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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS (UFAL)

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS (ICS)

Disciplina: sociologia

Prof.: Elder Maria

Aluno: Davi Andrade Pereira

RESENHA TEMÁTICA DO LIVRO: A ética protestante e o espírito do


capitalismo

“A ética protestante e o espírito do capitalismo” obra de de Max Weber, publicada


em 1905, é um clássico das ciências sociais,por clássico entende-se que sua
contribuição do ponto de vista do método, ferramentas metodológicas propostas e
das conclusões feitas por ele, segue como um referencial para os estudos
sociológicos até a contemporaneidade. Por isso, para uma explicação de suas
contribuições não é suficiente apenas elencar as conclusões feitas ao longo desse
estudo, mas articulá-las com o escopo metodológico utilizado pelo autor, de modo a
enfatizar nela aquilo que tem de mais proveitoso e o que faz da obra um estudo
científico, pois as ciências sociais, não se pautam na simples afirmação, criação de
hipóteses, mas no estudo aprofundado através de dados extraídos da realidade e
aplicação de metodologia científica.

Já nas primeiras páginas o autor nos apresenta o fenômeno observado, sobre o


qual se debruça e tenciona explicar.

[...] o caráter predominantemente protestante dos proprietários do capital e


empresários, assim como das camadas superiores da mão-de-obra
qualificada, notadamente do pessoal de mais alta qualificação técnica ou
comercial das empresas modernas. [...]

Ou seja, o fato de que entre todas as confissões religiosas em um países


pluriconfessional ter se apresentado notoriamente a preponderância daqueles
ligados ao protestantismo (sobretudo o calvinismo) quando nas atividades
comerciais. Observa ter os protestante historicamente optado por formações
técnicas, atividades práticas voltadas ao comércio enquanto membros de outras
confissões, a católica, optam em sua maioria por áreas de humanidades.
A esse fenômeno direciona necessariamente os seguintes questionamentos:
porque os protestantes predominantemente e em detrimento de outros grupos
(católicos) voltaram-se para o comércio e apresentaram vantagem perante outras
camadas sociais, ocupando a posição que ocupam na estratificação social das
sociedades capitalistas modernas? que fatores, então levaram a isto? seria a
religiosidade desses grupos fruto de determinações econômicas,de uma “infra
estrutura” material da sociedade ou seria ela anterior mesmo a essa posição alçada
nos estratos sociais do capitalismo moderno, sendo possível estabelecer uma
relação de causalidade entre eles, onde sendo a confissão religiosa anterior ao
capitalismo tenha impulsionado e influenciado diretamente no surgimento desse
sistema tal qual ocorreu no ocidente?

Weber afirma em sua análise a segunda hipótese, daí se infere uma postura
característica do pensamento weberiano, sua oposição às explicações de cunho
estritamente materialista, onde os fatores culturais, como a religiosidade, por
exemplo, são entendidos como “superestrutura” determinada por fatores
econômicos materiais de uma “infraestrutura”. O que para Weber é um erro, não
que o autor não reconheça a importância e existência de fatores materiais e
econômicos nos processos sociais, mas no sentido de que esses não são, na
concepção do autor, de nenhum modo os únicos possíveis na explicação dos
fenômenos. Onde, em seu estudo, a confissão religiosa, a ética protestante, compõe
o "ethos'', o “espírito” do capitalismo, tendo as ideias, valores, normas, enquanto
visão de mundo, direcionado os comportamentos e ação humanas, levando
progressivamente ao surgimento desse sistema. Não se deve inferir disso, como diz
Weber, que seja essa ética o único fator que leva a essa formação do capitalismo,
mas o fato apontado pelo estudo, de que os efeitos sociais e históricos que essa
essas “ideias’ exerceram nesse processo está intrinsecamente ligado ao
surgimento do capitalismo moderno e não o contrário.

É preciso também entender de que modo Weber formula conceitos como “espírito
do capitalismo”, de que modo ele corresponde a realidade social e quais as
dificuldades que se apresentam na formulação de tal conceito tendo em vista a
natureza do objeto das ciências sociais, e o que se pretende com ela.

[...] Se é possível encontrar um objeto que dê algum sentido ao emprego


dessa designação, e!e só pode ser uma "individualidade historica", isto é,
um complexo de conexões que se dão na realidade histórica e que nos
encadeamos conceitualmente em um todo, do ponto de vista de sua
significação cultural. [..]

ou seja, o autor aponta, como ao desenvolver o conceito de que necessita para


seguir o estudo, “espírito” do capitalismo, não o faz a partir de concepções
genéricas, mas o concebe como uma “individualidade histórica”. Um “complexo de
conexões” que encadeia conceitualmente de modo a construir gradualmente e a
partir das relações com os próprios elementos históricos inerentes ao objeto aquilo
que especificamente se relaciona com o fenômeno estudado. Sendo assim, o
conceito não representa a totalidade do objeto, não esgota as suas possibilidades
de definição, sendo possível encontrar nele outras características que não às
apontadas por weber, mas, que cabe ao pesquisador eleger as características
“centrais” e ignorar outras que lhe parecem “periféricas” ao tipo de análise
pretendida. Algo apontado pelo autor e que ele mesmo faz ao longo de seu estudo.

Uma vez apontada a maneira como se estrutura tal conceito (“espírito” do


capitalismo) resta esclarecer quais as suas principais características e de que
modo pode impulsionar o surgimento do capitalismo moderno.

Weber aponta para o fato de que aspectos do capitalismo também existiram em


outras culturas, mas que não assumiram a forma organizacional racional
característica do capitalismo moderno ocidental em nenhuma outra até o período.
Pois mesmo na “ânsia por lucro” dessas civilizações não havia a regulamentação
organizacional racional particular apresentada pelo sistema na sociedade moderna.
Distingue o capitalismo moderno de outros modelos “aventureiros” e “especulativos”,
onde a produção de riqueza e organização do trabalho se dava de maneira
desregrada e o “impulso para o ganho'' não conhecia regras e nem limites nos
meios utilizados.

Não que o “impulso para o ganho” não existisse entre os protestante, mas é na
maneira como este foi significado, organizado e disciplinado por suas normas de
conduta (ética) que se diferencia dos demais e faz com que sirva de base ao que
Max Weber conceitua como “espírito do capitalismo”

Para melhor tratar desse “espírito” se faz necessário apresentar um “delineamento”


do que weber entende por “Capitalismo moderno”, ou seja, algumas de suas
qualidades particulares: a divisão racional sistemática e funcional do trabalho,
visando a eficiência, bem como a economia de tempo e recursos, o uso de
contabilidade racional no cálculo do lucro e na administração do capital da empresa,
a separação entre família e empresa (trabalho) e a formação de um mercado de
trabalho formalmente livre e assalariado. Assim, Weber concebe o capitalismo
como um sistema de estruturas complexamente interligadas e instituídas que agem
numa prática econômica racional e não especulativa. Tendo essas características se
manifestado a partir das empresas capitalistas onde era mais forte a “ética
protestante” e, por tanto, o “espírito do capitalismo “

Daí chega-se aos seguintes questionamentos de caráter sociológicos: (a) porque,


dentre tantas sociedades o capitalismo moderno surgiu nas sociedades em que
surgiu com em seus moldes característicos? (b) porque as sociedades em que
surgiu eram justamente aquelas de confissão predominantemente protestante ?

Para Max Weber essas duas questões estão profunda e complexamente


relacionadas. Uma vez que , ao estudar os princípios que servem de base para o
capitalismo moderno, encontra-o no “ethos” teológico da ética protestante,
sobretudo no calvinismo. Formula basicamente que as normas de conduta, de
vivência moral e espiritual presentes no ascetismo calvinista orientou e organizou
um modo de agir economicamente voltado para a realização do lucro e sistemática
e racional produção de capital. É nesses aspectos que se interessa por estudar o
protestantismo (a ética protestante).

Comparando a indiferença ou desprezo com que eram significados o trabalho e o


lucro pelo ethos católico, visto o trabalho como atividade degradante, mas
necessária à vida terrena, e a ânsia por lucro como “usura”,qualidades de uma
alma, avara mesquinha e pecaminosa, resultando numa postura ociosa e passiva
diante do mundo, diametralmente oposta o “ethos” do protestantismo, de
predestinação e valorização do trabalho profissional como vocação e chamado e a
busca pelo lucro (prosperidade) como marca dos escolhidos .

É no protestantismo, mais propriamente na tradução bíblica feita por Martinho


Lutero que pela primeira vez aparece o conceito de vocação : “ Beruf” , onde numa
mesma expressão estão impressas as ideias de profissão e vocação, de profissão
como vocação ( ou vocação profissional), no sentido de de um chamado, missão
designada por Deus, onde o homem não teria apenas sido criado para uma vida
contemplativa, mas cumpria, através do trabalho, profissão designada, a sua missão
no mundo.

Mas não é, ainda, em Lutero que essa ideia assume seus contornos definitivos de
uma "espírito do capitalismo”, pois o pensamento luterano permanece ligado ao
tradicionalismo, no sentido de que, embora uma atividade necessária, com o
trabalho não haveria de se buscar a ascensão social e o lucro, numa postura
passiva ante a realidade instituída, onde o acúmulo de riquezas permanece com
uma conotação negativa.

É no protestantismo ascético de algumas seitas protestantes posteriores ao


luteranismo, principalmente o calvinismo, onde se acentua o sentido religioso dado
ao trabalho profissional, valorado como vocação, missão no mundo, por meio de
uma doutrina ascética, onde se prega a renúncia aos prazeres do mundo, a
negatividade do ócio, a condenação de tudo aquilo que é ostentação, desperdício e
esbanjamento, além do desencantamento do mundo, no sentido que a própria ideia
de predestinação excluiu da conduta cotidiana dos protestantes quaisquer meios
"mágicos" de se granjear salvação, levando a um esvaziamento da superstição e
racionalização do mundo.
Como consequência disso difunde-se uma ética do “dever” em administrar
eficientemente o tempo para aquelas atividades necessárias ao cumprimento de
sua vocação no mundo, para assegurar-se de que é um dos eleitos. A valoração
positiva do trabalho soma-se à valorização positiva da riqueza, fruto do trabalho.
Semelhante ao ditado popular que diz:” julga-se a árvore por seus frutos” , é julgado
o acúmulo de riquezas entendido como resultado do exímio exercício da profissão,
vocação no mundo, da prosperidade que Deus reserva a seus eleitos. Ao julgar os
seus frutos (ganhos) como vastos mas certo o homem estaria de sua posição
como salvo, (predestinado, eleito).

Mas não se deve concluir que a poupança proposta por esse “espírito do
capitalismo” figura no sentido de simples entesouramento, de fortuna ociosa (de
capital passivo), mas pelo contrário, a riqueza adquirida deveria ser constante e
eficientemente reinvestida para que gerasse mais trabalho e lucro e continuasse a
dar frutos,

Desse modo, como Max weber coloca, o capitalismo figura como a materialização
objetiva desses anseios éticos do protestantismo ascético, pois uma vez que é
através do trabalho e riqueza produzida por esse trabalho, do lucro como um fim
em si mesmo, de um agir ascético no mundo que o homem encontra a certeza
concreta de sua salvação, esses valores servem de força motriz para a própria
formação do sistema capitalista moderno em suas implicações materiais.

Não por acaso esse "espírito empreendedor “ impulsionado por esse conjunto de
valores do protestantismo ascético compõem um “tipo ideal" do empreendedor e
do empreendedorismo moderno, pois isso ocorre na mesma medida em que seus
princípios utilitários e racionalizados levaram a lógica através da qual se estrutura a
moderna empresa capitalista.

Entretanto, não é intenção de Weber indicar com isso que esses reformadores
tencionaram com sua religiosidade promover uma “reforma ética'',reformar cultura e
sociedade voltada ao ''espírito” capitalista (nem conheciam esse conceito). Suas
preocupações eram de cunho espiritual e as transformações sociais, efeitos
culturais que tiveram são as “consequências práticas” desses “motivos religiosos''.

Os quais Max Weber analisa ao estabelecer relações através de suas “afinidades


eletivas”, das características correspondentes entre formas da fé religiosa e formas
da ética profissional, de modo a extrair dessas relações o conhecimento sobre o
modo como os “motivos religiosos” direcionaram o desenvolvimento cultural e
material, indicando a gênese histórica de várias características da sociedade
capitalista moderna na ética protestante (no espírito do capitalismo).

Palavras chaves: capitalismo.modernidade.protestantismo.cultura


Referências:

WEBER Max, A ética protestante e o "espírito" do capitalismo.Cia das Letras, 2017

RINGER, Fritz. A metodologia de Max Weber: unificação das ciências culturais e


sociais. Edusp. 2004

BATTINI, Okçana. FERREIRA, Adriana de Fatima - Cultura e sociedade, 2009

https://www.youtube.com/watch?v=GLW_tBkJ8q0&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIWP
ksBD6yCIqff9&index=1&t=141s

https://www.youtube.com/watch?v=m2wA3Kt8iYg&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIWP
ksBD6yCIqff9&index=2

https://www.youtube.com/watch?v=cCqwh-oxEMk&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIWP
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https://www.youtube.com/watch?v=rkUHmHZTjt8&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIWPk
sBD6yCIqff9&index=4

https://www.youtube.com/watch?v=n8-TLAtufXI&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIWPks
BD6yCIqff9&index=5

https://www.youtube.com/watch?v=zdKPr4XkhTk&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIWPk
sBD6yCIqff9&index=6

https://www.youtube.com/watch?v=8EuwTQNCZ2w&list=PLiDhH243ZA3gMILUTaIW
PksBD6yCIqff9&index=7

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