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Educação Física em Revista | 2016 | vol.

10 | nº 3
RESENHA

RESENHA DO LIVRO “OS SETES SABERES NECESSÁRIOS A EDUCAÇÃO DO


FUTURO”

Título: Os sete saberes necessários a educação do futuro. Escrito


por: Edgar Morin. Edição: Cortez. Ano: 2011.
Autora da resenha: Cláudia Ribeiro
Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília – UCB.

Nascido na França Edgar Morin é um sociólogo que defende uma revisão no campo das
ideias sobre a elaboração do conhecimento. O autor chama a atenção para os “buracos
negros” que existem e devem ser considerados na organização do pensamento, das
instituições de ensino, dos currículos, dos professores, dos alunos.

Indica o que considera “setes saberes” a serem considerados e pensados na organização


do conhecimento para a educação do novo milênio: 1. Considerar erros e ilusões constantes
nas concepções; 2. Construir o conhecimento pertinente; 3. Reaprender a nossa própria
condição humana; 4. Reconhecer nossa identidade terrena; 5. Enfrentar as incertezas
constantes no conhecimento científico; 6. Ensinar a compreensão por meio de diálogo e do
entendimento; 7. Discutir e exercitar a ética.

O primeiro saber diz respeito ao tradicional comportamento da ciência em afastar o erro


de suas concepções sem considerar a ilusão existente e suas distorções na realidade. É
preciso aceitar, lembra ele, que o conhecimento sempre estará ameaçado pelo erro e ilusão
e ambos fazem parte do ser humano. Erro e ilusão sempre existiram na história da
humanidade, e se modificam com o tempo, visto que as ilusões sobre a realidade atual são
bem diferentes daquelas de cinquenta anos atrás. O conhecimento nunca é reflexo ou
espelho da realidade, é sempre uma tradução seguida de uma reconstrução; uma
reconstrução que possui margem de erro relacionadas às subjetividades humanas como, por
exemplo, o nível de afetividade na reconstrução do conhecimento e nas condições de
percepção. A afetividade pode ser um elemento asfixiador ou racionalizador dependendo da
atenção e significado dado ao fato pela pessoa envolvida. A condição de percepção como,
por exemplo, a percepção do cérebro - não idêntica para todas as pessoas - ocorre em função
da distância e por ângulo da visão da imagem. A capacidade da retina de cada um na
formação da imagem a ser reconstruída também pode ser considerada outro aspecto variável
de percepção. Há de se aceitar o erro e a ilusão, tal atitude que permitirá o avanço do

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conhecimento. Então, como proposta para educação, Edgar Morin sugere mudanças de
atitude frente ao conhecimento e às relações interpessoais, reforçando a grandeza da base
do diálogo com o outro.

O segundo saber refere-se à construção do que denomina o “conhecimento pertinente”.


Para que o conhecimento seja pertinente, segundo Morin, a educação deve considerar o
contexto global, multidimensional e complexo. O contexto global conduz à ideia da não-
fragmentação e considera o todo algo mais que a soma das partes, pensando as relações
eles. “O todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes” (Morin,
2011, p. 35).
 O autor relembra que a sociedade possui multidimensões: históricas,
econômicas, sociais, religiosas e o conhecimento pertinente precisa considerar essas facetas,
pois são definitivamente indissociáveis e impossíveis de funcionarem com o pensamento
disjuntivo, insular, fora do contexto da complexidade da qual o ser humano é constituído,
físico e espiritualmente. O conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade na
educação, a qual garante a reflexão do professor e da própria escola para pensar e repensar
o processo de formação educativa contemporânea.

O terceiro saber refere-se à reflexão sobre a condição humana. Morin ressalta


que somos seres culturais, naturais, físicos, psíquicos, míticos, sociais; somos
complexos e multidimensionais. Considerando esses princípios, o processo de
fragmentação na educação dificulta o aprendizado do significado de “ser humano”. O
desenvolvimento humano depende das autonomias individuais, das participações
comunitárias, do sentimento de pertencimento à espécie humana, respeitando tanto
as unidades como as diversidades existentes. Neste saber o autor busca demonstrar
que necessitamos reaprender nossa própria condição, "ensinar o ser humano, com
razão e sensibilidade, com razão e emoção".

O quarto saber diz respeito à identidade terrena, isto é, ensinar a compreender


o próximo, o parente, o vizinho, os colegas de trabalho, os povos de diferentes
nações. O autor engloba a compreensão em um conjunto de entendimentos que
comportam empatia e identificação.

Esta compreensão permite entender que lágrimas ultrapassam a análise física,


estando conectadas com sentimentos de dor e tristeza, por isso se faz necessário
compreender a compaixão, segundo o autor, a verdadeira comunicação humana. Ao
ensinar a identidade terrena, lembra Morin, não se deve esconder as opressões, as
catástrofes e devastações da humanidade em todo o planeta. A planetarização

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nomeada por Morin permitiu ao homem se conectar com polos distantes do mundo,
no entanto não permitiu a todos colherem benefícios igualitários; ainda existe um
grande número de países na miséria e outros gozando de pleno conforto; o que
deveria manter o mundo mais unificado está cada vez mais dividido. Na contramão
do ensino da identidade terrena está o individualismo com uma sociedade reforçada
pela responsabilidade individual, egocêntrica e de rejeição ao próximo. Conclui
dizendo ser preciso ensinar a ideia de sustentabilidade para tornar o planeta viável
para futuras gerações, ensinar a identidade da terra e saber se relacionar com o
planeta. A planetarização deve avançar para um sentido de pertencimento mútuo que
una todos os povos à nossa Terra.

Em seu quinto saber o autor aborda o princípio da incerteza o qual busca se


contrapor aos preceitos defendidos pela ciência cartesiana direcionada ao
pensamento do universo científico fazer parte da certeza. Segundo Morin, deve-se
ensinar a incerteza na qual o produto científico nunca é sinônimo de certeza, ao
contrário, tudo criado pelo homem é recheado da ideia de incerteza. Partindo desse
princípio a relação com o conhecimento mantem presente a interrogação, a recusa
em aceitar verdades absolutas, o fanatismo por algo já estabelecido historicamente.
Não se trata de negar as várias certezas estabelecidas pela ciência, mas ensinar aos
alunos a navegar em mares da incerteza com algumas ilhas de certeza. Tal condição
levaria a um avanço da cultura e a um avanço no conhecimento.

No sexto saber o autor enfatiza a necessidade do ensinar a compreender. Uma


educação que ensine a compreensão entre as pessoas para facilitar o entendimento
e aceitação do outro com generosidade a ponto de garantir a solidariedade intelectual
e moral da sociedade: “coloque-se no lugar do outro e não deseje para o outro o que
não desejaria para si mesmo”. Morin afirma que a comunicação baseada na
explicação não garante a compreensão, esta transcende aquela. A explicação, a qual
trata da compreensão intelectual das coisas anônimas ou materiais. A explicação
pode ser entendida com clareza, mas é insuficiente para a compreensão humana,
que inclui a empatia, a identificação e projeção, um envolvimento não só intelectual,
mas emocional do indivíduo. Para a compreensão humana ser alcançada é preciso
evitar o egocentrismo e o etnocentrismo, e compreender os outros não por intermédio
de nossas crenças e valores e sim "tolerá-los com suas diferenças e particularidades".

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O seu último saber diz respeito à ética do gênero humano. O autor defende
uma “ética planetária” relacionada a três princípios: indivíduo, sociedade e espécie,
onde se tornam inseparáveis a ética do indivíduo para com ele mesmo - a honra; a
ética do indivíduo para com a sociedade - a cidadania; e a ética do indivíduo para com
a espécie - a humanidade. Indivíduo/sociedade/espécie não podem ser fragmentados
visto que devem possuir responsabilidades com o desenvolvimento, com a
participação social e com responsabilidades políticas coletivas. Morin deixa claro que
a democracia é um dever ético, fortalecendo a diversidade e os antagonismos.

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