r:.i:=_~-~.~-expressa _p_c:_: m_eio~~
.. _E.~!~ç§.:.~1 _p~?,ces_s9s -~--~strnt!lf~_s _çsp_e~(flS?~ q_~~ ~?_I_!1p.§.çm_Q.siste.!!!_~__econômi-
~o -~r.>:ter~a.çio;nal,. Cç11fo_rm_e_já..foi _m_eru:.i_q.q..afl9-i.l12- sis~~-l])~.:.-&~..$].Il9!1_1iêO~iii ter~­
nacional h_á quatro ~sfer_as e~ que op~!ª.I!J:9S atores naciÕnai~. e . ~r~n-~Il-ªÇl~!iajS:­
~Co"llleI-CTãf..'pr.9~diJJfY!J~iÇ_ài,~·i:e_cnqJógjç~ ~ i:n~-;e_t_á~i9::Q~~-~-~~~ra_. Na realidade,
. - . .o·~ . . ·--· ---·-·-~-~- -- . ·-·'-' _,_. ··-

todas as relações econômicas internacionais operam nessas esferas.


A~s_f_era_~!!__"fl_!!!E{f!i~Ilvoly_~~el~çõ_~s, o~:_~~C:~~~-~~.!t:rt:tt\l~-ª~Lg~
......próprios
__ ao sistema mundial
___de comércio de bens e serviços.
--·-~·---·--~--.-~---·--~_,...,_ . . . .,.___, ,. ,_- Trata-se aqui do
º·-··---------~,_,,._~-,

comércio transfronteiriço de bens e serviços, bem como do deslocamento


internacional de consumidores de um país para acessar produtos (bens e,
principalmente, serviços) no mercado de outro país. Há, assim, o desloca-
mento internacional de produtos ou de consumidores de um país para outro.
18 Economia Política Internacional ELSEVIER

A esfera produtivo-real refere-se -~g__9.esloC<l;filÇD-JQ_d..e... pLQd.u_tQr.e.s..de.. be.ns.e_


se-?v1ços de atn --parsp~-~~-:;a
-- - ,______
~-
inv_e_tti.m~n.to.. exte.rno_dire_tQ: Esses produ-
. ·- -·---·-·
tores podem ser pessoas jurídicas ou pessoas físicas (pessoa natural). Nesse
caso, é necessário o estabelecimento permanente ou temporário do produtor
estrangeiro (não-residente) no país (mercado) do consumidor (residente).
Para que o estabelecimento· permanente ocorra, é preciso que haja um inves-
timento externo direto (caso da pessoa jurídica). _O tratamento conceitual,
analítico e teórico pertinente às esferas comercial e produtivo-real é feito no
Capítulo 4, que trata da teoria pura do comércio internacional e da teoria
moderna da internacionalização da produção.
A esfera tecnol_~~ca_ C::.Il_YCJ.lve ·~-!_~~-~-~fer~1?:~-~~-i.~_ter~a.cip_.n~l de_ a~v?_s_·.f~~~~-g!°:\
vefS'""'·.~·ca·itlíeCf~e_qto. Trata~se ta~b~r.n dos direitos de pr~pri_edad~ int~lec-
1

:-t~~a.l_, -~ indus.t.rial_ .e. de___k'!'J-_o_W.~!iow~ Esse último abrange tanto -à~--t~CtYnl~gias""de


produção quanto as tecnologias do produto. A primeira refere-se aos proces-
sos de produção, enquanto a segunda relaciona-se às características do produ-
to, tais como qualidade, funções, forma, cor, gosto, tamanho e marca. O know-
how envolve, ainda, as técnicas gerenciais, organizaci·o-rfàis e rµercadológicas.
A esfera monetário-financeira refere-se aos fluxos de caP.itais_fu
~-v---··- -•'
ternJl.Çi.Q.11.a\§.,.
•-''"•·•·---·~r-·--,....~·.·--··~---•••.<.•O.•<••'-"-TO.,·---.·-·•
.,.- ' -, • ·-•-,o.·/,.~-

~forma _d_e~_~_!t!.PJ:"é.s_tj.mg§.,_fuunciamentos...e in,y~-~!!.1!1_~nt?~ . Essa esfera não


trata'-dá'p;~dução de bens qUe são exportados ou produzidos localmente via
investimento externo direto. Na esfera monetário-financeira, o fluxo interna-
cional de capitais significa para o investidor a aquisição de direitos e para o
receptor, a cessão de direitos·.
As relações econômicas inte1nacionais têm também dimensões distintas:
bilateral, plurilateral e multilateral. A dirnensão bilateral ocorre quando envol-
.....,_~ .........._r,., __,_,__,,,,_; .. :.-.-=--'"'--.,..,,.. ,,.,.....;"""""'-""·""'"""-'~-.
v~~~.~~ -~~.?-~~~--~~ _ 9-~fi;::_r~ntes :naci.911alidade;s ou.atores transnacionais .. Quando.,
pelo menos três atores es~.::,i.?!~_r~g_!x1Qo,_ltatª--s.e__ q~__ d.f't!!0~J!2-Pl1!-!i!a.t_e::a.~--~ .
ç!:~f!!_ffl!{Í:O '1!/,_ulÇflµJ.rt!._q_l_r;_nyqlv.e to.dos.ou_pi:a~iç~1Jrte.r:i.~~ .!~s!9~-9.§..princiP...~A~g!~.~
Por exemplo, quando se trata do sistema mundial de comércio, as exporta-
ções do Brasil para os Estados Unidos ocorrem na dimensão bilateral. As rela-
ções comerciais no contexto do Mercosul ou do NAFTA são na dimensão
plurilateral. A interação dos governos no âmbito da Organização Mundial do
Comércio (OMC) ocorre na dimensão multilateral.
Outros exemplos: na dimensão monetário-financeira, a ajuda externa dada
por um país desenvolvido a um país em desenvolvimento ocorre na dimensão
bilateral; os esquemas de crédito recíproto nos arranjos de integração regia-
J

!!!
ELSEVIER
Economia Política Internacional: Mélodo de Análi~e 19
J
)
)
nal referem-se à dimensão plurilateral; e as relações entr~ países no Banco 1
Mundial ou no FMI são na dimensão multilateral.
)
)
VULNERABILIDADE EXfERNA E PODER
. --- --· ·----..._,_ )
Há temas quê permeiam as)quatro esferas que compõem o sistema econô-
. -.----.-'-.....-;-- --- ---·------··.:'_____ ______ --- - --··----·-,--.~---------~----~
,_, )
m1co 1ntemac1onál-En-tre-ésses, os temas ·da vulnerab1hdade exterJ).a._e_do

:!~!=~~::~~::~;I:{~~r~;~:;::~I!:t:f~:~J~~é:~~~:~::~;]
)

A vulnerabilidade externa é a probabilidade de resistência a pressões, fatores


1
desestabilizador:es e. c!i9"q~~~-~~-te·rr1o·s, -b~~--~~~o·-~'O~{;~tô-dessa·reSi~t~i:cJ;; J
(c;-;Çil~~~~-2õ03-,-p:'-34)'. Quanto maÍ~~baixa e~~a pfObabilidadê, ~~i·~-~ é a . )
vulnerabilidade ex_~~E~~-.__Fquestão aa··vuín·eràbilidade··externa-;}ão se r~s-t1:"i~~­ )
ge à capacidade de resistência .. H3t.J:~~~~~_!_~-~-P-~~l:Jle~!1-~ __ !:_~f~_~entes às _op-_
)
_ç§es ~-~?~ ~µ-~~Q.s_gc;_ sç_~Q!.1.!ra_p_~!:__~l).!ll!_~nc:~~-~as .~!i~~<j~-~~-~~-IE~~·~~-10~~~-:~
sa_bi_li_f!!!9C:..~~-m_, ent~9,,_ 9-~ª~-~j-~~-~~ões _ igual!11~!1.te importantes._ )
.A priineira dimensão envoJy~-~~-qp_çõe§Ji'?E!P~Ç?~t_a_<_:_q~-- <?_~ }nst_r1:-1!E1_e._~E?s ~ )
-~~~çª"9J~pP.:ri!yç}5_.,,.~,~g!!_ncl~.Ü)_Çp_rp_q.rJJ._Q~_!=_~sto_s_ d_e e~f1_·_en~_<:t!1.?~_ntq..?1:-!. )
~~":~te d_o,~,,eventqs,,e](.temos.Uones, 1995, p. 7). A vulnerabilidade
externa é multidimensional e abarca os custos da resistência relativos aos efei- )
tos dos fluxos financeiros, do investimento, da tecnologia e do comércio no )
sistema internacional. Nossa análise restringe-se, então, à vulnerabilidade ex- )
terna nas diferentes esferas das relações econômicas internacionais. Essas es-_
feras são a comercial (comércio de bens e serviços), produtiva (atuação de (
)
empresas transnacionais e investimento externo direto), tecnológica (transfe- \' )
rência de know-howe direito de propriedade intelectual) e monetária e finan- \ )
ceira (investimentos financeiros, en1préstimos e financia1nentos). /
)
A resistência a fatores desestabilizadores externos é exercida, geralmente,
com o uso de políticas macroeconômicas tradicionais - políticas monetária, )
cambial e fiscal. Os governos, também, podem usar controles diretos sobre os j '
fluxos de capital e sobre as operações das subsidiárias de empresas
_)
transnacionais. Há, ainda, a opção do uso da política comercial para enfren-
, tar os problemas criados pela dinâmica do sistema mundial de comércio. A.s- _)

r
_,

'-
sim, a vulnerabilidade externa é tão maior quanto menores fore1n as opções
de política e quanto mais elevados forem os custos do processo ele ajuste. A
_J

)
2O Economia Política Internacional ELSEVIER

vulnerabilidade externa varia inversamente com as opções de política e dire-


tamente com os custos dó ãjltste~-.
O processo de globalização tem, sem dúvida alguma, gerado um sistema
inais complexo de inl~l'd:ependências entre economias nacionais. Entretanto,
esse sistema de interdependências continua significativamente assimétrico,
de tal forma que se pode falar de "vulnerabilidade unilateral" por parte da
grande maioria de países do mundo, que têm uma capacidade mínima de
repercussão em escala mundial (Ramonet, 1998). Isto é, um país que tem
vulnerabilidade unilateral é muito sensível a eventos externos e sofre, de for-
ma significativa, as conseqüências de mudanças no cenário internacional,
enquanto os eventos domésticos desse país têm impacto nulo ou quase nulo
sobre o sistema econômico mundial.
O conceito de vulnerabilidade externa nos remete ao conceito de poder
no sisten1a internacional. O poder efetivo é inversamente proporcional à
vulnerabilidade externa. Quanto mais elevada a probabilidade _ .dê-Üilfa.~or
social, sujeito político ou agente econômico realizar a sua própria vontade bu
. /
resistir a pressões, fatores desestabilizadores e choques externos,.maiof é o
seu poder efetivo no sistema internacional. No Capítulo 5, analisamos empi-
ricamente esses conceitos. (
- ? Neste ponto, vale destaca~-~ª m~~ll~ d~_f9J_~a~~g.~_ pQ~~.~,êE~~,.:.
· . sent~a_o;~!\~\)J?Mdl994, p. 955): ES.aJi11<JIQgia.eparticularmente relevan-
Wiio ·casô--êfO·Si~[êffiãTnternacional. Há três form~_$..Qe.:g_Q_Q.;1~:r:__9_J??._?:~r:.P2-l[tj.:
co, o ideológico e o econômico_._ No plano internacional, cada uma dessas
-~~------ .-··-~ -- ----~-------·--~~'-~-~.--.----·--'"-~~;-~·--. .. --.- ·-· ---.. ,, .. - ---·-·------·- __ ,

"f~~-as ~orr~!1?-e_a.Jdp:i~~-~~J~!ll..~-~-e_r_:e;l~çÇ>~~! processos e estrutu_r~(.pQ.lli.i.f2L-


-~~l.~.~~-~<?E,Qmico.)...
/ Recorrendo mais uma vez a Bobbio, o "poder político se baseia na posse
/f dos instrumentos mediante os quais se exerce a força física (as armas de toda
a espécie e potência): é o poder coator no sentido mais estrito da palavra"
(ibid., p. 955). Essa definição reforça ainda mais a idéia de se tratar a questão
militar ou a dimensão militar das relações internacionais como parte compo-
nente do sistema político internacional.
Entretanto, _o exerc~~Q..QQ._P-º-ck:r__ n~ ..se limita e~_c::J~~~-Y.ª-.1.!!Çnt_e_à- çoação·-.
por m_e_io __d_q_µs:~.çla_fQ~ O poder pode-~i~~ d;~meaça e da_legi_tjflliQ_ªçl,Z)

l
, -~~·: i?2ri:a~to, d~spensar o ~so d~_ forçã e c!~yj.plê~i;t. A-l~_gitiffiJ~istç_~~r.se~·
~P-odej._'=~J.Y.~~-~-~~~:Yç~-~-e do cari_sma, ou_teruil1 fundaniento racio_nal~-­
..~~g3tL,.J:'rata-se do poder do-pãâ.~~:~-éi~-fíd-er-õu-dO-b~foCiata~ NeSses-cásOS; o.
poder baseia-se no consentimento~ e não na coação ou na violência_._l:!_~_au_~<?:__
-~X.:.~~-~~!11º Hanna Arendi que ·argumentam que a coação fís~Çll: ºll a yiolênc~a.
- . ---- ----- --- - -.. --· - .
Economia PolíCica Internacional: Hétodo de Análise 21

d1!~~~~-~:~~~~~~~--p~~~-9-~.!.~!'~~~~~.~~-E?5:!%:_~·--~-~-~~-ª-i~!- ~~ ~1!1'3: rel~çª-Q


· ,inversa_ entre uso_?~_.yi2l~_J]:çj_ª---~--P~?_c!-e_r, ~u_?_ej~, qua11to_ m_ais pod_~_Í...-~~,-~:rn,
~~IlOS üéCeSSãrio se faz apelar
'.<. •.• --·-----------·>·--- ._.,-...-..
v_~•·-· - •••-
..P~fª-"ªJj_Q~rM;"ii.{&<;if.9i:
-- - - •
i1i94)- ,--·-- -· __ _--.......
No que se refere ao sistema cultural, o conceito-chave é o de poder ideoló:~
gic~!- que "se baseia na lnffüê~i~-q;-;~-;s idéla.S fOrmUlãdàs a·e um ceftô:'ffiõ-8.;;-
expressas em certas circunstâncias, por uma certa pessoa investi.da de certa auto-
ridade e difundidas mediante certos processos, exercem sobre a conduta dos
consociados" (Bobbio, 1994, p. 955). Trata-se, entii~, do poder das idéias, dos
valores e dos ideais. Esses são, de fato, 'os componenl'e~ fund;TIC~tais d~~cl~;-
. ,/!'. O poder ideológico é o p_oder Cl!~ural. Não é por outra razão que a gran-
/ · de importância de Anton~,º Gramsci p)ara a Ciência Política moderna é o con-
. ceito de hegemonia. Para'-Gramscí" {1971) o centro de irradiação do poder
político é o Estado, enquanto o centro de irradiação do poder cultural-ideo-_
lógico é a sociedade civil. Assim, "quando Gramsci refere-se ao conceito de
hegemonia nos seus Cadernos, é quase invariavelmente claro no contexto que
ele o concebe como puramente em termos de liderança ideológica, e que ele
deseja contrapô-lo ao momento da força" (Femia, 1981, p. 25). Assim, en-
quanto o poder político envolve o aspecto da coação, o poder ideológico tem
o aspecto da submissão via consentimento. OU seja, o poder assenta-se e1n
dois pilares: coação e consentimeiitó:·----
No sistema internacional contemporâneo, a importância do sistema cul-
ural, mais especificamente, do poder das idéias, dos valores e dos ideais, ten1
e tornado cada vez mais evidente com a ascensão dos movimentos anti-
globalização e antiliberalismo. Isso fica claro quando o Fórum Social Mundial
(;
de Porto Alegre contrapõe-se, como uma referência fundamental para a so-
ciedade civil internacional, ao Fórum de Davas na Suíça. Essa contraposição
trata, na realidade, de uma batalha no plano cultural-ideológico, ou seja, em
ambos os casos ocorrem exercícios de poder no sistema internacional.
Resta-nos, agora, o conceito de poder econômico. Esse é "o que se vale
da posse de certos bens, necessários ou considerados como tais, numa situa-
ção de escassez, para induzir aqueles que não os possuem a manter un1 cer-
to comportamento, que consiste sobretudo na realização de um certo tipo
de trabalho. Na posse dos meios de produção reside uma enorme fonte de
poder para aqueles que os têm em relação àqueles que não os têm" (Bobbio,
1994, p. 955). É a posse dos meios de produção que define as classes sociais
e, portanto, as classes tornam-se atores centrais do sistema internacional.
Tratamos desse tema no Capítulo 3.
11 Economia Política Internacional ELSEVIER

SÍNTESE
Neste capítulo procura-se mostrar que a EPI é, antes de tudo, um método
de..;~á"ii~e:~6sfünaa.ifü:lltõS:1e.õiiCcí~tdi.ElideV:em-.sei.buscados_em_c_anipq~ ..
-~~Eecíficos do_ c~~I_!!!;:_Q!9_, rCQJil._QJJ,~;g_co~,9.E-:-~~.!~--ÇJ!~c}.~"J?ol~~-~~~-~-~E~
e o~·t;~~-Nes~;-~~ntido, há inúmeros conceitos que transcendem a Economia
e que são fundamentais para a EPL No Apêndice, o Quadro l.A.l. apresenta
alguns dos conceitos fundamentais.
A partir de uma crítica à EPI mainstream encontrada, principalmente, no
mundo anglo-americano, desenvolve-se uma estrutura conceituai e analítica que
pretende ser, ao mesmo tempo, rigorosa e abrangente. Nesse sentido, procura-
se ir além d(J ente1!.4L!D-~!}ÇQ_,Q.~ g,gJ_4.10.Qgpin, ou seja_, ~ransc_eilde-se a_ _arücula,.:
Çã;~:;tr~.,d~~ ~titui~ões (Estado e merc;d~-)~~-Õ ~é.todõ dê'aúáüS.~'PTOP~~
tem como referê~ci;~~d~lerminantes dâ~·~ dos principais atores do sistema
internacional. Esses determinantes e atores são os temas dos Capítulos 2 e 3.
O sistema internacional é formado por subsistemas: econômico, político e
cultural. O foco da EPI são os temas mais específicos ao sistema econômico inter-
nacional. No entanto, a EPI permite uma análise, ao mesmo tempo, profunda e
abrangente de diversos temas afins, pertinentes ao sistema internacional.
O sistema_econômico internacional tem esferas específicas, com relações,
processos e estruturas que se manifestam em dimensões distintas.
A esfera do comércio trata de temas como exportação e importação de
bens e serviços, mercado de commodities, protecionismo, liberalização,
integração regional e arranjos jurídico-institucionais na dimensão bilateral,
plurilatera! (por exemplo, União Européia, NAFTA, Mercosul, projeto da
ALGA) e multilateral (OMC). A esfera das finanças inclui temas como a atua-
ção elos bancos, seguradoras, prestadores de serviços financeiros, paraísos fis-
cais, sistema financeiro internaéional (por exemplo, disponibilidade e custo
de financiamento), sistema monetário internacional (liquidez, estabilidade
das taxas de câmbio e mecanismos de ajuste externo), dívida externa, capital
especulativo, controles de capitais e atuação dos orgánismos internacionais
(com destaque para o Banco Mundial e o FMI). A esfera tecnológica abarca a
transferência internacional de know-how (tecnologias de processo e de produ-
to, capacidade gerencial, organizacional e rnercadológica), inclusive, a ques-
tão do direito de propriedade intelectual e industrial. A esfera produtivo-real
envolve temas como os fluxos de investimento externo direto, conduta e de-
sempenho das empresas transnacionais, cartéis, práticas comerciais restriti-
!I
Et.SEVlER
Economia Polí1ica Internacional: Mécodo de Análise 21
J
1
vas, responsabilidade social da empresa, proteção ao investimento, direito de
propriedade intelectual e industJ.ial e soberania. -,
As dimensões do sistema econômico internacional são a bilateral (resi-
dentes de dois países distintos), plurilateral (residentes de pelo menos três
países) e multilateral (escala global, ou seja, atores de praticamente todos os
países do mundo).
Após a análise das distintas esferas e dimensões da dinâmica operacional do
1
sistema econômico internacional, estamos preparados para discutir os diferen- J

tes atores que opera1n no sistema internacional. Nessa interação de diversos )


tipos de atores, o poder do Estado (a luta interestatal) é um dos ele1nentos
centrais do sistema internacional. Esse é o tema do nosso próximo capítulo. J
l

QUESTÕES PARA REVISÃO )

• Por que a EPI deve transcender a lógica binária Estado verS'us mercado? 1
• Por que a EPI deve ser entendida como um método de análise e não como )
um campo teórico específico? )
• Quais são os elementos básicos de u1n esquema analítico abrangente e
eclético da EPI?
)
• Quais são os principais temas tratados pela EPI? )
• Quais são os subsistemas básicos que compõem o sistema internacional? )
• Quais são os conceitos fundamentais da EPI?
)
)
LEITURAS ADICIONAIS E PORTAIS
)
{ O Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio e outros autores é
)
uma fonte importante para temas e conceitos gerais da política. I-Iá, inclusive,
uma versão em CD-ROM difundida pela Editora da Universidade de Brasília. )
O dicionário de Economia recomendado é: Graham Bannock et al. Dictio- )
nary ofEconomics, Londres, Penguin-BÕoks, 1998.
)
.( O trabalho clássico sobre 9··fuercado é o livro publi~ado em 1944 de Karl
Polanyi, A Grande Transformd(ão. As prigens da nossa Epoca, Rio de Janeiro, )

1
--·-- ..
Editora Campus; 1980. )
/ . Para uma visão abrangente do pensamento econômico, ver o livro organi-
)
. zado por Ricardo Carµeiro, Os Clássicos daEcono1nia, São Paulo, EdítoraÁtica,
\ 1997, 2volumes. Para·cada u1n dos grandes autores (de Adam Smith a Milton )
\_,Fried1nan), há uma i1ttrodução feita por um economista brasileiro. _J
)
)
Z4 Economia PolÍlica Internacional ELSEVIER

O livro de Robert Gilpin, The Political Economy of lntemational Relations


(Princeton University Press, 1987), é uma referência básica na tradição anglo-
americana da EPI. Esse livro foi traduzido e publicado pela editora da Univer-
sidade de Brasília. Ainda nessa tradição, livro mais recente e muito usado é o
D. N. Balaam e M. Veseth, Introduction to InternationalPoliticalEconomy, Prentice
Hall, 3' edição 2003.
As principais tendências do sistema económico internacional são analisa-
das em R. Gonçalves. Vagão Descarrilhado. O Brasil e oFuturo da Economia Global.
Rio de Janeiro: Ed. Record, 2002; e J. Beinstein, Capitalismo Senil Rio de Janei-
ro: Ed. Record, 2001.
O portal de busca recomendado é ,vww.google.com.br. Para trabalhos cien-
tíficos, recomenda-se VIW'W.scholar.google.com.
Ver, também: www.periodicos.capes.gov.br ou www.dominiopublico.gov.br.
As bibliotecas têm catálogos on-line. Por exemplo, no Rio de Janeiro há
os portais da UFRJ, FGV e PUC:
www.minerva.ufrj.br
www.fgv.br/bibliotda-rj
www.dbd.puc-rio.br.
!-lá inúmeros portais que disponibilizam livros:
www.worldebooklibrary.com/ ebooks
h ttp :/ /virtualbooks. terra. com. br/
www.supervirtual.com. br/
http:/ /vbookstore.uol.com.br/ nacional.

AP~NDICE

EPI: proposta didática


A Economia Política Internacional ·sofre a enorme influência da tradição
anglo-americana da área de Relações Políticas Internacionais. Não é por outra
razão que a grande maioria dos textos modernos sobre EPI nos Estados Unidos
e na Europa apresenta uma classificação das perspectivas teóricas que tem ori-
gem na literatura sobre relações internacionais, vertente Política. Além disso,
esses livros-texto têm uma estrutura similar. Basicamente, os livros-texto con-
.- ~~.JlCÍ<?_:i:iais. de EPI ( mainstream) t~m uma estrutura _"!Ilª_t.::Ç_<!clª _p~r. __dois blocos
-- tem_áti_c?~. No·pnme"j_rO-apr~senta~_Se ~ma anáii~~ das principais ~orrentes teóri-
~~~~~~·iii:~·y~le menci~~ar mais~~ª vez q~é- e~sá.allálise Sêgil~ irl:YifiaVe1~en~
~
ELSEYIER
Economia Polílica Inrernacional: Método de Análi.1e ZS

te as taxonomias das Relações Políticas Intemacionais._Na_segJ?.f!.da pa_rte ~ão_


examinados temas tradicionais_2~~!.:~~(l_Ç.Q~-ª.~ÇQ_Df>l!!~.S.<l§._~f!!_~!:-~ionei§.Jcomér­
cio, inYCsüffieôIO~C"-eIDp;;;;; transnacionais, ajuste externo, dívida externa e
finanças internacionais). Em alguns livros a análise é estendida no sentido de
traLar outros temas econôrnicos (desenvolvimento, integração econômica e de-
pendência), bem como temas que têm uma interface com a economia ou a
política (energia, meio ambiente, segurança, tecnologia, fome, máfias etc.).
_Q_pJincipAl ..problema~com. a EPI _ma_instream _~, q!I~i.,f!'~_qil~:riJ~n_:n~_µt~,-ªª_
análi~~s do~~~-'!!!?Ji_~-~q:g§_m!_cq~ ~DJ-~w-~ç.io~~is _i:ião ~ão significativamente dife-
7e~ie~ d~quelas forneci~':~.E~}_?.s ~cqn.,c?x~1!stas.t--Q__me_sro9~0-c~o-f_i:.<2__q{;.ª_µ~9-~~-e_
t.rataêTe ~effi_'~...E:@i.~~e__-sµé.éill.camen te-polític_os_, __e, .nes.$.e J.;:_ª~Q,_-ª~-- ª-ll~li§.~_nãQ...
apres'::1.~.~- ~~- ~ifer~Q_çiª_L_II_lªrcante ,v.is"".àv:vis as inv:estigaçõ~~ .1.19--çªmp_o_ da._
-Çjêll~ia Pc:i_Iítica (R~l~ç~c;:~s. ~~~ç_r_:n~çio,gais) . Es.&.~_ p_r_o_l?,l~I!!-~ .~~c?rre~ __c:!!D:__g-@g:_
Ae.nm:lig.a,.dll.diflçn\dade.de.SLJ!pli@.co .m.<$todo amlítico da l'J'l,Rll~.!!L
pende da incorporação de variáveis que transcend~-~~-~-g~~~~--9--~.~iY!!!.icl?~
-des inter~~-~~tais e di}~ii[xiiICa-ao·[fi_e:r~~ao~- ---~--··---·
Assim, livros e cursos de EPI correm o risco de, quando dados em faculda-
des de Economia, se re~tringirem a uma revisão das principais teorias a res-
peito do comércio internacional e das políticas de ajuste de balanço de paga-
mentos,jun tamente com uma breve história da evolução das principais insti-
tuições do sistema mundial de comércio e dos sistemas monetário e financei-
ro internacionais. Nesse tipo de curso, a parte da Economia Política tende a
se limitar à rivalidade interestatal. Por exemplo, a avaliação dos sistemas fi-
nanceiro e monetário internacionais formatados em Bretton Woods em 1944
tende a sobrevalorizar a rivalidade da Grã-Bretanha e dos Estados Unid9s,
bem como os duelos de determinados indivíduos (o inglês John Maynard
Keynes e o americano Harry Dexter White).
N"a era contemporânea, esse tipo ~e anáHse_ tamt>1E!~_!::ende a dar grande
tj
, ênÍ~~~à hegerrlOiíJ.a ·cros--~st_aéi~~ n.id~;~-E~sa -~~iti~-~~- natur;t;;_-;n te~n.ã·Õ-Signi­
fi~~-q~e-;; ri-Vã:iidãde iüí:erCSt~tai, OS-illéli~íduos e a hierarquia do sistema inter-
nacional não sejam fatores determinantes da dinâmica econômica interna-
cional. Muito pelo contrário<-.9.. q"!::l~- _es~a crític~ destaca é a freqüente ausência
de u~-~~c::_a_l?_o:u_çQ_ ~QI"lf~i~~-1.-~ _3:~_a_l.f.~_ç_o__q!!~ permita uma ~nálise qlle seja
~s~fi~"i~ntemente rigorosa e abrangente._9u seja, ÕqÚe-Se ve.iifi-ca é a a~sêrlcia-·
delim ffi[t;J;-figO-fõ.SQ-·de- tiatã.mento dos temas pertinentes à Economia
Política Internacional, que faça a interação entre a rivalidade in teres ta tal e a
luta intra-estatal.
Economia Política Internacional
ELSEVIER
16

Essa mesma crítica se aplica à EPI que é ensin~da


~ ···-------- -
··--·----·----~-
~~ .~~~~~~~~-~
--' --
~~- c.~ên~--
.
cias Políticas ou de ReiãÇoes_}.~_tei:!l_ª=c_io_~~is. Nesse caso,.,? ris_~_<?l__9'~~s_c:_ursos
-de EPI se·--~~~-~~nt;~~~~ ~-~ma apresenta_ção. da~_pi:i!l_~-~pais c_orr_en~§ _ d_~_,Re-_
lações-111 terii?-~Ci_Oflajs_,_j_igüid·a 4.~ um~_ªnâUi!~. -~~n.t_ÇJ~f~_i__E.9_!_1fQ __ p_i:,ofº~º-ª- ~...
·-pOuc~- rigorosa, da história do corp_ércio mundiah-dos_s_istemas monetário_ e_
·financeiro internacion_ais e dos _fluxos de i_nvestirnento. Quando se dispensa o
IííS"ú:um.entO-Cõ.Il~~it~~l e analíti~o··-d~-E~~~o~ia, os cursos e os livros de EPI
tendem a se concentrar na análise da evolução da economia mundial moder-
na, da globalização econômica contemporânea e da questão da hegemonia
dos Estados Unidos. De rr1odo geral, a discussão aparece segmentada em fun-
ção da ausência de uma análise teórica mais profunda referenciada às Ciên-
cias Econômicas. Ademais, tende-se à sobrevalorização do papel das institui-
ções multilaterais e dos arranjos jurídicos e institucionais.
Para superar essas deficiências, recomenda-se que cursos de Economia
PoÍítÍc~- ln t~rniCi0nal no B-Tasil Sejaín estiuttiia"dos--em tj_iiatro blocos; ·A Urti-
dàde ana1fúca entre esses blocos está referen-~iada não aos -temas tratados,
mas ao método utilizado.
O primeiro I:iloco_trata do .enfo4_ue._conceittu:!l, __t~Qtifº-~-~-r:t"ªlí_tj_ç_9__ ç!~I;'.~J,_
ou seja, da EPI como um~~é_!~':!_~~~ -~-~li~~-_ Os Capítulos 1, 2 e 3 deste nosso
livro se propO-em a Servi~ de base a discussão metodológica, que é de relevân-
ciafundarnental. Nesse primeiro bloco deve-se tratar dos fundamentos cientí-
ficos da EPI. O Capítulo 5 apresenta a análise empírica que enfatiza concei-
tos-chave como poder e vulnerabilidade externa.
O segundo 1JJ_g_c;Q__ a_pre~e11t_;:i_q1>_ÚJJ.ldª.i:!!..e~_t9~- teó_riC()S encontrados no_s _cam-
pos ..da-~~SQQ.Qmi~ Jnt_c;:r9g_ç_i9~_~l -e da Política I_nt~r~~ci-~·;;.~i.P~;;-;1~;.tOSd~
E;;;;~~ia, esse bloco deve dar ~aio~ ê~i~~~-ã~ .te~-ri;~·d;;Relações Interna-
cionais, enquanto a parte de fundamentos teóricos da Economia pode se limi-
tar a uma revisão das teorias apresentadas em cursos tradicionais de Econo-
mia Internacional. Para alunos da área de Ciências Políticas, a ênfase deve ser
nos fundamentos da Economia Internacional. Em cursos para alunos de ou-
tras áreas, o professor deve procurar um equilíbrio na apresentação dos con-
ceitos e das teorias existentes nos campos teóricos da Economia Internacional
e da Ciência Política Internacional. Nesse caso, incluem-se tanto os alunos de
faculdades de Direito, Administração, Sociologia, História, Geografia e ou-
tras, como também os alunos de Relações Internacionais.
No que se refere à análise econômica stricto sensu, o Capítulo 4 da Parte I
deste livro apresenta uma síntese das teorias sobre comércio de bens, transa-
-
~
ELSEVIER
Economia Política Internacional: Hé1odo de Análise

ções internacionais de serviços e investimento externo direto. Para un1a aná-


z7
)
)
)
)
)
lise mais aprofundada, recomendamos especificamente o manual Econo1nia
-)
Internacional. Teoria e Experiência Brasileira, de Renato Baumann, Otaviano
Canuto e Reinaldo Gonçalves, publicado pela Editora Elsevier em 2004. En- )
tretanto, a análise econômica stricto sensu é insuficiente para tratar de forma
)
mais profunda e abrangente (e, portanto, mais próxima da realidade) os pro-
ble"mas econômicos internacionais. E, portanto, é preciso entrar no can1po )
reórico das Relações Internac!onais. Nesse ca1npo, há bons livros de autores )
brasileiros, como Pecequilo (2004) e Seitenfus (2004). )
No terceiro bloco, o método da EPI é usado para se fazer tuna rctrospecti-
va hi~tó-;lCà~dà ·ec6ri0iliia ffiu1idiãl -(Ci;l_II!~_zç!Ç!_ sJ~t~~!1~--~?.~~t~Ei9,,.o'Y,,.fl!?:-~Ü),fii­ )
ro e in~~~Jtl!le_nto )_, be1_!1__ _ç9m_OJ-!..!TI.ª--ªn_álise da economia _1nundials.QQ~mpQ: )
râne~Ç~m ê~~~-e~-~~t~~ª-~-'!: glgl_?_aliz~.ç~q:/~~ jç!~ja ~e11n:.~l~-~;~~r a ~1tera~~­ )
--~A~~~-9-~--~_tp!-:e~ _Tltl:C_i_o_n~i~ _e;_ transnacionais, be1n como os determinantes da
)
~Sª9_4~-~-ç_~ __l:\J9r.~;;_._Alé1!1 disso, procura-se identificar claramente a dinân1ica
do sistema internacional, mais especificamente do sistema econômico inter- )
nacional, fazendo a distinção entre as diferentes dimensões e esferas que con-
)
figuram esse sistema. Ainda que a bibliografia seja bastante abundante, parte
expressiva dessa literatura tende a um certo viés econômico ou político em )
decorrência da ausência de um método específico para a Economia Política )
Internacional. )
A análise da evolução da economia mundial moderna pode partir do n1a-
terial apresentado nos livros de Economia Internacional. 1-Iá, também, inú- )
meros trabalhos escritos por analistas e cientistas estrangeiros e brasileiros )
que podem ser usados como textos básicos nesse terceiro bloco. Recomen- )
dam-se alguns dos textos da coleção Zero à Esquerda, da Editora Vozes. fvlui-
tos dos livros dessa coleção tratam de te1nas relevantes, ainda que o enfoque )
de EPI não seja muito evidente nos textos) que tendem a enfatizar a rivalidade )
interestatal ou questões estritamente econômicas. A grande tnaioria dos tex-
)
tos tende a negligenciar a rivalida_ste...en~re as classes sociais - rivalidade esta
que tem sérias implicações na, dinâmicà-.,das relações internacionais. Não j
• 1
obstante, recomenda-se que o professor s~lecione textos dos seguintes livros: )
Tavares e Fiori (orgs.), 1997; Ramon'êt, 1998; Fiori (org.), 1999; Fiori e )
Medeiros (orgs.), 2001; e, Fiori (org.), 2004. Recomendam-se, ainda, os livros
de Arrighi ( 1996, Capítulos 1, 4 e Epílogo) e Hobs bawm (1995, Capítulos 3, 9 )
e 14). Sobre o livro de Hobsbawm, ver a resenha no Quadro l.A.2, neste )
Apêndice.
J
)
)
l8 Economia Política Internacional ELSEVIER

O __~arto b_l9_~0 e_x_amina as rel_aç~es_~_s9_nômJç_ª.$._,i_:r:i,~f.Q..~fi._q_:qg.Js do_J)rasiL,


pri~~iP~í~~-~t~_ n.?.J~e-~~~-~-~~~~~~~~- (~~~-~-~-g!9.l;>al!~~S:!l21 sob~ ótica da EPI.
A Parte II deste nosso livro procura apresentar uma avaliação de temas cen-
trais da EPI no caso brasileiro. Livros escritos nos últimos anos sobre as rela-
ções econômicas internacionais do Brasil, que procuram aplicar o enfoque da
EPI, podem ser usados como leitura complementar nesse bloco (Gonçalves,
1994; 1999; 2000; 2002; 2003).
Cada um desses blocos poderia ter 15 horas/aula, o que compõe um cur-
so de 60 horas/aula. Não há problema algum em manter essa estrutura e
ampliar o curso para 72 ou 80 hoús/aula.
As maiores lacunas no panorama bibliográfico brasileiro encontram-se nos
bl.~s i-~~-:iJisie Ilosso livTo procuiã.-pféencher essaS·1acuilaS, servind~ de .
. base especificamente para esses blocos.
No panorama bibliográfico brasileiro, por um lado, há.inúmeros traba-
lhos no campo da Economia Internacional sobre questões específicas das re-
lações econômicas internacionais do Brasil (como o livro-texto de Baumann,
Canuto e Gonçalves, mencionado anteriormente). Por outro, há escassez de
títulos que analisem o comércio exterior, o investimento externo e as nego-
ciações diplomáticas do país sob o enfoque da Economia Política Internacio-
nal. Assim, outra especificidade deste nosso livro está na análise das relações
econômicas internacionais do Brasil com o enfoque da EPI. Com esse enfoque,
examinan1-se temas como: comércio exterior de bens, transações internacio-
nais de serviços, investimento externo direto, negociações internacionais, pro-
jeto de formação da _ALCA e a relação do Brasil com o FMI.
Deve-se destacar, mais uma vez, que não há o campo teórico específico da
Economia Política Internacional. E, portantoz. não há u_~a _!:t:!~Ei,~__ g~r_~_l__Q._~_
EPI. De fato, a EPI é, ante,s_Q.",_t_udo,_!!_rg_mªodg~d-~análise, O primeiro obje-
tivo deste livro (Parte I) é apresentar, da forma mais didática possível, esse
método e seus fundamentos. O segundo objetivo (Parte II) é analisar as rela-
ções económicas internacionais recentes do Brasil sob a ótica da EPI. O ter-
ceiro objetivo é de natureza didática e procura preencher uma lacuna no
panora1na bibliográfico brasileiro e, portanto, oferecer um livro-texto de EPI
para ser usado em cursos de Relações Internacionais, _Economia, Política,
História, Geografia, Sociologia, Direito, Administração e outros.
Este livro está, então, direcionado para os cursos específicos de EPI no
nível de graduação (como livro-texto básico) e para cursos de especialização
em áreas afins (como livro-texto ou livro de apoio) no nível de pós-gradua-
~"
'..i,&. Economia Política lnlemacional: Método de Análi~e ;· J}
ELSEVIER

ção. Na realidade, este livro está direcionado a todos aqueles interessados na


compreensão de um método analítico e na dinâmica do mundo con temporâ-
nr.o, sejam estudantes ou profissionais de diversas áreas.

Globalização Ocorrência simultânea de três processos, a saber, a expansão extraordinária dos fluxo~
econômica internacionais de bens, serviços e capitais; o acirramento da concorrência nos mercados
mundiais; e a maior integração entre os sistemas econõmicos nacionais (Gonçalves,
2003, p. 21-22).

Mercado "Local de encontro para a finalidade da permuta ou da compra e venda" (Polanyi, 1980, p.
71); locus de encontro da oferta e da demanda.

Neoliberalismo Hegemonia nas esferas polftica e econômica da maior.liberdade para as forças de


mercado, menor intervenção do estado, desregulamentação, privatização do patrimõnio
público, preferência revelada pela propriedade privada, abertura para o exterior, ênfase na
competitividade internacional, e menor compromisso com a proteção social.

Poder "A probabilidade de que numa relação social um ator estará na posição de realizar sua
própria vontade apesar da resistência." (Weber, 1964, p. 152)

Política "Participação no poder ou a luta para influir na distribuição de poder, seja entre Estados
ou entre grupos dentro de um Estado." (Weber, 1974, p, 98)

Estado Instituição com "o monopólio do uso legftimo da força flslca dentro de um determinado
território" e "núcleo do exercício do poder porrtico"; no qual as distintas forças polít!cas
resolvem seus conflitos (o campo da luta de classes) (Weber, Pou!antzas).

Nação "Grupo humano consciente de formar uma comunidade e partilhar uma cul!ura comum,
ligado a um território claramente demarcado, tendo um passado e um projeto comuns e a
exigência do direito de se governar." (Gulbernau, 1997, p. 56)

Estado nacional "Tipo de estado que possui o monopólio do que afirma ser o uso legítimo da força dentro
de um território demarcado, e que procura unir o povo submetido a seu governo por meio
da homogeneização, criando uma cultura, sfmbolos e valores comuns, revivendo
tradições e mitos de origem ou, às vezes, inventando-os." (Guibernau, 1997, p. 56)

Nacionalismo "Sentimento de pertencer a uma comunidade cujos membros sé identificam com um


conjunto de símbolos, crenças e estllos de vida, e têm vontade de decidir sobre seu
destino político comum." (Guibernau, 1997, p. 56)
30 Economia Política Internacional ELSEVIER

Quadro l.A.l (continuação)

Vulnerabilidade Expressa a capacidade de resistência das economias nacionais a pressões, fatores


externa desestabilizadores ou choques externos em função das opções de resposta com os
instrumentos de política dispon{veis e dos custos de enfrentamento ou de ajuste diante
dos eventos externos (Gonçalves, 20Q3, p. 34).

Fontes:
GONÇA1VES, R. O Nó Económico. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2003.
GUIBERNAU, M. Nodonofismos. O Estado Nodonol e o Nodonolismo no Séw/D XX. Rio de Janeiro: Jorge Zdhilr, 1997.
POLANV, t<.A Grande Tronsformaçõa. As Origens do nosso i:por::a. Rio de Janeiro: Edi1ora Campus, 1980 {l944).
POUlANTZAS, N. l'Etot, le Pouvofr. /e Socia/isme. Paris: Presses Universltaires de france, 1978.
WEB~R. M. En5aios de Sociologia. fdirodo por Hons Certh e C. Wright Mi/Is. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974.
WEBER, M. The Theory of Sacio/ ond fconomic Organiiorion. Edited with an tntroductlon by Talcott Paisons. Nova Yor~: The Free
Press, !964.

O livro de Eric Hobsbawm, Era dos Extremos. O Breve Século XX, 1914-1991 (Sdo Paulo,
Companhia das Letras, 1995), foi preparado para um público ndo-especializado e
apresenta uma visdo abrangente da história do século XX. Nesse livro, o autc:ir também
trata de alguns ternas da Economia Política Internacional.
O livro argumenta que o "curto século XX" começou ê.m 1914, com o início da Primeira
Gue.rra Mundial, e terminou em 1991, com a queda defiAIÍiva do regime comunista na
antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),· Essa C?racterização do curto
século XX contrapõe-se à análise do século XIX como um século longo, que teria
começado, efeti.vamente, em 1789, com a Revolução Francesa, e se encerrado com a
eclosão da Primeira Guerra Mundial. O "longo século XIX" foi analisado na trilogia clássica
de Hobsbawm, que é a sua obra maior, com os livros a Era da Revolução, a Era do Capital
e a Era do Império.
O "curto século XX" é analisado seguindo a periodização já conhecida: a primeira fase
trata do período entre guerras (1914-1945); a segunda fase abarca os anos dourados.do
sistema mundial ( 1945-1973), marcado por uma grave crise econômica a partir de 1973;
a terceira e últirna fase refere-se ao período pós-1973, até a ruptura do bloco soviético em
1991. A distinçdo básica entre a periodização da Era dos Extremos e outros trabalhos do
género "circuito de horizonteª é que Hobsbawm considera que 1991 encerra um período
importante na história da humanidade, quando da ruptura do bloco soviético.
O livro de Hobsbawm está organizado em três blocos, cada um tratando das fases
mencionadas anteriormente, que ele denominou Era da Catástrofe, Era de Ouro e Era do
Desmoronamento, respectivamente. Para cada uma dessas fases ou eras, Hobsbawm
apresenta capitulas tratando de questões especificas. Entretanto, talvez a melhor maneira
de encararmos o livro é co;•;:Jerando os seus blocos temáticos, no lugar de seguir
seqüencialmente as fases do periodo. O livro trata, em mais de um capitulo, de cinco blocos
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Economia Política Internacional·. Hérodo de Análise ll
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Quadro l.A.2 (continuação)
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de grandes questões, além de quatro temas específicos que são tratados em capítulos
individuais. Os cinco blocos temáticos são: economia, política internacional, cultura, )
comunismo soviético e Terceiro Mundo. Para cada um desses temas, Hobsbawm faz um
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capítulo referente a cada fase do "curto século XX', a saber; Economia: capítulos, 3, 9 e 1'I;
Politica Internacional: capítulos 4, 5 e 8; Cultura: capítulos 6, 11 e 17; Comunismo soviético: )
capítulos 2, 13 e 16; e Terceiro Mundo: capítulos 7, 12 e JS. Outros quatro temas são
tratados em capitulas individuais: Conflitos e massacres: Capítulo l; Mudanças sociais: )
capítulo 10; História das ciências: capítulo 18; e, Agenda de problemas: Capítulo 19.
)
A parte mais interessante de todo o livro é aquela que trata da experiência de
"socialismo real" nos países do antigo bloco comunista sob a liderança da URSS. A história )
das relações políticas internacionais concentra-se na análise da ascensão do fascismo na
Europa nos anos 30 e nas lutas antifascistas, assim como na Guerra Fria, que vai do finai dos )
anos 40 até o final dos anos 80. Deve"se notar que em 1948 os Estados Unidos
)
ameaçaram inteNir militarmente caso os comunistas vencessem as eleições na Itália. O fim
da Guerra Fria foi formalmente definido com os tratados negociados entre a URSS e os )
Estados Unidos em Reikjavik em 1986 e em Washington em 1987, que interromperam a
corrida armamentista e regularam a· capacitação militar no que se refere às armas nucleares. )
As questões econômicas são tratadas por Hobsbawm nos capítulos 3, 9 e 14 seguindo )
a linha dos livros de Economia Política Internacional.
Entre os capítulos mais interessantes está o primeiro, que trata o século XX corno a Era )
da Guerra Total, destacando os massacres e os conflitos bélicos no periodo. O argumento
)
é de que em toda a história da humanidade, que no século XX atingiu o mais elevado grau
de civilização e de progresso das ciências, também se chegou a um estágio de barbárie )
igualmente recorde. Nesse século de massacres, talvez oitenta milhões de seres humanos
tenham sido mortos em guerras mundiais, regionais ou localizadas. )
No último capítulo, Hobsbawrn apresenta algumas reflexões sobre os principais temas
)
da atualidade. Dentre esses temas cabe destacar: riscos de conflitos bélicos, fracasso do
modelo neoliberal, ruptura ou enfraquecimento das utÜpias ideológicas e religiosas, )
problema demográfico, crise ecológica, desemprego, papel do Estado-nação,
individualismo e despolitização, influência política dos meios de comunicação e futuro da )
democracia. )
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