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Reinaldo Gonçalves
Economia
Política
Internacional
Plll•••l#!!i!!i
DISTRIBUIÇÃO CAMPUS
EXCLUSIVA PARA
PRCF'ESSORES
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Economia Política Internacional: ()
Método de Análise 1)
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Ló ia - na versão cinematográfica ou na fliada e na Odisséia de I-Ion1ero - )
sugere algumas interpretações a respeito das causas e conseqüências da guer-
r··ra que ocorreu há 23 séculos. Quais foram os fatores deterrninantes desse )
! evento histórico? O politólogo afirma que o fator determinante foi o projeto )
\de poder de Agamemnon, rei de Micenas, no sentido de expandir, unificar e )
consolidar a Grécia. O geopolítico argumenta que a conquista de Tróia deri-
vou da posição geográfica e estratégica dessa cidade, situada na entrada elo )
estreito de Dardanelos, que liga os mares Egeu e de Mármara sendo impor- )
tante rota de navegação entre o Oriente e o Ocidente. O sociólogo avalia que )
a guerra de Tróia resultou da ação dos estamentos militares das cidades-esta-
do gregas, ou seja, nobres que procuravam manter posições de prestígio e )
influência por meio de contínuas atividades guerreiras. )
O economista conclui que o importante mesmo foi o interesse dos arma-
dores gregos, que acumularam riqueza com a construção dos n1il barcos usa-
J
dos na guerra. O advogado foca o problema no seqüestro de I-Ielena por Páris, )
que recebeu a proteção de seu pai Príamo, rei de Tróia, gerando o conflito )
com as outras cidades gregas. O psicólogo eh.ama atenção para o papel do
~
indivíduo na história e ressalta a ânsia de glória de Aquiles, o semideus; a
bravura de Ajax, o mais valente guerreiro grego depois de Aquiles; a sede de )
vingança e a ira de Nienelau,'tei de Esparta e marido traído por I-Ielena; a ~
vaidade de Páris, o conquistador de I-Ielena; a coragem e a sabedoria de I-Iei- _)
.)
Economia Polilica ln!ernacional ELSEVIER
tor, irmão de Páris e filho de Prían10; a insensatez de Príarno, rei de Tróia, que
permitiu a entrada do famoso cavalo, "presente de grego"; e a solércia de
Ulisses, rei-de Ítaca, personagem de destaque na Ilíada e personagem central
na Oclisséia. E, por fim, há, ainda, aqueles que, ao verem o filme, destacam
como fato causador da guerra os lábios e os olhos de Helena!
A guerra de Tróia seria mais um evento histórico (ou uma peça ficcional)
desinteressante, se fosse explicada por um único fator determinante. A guer-
ra de Tróia tem valor simbólico não só por ser tema das obras clássicas de
Homero, mas também por mostrar a complexidade das relações humanas.
Essa complexidade envolve a interação de fatores heterogêneos como a ânsia
de poder e glória-:-- os principais determinantes da conduta do ser humano,
segundo o filósofo Bertrand Russell (Russell, 1938, p. 8). Ou, então, a ação
humana é determinada pela obtenção de riqueza-~-.~ l~teresse econô~ié-oj
como determinante principal dos eventos e transformações históricas na vi--:
são de Marx e, também, ~º.~ºvariável-chave da ação social, segundo Weber.
Não precisa1nos entrar no debate metodológico entre individualismo e holismo
para identificar a importância tanto dãtfVariáVéiS"-c-eSffé'CífiCal; (isto é, indiví-
duos) quanto das variáveis·sistêmicà:S,1( ou seja, modo de produção) para expli-
car a dinâ1nica da conduta humana ou das relações internacionais.
Economistas, politólogos, sociólogos, geógrafos, advogados, psicólogos e
outros profissionais têm olhares distintos a respeito de um evento histórico
corno a guerra de Tróia. Se fôssemos examinar esse evento com as lent"es espe-
cíficas da Economia, Ciência Política, Sociologia, Direito, Estratégia, Geogra-
fia e Psicologia, a análise seria incompleta e distante da realidade. O mesmo
ocorreria se deixássemos a análise da guerra de Tróia com especialistas de
Economia Internacional - além de incompleta e irrealista, a análise do eco~
nomista seria, muito provavelmente, entediante. Na realidade, todos os espe-
cialistas têm uma certa razão no exame do evento em questão, ou seja, todos
têm uma contri?uição específica, mas que não captura a complexidade e a
heterogeneidade do fenômeno.
-/ AEconon1ia Política Internacional (EPl)fprocura superar essas limitações
específicas de cada campo teórico ao apresentar um1E_!foque ~!lalíti~_o eclétiçpl
ou abrang_ente p~ra os fenômenos próprios do sistema internacional,.em ge-
·r·a1,-e do sistema econômico internacional, em particular. Esse enfoque ~clético '.
remonta, na realidade, ao entendimento da Economia Política não como um;
corpo teórico fechado com "leis de aplicação universal", mas,--sim como ~/
aplicação da teoria aos problemas do- mundo real cbm a ajuda de outras ciên-
~
ELSEVIER
Economia Polílica Inter.nacional: Método de Ana1ise 5
Quadro 1.1 · . _ . :.
ffDesde o século XIX,_ ... distinções foram feitas entre uma ciência e uma arte da economia
política, a primeira sendo vista por muitos economistas como um corpo de teoria pura de
Validade universal, a última como a aplicação da teoria aos problemas do mundo real com
ou sem a ajuda de outras ciências sociais. Pelo final do século [XIX] o termo economia
política foi sendo gradualmente superado, nos países de llngua inglesa, pela simples
palavra Economia ... A mudança de nome .. não aboliu os problemas ou a discussão de
escopo e método.N (Bullock e Stallybrass, 1977, p. 481)
NA expressão clássica Economia Política, que predominou universalmente até quase o
término da primeira metade deste século [século XX], foi criada por Antoine de
Montchréstien de Vateville (Traité de l'Economie Politique, 1615), significando a arte de
bem gerir as finanças do Estado. Foram os fisiocratas franceses os primeiros a dar a essa
expressão o conteúdo semântico de ciência teórica que, posteriormente, passou
apropriadamente a designar a relação necessária da matéria especificamente económica
com a via social regulada pela polftka." (Seldon e Pennance, 1977, p. 169)
"O principal objeto da economia política de todo país é o aumento da riqueza;;e do
poder;desse pafs." (Sniith,:"1776, p. 352)
uE~onomia: o estudo da produção, distribuição e consumo da riqueza na sociedade
humana". (Bannock et ai., 1998, p. 122)
Definição de Lionel Robbins: NA Economia é a ciência que estuda o comportamento
humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos:'
(Seldon e Pennance, 1977, p. 168)
Fontes:
G. 8annock et ai., Diclionoty of Economics. londres: Penguin 800\:s, 1998.
Adam Smith, An lnquiry into lhe Na/ure ond Causes of the Weo/rh of Norions. Nova York: The Modem libraiy, 1937 (1776).
A. S. Seldon e F. G. Pennance, Oidondrio de Economia. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1977.
A Bullod: e O. Stallybrass. The fontano D/c/ionary of Modem Thought. londres; Fontana: Collins, 1977.
lcias sociais. E, desde Adam Smith, a Economia Política trata de dois temas:'
._riqueza e poder (Quadro 1.1). ,..J
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Economia Política Internacional: Método de Análise 7
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de independentemente da vontade alheia. A política trata, então, de maximizar ")
essa probabilidade.
)
É fato que tanto a política quanto a economia são relacionai.S;pois depen-
dem da relação com o outro, ou seja, de cada ator político (indivíduos, gru- )
pos etc.) ou agente econômico (consumidor, produtor) com outro ator ou )
agente. Entretanto, as relações humanas e, portanto, o rebatimento dessas
)
relações na arena internacional transcendem as lógicas tão objetivas quanto
restritas da economia e da política. Ou seja, as relações hun1anas, tanto no )
plano interno como no internacional, não se restringem às lógicas restritas )
dos interesses materiais e do poder, ou do mercado e do Estado. )
Não há dúvida de que as relações econômicas e políticas são detertninadas
)
por uma {iubjetividade específic~r (que envolve tradição, valores e ideais) e
por uma subjetividade dispersa ('que repercute o "insondável abismo" da alma )
humana). Essa última reconhece que os homens também se comportam segun- )
do seus caracteres e circunstâncias, assim corno segundo vícios e virtudes os\
)
mais distintos: inveja, ira, vaidade, arrogância, prudência, temperança, cora-
gem, compaixão, preconceito,justiça, misericórdia, tolerância, solidariedade, )
cooperação etc. E não esqueçamos que o acaso faz parte dos processos sociais e, )
portanto, também é u1n determinante da ação do homem na sociedade. ,' )
/
Os interesses podem prevalecer sobre as paixões {Hirschman, 1977). No
)
entanto, é impossível entender a história humana, inclusive a política, se1n a
compreensão do papel dominante das paixões sobre os interesses, be1n como )
do papel, por vezes predominante, da i~sensa~~;·,-.Cj_ue fazen1 co1n que a ação )
política seja contrária aos próprios interesses. Conforme mostra Tuclunan
)
(1984), não faltam exemplos históricos importantes da "marcha da insensa-
tez", com repercussões mundiais: a cisão protestante nos séculos XV e XVI; a )
revolução e independência dos Estados Unidos no século XVIII; e a derrota J
americàna no Vietnã no sáculo XX. í
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Esses fatos indicam, na realidade, que a Economia Polític_a Internacional
/hão pode ser entendidª-•--·~çlu.sjyªmt~t<;.~Q~~~-~-ç_9~~~-~T~_di.P9lí~~~~i~te!"- -
)
E-acion~~~~E.S>li~~~-~-c!-'! ~_c_onQrn_ütjD_ter!lªcionaI.~t-~~i11Jç.ioJÜ~J<.t 2 ";r:i_f?_q~~--.9·ª )
EPI (à laGil~_!.~)__q_~~ !J.'ata as relações econ~_~icas internacionais (leia-se, re- )
- ' ' -···-·"··-·-------------------·--·-·· -- ... _ ----·- .. '' ----~----
)
8 Econom1a Política Internacional ELSEVIER
(~~º?~~~p;;~~i1!~:~~7tl:;~~~~=~~~;~;_;~~!A~~~~~~it:.··
!- V;p~re~I:?s a1~~!ít~c~s e _teqri_as pa_ra _o rnéto_çlp _abrangente da Ecoilorii_i~ ):~9_li__ti-..
ca -ln.terna~ionaL
\ "---. -------~------
Na realidade, a EPI ancora-se não somente nos fundamen-
tos teóricos da Economia Internacional e da Política Internacional, como tam-
bém nas contribUições de outras ciências e áreas de conhecimento como Geo-
grafia, I-Iistória, Sociologia, Psicologia e Direito.
O uso do enfoque da EPI não é recente no âmbito das relações interna-
cionais, ou seja, aquelas que envolvem relações entre residentes de pelo me-
/ nos dois países ou relações entre atores transnacionais. !:~~~.9._ e_?'-<::rci,tap.dq_ a _
r!-Pl t()_d~s o_s analistas que, de uma__~OX!Jl_<o\. QU_de 9utra_, procuram analisar as
1 ,Jel~ções internacionais a partir da-1nteraçao entre as._ç1_e_Q.ç1a;i .d~ EconomI.a _e
·aa EPI moderna, vale mencionar que Robert Gilpin esteve vinculado ao..Ce_n_ter '?
oflntemational Studies da Universidade de Princeton, enquantq_?usan Gp?,i~
começou suas atividades acadêmicas no Royal Institute oflntematiÔilã.I-Aff:iirs,
ambos como professores da área de Relaçõ_i;s Políticas Internacionais.
A melhor demonstração do "·viés polític~ 1 r no âmbito da EPI é o fato de --J
que as classificações das perspectiv~;teo-n.cas·'da EPI tendem a coincidir con1 \
--~---------- -- .,- - --- .--- • - -- -- • -- -· • - - •- j
Fof/les:
O. N. Balaarn e M. Veselh, ln1roductôon lo lnternotionol Po/itico/ Economy. Englewood: Prenlice Hall, 3• ediç3o, 2003.
K. Burch e R. A Denemark, Constituting /nternoliono/ Pan·ca1 Economy. Boulde1: tynne Rienner Publishers, lnc., 1997.
C. Chavagneux, Economie Politique lnternotiono/e. Paris: La Décmiverte, 2004.
T. H. Cohn, Globo/ Politicof Econamy. Theory ond Proclice. Neva York: longman, 2' ediçao, 2003.
G. T. Crane e A. M. Amawi (eds.), Theoreticof Evalution o( lnternotiono/ Po/iticol Economy. A Reoder. Oxford: Odord University
Press, 1997.
R. Gílpin, The Politicu/ Eccmamy o/ lnlemationol Re/otions. Princeton: Princeton University Pcess. 1967.
G. Kebabdjian, les Théorif's de l'Econamie Politique /nrernotionole. Paris: Editions du Seuil, 1999.
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ELSEVIER
Economia Polí!ica Internacional: Hétodo de Análise 11
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)
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prias de campos teóricos especializados por meio de um método cujo objetivo 1
é capturar a essência d~ relações internacionais. Portanto, a EPI é um méto-
)
do na medida em que utiliza conceitos, teorias e aparelhos analíticos prove-
nientes de diferentes campos teóricos, principalmente da Economia, da Polí-
tica, do Direito e da Sociologia. '!
Iniciemos a discussão com a proposta de um conceito de EPI, ou seja, pela
)
sua representação por meio de suas características gerais.
)
A EPI é um método de análise que tem como foco a dinâmica do sistema econô1nico )
internacional e~~;~-;;;-df;lfui;J ~ifirO.S' e·aimensões, 4ue resuuãdaS-déCFs'óeS~êã'ÇOeS
)
.}!·~a.T~i-~~~~~-;~~~is~·~:.tran_$?J:~a-~i~1lél-Z-s, 'iüJd-CôTtdUtlz i ditermi7iàâtij1orfaiüreS-ob}e- _
~~~!1__~-~ e_s_u]Jjetivos, )
)
A dinâmica __QQ___sistema __econômi.c.o.lDJe_rr:!.~_çjQ_n-_al __~om2reende relações~\
)
'í\ processos -~_'estrutur~s. As _E.~4.ÇÔ.es signific~):P.JGraçãb°~;\s_esf~:a~_!!.fü.q :;~~=-
~---~~-~------- - '
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tW~s:{ã;_Q~iJiü~J;;Jª1:~ª-.pl_u_r:UateraLe.amultilater~LQ§_.a~o~e~ . ~_~\iona~~--e tra~s:_~ )
nacionais s_áo _esta_tais,_ para_estat_ais _e não_~statais. A _conduta d~~ses atores é
)
· determin~d~ Po~ fat~r~s obj~ti~O-~:~·~;;~- ~-s i;;~~r~~~~~-~~-t~~i;_i~ Di~~aÇão· de
. r1quez·a5·-~·--pOiítíCOS -(ge.râÇãO"'êíe- pó·deT); e··por fator~-~ -su-bjetivos (com desta- )
que par-a os va10res..·e-os·1a-eãíSJ~~-- )
~- ---x;·si~~-·~~~~f~~~-;b~"Il-gerltê da EPI permite associar uma análise econôrni-
)
ca e política profunda a uma apreciação ideológico-cu] tural fina. O esquema
analítico básico da EPI (Quadro 1.3) envolve o uso do método abrangente pro:--1 )
, 1/ p~sto aqui anteri9_rmente. Segundo esse esquema,_<1; E::r?I procura identificar as . : )
'. riioti:y~ç_õ.~~--º-ª-ªÇão)qs __~tgr.Ç'!_,s.qµe_.op~ram.n_o_ ~.ist~JP..ª iµ.te_~'!lª~~~-~-<:1.l.~_Ço111 rela- ,
)
\ çàõ··ao-sistema·ecbríômico internacional, é analiticamente importante distin.:--'
guir as esferas e dimensões de atuação dos atores nacionais e transnacionais. )
A melhor definição ou compreensão do método da EPI exig·e esclareci- )
mentos quanto a alguns conceitos-chave.
)
Iniciemos com o conceito de~ que __EOde se:c_enten<l_ido.~~~!9._~.~ll
como "9..1.:1~(1-_lg~e[ c_onjµnto.de~a:riáv.eis em.interaçãg:~ (Dougherty e Pfaltzgraff, 1/ )
·-Jr., i97J, p. 102). A interação de variáveis no sistema internacional se expressa )
num conjunto integrado de relações, processos e estruturas. No s_i~~c1na _~11~er~
)
nacio_n~),_ a.. _rrdaçfi,p_~~-um_ "ato-~~ _!1~~-r~z_a_ determi_nada-"__e1_1volve~çlo.r~ lo rn_e-_.
--;-~~-dois.-ªJ9I$1L§.~_sliÍe~e-nte~--~-~-~~?.-~.i!~i~es .9~-itq_~-~-~~-~~i:.aci2~--~~Jl-Uto- -. )
,.C!:~~~--_gp;:~~~u.1.___uyoluç.<!Q)~-m..~-~~--~.§._Qecifican1ente a ~ão çl~~.cstar.1-QS__QU,... )
)
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11 Economia Política Internacional ELSEVIER
Quadro 1.3 .
DIMENSÃO ESFERA
Bilateral Comercial
Plurilateral Produtivo-real
Multilateral
Tecnológica
Monetário-financeira
ECONÔMICO
Político Cultural
SISTEMA INTERNACIONAL
ATORES
Estados Org. intergovernamentais
Empresas transnacionais Banca internacional
Org. não-governamentais Opinião pública e mfdia
Grupos sociais Grupos de interesse
Classes sociais Indivíduos
DETERMINANTES DA AÇÃO
Interesse material Poder
Valores e ideais Subjetividade dispersa
SISTEMA INTERNACIONAL
_No sistema internacional, Cl:S.J:~~La,Ç_Q.ç:,s__g~ _ç9_1!_[lj_t2_~~~.,situações
de equilí-
_E~iq_i_~~~ve~~ffuaÇõe~.~~~9,uilÇ!:?xü~-'"nJJ_rg, con~e_xto di_~ªfi?.i.~, asseg_t;!llTu-
se em relações de conflito. O sistema internacional é, na sua essência, um
··-- --.-.--------------.~------------ -·· ... "••··-·-.
... _
.... ---- - -
sistema dinâmico .q~_e_ eJ:lvol_ve .Poder e 1 portanto, é um sistema de conflito
perffiãilelltê·(~berto o;~·~UítO) ~· ~quilíbrio instável. Assim, no sistema inter-
nacional,~ guerra e a paz, a har~~<!:_.<7_.~5.Q_ºJ.li!;Q)J'ª-Q.§~Q!Jµs C:~-~L~~~~º~·
e, sim, meios_ de se alcançarem objetivos específicos nos camP.?.s.. eço_i:i{im,i~_<:»_
Po~êcltITTaiCflii.li~~Ne;;;;r;tema <liiiãffiíC·~;r~-Çõ~; e processo~ pro~
vocam mudanças nas estruturas.
Ecàn ~·ini ~ ·Po·1 ílii~r :ín~~r·nci·Ci·~·~a i :_·. p ~íriéip3i·s leT_~s- 'fr at.âdo~
Comércio internacional X X X X X X X X X 9
Sistema monetário/financeiro internacional X X X X X X X X 8
Empresas transnacionais/investimento externo direto X X X X X X X 7
Hierarquia/hegemonia/Estados Unidos X X X X X 5
Desenvolvimento económico/países em desenvolvimento X X X X
Integração regional X X X X 4
Dívida externa X X X 3
Países em transiç~o/Rússia/China X X X 3
Governança global X X X 3
Segurança X X 2
Tecnologia X
Energia/petróleo X
Meio ambiente X
Alimentos e fome X
Normas trabalhistas X
Desigualdade X
Estabilização macroeconômica/inflação X
Fontes: J. Frieden e O. lake (eds). lnternotionol Po/ifico/ Ei:onomy. Belmont: Wodsworth, 4• ediç~o. 2000.
D. N. Sataam e M. Veseth, lntroduction to lnternotionol Po/iricol Economy. Englewood: ?rentice Hall, 3• R. Gi1pin, The Po/itko/ Economy of lntemotionol Re/t:Jtions. Pririceton: Princeton University Press, 1987.
ediç3o, 2003. J. M. M. Grieco e G. J. lkenberry, Sro!e Power ond World Morkeis: The /n/ernationol Politicol Economy.
C. Chavagneux, Economie Politique lnrernotionole. Paris: La D~couverte, 2004. Nova York: Norton, 2003.
T. H. Cohn, C/obo/ Po/i1ia1/ Economy. Theory ond Proctice. Nova York: Longman, 2' edfçao, 2003. G. Kebabd)ian, Lei; Théories de /'Economie Politique /nternotionole. Paris: Editions du Seuil, 1999.
G. T. Çrane e A. M. Amawi (eds.). Theorericol Evolu1ton of lnternotionol Polí~"col Economy. A Reoder. S. J. Maswood. lnternotionol Pofü"co/ Economy ond G/obo/izction. New Jersey: World Scientific
Oxford: Oxford University Press, 1997. Publishil'lg Co., 2000.
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ELSEVIER
Economia Polírica Internacional: Mé!odo <le Análise 15
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1
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O sistema internacional envolve três su_l:i~i_steµias ou siste:rnas básicos, que
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s~q intê:Q.~_p-~p.Q~_I)J_e_~---~-~ses_ si~ten;ias_,são ()_ :eol(~ico;_o -~ul_tl1ral e· o econ?mico.
-- ·c-~-m relação ao sist~;;.-a polític~~"-~pt;;;.-~s--p~; s·~glli-r a'definiçio filais )
,l
nizado por Bobbio et al. (1994): "Sistema político refere-se a qualquer con-
junto ~~-~n._stituiçõ_~~·__g_~1!.Pº. ~ º-~ pr~c.esSO·s· pof~tlCo_~ -~a_r~cte~i;,~d~-~-~-?-~ ~:1:.
certo grau de interdependência recípro~á"; Nesse sentido, no sistema políti-
)
)
~
De fato, é difícil compreender a dinâmica dos processos de desenvolvi-
mento científico e de inovaçã~ tecnológica nos países desenvolvidos Sé::rii.fe-
ar em conta as estratégias e as políticas dos Estados-nacionais, tanto no que
se refere ao desenvolvimento econômico quanto à estratégia de defesa nacio-
nal. Isso é evidente nas análises clássicas de Alexander Hamilton, no Relatório
sobre as Manufaturas ~os Estados Unidos, em 1791, e de Georg Friedrich Li-;t~\
no Sistenia Nacional de Economia Política na Alemanha, em 1841. O nacionalis:.
1
mo econômico de Hamilton e de Listou as· políticas do Pentágono fornecem
~r/; :Ó1 (f urna lição básica: "O poderio econômico na produção é a chave da segurança
~~.&'nacional" (Earle, vol. !, 1980, p. 166). Não é por outra razão que tanto Hamil-
:(1 ton como Listsão incluídos entre os grandes mestres da estratégia (ibid.). No
que se refere aos Estados Unidos, tomemos a declaração de Hamilton-{-I-'7-91,
p. 88): "Não somente a riqueza, mas a independência e a segurança de um
país parecem estar intimamente ligadas à prosperidade das manufaturas."
A relação orgânica entre sistema nacional de inovações, desenvolvimento
econômico e poderio militar também é marcante nas análises mais compe-
tentes e abrangentes a respeito das políticas do governo dos Estados Unidos
relativas ao seu moderno complexo industrial-militar (Medeiros, 2003). Me-
lhor evidência disso foi dada por Dwight D. Eisenhower, general, republicano
e presidente dos Estados Unidos no período 1953-1960, que no seu discurso
de despedida afirmou: icEssa conjunção de um imenso aparato militar e uma
enorme indústria de armas é nova na experiência americana. A total influên-
cia- econômica, política e, mesmo, espiritual - é sentida em todas as cidades,
estados e órgãos do governo federal." (Eisenhower, 1961, p. 229)
Vale destacar, também, a tradição, que vem pelo menos desde os séculos
XIV e XV, que identifica a forte relação entre riqueza, poder político e a
organização militar. Já no século XVI, no seu livro Discursos sobre a Primeira
( Década de Tito Lívio, Maquiavel defendia a tese de que "o poderio militar é o
fundamento do poder político e que o dinheiro só se torna uma força polí-
tica na medida em que ela é realmente convertida em capital militar" (Gilbert,
1980, p. 26).
~ELSEVIER
Economia Polflica Internacional: Hélodo de Análise 17
!!!
ELSEVIER
Economia Política Internacional: Mélodo de Análi~e 19
J
)
)
nal referem-se à dimensão plurilateral; e as relações entr~ países no Banco 1
Mundial ou no FMI são na dimensão multilateral.
)
)
VULNERABILIDADE EXfERNA E PODER
. --- --· ·----..._,_ )
Há temas quê permeiam as)quatro esferas que compõem o sistema econô-
. -.----.-'-.....-;-- --- ---·------··.:'_____ ______ --- - --··----·-,--.~---------~----~
,_, )
m1co 1ntemac1onál-En-tre-ésses, os temas ·da vulnerab1hdade exterJ).a._e_do
:!~!=~~::~~::~;I:{~~r~;~:;::~I!:t:f~:~J~~é:~~~:~::~;]
)
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sim, a vulnerabilidade externa é tão maior quanto menores fore1n as opções
de política e quanto mais elevados forem os custos do processo ele ajuste. A
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2O Economia Política Internacional ELSEVIER
l
, -~~·: i?2ri:a~to, d~spensar o ~so d~_ forçã e c!~yj.plê~i;t. A-l~_gitiffiJ~istç_~~r.se~·
~P-odej._'=~J.Y.~~-~-~~~:Yç~-~-e do cari_sma, ou_teruil1 fundaniento racio_nal~-
..~~g3tL,.J:'rata-se do poder do-pãâ.~~:~-éi~-fíd-er-õu-dO-b~foCiata~ NeSses-cásOS; o.
poder baseia-se no consentimento~ e não na coação ou na violência_._l:!_~_au_~<?:__
-~X.:.~~-~~!11º Hanna Arendi que ·argumentam que a coação fís~Çll: ºll a yiolênc~a.
- . ---- ----- --- - -.. --· - .
Economia PolíCica Internacional: Hétodo de Análise 21
SÍNTESE
Neste capítulo procura-se mostrar que a EPI é, antes de tudo, um método
de..;~á"ii~e:~6sfünaa.ifü:lltõS:1e.õiiCcí~tdi.ElideV:em-.sei.buscados_em_c_anipq~ ..
-~~Eecíficos do_ c~~I_!!!;:_Q!9_, rCQJil._QJJ,~;g_co~,9.E-:-~~.!~--ÇJ!~c}.~"J?ol~~-~~~-~-~E~
e o~·t;~~-Nes~;-~~ntido, há inúmeros conceitos que transcendem a Economia
e que são fundamentais para a EPL No Apêndice, o Quadro l.A.l. apresenta
alguns dos conceitos fundamentais.
A partir de uma crítica à EPI mainstream encontrada, principalmente, no
mundo anglo-americano, desenvolve-se uma estrutura conceituai e analítica que
pretende ser, ao mesmo tempo, rigorosa e abrangente. Nesse sentido, procura-
se ir além d(J ente1!.4L!D-~!}ÇQ_,Q.~ g,gJ_4.10.Qgpin, ou seja_, ~ransc_eilde-se a_ _arücula,.:
Çã;~:;tr~.,d~~ ~titui~ões (Estado e merc;d~-)~~-Õ ~é.todõ dê'aúáüS.~'PTOP~~
tem como referê~ci;~~d~lerminantes dâ~·~ dos principais atores do sistema
internacional. Esses determinantes e atores são os temas dos Capítulos 2 e 3.
O sistema internacional é formado por subsistemas: econômico, político e
cultural. O foco da EPI são os temas mais específicos ao sistema econômico inter-
nacional. No entanto, a EPI permite uma análise, ao mesmo tempo, profunda e
abrangente de diversos temas afins, pertinentes ao sistema internacional.
O sistema_econômico internacional tem esferas específicas, com relações,
processos e estruturas que se manifestam em dimensões distintas.
A esfera do comércio trata de temas como exportação e importação de
bens e serviços, mercado de commodities, protecionismo, liberalização,
integração regional e arranjos jurídico-institucionais na dimensão bilateral,
plurilatera! (por exemplo, União Européia, NAFTA, Mercosul, projeto da
ALGA) e multilateral (OMC). A esfera das finanças inclui temas como a atua-
ção elos bancos, seguradoras, prestadores de serviços financeiros, paraísos fis-
cais, sistema financeiro internaéional (por exemplo, disponibilidade e custo
de financiamento), sistema monetário internacional (liquidez, estabilidade
das taxas de câmbio e mecanismos de ajuste externo), dívida externa, capital
especulativo, controles de capitais e atuação dos orgánismos internacionais
(com destaque para o Banco Mundial e o FMI). A esfera tecnológica abarca a
transferência internacional de know-how (tecnologias de processo e de produ-
to, capacidade gerencial, organizacional e rnercadológica), inclusive, a ques-
tão do direito de propriedade intelectual e industrial. A esfera produtivo-real
envolve temas como os fluxos de investimento externo direto, conduta e de-
sempenho das empresas transnacionais, cartéis, práticas comerciais restriti-
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Et.SEVlER
Economia Polí1ica Internacional: Mécodo de Análise 21
J
1
vas, responsabilidade social da empresa, proteção ao investimento, direito de
propriedade intelectual e industJ.ial e soberania. -,
As dimensões do sistema econômico internacional são a bilateral (resi-
dentes de dois países distintos), plurilateral (residentes de pelo menos três
países) e multilateral (escala global, ou seja, atores de praticamente todos os
países do mundo).
Após a análise das distintas esferas e dimensões da dinâmica operacional do
1
sistema econômico internacional, estamos preparados para discutir os diferen- J
• Por que a EPI deve transcender a lógica binária Estado verS'us mercado? 1
• Por que a EPI deve ser entendida como um método de análise e não como )
um campo teórico específico? )
• Quais são os elementos básicos de u1n esquema analítico abrangente e
eclético da EPI?
)
• Quais são os principais temas tratados pela EPI? )
• Quais são os subsistemas básicos que compõem o sistema internacional? )
• Quais são os conceitos fundamentais da EPI?
)
)
LEITURAS ADICIONAIS E PORTAIS
)
{ O Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio e outros autores é
)
uma fonte importante para temas e conceitos gerais da política. I-Iá, inclusive,
uma versão em CD-ROM difundida pela Editora da Universidade de Brasília. )
O dicionário de Economia recomendado é: Graham Bannock et al. Dictio- )
nary ofEconomics, Londres, Penguin-BÕoks, 1998.
)
.( O trabalho clássico sobre 9··fuercado é o livro publi~ado em 1944 de Karl
Polanyi, A Grande Transformd(ão. As prigens da nossa Epoca, Rio de Janeiro, )
1
--·-- ..
Editora Campus; 1980. )
/ . Para uma visão abrangente do pensamento econômico, ver o livro organi-
)
. zado por Ricardo Carµeiro, Os Clássicos daEcono1nia, São Paulo, EdítoraÁtica,
\ 1997, 2volumes. Para·cada u1n dos grandes autores (de Adam Smith a Milton )
\_,Fried1nan), há uma i1ttrodução feita por um economista brasileiro. _J
)
)
Z4 Economia PolÍlica Internacional ELSEVIER
AP~NDICE
Globalização Ocorrência simultânea de três processos, a saber, a expansão extraordinária dos fluxo~
econômica internacionais de bens, serviços e capitais; o acirramento da concorrência nos mercados
mundiais; e a maior integração entre os sistemas econõmicos nacionais (Gonçalves,
2003, p. 21-22).
Mercado "Local de encontro para a finalidade da permuta ou da compra e venda" (Polanyi, 1980, p.
71); locus de encontro da oferta e da demanda.
Poder "A probabilidade de que numa relação social um ator estará na posição de realizar sua
própria vontade apesar da resistência." (Weber, 1964, p. 152)
Política "Participação no poder ou a luta para influir na distribuição de poder, seja entre Estados
ou entre grupos dentro de um Estado." (Weber, 1974, p, 98)
Estado Instituição com "o monopólio do uso legftimo da força flslca dentro de um determinado
território" e "núcleo do exercício do poder porrtico"; no qual as distintas forças polít!cas
resolvem seus conflitos (o campo da luta de classes) (Weber, Pou!antzas).
Nação "Grupo humano consciente de formar uma comunidade e partilhar uma cul!ura comum,
ligado a um território claramente demarcado, tendo um passado e um projeto comuns e a
exigência do direito de se governar." (Gulbernau, 1997, p. 56)
Estado nacional "Tipo de estado que possui o monopólio do que afirma ser o uso legítimo da força dentro
de um território demarcado, e que procura unir o povo submetido a seu governo por meio
da homogeneização, criando uma cultura, sfmbolos e valores comuns, revivendo
tradições e mitos de origem ou, às vezes, inventando-os." (Guibernau, 1997, p. 56)
Fontes:
GONÇA1VES, R. O Nó Económico. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2003.
GUIBERNAU, M. Nodonofismos. O Estado Nodonol e o Nodonolismo no Séw/D XX. Rio de Janeiro: Jorge Zdhilr, 1997.
POLANV, t<.A Grande Tronsformaçõa. As Origens do nosso i:por::a. Rio de Janeiro: Edi1ora Campus, 1980 {l944).
POUlANTZAS, N. l'Etot, le Pouvofr. /e Socia/isme. Paris: Presses Universltaires de france, 1978.
WEB~R. M. En5aios de Sociologia. fdirodo por Hons Certh e C. Wright Mi/Is. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974.
WEBER, M. The Theory of Sacio/ ond fconomic Organiiorion. Edited with an tntroductlon by Talcott Paisons. Nova Yor~: The Free
Press, !964.
O livro de Eric Hobsbawm, Era dos Extremos. O Breve Século XX, 1914-1991 (Sdo Paulo,
Companhia das Letras, 1995), foi preparado para um público ndo-especializado e
apresenta uma visdo abrangente da história do século XX. Nesse livro, o autc:ir também
trata de alguns ternas da Economia Política Internacional.
O livro argumenta que o "curto século XX" começou ê.m 1914, com o início da Primeira
Gue.rra Mundial, e terminou em 1991, com a queda defiAIÍiva do regime comunista na
antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),· Essa C?racterização do curto
século XX contrapõe-se à análise do século XIX como um século longo, que teria
começado, efeti.vamente, em 1789, com a Revolução Francesa, e se encerrado com a
eclosão da Primeira Guerra Mundial. O "longo século XIX" foi analisado na trilogia clássica
de Hobsbawm, que é a sua obra maior, com os livros a Era da Revolução, a Era do Capital
e a Era do Império.
O "curto século XX" é analisado seguindo a periodização já conhecida: a primeira fase
trata do período entre guerras (1914-1945); a segunda fase abarca os anos dourados.do
sistema mundial ( 1945-1973), marcado por uma grave crise econômica a partir de 1973;
a terceira e últirna fase refere-se ao período pós-1973, até a ruptura do bloco soviético em
1991. A distinçdo básica entre a periodização da Era dos Extremos e outros trabalhos do
género "circuito de horizonteª é que Hobsbawm considera que 1991 encerra um período
importante na história da humanidade, quando da ruptura do bloco soviético.
O livro de Hobsbawm está organizado em três blocos, cada um tratando das fases
mencionadas anteriormente, que ele denominou Era da Catástrofe, Era de Ouro e Era do
Desmoronamento, respectivamente. Para cada uma dessas fases ou eras, Hobsbawm
apresenta capitulas tratando de questões especificas. Entretanto, talvez a melhor maneira
de encararmos o livro é co;•;:Jerando os seus blocos temáticos, no lugar de seguir
seqüencialmente as fases do periodo. O livro trata, em mais de um capitulo, de cinco blocos
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ELSEVIER
Economia Política Internacional·. Hérodo de Análise ll
)
)
)
Quadro l.A.2 (continuação)
)
de grandes questões, além de quatro temas específicos que são tratados em capítulos
individuais. Os cinco blocos temáticos são: economia, política internacional, cultura, )
comunismo soviético e Terceiro Mundo. Para cada um desses temas, Hobsbawm faz um
}
capítulo referente a cada fase do "curto século XX', a saber; Economia: capítulos, 3, 9 e 1'I;
Politica Internacional: capítulos 4, 5 e 8; Cultura: capítulos 6, 11 e 17; Comunismo soviético: )
capítulos 2, 13 e 16; e Terceiro Mundo: capítulos 7, 12 e JS. Outros quatro temas são
tratados em capitulas individuais: Conflitos e massacres: Capítulo l; Mudanças sociais: )
capítulo 10; História das ciências: capítulo 18; e, Agenda de problemas: Capítulo 19.
)
A parte mais interessante de todo o livro é aquela que trata da experiência de
"socialismo real" nos países do antigo bloco comunista sob a liderança da URSS. A história )
das relações políticas internacionais concentra-se na análise da ascensão do fascismo na
Europa nos anos 30 e nas lutas antifascistas, assim como na Guerra Fria, que vai do finai dos )
anos 40 até o final dos anos 80. Deve"se notar que em 1948 os Estados Unidos
)
ameaçaram inteNir militarmente caso os comunistas vencessem as eleições na Itália. O fim
da Guerra Fria foi formalmente definido com os tratados negociados entre a URSS e os )
Estados Unidos em Reikjavik em 1986 e em Washington em 1987, que interromperam a
corrida armamentista e regularam a· capacitação militar no que se refere às armas nucleares. )
As questões econômicas são tratadas por Hobsbawm nos capítulos 3, 9 e 14 seguindo )
a linha dos livros de Economia Política Internacional.
Entre os capítulos mais interessantes está o primeiro, que trata o século XX corno a Era )
da Guerra Total, destacando os massacres e os conflitos bélicos no periodo. O argumento
)
é de que em toda a história da humanidade, que no século XX atingiu o mais elevado grau
de civilização e de progresso das ciências, também se chegou a um estágio de barbárie )
igualmente recorde. Nesse século de massacres, talvez oitenta milhões de seres humanos
tenham sido mortos em guerras mundiais, regionais ou localizadas. )
No último capítulo, Hobsbawrn apresenta algumas reflexões sobre os principais temas
)
da atualidade. Dentre esses temas cabe destacar: riscos de conflitos bélicos, fracasso do
modelo neoliberal, ruptura ou enfraquecimento das utÜpias ideológicas e religiosas, )
problema demográfico, crise ecológica, desemprego, papel do Estado-nação,
individualismo e despolitização, influência política dos meios de comunicação e futuro da )
democracia. )
)
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