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introdução
Introdução
Nesta unidade, estudaremos sobre o segundo processo de redemocratização do Brasil, aquele
iniciado na década de 1980, perdurando até os dias atuais. Para atingir adequadamente essa
finalidade, as principais características do regime militar, que vigorou a partir do ano de 1964, serão
explicadas.
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Redemocratização Brasileira
Iniciamos este conteúdo, destacando que o último período autocrático no Brasil se iniciou em 1964,
com a instituição de um regime militar, sendo certo que, em 1967, foi aprovada e promulgada pelo
congresso uma Constituição que continha os direitos e garantias individuais no art. 150 e os direitos
sociais trabalhistas no art. 158.
Ocorre que essas normas jurídicas da Constituição de 1967 exerciam “funções simbólicas” (NEVES,
2011, p. 177), pois as declarações de direitos individuais e sociais não “estavam respaldadas na
realidade constitucional” (NEVES, 2011, p. 177).
Além disso, suspendeu também garantias de ordem processual penal, a exemplo da “vitaliciedade,
inamovibilidade e estabilidade” (BRASIL, 1968, Art. 6º), como também do “habeas corpus, nos casos
de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular”
(BRASIL, 1968, Art. 10).
Fora esse demérito de impor restrições aos direitos fundamentais de primeira dimensão, o que
significa uma atuação arbitrária, por meio das instituições de segurança pública, a Constituição de
1967 previu expressamente a polícia federal assumindo as tarefas que, até então, incumbiam ao
Departamento Federal de Segurança Pública, além de outras compatíveis com a centralização de
poderes na União promovida pelo regime militar e, também, a censura de diversões públicas.
A Constituição, assim, estabeleceu a competência da União para organizar e manter a polícia federal
com a finalidade de prover:
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Essa tendência centrípeta do poder, portanto, é perceptível mesmo na atuação das instituições do
sistema de segurança pública. Afinal, na Constituição de 1967, instituiu-se a Polícia Federal com uma
ampla atuação, demonstrando a concentração de poderes na União.
Além disso, enquanto as polícias dos estados são separadas em Polícia Civil, que é uma polícia
judiciária com um viés investigativo; e Polícia Militar, a qual faz um policiamento ostensivo em regra,
a Polícia Federal acumula as duas atividades, incidindo a sua atuação apenas em razão da matéria.
Há de se ressaltar, para evitar confusões, que a Polícia Rodoviária Federal, diferentemente da Polícia
Federal, realiza apenas o policiamento ostensivo das rodovias federais. Não é, portanto, uma polícia
investigativa. O seu surgimento remonta à polícia das estradas de rodagem prevista no Decreto n.
18.323/28, ainda que sua estrutura fosse diminuta.
Enquanto a década de 1970 foi marcada por um forte crescimento econômico, no qual o regime
militar logrou êxito tamanho, que ficou conhecido como o período do milagre econômico, a década
de 1980 foi o período de resultados pífios ou negativos, sendo chamada de a década perdida por
economistas.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 1971
a 1980, a menor taxa de crescimento foi de 4,9% em 1977, tendo atingido o ápice de 14% em 1973.
Por outro lado, de 1981 a 1990, houve quatro anos com resultados negativos, a saber:
- 4,3 em 1981;
- 2,9 em 1983;
- 0,1 em 1988;
- 4,3 em 1990.
Embora possa a crise econômica, que tornou a década de 1980 perdida, ter sido uma das concausas
da insatisfação popular crescente que passou a reivindicar a instauração de um regime democrático,
o fato é que esse período deixou um enorme legado de ganhos do ponto de vista político-jurídico.
Nesse sentido, segue lição de Marangoni (2012, p. 58):
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Mas, sob o ponto de vista político, aquela foi literalmente uma década ganha. Não
apenas se formaram e se firmaram inúmeras entidades e partidos populares – fruto das
maiores mobilizações sociais de toda a história brasileira -, como se abriu uma nova
fase histórica para o país, através do fim da ditadura e da promulgação da Constituição
de 1988 (MARANGONI, 2012, p. 58).
Essa vinculação entre a crise econômica no final do regime militar e os movimentos políticos e
sociais que reivindicavam a democracia no Brasil está expressa, inclusive, na justificativa da Proposta
de Emenda à Constituição n. 5, de 1983, aquela que pretendia promover eleições diretas para
Presidente e Vice-Presidente da República e impulsionou o movimento Diretas Já. Vejamos o trecho
de sua motivação:
A presente Proposta de Emenda à Constituição deve ser vista, também, como a única
solução à crise econômica, política e social porque passa o país. A nós basta um
mínimo de patriotismo, de honestidade e de sentimento humano, para entendermos
que é hora de mudar (BRASIL, 1983)
Embora com uma ampla aprovação do povo brasileiro, que foi nas ruas pedir as Diretas Já, a citada
Proposta de Emenda à Constituição foi rejeitada por não atingir o quórum necessário diante,
inclusive, da ausência de muitos congressistas.
De qualquer modo, era realmente a hora de mudar. O regime militar justificava-se, ainda, em uma
sociedade moderna, em que os anseios pela segurança são maiores do que os da liberdade e do
prazer. Seus conflitos, em geral, são decorrentes da necessidade de purificar a sociedade,
normalizando ou excluindo o diferente, como bem trouxe Bauman (1998, p. 13):
"A Solução Final Alemã", observou a escritora americana Cynthia Ozick, "era uma
solução estética; era uma tarefa de preparar um texto, era o dedo do artista eliminando
uma mancha; ela simplesmente aniquilava o que era considerado não-harmonioso. [...]
Nos primeiros anos da idade moderna, como Michel Foucault nos lembrou, os loucos
eram arrebanhados pelas autoridades citadinas, amontoados dentro de Narrenschiffen
("naus dos loucos") e jogados ao mar [...] (BAUMAN, 1998, p.13).
Na sociedade pós-moderna (BAUMAN, 1998, p. 26) ou da modernidade líquida (BAUMAN, 2007, p. 7),
os valores da liberdade, da pluralidade e do prazer são proeminentes. Os seus conflitos principais,
portanto, envolvem como resolver a questão dos consumidores falhos incapazes de vivenciar essa
sociedade ou momento. Nesse sentido, Bauman (1998, p. 24):
Não seria possível, portanto, manter-se essa incompatibilidade entre um regime autoritário e os
ensaios da sociedade na contemporaneidade. Não apenas a crise econômica, mas também os novos
valores exigidos de liberdade e pluralidade da modernidade líquida demonstram a inevitabilidade da
aprovação, no ano de 1985, da Emenda Constitucional n. 26, convocando a Assembleia Nacional
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Constituinte compostas pelos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (BRASIL,
1985).
A concepção político-jurídica que permeou os trabalhos foi clara, não à toa, ela é chamada de
Constituição-Cidadã. Ainda que se possa reconhecer a influência do direito alemão nas Constituições
brasileiras de 1934, 1946 e 1967, que afirmaram que a ordem econômica e social possui finalidade
de realizar a dignidade humana, apenas com a Constituição de 1988, a dignidade da pessoa humana
é elevada à condição de princípio fundamental da República Federativa do Brasil, já no Art. 1º, inciso
III.
Isso significa que no direito atual não apenas as normas constitucionais relativas à ordem
econômica e social devem ser interpretadas à luz da dignidade da pessoa humana, mas sim todo o
ordenamento jurídico brasileiro. Como bem trazido por Soares (2010, p. 68), essa perspectiva está
também relacionada à necessidade de um direito pós-moderno, adequado à sociedade de então.
Os órgãos da Segurança Pública, portanto, elencados no Art. 144 da Constituição, a saber, polícia
federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos
de bombeiros militares (BRASIL, 1988, Art. 144, incisos I a V) não são um fim em si mesmos, mas
destinam-se à “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”
(BRASIL, 1988, Art. 144, caput). Além disso, vê-se que a segurança pública, embora seja um “dever do
Estado” (BRASIL, 1988, Art. 144, caput), consiste em um “direito e responsabilidade de todos”
(BRASIL, 1988, Art. 144, caput).
Como não poderia ser diferente em uma Constituição democrática que empreendeu uma antítese a
um regime autoritário, destacando o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento
da República, ela trouxe um extenso rol de direitos e garantias individuais incidentes em matéria de
direito penal e processual penal.
Não só isso, a Constituição de 1988 inova a história constitucional brasileira. Inverte a ordem dos
títulos. Traz os direitos e as garantias individuais e coletivos para antes dos títulos destinados à
organização dos poderes. Ainda que essa reorganização seja principalmente simbólica, há de se
admitir que é um reflexo da preocupação dos membros da Assembleia Nacional Constituinte.
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saiba mais
Saiba mais
A Constituição contempla as três gerações ou dimensões de
direitos apontadas pela doutrina moderna: direitos de
primeira, segunda e terceira geração. Essa classificação
realizada pela doutrina baseia-se na ordem cronológica em
que esses direitos foram recepcionados em nível
constitucional, e são cumulativos. Para saber mais, acesse:
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“Os anos 1980 foram perdidos do ponto de vista econômico. O país passou, então, por uma grande crise
financeira – a grande crise da dívida externa dos anos 1980 – que desencadeou a alta inflação inercial. O
Brasil, que vinha crescendo a taxas extraordinárias até 1980, parou; a economia brasileira estagnou. E,
depois, nunca mais voltou às altas taxas de 1950 a 1980”.
BRESSER-PEREIRA, L. C. Pontos de vista. In: MARANGONI. Anos 1980, década perdida ou ganha? . Desafios
do desenvolvimento, ano 9, ed. 72. 2012. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?
option=com_content&id=2759:catid=28&Itemid=23 . Acesso em: 17 mar. 2019.
A partir dessa perspectiva, assinale a alternativa correta sobre o processo de redemocratização brasileira:
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Contemporaneidade e Política
Criminal: Complexidade
Entre os estudos sobre a contemporaneidade, entendida como o período atual da história, que
possui alguns traços marcantes em relação à modernidade tradicional, Zygmunt Bauman (1998)
possui algumas interessantes considerações, especialmente, nos seus estudos sobre o mal-estar da
pós-modernidade.
A modernidade seria aquela em que se valoriza a beleza, a pureza, a ordem, a limpeza, a segurança.
A construção da civilização, nos seus termos, propõe a negação à liberdade e aos instintos de
sexualidade e de agressividade.
Ocorre que, no período a que se pode chamar também de modernidade tardia (GIDDENS, 2002, p.
11/12), houve uma mudança de ótica. Diante do mal-estar da civilização moderna, resultado de um
excesso de controle e de limitação da liberdade, passou-se a defender uma desregulamentação,
com a finalidade de ampliar a liberdade e permitir maior quantidade de prazeres. Assim, nossa “hora
[...] é a da desregulamentação” (BAUMAN, 1998, p. 10).
Nesse sentido, estabelece o referido sociólogo uma distinção interessante entre os homens e
mulheres modernos para os pós-modernos. Curiosamente, não são a democracia e a república
regimes que expressam a máxima radicalização dos ideais modernos consoante ao entendimento
de Zygmunt Bauman, mas sim o nazismo e o comunismo, os quais “primaram por impelir a
tendência totalitária a seu extremo radical - o primeiro condensando a complexidade do problema
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Diante disso, é perfeitamente possível afirmar, nesse sentido, que o regime militar brasileiro
traduziu similar ideia, mas com o viés da pureza ideológica, atribuindo à Polícia Federal a censura
das diversões públicas, por exemplo.
Entretanto, há ainda um teste de pureza consistente na análise de ser capaz de usufruir de “estilos e
padrões de vida inteiramente livremente concorrentes” (BAUMAN, 1998, p. 26), ou seja, “tem de
mostrar-se capaz de ser seduzido pela infinita possibilidade e constante renovação promovida pelo
mercado consumidor” (BAUMAN, 1998, p. 26).
Noutro giro, a reciclagem seria a segunda modalidade, na qual se inserem programas de capacitação
e mecanismos de assistência social. Assim, ao mesmo tempo em que se proclama a liberdade,
redimensionada, exerce-se controle, fiscalização, exclusão e recuperação, segundo novos moldes.
Surgem, assim, novas preocupações para as instituições de segurança pública, sendo certo que
outras desaparecem, a exemplo da censura de diversões públicas.
Para demonstrar essa perspectiva pós-moderna de remoção e reciclagem dos consumidores falhos,
vejamos a transcrição de lição de Zygmunt Bauman (1998, p. 27):
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Assim, a “preocupação dos nossos dias com a pureza do deleite pós-moderno expressa-se na
tendência cada vez mais acentuada a incriminar seus problemas socialmente produzidos” (BAUMAN,
1998, p. 28). Em outros termos, a própria pós-modernidade possui suas incoerências; incentiva-se a
liberdade consumista, exclui-se e encarcera-se o consumidor falho, sempre que se mostrar
economicamente mais viável para atingir a pureza pós-moderna, instituída com base justamente nas
críticas à modernidade, marcada pela ausência de liberdade e pela perseguição à ordem e à pureza,
ainda que de outra natureza.
Para não restar dúvidas sobre quais são os alvos da punição e dos crimes, o que demonstra,
incomparavelmente, a incoerência pós-moderna em defender liberdade e a desregulamentação,
vejamos o que diz Zygmunt Bauman (1998, p. 29):
Inclusive, há uma distensão entre a proclamada liberdade pós-moderna tão normatizada nos
direitos e garantias individuais da Constituição de 1988 e a necessidade de encarceramento
crescente dos consumidores falhos. Afinal, há um extenso rol de direitos fundamentais incidentes na
relação jurídica penal e processual penal, afetando, portanto, a atuação das instituições de
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segurança pública. Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (2009, p. 97) constata o problema nos termos
que a seguir:
Diversos pontos são atacados pelos adeptos de uma criminologia conservadora, menoridade penal
aos 18 anos, normas instituidoras de um direito penal especial para adolescentes em conflito com a
lei, presunção de não-culpabilidade até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória,
quantidade de recursos, ausência de proteção jurídica para atuação dos agentes das instituições de
segurança pública, incluindo atuação de atirador de elite com fins de abater a pessoa que esteja em
via pública com arma de uso restrito no Brasil.
Nessa perspectiva complexa, analisaremos o modo em que o Poder Judiciário tem decidido sobre as
proposições de políticas públicas formuladas pelo Ministério Público, o qual argumentava que o ente
público obrigatoriamente as deveria adotar, já que a segurança pública é “dever do Estado” (BRASIL,
1988, Art. 144).
Para iniciar a série de casos estudados, o Ministério Público do Estado do Amapá ajuizou uma ação
civil pública e obteve decisão judicial favorável determinando o que o Estado do Amapá “procedesse
à inauguração de nova Delegacia de Polícia Civil no município de Vitória do Jari, bem como
nomeasse, no mínimo, 01 (um) escrivão e 07 (sete) agentes de Polícia Civil” (AMAPÁ, 2017).
Ocorre que, naquele julgado, em sede de recurso ao Tribunal de Justiça do Estado da Amapá, foi
entendido que não havia comprovação da inércia do Poder Executivo em tentar resolver as
demandas de segurança pública do estado, ainda que houvesse uma constatação de que a situação
em geral estava preocupante nessa área. Nesse sentido, ele reformou a decisão do primeiro grau,
pois precisava considerar o princípio da separação dos poderes, nos termos da ementa a seguir:
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Sem dúvidas, ampliar o quantitativo de profissionais das instituições de segurança pública, inclusive
a Polícia Civil, que lida com a investigação da criminalidade comum, é uma importante medida de
política de segurança pública, ainda que se reconheça dificuldades inúmeras para empreendê-la por
meio judicial. Por exemplo, há limitação de orçamento, que deve ser distribuído para todo o estado.
Outra ação civil pública no mesmo estado merece análise, pois o Ministério Público do Estado do
Amapá obteve determinação judicial contra o Poder Executivo, no que se refere ao quadro de
pessoal, consistente em “aumentar o efetivo de policiais militares do Distrito de Lourenço para 20
(vinte) policiais [...] e se abster de reduzir o destacamento de policiais já existentes naquela
localidade” (AMAPÁ, 2018).
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agentes públicos tivessem as condições como identificou que a Constituição impõe o dever ao
Estado de realizar aquelas medidas acima analisadas, já que é seu dever fornecer a segurança
pública.
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“O serviço de separar e eliminar esse refugo do consumismo é como tudo o mais no mundo pós-moderno,
desregulamentado e privatizado. Os centros comerciais e os supermercados, templos do novo credo
consumista, e os estádios, em que se disputa o jogo do consumismo, impedem a entrada dos consumidores
falhos a suas próprias custas"
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Como bem ressaltado por Ana Sofia Schmidt de Oliveira (2002, p. 47), “um bom começo é
estabelecer a distinção entre políticas de segurança pública e políticas públicas de segurança”.
Um dos exemplos de políticas públicas de segurança, em que o Poder Judiciário foi acionado pelo
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro para decidir, foi sobre a necessidade de implantação
da iluminação pública, nos termos da ementa a seguir:
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Além desse caso julgado pelo Poder Judiciário, são exemplos de políticas públicas de segurança
também todas as medidas destinadas a melhorar os aspectos sociais, mas que as ciências apontam
que podem reduzir os índices de criminalidade. Esse é, portanto, um conceito que se comunica com
o de políticas públicas em geral.
Não se trata, desse modo, “de optar por programas sociais versus programas repressivos, mas
simplesmente ressaltar a possibilidade de se fazer uma combinação ótima de estratégias [...]”
(BEATO FILHO, 1999, p. 23). Nesse sentido, algumas políticas públicas podem ser destacadas.
Uma das primeiras perspectivas trazidas por Cláudio C. Beato Filho consiste no custo relativamente
baixo do investimento em tratamento dos dependentes químicos de cocaína em relação aos gastos
com repressão. Ele diz que:
Para diminuir em 1% o consumo anual de cocaína nos EUA são necessários 783
milhões de dólares gastos em controle nos países produtores, 366 milhões na interdição
em fronteiras, 246 milhões em repressão doméstica e 34 milhões em tratamento! São
números bastante eloqüentes e que convidam à reflexão (BEATO FILHO, 1999, p. 22).
Portanto, ao se tratar de pessoas, há uma inegável redução na prática do crime de tráfico de drogas,
afinal, o mercado consumidor reduz. A novidade desses estudos, assim, “está em não tratar o
problema das drogas do ângulo exclusivo do tráfico, mas do consumo também” (BEATO FILHO, 1999,
p. 22).
Uma outra medida que vir a consistir uma política pública de segurança é a instituição de um
Gabinete de Gestão Integrada, especialmente, aquele articulado no âmbito municipal, pois buscará
promover uma articulação entre as instituições de segurança pública e as demais, inclusive, as de
proteção social.
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“A idéia não é reformar indivíduos, o que é extremamente difícil, mas dificultar as condições de ocorrência
de crimes. Isto é feito mediante a contratação de desempregados para atuar como guardas civis
uniformizados, mas sem autoridade policial".
BEATO FILHO, C. C. Políticas públicas de segurança e a questão policial. São Paulo Perspec ., São Paulo, v.
13, n. 4, p. 13-27, Dec. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88391999000400003&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 23 mar. 2019.
Acerca da diferença entre políticas públicas de segurança e políticas de segurança pública, assinale a
alternativa correta:
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Neste tópico você conhecerá algumas formas de expor as diferentes concepções de segurança
pública. Diferenciará, inicialmente, o modelo da polícia legal ( law-officer ) da polícia de paz ( peace
officer ). Em seguida, analisará sinteticamente as teorias culturalistas e racionalistas, sabendo
distingui-las. Conhecerá, por fim, as características pertinentes à teoria da dissuasão e à teoria da
legitimidade.
Quando lida de forma equivocada, a Constituição pode conduzir o intérprete à afirmação de que
esse é o modelo preponderantemente adotado. Isso porque, ao atribuir às atividades de cada uma
das entidades do sistema de segurança pública, estabeleceu incumbir à polícia federal “apurar
infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas” (BRASIL, 1988, Art. 144, §1º, I), além de
“outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei” (BRASIL, 1988, Art. 144, §1º, I).
Incumbiu, ainda, a polícia federal de “prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos
nas respectivas áreas de competência” (BRASIL, 1988, Art. 144, §1º, II), assim como o dever de
“exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras” (BRASIL, 1988, Art. 144, §1º,
III) e de “exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União” (BRASIL, 1988, Art.
144, §1º, IV).
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A discriminação das atividades da Polícia Federal ainda é aquela em que se está mais propícia pela
literalidade a uma abertura a ambos modelos. Podemos perceber a diferença, por exemplo, à polícia
rodoviária federal incumbe o “patrulhamento ostensivo das rodovias federais” (BRASIL, 1988, Art.
144, §2º), similarmente ao que acontece com a polícia ferroviária federal, que tem o dever de realizar
o “patrulhamento ostensivo das ferrovias federais” (BRASIL, 1988, Art. 144, §3º).
No âmbito dos estados, as polícias militares possuem a tarefa de realizar a “polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública” (BRASIL, 1988, Art. 144, §5º), ao passo que às polícias civis incumbe,
“ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares” (BRASIL, 1988, Art. 144, §4º). Também ao dispor sobre os corpos de
bombeiros militares, não trouxe uma perspectiva diferenciada, afirmando a Constituição apenas
que, “além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”
(BRASIL, 1988, Art. 144, §5º).
No que se refere à guarda municipal, também não houve grandes avanços na discriminação de suas
atividades, limitando-se a estabelecer que os “municípios poderão constituir guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei” (BRASIL, 1988,
Art. 144, §8º). Sua regulação, portanto, incumbiu à legislação, especificamente, a Lei n. 13.022/14
dispôs sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais.
Esse comentário destacado sobre os guardas de trânsito decorre de a segurança viária ter sido,
expressamente, incluída no capítulo da Segurança Pública na Constituição no ano de 2014 por meio
da Emenda Constitucional n. 82/2014, dispondo uma perspectiva mais ampla de sua atuação, ou
seja, não compreendia apenas a engenharia e a fiscalização de trânsito, mas também educação
(BRASIL, 1988, Art. 144, §10º), demonstrando a preocupação em integrar as diversas formas de
atuação.
Nessa linha, outro modelo trazido por Marco Antônio de Azevedo (2003, p. 20) foi o intitulado “peace
officer” ou polícia de paz, no qual “o lado social da atividade policial é valorizado” (AZEVEDO, 2003, p.
20). Podemos verificar, em outros termos, o seguinte resumo de sua atuação:
Embora não haja uma relação necessária entre os modelos de atuação policial e as teorias da
concepção de segurança pública, há um relativo consenso de que a teoria da intimidação prefere a
polícia da lei ou legal, ao passo que a polícia de paz está mais relacionada com a teoria da
legitimidade. Nesse sentido, temos a observação de Marco Antônio de Azevedo (2003, p. 21):
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Em geral, derivam das teorias culturalistas, como bem destacado por Marco Antônio de Azevedo
(2003, p. 22), “políticas públicas destinadas a reduzir a criminalidade atacando suas possíveis causas,
ou seja, a pobreza, o desemprego, a falta de escolas e de oportunidades etc.” (AZEVEDO, 2003, p. 22).
Embora não seja uma perspectiva que se possa desprezar, não tem parecido funcionar no modelo
brasileiro, pois aqui “a ação da polícia e do Judiciário parece não afetar o comportamento das taxas
de criminalidade, como indicam algumas observações empíricas” (BEATO FILHO, 1999, p. 21).
Mesmo em estudos de comparação entre a realidade de diversos países. De um lado, o “Canadá, por
exemplo, tem uma taxa de um policial para 353 habitantes e um número reduzido de 5,9 homicídios
por 100 mil habitantes”. Do outro, a “China tem um policial para 1.382 habitantes, e no entanto
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registra um número muito menor de homicídios (dois por 100 mil habitantes)” (BEATO FILHO, 1999,
p. 22).
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atividade
atividade
“Ao questionarem a eficácia das estratégias de controle do crime alicerçadas centralmente nas práticas de
coerção e punição, os trabalhos desenvolvidos no âmbito da justeza procedimental proporcionaram como
consequência a construção de novas abordagens de referência para as ações institucionais desenvolvidas
pelas polícias, e a intenção em transformar esse conhecimento em atividades práticas e de impacto no
campo policial”.
ZANETIC et al. Legitimidade da polícia: segurança pública para além da dissuasão. Civitas : revista de
ciências sociais, v. 16, n. 4. 2016. Disponível em: <
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/view/24183 >. Acesso em: 23 mar. 2019, p.
163.
Nesse contexto das diversas concepções de segurança pública, assinale a alternativa correta.
a) A polícia de paz corresponde a um modelo tradicional, no qual eles têm sua atuação com objetivo
de apreender e identificar culpados, coibir comportamentos desviantes e impor a ordem, nos
termos da lei.
b) A polícia legal significa que o lado social da atividade policial é valorizado.
c) A teoria da dissuasão, adotada pelos órgãos formuladores das políticas de segurança pública,
demonstrou-se bem-sucedida, pois o Brasil se tornou um dos países com polícias que apresentam
baixas taxas de letalidade.
d) A teoria da dissuasão não é capaz de explicar sozinha as melhores formas de reprimir e de
prevenir a criminalidade.
e) Os modelos de polícia de paz e polícia legal são sinônimos.
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indicações
Material Complementar
LIVRO
Sobre a violência
Hannah Arendt.
Editora: Civilização Brasileira
ISBN: 978-85-200-0789-1
Comentário: a autora analisa no livro, entre outros temas, a distinção
entre poder, vigor, força, autoridade e violência. É muito relevante para
os pesquisadores de segurança pública conhecerem cada um desses
institutos, principalmente, para evitar equívocos entre eles.
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conclusão
Conclusão
Nesta unidade, aprendemos que as concepções de segurança pública e de suas principais normas
incidentes divergem bastante, conforme o sistema político adotado em um país.
Vimos ainda que a redemocratização, afinal, implicou o restabelecimento dos direitos fundamentais
de primeira dimensão reconhecidos antes do regime militar de 1964, além de algumas inovações
nessa matéria, a exemplo da presunção de não-culpabilidade até o trânsito em julgado.
Por fim, compreendemos a distinção entre polícia da lei, no qual a principal atividade é o controle do
crime, e polícia de paz, em que o lado social da atividade policial é valorizado. Vimos, ainda, que há
duas teorias que moldam a adequada concepção de segurança pública, a saber: a intimidatória e a
da legitimidade e justeza procedimental.
referências
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