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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH


Colegiado de Ciências Sociais
Disciplina: Introdução à Sociologia
Prof.: Dener Santos Silveira
Alunos: Cleiton Santos Silva
Erika Souza Silva
Lindielson Silva de Jesus

Representação religiosa nos autores clássicos da Sociologia

Max Weber
As principais ideias de Max Weber (1864-1920) acerca da representação da
religião na conduta dos indivíduos e dos grupos sociais na constituição da ordem social,
mas, principalmente, da ordem econômica, estão na sua Sociologia da Religião e na
obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904). A Sociologia é entendida
por Weber como a ciência que procura, por meio da compreensão, analisar o indivíduo e
suas ações e a forma como este indivíduo atribui sentido à sua conduta. Desse sentido
contido nas ações dos sujeitos, é possível extrair conceituações abstratas a partir de
situações concretas que permitem explicar determinados processos históricos e sociais.

Desta forma, Weber procura remontar a origem do capitalismo ocidental,


servindo-se da metodologia dos tipos ideais para caracterizar o fenômeno econômico, a
partir do que considera uma mudança espiritual da visão de mundo dos indivíduos
históricos ao vincular dois adventos distintos e concomitantes no tempo histórico: o
capitalismo e o surgimento do protestantismo em algumas seitas, mais especificamente,
a doutrina religiosa encampada por João Calvino no século XVI, conhecida como
calvinismo. Também aqui, pode-se evidenciar o papel dado às ações dos indivíduos
visando um objetivo por meio da racionalidade, seja este para um fim ou para valores
racionalmente concebidos.

O capitalismo desenvolvido nos países do Ocidente se diferenciaria dos


capitalismos surgidos em outras partes do mundo devido à racionalização da disciplina
do trabalho na busca do lucro, determinado por uma concepção religiosa que também
racionaliza a visão de mundo dos indivíduos ao “eliminar o pensamento mágico como
meio de salvação” (TRAGTENBERG, 1980, p.20). Segundo o dogma calvinista, tal
salvação advém de uma escolha divina que elege aqueles que serão salvos, os
predestinados, permanecendo tal escolha inacessível ao homem. Logo surge a
necessidade de agradar a Deus por meio das boas práticas, que racionalizam a ordem
social e faz do trabalho metódico, sistemático e ascético, mas sobretudo o trabalho
como vocação, o caminho para uma suposta e provável salvação na exaltação de Deus.
Outra característica apontada por Weber para demonstrar a relação do
protestantismo reformista com o espírito da gênese capitalista é a aceitação moral do
lucro a partir da doutrina puritanista. Anteriormente condenado e desestimulado pela
Igreja Católica, dententora da ética tradicional, a busca pelo lucro foi considerada como
um fim naquilo que se passou a considerar vontade de Deus. Explica-nos Raymond
Aron sobre a perspectiva weberiana da relação entre o capitalismo e a ética protestante:

“Ora, trabalhar racionalmente tendo em vista o lucro, e


não gastá-lo, é por excelência uma conduta necessária ao
desenvolvimento contínuo do lucro não-consumido. É aí
que aparece, com o máximo de clareza, a afinidade
espiritual entre uma atitude protestante e a atitude
capitalista. O capitalismo pressupõe a organização racional
do trabalho; implica que a maior parte do lucro não seja
consumida, mas sim poupada, a fim de permitir o
desenvolvimento dos meios de produção. [...] a busca do
lucro máximo, não para gozar a vida, mas para a satisfação
de produzir cada vez mais.” (ARON, 2003, p. 786)

Weber abre, desta forma, contraponto ao materialismo histórico proposto por


Karl Marx, ao atribuir à religião caráter determinante da racionalização da conduta dos
indivíduos no âmbito da economia e não somente um aspecto da superestrutura
determinada pela base econômica. Como diz Anthony Giddens, Weber:

“concordava com alguns elementos da análise marxista


tradicional da ideologia religiosa, mas rejeitava
completamente o materialismo histórico ‘unilateral’, que
não conferia nenhuma influência positiva ao conteúdo
simbólico da formas específicas do sistema religioso de
crença.” (GIDDENS, 2011, p. 44)

Entretanto, Raymond Aron, no livro As Etapas do Pensamento Sociológico,


(2003), adverte que as ideias sociológicas e a interpretação histórica de Weber não
significam uma “inversão total” ao materialismo histórico, pretendendo demonstrar
assim que “a atitude econômica pode ser orientada pelo sistema de crenças, tanto quanto
o sistema de crenças pode ser comandado, num dado momento, pelo sistema
econômico” (ARON, 2003, p. 789).

Ainda que Weber procure explicar a origem do capitalismo, a justificação da


prática do lucro e da acumulação através da racionalidade presente nas práticas e
dogmas de seitas protestantes associadas ao espírito do capitalismo nascente, fatos
concretos das causas da acumulação, mas, principalmente, da exploração, não podem
ser explicadas somente por uma ética ligada ao protestantismo baseada no trabalho
ascético e individual, e na vocação. Weber não explica nem sociológica, tampouco
historicamente, o papel da exploração do trabalho, ainda que livre e assalariado, seja por
meio do “aluguel” da força de trabalho ou da sua venda e da mais-valia, como explicado
por Marx, na lógica da acumulação, menos ainda, da exploração do trabalho escravo no
período de acumulação primitiva ou mercantil nas áreas colonizadas pelos países
europeus. Os motivos, não nos atreveremos a especular aqui, porém são lacunas nas
quais o autor não se debruça na sua compreensão do espírito do capitalismo.

Referências Bibliográficas
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 6. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.

GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento


social clássico e contemporâneo. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2011.

TRAGTENBERG, Maurício. Weber: vida e obra. In: WEBER, Max. Textos


selecionados. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores).

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