1. O que devemos entender pela expressão "Espírito do Capitalismo"? Espirito do Capitalismo é um tipo ideal formulado por Weber na tentativa de confronta-lo e compara-lo com a realidade. Podemos entender ‘espirito do capitalismo’ da forma que o autor o trata: como uma individualidade histórica. Ou seja, como um conceito cuja compreensão está restrita a um determinado período histórico e que também carrega consigo múltiplas determinações e conexões “[...] que se dão na realidade histórica e que nós encadeamos conceitualmente em um todo”. Como Weber bem deixa claro, não se pode compreender este tipo ideal como uma totalidade ou algo indivisível, é na verdade através de seu confronto com a realidade e da composição de suas partes que aos poucos poderemos construí-lo conceitualmente. É justamente por isso que a “apreensão conceitual definitiva não pode se dar no começo da pesquisa, mas sim no final [...]”. É apenas no final da pesquisa que o conceito encontrará sustentação na realidade. Sendo assim, o tipo ideal ‘espirito do capitalismo’ ainda não está completo, tendo em vista que a pesquisa está apenas começando. A única forma de compreende-lo no atual estágio da pesquisa é enquanto um delineamento provisório. Mas, não se trata de ignora-lo por ser provisório; a sua importância está justamente nessa característica: é através dessa provisoriedade que Weber poderá alcançar um conceito de ‘espirito do capitalismo’ que tenha respaldo científico e também na realidade. 2. Como Max Weber constrói o tipo ideai "Espírito do Capitalismo"? Quais as fontes que o autor utiliza para construir o tipo ideal "Espírito do Capitalismo"? Utilizando primordialmente Benjamin Franklin como fonte, Weber começa a construir aquilo que podemos entender como ‘espirito do capitalismo’. Através de uma citação enorme de Franklin, entendemos que esse tal ‘espirito do capitalismo’ está estritamente ligado à uma ética particular, encontrada apenas na Europa ocidental e na América do Norte. O capitalismo não é uma técnica de vida, mas uma ética, cuja violação é uma falta com o dever; dever esse que se manifesta como ethos. Esse ethos é, então o conjunto de uma ética espalhada por todo o continente europeu e norte americano que possibilitou a existência de um ‘espírito do capitalismo’. O que podemos afirmar com certa tranquilidade é que, sem esse ethos não poderíamos falar em um ‘espírito do capitalismo’. Como aponta Weber, o capitalismo “existiu na China, na Índia, na Babilônia, na Antiguidade e na Idade Média. Mas [...] faltava-lhe precisamente esse ethos peculiar”. 3. Descreva os conteúdos que Weber seleciona para compor o tipo ideal "Espírito do Capitalismo" Weber parte da construção desse espírito do capitalismo através da comparação de uma forma anterior, um espírito baseado no tradicionalismo. Assim, o espírito do capitalismo seria o contrário desse espírito tradicionalista, mesmo que em diversos momentos da história empresas capitalistas fossem geridas por um modelo tradicional. O tradicionalismo se expressaria nos homens que usassem o trabalho como satisfação das suas necessidades, enquanto o espírito capitalista criasse nos homens uma ética, e um ethos que tratasse o trabalho como um fim em si mesmo. Esse seria o Leitmotiv do espírito capitalista, que possibilitou a existência do chamado capitalismo moderno. Esse espírito precisou irromper não apenas em indivíduos, mas também em grandes grupos de pessoas, para que fosse possível realmente o estabelecimento de um ethos. Com esse ethos, criou-se um cosmos econômico que o indivíduo já nasce dentro e não pode alterar, podendo apenas viver dentro; “esse cosmo impõe ao indivíduo, preso nas redes do mercado, as normas de ação econômica”. O tradicionalismo, anteriormente mencionado, foi um dos obstáculos para o estabelecimento do capitalismo moderno, tendo sido talvez o principal deles. Mas por não ter regras explicitas, o capitalismo foi capaz de adentrar e se adaptar “em todas as constituições econômicas que toleravam fortunas monetárias e ofereciam oportunidades de faze-las frutificar [...]”. Weber trata o tradicionalismo e o espírito do capitalismo como opositores e conflitantes, mas nos mostra que o espírito do capitalismo já existia antes do advento daquilo que conhecemos como capitalismo moderno, assim como um espírito tradicionalista foi e é capaz de conduzir uma empresa capitalista. A questão a respeito desses dois “espíritos” é a sua maior ou menor capacidade de unir-se com a forma mais moderna do capitalismo; podemos ver isso melhor no exemplo que Weber nos dá das mulheres alemãs e da sua incapacidade de abandonar “os modos de trabalho tradicionais há muito assimilados em favor de outras modalidades mais práticas” e que as explicações sobre a possibilidade e talvez a necessidade de tornar o trabalho mais fácil e lucrativo chocava-se em vão contra a muralha do hábito. O que entendemos disso é que mesmo Weber afirmando que o capitalismo pôde existir junto de modelos tradicionalistas de pensamento e que é possível encontrar o espírito do capitalismo presente antes mesmo da insurgência do capitalismo moderno, a junção que possibilitou o estabelecimento definitivo do modelo capitalista moderno foi através desse espírito capitalista anteriormente mencionado. 4. Quais as correlações que podemos estabelecer entre os tipos ideais "Ação racional com relação a fins", "Dominação racional", "Capitalismo", "Espírito do capitalismo" e "Processo de racionalização". A racionalização da sociedade é o componente que correlaciona todos esses tipos ideais. Eles não apenas possuem uma característica em comum, como estão interconectados, além de dependerem mutuamente um do outro. Porém, algo que não pode ser dito a respeito da correlação é que elas ocorreram ou se desenvolveram simultaneamente. Weber diz que “a história do racionalismo de modo algum acusa um desenvolvimento com avanço paralelo nas esferas da vida”. Mesmo que parte importantíssima da racionalização da sociedade, o capitalismo – ou o seu espírito – não deixam de ser ‘apenas’ uma parte de um todo correlacionado e interdependente. Podemos afirmar que “o desenvolvimento do ‘espírito do capitalismo’ [...] como fenômeno parcial no desenvolvimento do racionalismo como um todo” e não deve ser tratado como um núcleo gerador que estabelece os outros aspectos da racionalização da sociedade como corpos que flutuam em volta de seu criador. No que podemos interpretar como uma crítica daquilo que se entende da obra de Marx, um materialista histórica “ingênuo”, Weber diz que não há uma infraestrutura (que aqui podemos chamar de capitalismo e suas relações de trabalho) que ‘define’ uma superestrutura, que seria ideias e formas de consciência social; Weber tece tal crítica (redutora) para ilustrar os seus tipos ideais. Sendo assim, a racionalização seria o contrário de uma superestrutura; ou seja, ela não é constituída por apenas um elemento, mas é, na verdade, a junção de diversas causalidades e fenômenos.