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DA DEGERONTOCRACIA
Gerson Flores-Gomes1
Renata Faleiro Lopes2
Ettiène Cordeiro Guérios3
Valdomiro de Oliveira4
Gislaine Cristina Vagetti5
RESUMO: Objetivo: Realizar uma aproximação das ideias de Edgar Morin sobre
a complexidade e a construção do ser em-si idoso. Método: Pesquisa bibliográ ca de
natureza qualitativa, com busca na base de dados BVS, utilizando os descritores
‘autopercepção’, ‘idoso’ e ‘complexidade’ com o limite de 5 anos e em livros. Resultado:
diversos pesquisadores corroboraram as ideias de Edgar Morin sobre a complexidade
da idade idosa. Conclusão: Há um caminho a ser percorrido na reconstrução de uma
representação social da pessoa idosa e que este caminho passa pela autoconsciência do
idoso e da complexidade da construção deste novo modelo de pensamento na juventude.
Palavras-chave: Complexidade; Envelhecimento; Autopercepção; Sociedade;
desenvolvimento humano.
1
Doutorando em Educação. UFPR. E-mail: ggomes.ufpr@gmail.com
2
Mestranda em Educação. UFPR. E-mail: re opess@gmail.com
3
Docente do PPGE. UFPR. E-mail: ettienecg@hotmail.com
4
Docente do PPGE. UFPR. E-mail: oliveirav457@gmail.com
5
Docente do PPGE. UFPR. E-mail: gislainevagetti@hotmail.com
Boletim Cent. Let. Ci. Hum. UEL Londrina – nº 79– p. 33-66 - jul./dez. 2021
INTRODUÇÃO
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Estamos, a um só tempo, dentro e fora da natureza. Somos seres,
simultaneamente, cósmicos, físicos, biológicos, culturais, cerebrais,
espirituais... Somos lhos do cosmo, mas, até em conseqüência de
nossa humanidade, nossa cultura, nosso espírito, nossa consciência,
tornamo-nos estranhos a esse cosmo do qual continuamos
secretamente íntimos. Nosso pensamento, nossa consciência, que
nos fazem conhecer o mundo físico, dele nos distanciam ainda mais
(MORIN, 2003, p. 33).
METODOLOGIA
Critérios de elegibilidade
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Procedimentos de análise
DISCUSSÃO
Desenvolvimento Humano
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para-si é o inacabamento, o que não é, mas que pode vir-a-ser”
(DOMINGUES; FREITAS, 2019, p. 6).
Esta condição consciente que permite perceber o outro e o eu
no outro, também revela uma crise de identidade que se desenrola
dentro de si, onde surgem a aceitação do outro e a percepção que
nesta etapa empática aceita-se também a si mesmo. Neste contexto,
Nithyananda volta-se aos primórdios relatados nos Upanishads,
que de nem que o ser é o Todo e no mesmo instante desvela-se a
concepção hologramática de Morin, onde “a sociedade está nele, ele
é possuído pela cultura que possui”, cultura que foi complexamente
construída na interação social com os diversos outros (MORIN,
2010, p.185; NITHYANANDA, 2015).
Corroborando com este conceito de desenvolvimento,
Bronfenbrenner descreve que o processo evolutivo do ser humano
depende do outro de uma forma muito mais ampla do que apenas
considerar os enlaces da convivência, mas de uma forma cultural,
complexa e integral, sendo que “o desenvolvimento humano ocorre
por meio de processos de interação recíproca, progressivamente mais
complexos entre um organismo humano biopsicológico em atividade
e as pessoas, objetos e símbolos existentes no seu ambiente externo
imediato. Para ser efetiva, a interação deve ocorrer em uma base
estável em longos períodos de tempo” (BRONFENBRENNER,
2011, p. 46).
Este sistema, que considera o tempo de exposição aos
fenômenos, demanda de processos de interação complexos e, em
seguida, processos de adaptação e assimilação ao meio, de tradução
biopsicossociais pelo ser em desenvolvimento, constituindo-se
sujeito.
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Complexidade
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Ao longo da vida, estes con itos irão ocorrer com maior ou
menor frequência e grau, partindo de um pressuposto de que “o
outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica”, e estes desa os
serão úteis na consolidação da posição do indivíduo em seu grupo
social, na sua aceitação, protagonismo ou ostracismo e, também,
poderá ser componente da formação de um autoconteito positivo
ou negativo (GALVÃO, 1995, p. 55).
Envelhecimento
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Ainda que exista uma diferença epistemológica entre os
conceitos de envelhecer, longevidade e expectativa de vida, os termos
são utilizados indiscriminadamente para relatar a velhice (GOMES,
2019). O termo velhice, antes ligado ao processo de envelhecer,
adquiriu um conceito pejorativo, que também pode ser veri cado do
ponto de vista sócio-antropológico, distinguindo o ser humano pela
sua utilidade econômica e social, o que foi chamado de movimento
de degerontocratização (MORIN, 2002).
Este movimento distingue o que é ser humano do que é
ser idoso. Há neste processo de desumanização um componente
geracional, que é revelado pela normose da velhice, que considera
que, quando se chega à idade idosa, o adulto deixa de ser produtivo
para a sociedade, passando a ser um estorvo, à margem da economia,
um dependente dos mais jovens (GOMES et al., 2018).
A experiência acumulada ao longo da trajetória de vida não
é mais levada em consideração, como nos tempos antigos. Segundo
Morin, antes da modernidade destes tempos, a velhice possuía um
status de portador do saber, o idoso era considerado como autoridade
respeitada do conhecimento. Nestes tempos atuais,
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doloroso que ocorrerá por muitos anos, o que não é necessariamente
verdade. Atualmente muitas soluções foram desenvolvidas para um
bom envelhecimento, considerando uma melhor qualidade de vida
para esta população idosa. Ainda assim, há o temor do envelhecer.
A parábola do sapo escaldado passa a ser uma realidade no rito
de passagem da vida adulta para a idade idosa. Como o sapo da
parábola, que é colocado em uma panela com água fria e sobre o
fogo, se acostuma com a vida morna e não percebe o passar dos
tempos, terminando por m, com seu cozimento na água que se
tornou, aos poucos, fervente (MENDONÇA et al., 2021).
As autoras Domingues e Freitas ao comentarem o livro A
velhice de Simone de Beauvoir, relatam uma experiência similar
vivida pela escritora, quando ela se percebe idosa:
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social: não há diferença maior, na linguagem e na atitude diante da
vida, entre o jovem e o velho operário que entre esse jovem operário
e o estudante? Esses dois últimos não participam dos mesmos
valores fundamentais da cultura de massa, das mesmas aspirações
da juventude em relação ao conjunto de anciãos? (MORIN, 2002,
p. 149).
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Esta percepção do envelhecer, denunciada pelo outro, se
mostra como um roteiro de nal dos tempos, apocalíptica, que em
sua visão distorcida, o idoso entende que lhe restam, agora, poucos
anos de vida, causando assim um engessamento de seus planos e
projetos de vida ainda não realizados, uma cegueira importada da
visão destorcida da sociedade da cultura de massa. A fala do outro
impacta na autoimagem e e cácia do idoso, que, para Domingues
e Freitas (2019, p. 6)
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para que haja lucidez do idoso e da sociedade, ao encarar os desa os
da idade idosa, sendo que esta reforma depende do modo como as
ideias são complexamente construídas e organizadas. Uma vez que
esta consciência seja alcançada, um novo modelo de humanidade é
percebido (MORIN, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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de consumo, pelos próprios idosos e pelo outro, particularmente na
alteridade mais jovem.
O próprio idoso acredita nas notícias de que esta fase da vida
é a fase nal, sem que ele possa encaminhar novos projetos de vida
e ter sonhos, buscar novas experiências e viver livre de preconceitos.
Há de se trazer à consciência da pessoa idosa a complexidade
destes tempos, da certeza de que seu futuro ainda pode e deve ser
construído e que sua trajetória futura sempre poderá ser reformulada,
a qualquer tempo. Este idoso afetado pela normose da velhice deve
compreender que, independentemente das notícias negativas, há
muito o que fazer e aprender, e que sua existência é útil e necessária
para as gerações seguintes. O movimento gerontocrático deve ser
retomado, permitindo que as novas gerações aproveitem do saber
acumulado pelas experiências de vida dos idosos, seja nas atividades
de consultoria, bem como na educação formal.
Também foi possível perceber a atualidade das ideias de
Morin, como um autor da complexidade pode, pela sua escrita
inteligente e sagaz, tecer os diversos campos do conhecimento em
uma tessitura que faça sentido para a humanidade. Uma nova ideia
de conhecimento pode ser criada e desta uma nova humanidade
poderá ser elevada. As ideias de Morin podem ser fundamentais na
construção de uma nova visão e realidade para a idade idosa.
Dentre os aspectos mais inusitados, percebeu-se que a
sociedade ainda é predadora daqueles que aparentemente não
prestam mais nenhum lucro e, por mais incrível que isto seja, esta
mesma sociedade impede que os idosos exerçam sua condição de
detentores de um saber diferenciado, não oferece oportunidades e,
sempre que possível, os descarta dos grupos sociais. O movimento
nasce dentro da própria família, em que os jovens não valorizam o
tempo de acolhimento que seus pais dispuseram na juventude destes,
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e quando deveriam dar honra aos mais velhos, os jovens passam a
se creditarem das glórias de sua juventude, desumanizando aqueles
que os precederam.
Este fenômeno não foi descrito apenas por Morin, mas
muitos outros pensadores e pesquisadores relataram o mesmo fato
em diferentes áreas da sociedade (família, emprego, governos), o
que corrobora os escritos de Morin.
Muito há que se fazer para consertar o pensamento desta
sociedade alienada pelo lucro, pela velocidade, pela ganância – uma
sociedade de consumo, de massa, da pressa. Logo os que estão nesta
‘juventude’ acordarão na fronteira da idade idosa e perceberão que
poderiam ter mudado o próprio futuro.
Uma nova ideia de conhecimento pode ser criada e desta uma
nova humanidade poderá ser elevada. As ideias de Morin podem
ser fundamentais na construção de uma nova visão e realidade para
a idade idosa.
Financiamento
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REFERÊNCIAS
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GOMES, Gerson F.; FUJITA, Luana S.; VAGETTI, Gislaine C. A
normopatia social da velhice e a educação de idosos no Brasil. XXX
SEMANA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SEPE 2018.
Curitiba: UFPR. 2018. p. 83.
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NITHYANANDA, Paramahamsa. Upanishads revelados: o livro de base.
1. ed. [S.l.]: Nithyananda University Press, v. 1, 2015. 84 p. Disponivel
em: <https://www.nithyanandabrasil.com.br/livros-online>. Acesso em:
25 Jul. 2021.
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