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FICHAMENTO I
FICHAMENTO II
Nos anos 70, novos grupos de teatro, música e dança formaram-se em várias
cidades brasileiras. Esse movimento cultural teve impacto importante na formação de
grupos de afro-brasileiros cada vez mais preocupados com a cultura e a história dos
negros no Brasil e em outros lugares do mundo (p. 281).
Naqueles anos tensos e tumultuados, a juventude da periferia dos grandes
centros passou a exibir novas formas de comportamento, de falar, de vestir e de
protestar. Essas transformações refletiam o contato da juventude negra com as questões
que mais a interessavam no mundo contemporâneo (p. 282).
Nessa época, a juventude passou a expressar seu protesto num visual que incluía
calça “boca de sino”, sapato colorido com salto altíssimo e cabelos ouriçados. Era o
estilo Black Power, uma referência ao movimento político e cultural que surgiu nos
Estados Unidos na década de sessenta e que defendia uma nova maneira de afirmar e
reverenciar a beleza negra (p. 284).
O reggae trazia uma mensagem de protesto anticolonialista e anti-racista, de
esperança e de fortalecimento ideológico e espiritual frente às angústias e aflições
cotidianas, sobretudo as que decorriam da discriminação racial (p. 284).
Os afro-brasileiros acompanharam os movimentos dos direitos civis e o Black
Power nos Estados Unidos. Ainda que de forma fragmentada, as ideias de Angela
Davis, Malcolm X e Martin Luther King em defesa de direitos e oportunidades iguais
para os negros norte-americanos repercutiram entre militantes e intelectuais negros em
todo Brasil (p. 287).
A manifestação popular teve grande impacto nos rumos da política negra. O
Brasil ainda vivia o regime militar, e em nome da segurança nacional a reunião de
manifestantes em praça pública era, em geral, duramente reprimida pela polícia. Assim,
aquela manifestação de negros e simpatizantes da causa anti-racista representava um
desafio à ditadura (p. 290).
[...] a questão racial também não encontrava lugar nas organizações de esquerda.
Para a maioria delas, a desigualdade e o preconceito raciais eram decorrentes da
exploração da classe dominante no sistema capitalista. Para a esquerda, só a revolução
socialista poderia aniquilar toda e qualquer desigualdade, por isso não fazia sentido uma
luta específica contra o racismo (p. 290).
[...] níveis de renda e educação podem influenciar bastante na classificação e na
autoclassificação raciais. Esse debate, que foi tão importante para a consolidação do
movimento negro, continua atual quando se discute ações afirmativas (p. 292).
[...] os negros vêm se mobilizando em várias frentes nas últimas décadas.
Pressionados por essa mobilização, alguns partidos políticos (de esquerda, e mais tarde
mesmo os de direita), segmentos da Igreja Católica e sindicatos começaram a rever suas
convicções sobre o tema racial (p. 294).
O centenário da Abolição
Durante todo o período republicano as comemorações da Abolição ficaram a
cargo das irmandades, associações e organizações negras. Aos governos republicanos
não interessava promover as comemorações da Abolição [...]. Na década de 1890 os
negros foram proibidos de festejar o 13 de maio em várias cidades (p. 295).
Depois do centenário da Abolição, diversos grupos do movimento negro
passaram a incorporar o 13 de maio ao calendário das discussões sobre racismo no
Brasil. Já o 20 de novembro, data da morte de Zumbi de Palmares, foi instituído como
Dia Nacional da Consciência Negra (p, 296).
A principal estratégia das organizações negras durante as manifestações
públicas, atividades acadêmicas e solenidades do centenário foi enaltecer a cultura
negra, definida como a continuidade de tradições africanas e símbolo da resistência,
além de denunciar a desigualdade social e econômica (p. 297).
Em 1989 foi promulgada a Lei 7.716/89, conhecida como Lei Caó por ter sido
proposta pelo deputado negro Carlos Alberto de Oliveira, conhecido como Caó. Esta é
a única lei que define práticas de crime de racismo no Brasil, das quais os negros são as
maiores vítimas (p. 297).
Apesar de vitórias, a desigualdade continua
O censo de 1996 mostrou que para cada mil crianças nascidas vivas, 36 negras
morriam antes de completar um ano e apenas 24 brancas. Isso resulta da precariedade
do acompanhamento pré-natal na rede pública de saúde e da maior incidência, nas
mulheres negras, de doenças como a anemia falciforme, diabetes e hipertensão arterial,
que afetam a saúde dos bebês. No estado do Paraná, por exemplo, o risco de morte das
mulheres negras é 7,4 vezes maior do que o das brancas (p. 299).
[...] em 2000 a taxa de mortalidade dos negros por homicídio foi 87 por cento
maior do que a de brancos. Se a vítima for homem, a vulnerabilidade dos negros é ainda
maior do que a dos brancos. Há várias explicações para esses índices, dentre elas a
maior exposição dos jovens negros a situações de risco como o tráfico de drogas, a
precariedade no atendimento de emergência nos hospitais públicos e a violência policial
nas grandes cidades (p.300).
No ensino superior são 1.665.982 estudantes, sendo que 78,6 por cento brancos,
17,4 por cento pardos e apenas 1,4 por cento pretos. Além da disparidade dessa
situação, que obviamente compromete as chances dos negros no mercado de trabalho, o
preconceito se encarrega de acentuar a desigualdade (p. 301).
Políticas afirmativas
Nos Estados Unidos tais políticas aumentaram as oportunidades dos negros no
mercado de trabalho e na educação. Com uma população bem mais reduzida que a do
Brasil, os negros norte-americanos ocupam posições importantes em todos o país, algo
que não ocorre no Brasil (p.302-303).
[...] repetimos, apesar de muitos avanços, os Estados Unidos não são um bom
exemplo de justiça racial. Por isso o Brasil deverá trilhar seu próprio caminho (p. 303).
Aqueles que defendem as cotas acham que, apesar de não resolver o racismo e as
desigualdades imediatamente, este sistema pelo menos seria um primeiro passo nessa
direção (p. 303).