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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL,


ARQUITETURA E URBANISMO

FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS E


INTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM
DIFERENTES ESCALAS:
ESTUDOS EM CAMPINAS, SP

CRISTIANE DACANAL

Campinas
2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

CRISTIANE DACANAL

FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS E INTERAÇÕES


CLIMÁTICAS EM DIFERENTES ESCALAS:
ESTUDOS EM CAMPINAS, SP

Tese apresentada à Comissão de Pós-graduação da


Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo, da Universidade Estadual de Campinas,
como parte dos quesitos para obtenção do título de
Doutor em Engenharia Civil, na Área de
concentração de Arquitetura e Construção.

ORIENTADORA: PROFA. DRA. LUCILA CHEBEL LABAKI

Campinas
2011

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE -
UNICAMP

Dacanal, Cristiane
Fragmentos florestais urbanos e interações
D115f climáticas em diferentes escalas: estudos em Campinas,
SP / Cristiane Dacanal. --Campinas, SP: [s.n.], 2011.

Orientador: Lucila Chebel Labaki.


Tese de Doutorado - Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo.

1. Climatologia urbana. 2. Planejamento


urbano - Fatores climaticos. 3. Planejamento urbano. 4.
Florestas urbanas. 5. Solo urbano - Uso. I. Labaki,
Lucila Chebel. II. Universidade Estadual de Campinas.
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo. III. Título.

Título em Inglês: Urban forest fragments and climatic interactions in different


scales: studies in Campinas city, Sao Paulo (Brazil)
Palavras-chave em Inglês: Urban climatology, Urban planning - Climatic factors,
Urban planning, Urban forests, Urban Land - Use
Área de concentração: Arquitetura e Construção
Titulação: Doutor em Engenharia Civil
Banca examinadora: Eleonora Sad de Assis, Léa Cristina Lucas de Souza, Jansle
Vieira Rocha, Silvia Aparecida Mikami Gonçalves Pina
Data da defesa: 11-10-2011
Programa de Pós Graduação: Engenharia Civil

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Crisstiane Daacanal

Tese dee Doutoradoo aprovada pela Bancaa Examinadoora, constitu


uída por:

Campinass, 11 de outu
ubro de 2011

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vi
Dedico este trabalho aos meus pais, Paulo e
Beatriz, e aos meus avôs José e Hercília, que me
sensibilizaram para o valor da Natureza, ainda
que fosse no nosso pequeno quintal, sob a
pitangueira, a jaboticabeira, o parreiral de uvas...

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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha orientadora, Profa. Dra. Lucila Chebel Labaki, por ter acreditado neste
trabalho, além de servir-me de exemplo pela sua dedicação à academia.

Aos professores, que colaboraram para a minha formação e no desenvolvimento desta pesquisa –
Profa. Dra. Rozely Ferreira dos Santos (LAPLA-UNICAMP), Profa. Dra. Léa Cristina Lucas de
Souza (UFSCAR); Prof. Dr. Jansle Vieira Rocha (LABGEO-UNICAMP), Profa. Dra. Solange
Gurgel de Castro Fontes (UNESP).

Aos técnicos Obadias e Daniel do LACAF (FEC), pela preparação da instrumentação necessária
na coleta de dados; e ao técnico Agmon do LABGEO (FEAGRI), pelas aulas de SIG.

Ao meu querido irmão, Prof. Dr. Gustavo Cesar Dacanal, que sempre simplificou o meu modo de
pensar – uma luz na engenharia! Ao meu esposo, biólogo e fisiologista vegetal, Dr. Saulo de
Tarso Aidar, que ao contrário, sempre me fez mil perguntas, sugerindo outros caminhos e me
mostrando as interferências na solução do problema.

Aos meus colegas do LACAF, pelas suas contribuições durante os seminários. À Talita
Meulman, aluna de Iniciação Científica, que colaborou com os monitoramentos microclimáticos.

À Prefeitura Municipal de Campinas, que cedeu as fotografias aéreas e autorizou a realização dos
trabalhos nos bosques, com o apoio dos funcionários. À Fundação José Pedro de Oliveira, que
autorizou a realização da pesquisa na Mata de Santa Genebra.

Agradeço a toda a minha família e aos meus amigos, que me incentivaram e me acolheram –
Paulo, Beatriz, Débora, Maurício, Nilmara, Clarice, Shirley, Waldyr, Camila, Arnaldo, Vânia,
Gustavo, Nádia, André, José Adolfo, Alê, Aline, Adriana, Seizo, Paulinha, Javier, Ana Luisa,
Juan....

Agradeço especialmente à CAPES pela bolsa de doutorado, que possibilitou a minha dedicação
exclusiva para o desenvolvimento desta pesquisa.
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RESUMO

DACANAL, Cristiane. Fragmentos florestais urbanos e interações climáticas em diferentes


escalas: estudos em Campinas, SP. Campinas: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo – UNICAMP, 2011. 220p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, 2011.

O processo de urbanização é causador de grandes impactos ambientais, dentre eles a extinção da


vegetação nativa. Pouco se sabe sobre o efeito de fragmentos florestais no clima local urbano,
apesar de haver um consenso em relação aos benefícios da vegetação na modificação do
microclima e na melhoria dos níveis de conforto térmico humano. Este estudo tem como
objetivos caracterizar o microclima de fragmentos florestais, remanescentes da Floresta
Estacional Semidecidual, na cidade de Campinas-SP; quantificar a magnitude e a extensão do
efeito de fragmentos florestais urbanos no clima do entorno edificado; e encontrar um percentual
mínimo de área de fragmento florestal em relação à área total urbanizada que seja suficiente para
modificar o clima local urbano. Para tanto, foram realizados monitoramentos fixos e móveis de
variáveis climáticas na microescala e na escala local urbana. Os fragmentos florestais foram
caracterizados por meio da abertura do dossel florestal, da área e com base em inventários. A
paisagem urbana foi descrita a partir da classificação do uso do solo, sendo possível distinguir as
zonas climáticas urbanas e o padrão da fronteira. Os resultados mostram que a estabilidade
térmica aumenta com a área dos fragmentos florestais. Ocorrem diferenças térmicas e de umidade
do ar no perfil vertical e horizontal das florestas, que são influenciadas pelo ambiente construído.
Por outro lado, foi possível constatar que o efeito das florestas sobre a o clima local urbano
aumenta com o percentual de área de floresta sobre o total urbanizado (A.V. / A.U.). Sugere-se
uma porcentagem mínima de 20% de A.V. / A.U. No tecido urbano, recomenda-se a distribuição
homogênea de fragmentos florestais, com formato regular, em uma distância de
aproximadamente o dobro da largura média dos fragmentos.

Palavras-chave: Climatologia urbana, Planejamento urbano - Fatores climáticos, Planejamento


urbano, Florestas urbanas, Solo urbano - Uso.
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xii
ABSTRACT

DACANAL, Cristiane. Urban forest fragments and climatic interactions in different scales:
studies in Campinas city, Sao Paulo (Brazil). Campinas: Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP, 2011. 220p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) –
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, 2011.

The urbanization process causes major environmental impacts, among them the native vegetation
extinction. Little is known about the effects of forest fragments in an urban environment,
although there is a consensus regarding the benefits of vegetation in modifying the microclimate
and improving the human thermal comfort. This study aims to characterize the microclimate of
the forest fragments, remnants of Semideciduous Seasonal Forest, in the city of Campinas; to
quantify the magnitude and extent of the effect of urban forest fragments in the climate of the
surrounding buildings; and to find a minimum percentage of forest fragmentation area in relation
to the total urbanized area which is sufficient to modify the local urban climate. Thus,
observations of climate variables in both micro and local scales were made. The forest fragments
were characterized by measurements of forest canopy openness, area and inventories. The urban
landscape was described based on land use classification, being possible to distinguish the
climatic urban zones and the frontier pattern. The results show that thermal stability increases
with the area of forest fragments. There were differences of thermal and air humidity in the
vertical and horizontal profile of forests, which are influenced by the built environment. On the
other hand, it was possible to conclude that the effect of forests on the local urban climate
increases along with the percentage of forest area over the total urbanized area (A.V. / A.U.). It
was suggested a minimum percentage of 20% of A.V./A.U. It was recommended a homogenous
distribution of forest fragments through the city, in a distance about a double of the medium
fragments width.

Key Words: Urban climatology, Urban planning - Climatic factors, Urban planning, Urban
forests, Urban Land - Use.
xiii
xiv
LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1
Figura 1.1- Fluxograma mostrando a organização da tese e a dependência das etapas
de trabalho. ................................................................................................................................. 4
Capítulo 2
Figura 2.1 - Esquemas das escalas climáticas e camadas de ar verticais encontradas
em áreas urbanas. PBL – planetary boundary layer ou camada limite planetária, UBL –
urban boundary layer ou camada limite urbana, UCL – urban canopy layer ou dossel
urbano.. ....................................................................................................................................... 9
Figura 2.2 – Classificação simplificada de formas urbanas distintas organizadas em
ordem aproximadamente decrescente quanto à capacidade de impacto no clima local. H –
altura das edificações; D – distanciamento entre as edificações.. ............................................... 10
Figura 2.3 - Padrões espaciais e escala climática de observação. .................................... 12
Figura 2.4 – Influência da folhagem no perfil do vento de uma floresta de carvalho. ...... 18
Capítulo 3
Figura 3.1 - Etapa 1: Escolha e caracterização física das áreas de estudo. ...................... 49
Figura 3.2 - Etapa 2: Materiais e técnicas de coletas de dados. ....................................... 50
Figura 3.3 – Estação meteorológica de referência – CEPAGRI (Centro de Pesquisas
Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura). ............................................................. 51
Figura 3.4 – Localização do Município de Campinas no Estado de São Paulo................ 52
Figura 3.5– Média mensal da temperatura do ar e precipitação em Campinas. Dados
de Jun. 1998 a Out. 2008 comparados aos registros do ano de 2009. ......................................... 53
Capítulo 4
Figura 4.1 – Perfil de uma Floresta Estacional Semidecidual, baseado na descrição
de Santin (1999). ....................................................................................................................... 56
Figura 4.2– Mapa de vegetação remanescente no Município de Campinas, com
destaque para as áreas de estudo.. .............................................................................................. 58

xv
Figura 4.3– Fotografias das áreas de estudo. (a) Mata de Santa Genebra, vista da
Trilha Baroni; (b) Bosque dos Italianos; (c) Bosque dos Alemães; (d) Bosque São José; (e)
Bosque dos Guarantãs; (f) Bosque da Paz. ................................................................................ 60
Figura 4.4– Registrador de temperatura e umidade ambientes, protegido da radiação
e ventilado naturalmente, fixado em (a) tripé, na altura de 1,5 m do solo; (b) árvore, na
altura de 10 m do solo. .............................................................................................................. 63
Figura 4.5 - (a) Data-logger de temperatura e umidade ambiente, marca Testo 175-
H2 (b) Data-logger de temperatura ambiente, marca Testo 175-T2. ......................................... 63
Figura 4.6 – Comportamento térmico diário em fragmentos florestais urbanos da
cidade de Campinas, SP comparados à estação meteorológica do CEPAGRI. Dados obtidos
nas alturas de 1,5 m (matas e bosques) e 10 m (CEPAGRI) entre Jan. e Ago. de 2009,
totalizando 40 dias de observação. ............................................................................................ 67
Figura 4.7 – Comportamento diário da umidade relativa do ar em fragmentos
florestais urbanos da cidade de Campinas, SP comparados à estação meteorológica do
CEPAGRI. Dados obtidos nas alturas de 1,5 m (matas e bosques) e 10 m (CEPAGRI) entre
Jan. e Ago. de 2009, totalizando 40 dias de observação. ............................................................ 67
Figura 4.8 – Boxplots, em relação à média, da temperatura do ar (oC) em
fragmentos florestais urbanos da cidade de Campinas, SP. Dados obtidos nas alturas de
1,5m (matas e bosques) entre Jan. e Ago. de 2009, totalizando 40 dias de observação. .............. 70
Figura 4.9– Boxplots, em relação à média, da umidade relativa do ar (%) em
fragmentos florestais urbanos da cidade de Campinas, SP. Dados obtidos nas alturas de
1,5m (matas e bosques) entre Jan. e Ago. de 2009, totalizando 40 dias de observação. .............. 70
Figura 4.10– Temperatura do ar (oC) no interior de fragmentos florestais urbanos
em duas alturas (10m e 1,5m). Dados obtidos entre Ago. e Set. de 2009, totalizando 17 dias
de observação. .......................................................................................................................... 73
Figura 4.11 – Umidade relativa do ar (%) no interior de fragmentos florestais
urbanos em duas alturas (10m e 1,5m). Dados obtidos entre Ago. e Set. de 2009,
totalizando 17 dias de observação. ............................................................................................ 73
Figura 4.12 – Influência da velocidade dos ventos no gradiente térmico de um
fragmento florestal urbano. ....................................................................................................... 75

xvi
Figura 4.13– Gradiente de temperatura e umidade do ar no interior de fragmentos
florestais urbanos. Valores adimensionais, em uma escala de zero a um, baseados em dados
de temperatura do ar (oC), umidade absoluta do ar (g/m3) e umidade relativa do ar (%),
monitorados na altura de 1,5m, às 14:00h. ................................................................................. 77
Figura 4.14 - Fotografias hemisféricas do dossel de fragmentos florestais urbanos,
tiradas na altura de 1,5m, e medidas de abertura (%) correspondentes. ...................................... 80
Figura 4.15 – Abertura do dossel florestal (%) em fragmentos florestais urbanos na
cidade de Campinas-SP.. ........................................................................................................... 80
Figura 4.16– Gradiente térmico e de umidade do ar ao longo de uma trilha na Mata
de Santa Genebra – Campinas, SP. Dados adimensionais baseados em: (a) Temperatura do
ar (b) Umidade absoluta do ar (c) Umidade relativa do ar, medidos às 14h na altura de
1,5m.......................................................................................................................................... 84
Capítulo 5
Figura 5.1– Fixação dos registradores de temperatura e umidade do ar em: (a)
escada de caixa d’água, mostrando detalhe da fixação do protetor do data-logger (b) antena
de televisão profissional (c) antenas residenciais.. ..................................................................... 92
Figura 5.2– Localização dos sítios de monitoramento no Município de Campinas.
Imagem do Satélite LANDSAT 5, de 05 Ago. 2009. ................................................................. 95
Figura 5.3– Fotografias aéreas dos sítios urbanos de monitoramento climático em
Campinas, SP. Ano de 2005.. .................................................................................................... 96
Figura 5.4– Usos do solo no Sítio 1. .............................................................................. 98
Figura 5.5 – Vista aérea do Sítio 2. a) Praça da Torre do Castelo; b) Bosque dos
Italianos; c) Centro. Fonte: Campinas (2006, p.205). ................................................................. 99
Figura 5.6 – Usos do solo do Sítio 2. ............................................................................100
Figura 5.7– Usos do solo do Sítio 3. .............................................................................102
Figura 5.8 – Usos do solo do Sítio 4. ............................................................................104
Figura 5.9 – Usos do solo do Sítio 5. ............................................................................106
Figura 5.10 – Percentuais de usos do solo nos sítios urbanos. .......................................107
Figura 5.11 – Temperatura do ar e umidade relativa do ar ao longo do tempo na área
urbana e na área rural. Dados obtidos na Estação Meteorológica do CEPAGRI, e média dos

xvii
monitoramentos realizados em cinco pontos na área urbana de Campinas. Dados obtidos
entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009, na altura de 10 m. ........................................................109
Figura 5.12 – Diferença térmica entre a área urbana e rural (ΔT u-r, em oC) ao longo
do tempo. Cálculo a partir da média horária dos dados obtidos na Estação Meteorológica
do CEPAGRI (altura de 1,5m), e da média de monitoramentos realizados em cinco pontos
na área urbana de Campinas, entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009 (altura de 10m)................110
Figura 5.13 – Temperatura do ar ao longo do tempo obtida em sítios urbanos em
Campinas, SP. Média horária dos dados obtidos entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009,
com registradores posicionados a (a) 1,5 m e a (b) 10 m do solo...............................................112
Figura 5.14 – Temperatura do ar e umidade absoluta do ar ao longo do tempo em
sítios urbanos e na zona rural de Campinas, SP. Dados obtidos entre os dias 26/08/2009 e
03/09/2009, com registradores posicionados a 1,5 m e a 10 m do solo. Dados que
representam a zona rural foram obtidos na estação meteorológica do CEPAGRI. (a) Sítio 1
(Bosque de Barão); (b) Sítio 2 (Jardim Guanabara); (c) Sítio 3 (Jardim Proença); (d) Sítio 4
(Jardim Nova Europa); (e) Sítio 5 (Jardim Madalena).. ............................................................114
Figura 5.15 – Variáveis climáticas relacionadas ao padrão de ocupação urbana em
Campinas, SP. Sítio 1- Bosque de Barão; Sítio 2 - Jardim Guanabara; Sítio 3 - Jardim
Proença; Sítio 4 – Jardim Nova Europa; Sítio 5 - Jardim Madalena.. ........................................117
Figura 5.16 – Correlações lineares entre a intensidade de ilhas de calor noturnas
(ΔTu-r ) às 22:00h, a amplitude térmica diária e a taxa de aquecimento em áreas urbanas.
Cálculos a partir das médias de dados coletados entre 26/08/2009 e 03/09/2009, na altura de
10m, em cinco sítios urbanos e na estação meteorológica do CEPAGRI, em Campinas-SP. .....118
Capítulo 6
Figura 6.1 – Técnicas de aquisição de dados para a representação do clima local
urbano. S1 – registros em pontos fixos na camada de inércia; S2 – registros móveis, com
ventilação natural e mecânica do sensor preso em carro em movimento. ..................................126
Figura 6.2 – Mapa com informações sobre o percurso e pontos utilizados na
correção dos monitoramentos climáticos móveis. Fragmentos florestais urbanos (ponto
verde): Zona 1 – Mata de Santa Genebra; Zona 2 – Bosque dos Italianos e dos Alemães;

xviii
Zona 3 – Bosque dos Jequitibás; Zona 4 – Bosque São José e dos Guarantãs; Zona 5 –
Bosque da Paz. .........................................................................................................................128
Figura 6.3- Sensor de temperatura e umidade protegido e ventilado naturalmente e
mecanicamente fixado sobre um veículo automotor para registros móveis. ...............................129
Figura 6.4 - Área de abrangência dos pontos fixos em relação aos dados obtidos por
meio móvel. .............................................................................................................................130
Figura 6.5 – Diferença térmica entre a altura de 10 m e 1,5 m. Cálculo a partir da
média dos dados obtidos em cinco pontos fixos, localizados na área urbana de Campinas-
SP, entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009. Linhas tracejadas mostram os horários padrão
(9:00h, 15:00h e 21:00h) de análise da temperatura do ar obtida por meio móvel. ....................131
Figura 6.6 – Limites da Zona 1, classificação dos usos do solo e trajeto do
monitoramento climático..........................................................................................................135
Figura 6.7 – Limites da Zona 2, classificação dos usos do solo e trajeto do
monitoramento climático..........................................................................................................136
Figura 6.8 – Limites da Zona 3, classificação dos usos do solo e trajeto do
monitoramento climático..........................................................................................................137
Figura 6.9 – Limites da Zona 4, classificação dos usos do solo e trajeto do
monitoramento climático..........................................................................................................138
Figura 6.10 – Limites da Zona 5, classificação dos usos do solo e trajeto do
monitoramento climático..........................................................................................................139
Figura 6.11 – Condições do tempo em Campinas entre 11/08/2009 (dia Juliano 223)
e 03/09/2009 (dia Juliano 246), segundo a estação meteorológica do CEPAGRI, e
delimitação do período de monitoramento do clima urbano. .....................................................140
Figura 6.12 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na
Zona 1 ao longo de quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre
29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. ............................................................................143
Figura 6.13 – Temperatura do ar [oC] na Zona 1 ao longo de quatro dias em três
horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-
SP.. ..........................................................................................................................................146

xix
Figura 6.14 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na
Zona 2 ao longo de quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre
29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. ............................................................................149
Figura 6.15 – Temperatura do ar [oC] na Zona 2 ao longo de quatro dias em três
horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP.....151
Figura 6.17 – Temperatura do ar [oC] na Zona 3 ao longo de quatro dias em três
horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-
SP.. ..........................................................................................................................................156
Figura 6.18 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na
Zona 4 ao longo de quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre
29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. ............................................................................160
Figura 6.19 – Temperatura do ar [oC] na Zona 4 ao longo de quatro dias em três
horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-
SP.. ..........................................................................................................................................162
Figura 6.20 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na
Zona 5 ao longo de quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre
29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. ............................................................................164
Figura 6.21 – Temperatura do ar [oC] na Zona 5 ao longo de quatro dias em três
horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP.....166
Figura 6.22 – Diferenças térmicas [oC] e diferenças de umidade absoluta do ar
[g/m3] intra-urbanas em cinco zonas de Campinas-SP, ao longo de quatro dias (gráficos A e
B) e três horários (gráficos C e D). ...........................................................................................169
Figura 6.23 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 1. .................................172
Figura 6.24 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 2. .................................176
Figura 6.25 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 3. .................................178
Figura 6.27 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 5. .................................186
Figura 6.28 – Gradiente térmico e de umidade do ar provocado pelo distanciamento
de fragmentos florestais urbanos. .............................................................................................192

xx
Figura 6.29 – Diferenciação de zonas urbanas, para análise do clima local sob
influência de fragmentos florestais e da fronteira. UCZ – zona climática urbana, segundo
Davenport et al. (2000). ...........................................................................................................194
Figura 6.30 – Esquema de cálculo do percentual de reserva florestal em relação à
área urbanizada. .................................................................................................................... 195
Figura 6.31 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média
das variáveis da UCZ 1 fronteiriça com a UCZ 3 em função do percentual de área florestal
em relação à área total urbanizada [%]. ....................................................................................197
Figura 6.32 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média
das variáveis da UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 1 em função do percentual de área florestal
em relação à área total urbanizada [%]. ....................................................................................198
Figura 6.33 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média
das variáveis da UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 7 em função do percentual de área florestal
em relação à área total urbanizada [%]. ....................................................................................199
Figura 6.34 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média
das variáveis da UCZ 5 fronteiriça com a UCZ 7 em função do percentual de área florestal
em relação à área total urbanizada [%]. ....................................................................................200
Figura 6.35 – Perfis viários em zona urbana central (UCZ 1) com diferentes razões
entre a altura das edificações (H) e a distância entre elas (D). (A) Avenida Aquidabã, na
aproximação de um fragmento florestal; (B) Avenida Francisco Glicério (“core” da UCZ
1), ambas em Campinas-SP.. ....................................................................................................202

xxi
xxii
LISTA DE TABELAS

Capítulo 2
Tabela 2.1- Categorias taxonômicas da organização geográfica do clima e suas
articulações com o “Clima Urbano”. . ......................................................................................... 8
Tabela 2.2- Faixa espectral e efeito da radiação sobre as plantas.. .................................. 14
Tabela 2.3 - Pesquisas que avaliaram a influência da vegetação no clima urbano. .......... 40
Tabela 2.4– Características gerais de pesquisas que avaliaram a influência da
vegetação no clima urbano. ....................................................................................................... 45
Capítulo 3
Tabela 3.1- Áreas de estudo, espaços urbanos de abrangência e escala climática............ 47
Capítulo 4
Tabela 4.1 - Fragmentos florestais urbanos em Campinas, selecionados para a
pesquisa, e dados de levantamentos florísticos segundo Santin (1999) e Guaratini et al.
(2008). ...................................................................................................................................... 61
Tabela 4.2 – Temperatura do ar e umidade relativa do ar em fragmentos florestais
urbanos. Monitoramentos simultâneos, entre Jan. – Ago. de 2009 (total de 40 dias), em
tripés na altura de 1,5m. ............................................................................................................ 68
Tabela 4.3 – Média horária e desvio padrão (d.p.) da temperatura do ar - Tar [oC] -
e umidade absoluta do ar - UA [g/m3] - em fragmentos florestais urbanos em Campinas-SP.
Dados medidos no período de Ago.-Set. de 2009, nas alturas de 1,5 m e 10 m. ......................... 74
Capítulo 5
Tabela 5.1– Sítios de monitoramento climático e fragmentos florestais urbanos
presentes nas imediações, localizados na cidade de Campinas, SP. ............................................ 95
Tabela 5.2 – Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 1, em um raio de 500 m ao
redor do ponto fixo de monitoramento climático. ...................................................................... 98
Tabela 5.3– Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 2, em um raio de 500m ao
redor do ponto fixo de monitoramento climático. .....................................................................100

xxiii
Tabela 5.4– Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 3, em um raio de 500m ao
redor do ponto fixo de monitoramento climático. .....................................................................102
Tabela 5.5 – Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 4, em um raio de 500m ao
redor do ponto fixo de monitoramento climático. .....................................................................104
Tabela 5.6 – Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 5, em um raio de 500m ao
redor do ponto fixo de monitoramento climático. .....................................................................106
Tabela 5.7– Diferença térmica (ΔTu-r , em oC) entre sítios urbanos e a zona rural de
Campinas, SP, em três horários do dia: (a) 6:00h; (b) 14:00h; (c) 22:00h..................................110
Capítulo 6
Tabela 6.1 - Diferença entre os dados iniciais e finais dos registros móveis (circuito
fechado), após as correções ......................................................................................................132
Tabela 6.2 - Porcentagens de usos do solo da Zona 1. ...................................................135
Tabela 6.3- Porcentagens de usos do solo da Zona 2. ....................................................136
Tabela 6.4 - Porcentagens de usos do solo da Zona 4. ...................................................138
Tabela 6.5 - Porcentagens de usos do solo da Zona 5. ...................................................139
Tabela 6.6 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade
absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 1. ........................................................145
Tabela 6.7 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade
absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 2. ........................................................150
Tabela 6.8 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade
absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 3. ........................................................155
Tabela 6.9 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade
absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 4. ........................................................161
Tabela 6.10– Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade
absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 5. ........................................................165
Tabela 6.11 – Diferença térmica entre os fragmentos florestais e urbanos e as zonas
urbanas em que se inserem. Medidas fixas realizadas a 1,5 m (fragmentos) e medidas
móveis estimadas para a altura de 10 m (área urbana). .............................................................187
Tabela 6.12 - Percentuais mínimos de floresta sobre em relação à área total
urbanizada para a modificação do clima local...........................................................................205

xxiv
SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................................................ 1

Hipótese .......................................................................................................................... 2
Organização do trabalho .................................................................................................. 2

2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano .................. 5

2.1 Clima urbano: definição, classificação e estratégias de abordagem............................ 5


2.2 Interações entre solo, planta e atmosfera ................................................................. 12
2.3 Clima urbano e vegetação: revisão de estudos de caso em diferentes escalas ........... 19
2.3.1 A escala da cidade ............................................................................................ 20
2.3.2 A escala do bairro............................................................................................. 23
2.3.3 A escala da quadra ........................................................................................... 32
2.3.4 Pesquisas com foco na conservação ambiental.................................................. 34
2.4 Síntese dos resultados ............................................................................................. 36

3 Metodologia geral da pesquisa ........................................................................................... 47

3.1 Etapas da pesquisa ................................................................................................... 47


3.2 O clima de Campinas .............................................................................................. 52

4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas ................. 55

4.1 Fragmentos florestais urbanos na cidade de Campinas ............................................. 57


4.2 Materiais e Métodos................................................................................................. 61
4.2.1 Monitoramento microclimático nos fragmentos florestais urbanos ........................ 61
4.2.2 Caracterização do dossel florestal ......................................................................... 64
4.2.3 Localização e distância de um ponto à fronteira urbana ......................................... 65
4.3 Resultados e discussão ............................................................................................. 66

xxv
4.3.1 Temperatura do ar e umidade relativa do ar em fragmentos florestais urbanos –
monitoramentos em pontos fixos a 1,5 m de altura ........................................................... 66
4.3.2 Estratificação da temperatura do ar e umidade relativa do ar em fragmentos
florestais urbanos – monitoramentos em pontos fixos em duas alturas (1,5 m e 10 m) ...... 71
4.3.3 Diferenças térmicas e de umidade do ar entre pontos distribuídos no interior de
fragmentos florestais urbanos - medidas às 14h na altura de 1,5m .................................... 75
4.3.4 Abertura do dossel florestal................................................................................... 79
4.4 Estabelecimento de parâmetros relacionados ao microclima de fragmentos
florestais urbanos.................................................................................................................. 81
4.5 Síntese dos resultados .............................................................................................. 85

5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de


fragmentos florestais ............................................................................................................... 89

5.1 Materiais e Métodos................................................................................................. 91


5.1.1 Monitoramentos climáticos em área urbana ........................................................... 91
5.1.2 Caracterização dos sítios de monitoramento .......................................................... 92
5.1.3 Forma de análise dos resultados ............................................................................ 94
5.2 Resultados e discussão ............................................................................................. 94
5.2.1 Apresentação dos sítios de monitoramento ............................................................ 94
5.2.2 Microclima e topoclima em sítios urbanos sob a influência de fragmentos
florestais – monitoramentos em pontos fixos em duas alturas (1,5 m e 10 m) ..................108
5.3 Síntese dos resultados e comentários finais .............................................................119

6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do


solo e proximidade de um fragmento florestal ......................................................................121

6.1 A técnica de monitoramentos climáticos móveis ....................................................124


6.1.1 Proposição de adequações na técnica de monitoramentos climáticos móveis
para a representação do espaço urbano.................................................................................125
6.2 Materiais e Métodos...............................................................................................126
6.2.1 Classificação do uso do solo e delimitação de zonas urbanas ...........................127

xxvi
6.2.2 Monitoramentos em pontos fixos .....................................................................127
6.2.3 Estabelecimento do percurso, procedimentos de medição e instrumentação .....127
6.2.4 Delimitação das áreas de influência dos pontos fixos .......................................129
6.2.5 Correção horária dos dados obtidos por meio móvel ........................................130
6.2.6 Correção dos dados obtidos por meio móvel devido à altura de aquisição ........130
6.2.7 Temperatura e umidade dos registros móveis após correções ...........................131
6.2.8 Tratamento e representação dos dados .............................................................132
6.3 Resultados e discussão ...........................................................................................133
6.3.1 Apresentação das zonas de monitoramento ......................................................133
6.3.2 Condições de tempo no período de monitoramento..........................................140
6.3.3 Temperatura do ar e umidade absoluta do ar local em diferentes zonas
urbanas, em quatro dias e três horários, após a ocorrência de chuva .....................................141
6.3.4 Diferenças higrotérmicas intra-urbanas decorrentes de manchas de
ocupação e do distanciamento de fragmentos.......................................................................170
6.3.5 Percentual de área de floresta em relação à área total urbanizada para a
modificação do clima local urbano ......................................................................................194
6.4 Síntese dos resultados e comentários finais ............................................................205

7 Conclusões .........................................................................................................................209

8 Referências.........................................................................................................................213

xxvii
CAPÍTULO 1 Introdução

1 Introdução

As pesquisas sobre o clima urbano apresentam-se, muitas vezes, dissociadas da prática da


arquitetura e do urbanismo. Apesar de se conhecer em teoria o que é o efeito de ilhas de calor e
os benefícios da vegetação no meio urbano, o arquiteto, ao desenhar as cidades, utiliza elementos
baseando-se na intenção estética e dimensiona os espaços diante de restrições legais e imposições
da economia. Nem sempre a definição dos parâmetros urbanísticos, que determinam a geometria
urbana, passa pelo crivo da adequação ao clima regional. Desse modo, o conforto térmico é
tratado tardiamente, na etapa de projeto arquitetônico e paisagístico, quando poderia ser pensado
no processo de planejamento urbano.
Além disso, o avanço no conhecimento sobre o papel da vegetação no microclima e
conforto térmico em espaços abertos é recente. As pesquisas com este enfoque tiveram início nos
anos 90, avolumando-se a partir de 2000. Ainda assim, poucas tratam dos fragmentos florestais
urbanos, possivelmente devido à escassez destas áreas nas cidades.
O déficit de áreas verdes deve-se à destruição sistemática das florestas e avanço do
território agrícola e urbano, que ocorreu desde a colonização brasileira. Por outro lado, a
exigência de reserva florestal legal, prevista no Código Florestal (BRASIL, 1965), aplica-se
somente à zona rural, e a expansão do perímetro urbano, sem a prévia averbação destas reservas,
é uma prática comum. A perpetuação da Reserva Legal só ocorreu na reforma do Código
Florestal em 1989 (BRASIL, 1989). Além disso, a Lei de Parcelamento do Solo Urbano
(BRASIL, 1979) exige a criação de espaços livres públicos, mas não de áreas verdes. Portanto, as
florestas urbanas restringem-se, na maioria das vezes, às áreas de preservação permanentes junto
aos cursos d’água, em áreas urbanizadas posteriores a 1965.
Em 2011 celebra-se o Ano Internacional das Florestas. O “Fórum das Nações Unidas
sobre Florestas” encoraja a união dos povos para a salvaguarda e uso sustentável das florestas.
Além disso, o Código Florestal vem passando por uma análise em relação aos percentuais
vigentes de Reserva Legal, possibilidade de compensação da reserva dentro do mesmo bioma,
mudança no dimensionamento e possibilidade de exploração das Áreas de Preservação
Permanentes. Neste sentido, esta pesquisa poderá esclarecer sobre a importância das florestas no
meio urbano.
1
CAPÍTULO 1 Introdução

Partindo do princípio de que há uma interação entre os espaços climáticos - edificação,


quadra, bairro, cidade e região - presume-se que os fragmentos florestais urbanos alteram o clima
do entorno, bem como sofrem influências microclimáticas advindas do ambiente construído. O
conhecimento desta interação poderá ser aplicado em beneficio das cidades, no que se refere à
melhoria do clima urbano e dos níveis de conforto térmico, e em benefício da conservação
florestal, com informações que podem ser úteis ao seu manejo.
Dentro deste panorama, esta pesquisa tem como objetivos:
− Caracterizar o microclima de fragmentos florestais urbanos, remanescentes da Floresta
Estacional Semidecidual, localizados na cidade de Campinas, SP;
− Quantificar a magnitude e a extensão do efeito de fragmentos florestais urbanos no clima
do entorno edificado;
− Encontrar um percentual mínimo de área de fragmento florestal em relação à área total
urbanizada, para diferentes padrões de ocupação, que seja suficiente para modificar o
clima local urbano.

1.1 Hipótese

Existe um percentual mínimo de área de fragmento florestal, remanescente da Floresta


Estacional Semidecidual, caracterizada pela vegetação predominante arbórea e estratificada, que
seja suficiente para influir no clima local urbano. Este percentual é alterado conforme os padrões
da paisagem e de suas fronteiras, que podem ser descritos pelas características de uso e ocupação
da terra.

1.2 Organização do trabalho

A tese é organizada em oito capítulos, como esquematizado na Figura 1.1. O primeiro


consta desta introdução. O segundo capítulo traz uma revisão bibliográfica específica sobre os
temas clima urbano, conforto térmico e vegetação. Ressalta-se a necessidade de adequações na
metodologia e na análise dos dados, diante das recomendações feitas por Monteiro e Mendonça
(2009), Oke (2006a), Oke (1984) e Bowler et al. (2010).
Diante do embasamento teórico, o terceiro capítulo apresenta a metodologia geral do
trabalho. Justifica-se a realização de experimentos em diferentes espaços de abrangência urbana -

2
CAPÍTULO 1 Introdução

a quadra, o bairro e a zona urbana - adequando-se os métodos de pesquisa à escala de observação


e aos objetivos específicos de cada etapa.
Assim, nos capítulos quatro, cinco e seis são apresentados três experimentos, constando
os materiais e métodos específicos e a análise de resultados. Na abrangência da quadra enfocam-
se seis fragmentos florestais urbanos, nos quais foram realizados monitoramentos
microclimáticos. Na abrangência do bairro, caracteriza-se o uso e ocupação do solo urbano do
entorno próximo dos fragmentos florestais estudados e apresentam-se os resultados de
monitoramentos fixos representativos do microclima e do clima local urbano. Compara-se a
intensidade das ilhas de calor entre os sítios, fazendo associações com os percentuais de usos do
solo. Na abrangência das zonas urbanas, os sítios são ampliados, identificando-se os limites de
padrões de ocupação, utilizando-se como base a classificação das zonas climáticas urbanas
(UCZ) sugerida por Davenport et al. (2000). São apresentados os resultados de monitoramentos
móveis, observando-se as diferenças higrotérmicas decorrentes da aproximação das florestas
urbanas e de influências do padrão de ocupação da fronteira. Por fim, estima-se um percentual
mínimo de área de floresta sobre uma área total urbanizada que seja suficiente para modificar o
clima local urbano, confirmando a hipótese.
O sétimo capítulo retoma as principais conclusões dos capítulos anteriores, e o oitavo
apresenta as referências bibliográficas.

3
CAPÍTULO 1 Introdução

1. Introdução: 2. Revisão da 3. Metodologia Experimentos de 7. Conclusões: 8.Referências


‐ Apresenta a literatura: geral da campo:
‐ Resume os
pesquisa, os ‐Busca pesquisa e ‐ Apresenta as principais
objetivos, metodologias encadeamento áreas de resultados dos
ahipótese e a utilizadas em dos pesquisa; três
estrutura da pesquisas com experimentos experimentos;
em três escalas ‐ Apresenta
tese. o tema detalhes dos ‐Confirma a
vegetação e de abrangência
urbana. métodos de hipótese e traz
interações pesquisa; as conclusões.
climáticas em
diferentes ‐ Apresenta e
abrangências discute os
urbanas. resultados da
pesquisa.
‐Justifica a
realização da
pesquisa e a
escolha dos
métodos 4. A Quadra:
adequados às microclima em
escalas. fragmentos
florestais
urbanos.

5. O Bairro:
Monitora‐
mentos fixos em
sítios urbanos.

6. A Zona
Urbana:
Monitora‐
mentos móveis
em zonas
urbanas.

Figura 1.1- Fluxograma mostrando a organização da tese e a dependência das etapas de trabalho.

4
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do


clima urbano
Este capítulo apresenta um quadro referencial teórico sobre o clima urbano sob a
influência da vegetação. Primeiramente, são apresentados os conceitos, as classes
climáticas e as estratégias de abordagem do clima urbano, baseando-se principalmente em
Monteiro (1976) e Oke (2006a). Para melhor compreensão do microclima das áreas
vegetadas, apresentam-se conceitos básicos sobre a interação entre o solo, planta e
atmosfera. Por fim, faz-se uma revisão de estudos de casos que identificaram como a
vegetação influencia o clima urbano e o conforto térmico humano. É organizada uma tabela
classificando-se as pesquisas segundo a abrangência do espaço urbano em que foi realizada
(cidade, bairro, quadra, edificação), a escala climática, os meios de observação utilizados
na coletas de dados, a categoria de área verde investigada, e o foco da pesquisa (clima e/ou
conforto térmico). A partir desta sistematização, discute-se a necessidade de ampliação de
pesquisas e a adequação da metodologia para a melhor compreensão do tema vegetação e
clima urbano.

2.1 Clima urbano: definição, classificação e estratégias de abordagem

A atmosfera terrestre é uma camada gasosa cujos principais constituintes são o


nitrogênio, o oxigênio, o argônio, o dióxido de carbono e o vapor d’água. Esta camada é
responsável pela manutenção da vida no planeta, visto que o oxigênio, o dióxido de
carbono e a água fazem parte do processo fisiológico da respiração dos seres vivos, e, em
particular, da fotossíntese dos vegetais. Além disso, o oxigênio na forma de ozônio, que se
concentra na camada mais alta da atmosfera, atua como protetor efetivo da radiação
ultravioleta que incide sobre a Terra, reduzindo a quantidade de energia que alcança o
planeta (MARIN et al., 2008).
Do total da radiação emitida pelo Sol, apenas 19% incide sobre a superfície
terrestre, sendo que 37% difunde-se na atmosfera, 28% reflete-se na camada de nuvens e
16% da radiação é absorvida pela água, ozônio e dióxido de carbono presentes na atmosfera
(GEIGER, 1966). A radiação solar que alcança a Terra é responsável pelo aquecimento do

5
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

solo e demais superfícies, que por sua vez perdem calor para a atmosfera emitindo radiação
de ondas longas1 ou por meio da evaporação da água (perda de calor latente).
O ganho e a perda de calor da Terra para a atmosfera ocorrem em um ciclo diário.
Já a quantidade total de energia, que faz parte deste balanço de calor, varia anualmente,
conforme a posição de um ponto do planeta em relação ao Sol, determinando as estações do
ano. A quantidade de radiação solar incidente em um ponto da Terra também varia de
acordo com a latitude. As regiões próximas do Equador contam com alta incidência de
radiação solar durante todo o ano, enquanto nas zonas subtropicais ocorre maior variação
no fotoperíodo (duração do dia) e no ângulo de incidência dos raios solares sobre a
superfície terrestre (MARIN et al., 2008). Estas diferenças no balanço de energia anual,
decorrentes da latitude, explicam, de modo geral, o clima.
Segundo Monteiro e Mendonça (2009, p. 11), “a concepção de clima prende-se
àquela dos estados médios dos elementos atmosféricos sobre o dado lugar”. Os elementos
que caracterizam o clima são a temperatura do ar, a umidade do ar, a pressão atmosférica, a
velocidade e direção dos ventos, a pluviosidade e a radiação. Há ainda a atuação de massas
de ar, provenientes de outras regiões, que apresentam características de temperatura,
umidade e pressão do seu local de procedência, interferindo no clima de dada região.
No processo de urbanização, os materiais construtivos e a impermeabilização do
solo acarretam a diminuição da quantidade de água disponível para as trocas de calor entre
a superfície terrestre e a atmosfera, o aumento da absorção de calor devido à alta
capacidade térmica dos materiais 2 e, conseqüentemente, o aquecimento das superfícies e do
ar (LOMBARDO, 1997; TAHA, 1997). A concentração de poluentes acima das cidades
afeta os fluxos radiativos e a evaporação, modificando o balanço energético entre a camada
intra-urbana e a atmosfera (HORBERT; KIRCHGEORG, 1982). Os elementos construídos
funcionam, ainda, como barreiras ao vento, causando turbulências e sombras de vento no
interior da camada limite urbana, variando entre os padrões de urbanização. Assim,

1
Segundo a Lei de Stefan-Boltzmann, a energia total emitida por um corpo (Q) é função da quarta
potência de sua temperatura absoluta (T), em Kelvin, e da emissividade do corpo emissor (ε). Assim,
Q=T4.ε.σ , onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann, igual a 5,6697. 10– 8 W.m-2.K-4 (MARIN et al., 2008).
2
Algumas referências de calor específico, em [kJ/kgºC] a 20ºC, de materiais construtivos: Asfalto -
0,80; Telha - 0,63; Concreto - 0,88; Tijolo comum - 0,92; Vidro - 0,84.

6
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Monteiro e Mendonça (2009) afirmam que a urbanização altera as propriedades


meteorológicas da camada de ar próxima da superfície terrestre, produzindo uma “anomalia
na atmosfera” sobre a cidade, o que caracteriza o clima urbano.
Considerando-se o clima urbano a resposta da interação entre um sítio urbanizado e
a atmosfera de um dado lugar, Monteiro (1976) adverte para as oscilações do tempo
resultantes da circulação secundária regional. Também Oke (2006b) adverte para as
flutuações nas observações climáticas, que podem variar em frações de segundos, com a
ocorrência de pequenas turbulências, até mudanças climáticas centenárias, que retratam a
história das cidades.
Os estudos do clima urbano abrangem grandezas espaciais que variam desde uma
região até uma edificação. Os principais autores que propuseram uma taxonomia para o
clima urbano foram Monteiro (1976) e Oke (1987). O primeiro propôs categorias climáticas
que são subdivisões do clima local, unidade básica de observação meteorológica, como
apresentado na Tabela 2.1, associando, a cada uma, os meios de observação para o registro
de dados climáticos mais adequados.
Monteiro (1976) adverte que a classificação climática não deve ser interpretada a
partir de uma concepção de hierarquia que remete à noção de “escada”. Diante disso, o
autor utiliza conceitos da teoria de sistemas para explicar a interdependência entre
diferentes níveis hierárquicos. Em cada nível, identifica-se uma organização interna
(constituindo um sistema fechado), que depende, porém, do grau de comunicação com os
outros níveis hierárquios, denominados hólons (constituindo um sistema aberto). O autor
explica que os níveis de organização das unidades climáticas partem da diversificação à
especialização e, apesar desta subdivisão, a organização de cada nível depende,
fundamentalmente, das ordens de grandeza superiores (o mesoclima depende do clima
regional, por exemplo). Concluindo, Monteiro teme a visão simplificada de causa-efeito e
atenta para a necessidade de se compreender a interdependência dos processos em termos
de organização funcional.

7
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Tabela 2.1- Categorias taxonômicas da organização geográfica do clima e suas articulações com o
“Clima Urbano”. Fonte: Monteiro (1976, p.109), revisado por Monteiro e Mendonça (2009, p.29) e
pela autora.

Ordens Unidades Escalas Espaços Espaços Estratégias de Abordagem


de de geográficas Climático Urbanos
Grandez Superfíci de s
a e tratamento
(Cailleux Meios de Fatores de Técnicas de
e Observação Organização Análise
Tricart)
1:45.000.00 Latitude
106 Caracterizaçã
0 Satélites Centros de
II (milhões Zonal - o geral
1:10.000.00 Nefanálises ação
de km) comparativa
0 atmosférica
Cartas Sistemas
104
1:5.000.000 - sinóticas meteorológico Redes
III (milhões Regional
1:2.000.000 Sondagens s (Circulação transectos
de km)
aerológicas secundária)
Megalópole Rede
102 Sub- Fatores
1:1.000.000 Grande área meteorológic Mapeamento
IV (centenas regional geográficos
1:500.000 metropolitan a de sistemático
de km) (fácies) regionais
a superfície
Posto
Área Integração
10 meteorológic
1:250.000 metropolitan geologica Análise
V (dezenas Local o Rede
1:100.000 a Ação especial
de km) complementa
Metrópole antrópica
r
Cidade
10 grande Registros
1:50.000
VI (dezenas Mesoclima Bairro ou móveis Urbanismo
1:25.000
de km) subúrbio de (Episódicos)
metrópole
Pequena
cidade
Dezenas 1:10.000 Fácies de
- Topoclima (Detalhe) Arquitetura Especiais
de metros 1:5.000 bairro/
subúrbio de
cidade
Grande
edificação Baterias de
Microclim
- Metros 1:2.000 Habitação instrumentos Habitação
a
Setor de especiais
habitação

Já Oke (1987) classifica o clima urbano em três abrangências espaciais, a


microescala, a escala local e mesoescala, como apresentado na Figura 2.1. Para cada classe,
o autor destaca as variações na camada de ar presentes no perfil vertical, o que acarretará a
diferenciação dos métodos de observação climática, especialmente em relação ao
posicionamento dos instrumentos.

8
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Figura 2.1 - Esquemas das escalas climáticas e camadas de ar verticais encontradas em áreas
urbanas. PBL – planetary boundary layer ou camada limite planetária, UBL – urban
boundary layer ou camada limite urbana, UCL – urban canopy layer ou dossel urbano.
Fonte: Oke (2006a), modificado de Oke (1997). Traduzido livremente pela autora.

Segundo Oke (2006a), os monitoramentos feitos no interior da camada de


rugosidade (roughness sublayer) caracterizam o microclima. Para a aferição do clima na
escala local deve-se fazer os monitoramentos na camada de inércia (inertial sublayer), na
qual a mistura dos efeitos microclimáticos se completa. Segundo o autor, estima-se que o
campo de medidas que indica esta camada de mistura (Zr) é de 1,5 vezes a altura média das
edificações e arborização (Zh), em áreas adensadas, e pode ser maior que 4 x Zh em áreas
urbanas homogêneas e de baixa densidade. Na mesoescala, os monitoramentos também são
feitos acima da camada de rugosidade e, para Oke, nem sempre uma só estação
meteorológica é capaz de representar o clima da cidade.
Destacam-se, ainda, Davenport et al. (2000), que distinguem sete zonas climáticas
urbanas (UCZ - Urban Climate Zone), como apresenta a Figura 2.2. Estas zonas se
diferem em relação ao padrão espacial, que pode ser expresso através de parâmetros tais
como a relação entre a altura média das edificações e o distanciamento entre elas (H/D), o

9
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

percentual de áreas impermeáveis e a classe de rugosidade. As zonas com alto


desenvolvimento urbano e verticalização causam maior impacto no clima local, e do lado
oposto, encontram-se as zonas com características rurais.

Figura 2.2 – Classificação simplificada de formas urbanas distintas organizadas em ordem


aproximadamente decrescente quanto à capacidade de impacto no clima local. H –
altura das edificações; D – distanciamento entre as edificações. Fonte: Oke (2004) não
publicado citado por Oke (2006, p. 11). Tradução livre da autora, com exemplos
adaptados ao Brasil.

Ainda em relação às interações que ocorrem entre as escalas climáticas, destaca-se o


tratamento holístico e multidisciplinar feito pela Ecologia da Paisagem, disciplina que tem
como objetivo analisar a paisagem sistemicamente, a fim de expressar a heterogeneidade do
espaço e “revelar as relações ou processos ativos entre as unidades” (SANTOS, 2004).

10
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Segundo esta disciplina, a paisagem pode ser observada em diferentes escalas. Para analisá-
la, identificam-se seus padrões estruturais (disposição ou arranjo espacial) e seus padrões
funcionais (ecossistemas e fluxos de matéria e energia) (FORMAN; GODRON, 1986;
METZGER, 1999; METZGER, 2001). Os padrões estruturais correspondem às manchas,
corredores ou matriz da paisagem. A matriz é uma unidade que controla a dinâmica da
paisagem, por recobrir a maior parte do espaço. As manchas estão contidas na matriz e são
áreas homogêneas que se distinguem das vizinhas, com extensões espaciais reduzidas e não
lineares. Os corredores têm disposição linear e podem dinamizar ou dificultar o fluxo entre
as manchas.
A transição entre unidades de paisagens apresenta características peculiares
causadas pela interação entre elas, sendo denominado “efeito de borda”. Dessa forma, uma
mancha pode apresentar propriedades distintas em suas bordas por estar em contato com
outras de diferentes propriedades funcionais e espaciais (METZGER, 2001).
Os conceitos empregados pela Ecologia da Paisagem vão ao encontro de Monteiro
(1976), sendo que as relações e processos entre unidades de paisagem são vistas, por este
autor, como a interdependência entre os níveis hierárquicos do clima, em busca da auto-
regulação.
Baseando-se na teoria, propõe-se, na Figura 2.3, passos para a identificação dos
padrões espaciais e escolha adequada dos pontos para a instalação dos instrumentos de
medição do clima urbano. Este processo permite certa flexibilidade na metodologia de
pesquisa, de acordo com os objetivos do pesquisador.

11
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

a) Classificação das b) Destaque para a c) Identificação das d) Identificação de e) Mudança de


manchas de paisagem de fronteiras e manchas menos escala para nova
ocupação em uma estudos. possíveis bordas suscetíveis aos aferição,
matriz urbana. Ex. Conjuntos nas quais as efeitos de borda, dependendo dos
Ex. tipologias habitacionais variáveis climáticas que representem o objetivos da
construtivas populares com 3‐4 poderão sofrer padrão espacial pesquisa. Escolha
pavimentos. perturbações. que se deseja final dos pontos
avaliar. para a instalação da
instrumentação.

Figura 2.3 - Padrões espaciais e escala climática de observação.

Um resumo da teoria apresentada mostra que o clima representa o estado médio dos
elementos da atmosfera de um lugar, e que as alterações da atmosfera local sobre a cidade
caracterizam o clima urbano. Há uma inter-relação entre os fenômenos climáticos que
ocorrem nas várias escalas espaciais (região, cidade, bairro, quadra, edifício). A resposta do
comportamento térmico de padrões espaciais está sujeita às condições de tempo
(meteorológico), podendo ocorrer variações nos resultados de pesquisas realizadas em
períodos diferentes. Tais variações são proporcionais à escala de observação – quanto
menor o objeto de estudos, mais rápidas as perturbações causadas pelo meio. Na paisagem
urbana, é necessária a identificação de padrões espaciais, classificados em matriz, manchas
e corredores. Recomenda-se a identificação e caracterização de padrões de ocupação e de
suas fronteiras, bem como a escolha adequada de técnicas de observação do clima, e o local
de instalação dos instrumentos, diante dos objetivos da pesquisa.

2.2 Interações entre solo, planta e atmosfera

Na geofísica, a vegetação é considerada a camada ativa de plantas que isola o solo


da atmosfera. Esta camada absorve, transmite e emite radiação, possui capacidade de

12
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

absorver e armazenar carbono e de transferir água para a atmosfera, mesmo quando o solo
encontra-se com baixa umidade. Nos estudos de Microclimatologia a vegetação é tratada
como uma superfície horizontal simplificada, enquanto na Ecologia é vista como um
conjunto que possui certa densidade (de plantas ou folhas) e estrutura (MONTEITH, 1975).
Já o volume solo-planta-ar é definido como aquele que se estende desde o solo até o topo
das plantas, no qual não há significativo fluxo de calor no sentido vertical (OKE, 1987),
embora nas florestas ocorra diferença térmica entre a camada dos troncos e das copas
(GEIGER, 1966).
O interesse do presente trabalho se dá tanto pela estrutura da vegetação,
especificamente pelos fragmentos florestais urbanos, quanto pelo resultado de sua interação
com a atmosfera urbana, no que diz respeito à modificação das características
microclimáticas da cidade. Considera-se, na definição de vegetação, o solo, além das
plantas, em decorrência dos efeitos microclimáticos do conjunto.
As plantas, vistas como um organismo vivo, absorvem e emitem radiação,
transpiram e trocam calor com a atmosfera. Nelas, ocorrem mecanismos físicos e
bioquímicos para maior eficiência do balanço energético, tais como orientação de folhas e
flores em relação à radiação incidente, e a abertura estomática. Os principais efeitos da
vegetação no microclima consistem na diminuição da temperatura do ar, no sombreamento,
na evapotranspiração e na diminuição da velocidade do vento (GEIGER, 1966).
A radiação solar possui um espectro na qual apenas uma faixa interessa ao
crescimento das plantas - a radiação fotossinteticamente ativa (RFA), ou PAR
(photosynthetically active radiation) (BEAUDET; MESSIER, 2002), que se concentra
entre 380-710 nm. Segundo Larcher (2004), a energia radiante proveniente do sol é fixada
em energia química potencial através do processo fotossintético das plantas. Além do efeito
fotoenergético (a luz como fonte de energia), a radiação também tem efeito fotocibernético,
pois governa e estimula o desenvolvimento da planta, e efeito fotodestrutivo, pois pode ser
um fator estressante. Os efeitos da absorção dos quanta de luz pelos fotorreceptores de uma
planta se diferenciam pelo momento, duração, direção e composição da radiação, conforme
apresentado na Tabela 2.2.

13
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Tabela 2.2- Faixa espectral e efeito da radiação sobre as plantas. Fonte: Ross (1981) referenciado
por Larcher (2004, p.41 ).
Compri- Porcenta- Efeito da radiação
Aproveita-
Faixa mento gem da
mento da
espectral de onda radiação
fotossíntese Fotoenergético Fotodestrutivo Térmico
(nm) solar
Ultravioleta 290-380 0-4 I PE S I

RFA* 380-710 21-46** S S PE S

Infraver- 750-
50-79** I S PE S
melho 4.000

Ondas 4.000-
_ I I I S
longas 100.000
Legenda – I- insignificante; S- Significante; PE-pouco efeito. (*) Radiação fotossinteticamente
ativa; (**) conforme posição do sol e a cobertura por nuvens.

As folhas são consideradas um corpo negro, com emissividade em torno de 0,95, o


que as tornam dissipadoras ideais de calor. A absortância solar varia entre os comprimentos
de onda, sendo mais alta na faixa da RFA (0,85) e das ondas longas (0,95). Em relação à
transmitância, as folhas são transparentes às ondas curtas e opacas às longas (OKE, 1987;
GEIGER, 1966). A refletância varia ao longo do dia e do ano, pois depende tanto da
orientação das folhas como da inclinação solar. Quanto maior a altura solar (próximo de
12h), maior a refletância. Depende ainda das características das folhas, tais como brilho,
presença de pêlo e cor. Toma-se como parâmetro um albedo médio de 0,3. Este também
varia com os comprimentos de onda, com alta refletância na região do infravermelho (0,7),
propiciando a comunicação entre as plantas para a busca de luz, no chamado sistema
fitocromo.
Em composições estratificadas de plantas, a radiação é utilizada pelas copas mais
altas até as folhagens mais baixas, de maneira que cerca de 2% alcança o solo. Quanto mais
variadas em espécies, maior a capacidade de absorção de radiação. Comparando-se o
espectro da radiação abaixo de uma cerca de arbustos e abaixo de uma floresta densa,
observa-se que a faixa entre 400_nm e 700 nm é praticamente toda absorvida pela floresta,
enquanto nos arbustos esta faixa se concentra próximo de 700 nm (LARCHER, 2004).

14
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Assim, a distribuição da luz abaixo do dossel florestal é determinada por sua


estrutura, variando entre os tipos de floresta e mesmo entre os pontos de uma mesma
floresta natural, em decorrência de sua composição. Além disso, a quantidade de luz que
chega ao solo depende da idade da floresta. Em caso de plantios homogêneos, como as
florestas com destino madeireiro, há maior quantidade de luz nas florestas antigas
(GEIGER, 1966), embora se suponha que o mesmo não ocorra em florestas com vegetação
diversa e estratificada. A densidade foliar, arranjo das folhas no interior da vegetação e
ângulo existente entre a folha e radiação incidente, são os principais fatores para a
atenuação da radiação solar (LARCHER, 2004).
O saldo de radiação (SR) é a soma dos balanços de ondas longas (Bλl) e de ondas
curtas (Bλc), expresso segundo a Equação 2.1, e pode ser obtido por meio de um saldo-
radiômetro (ou net-radiômetro). O balanço de ondas curtas refere-se à parcela de radiação
de ondas curtas absorvida pela superfície terrestre, dependendo, portanto, do albedo
(refletância). O balanço de ondas longas é a diferença da densidade de fluxo de energia
radiante emitida pela atmosfera e que atinge a superfície da Terra, e a energia radiante da
superfície terrestre em direção à atmosfera. O balanço de ondas longas depende, portanto,
da emissividade das superfícies e das condições atmosféricas.

SR=Bλl+Bλc (Eq. 2.1)

O balanço de energia relaciona o saldo de radiação (SR) aos fluxos de calor latente e
sensível e ao armazenamento de energia, segundo a Equação 2.2:

∆ (Eq. 2.2)

onde – SR é o saldo de radiação; LE é a energia utilizada para evaporação da água (fluxo de


calor latente); H é a energia gasta para o aquecimento do ar (fluxo de calor sensível); G é a
energia conduzida para o solo; F é a energia utilizada na fotossíntese; e ∆A é a variação do
armazenamento de energia térmica no ambiente, podendo ser positivo ou negativo de
acordo com a variação da sua temperatura (MARIN et al., 2008, p. 42).

15
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

O armazenamento físico e bioquímico de energia (F e ΔA) constitui uma fração


muito pequena, podendo ser desprezado - cerca de 32 W/m2, somados (OKE, 1987). Os
termos LE e H geralmente representam mais de 90% de SR, sendo os principais
componentes do balanço energético. Em ambientes úmidos LE tem maior
representatividade no balanço de energia, mas em ambientes secos H tem maior relevância
(MARIN et al, 2008). Neste sentido Marin et al. (2008, p. 44) destacam que:

Essa relação simples explica em grande parte por que o cultivo


de árvores (qualquer tipo de vegetação, na verdade) nas zonas
urbanas atua como redutor da temperatura do ar, já que se tem
nas plantas uma espécie de “sumidouro” de energia radiante,
utilizada no processo de mudança de fase da água. Em
contrapartida, em ambiente com ausência de vegetação ou de
corpos d’água, a energia radiante disponível no ambiente é
convertida predominantemente em fluxo de calor sensível, com
elevação da temperatura do ar aos níveis normalmente
observados em grandes centros urbanos nos horários mais
quentes do dia.

O alto conteúdo de água nas plantas (cerca de 60 a 90% da massa física fresca) é
responsável tanto pelo aquecimento dos seus tecidos como pelo seu resfriamento. O calor
específico de um tecido vegetal suculento é de aproximadamente 0,8 cal/goC (PEIXOTO,
2004). Para regular a temperatura dos tecidos foliares, ocorre a abertura estomática e a
liberação de vapor d’água, mantendo os limites térmicos apropriados ao metabolismo das
plantas (ANGELOCCI, 2002). Os mecanismos de termorregulação variam entre as espécies
vegetais, e influenciam na quantidade de energia absorvida. Estes mecanismos dependem
do clima, da disposição de água no solo e no ar, e da competição entre indivíduos.
O efeito conjunto da evaporação da água percolada no solo, das gotículas presas nas
superfícies das plantas e da transpiração, é denominado de evapotranspiração. O balanço
hídrico do sistema solo-planta-ar ocorre segundo a Equação 2.3 (ANGELOCCI, 2002).

∆ ∆ (Eq. 2.3)

16
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

onde – P é a precipitação, E é a perda por evaporação; ∆r é a água armazenada no interior


das plantas e solo; ∆s é a água disponível superficialmente, na forma de gotículas; e Q é o
escoamento superficial (valores expressos em mm/unidade de tempo).
É importante ressaltar que o conteúdo de água disponível no solo determina a
quantidade de água perdida pela evapotranspiração. Um gramado após um dia de chuva
perde cerca de 2,8_mm de água/dia, mas em dias secos esta taxa cai para 1,1 mm/dia. Ao
contrário, as superfícies d’água evaporam mais em dias secos, visto que a umidade do ar
encontra-se mais baixa (GEIGER, 1966). A área foliar é um parâmetro utilizado para
estimar a perda de água por transpiração.
A interceptação da chuva também é uma qualidade importante da vegetação. As
vantagens consistem na proteção do solo contra a lixiviação e erosão, e retorno rápido da
água para a atmosfera, devido ao aumento da evapotranspiração. A porcentagem de água de
chuva interceptada pode variar entre 10 -25% nas florestas decíduas e entre 15-40% nas
florestas de coníferas (OKE, 1987), variando com a densidade de precipitação (GEIGER,
1966). Em uma floresta primária subtropical brasileira, a interceptação chega a 82%
(GEIGER, 1966).
A ventilação acelera a perda de calor, tanto pela evapotranspiração, quanto pelas
trocas turbulentas ou convectivas. A resistência difusiva da camada laminar de ar aderida às
folhas diminui proporcionalmente com o aumento da velocidade dos ventos. Esta
resistência, também diminui com a diferença térmica entre a folha e o ar, mas aumenta com
a área da folha (GEIGER, 1966; OKE, 1987; MARIN et al. 2008).
Em relação ao comportamento do vento no interior da vegetação, verifica-se que
sua velocidade tende à zero nas copas das árvores, nos arbustos e nas gramíneas. Nas
árvores isoladas e agrupamentos arbóreos forma-se uma zona de alta pressão nas laterais,
menor velocidade na direção atuante da corrente de ar, a barlavento, e baixa pressão a
sotavento. Esta diferença de pressão acarreta a distribuição desigual da chuva (LARCHER,
2004). Analisando o perfil do vento no perfil vertical de uma árvore com folhas, verifica-se
uma pequena aceleração na altura dos troncos, diminuindo nas copas e acelerando
novamente no topo da mesma. Esta desaceleração já não ocorre no seu estado decíduo
(GEIGER, 1966), como ilustra a Figura 2.4.

17
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Figura 2.4 – Influência da folhagem no perfil do vento de uma floresta de carvalho. Fonte: Geiger
(1966, p.313).

Os mecanismos biofísicos da vegetação resultam em um microclima ameno, úmido


e com baixa velocidade do ar, em relação às áreas não vegetadas. A camada das copas das
árvores funciona como um filtro para a radiação solar, impedindo sua incidência direta no
solo, diminuindo o aquecimento desta superfície e, consequentemente, a temperatura do ar.
No entanto, esta camada também bloqueia a radiação de ondas longas emitida pelo solo e
pelas plantas situadas no sub-bosque da floresta, de modo que o interior das florestas
apresenta temperaturas noturnas superiores às dos campos abertos (GEIGER, 1966).
Diante disso, considera-se que a evapotranspiração constitui importante sistema
para a moderação do clima urbano (TAHA, 1997). Mas, devido à baixa quantidade de água
disponível para a evapotranspiração, nas florestas urbanas o fluxo de calor sensível pode ser
superior à perda de calor latente. De qualquer modo, o clima urbano sob influência da
vegetação é beneficiado em vários aspectos, distinguindo-se das áreas com baixa cobertura
vegetal. Destacam-se os efeitos no balanço de radiação, sombreamento, redução dos níveis
de poluentes atmosféricos, sombras de vento, aumento da umidade do ar e redução da
temperatura (WILMERS, 1988).

18
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

2.3 Clima urbano e vegetação: revisão de estudos de caso em diferentes


escalas

As pesquisas com enfoque no microclima e vegetação são numerosas, mas o seu


desempenho na área urbana tomou importância diante das discussões sobre as mudanças
globais e busca de “soluções verdes” para a mitigação dos problemas ambientais que nos
afetam. Atualmente, os programas e políticas públicas têm incentivado não só a
minimização do desflorestamento, como a adoção de ações para a redução do consumo
energético e mudança da matriz energética. Na arquitetura e no urbanismo, estas medidas
implicam na execução de projetos bioclimáticos, que utilizam mecanismos naturais ou
passivos para a climatização dos ambientes; na valorização e revitalização dos espaços
públicos urbanos, incentivando o uso e a priorização dos meios de transportes não
motorizados; no aumento das áreas vegetadas e na redução da ocupação de áreas de risco.
Diante deste panorama, a vegetação no meio urbano mostra-se eficaz para o
controle ambiental, além de valorizar a paisagem do ponto de vista estético e funcional,
destacando-se o seu efeito no microclima e a melhoria das condições de conforto térmico
humano.
Foi feita uma revisão bibliográfica de pesquisas que evidenciaram a influência da
vegetação no clima e conforto térmico humano. Os estudos foram classificados de acordo
com o espaço urbano de abrangência, os meios de observação utilizados na coleta de dados,
a categoria de área verde estudada e o foco da pesquisa (caracterização climática e/ou
conforto térmico humano). A revisão foi sistematizada em uma tabela, que apresenta as
pesquisas desenvolvidas na cidade, no bairro e na quadra, além de uma categoria especial
de pesquisas com foco na conservação ambiental de fragmentos florestais. Com isso,
identificaram-se as lacunas no conhecimento, bem como a adequação (ou não) das técnicas
utilizadas pelos pesquisadores às escalas climáticas urbanas.
Esta revisão de estudos de caso justifica a realização desta tese e subsidia, apoiando-
se no campo teórico, a metodologia geral do trabalho, que será apresentada no próximo
capítulo.

19
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

2.3.1 A escala da cidade

Na cidade, busca-se verificar como as praças, parques, áreas de preservação e a


arborização viária modificam o clima local urbano. A quantificação da vegetação pode ser
expressa por meio de índices, tais como o NDVI – normalized difference vegetation índex
(obtido por imagens de satélites), área verde por habitante ou porcentagem de cobertura
vegetal em relação a uma área urbanizada. Os estudos nesta escala comparam ainda
cenários (reais ou hipotéticos), observando como o crescimento da cidade e os padrões de
desenho urbano modificam o clima local, bem como a ocorrência de ilhas de calor e de
frescor na cidade.
Chandler (1962) constatou maior umidade relativa do ar no cinturão verde de
Londres-Inglaterra, comparado à área central. No entanto, a temperatura do ar no cinturão
verde, composto de florestas e campos, apresentou-se mais elevada que a área urbanizada
pela manhã e no inicio da tarde, e mais baixa à noite. Chandler explica que a alta
capacidade térmica e alta condutividade do tecido urbano de Londres, juntamente com uma
névoa acima da cidade, são responsáveis pela formação de ilhas de calor. Os materiais
construtivos (edifícios e pavimentação) acumulam calor durante o dia, e a geometria urbana
e a névoa dificultam as trocas de calor na camada próxima ao solo, aumentando a inércia
térmica.
Imamura et al. (1992), em Sacramento-Califórnia -EUA, realizaram medidas
móveis e fixas de variáveis microclimáticas em um parque e na área urbana. A temperatura
do ar, medida a 0,5 m e 1,5 m, mostrou uma diferença térmica entre a floresta e a área rural
(ΔTf-r) de aproximadamente -1,2 oC na extensão de ~1000 m. Padmanabhamurty (1990/91),
na Índia, também observou uma diminuição da temperatura do ar de 2,5 oC em uma floresta
urbana, comparada à área externa, com grande redução na velocidade dos ventos.
Jusuf et al. (2007), em Singapura, utilizou a técnica de medidas móveis para
verificar a distribuição térmica urbana à noite, e imagens de satélite na banda termal para
verificar as diferenças de temperatura superficial durante o dia. A temperatura média do ar
à noite apresentou-se 0,51_oC mais elevada no ambiente construído do que nas áreas
vegetadas. Os centros comerciais apresentaram maior aquecimento que as zonas
residenciais (diferença de 0,58_oC), que, em geral, apresentam mais áreas livres e

20
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

vegetadas. Durante o dia, houve um decréscimo na temperatura superficial na seguinte


ordem: industrial, comercial, aeroporto, residencial e parque. À noite, o decréscimo na
temperatura ambiente entre as classes de usos do solo foi: comercial, residencial, parque,
industrial e aeroporto, respectivamente. Pesquisa semelhante, com o uso de imagens de
satélite, monitoramentos fixos e móveis de temperatura ambiente, foi realizada por Saaroni
et al. (2000), constatando-se que a arborização viária minimizou o aquecimento do sistema
viário. As áreas verdes urbanas apresentaram as menores temperaturas durante o dia, e
certo aquecimento noturno, quando comparadas as áreas de solo exposto.
Cox (2008) relacionou as características de uso do solo da cidade de Várzea Grande
– MT às variáveis climáticas, obtidas por meio fixo (5m de altura) e por meio móvel (de
carro). A classificação dos usos do solo foi feita para um raio de 500m ao redor das
estações fixas de monitoramento e ao longo do transecto. As maiores diferenças térmicas
intra-urbanas foram observadas na estação seca. Os corredores comerciais e o centro
urbano apresentaram maior média de temperatura do ar (32,5 ºC) e baixa umidade relativa
do ar (30%), o que foi atribuído à alta densidade urbana, impermeabilização do solo,
arborização escassa e fluxo constante e intenso de veículos. Por outro lado, as regiões
próximas de vazios urbanos com presença de vegetação nativa apresentaram menor média
de temperatura do ar (18 oC) e umidade relativa do ar elevada (87,5%).
Gomes e Lamberts (2009) monitoraram a temperatura do ar e umidade relativa do ar
(1,5m) em onze localidades em Montes Claros – MG. Foram realizados testes de correlação
linear entre as variáveis microclimáticas e parâmetros físicos (porcentagem de áreas verdes
e impermeáveis, densidade construída e geometria urbana), que caracterizam os sítios
monitorados, para o desenvolvimento de um modelo empírico associando estas variáveis. A
vegetação nativa presente em Montes Claros é o cerrado. A porcentagem de vegetação
apresentou maior correlação com os dados higrotérmicos no período noturno (21:00h). No
período seco, a contribuição da vegetação para o aumento da umidade do ar foi mais
evidente que na estação chuvosa. Apesar deste não ser o objetivo principal dos autores, foi
possível identificar uma diferença térmica entre um parque com vegetação nativa e a área
central da cidade de ~4 oC (14:00h) e uma diferença de umidade relativa do ar de ~15% (às
17:00h).

21
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Duarte (2000) avaliou microclimas urbanos de sete localidades em Cuiabá. Os


pontos onde foram localizados os sensores de temperatura e umidade tinham uma área
homogênea (cerca de 25 ha), identificando-se um padrão de ocupação urbana. A autora
buscou relacionar índices e parâmetros urbanísticos aos microclimas dos sítios analisados.
Foi monitorada a temperatura e umidade do ar, na estação seca e na estação chuvosa,
durante seis dias consecutivos, a 1,5 m do solo. Parâmetros urbanísticos foram
correlacionados às variáveis microclimáticas, a fim de se obter um parâmetro único que
pudesse ser relacionado às condições de conforto pretendidas para a cidade de Cuiabá-MT.
çã
Assim, a autora propõe o índice , inverso
í á çã

às condições de conforto térmico pretendidas. Duarte acredita que seja mais apropriada a
distribuição das áreas verdes no tecido urbano, devido ao seu efeito localizado no
microclima urbano. Defende também a exigência de uma quantidade de área verde por lote.
Assim, haveria uma flexibilidade dos padrões de ocupação urbana desde que se mantivesse
uma proporção entre a densidade construída e a presença de vegetação ou corpos d’água.
Cruz (2009) verificou, em Ponta Grossa - PR, que a vegetação se mostrou eficiente
na configuração de ilhas de frescor, com extensão limitada, em meio às ilhas de calor,
especialmente em praças com densa arborização. O autor também identificou que os fundos
de vale em área urbana, com vertente exposta para o Norte e com ausência de vegetação,
apresentaram maior aquecimento que as demais áreas. Yamashita (1996) citanto Yamashita
(1988) também identificou uma descontinuidade na temperatura do ar em Tóquio – Japão,
com a formação de ilhas de frescor secundárias em meio a grandes ilhas de calor.
Jonsson (2004) verificou a infuência da vegetação no clima subtropical de
Gaborone – Botswana. A análise de séries históricas de imagens de satélite e de dados de
temperatura do ar, obtidos na área urbana e rural, possibilitou relacionar o crescimento
urbano e decréscimo da vegetação às ilhas de calor, que mostraram-se mais expressivas nos
últimos anos analisados (1994-96). As ilhas de calor, identificadas a partir de medidas
móveis noturnas, tiveram intensidade entre 2-3 oC. As diferenças térmicas intra-urbanas (2-
4 oC) foram atribuídas à densidade de vegetação, verificando-se o efeito oásis. Em

22
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

comparação com a área rural, as áreas verdes irrigadas apresentaram-se 2 oC mais frias, e as
áreas verdes com vegetação esparsa estiveram 2 oC mais aquecidas.
Velasco (2007) comparou três sítios urbanos em São Paulo-SP com diferentes
valores de índices de vegetação (Normalized Difference Vegetation Index - NVDI).
Monitoramentos microclimáticos foram realizados em ruas e calçadas, na altura do
pedestre. A autora, observou que a temperatura do ar esteve cerca de 1 oC mais elevada na
área com menor percentual de vegetação, variando entre as estações do ano e entre os
horários do dia. A área menos vegetada também apresentou maior amplitude térmica.
Velasco (2007), assim como Akibari et al. (2001), buscou associar o índice de vegetação
urbana ao consumo de energia para a climatização das edificações. Akibari et al. (2001)
estimou que para cada 1 oC a mais de temperatura, há um aumento de 2 a 4% de gasto com
eletricidade; já Velasco não obteve uma boa correlação entre estas variáveis.
Relacionando o desenho urbano ao microclima, Nakata e Souza (2007) realizaram
estudos em um bairro residencial em Bauru - SP, constatando a influência da vegetação na
minimização das ilhas de calor. O trabalho consta de medições de FVC (Fator de Visão do
Céu), percentual de vegetação e a diferença de temperatura do ar urbana-rural em diversos
pontos do arruamento urbano.
Gouvêa (2007) relacionou o uso do solo à Temperatura Efetiva (TE) (Missenard,
1937 citado por Gouvêa, 2007), com base em séries históricas de dados de temperatura do
ar e umidade relativa do ar, de estações meteorológicas na cidade de São Paulo-SP. A
estação localizada em um parque urbano (Ibirapuera) apresentou valores mais baixos de
TE, predominando as condições de frescor agradável e leve frio. O parque contrastou-se
com as demais áreas urbanizadas, embora um bairro residencial, relativamente arborizado,
tenha apresentado maior percentual de condições de conforto em relação ao parque.

2.3.2 A escala do bairro

O bairro - Medições in loco

Na abrangência do bairro as pesquisas visam caracterizar o microclima e as


condições de conforto térmico em espaços livres públicos, bem como identificar o
gradiente higrotérmico na aproximação de uma área com vegetação. Há um consenso de

23
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

que a arborização é favorável para o conforto térmico em regiões de clima quente. O


desenvolvimento de modelos preditivos do conforto térmico e do microclima urbano é um
tema bastante explorado atualmente. Os índices de conforto térmico têm passado por
calibrações, que visam melhorar a correspondência dos índices com a sensação térmica real
dos indivíduos.
Diversos trabalhos com o enfoque no conforto térmico em espaços públicos abertos
foram realizados no projeto “Conforto térmico em espaços públicos abertos: aplicação de
uma metodologia em cidades do interior paulista” (LABAKI et al., 2009), desenvolvido
nas cidades de Bauru, Campinas e Presidente Prudente. O microclima foi acessado com
medições de temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade dos ventos e radiação
global. Os níveis de conforto térmico foram expressos através do PMV (predicted mean
vote) e da temperatura PET (physiological equivalent temperature), calculados através do
software RayMan 1.2 (METEOROLOGICAL INSTITUTE OF THE UNIVERSITY OF
FREIBURG, 2000), e comparados aos votos dados pelos usuários dos espaços públicos. Os
resultados desta pesquisa encontram-se em Fontes et al. (2008) (desempenho sócio-
ambiental dos espaços públicos), Fontes et al. (2010) (análise de espaços públicos
arborizados), Fontes et al. (no prelo) (análise de espaços públicos de passagem), dentre
outros.
Barbosa et al. (2010) avaliaram uma praça em Campinas-SP com diferentes
condições de sombreamento, verificando uma grande diferença térmica entre os pontos sob
o sol e à sombra (~9 oC entre 9:00h e 15:00h), o que interferiu no conforto térmico dos
usuários.
Abordando o microclima e conforto térmico em bosques públicos encontra-se
Castro (1999), em Campinas, SP. A metodologia de pesquisa envolveu a caracterização
microclimática, a partir de dados de radiação, temperatura e umidade do ar, e verificação
dos níveis de conforto térmico dos usuários dos espaços, por meio de questionários. A
autora concluiu que o desempenho na atenuação da radiação solar está relacionado à
densidade, variação de espécies e fenologia das áreas verdes. No Bosque dos Jequitibás,
localizado na área central da cidade, constatou-se uma atenuação da radiação solar de 99%.

24
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Gomes e Amorim (2003), em Presidente Prudente, SP, monitoraram variáveis


ambientais para cálculo da Temperatura Efetiva (MISSENARD, 1937) e avaliação de
conforto térmico em praças. Os autores destacam a importância da qualificação dos
espaços livres públicos, com a implantação de árvores, para que haja sombreamento e
ventilação, tendo em vista a importância da vegetação como reguladora do campo térmico
urbano e na melhoria dos níveis de conforto térmico.
Barbosa et al. (2005) verificaram que um bosque urbano, na cidade de São Carlos,
SP, apresentou baixa amplitude térmica diária comparada a outros dois pontos de referência
com menor percentual de arborização. No entanto, a umidade do ar não foi alterada, ao
contrário do que se esperava. Isso levou os autores a concluírem que a dimensão reduzida
da área verde urbana é insuficiente para o aumento da umidade do ar. O fato das medições
terem sido realizadas na estação seca, também contribuiu para a diminuição dos efeitos da
evapotranspiração na alteração do microclima urbano. Assim, o sombreamento arbóreo
pode ter tido maior peso no resfriamento do ar do que a perda de calor latente.
Ng e Cheng (2010) verificaram uma redução entre 2-3 oC na temperatura do ar em
um parque urbano de 100 x 100m, em Hong Kong, conformando uma ilha de frescor. O
sombreamento, através de árvores ou elementos construídos, foi benéfico ao conforto
térmico do pedestre, devido à redução da temperatura radiante média (Trm).
Schiller (2001) monitorou o microclima (1,3 m de altura) e avaliou o grau de
conforto térmico em áreas verdes, naturais (florestas mediterrâneas) ou implantadas pelo
homem, em Israel. As maiores diferenças encontradas foram em relação à temperatura de
globo (Tglobo), enquanto as demais variáveis climáticas não apresentaram diferenças entre as
áreas de estudo. Sob a árvore, a diferença entre a Tar e Tglobo foi de 1,87 oC, enquanto na
área aberta esta diferença aumentou para 8,3 oC. Constatou-se, dessa forma, que o conforto
térmico esteve intimamente relacionado com a abertura das copas e à incidência de
radiação, aumentando a sudorese humana e diminuindo a percepção do estado de conforto.
As clareiras e as áreas com arbustos em florestas altas favoreceram o conforto térmico no
inverno e início da primavera, enquanto as florestas com copas fechadas e as vertentes
voltadas para o Norte (sem insolação direta no hemisfério Norte) foram benéficas para o
conforto térmico no verão.

25
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Gómes et al. (2001) identificou que o aumento da cobertura vegetal melhora as


condições de conforto térmico em diversas situações urbanas (ruas, avenidas, praças). A
pesquisa foi realizada em oito distritos de Valência – Espanha, com diferentes
características de uso e ocupação do solo. Sthülpnagel (1987), referenciado por Gómes et
al. (2001), verificou que 10 ha de área verde diminui a temperatura do ar em 1 oC; 50ha em
2 oC; e 200 ha em 3 oC, e assim sucessivamente. Em Valência, como as áreas verdes eram
pequenas, não foi possível estabelecer uma correlação neste sentido, mas verificou-se que a
porcentagem de área verde necessária para o conforto se diferencia entre zonas com alto e
baixo desenvolvimento urbano.
Do mesmo modo, Horbert e Kirchgeorg (1982) identificaram um gradiente térmico
entre o Tiegarten Park, uma zona urbana de baixo desenvolvimento e uma área central de
Berlim. A diferença máxima na temperatura do ar entre a área verde e o centro urbano foi
de ~2_oC.
Lafortezza et al. (2009) estudaram a percepção de visitantes de áreas verdes para
com os seus benefícios, dentre eles o microclima e conforto térmico. A pesquisa foi
realizada em seis áreas verdes, em três cidades (duas na Itália e uma na Inglaterra), e
identificou que elas podem reduzir o estresse por calor. Nestas ocasiões, os usuários
valorizaram o acesso à sombra e à água. Lin (2009) também constatou que a sombra é um
mecanismo de adaptação térmica priorizado por usuários de espaços abertos. Do mesmo
modo Lin et al. (2010) identificaram que a sombra em espaços abertos, proporcionada tanto
pela edificações quanto pela vegetação, melhora as condições de conforto térmico no verão.
Já no inverno e em climas frios, o acesso ao sol mostrou-se importante. Dessa forma, os
espaços com excesso de sol ou de sombra tiveram poucos períodos de conforto durante o
ano. Diante disso, Lin et al. (2010) recomendam a criação de subespaços com diferentes
fatores de visão do céu (FVC), para criar possibilidades de escolha pelo usuário e aumentar
os períodos de conforto térmico, como também sugerido por Nikolopoulou e Steemers,
2003.
Shashua-Bar et al. (2009) buscaram estratégias para o arrefecimento de jardins em
climas áridos, como o de Negev Highlands - Israel. A diferença na temperatura máxima do
ar, a 1,5m, entre um jardim gramado arborizado e outro sem sombreamento foi de 2_oC. A

26
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

área com grama exigiu mais água para irrigação. Do mesmo modo, Mizuno et al. (1990), no
Japão, também concluíram que as superfícies gramadas sem sombreamento não contribuem
para a redução da temperatura.
Huang, et al. (2008), em Nanjing - China, identificaram grandes diferenças
microclimáticas entre quatro coberturas de solo – concreto, árvores, gramado e água. A
maior diferença na temperatura média do ar, nos pontos microclimáticos monitorados no
centro urbano, foi de 1,9 oC, e ocorreu entre 11:00h e 14:00h. O concreto foi a cobertura de
maior aquecimento, devido à ausência de resfriamento evaporativo. Já o ponto sob as
árvores apresentou baixa temperatura e baixa amplitude térmica durante o dia, porém
constatando-se um aquecimento noturno. Às 14:00, as árvores estiveram 2 ºC mais
arrefecidas que o concreto, enquanto na área gramada o arrefecimento foi de 1 ºC.
Barbirato et al. (2003) avaliaram o microclima, na altura de 1,5 m, de espaços livres
públicos em Maceió-AL. Uma praça arborizada apresentou temperatura do ar 2,7 oC mais
baixa que uma praça sem vegetação (29,8 oC e 32,5 oC respectivamente). A amplitude
térmica diária da praça arborizada foi significativamente menor que a da praça árida (1,8 oC
e 5,7 oC, respectivamente). A umidade relativa do ar na praça arborizada apresentou, em
média, umidade relativa do ar 5% superior à da praça sem vegetação.
Shashua-Bar e Hoffman (2000) realizaram uma pesquisa em Tel-Aviv – Israel, em
onze localidades, abrangendo pequenas áreas verdes, jardins e ruas arborizadas. Foram
monitoradas temperatura de bulbo seco e de bulbo úmido, dentre outras variáveis, na altura
de 1,8m, à sombra. As medidas foram realizadas dentro e fora das áreas verdes. O efeito de
resfriamento proporcionado pelas áreas verdes dependeu de sua geometria e dos tipos de
árvores. A média do efeito de resfriamento foi de 2,8 K, sendo menor em ruas com tráfego
intenso e maior em um jardim de 0,15 ha. O resfriamento foi mais evidente à tarde e à
noite, não sendo observado pela manhã. A extensão do efeito das áreas verdes sobre o
entorno edificado foi de até 100 m.
Matzarakis et al. (1999) avaliaram o conforto térmico em espaços abertos, incluindo
uma floresta de árvores decíduas em Freiburg - Alemanha, utilizando o índice PET -
physiological equivalent temperature. A comparação entre um gramado e a floresta
mostrou grande diferença na temperatura radiante média (Trm) ao longo do dia. Segundo

27
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

os autores, este parâmetro exerce grande peso na PET resultante. Observou-se que a Trm
esteve muito mais elevada no gramado durante o dia, com uma diferença máxima de 30 K.
A situação se inverteu à noite, quando a Trm apresentou-se cerca de 5 K mais elevada na
floresta. Desse modo, no interior da floresta prevaleceram situações de conforto térmico,
tanto de dia quanto à noite, tendo em vista a baixa amplitude da temperatura radiante
média. Ao contrário, a área gramada apresentou situações de estresse por calor de dia e por
frio à noite. Pesquisa semelhante foi conduzida em Munique, por Mayer e Höppe (1987),
na qual foram avaliadas as condições de conforto térmico no interior de uma floresta de
pinheiro, verificando-se uma grande diferença entre a PET máxima na floresta e em um
cânion urbano com exposição para o Sul (~10 oC mais elevada no cânion, observando que a
pesquisa foi realizada no hemisfério Norte).
Chang et al. (2007), em Taipei-Taiwan, monitoraram a temperatura do ar no interior
de parques urbanos e das ruas adjacentes, na altura de 2 m. Observou-se que parques
maiores que 12_ha são mais frios que o entorno, parques entre 3 e 12 ha podem ser mais
frios que o entorno, e os menores que 3 ha apresentaram maior instabilidade térmica na
comparação com o entorno. Analisando-se a temperatura em um raio urbano igual à largura
de cada parque, obteve-se um ΔTu-p máximo próximo de 4 oC.
Upmanis et al. (1998) referenciaram pesquisas que haviam comprovado a influência
das áreas verdes na temperatura do entorno edificado. Nestes trabalhos, a diferença térmica
entre as áreas urbanas e o interior dos parques (ΔTu-p) bem como a extensão do efeito
térmico sobre o ambiente urbano variaram com o tamanho das áreas verdes. O efeito pode
variar em decorrência do clima e das características da vegetação das pesquisas citadas.
Upmanis et al. (1998) utilizaram a técnica de medidas móveis para obterem a magnitude e a
extensão do efeito de parques em Göteborg, na Suécia. Os resultados mostraram uma
diferença máxima (ΔTu-p) de 5,9_oC e extensão de 1 km, medida aproximadamente igual à
largura do maior parque (156 ha). Para o menor parque (2,4 ha), ΔTu-p diminuiu para 1,7
o
C.
Jauregui (1990/91) diagnosticou uma ΔTu-p de 2 a 3_oC e uma diminuição de 15%
na umidade relativa do ar (ΔURu-p), entre o parque Chapultepec (~500 ha), na cidade do

28
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

México, e o entorno edificado. A extensão do efeito térmico sobre a área urbana foi de
aproximadamente 2000 m, coincidindo com a largura do parque. As médias mensais das
temperaturas mínimas, do parque e da estação de referência, a 700 m, alcançaram maior
diferença na estação seca, com 4_oC. No entanto, a temperatura máxima no parque foi igual
ou superior à urbana.
Um estudo realizado por Giridharan et al. (2008), em Hong Kong- China,
demonstrou que o emprego da vegetação em áreas urbanas de alta densidade não é
suficiente para redução da temperatura do ar, visto que as características do entorno, o fator
de visão do céu e a geração de calor antropogênico também alteram o microclima. A
cobertura arbórea (pelo menos 20% para causar algum efeito) e o baixo fator de visão do
céu foram favoráveis à diminuição da intensidade das ilhas de calor. O aumento de 20 para
40% da cobertura arbórea em pequenos parques na área residencial ocasionou na redução
de 0,5 oC na intensidade da ilha de calor. O uso de arbustos adensados foi mais eficiente
para o resfriamento do ar do que às arvores esparsas com grande abertura para o céu.
Tsutsumi et al. (2003) relacionaram a porcentagem de obstrução do céu pela
vegetação, a partir de fotografias hemisféricas, à temperatura do ar. A pesquisa foi realizada
em Fukuoka – Japão, em trinta e seis pontos de monitoramento distribuídos em cinco
parques urbanos. O aumento de 0% para 100% de obstrução de um ponto pela vegetação
resultou na diminuição da temperatura do ar em 2 oC.

O bairro - Simulações computacionais

Os modelos computacionais têm sido utilizados para estimar as condições


microclimáticas e de conforto térmico no ambiente urbano.
Picot (2004) simulou as condições de conforto térmico em função do crescimento
da vegetação arbórea de uma praça em Milão. Tanto as condições microclimáticas do
ambiente como o conforto térmico foram acessados por meio de programas computacionais
(Radia, Comfex), utilizando-se o método COMFA. Os resultados mostraram que o
crescimento das árvores reduziu significativamente a radiação de ondas curtas incidente no
solo. Por outro lado, a obstrução do céu pelas copas das árvores levou ao aumento da
radiação de ondas longas emitida do solo para a atmosfera. Mesmo assim, a simulação

29
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

mostrou que houve uma melhoria nas condições de conforto térmico dos usuários em
função do crescimento arbóreo.
Spangenberg et al. (2008) compararam o microclima de três espaços livres públicos
em São Paulo – parque, praça e uma rua verticalizada (cânion). O parque apresentou uma
temperatura do ar 2 oC mais baixa que os demais espaços. Posteriormente os autores
simularam, através do Envi-Met, as condições microclimáticas caso fossem plantadas
árvores no cânion. A simulação mostra uma queda de 1,1 oC na temperatura do ar. Além
disso, haveria uma diminuição na temperatura radiante média e na velocidade dos ventos,
mostrando que o plantio de árvores na rua contribuiria significativamente para as condições
de conforto térmico do pedestre.
Dimoudi e Nikolopoulou (2003) simularam a interação microclimática entre áreas
vegetadas e diferentes padrões de urbanização, no clima quente e seco de Atenas. A
temperatura do ar diminuiu com o aumento do parque urbano (cerca de 1 K para cada 100
m2) e com a inserção de arborização viária (1 K). A substituição de uma quadra ocupada
por construções por uma área verde reduziu a temperatura do entorno em até 6 K. Os
autores concluíram que o efeito das áreas verdes depende da densidade de ocupação, da
direção dos ventos em relação às vias e da velocidade dos ventos, comprovando-se, todavia,
a mitigação das ilhas de calor.
Gulyás et al. (2006) utilizaram o modelo RayMan para simulação de ruas com
diferentes orientações e presença ou não de árvores, e concluíram que o conforto térmico,
obtido através do índice PET, pode ser melhorado com a arborização viária.
Chen e Wong (2006) monitoraram o microclima de duas reservas naturais em
Singapura, uma com 36 ha e outra com 12 ha, com o objetivo de verificar o efeito de
resfriamento provocado pela vegetação no entorno urbanizado e estimar a diminuição no
consumo energético das edificações. Medidas de temperatura do ar e umidade relativa do ar
foram feitas a 2 m, além de medidas de vento, de radiação e de chuva e o índice de área
foliar. Também foram feitas simulações térmicas das áreas de estudo, utilizando-se o Envi-
Met e o TAS. Verificaram que no interior dos parques houve uma diferença na temperatura
do ar entre os pontos de medição de 2,3_oC, e na área urbana esta diferença aumentou para
3,6 oC. A extensão do efeito dos parques sobre o clima urbano variou com a direção dos

30
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

ventos. A diferença térmica máxima entre o parque e a área urbana foi de 4 oC. Houve uma
relação entre o aumento da área foliar e a diminuição da temperatura do ar no interior das
florestas.
Taha (1997) afirmou que a cobertura vegetal produz oásis diurnos, causado pelo
resfriamento evaporativo e sombreamento do solo, e ilhas de calor noturnas, devido ao fator
de visão do céu reduzido. Simulações da temperatura do ar, realizadas para as condições
meteorológicas de Davis, Califórnia –EUA, mostraram que 30% de cobertura vegetal
criariam um efeito oásis de 6 oC e uma ilha de calor de 2 oC.
Akbari et al. (2001) simulou, através do programa DOE-2, o efeito da arborização e
o uso de cores claras nas superfícies construídas na diminuição do consumo energético das
edificações. Os autores afirmam que 20% do consumo energético para o condicionamento
das edificações poderiam ser diminuídos com a implantação de programas de redução das
ilhas de calor, sendo que a arborização é uma estratégia importante para que isso se
concretize. Robitu et al. (2006) também realizaram simulações, utilizando o modelo CFD, e
confirmaram uma influência benéfica da vegetação e de espelhos d’água no microclima e
conforto térmico urbano. Este modelo é capaz de computar a radiação solar e térmica, a
velocidade do ar, a temperatura e umidade no meio urbano. O PMV reduziu de 3,4 (muito
calor) para 0,54 (zona de conforto) com a introdução de vegetação e água.
Segundo Shashua-Bar e Hoffman (2004), a arborização viária é capaz de resfriar
áreas urbanas residenciais em até 4,5 K, ao meio dia no verão. A pesquisa constou de
simulações com o modelo analítico “Green CTTC model”, para o clima de Mediterrâneo da
costa de Israel. Para os autores, a orientação das vias, o sombreamento arbóreo e a
modificação no albedo são fatores que atuam na temperatura do ar, e podem ser
modificados no desenho urbano.
Simulações do clima urbano com o uso do ENVI-Met, realizadas por Fahmy e
Sharples (2009), evidenciaram que o conforto térmico em áreas abertas depende da
geometria urbana, cobertura vegetal, arborização linear das vias e orientação dos eixos
viários, visto que o sombreamento das vias dependerá do movimento relativo do Sol.
Assim, constatou-se, para o Cairo – Egito, que a orientação de 45o é preferível à de 15 ou
75o. Posteriormente, Fahmy et al. (2010) fez simulações no ENVI-Met utilizando modelos

31
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

de árvores com variações na área foliar, com o objetivo de acessar a radiação interceptada e
o microclima na ambiência urbana.
Wang e Ng (2010) avaliaram o efeito do aumento da arborização em Hong Kong –
China, utilizando o modelo computacional ENVI-Met. O percentual mínimo de arborização
deve ser de 34% para que ocorra um efeito de resfriamento do ar de 1K.

2.3.3 A escala da quadra

As pesquisas na escala da quadra comprovam a importância da arborização na


regulação do campo térmico urbano e na melhoria das condições de conforto térmico do
pedestre, buscando as espécies vegetais mais eficientes e adequadas para o paisagismo e
arborização urbana.
Bueno-Bartholomei e Labaki (2003), no Brasil, avaliaram a atenuação da radiação
solar incidente no solo proporcionada por sete espécies arbóreas, verificando que esta varia
entre 73,6% e 92,8%. As árvores caducifólias diminuem a capacidade de interceptar a
radiação solar no período no inverno, quando perdem as folhas. O sombreamento arbóreo
reduz a temperatura do ar e a temperatura de globo abaixo das copas. As diferenças no
desempenho das espécies são atribuídas às características das árvores, tais como, estrutura e
densidade da copa, altura, idade e estágio de desenvolvimento do indivíduo, cor, formato e
tamanho das folhas.
Complementando esta pesquisa, Abreu (2008), no Brasil, comparou o microclima e
conforto térmico de cinco espécies arbóreas. Neste estudo, verificou que as árvores com
copa densa, tais como o jambolão e a mangueira, têm capacidade de atenuar cerca de 90%
da radiação solar incidente, resultados semelhantes aos de Bueno-Bartholomei (2003). A
autora relacionou o aumento da área foliar à capacidade de sombreamento das árvores. No
entanto, esta característica não foi unicamente responsável pelas condições de conforto
térmico. Um agrupamento de chuva-de-ouro, que não possui densidade foliar tão alta
quanto à das espécies acima citadas, proporcionou um número maior de horas de conforto
térmico por dia (cerca de 10 horas/dia, sendo que e as demais espécies proporcionaram em
média 3 horas/dia). A autora também identificou que a disposição das árvores pode

32
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

melhorar o seu desempenho e raio de ação, no que diz respeito à modificação do


microclima e condições de conforto térmico.
Shahidan et. al (2007), na Malásia, pesquisou duas espécies arbóreas e teve como
objetivos relacionar a geometria, a densidade foliar e a idade dos indivíduos com variáveis
microclimáticas. A atenuação da radiação variou entre as espécies - 79% para a árvore de
copa redonda, com 6,74 m de altura, transmissividade de 5%, índice de área foliar de 6,1 e
35% de área de sombra; e 93% de atenuação da radiação para a árvore com copa espalhada,
6,5 m de altura, transmissividade de 22%, índice de área foliar de 1,5, e 53% de área de
sombra projetada no solo. A diferença na capacidade de filtrar a radiação é atribuída às
características físicas das espécies.
Correa et al. (2010) analisaram o comportamento térmico de ruas arborizadas em
Mendonza, Argentina. Medidas de temperatura e umidade do ar, na altura de 2 m, foram
realizadas no período de verão, para a avaliação do grau de desconforto térmico, utilizando-
se o índice de desconforto de Thom (THOM, 1959). A pesquisa foi realizada em bairros
com edificações horizontais. A arborização foi diferenciada em três classes, de acordo com
a altura máxima dos indivíduos adultos – maior que 15 m; 10-15 m; menor que 10 m –
levando-se também em consideração a diversidade de espécies presentes nas vias, de
diferentes larguras. Verificou-se que o estado de conforto térmico predominou no início da
manhã, mas já a partir das 9:00h ocorreu um desconforto por calor nas diversas situações
analisadas. Ainda assim, a arborização urbana foi identificada como uma estratégia para a
mitigação do calor no clima semiárido. Dias et al. (2010) no Rio de Janeiro, observaram
uma redução de temperatura de até 2 oC e um aumento de até 5,5% da umidade relativa do
ar em vias arborizadas, comparadas às não arborizadas.
Outro grupo de pesquisas avalia o efeito dos jardins e de componentes
arquitetônicos (por exemplo, tetos verdes, treliças, pergolados, paredes verdes) no
microclima dos ambientes internos, visando a climatização natural das edificações e
melhoria nas condições de conforto térmico. Destacam-se, ainda, as pesquisas com foco
energético, visto que a modificação do microclima pelas plantas pode reduzir o consumo de
eletricidade utilizada no condicionamento térmico das edificações. Citam-se os trabalhos de
Ip et al. (2007), Poli et al. (2007), Morelli e Labaki (2009) e Schweitzer et al (2010).

33
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

2.3.4 Pesquisas com foco na conservação ambiental

As pesquisas com foco na conservação ambiental geralmente são realizados em


áreas fora da ambiência urbana e/ou buscam verificar a influência da urbanização no
microclima da vegetação, tendo em vista a alta pressão que estas exercem sobre a
biodiversidade. Neste sentido, Gordon et al. (2009) afirmam que o conhecimento científico
sobre os padrões da paisagem, sobre as necessidades das espécies, e sobre as pressões
humanas exercidas sobre o meio natural, auxilia o planejamento ambiental e urbano, que
devem ocorrer de maneira integrada. Para tanto, deve-se estabelecer um planejamento
estratégico, com estágios de ações e definição de um zoneamento que contemple as áreas
de conservação e as áreas prioritárias para a extensão do sistema de conservação.
A respeito das alterações microclimáticas, decorrentes da pressão urbana sobre os
fragmentos florestais, destacam-se os trabalhos de Karlsson (2000), Monteiro e Azevedo
(2005), Ylmaz et al. (2007) e Blumenfeld (2008). Estas alterações intensificam-se na
fronteira dos fragmentos com o meio urbano, identificando-se um efeito de borda.
Herrmann et al. (2005), referenciando Schierolz (1991), Farina (1998) e Rodrigues
(1998), afirmam que o efeito de borda nos fragmentos florestais depende da sua dimensão
e forma. Fragmentos com até 1 ha sofrem impacto total do efeito de borda; se tiverem 10 ha
sofrem impacto em cerca de 90% de sua área; se tiverem 100 ha têm 35% da área afetada; e
em fragmentos florestais com 1000 ha a área impactada é de cerca de 10%. Segundo os
autores, a influência da forma no efeito de borda pode ser avaliada através da proporção
entre a área de borda e a área do fragmento. A irregularidade da forma acarreta o aumento
da área de contato com o meio externo, aumentando o efeito de borda.
Por outro lado, Blumenfeld (2008) identificou que os indicadores climáticos são
eficazes para dimensionar a perturbação florestal. Analisando o efeito de borda na Reserva
Florestal do Morro Grande (SP), a autora concluiu que há maior perturbação na fronteira
com a tipologia urbana, verificando-se grande variação climática. Do mesmo modo, Rozza
(2003) explicou que trechos da floresta sob efeito de borda apresentam mais luz, menor
umidade relativa e maior temperatura. Diante disso, pode-se afirmar que fragmentos
florestais pequenos e irregulares sofrem maior efeito de borda, tendo o seu microclima
alterado de acordo com o padrão das fronteiras.

34
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Bowler et al. (2010), em um artigo de revisão de pesquisas com o tema


microclimatologia e vegetação, identificaram que o tamanho das áreas verdes e as
características das plantas influenciam no microclima. Os parques estudados apresentaram,
em média, temperatura do ar 0,94 oC mais baixa que a área urbana, no período diurno.
Karlsson (2000), em Västra Götaland – Suécia, verificou que as clareiras presentes
no interior de uma floresta de coníferas apresentaram temperaturas mínimas inferiores às
medidas sob as árvores, o que é atribuído ao aumento da trocas turbulentas e perda de calor.
Já as áreas abertas fora da floresta, monitoradas por meio móvel à noite, apresentaram-se
mais aquecidas (2,7 a 3,7 oC) que os pontos dentro da floresta. Os vales localizados no
interior da floresta foram os locais mais frios, devido ao aumento do fator de visão do céu e
à sombra de vento causada pela topografia e pela vegetação. Citando o trabalho de
Gustavsson (1995), Karlsson (2000) explicita que o efeito de sombreamento da floresta
diminui a temperatura do ar em comparação com as áreas totalmente abertas.
Monteiro e Azevedo (2005) compararam o comportamento higrotérmico em um
perfil vertical em dois fragmentos florestais de Mata Atlântica (florestas secundárias), um
deles localizado em matriz urbana – Parque Previdência, na Zona Oeste de São Paulo, SP, e
outro em matriz rural – fragmento em Calcaia do Alto, SP. Foram instalados, em uma
árvore de cada fragmento, cinco registradores contínuos de Tar e UR, distribuídos
verticalmente nas alturas de 12, 9, 6, 3 e 0,5 m, com o objetivo de verificar a estratificação
higrotérmica. Os resultados mostraram que houve maior variação na temperatura do ar no
perfil vertical no fragmento florestal localizado em área rural, sendo o nível das copas mais
aquecido que o nível do solo cerca de 3 ºC ao longo do dia. Já no fragmento florestal
localizado em área urbana, a variação entre o solo e nível da copa não ultrapassou 1 ºC. A
comparação de dados de temperatura média diária entre os perfis verticais das duas áreas
demonstrou que o fragmento urbano é sempre mais aquecido que o rural, até 4,5 ºC (no
solo) e 1,5 ºC (na copa). Os resultados para UR foram inversos, verificando-se maior
umidade no fragmento rural, cuja diferença foi mais significativa entre 12:00h e 15:00h,
atingindo 15% a mais no nível do solo e 5% no nível da copa, quando comparado ao
fragmento urbano. Os autores atribuem às diferenças à influência do clima urbano sobre o
fragmento, provocando alterações no balanço hídrico e decréscimo da umidade relativa do

35
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

ar na mata, aquecimento decorrente de poluentes atmosféricos e efeito estufa, e


aquecimento do ar devido às atividades humanas.
Ylmaz et al. (2007) realizaram um estudo climático comparativo entre uma área
urbana, uma floresta urbana de pinus, e uma área rural, em Erzurum, na Turquia.
Coletaram-se dados de temperatura do ar, velocidade e direção do vento, umidade relativa
do ar (a 2 m do solo) e pluviosidade. Os resultados de temperatura média do ar demonstram
que a área urbana apresentou-se mais quente 1,7 ºC que a área rural, e 0,7 ºC que a floresta
urbana. O oposto ocorreu com a umidade relativa do ar, sendo que a área urbana é menos
úmida 3,4% que a floresta e 3,6% que a área rural. A velocidade do vento foi maior no
ambiente rural e menor na área urbana, em conseqüência do incremento da rugosidade. A
temperatura na floresta apresentou menor amplitude, devido a efeitos de sombreamento e
evapotranspiração, o que conforma maior estabilidade climática ao ambiente.

2.4 Síntese dos resultados

Os 67 estudos de caso apresentados foram sistematizados na Tabela 2.3 e Tabela


2.4. As 23 pesquisas que abrangem o espaço da cidade constataram uma diminuição da
temperatura do ar diante do aumento da cobertura vegetal, com a formação de ilhas de
frescor em meio a grandes ilhas de calor (CRUZ, 2009; YAMASHITA, 1996 citanto
YAMASHITA, 1988; JONSSON, 2004; SHASUA-BAR; HOFFMAN, 2000). A magnitude
do efeito é menor em ruas com tráfego intenso, devido à geração de calor (SHASUA-BAR;
HOFFMAN, 2000). Além disso, a temperatura do ar nas áreas verdes pode apresentar-se
mais elevada que o ambiente construído. Alguns casos observaram maior aquecimento de
áreas arborizadas em relação ao ambiente urbano pela manhã e tarde (CHANDLER, 1962),
com posterior resfriamento noturno (CHANDLER, 1962; JUSUF et al., 2007). Outros
identificaram menor temperatura das áreas vegetadas à tarde, em relação ao ambiente
urbano (JUSUF et al.; 2007; SAARONI et al.; 2000; GOMES; LAMBERTS; 2009).
A diferença térmica entre as áreas verdes e o ambiente edificado pode ter uma
relação com a geometria urbana, visto que o aumento do fator de visão do céu, ou a baixa
relação entre a altura das edificações e a distância entre elas, expõe as superfícies a um

36
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

período maior de insolação, mas por outro lado, facilita a perda de calor no período de
resfriamento (OKE, 1981; JOHANSSON, 2006).
Alguns autores verificaram que a porcentagem de área verde e de cobertura arbórea
necessária para a modificação do microclima urbano e melhoria dos níveis de conforto
térmico aumenta em zonas urbanas com alto desenvolvimento (GÓMES et al., 2001;
GIRIDHARAN et al., 2008).
Os maiores contrastes higrotérmicos entre o ambiente construído e a vegetação
ocorreram com baixa umidade do ar (COX, 2008; GOMES; LAMBERTS, 2009), mesmo
sabendo que o ambiente urbano provoca o aquecimento e decréscimo de umidade nos
fragmentos florestais urbanos (MONTEIRO; AZEVEDO, 2005; YLMAZ et al., 2007;
BARBOSA et al., 2005).
Comparando as áreas arborizadas com áreas abertas, tais como os vales urbanos
desprovidos de vegetação, a zona rural e clareiras no interior de florestas, as pesquisas
observaram que os locais arborizados tendem a ser mais frios durante à tarde e mais
aquecidos à noite (SAARONI et al., 2000; JUSUF ET AL., 2007; CRUZ, 2009;
KARLSSON, 2000), o que mostra uma relação entre o fator de visão do céu e as taxas de
ganho e perda de calor. Por outro lado, os vales localizados no interior de florestas
apresentaram as mais baixas temperaturas (KARLSSON, 2000).
Foram revisados 15 trabalhos na abrangência de um bairro, destacando-se o
interesse em quantificar as diferenças microclimáticas entre as áreas verdes e o entorno
edificado. A extensão do efeito da vegetação no clima urbano foi verificada por Chang et
al. (2007), Upmanis et al. (1998), Jauregui (1990/91), Imamura et al. (1992) e Shasua-Bar e
Hoffman, (2000). Há indícios de que o efeito de parques urbanos sobre o entorno tenha
uma extensão aproximadamente igual à sua largura. Assim, em áreas verdes de pequena
dimensão o efeito oásis é localizado (GÓMES et al., 2001; SHASUA-BAR; HOFFMAN,
2000).
Isso pode ser explicado pela co-influência entre o ambiente construído e a
vegetação. Segundo Herrmann et al. (2005) o efeito de borda em florestas se intensifica em
áreas pequenas, sendo que as áreas de 1 ha estariam totalmente sob o efeito de borda. Se a
variação térmica servir de parâmetro para a identificação do efeito de borda, como

37
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

explicitam Blumenfeld (2008) e Rozza (2003), a maioria das áreas verdes urbanas estaria
sob esta condição, e provavelmente configuram ilhas de frescor localizadas.
As 29 pesquisas que focam os espaços livres públicos – praças, parques, ruas -
apresentam maior interesse pelo tema conforto térmico, enquanto as de maior abrangência
traçam um diagnóstico do clima urbano. O fato se explica pela metodologia usual para a
avaliação de níveis de conforto, que envolve a inquirição. Assim, os níveis de conforto em
espaços urbanos de maior abrangência geralmente são acessados por meio de modelos
preditivos e por simulação computacional.
Há um consenso a respeito do efeito positivo da arborização na melhoria do
conforto térmico humano, com exceção em climas frios e em condições de inverno, quando
o acesso ao sol é favorável (SCHILLER, 2001). A redução da temperatura radiante média
(Trm), decorrente do sombreamento arbóreo, diminui o estresse térmico por calor (NG;
CHENG, 2010; MATZARAKIS et al., 1999; SCHILLER, 2001). Dessa forma, várias
pesquisas compararam as diferenças microclimáticas e o conforto térmico entre espaços
arborizados e áreas gramadas ou pavimentadas, encontrando grandes diferenças na Trm e
na sensação térmica. As pesquisas sobre o efeito da arborização na interceptação da
radiação solar corroboram esta constatação (BUENO-BARTHOLOMEI, 2003; ABREU,
2008; ABREU, 2010; SHAHIDAN et. al, 2007; CASTRO, 1999).
Apesar da redução na Trm, a diminuição da temperatura do ar e o aumento da
umidade relativa nem sempre foram observados (SCHILLER, 2001), em decorrência do
padrão de urbanização em que as áreas verdes se encontram (GÓMES et al., 2001;
HORBERT e KIRCHGEORG, 1982; TSUTSUMI et al., 2003; GIRIDHARAN et al, 2008).
Assim, as pesquisas indicam que a dimensão das áreas verdes, a porcentagem de cobertura
vegetal e de arborização, necessários para uma mudança efetiva no microclima, aumenta
com o nível de desenvolvimento urbano.
Em relação aos meios de observação, verifica-se que não há um procedimento
metodológico comum diante de objetivos semelhantes, o que limita a comparação dos
resultados e a generalização de conclusões. A coleta de dados na altura representativa do
microclima (1,5 – 2 m) é também utilizada em pesquisas com espaços urbanos de grande
abrangência. Assim, a adequação entre os objetivos da pesquisa e os procedimentos

38
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

metodológicos relativos à escala climática de interesse merece ser destacado, como advertiu
Oke (2006a); Oke (1984) e Bowler et al. (2010).
A revisão de pesquisas com o tema clima e vegetação realizada por Bowler et al.
(2010) o fez concluir que são necessárias mais pesquisas empíricas com esta temática,
ressaltando as questões metodológicas que devem ser melhoradas: descrição mais precisa
dos sítios, amostragem, número de repetições, padronização das medições, estabelecimento
de um controle, e análise estatística dos dados. A revisão dos 67 estudos de casos aqui
apresentados vai ao encontro às sugestões de Bowler. Destaca-se, ainda, que em
decorrência da variabilidade das áreas verdes urbanas, deva haver uma descrição (escrita,
quantitativa e fotográfica) precisa das áreas de estudo, para que os resultados possam servir
de referência para pesquisas posteriores, além de possibilitar a comparação do efeito
proporcionado por diferentes categorias de áreas verdes. Sugere-se também a intensificação
de pesquisas empíricas com as áreas verdes de preservação, localizadas no meio urbano,
dentro das várias escalas climáticas, para que se possa estimar o efeito térmico sobre o
ambiente construído e proveniente do mesmo.

39
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Tabela 2.3 - Pesquisas que avaliaram a influência da vegetação no clima urbano.


ESPAÇO URBANO DE CATEGORIA DE ÁREA OBJETIVO/RESULTADO
MEIOS DE OBSERVAÇÃO
AUTOR (ANO), ABRANGÊNCIA VERDE ESTUDADA DA PESQUISA
LOCAL Cidade Bairro Quadra, Praças, Áreas Caracteri‐ Simulação
Arboriza Conforto Registros Registros
Edifício sistemas verdes, zação / Imagem
‐ção térmico fixos (h) móveis
(Macro) (Topo) (Micro) de lazer bosques climática de satélite
Gulyás et al. (2006),
x x x x (1,1) x
Hungria
Chandler (1962),
x x x x
Inglaterra
Cox (2008), Brasil x x x x x x
Cruz (2009), Brasil x X x x x (1,5)
Duarte (2000), Brasil x X x x x x x (1,5)
Gomes e Lamberts
x X x x x x (1,5)
(2009), Brasil
Gouvêa (2007),
X X x x x
Brasil
Imamura et al.
(1992), Estados X X x x (0,5‐1,5) x
Unidos da América
Jonsson (2004),
X X x x x x x X
Botswana
Jusuf et al. (2007),
X x x x X
Singapura
Padmanabhamurty
X x x
(1990/91), Índia
Saaroni et al.
X X x x x x (2) x X
(2000), Israel
Velasco (2007), x
X x x (1,5) X
Brasil (i.a.v.)
Yamashita (1996),
X X x x
Japão
(i.a.v.) índice de área verde; (m.a.) meio ambiente/ pesquisas com foco na conservação florestal.

40
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

ESPAÇO URBANO DE CATEGORIA DE ÁREA VERDE OBJETIVO/RESULTAD


MEIOS DE OBSERVAÇÃO
ABRANGÊNCIA ESTUDADA O DA PESQUISA
AUTOR (ANO),
Cidade Bairro Quadra, Praças, Áreas Caracteri‐ Simulação
LOCAL Arboriza‐ Conforto Registros Registros
Edifício sistemas de verdes, zação / Imagem
ção térmico fixos (h) móveis
(Macro) (Topo) (Micro) lazer bosques climática de satélite
Karlsson (2000), x (2 a
x (m.a.) x x x
Suécia 10)
Wong e Chen
X x x x x
(2005), Singapura
Monteiro e
x (0,5‐
Azevedo (2005), x (m.a.) x x
12)
Brasil
Ylmaz et al
x (m.a.) x x x (2)
(2007), Turquia
Blumenfeld
x (m.a.) x x x (~0,5)
(2008), Brasil
Barbirato et al.
x x x x (1,5)
(2003), Brasil
Barbosa et al.
x x (i.a.v.) x
(2005), Brasil
Barbosa et al.
x x x x (1,5)
(2010), Brasil
Castro (1999),
x x x x (1,5)
Brasil
Chang et al.
x x x x (2)
(2007), Taiwan
Dacanal et al.
x x x x (1,5)
(2009), Brasil
Dias et al. (2010),
x x x
Brasil
Labaki et al.
x x x x (1,5)
(2009), Brasil
Giridharan et al.
x x x x
(2008), China
(i.a.v.) índice de área verde; (m.a.) meio ambiente/ pesquisas com foco na conservação florestal.

41
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

ESPAÇO URBANO DE CATEGORIA DE ÁREA VERDE OBJETIVO/RESULTA


MEIOS DE OBSERVAÇÃO
ABRANGÊNCIA ESTUDADA DO DA PESQUISA
AUTOR (ANO),
Cidade Bairro Quadra, Praças, Áreas Caracteri‐ Simulação
LOCAL Arboriza‐ Conforto Registros Registros
Edifício sistemas verdes, zação / Imagem
ção térmico fixos (h) móveis
(Macro) (Topo) (Micro) de lazer bosques climática de satélite
Gomes e Amorim
x x x x (1,5)
(2003), Brasil
Hamada e Ohta
x x x x (2‐3,3)
(2010), Japão
Mayer e Höppe
x x x x
(1987), Munique
Horbert e
Kirchgeorg (1982), x x x x
Alemanha
Huang, et al.
x x x x
(2008), China
Jauregui
x x x x x
(1990/91), México
Lafortezza et al.
(2009), Itália e x x x x
Inglaterra
Lin (2009), Taiwan x x x x x (1,1)
Lin et al. (2010),
x x x x x (1,1) x
Taiwan
Matzarakis et al.
x x x x x (1,1)
(1999), Alemanha
Mizuno et al.
x x x x x x x
(1990), Japão
Ng e Cheng (2010),
x x x
China
Picot (2004), Itália x x x x x x
Schiller (2001),
x x x x x (1,3)
Israel

42
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

ESPAÇO URBANO DE CATEGORIA DE ÁREA VERDE OBJETIVO/RESULTA


MEIOS DE OBSERVAÇÃO
ABRANGÊNCIA ESTUDADA DO DA PESQUISA
AUTOR (ANO),
Cidade Bairro Quadra, Praças, Áreas Caracteri‐ Simulação
LOCAL Arboriza‐ Conforto Registros Registros
Edifício sistemas verdes, zação / Imagem
ção térmico fixos (h) móveis
(Macro) (Topo) (Micro) de lazer bosques climática de satélite
Shashua‐Bar e
Hoffman (2000), x x x x (1,8)
Israel
Shashua‐Bar et al.
x x x x (1,5)
(2009)
Spangenberg et al.
x x x x x (~1,5) x
(2008)
Tsutsumi et al.
x x x x
(2003)
Upmanis et al.
x x x x (2,5) x
(1998), Suécia
Upmanis et al.
x x x x (2,5)
(1999), Suécia
Akbari et al.
x x x x
(2001), EUA
Fahmy e Sharples
x x x x
(2009), Egito
Robitu et al. (2006) x x x x
Shashua‐Bar e
Hoffman (2004), x x x x
Israel
Taha (1997), EUA x x x x
Wang e Ng (2010),
x x x x
China
Chen e Wong
x x x x x (2) x
(2006), Singapura
Abreu (2008),
x X x x x (1,5)
Brasil

43
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

ESPAÇO URBANO DE CATEGORIA DE ÁREA VERDE OBJETIVO/RESULTA


MEIOS DE OBSERVAÇÃO
ABRANGÊNCIA ESTUDADA DO DA PESQUISA
AUTOR (ANO), Registros
Cidade Bairro Quadra, Praças, Áreas Caracteri‐ Simulação
LOCAL Arboriza‐ Conforto fixos Registros
Edifício sistemas verdes, zação / Imagem
ção térmico (altura em móveis
(Macro) (Topo) (Micro) de lazer bosques climática de satélite
metros)
Abreu (2008),
x x x x x (1,5)
Brasil
Bueno‐
Bartholomei x x x x x (1,5)
(2003), Brasil
Correa et al.
x x x x (2)
(2010), Argentina
Abreu e Labaki
x x x x x (1,5)
(2010), Brasil
Ip et al. (2007),
x ‐‐‐ Parede verde ‐‐‐ x x
Reino Unido
Poli et al. (2007),
x ‐‐‐ Parede verde; Teto verde ‐‐‐ x x
Itália
Morelli e Labaki
x ‐‐‐ Parede verde ‐‐‐ x x x
(2009), Brasil
Schweitzer et al.
x ‐‐‐ Teto verde ‐‐‐ x x
(2010), Israel
Dimoudi e
Nikolopoulou x x x x
(2003), Grécia
Gómes et al.
x x X x x
(2001), Espanha

44
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

Tabela 2.4– Características gerais de pesquisas que avaliaram a influência da vegetação no clima urbano.
CATEGORIA DE ÁREA VERDE
OBJETIVOS MEIOS DE OBSERVAÇÃO
ESPAÇO ESTUDADA
URBANO DE Simulação
Áreas
ABRANGÊNCI Sistemas Árvores/ Conforto Reg. fixos e altura de monitoramento Reg. /
verdes, Clima
A de lazer outros térmico em relação ao solo Móveis Imagem
bosques
satélite
(5) indefinido
(2) perfil vertical; altura máx. 10 a
Cidade (23) 10 16 10 17 5 12m 11 6
(10) entre 0,5 e 2,5 m (prevalece
1,5m)
(2) indefinido
Bairro (15) 7 4 7 12 3 ‐ 5
(7) entre 1,5 e 3,3 m (prevalece 2m)
13
(7) indefinido
Quadra, (4) parede
16 2 19 20 (16) entre 1 e 2m (prevalece 1,5m) ‐ 7
Edifício (29) e teto
(4) outros meios
verde

45
CAPÍTULO 2 Consideração do padrão espacial e da escala na observação do clima urbano

46
CAPÍTULO 3 Metodologia geral da pesquisa

3 Metodologia geral da pesquisa

3.1 Etapas da pesquisa

A pesquisa foi realizada em três espaços urbanos distintos, partindo da escala


microclimática, no espaço de abrangência da quadra, para a escala local urbana, nos
espaços de abrangência do bairro e da zona urbana, como mostra a Tabela 3.1. Os limites
de padrões de ocupação e a definição das técnicas de monitoramento fundamentaram-se na
classificação climática apresentada por Oke (2006).
Foram monitorados seis fragmentos florestais urbanos, cinco sítios urbanos e cinco
zonas urbanas. Cada zona urbana inclui um ou mais sítios, e cada sítio inclui um ou mais
fragmentos. Na Zona 3, que trata-se do Centro de Campinas, inclui o Bosque dos
Jequitibás, que no entanto, não teve o seu microclima monitorado, visto que no
planejamento inicial da pesquisa o intuito era trabalhar apenas em zonas de baixo gabarito.
No entanto, os resultados dos monitoramentos nos levaram a ampliar as análises, incluindo
também a zona central.

Tabela 3.1- Áreas de estudo, espaços urbanos de abrangência e escala climática.


Espaço
Escala
Urbano de Áreas de estudo
Climática
Abrangência
Mata de Bosque Bosque Bosque Bosque
Bosque
Quadra* Microclima Santa dos dos - São dos
da Paz
Genebra Italianos Alemães José Guarantãs

Bairro** Clima local Sítio 1 Sítio 2 - Sítio 3 Sítio 4 Sítio 5

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5


Zona (Inclui o
Clima local
urbana** Bosque
dos
Jequitibás)
* Quadra – fragmentos florestais urbanos na cidade de Campinas;
** Bairro – o entorno urbano próximo aos fragmentos florestais;
** Zona urbana – área urbana extensa, que abrange um ou mais bairros, e que pode ser delimitada a
partir de um padrão morfológico predominante.

47
CAPÍTULO 3 Metodologia geral da pesquisa

A lógica deste seqüenciamento experimental fundamenta-se na necessidade de se


conhecer as propriedades, físicas e térmicas, de um espaço climático e a sua interação com
os hólons imediatos, tal como ressaltou Monteiro (1976). Assim, buscou-se responder as
seguintes perguntas:

‐ O microclima dos fragmentos florestais urbanos estudados se diferencia? Esta diferença


pode ser relacionada às características físicas gerais (intrínsecas aos fragmentos e às
características do entorno urbano imediato) ou pontuais (intrínsecas aos pontos
monitorados)?
‐ Qual o comportamento higrotérmico dos pontos urbanos situados próximos aos
fragmentos florestais? Há diferença térmica entre os sítios urbanos? Estas diferenças
podem ser atribuídas aos fragmentos e aos seus microclimas ou às características físicas
de um espaço urbano de maior dimensão? Qual a altura de monitoramento que melhor
representa este espaço urbano – medidas tomadas acima ou abaixo da altura média da
camada de rugosidade?
‐ Se os pontos urbanos estivessem mais próximos ou mais distantes dos fragmentos
florestais, a temperatura do ar e umidade relativa do ar se alteraria? Quanto e em qual
distância?

As etapas metodológicas de pesquisa se repetem para os três espaços de abrangência


em análise, tal como exposto a seguir. Detalhes das etapas serão apresentados em Materiais
e Métodos específicos de cada experimento, nos Capítulos 4, 5 e 6.

‐ ETAPA1: Escolha e caracterização física das áreas de estudo (Figura 3.1):


o Nesta etapa observaram-se os padrões espaciais, os limites das manchas de
ocupação e os padrões espaciais de suas fronteiras (quadras vizinhas, bairros
vizinhos ou zonas vizinhas). As técnicas e critérios utilizados para a escolha e a
caracterização física das áreas de estudo serão apresentadas em Materiais e
Métodos específicos de cada experimento.

48
CAPÍTULO 3 Metodologia geral da pesquisa

A quadra O bairro A zona urbana


• Apresentação e • Características de uso e • Características de uso e
caracterização dos ocupação do solo de sítios ocupação do solo de zonas
fragmentos florestais urbanos localizados urbanas com padrões de
urbanos em Campinas; próximos dos fragmentos ocupação homogêneos.
• Área dos fragmentos; forestais. Classificação Classificação com base em
• Abertura do dossel com base em fotogrfias fotogrfias aéreas ,
florestal calculada a partir aéreas , utilizando o utilizando o software
de fotografias software ArcMap. ArcMap.
hemisféricas.

Figura 3.1 - Etapa 1: Escolha e caracterização física das áreas de estudo.

‐ ETAPA2: Definição de materiais e técnicas de coleta de dados climáticos, adequados


às escalas climáticas (Figura 3.2):
o Nesta etapa, houve a definição dos pontos de monitoramento, baseando-se nos
critérios apresentados no Capítulo 2, ou seja, buscando-se os pontos menos
suscetíveis a perturbações ocasionadas pelo padrão da fronteira e por elementos
anômalos presentes na paisagem.
ƒ No interior dos fragmentos florestais, as medidas foram feitas em a)
pontos centrais, a fim de comparar as áreas de estudo; b) pontos
distribuídos nas áreas, para verificar a influência da área urbana;
ƒ A escolha dos pontos de monitoramentos dos sítios urbanos levou em
consideração tanto a morfologia urbana predominante no bairro, quanto
a disponibilidade de torres elevadas para a fixação dos instrumentos
acima da camada de rugosidade. Sendo assim, nem sempre as torres
coincidiram com a melhor localidade em termos representativos do
padrão espacial;

49
CAPÍTULO 3 Metodologia geral da pesquisa

ƒ O monitoramento móvel, realizado na abrangência de várias zonas


urbanas, foi estabelecido de modo a ser realizado no menor tempo
possível. Buscou-se o caminho mais curto em um circuito fechado, que
passasse pelos sítios de monitoramento fixos (pois estes serviram para
corrigir os desvios nos dados causados pela defasagem horária), e pelos
fragmentos florestais (para verificar um possível gradiente térmico
provocado pela presença destas manchas de ocupação).

Todos os pontos de monitoramento (fixos e móveis) foram demarcados com GPS.


Nesta etapa também foram definidos (as) ou descritos:
o A altura dos pontos de monitoramentos adequados à escala climática de
observação;
o As condições de tempo nos períodos de monitoramentos;
o Os horários e o modo de obtenção dos dados (medidas simultâneas ou
alternadas; fixas ou móveis; contínuas ou pontuais);
o A instrumentação.

A quadra O bairro A zona urbana


• Monitoramentos fixos de • Monitoramentos fixos de • Monitoramentos móveis
temperatura do ar e temperatura do ar e de temperatura do ar e
umidade relativa do ar em umidade relativa do ar em umidade relativa do ar.
duas alturas: troncos duas alturas: 1,5 m e 10 m • Correção dos dados móveis
(1,5 m) e copas (10 m). do solo. baseando-se nos dados
fixos.

Figura 3.2 - Etapa 2: Materiais e técnicas de coletas de dados.

50
CAPÍTULO 3 Metodologia geral da pesquisa

‐ ETAPA3: Modo de análise dos dados:


o Os dados climáticos foram tratados por meio de estatística descritiva e
relacionados às características físicas pontuais observadas nas diversas escalas
de análise (tipos de materiais, abertura do dossel arbóreo, morfologia urbana,
presença de elementos atípicos na paisagem).
o Observou-se o comportamento higrotérmico dos pontos ao longo do tempo
(dia) e em horários pré-estabelecidos (no caso das medidas móveis e dos
monitoramentos em pontos distribuídos no interior dos fragmentos florestais,
visto que, nesse caso, o número de instrumentos não era suficiente para medidas
contínuas e simultâneas entre as áreas de estudos).
o Os dados climáticos dos pontos urbanos foram comparados às médias
obtidas na estação meteorológica do CEPAGRI (Centro de Pesquisas
Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura), no mesmo período de
monitoramento. A estação meteorológica do CEPAGRI foi nomeada de “rural”,
apesar de situar-se no campus universitário da UNICAMP (Universidade
Estadual de Campinas) e sofrer influências da ambiência urbana.

Figura 3.3 – Estação meteorológica de referência – CEPAGRI (Centro de Pesquisas Meteorológicas


e Climáticas Aplicadas à Agricultura). Fonte: Google Earth (2011).

51
CAPÍTULO 3 Metodologia geral da pesquisa

3.2 O clima de Campinas

Campinas situa-se no Estado de São Paulo, a 100 km da capital, na Latitude


22o48’57” Sul e Longitude 47o03’33” Oeste, como representado na Figura 3.4 (CEPAGRI,
2010). Sua altitude média é de 640 m acima do nível do mar, variando entre 564m e 1088m
(HOTT; FURTADO; RIBEIRO, 2007). O município tem área de 795,70 km2, sendo a área
do perímetro urbano legal de 388,90 km2 (CAMPINAS, 2006). A população estimada em
2010 era de 1.080.999 habitantes (IBGE-CIDADES, 2011).

Figura 3.4 – Localização do Município de Campinas no Estado de São Paulo.

O clima de Campinas, segundo a classificação climática de Koeppen, é Subtropical


de inverno seco e verão quente (Cwa). A temperatura média anual é de 22,4 oC, sendo que a
média mensal máxima ocorre em fevereiro, com 24,9 oC, e a média mensal mínima em
julho, com 18,5_oC (CEPAGRI, 2010).

52
CAPÍTULO 3

Segundo dados médios da estação meteorológica do CEPAGRI, há um período


chuvoso e quente entre outubro e março, e um período seco entre abril e setembro, sendo os
meses de junho e julho os mais frios. A precipitação e a temperatura do ar distribuem-se
mensalmente conforme apresentado na Figura 3.5. De acordo com Barbano, Brunini e Pinto
(2003), o vento predominante tem direção Sudeste, com média de 40,0% e maior
frequência nos meses de abril, agosto, setembro, outubro e novembro.
A Figura 3.5 também mostra as médias mensais para o ano de 2009, em que foram
realizados os monitoramentos microclimáticos no interior dos fragmentos florestais
urbanos. As médias mensais de temperatura do ar no verão (Jan.-Fev.) de 2009 estiveram
um pouco mais elevadas do que os registros anteriores, e por outro lado, mais baixas no
inverno (Jun.-Jul.). Observa-se que enquanto a precipitação média anual é de 1425 mm, o
ano de 2009 foi caracterizado pela maior ocorrência de chuvas, somando 2080 mm.

450 30

400
25
350

Temperatura do ar (oC)
300 20
Precipitação (mm)
Média mensal

Média mensal
250
15
200

150 10

100
5
50

0 0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Precipitação 1998‐2008 Precipitação em 2009


Temperatura do ar 1998‐2008 Temperatura do ar em 2009

Figura3.5– Média mensal da temperatura do ar e precipitação em Campinas. Dados de Jun. 1998 a


Out. 2008 comparados aos registros do ano de 2009. Fonte: CEPAGRI - arquivo
interno fornecido diretamente para a autora.

53
CAPÍTULO 4

54
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações


climáticas

A influência da vegetação no microclima urbano e no conforto térmico em espaços


abertos é tema constante de pesquisas realizadas em todo o mundo. Como destacou Bowler
et al. (2010), os estudos comprovam que as áreas vegetadas são mais frescas do que as sem
vegetação, sendo que a magnitude do impacto na temperatura do ar depende do tamanho
das áreas verdes e de suas características físicas.
No que concerne à estrutura e composição florística das áreas verdes, verifica-se
uma correlação positiva entre a estratificação e o aumento da área foliar com a capacidade
de interceptação da radiação solar e o aumento da evapotranspiração (TAHA, 1997;
LARCHER, 2004). Estes processos, por sua vez, contribuem para a diminuição da
temperatura do ar.
No entanto, constata-se que as áreas verdes urbanas possuem características
diversas e o termo é comumente atribuído a espaços abertos tais como gramados, praças,
jardins e parques (LOBODA; DE ANGELIS, 2005). Do mesmo modo, Lund (1999)
observou que o termo “floresta” possui mais de cento e trinta definições, que podem ser
agrupadas em três categorias principais – a floresta pode ser vista como uma unidade legal,
como uma cobertura da terra ou como um uso da terra. Assim, a exigência de reservas
verdes nas cidades, em benefício do clima urbano, deveria vir seguida da descrição de suas
características físicas e de sua destinação em relação ao uso, para que estas desempenhem,
de fato, a função pretendida.
No presente trabalho, os fragmentos florestais urbanos são unidades legais, do ponto
de vista municipal, estadual ou federal, que constituem áreas verdes de preservação em
diferentes estados de conservação. São remanescentes da Floresta Estacional Semidecidual,
parte da Mata Atlântica, originalmente caracterizada, segundo Veloso et al. (1991),

pela dupla estacionalidade climática, uma tropical com época de


intensas chuvas de verão, seguida por estiagem acentuada e
outra subtropical sem período seco, mas com seca fisiológica
provocada pelo intenso frio do inverno, com temperaturas
médias inferiores a 15 oC (...) Neste tipo de vegetação a

55
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

porcentagem das árvores caducifólicas, no conjunto florestal e


não das espécies que perdem as folhas individualmente, situa-se
entre 20 e 50%.

Guaratini et al. (2008) afirmam que estas florestas foram devastadas com a
expansão da fronteira agrícola, por ocuparem solos férteis no Estado de São Paulo e,
atualmente, se restringem a fragmentos isolados, com diferentes graus de preservação, mas
que representam papel essencial na manutenção da flora local. De acordo com a Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica (2009) resta pouco mais de 7% da Mata Atlântica que
originalmente ocupava o Brasil, e em Campinas - SP, cidade de realização da presente
pesquisa, apenas 2% da vegetação nativa foi preservada.
Santin (1999) descreve a fisionomia da Floresta Estacional Semidecidual como
florestas altas, cujo estrato arbóreo apresenta altura superior a 20 m, com indivíduos
emergentes e distribuídos de forma aleatória ultrapassando 30 m, como representado na
Figura 4.1. No estrato intermediário ao sub-bosque ocorrem árvores de pequeno e médio
porte, entre 4 m e 12 m de altura. No sub-bosque há a ocorrência de arbustos lenhosos, com
cerca de 3 m, herbáceas não lenhosas, que atingem 1,2 m, e lianas. Epífitas são encontradas
em fragmentos mais bem conservados.

Figura4.1 – Perfil de uma Floresta Estacional Semidecidual, baseado na descrição de Santin (1999).

A diversidade de espécies vegetais e a estratificação deste tipo de floresta são


favoráveis ao aumento da interceptação da radiação solar e da evapotranspiração. A camada

56
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

próxima ao solo, no sub-bosque, deve apresentar baixa velocidade do vento, como verificou
Geiger (1966) para uma floresta de carvalhos. Por outro lado, a sobreposição das copas das
árvores pode dificultar a perda de calor do sub-bosque para a atmosfera, tendo em vista a
opacidade das folhas à radiação de onda longa (OKE,1987; GEIGER, 1966). Assim, a
temperatura do ar no sub-bosque deve manter certa estabilidade ao longo do dia, e a
umidade do ar deve manter-se elevada (LARCHER, 2004; GEIGER, 1966; OKE, 1987;
TAHA 1997).
A caracterização do dossel florestal pode ser acessada por fotografias hemisféricas,
a partir das quais é possível estimar a abertura do dossel, a área foliar e o ângulo de
inclinação foliar, como demonstraram Frazer et al. (2001). Upmanis e Chen (1999)
afirmaram que vários estudos confirmam a influência do fator de visão do céu no balanço
de radiação de ondas longas e na temperatura superficial em áreas urbanas e rurais.
Blennow (1997) e Karlsson (2000) também disseram haver boa correlação entre a abertura
do dossel e a temperatura do ar no interior de florestas.
Partindo destas informações, este capítulo tem como objetivo verificar se a abertura
do dossel, a área do fragmento e a distância de um ponto localizado no interior do
fragmento florestal à fronteira urbana, servem de parâmetros relacionados ao microclima. A
pesquisa abrange seis fragmentos florestais, com diversos tamanhos e estados de
conservação, localizados na área urbana de Campinas.

4.1 Fragmentos florestais urbanos na cidade de Campinas

Santin (1999), em inventário florestal realizado em Campinas, identificou um total


de 24 áreas verdes caracterizadas por parques, bosques e reservas naturais, dos quais parte
possui remanescente florestal. Estas áreas estão identificadas no Mapa de Vegetação
Remanescente do Plano Diretor de Campinas (CAMPINAS, 2006), utilizado como base
inicial para a seleção das áreas de estudo, como mostra a Figura 4.2.
A consulta do mapa de vegetação, concomitante à visualização de fotografias aéreas
da cidade, possibilitou a escolha de seis fragmentos florestais para a realização das
observações microclimáticas. Estas áreas possuem imediações caracterizadas pelo
predomínio do uso residencial e pela ocupação com construções de baixo gabarito. São elas

57
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

a Mata de Santa Genebra e os Bosques dos Italianos, Alemães, São José, Guarantãs e Paz.
Um sétimo fragmento florestal, o Bosque dos Jequitibás, que está localizado no Centro de
Campinas, não teve seu microclima monitorado, porém fará parte de análises posteriores.

Figura 4.2– Mapa de vegetação remanescente no Município de Campinas, com destaque para as
áreas de estudo. Fonte: Campinas (2006). Adaptado pela autora.

As restrições de acesso distinguem-se entre as áreas - os bosques públicos


municipais são abertos ao uso público, voltados ao lazer e recreação; já a Reserva Florestal
Mata de Santa Genebra, que é uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE3),
tombada como Patrimônio Natural4, tem acesso restrito e controlado e está voltada ao
desenvolvimento de pesquisas.

3
A Mata de Santa Genebra foi declarada Área de Relevante Interesse Ecológico no Decreto Federal
o
n . 91885 de 05 de novembro de 1985.
4
A Mata de Santa Genebra é tombada pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) - Resolução No 3 de 03/02/1983, e
pelo CONDEPAAC (Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico Cultural de Campinas) – Resolução No 11
de 29/09/1992. A reserva é administrada pela Fundação José Pedro de Oliveira.

58
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

A Reserva Florestal Mata de Santa Genebra é o maior representante da Mata


Atlântica na região de Campinas. Guaratini et al. (2008, p.326) descrevem que na Mata de
Santa Genebra “as árvores representaram o hábito mais abundante (53,7%
correspondentes a 108 espécies), seguida das lianas (17,4% correspondentes a 35
espécies), arbustos (14,4% correspondentes a 29 espécies), ervas (8,0% correspondentes a
16 espécies), arvoretas (6,0% e 12 espécies) e epífitas (0,5% correspondente a uma
espécie). Coffea arábica foi a única espécie exótica presente na área de estudo.” No
entanto, segundo os autores, a reserva é composta por um mosaico de fases sucessionais
distintas, apresentando áreas com espécies de estágios iniciais de sucessão, tais como
bambu e ervas daninhas.
Já os bosques públicos municipais são pequenas ilhas, testemunhas da vegetação
nativa, que foram preservadas no processo de parcelamento do solo urbano. Segundo Santin
(1999, p. 124), nestes “o estrato arbóreo encontra-se mais bem representado do que os
estratos herbáceo-arbustivo e as copas das árvores se sobrepõem ou pelo menos se tocam,
promovendo o sombreamento do solo no interior do fragmento.” Os bosques, apresentados
na Figura 4.3, possuem equipamentos comunitários, tais como playground, sanitários,
bebedouros, espaços para atividades físicas, sede administrativa e alguns quadras
esportivas, observando-se intervenções paisagísticas.

59
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

A B

C D

E F
Figura 4.3– Fotografias das áreas de estudo. (a) Mata de Santa Genebra, vista da Trilha Baroni; (b)
Bosque dos Italianos; (c) Bosque dos Alemães; (d) Bosque São José; (e) Bosque dos
Guarantãs; (f) Bosque da Paz.

Dados de levantamentos florísticos das áreas de estudos, realizados por Santin


(1999) e Guaratini et al. (2008), são apresentados na Tabela 3.1. Estes possibilitam ordenar
os fragmentos florestais quanto ao estado de conservação, visto que o número de espécies e
de famílias são indicadores de diversidade. Baseando-se em Santin (1999), o estado de
conservação estimado das áreas, em ordem decrescente, seria: Mata de Santa Genebra,
Bosque dos Jequitibás, Bosque São José, Bosque dos Alemães, Bosque dos Italianos,
Bosque dos Guarantãs e Bosque da Paz.

60
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Tabela 4.1 - Fragmentos florestais urbanos em Campinas, selecionados para a pesquisa, e dados de
levantamentos florísticos segundo Santin (1999) e Guaratini et al. (2008).
Área de vegetação
No de Distribuição em
Sigla Local remanescente
espécies*** famílias
(ha)**
1. MSG Mata de Santa Genebra 250,36 201 57
2. ITA Bosque dos Italianos 1,5* 82 33
3. ALE Bosque dos Alemães 2,0 85 34
4. S.JOSÉ Bosque São José 3,36 144 47
5. GUA Bosque dos Guarantãs 3,3* 72 32
6. PAZ Bosque da Paz 4,0* 50 27
Bosque dos Jequitibás
7. JEQ 10,5 160 46
(n.a.)
(*) Área de remanescente florestal calculada com base em foto aérea, obtendo-se resultados diferentes dos
citados por Santin (1999). (**) Inclui trilhas e/ou equipamentos comunitários entremeados à vegetação. (***)
Em Santin (1999) o número de espécies e a distribuição em famílias referem-se apenas às árvores nativas. Em
Guaratini et al. (2008), especificamente em relação aos dados da Mata de Santa Genebra, o número de
espécies e a distribuição em famílias inclui árvores, arbustos, epífitas, ervas e lianas. (n.a.) Microclima não
aferido.

4.2 Materiais e Métodos

4.2.1 Monitoramento microclimático nos fragmentos florestais urbanos

Os monitoramentos da temperatura do ar e da umidade relativa do ar no interior dos


fragmentos florestais urbanos foram realizados em três experimentos:
1º) Monitoramento contínuo (24 horas) e simultâneo em um ponto localizado no
interior das áreas de estudo, na altura de 1,5m do solo. Por medidas de segurança, nos
bosques os tripés foram localizados próximos das sedes administrativas (casa dos
vigilantes). Na Mata de Santa Genebra o ponto foi localizado a uma distância de
aproximadamente 300 m da fronteira urbana. Período das medições: Jan. – Abr. e Ago. de
2009. O monitoramento contínuo (24 horas) em um ponto localizado no interior dos
fragmentos florestais urbanos possibilitou comparar o microclima entre as áreas de estudo e
a área rural, a partir de dados da Estação Meteorológica do CEPAGRI5;

5
CEPAGRI – Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura.

61
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

2º) Monitoramento da temperatura do ar e umidade relativa do ar, contínuo (24


horas) e simultâneo entre as áreas de estudo, nas alturas de 1,5m e 10m do solo (Figura
4.4). Por questão do número de instrumentos, as medições na altura de 10m só foram
realizadas no Bosque dos Italianos, Bosque da Paz e Bosque dos Guarantãs. Período das
medições: Ago. – Set. de 2009;
3º) Monitoramentos em dias alternados entre as áreas, com registros às 14h, horário
em que haviam registros completos para todas as áreas de estudo. Os pontos de
monitoramento foram distribuídos de maneira homogênea nas áreas de estudo, na medida
do possível. Na Mata de Santa Genebra, devido às restrições de mobilidade e de segurança
dos equipamentos, os pontos foram localizados ao longo da Trilha Baroni (Figura 4.3a),
partindo da fronteira com a área urbanizada em direção ao interior da mata, e ao longo da
fronteira da mata com a área urbanizada. Também houve dificuldade em se abranger a área
do Bosque da Paz, devido ao declive acentuado das suas vertentes. Assim, os pontos foram
distribuídos no perímetro, afastando-os da fronteira urbana quando possível. Período das
medições: Jan. - Ago. de 2009.

Os instrumentos utilizados foram:


− Registrador de temperatura e umidade ambientes e saída para temperatura externa,
marca e modelo Testo 175-H2, com precisão para o canal interno: umidade relativa do
ar + 2%, e registros entre 0% e 100%; temperatura do ar + 0,5 °C, e registros entre -20
o
C e +70 oC (Figura 4.5) ;
− Registrador de temperatura ambiente, marca e modelo Testo 177-T2, com precisão para
o canal interno de ±0.5 °C, e registros entre -20 oC a +70 °C.
− Protetor de registrador, contra a radiação e chuva, permitindo a ventilação natural;
− Tripé para fixação de proteção do registrador na altura de 1,5 m;
− Abraçadeira para fixação de protetor com registrador em árvore, na altura de 10 m;
− GPS Garmin 60CX, para o registro das coordenadas dos pontos amostrais.

62
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Figura 4.4– Registrador de temperatura e umidade ambientes, protegido da radiação e ventilado


naturalmente, fixado em (a) tripé, na altura de 1,5 m do solo; (b) árvore, na altura de 10
m do solo.

(a) (b)
Figura 4.5 - (a) Data-logger de temperatura e umidade ambiente, marca Testo 175-H2 (b) Data-
logger de temperatura ambiente, marca Testo 175-T2.

Para uma melhor comparação do conteúdo de vapor de água, estimou-se , em


algumas análises, a umidade absoluta do ar, seguindo as Equações 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4, com
referências em Angelocci (2002, p.32-33):

UR = ea/es (Eq. 4.1)


es =k.10(7,5t/237,3+t) (Eq. 4.2 - Equação de Tetens)
R=0,622. ea/(Patm-ea) (Eq. 4.3)
Cva = k.(ea/T) (Eq. 4.4)

63
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Onde, UR [%] é a umidade relativa do ar; ea [hPa] é a pressão de vapor; es [hPa] é a


pressão saturante; o coeficiente de ajuste k = 6,108 para es expressa em hPa, ou k=4,58,
para es em mmHg; t é a temperatura do ar [oC] e T é a temperatura absoluta [K]; Cva [g/m3]
é o conteúdo de vapor de água em um metro cúbico de ar; R é a razão de mistura. A
pressão atmosférica Patm considerada para Campinas foi de 935,31 hPa, calculando-se com
o PSICROM 1.0 (RORIZ, 2003) e considerando a altitude do município de 640 m acima do
nível do mar (CEPAGRI, 2010).

4.2.2 Caracterização do dossel florestal

A caracterização do dossel florestal foi feita a partir de imagens hemisféricas e


cálculo da porcentagem de céu visível, o que torna possível a identificação de clareiras e de
elementos construídos presentes na paisagem.
As fotografias foram realizadas em julho de 2009, no início da fase semidecidual da
floresta. Ressalta-se que o inverno do ano de 2009 foi chuvoso, atrasando a queda das
folhas, não alterando significativamente a abertura do dossel. As fotografias foram feitas
em: MSG – 2 pontos; ITA – 9 pontos; ALE – 12 pontos; S.JOSÉ – 12 pontos; GUA – 11
pontos; PAZ – 9 pontos, somando 55 pontos. Não foi possível acessar o interior da Mata de
Santa Genebra com os equipamentos fotográficos, pois a trilha, neste período, encontrava-
se obstruída devido à queda de galhos. Assim, os dois pontos de registro fotográfico na
MSG foram feitos na borda, porém com diferentes exposições em relação à área
urbanizada.
As fotografias foram tiradas em dias com céu parcialmente ou totalmente nublado,
para melhor distinção da folhagem com o céu (FRAZER et al, 1999) na altura de 1,5 m, não
registrando, portanto, o estrato herbáceo-arbustivo. Para tanto, foi utilizada uma câmera
Nikon Coolpix 5000 (modelo digital) e uma lente conversora para olho de peixe Nikkor
FC-E8. O design desta lente deve produzir uma projeção polar, na qual as distâncias
angulares na região do objeto são proporcionais às distancias radiais na imagem plana,
salvo se ocorrerem distorções radiais e relativas ao campo de visão (180º) decorrentes da
fabricação (FRAZER et al., 2001). A câmera foi regulada com o autofoco, Fisheye 1. A

64
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

resolução utilizada foi fina, com imagens digitais no formato JPG, posteriormente salvas
em BMP para entrada no software. A câmera foi acoplada a um tripé fotográfico, sua lente
ficou voltada para o céu e a parte superior direcionada para o norte, utilizando-se, para
tanto, um nível de bolha e uma bússola.
As imagens foram inseridas no software Gap Light Analyser - GLA v.2 (FRAZER
et al., 2001). Utilizou-se a projeção polar e fez-se o ajuste do norte magnético. As cores
foram transformadas em branco (céu) e preto (obstruções) para o cálculo da abertura do
dossel (%) – canopy openness.

4.2.3 Localização e distância de um ponto à fronteira urbana

Os pontos de monitoramento e as fotografias hemisféricas foram registrados com


um GPS Garmim, 60 CX, utilizando-se o Datum SAD 69. Estes foram inseridos em uma
base vetorial da malha urbana de Campinas, no formado DWG, cedida pela SANASA6. No
mesmo arquivo também foi inserido o mosaico de fotografias aéreas da cidade de
Campinas, com data de 2005, fonecido pela SEPLAMA7. O sistema de projeção utilizado
foi UTM, Córrego Alegre 23 Sul. Observou-se um pequeno deslocamento dos pontos de
monitoramento em relação aos limites de cada fragmento florestal. A correção deste
deslocamento foi feita na própria base digital, movendo-se o conjunto de pontos, com base
em referências de campo (por exemplo, pontos localizados em esquinas).
Desenharam-se círculos, concêntricos aos pontos de monitoramentos e tangentes ao
limite urbano mais próximo, anotando-se assim, a menor distância de cada ponto até a
fronteira urbana.

6
SANASA – Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.
7
SEPLAMA – Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente. Prefeitura Municipal de Campinas, SP.

65
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

4.3 Resultados e discussão

4.3.1 Temperatura do ar e umidade relativa do ar em fragmentos


florestais urbanos – monitoramentos em pontos fixos a 1,5 m de altura

As Figuras 4.6 e 4.7 apresentam as médias horárias da temperatura do ar e da


umidade relativa do ar, nesta ordem, nos fragmentos florestais urbanos e no ambiente rural.
Constatou-se que a temperatura média mínima das áreas verdes, que ocorreu próximo das
6:00h, esteve, em média, 0,9_oC mais elevada do que no ambiente rural. Neste horário, a
umidade relativa do ar apresentou-se elevada e com pouca diferença entre as florestas
urbanas e a zona rural. Às 14:00h, horário aproximado de ocorrência da temperatura
máxima do ar, a diferença térmica entre os fragmentos florestais urbanos e a zona rural
(ΔTf-r) foi de 2,8 oC, e a diferença de umidade relativa do ar entre as duas áreas (ΔURf-r) foi
de 17,6%. Isto corresponde a 2,3 g/m3 de umidade absoluta do ar mais elevada nas florestas
urbanas.
Verificou-se que a amplitude térmica diária e de umidade relativa do ar nas áreas
vegetadas é inferior aos do ambiente rural (diferença de 3,7_oC para temperatura do ar e de
15,6%, para a umidade relativa do ar), indicando maior estabilidade microclimática nos
fragmentos florestais urbanos.
Verificou-se, ainda, diferenças na taxa de aquecimento e de resfriamento, que são
maiores no ambiente rural. Entre as 6:00h e 14:00h a taxa de aquecimento nos fragmentos
florestais urbanos foi de 0,8 oC/h e na área rural 1,2 oC/h. Entre 22:00h e 6:00h a taxa de
resfriamento nos fragmentos florestais urbanos foi de 0,2 oC/h e na zona rural 0,3 oC/h.

66
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Figura 4.6 – Comportamento térmico diário em fragmentos florestais urbanos da cidade de


Campinas, SP comparados à estação meteorológica do CEPAGRI. Dados obtidos nas
alturas de 1,5 m (matas e bosques) e 10 m (CEPAGRI) entre Jan. e Ago. de 2009,
totalizando 40 dias de observação.

Figura 4.7 – Comportamento diário da umidade relativa do ar em fragmentos florestais urbanos da


cidade de Campinas, SP comparados à estação meteorológica do CEPAGRI. Dados
obtidos nas alturas de 1,5 m (matas e bosques) e 10 m (CEPAGRI) entre Jan. e Ago. de
2009, totalizando 40 dias de observação.

67
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Ocorrem diferenças térmicas e de umidade relativa do ar entre as áreas de estudo. É


possível observar na Tabela 4.2 que a temperatura média máxima do ar diferenciou-se
pouco entre as áreas (0,6 oC), mas a temperatura média mínima teve maior variação (2,2
o
C). A MSG mostrou-se mais arrefecida e mais úmida que os demais bosques. Comparando
a média diária da temperatura do ar, verificou-se uma diferença máxima entre as florestas
urbanas de 1,1 oC, sendo a MSG o local mais frio (20,9 oC) e o S.JOSÉ o local mais
aquecido (22 oC). A MSG também apresentou temperatura média mínima inferior às outras
localidades. Neste local a umidade relativa do ar apresentou-se elevada, com média diária
de 90,9%.
O ponto de monitoramento na MSG estava distante da fronteira urbana cerca de 300
m, portanto com menor influência da área urbana. A área também sofre influências da zona
rural. Possivelmente, o alto aquecimento das fronteiras agrícolas e da cidade, no período
diurno, acarretou a temperatura média máxima da MSG semelhante aos demais locais. Por
outro lado, o local apresentou um resfriamento muito inferior aos demais, o que também
pode ter sido causa da proximidade da zona rural. Neste sentido, nota-se que PAZ também
apresentou temperatura média mínima inferior aos bosques situados em zonas de maior
desenvolvimento urbano.
Quanto a umidade relativa do ar, observou-se menor amplitude diária na umidade
relativa do ar em locais com cursos d’água (casos PAZ, com 26,9%, e GUA com 29,9%).

Tabela 4.2 – Temperatura do ar e umidade relativa do ar em fragmentos florestais urbanos.


Monitoramentos simultâneos, entre Jan. – Ago. de 2009 (total de 40 dias), em tripés na altura de
1,5m.
Tmáx URmáx URmín ΔUR
Local T (oC) Tmín (oC) ΔT (oC) UR(%)
(oC) (%) (%) (% )
MSG 20,9 26,0 16,8 9,2 90,9 98,5 66,1 32,5
ITA 21,8 26,4 19,0 7,5 75,8 86,6 56,1 30,5
ALE 21,6 26,6 18,8 7,8 85,6 92,2 58,0 34,3
S.JOSÉ 22 26,4 18,7 7,7 85,5 90,7 58,4 32,3
GUA 21,2 26,3 18,4 7,8 79,4 88,7 58,8 29,9
PAZ 21,0 26,1 17,8 8,3 86,2 92,9 66,0 26,9
Legenda – T – média diária da temperatura do ar; Tmáx - temperatura média máxima do ar; Tmín - temperatura média mínima
do ar; ΔT - amplitude térmica diária; UR – média diária da umidade relativa do ar; URmáx - umidade relativa média mínima do
ar; UR mín - umidade relativa média máxima do ar; ΔUR- amplitude diária da umidade relativa do ar.

68
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Os boxplots mostrados nas Figuras 4.8 e 4.9 confirmam que a MSG, maior
fragmento florestal urbano e com melhor estado de conservação, tende a apresentar menor
temperatura do ar e umidade relativa do ar mais elevada que os demais locais. O local
assemelhou-se com PAZ. Já os pequenos fragmentos florestais – ITA, ALE, GUA e
S.JOSÉ apresentaram temperatura do ar semelhantes, mais elevada em S.JOSÉ. A umidade
tende a ser mais baixa em GUA e ITA.

69
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Figura 4.8 – Boxplots, em relação à média, da temperatura do ar (oC) em fragmentos florestais


urbanos da cidade de Campinas, SP. Dados obtidos nas alturas de 1,5m (matas e
bosques) entre Jan. e Ago. de 2009, totalizando 40 dias de observação.

Figura 4.9– Boxplots, em relação à média, da umidade relativa do ar (%) em fragmentos florestais
urbanos da cidade de Campinas, SP. Dados obtidos nas alturas de 1,5m (matas e
bosques) entre Jan. e Ago. de 2009, totalizando 40 dias de observação.

70
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

4.3.2 Estratificação da temperatura do ar e umidade relativa do ar em


fragmentos florestais urbanos – monitoramentos em pontos fixos em
duas alturas (1,5 m e 10 m)

As condições de tempo no período de monitoramento microclimático (Ago.-Set. de


2009) em duas alturas (1,5 m e 10 m) podem ser resumidas por dias de céu claro, com
ausência de pluviosidade, porém sob influência da chuva que ocorreu em dias anteriores.
Apesar de não haver registros de pluviosidade na estação meteorológica do CEPAGRI,
choveu nos dois dias anteriores: 9,14 mm, no dia juliano 236, e 1,21 mm, no dia juliano
237.
Assim, o ar apresentou-se inicialmente muito úmido, com umidade relativa do ar
máxima superior a 80%. No decorrer dos dias, houve um decréscimo na umidade relativa
do ar, principalmente a mínima, que diminuiu 31%. Observou-se também a elevação na
temperatura do ar – a máxima aumentou 10,6 oC, a mínima 1,1 oC, e a média diária 3,8 oC,
ao longo dos dias.
As tardes foram quentes e secas, com temperatura média máxima do ar de 29,7 oC e
média da umidade relativa do ar de 29,7%. As manhãs foram amenas e úmidas, com
temperatura média mínima de 14 oC e umidade relativa do ar de 76,2%. A amplitude
térmica diária foi elevada, característica da estação seca do clima Subtropical de inverno
seco e verão quente.
Segundo dados da estação meteorológica do IAC8, os ventos, no período, tiveram
velocidade média inferior a 3 m/s, caracterizando uma brisa leve na Escala de Beufort,
predominado a direção SE, com freqüência de 77,8%.
Os monitoramentos no interior dos fragmentos florestais, realizados a 1,5 m e 10 m
do solo, indicaram a ocorrência de um gradiente térmico vertical, como mostra a Figura
4.10. A diferença térmica entre as duas alturas monitoradas variou ao longo do dia e entre
as florestas urbanas. Porém, em todos os horários a temperatura do ar (Tar) a 10 m esteve
mais baixa que a na altura do sub-bosque, a 1,5 m. Considerando a média dos dados das
três áreas de estudo, que fizeram parte deste experimento (ITA, GUA e PAZ), verificou-se

8
IAC - Instituto Agronômico de Campinas. O CEPAGRI coleta dados de vento a 2m e 5m de altura,
optando-se pela referência do IAC.

71
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

que a menor diferença térmica entre as duas alturas ocorreu às 7:00h (0,6 oC) e a maior
diferença térmica às 17:00h (3,7 oC).
A Figura 4.11 e a Tabela 4.3 apresentam dados de umidade relativa do ar (UR) nas
duas alturas monitoradas. Do mesmo modo, verificou-se que a UR na altura de 10 m é mais
elevada que a 1,5_m. Comparando-se as áreas de estudo, observa-se que o comportamento
da UR medida a 10_m é semelhante. Observa-se em PAZ que a UR a 1,5 m esteve elevada,
no período matutino e noturno, tendo em vista que o ponto de medição estava localizado
próximo de um curso d’água.
Considerando a média dos dados das áreas de estudo, verificou-se que a menor
diferença de UR10-1,5m entre as duas alturas ocorreu às 8:30h (diferença de 8%) e a maior
diferença (15,4 %) foi observada às 19:30h.
A temperatura do ar e a umidade relativa do ar tendem a apresentar-se mais
elevadas nos fragmentos florestais urbanos, comparados ao ambiente rural. Antes do nascer
do sol, a UR na zona rural apresentou-se mais elevada que os bosques, em relação aos
dados obtidos na altura de 1,5 m, porém inferior aos dados obtidos a 10 m.
No início da manhã, antes do aquecimento das superfícies próximas ao solo, houve
poucas diferenças térmicas e de umidade relativa do ar nas duas alturas. Já no final da tarde,
horário em que a umidade relativa do ar tende a ser mínima, observaram-se as maiores
diferenças térmicas e de umidade entre as duas alturas monitoradas.

72
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Figura 4.10– Temperatura do ar (oC) no interior de fragmentos florestais urbanos em duas alturas
(10m e 1,5m). Dados obtidos entre Ago. e Set. de 2009, totalizando 17 dias de
observação.

Figura 4.11 – Umidade relativa do ar (%) no interior de fragmentos florestais urbanos em duas
alturas (10m e 1,5m). Dados obtidos entre Ago. e Set. de 2009, totalizando 17 dias de
observação.

73
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Tabela 4.3 – Média horária e desvio padrão (d.p.) da temperatura do ar - Tar [oC] - e umidade
absoluta do ar - UA [g/m3] - em fragmentos florestais urbanos em Campinas-SP. Dados medidos no
período de Ago.-Set. de 2009, nas alturas de 1,5 m e 10 m.
Altura 10 m 1,5 m
Hora 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h
Tar UA Tar UA Tar UA Tar UA Tar UA Tar UA
Variável
(d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.)
21,0 12,0 26,5 10,7 21,6 11,3
MSG
(2,1) (1,1) (3,2) (1,3) (1,8) (1,8)
18,6 12,4 22,8 11,9 18,8 12,1 20,5 9,6 26,2 8,8 22,3 9,7
ITA
(3,0) (2,5) (5,3) (3,2) (4,5) (2,9) (1,9) (1,0) (2,9) (1,2) (1,7) (2,3)
19,7 9,7 26,4 9,4 22,2 9,4
ALE
(2,0) (0,9) (3,2) (2,1) (1,8) (1,9)
20,2 10,0 26,2 9,8 21,9 9,7
S.JOSÉ
(1,8) (0,8) (3,0) (2,2) (1,6) (1,7)
19,6 12,2 23,2 11,2 18,5 11,6 21,0 9,8 26,5 10,1 21,6 9,6
GUA
(3,3) (3,0) (5,7) (3,6) (4,5) (3,6) (2,1) (1,0) (3,2) (1,7) (1,8) (1,8)
18,9 12,3 23,5 12,0 18,5 11,9 19,7 10,7 26,4 11,1 21,1 10,4
PAZ
(2,5) (2,0) (5,6) (2,7) (3,8) (2,3) (1,4) (0,9) (3,2) (1,4) (1,0) (1,3)

Estes resultados mostraram que as maiores diferenças térmicas entre as duas alturas
de medição, nos três horários analisados, ocorreram às 15:00h e as menores diferenças às
9:00h, quando as superfícies ainda se encontram pouco aquecidas. A incidência de radiação
solar no solo faz com que a camada de ar abaixo das copas se aqueça, atingindo
temperaturas máximas próximo das 14h. Na altura de 10 m, apesar da folhagem também
sofrer aquecimento, as trocas térmicas devem ser facilitadas pela incidência de vento e pela
transpiração foliar, aumentando a parcela de perda de calor latente.
Tendo em vista que os fragmentos florestais estão situados na área urbana, a
velocidade dos ventos acima das coberturas é superior à velocidade na camada próxima do
solo, obstruída pelas edificações (OKE, 2006a). Como as copas das árvores, nos fragmentos
estudados, são mais altas que as coberturas das edificações vizinhas, estas devem receber
um fluxo de vento superior ao da altura dos troncos, explicando as diferenças térmicas entre
estas duas alturas, conforme mostra a Figura 4.12. Além disso, é possível que as plantas
situadas no extrato superior da floresta orientem suas folhas contra os raios solares intensos
(para baixo), aumentando a incidência de radiação solar no sub-bosque nos horários de
ocorrência de máxima radiação.

74
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Figura 4.12 – Influência da velocidade dos ventos no gradiente térmico de um fragmento florestal
urbano.

4.3.3 Diferenças térmicas e de umidade do ar entre pontos distribuídos


no interior de fragmentos florestais urbanos - medidas às 14h na altura
de 1,5m

Dados de temperatura do ar e umidade absoluta do ar em pontos distribuídos no


interior de fragmentos florestais urbanos, medidos às 14h, evidenciaram a influência da
área urbana sobre o microclima das áreas vegetadas.
A Figura 3.14 mostra os gradientes ( ) das variáveis: umidade relativa do ar,
umidade absoluta do ar e temperatura do ar. Para este cálculo baseou-se no conceito de
temperatura adimensional ( ), considerando-se os valores de referência máximos (Tmáx) e
mínimos (Tmín) obtidos entre os pontos monitorados em cada área de estudo, para cada dia
de medição. Assim, a variável adimensional indica o quanto o valor obtido em um ponto
está próximo dos valores máximos e mínimos de referência, resultando em um número
entre 0 (valor máximo) e 1 (valor mínimo), como mostra a Equação 4.5:

í
Eq. 4.5
á í

Após ter calculado os valores adimensionais de temperatura e umidade, foi feita


uma interpolação dos dados no Surfer 8.0, utilizando-se o método do Inverso do Quadrado
da Distância. As interpolações são mostradas na Figura 4.13.

75
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Observa-se uma tendência de resfriamento e aumento da umidade do ar nos pontos


centrais das áreas de estudo e próximos às superfícies d’água (casos PAZ, MSG, GUA). A
alteração no microclima com o distanciamento da fronteira com o ambiente construído é
evidente em MSG, constatando-se maior resfriamento e aumento na umidade do ar nos
pontos distantes da fronteira urbana.
Ao contrário, os pontos situados próximos a gramados (casos MSG, PAZ, GUA), de
uso agrícola (caso MSG) e às ruas de tráfego intenso (caso ALE), apresentaram baixa
umidade do ar e temperaturas elevadas. No caso de ALE verifica-se baixa umidade em um
dos pontos centrais, posicionado no playground, local menos arborizado. Em GUA também
verificou-se um ponto de aquecimento em um local de estreitamento da floresta, que faz
fronteira com uma escola e com um campo de futebol de areia.
Em geral, os pontos de temperatura mais elevada também apresentaram baixa
umidade absoluta do ar e baixa umidade relativa do ar.

76
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Temperatura Umidade absoluta Umidade relativa


Adimensional adimensional adimensional
MATA DE SANTA GENEBRA
ITALIANOS
ALEMÃES

Figura 4.13– Gradiente de temperatura e umidade do ar no interior de fragmentos florestais urbanos.


Valores adimensionais, em uma escala de zero a um, baseados em dados de
temperatura do ar (oC), umidade absoluta do ar (g/m3) e umidade relativa do ar (%),
monitorados na altura de 1,5m, às 14:00h.

77
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Temperatura Umidade absoluta Umidade relativa


adimensional adimensional adimensional
SÃO JOSÉ
GUARANTÃS
PAZ

Gradiente de 1
Gradiente de 1
Gradiente de 1
temperatura do ar 0.9 umidade relativa do 0.9 umidade absoluta do 0.9
adimensional: 0.8 ar adimensional: 0.8 ar adimensional: 0.8
0.7 0.7 0.7
0.6 0.6 0.6
0.5 0.5 0.5
0.4 0.4 0.4
0.3 0.3 0.3
0.2 0.2 0.2
0.1 0.1 0.1
0 0 0
0 – valor mínimo; 1 – Valor máximo

78
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

A maior diferença térmica (3,4 oC) entre os pontos situados no interior dos
fragmentos foi observada em PAZ. Esta diferença deve-se às características do ponto de
maior aquecimento, situado fora da área arborizada, e do ponto mais arrefecido, situado no
interior da floresta, próximo ao lago. Já em MSG constatou-se uma diferença térmica
máxima entre os pontos de 2_oC, confirmando a influência da área urbana no microclima
da mata. Nas demais áreas, a diferença térmica entre os pontos variou entre 1 e 1,4 oC.
A umidade absoluta do ar teve maior variação em MSG, com diferença máxima
entre os pontos de 2,7 g/m3. As menores diferenças foram encontradas em ALE e S.JOSÉ,
com diferença máxima entre os pontos de 1,9 g/m3 .

4.3.4 Abertura do dossel florestal

Baixos percentuais de abertura do dossel florestal indicam a presença de copas


entrelaçadas, troncos espessos, a presença de plantas, arbóreas, arbustivas e trepadeiras, na
camada superior à altura de 1,5 m. Ao contrário, elevados percentuais de abertura do dossel
florestal indicam que há um espaçamento maior entre os indivíduos arbóreos e o estrato
intermediário pouco expressivo. Exemplos de fotografias do dossel florestal das áreas de
estudo, são apresentados na Figura 4.14.
A Figura 4.15 apresenta as medidas de abertura do dossel florestal para os seis
fragmentos florestais urbanos estudados. Verificou-se que a abertura do dossel (média dos
pontos) das áreas de estudo variou entre 10,9% e 16,0%. A média geral dos pontos foi de
13,0% (desvio padrão 2,9). A menor abertura do dossel florestal ocorreu em S.JOSÉ (média
de 10,9%), inclusive ao comparar o valor máximo (13,3%) e mínimo (7%) com as demais
localidades. A maior abertura do dossel ocorreu em ITA (média de 16%), com uma
variação entre os pontos de abertura máxima (21,1%) e mínima (13,0%) de 8,1%, a maior
encontrada entre as áreas de estudo.

79
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

MSG (14,66) ITA (17,74) ALE (11,58)

S.JOSÉ (12,32) GUA (13,57) PAZ (11,68)

Figura 4.14 - Fotografias hemisféricas do dossel de fragmentos florestais urbanos, tiradas na altura
de 1,5m, e medidas de abertura (%) correspondentes.

Figura 4.15 – Abertura do dossel florestal (%) em fragmentos florestais urbanos na cidade de
Campinas-SP. Percentuais obtidos a partir de fotografias hemisféricas, tiradas a 1,5 m
de altura, em Jul. 2009. Cálculos feitos no software GLA v.2, utilizando-se a projeção
polar. 1.MSG – Mata de Santa Genebra; 2.ITA - Bosque dos Italianos; 3.ALE –
Bosque dos Alemães; 4. S.JOSÉ – Bosque São José; 5.GUA – Bosque dos Guarantãs;
6.PAZ – Bosque da Paz. N = números de pontos amostrais em cada área de estudo.

80
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Apesar de se esperar menor abertura do dossel para os pontos localizados no centro


dos fragmentos florestais urbanos, não houve correlação entre as medidas de abertura e a
distância do ponto à fronteira. No entanto, observou-se uma tendência na diminuição da
abertura do dossel com o aumento da distância da borda, bem como com o aumento da área
do fragmento (nesta análise desconsiderou-se a área MSG, visto que sua dimensão é muito
superior a dos outros locais).
O estado estimado de conservação dos fragmentos também não mostrou correlação
com a abertura do dossel florestal, ou seja, nem sempre as florestas mais conservadas
apresentam dossel mais fechado. Presume-se que isto se deve à presença de plantas
arbustivas e trepadeiras em pontos localizados na borda dos fragmentos, indicando
degradação e ao mesmo tempo obstruindo a visão do céu.
Recomenda-se que as medidas de abertura do dossel florestal, calculadas a partir de
fotografias hemisféricas, sejam acompanhadas da caracterização da vegetação em
diferentes trechos das áreas de estudo, para que possam ser devidamente associadas ao
estado de conservação das florestas urbanas.

4.4 Estabelecimento de parâmetros relacionados ao microclima de fragmentos


florestais urbanos

Três medidas que caracterizam as áreas de estudo (abertura do dossel florestal, área
do fragmento e distância de um ponto à fronteira urbana) foram correlacionadas a
parâmetros microclimáticos, obtidos às 14h, como apresentado a seguir.

Abertura do dossel florestal


Não houve correlação entre as variáveis climáticas monitoradas às 14h, na altura de
1,5_m, e a abertura do dossel florestal. As regressões lineares resultaram nos seguintes
coeficientes de correlação: r2 = 0,0004 para a temperatura do ar, r2 = 0,0055 para a
umidade relativa do ar e de r2 = 0,0054 para a umidade absoluta do ar, r2 = 0,1054 para ΔTf-
r , r2 = 0,1598 para ΔURf-r, r2 = 0,1855 para ΔUAf-r.

81
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Contudo, nota-se que com o aumento da abertura do dossel houve uma diminuição
das diferenças entre o microclima das florestas e da área rural - ΔTf-r, ΔURf-r e ΔUAf-r. Isso
significa que os pontos com baixa abertura do dossel florestal apresentaram tanto a
umidade do ar como temperatura do ar superiores ao ambiente rural. No entanto, ocorreu
uma variação nas diferenças térmicas e de umidade de um ponto em relação ao ambiente
rural, dependendo das condições de tempo. Um número maior de repetições nos
monitoramentos, em dias típicos das estações do ano, poderia demonstrar maior correlação
entre a abertura do dossel e as variáveis microclimáticas.
Apesar disso, algumas particularidades merecem ser destacadas. Em MSG, apesar
dos dois pontos monitorados terem aberturas do dossel semelhantes (13,26% e 14,66%),
houve entre eles uma grande variação térmica e de umidade relativa. Isso mostra a
influência térmica urbana no microclima do fragmento florestal. O ponto com menor
abertura do dossel estava menos exposto às influências do microclima urbano e apresentou
temperatura média do ar, às 14h, 3,3_oC mais baixa que o ponto que se encontra próximo
da fronteira.
Em ITA, como era o esperado, a temperatura do ar esteve mais elevada e a umidade
relativa mais baixa, condizendo com a abertura média do dossel florestal, superior ao das
outras áreas de estudo. Assim, a diminuição da interceptação da radiação solar pela
folhagem da vegetação deve ter ocasionado o aquecimento do solo e da camada de ar do
sub-bosque. Além disso, como a dimensão de ITA é menor, o local está mais suscetível à
influência das áreas construídas. Apesar da baixa abertura do dossel florestal em S.JOSÉ, o
local apresentou temperatura média elevada, comparado aos demais locais, indicando a
manutenção do calor em pontos com dossel fechado e sob influência do ambiente
construído.

Distância de um ponto à fronteira urbana


Considerando os resultados das diferenças térmicas entre pontos distribuídos no
interior dos fragmentos florestais urbanos, medidos às 14h na altura de 1,5 m, verificou-se
um aumento da umidade do ar (tanto absoluta quanto relativa) e diminuição da temperatura
do ar em pontos localizados no centro das áreas de estudo. Contudo, observou-se que outros

82
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

fatores influenciam no gradiente higrotérmico das áreas, tais como a proximidade de


elementos que são fontes de aquecimento ou resfriamento do ar (ex. gramado x água).
Desta maneira, os pontos localizados nos fragmentos florestais urbanos de menor
dimensão (entre 1,4 e 4 ha) mostraram-se mais suscetíveis às influências de tais elementos,
que influenciam no microclima do sub-bosque pontualmente. Mas, o único caso que
fornece subsídios para o estabelecimento da relação entre a distância da borda e a alteração
do microclima é o da Mata de Santa Genebra, ao longo da Trilha Baroni.
Analisando o gradiente térmico e de umidade ao longo desta trilha, apresentado na
Figura 4.16, constatou-se uma diminuição na temperatura do ar entre 50-70%, um aumento
de 50% na umidade absoluta do ar e de 40% na umidade relativa do ar, em uma distância
de 284,5 m.

83
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

A B
7473850 0.8 7473850 1
0.7
7473800 7473800 0.9
0.6
7473750 7473750 0.8
0.5
7473700 7473700
0.7
0.4
0.6
7473650 0.3 7473650

0.2 0.5
7473600 7473600

0.1 0.4
7473550 7473550
0 0.3
283700 283800 283900 283700 283800 283900

C
7473850
1
7473800
0.9
7473750 Projeção UTM, 23S.
Datum SAD 69
7473700 0.8

7473650 0.7
7473600
0.6
7473550

283700 283800 283900


0.5

Figura 4.16– Gradiente térmico e de umidade do ar ao longo de uma trilha na Mata de Santa
Genebra – Campinas, SP. Ponto inicial, no canto inferior direito, a 12,5m da fronteira
urbana; ponto final, no canto superior esquerdo, a 297m da fronteira urbana. Dados
adimensionais baseados em: (a) Temperatura do ar (b) Umidade absoluta do ar (c)
Umidade relativa do ar, medidos às 14h na altura de 1,5m.

A média da diferença térmica entre os pontos iniciais e finais da trilha esteve entre 1
e 1,4_oC, mais elevada nos pontos junto à fronteira urbana, e diferença na umidade absoluta
do ar a foi de 1,35 g/m3 , mais baixa nos pontos próximos da fronteira urbana.

84
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Área do fragmento
Verificou-se uma estreita correlação entre o aumento da amplitude térmica diária
(ΔT) e a área dos fragmentos (r2 = 0,83). O aumento da área dos fragmentos florestais
urbanos indicou diminuição da temperatura do ar (média máxima e média mínima), baixa
amplitude da umidade relativa do ar e o aumento na umidade relativa mínima.
O ambiente urbano altera o microclima dos fragmentos florestais de pequena
dimensão, aquecendo-os durante o dia, e, conseqüentemente, diminuindo a umidade
relativa do ar. Por outro lado, as áreas verdes mais extensas conseguem manter o teor de
umidade do ar, o que contribui para o resfriamento do ar no período noturno, ocasionando
em maiores amplitudes térmicas. No entanto, atenta-se para a influência da presença da
água na diminuição da Tar e elevação de UR, como ocorre nos casos de GUA e PAZ, que
coincidentemente possuem maior área que ITA, ALE e S. JOSÉ.
Em suma, observou-se que para pequenas florestas urbanas, com área entre 1,4 e 4
ha, a temperatura média mínima do ar diminuiu cerca de 0,25 oC com o aumento de 1 ha, e
a umidade relativa do ar aumentou em média 2,12 % para cada 1 ha.

4.5 Síntese dos resultados

Seis fragmentos florestais urbanos situados em Campinas, com áreas entre 1,5 ha e
250,26_ha, em diferentes estados de conservação, apresentaram abertura do dossel variando
entre 10,9% e 16,0% (fotografias obtidas a 1,5 m de altura).
Às 6:00h a temperatura do ar no interior das florestas urbanas esteve, em média, 0,9
o
C mais elevada do que no ambiente rural. Neste horário, não ocorreram diferenças de
umidade relativa do ar entre estes ambientes. Às 14:00h a temperatura do ar no interior das
florestas urbanas apresentou-se em média 2,8 oC mais baixa que na zona rural, e a umidade
relativa 17,6% mais elevada, o que corresponde a 2,3 g/m3 de umidade absoluta do ar.
Os fragmentos florestais urbanos apresentaram baixa amplitude térmica e de
umidade, mostrando estabilidade microclimática. A taxa de aquecimento e de resfriamento
no interior das florestas foi inferior ao ambiente rural, verificando-se um ganho de 0,8 oC/h,
entre 6:00h e 14:00h, e uma perda de 0,2 oC/h entre 22:00h e 6:00h.

85
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

Constatou-se um gradiente térmico e de umidade do ar no perfil vertical e


horizontal. Os dados microclimáticos na altura de 10 m apresentaram-se mais estáveis que
os medidos a 1,5 m, diferenciando-se pouco entre os locais avaliados. Na altura abaixo das
copas, a temperatura do ar esteve mais baixa e a umidade mais elevada que a 1,5 m. A
menor diferença térmica entre as duas alturas ocorreu às 7:00h (0,6 oC) e a maior diferença
térmica às 17:00h (3,7 oC). A menor diferença de umidade relativa do ar entre as duas
alturas ocorreu às 8:30h (8%) e a maior diferença às 19:30h (15,4 %). Este resultado foi
oposto ao encontrado por Monteiro e Azevedo (2005), em estudo no Parque Previdência, na
Zona Oeste de São Paulo, SP e de um fragmento em Calcaia do Alto, SP. Os autores
verificaram maior aquecimento nas copas, com uma diferença variando entre 1 ºC
(fragmento em área rural) e 3 ºC (fragmento em área urbana). Já Karlsson (2000)
identificou uma pequena diminuição na temperatura do ar na altura de ~5 m, seguida de
aumento em alturas mais elevadas, no interior de uma floresta de coníferas de 20 m de
altura.
A estratificação da temperatura e umidade do ar nas florestas urbanas foi atribuída à
estagnação da camada de ar do sub-bosque, devido à baixa abertura do dossel florestal, bem
como a menor velocidade dos ventos próxima ao solo, comparada à velocidade dos ventos
acima da altura média dos elementos urbanos. Na altura das copas as trocas térmicas devem
ser facilitadas pela incidência dos ventos, que acelera a perda de calor latente. Há também
uma diminuição da resistência difusiva da camada de ar aderida às folhas, causada pelo
aumento da velocidade dos ventos (KARLSSON, 2000).
Já as diferenças térmicas e de umidade no perfil horizontal foram atribuídas à
presença de elementos que podem aquecer ou resfriar o ambiente, de acordo com sua
capacidade térmica, bem como a presença de fontes de calor (ex. tráfego de veículos). As
fontes de aquecimento identificadas foram gramado, solo agrícola, areia e ruas com tráfego
intenso. A água foi identificada como fonte de resfriamento. As máximas diferenças
observadas entre os pontos distribuídos no interior dos fragmentos florestais, a 1,5 m, foi de
3,4 oC, para a temperatura do ar, e de 2,7_g/m3, para a umidade absoluta do ar.
Também constatou-se alterações microclimáticas decorrentes do aumento da
distância de um ponto à fronteira urbana (caso da Mata de Santa Genebra), mas este

86
CAPÍTULO 4 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

resultado não é conclusivo para áreas pequenas (menores que 4 ha). Na mata, verificou-se
um decréscimo médio de 0,5 oC a cada 100 m de distância da fronteira urbana e um
aumento de 0,94 g/m3 na umidade absoluta do ar a cada 100 m.
A abertura do dossel florestal, calculada a partir de fotografias a 1,5 m do solo, não
mostrou boa correlação com as variáveis microclimáticas. Apesar disso, constataram-se
menores temperaturas em locais com baixa abertura do dossel (Bosque São José) e
temperaturas mais elevadas em florestas urbanas com dossel mais aberto (Bosque dos
Italianos).
Por outro lado, verificou-se uma correlação positiva entre o aumento da amplitude
térmica diária e a área dos fragmentos (r2 = 0,83). Este aumento deve-se principalmente às
baixas temperaturas do ar no horário antes do nascer do sol (6:00h). Estimou-se um
decréscimo na temperatura do ar de 0,25 oC e um aumento 2,12 % na umidade relativa do
ar para cada 1 hectare a mais de floresta (valores identificados para fragmentos menores
que 4 ha). Assim, apesar da amplitude térmica diminuir em áreas arborizadas em
comparação com as áreas abertas, como constatou Ylmaz et al. (2007) e Barbirato et al.
(2003), as florestas urbanas tendem a aumentar a amplitude térmica diária em decorrência
da diminuição da temperatura mínima.
Com base na caracterização microclimática dos fragmentos florestais urbanos
avaliados, presume-se que a magnitude e a extensão do impacto das áreas de grande
dimensão sobre o clima urbano deva ser maior do que o impacto causado pelas pequenas
áreas verdes. Da mesma maneira que ocorre um gradiente térmico e de umidade no interior
dos fragmentos, influenciados pelas características físicas pontuais e do entorno, deve
ocorrer um gradiente higrotérmico no entorno edificado, decorrentes do padrão de
ocupação urbana.

87
CAPÍTULO 5 Fragmentos florestais urbanos: caracterização física e interações climáticas

88
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados


próximos de fragmentos florestais

O processo de urbanização, caracterizado pela substituição de áreas permeáveis e


vegetadas por áreas impermeáveis e construídas, altera as propriedades meteorológicas da
camada de ar próxima da superfície terrestre, configurando o clima urbano (MONTEIRO;
MENDONÇA, 2009). Comparativamente ao ambiente rural, nas cidades há uma
diminuição da água disponível para a evaporação, predominando o fluxo de calor sensível
ao latente (MARIN et al., 2008). A gama de materiais construtivos e a extensa área
superficial da volumetria edificada acarretam um balanço de radiação complexo,
caracterizado por múltiplas reflexões de ondas curtas e a interação entre a emissão e a
reflexão de ondas longas (OFFERLE et al., 2006). A utilização de materiais construtivos
com alta capacidade térmica e a incidência da radiação solar durante um longo período do
dia sobre estas superfícies ocasionam a elevação da temperatura do ar (LOMBARDO,
1997; TAHA, 1997). Esta é intensificada pela produção de calor antropogênico e presença
de partículas de poluentes suspensas na atmosfera urbana. Assim, observa-se a formação de
ilhas de calor, cuja magnitude varia com o padrão de ocupação urbana (GIVONI, 1998;
MONTEIRO; MENDONÇA, 2009).
A identificação de elementos e de desenhos urbanos favoráveis à mitigação das
ilhas de calor e ao conforto térmico urbano é tema de grande importância para o
desenvolvimento sustentável. Os efeitos térmicos sobre os ecossistemas naturais podem
degradá-los, necessitando-se de ações urgentes para o seu controle (HAMADA; OHTA,
2010).
Destacam-se alguns valores de referência em relação à intensidade das ilhas de calor
noturnas em cidades brasileiras: em Campina Grande-PB, foi observada uma diferença
o
térmica entre a área urbana e rural (ΔTu-r) de cerca de 0,5 C às 22:00h (SILVA et al.,
2010); em Montes Claros-MG a ΔTu-r máxima observada foi de 3 - 4 oC, às 22:00h, nos
meses de julho e setembro (GOMES; LAMBERTS, 2009); em Cuiabá-MT a ΔTu-r foi de
2,5 oC, na estação chuvosa, e de 5 oC, na estação seca (MAITELLI, 1994 referenciado por

89
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

PAGLIARINI, 2008); medições posteriores evidenciaram uma ΔTu-r em Cuiabá de mais


de 6 ºC na estação seca e 7 ºC na estação chuvosa (DUARTE, 2000); monitoramentos em
diferentes pontos na área urbana de em Campinas-SP, entre julho e agosto de 2004,
mostraram uma ΔTu-r máxima de 4 oC às 22:00h (PEZZUTO, 2007).
Nota-se, contudo, que a intensidade das ilhas de calor varia entre os sítios urbanos.
Neste sentido, diversas pesquisas verificaram estreita correlação entre as diferenças
térmicas intra-urbanas com o padrão de uso e ocupação do solo, a distribuição e
porcentagem de cobertura vegetal e a propriedade térmica dos materiais construtivos
(HIEN; YU, 2005; HAMADA; OHTA, 2010; GOMES; LAMBERTS, 2009; SAARONI et
al., 2000; JUSUF et al., 2007; FARIA; MENDES, 2004). Observa-se que a escassez de
áreas livres, de vegetação e de água, ao lado de grandes áreas pavimentadas e adensadas,
são fatores que provocam o aquecimento do ambiente urbano e o desconforto térmico por
calor (DUARTE, 2000; KRÜGER; GIVONI, 2007). Ao contrário, identifica-se uma
correlação entre o aumento do percentual de áreas verdes e a diminuição da temperatura do
ar (HAMADA; OHTA, 2010).
O resfriamento das circunvizinhanças de áreas vegetadas é causado pelas trocas
térmicas advectivas (HAMADA; OHTA, 2010 citando NARITA et al., 2007), que ocorrem
no plano vertical entre ambientes com microclimas dependentes. As trocas térmicas
advectivas dependem da altura dos volumes considerados - quando altos o suficiente o
fluxo de calor advectivo torna-se igual ao fluxo trocado verticalmente entre o solo e o ar
(GEIGER, 1966). Assim, em áreas verdes com arborização de grande porte prevê-se um
elevado fluxo térmico entre o volume edificado e o vegetado. A elevação da umidade do ar
também contribui para o aumento da perda de calor latente nos arredores das áreas verdes e
a atuação dos ventos predominantes pode direcionar o efeito de resfriamento.
No entanto, o microclima das áreas verdes depende de sua estrutura e composição
florística. A estratificação florestal e o aumento da área foliar intensificam a capacidade de
interceptação da radiação solar e de evapotranspiração (TAHA, 1997), elevando o potencial
de resfriamento do ar. Assim, as áreas verdes com vegetação densa e estratificada, tais
como as áreas de preservação permanentes (APP) e testemunhos de vegetação nativa,

90
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

mostram-se importantes não só para a manutenção da flora e fauna, como para a melhoria
das condições térmicas no ambiente urbano.
Este capítulo tem a finalidade de caracterizar o topoclima, o microclima e mensurar
a intensidade das ilhas de calor em cinco sítios urbanos, situados próximos de fragmentos
florestais na cidade de Campinas-SP, buscando compreender os efeitos da vegetação no
clima urbano.

5.1 Materiais e Métodos

5.1.1 Monitoramentos climáticos em área urbana

A unidade climática representativa de um padrão urbano é denominada de clima


local ou topoclima, enquanto o microclima reflete características pontuais do espaço (OKE,
2006a; MONTEIRO; MENDONÇA, 2009). Dessa maneira, o topoclima, que representa
uma combinação de efeitos microclimáticos, deve ser observado na altura aproximada de
1,5 vezes a altura média das construções (Zh) (OKE, 2006a). É também recomendado que
os pontos representativos de um padrão urbano estejam distantes de elementos que possam
causar anomalias (OKE, 2006a), a não ser que a intenção seja verificar estas interferências,
como é o caso da presente pesquisa, que visa observar a influência das áreas verdes na
temperatura local.
Diante disso, foram selecionados cinco pontos para o monitoramento de
temperatura e umidade do ar, localizados próximos de fragmentos florestais urbanos. Visto
que a altura média das edificações nestes bairros é de 7 m (1 a 2 pavimentos mais a altura
da coberta), calculou-se que 10 m seria uma altura suficiente para representar o topoclima.
Concomitantemente, foram realizados monitoramentos microclimáticos na altura de 1,5 m.
Uma visita aos bairros, nas imediações dos fragmentos florestais urbanos,
possibilitou identificar locais disponíveis para a instalação dos instrumentos de medição.
Os registradores foram fixados em torres de televisão ou escada de caixa d’água, como
mostra a Figura 5.1.
Os registros foram feitos automaticamente, em intervalos de 15 minutos, durante
nove dias consecutivos, entre 26/08/2009 e 03/09/2009. Os instrumentos utilizados foram:

91
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

− Na altura de 10 m: Registrador de temperatura e umidade ambientes e saída para


temperatura externa, da marca e modelo Testo 175-H2, com precisão para o canal
interno: umidade relativa do ar + 2%, e registros entre 0% e +100%; temperatura do ar
+ 0,5 °C, e registros entre -20 oC e +70 oC;
− Na altura de 1,5 m: Registrador de temperatura ambiente, Testo 177-T2, com precisão
para o canal interno de ±0.5 °C, e registros entre -20 oC a +70 °C;
− Protetor de registrador, contra a radiação e chuva, permitindo a ventilação natural;
− GPS Garmin 60CX, para o registro das coordenadas dos pontos de monitoramentos.

Figura 5.1– Fixação dos registradores de temperatura e umidade do ar em: (a) escada de caixa
d’água, mostrando detalhe da fixação do protetor do data-logger (b) antena de
televisão profissional (c) antenas residenciais. (●) Círculo vermelho ilustra o
posicionamento dos instrumentos de medição.

5.1.2 Caracterização dos sítios de monitoramento

Os usos do solo nos sítios urbanos foram classificados com base em fotografia aérea
fornecida pela SEPLAMA (ano de 2005) e com base na imagem do Google Earth (ano de
2009), verificando-se algumas alterações na paisagem neste período. Utilizou-se como
critério a distinção entre áreas edificadas e áreas não edificadas ou com baixa taxa de
ocupação. A classificação das zonas climáticas das quadras edificadas foi adaptada às

92
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

classes de rugosidades efetivas do terreno (altura, H, e distancia D, entre os elementos


construídos e arborização) e o percentual de impermeabilização do solo propostos por
Davenport et al. (2000) e Oke (2006a), como mostrado no Capítulo 2.

Quadras edificadas – morfologia:


a. Edifícações mistas (lotes com gabaritos diversos, que geralmente ocorrem em zonas
urbanas com transição de usos)
b. Edifícios baixos (de 3 a 4 pavimentos)
c. Edifícios altos (5 ou mais pavimentos)
d. Casas térreas ou sobrados
e. Institucional - Edifícios isolados com predomínio de jardins no terreno, em geral de uso
f. Galpões industriais ou de serviços
g. Edifícios baixos e com grande percentual de pavimentação do lote, tal como shoppings
centers.

Quadras não edificadas ou com baixa taxa de ocupação - morfologia:


h. Rurbano (tal como chácaras, sítios, fazendas)
i. Bosques e matas (fragmentos florestais urbanos)
j. Sistemas de lazer (tal como praças, parques, jardins públicos)
k. Gramado, pasto e terra exposta (inclui áreas de sistema viário, tal como rotatórias)
l. Silvicultura
m. Água (lagos, córregos, represamentos, etc.)

A classificação foi checada in loco, visualizando-se os padrões da paisagem durante


a realização dos trabalhos de campo.
Estes critérios utilizados na classificação do uso do solo urbano permitem
diferenciar os padrões que compõem as zonas climáticas urbanas e seus níveis de atuação
no clima local urbano. Após a classificação, calculou-se os percentuais de usos do solo, em
um raio de 500 metros ao redor dos pontos fixos de monitoramento climático, utilizando-se
o software ArcMap. Este raio compreende uma área de 785.000 m2 e corresponde a

93
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

“pequenas fácies de bairro”, segundo a taxonomia climática proposta por Monteiro e


Mendonça (2009). Nesta abrangência, o espaço climático, segundo estes autores, é o
topoclima e, conforme as recomendações de Oke (2006a), os dados climáticos
representativos deste espaço urbano devem ser monitorados acima da camada média de
rugosidade.

5.1.3 Forma de análise dos resultados

As análises dos resultados foram feitas comparando-se as médias das variáveis


climáticas obtidas nos sítios com os dados da estação meteorológica do CEPAGRI, que
representa a zona rural. Para tanto, foram calculadas as diferenças de temperatura e
umidade do ar intra-urbanas, em três horários do dia – às 6h, horário em próximo da
temperatura mínima diária; às 14h, horário em próximo da temperatura máxima diária; e às
22h, horário em que é possível identificar a ocorrência de ilhas de calor noturnas.
Compararam-se as diferenças térmicas obtidas nas alturas de 10 m e 1,5 m.
Os percentuais de usos do solo foram correlacionados às estatísticas da temperatura
do ar local, estimando-se a influência dos elementos urbanos no clima local.

5.2 Resultados e discussão

5.2.1 Apresentação dos sítios de monitoramento

Os cinco sítios de monitoramento climático constam na Tabela 5.1 e a sua


localização no Município de Campinas é mostrada na Figura 5.2. Apesar dos bairros terem
uso predominantemente residencial de baixo gabarito, o grau de desenvolvimento urbano os
diferencia, de modo que alguns estão em zonas urbanas já consolidadas e outros em zonas
de expansão, confrontando com a zona rural, como se observa na Figura 5.3. O primeiro
caso refere-se ao sítio 2 - Jardim Guanabara, sítio 3 - Jardim Proença e sítio 4 – Jardim
Nova Europa. O segundo caso, ao sítio 1 - Bosque de Barão, localizado no Distrito de
Barão Geraldo, e ao sítio 5 - Jardim Madalena, próximo ao Galeria Shopping, na Rodovia
Dom Pedro I, ambos fronteiriços à zona rural.

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Devido à proximidade entre o Bosque dos Italianos e o Bosque dos Alemães,


estabeleceu-se somente um ponto de monitoramento nestas imediações, denominado de
sítio 2.

Tabela 5.1– Sítios de monitoramento climático e fragmentos florestais urbanos presentes nas
imediações, localizados na cidade de Campinas, SP.
SÍTIO
BAIRRO FRAGMENTO FLORESTAL
NÚMERO
1 Bosque de Barão Mata de Santa Genebra
2 Jardim Guanabara Bosque dos Italianos
2 Jardim Guanabara Bosque dos Alemães
3 Jardim Proença Bosque São José
4 Jardim Nova Europa Parque dos Guarantãs
5 Jardim Madalena Bosque da Paz

Figura 5.2– Localização dos sítios de monitoramento no Município de Campinas. Imagem do


Satélite LANDSAT 5, de 05 Ago. 2009.

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Figura 5.3– Fotografias aéreas dos sítios urbanos de monitoramento climático em Campinas, SP.
Ano de 2005. Destaque para uma faixa de 500 m (círculo branco tracejado) a partir da
estação fixa de monitoramento climático (● ponto vermelho).

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Sítio 1 - Bosque de Barão


O sítio 1 localiza-se entre a Estrada de Paulínia e a Mata de Santa Genebra,
abrangendo dois bairros – o Bosque de Barão (fronteiriço à mata) e o Real Parque
(fronteiriço à rodovia). A região é caracterizada pela fragmentação, não havendo uma clara
transição entre a indústria, a habitação e a área de preservação.
Em uma faixa de 30 m no entorno da Reserva Florestal Mata de Santa Genebra não
pode haver nenhuma construção e em uma faixa de 2 km não podem ocorrer novos
empreendimentos além dos existentes9. Os parâmetros construtivos estabelecidos para esta
faixa visam minimizar os impactos negativos da urbanização sobre a floresta.
O ponto fixo de monitoramento foi localizado em uma caixa d’água no interior de
um condomínio em construção, há 450 m da fronteira com a Mata de Santa Genebra. No
local haviam poucas edificações, dispersas em um terreno com vegetação rala e ruas
internas em terra.
O resultado da classificação dos usos do solo presentes no sítio 1 consta na Figura
5.4 e os percentuais de usos na Tabela 5.2. Verificou-se a ocorrência de vários padrões
residenciais, tais como casas voltadas a classe média em condomínios fechados ou vilas,
casas populares e casas isoladas em chácaras. Predominam, entretanto, casas térreas e
sobrados em lotes com área entre 200 e 300 m2 (17,7%) e entre 300 e 400m2 (14,7%).

9
Segundo notícia publicada pelo JusBrasil Notícias (2010) “Em 1/6/2010, atendendo parcialmente o
pedido de reconsideração de liminar apresentado pelo Município de Campinas e anuído pelo autor MPF, o
Juízo Federal reduziu para o raio de 2 km da Mata Santa Genebra a proibição anteriormente fixada nos
autos, em 4/11/2009, para a expedição de licenciamentos ambientais para novos empreendimentos e de
licença de instalação, de operação e renovação de licenças já expedidas, bem como dos respectivos alvarás
de construção em relação a essas situações.”

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

SÍTIO 1

Figura 5.4– Usos do solo no Sítio 1.

Tabela 5.2 – Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 1, em um raio de 500 m ao redor do ponto
fixo de monitoramento climático.
USOS PERCENTUAL USOS PERCENTUAL
Córregos, Lagos, Água 0 Shopping, Galpões 4,97
Silvicultura 3,09 Institucional 0,24
Grama, Pasto, Terra 37,95
14,96 Casas (lotes diversos)
exposta
Sistema de Lazer 2,38 Edifícios Baixos -
Bosque, Mata 9,59 Edifícios Altos -
Rurbano 13,89 Edificações Mistas -
Sistema viário 12,93

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Sítio 2 – Jardim Guanabara


O sítio 2 faz parte do centro expandido de Campinas e pertence à Área de
Urbanização Prioritária, definida no plano diretor do município (CAMPINAS, 2006). Esta
região abrange os bairros Jardim Guanabara, Castelo e Jardim Chapadão.
Constitui uma região de alto desenvolvimento e, apesar de ainda prevalecerem as
edificações de baixo gabarito e de uso residencial, há a ocorrência isolada de edifícios altos
e baixos, em corredores comerciais e de serviços.
O ponto fixo de monitoramento do sítio 2, distante 320 m do Bosque dos Italianos,
foi localizado no quintal de uma casa térrea, onde funcionava a empresa de transmissão de
televisão. Neste quintal, totalmente pavimentado, havia uma torre, implantada sobre a laje
de uma pequena edificação, de um pavimento, na qual foi fixada a instrumentação. Para o
monitoramento do microclima instalou-se um tripé neste mesmo quintal. No terreno
vizinho havia um edifício de três pavimentos, porém o instrumento posicionado a 10 m do
solo ficou um pouco mais elevado que a sua laje. Este ponto de monitoramento situou-se
próximo de um importante entroncamento viário, a rotatória denominada Praça da Torre do
Castelo, que pode ser observada na Figura 5.5. Este local se conecta com o Centro,
observando-se um fluxo viário intenso ao longo do dia.
A classificação dos usos do solo no raio de 500 m ao redor do ponto fixo de
monitoramento do sítio 2 consta na Figura 4.7 e os percentuais dos usos na Tabela 5.3.
Verificou-se o predomínio de casas em lotes com área entre 300 e 400 m2 (25,2%), seguido
por lotes entre 400 e 500 m2 e entre 500 e 600 m2 (cerca de 15,5% cada).

Figura 5.5 – Vista aérea do Sítio 2. a) Praça da


Torre do Castelo; b) Bosque dos
Italianos; c) Centro. Fonte:
Campinas (2006, p.205).

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

SÍTIO 2

Figura 5.6 – Usos do solo do Sítio 2.

Tabela 5.3– Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 2, em um raio de 500m ao redor do ponto
fixo de monitoramento climático.
USOS PERCENTUAL USOS PERCENTUAL
Córregos, Lagos, Água - Shopping, Galpões 4,93
Silvicultura - Institucional 8,44
Grama, Pasto, Terra 61,39
0,39 Casas (lotes diversos)
exposta
Sistema de Lazer 1,84 Edifícios Baixos 1,49
Bosque, Mata 0,80 Edifícios Altos 2,33
Rurbano - Edificações Mistas 0,55
Sistema viário 17,84

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Sítio 3 – Jardim Proença


O sítio 3 também pertence à Área de Urbanização Prioritária, definida no plano
diretor do município (CAMPINAS, 2006), e caracteriza-se pelo alto desenvolvimento. Os
bairros nesta zona da cidade – Jardim Proença, Jardim Novo São José e Vila Marieta - estão
consolidados, predominando o uso residencial de baixo gabarito, com a ocorrência de
corredores comerciais e de serviços.
Na Av. Princesa D’Oeste, que corta a cidade no sentido norte-sul, predominam os
edifícios altos. Já na Rua da Abolição e na Avenida da Saudade predominam os galpões
comerciais e de serviços, além de uma extensa área pertencente ao Cemitério da Saudade.
O ponto de monitoramento do sítio 3, distante 60 m do Bosque São José, foi
localizado no cruzamento destes dois eixos, caracterizando-se pelo uso misto do solo
urbano. Os instrumentos de medição foram instalados em uma antena de televisão fixada
no quintal de uma casa térrea, com piso totalmente pavimentado.
A classificação dos usos do solo no raio de 500 m ao redor do ponto fixo de
monitoramento consta na Figura 5.7 e os percentuais dos usos na Tabela 5.4. Verificou-se o
predomínio de casas, em lotes com área entre 200 e 300 m2 (33,78%). Houve um alto
percentual de área pavimentada (18,68%), comparativamente aos demais locais, em
conseqüência das quadras pequenas e da presença de avenidas com canteiro central. A área
do cemitério foi classificada como institucional, devido à ocorrência de edificações
esparsas em área ajardinada.

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

SÍTIO 3

Figura 5.7– Usos do solo do Sítio 3.

Tabela 5.4– Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 3, em um raio de 500m ao redor do ponto
fixo de monitoramento climático.
USOS PERCENTUAL USOS PERCENTUAL
Córregos, Lagos, Água - Shopping, Galpões 14,24
Silvicultura - Institucional 11,95
Grama, Pasto, Terra 38,21
6,15 Casas (lotes diversos)
exposta
Sistema de Lazer 2,58 Edifícios Baixos 0,53
Bosque, Mata 4,24 Edifícios Altos 3,42
Rurbano - Edificações Mistas -
Sistema viário 18,68

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Sítio 4 – Jardim Nova Europa

O sítio 4 localiza-se ao Norte da Rodovia Anhanguera e à Leste da Avenida Prestes


Maia, dois eixos de desenvolvimento industrial e de comércio de porte regional da cidade
de Campinas.
O Jardim Nova Europa caracteriza-se por um loteamento habitacional popular, já
consolidado. Os vazios urbanos existentes ao longo da Avenida Washington Luiz, na
porção norte do bairro, vêem sendo ocupados atualmente por condomínios residenciais,
verticais e horizontais, sendo o Shopping Prado uma âncora de desenvolvimento urbano.
Este é o caso do vazio urbano, limítrofe ao Parque dos Guarantãs, que está sendo ocupado
por um condomínio de edifícios baixos.
O ponto de monitoramento no sítio 4, distante 150 m do Bosque dos Guarantãs, foi
localizado em uma antena de televisão no quintal de uma casa térrea, com piso totalmente
pavimentado.
A classificação dos usos do solo no raio de 500 m ao redor do ponto fixo de
monitoramento do sítio 4 consta na Figura 5.8 e os percentuais dos usos na Tabela 5.5. No
bairro, predominam as habitações de baixo gabarito, predominando lotes entre 300 e
400_m2 (38,6%). Nas avenidas há a ocorrência de galpões, com usos mistos – comércio
local, oficinas e comércios relacionados a veículos, transportadoras, dentre outras
atividades.

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

SÍTIO 4

Figura 5.8 – Usos do solo do Sítio 4.

Tabela 5.5 – Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 4, em um raio de 500m ao redor do ponto
fixo de monitoramento climático.
USOS PERCENTUAL USOS PERCENTUAL
Córregos, Lagos, Água 0,46 Shopping, Galpões 6,81
Silvicultura - Institucional 2,96
Grama, Pasto, Terra 45,41
5,27 Casas (lotes diversos)
exposta
Sistema de Lazer 8,05 Edifícios Baixos 6,17
Bosque, Mata 4,20 Edifícios Altos 0,49
Rurbano 2,92 Edificações Mistas -
Total de área verde em 17,26
6,18 Sistema viário
APP

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Sítio 5 – Jardim Madalena


O sítio 5 localiza-se na franja urbana, próximo ao Galleria Shopping, na Rodovia
Dom Pedro I. A ocupação urbana nesta região é predominantemente residencial e de baixo
gabarito, dividindo-se em loteamentos habitacionais populares, já consolidados, e
condomínios horizontais de alto e médio padrão, que vêm sendo construídos ao longo da
rodovia. Este é o caso do condomínio Residencial Vila Verde, que faz divisa com o Bosque
da Paz.
A Avenida Carlos Grimaldi, que conecta a Rodovia Dom Pedro I ao Centro de
Campinas, é um corredor comercial, onde ocorrem alguns galpões.
O sítio 5 situa-se em um terreno declivoso, voltado para o Ribeirão das Anhumas,
tributário do Rio Atibaia. O ribeirão, nesta região, possui trechos ocupados por habitações
irregulares- favelas. Este curso d’água está altamente impactado pela urbanização e 40%
das suas margens, que deveriam ser áreas de preservação permanentes, estão
impermeabilizadas (COSTA et al., 2005). No interior do Bosque da Paz há uma linha de
drenagem natural, com um pequeno represamento do curso d’água, que verte para o
Ribeirão das Anhumas.
O ponto de monitoramento climático foi situado a 85 m do Bosque da Paz, no
quintal pavimentado de uma residência de dois pavimentos.
A classificação dos usos do solo no raio de 500 m ao redor do ponto fixo de
monitoramento do sítio 5 consta na Figura 5.9 e os percentuais dos usos na Tabela 5.6.
Devido aos dois padrões residenciais predominantes, o popular e o de luxo, as casas
dividem-se em lotes com área entre 200 e 300 m2 (20,54%) e em lotes com área maior que
600_m2 (18,45%). Destaca-se no sítio a presença de água (1,86%) e de áreas rurbanas
(10,6%), ao longo das margens do córrego, onde ocorrem agrupamentos de árvores,
arbustos, gramíneas, terra exposta e edificações ocasionais.

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CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

SÍTIO 5

Figura 5.9 – Usos do solo do Sítio 5.

Tabela 5.6 – Percentuais de usos do solo urbano no Sítio 5, em um raio de 500m ao redor do ponto
fixo de monitoramento climático.
USOS PERCENTUAL USOS PERCENTUAL
Córregos, Lagos, Água 1,86 Shopping, Galpões 1,90
Silvicultura - Institucional 2,96
Grama, Pasto, Terra 49,24
2,39 Casas (lotes diversos)
exposta
Sistema de Lazer 4,34 Edifícios Baixos 0,07
Bosque, Mata 6,70 Edifícios Altos -
Rurbano 10,60 Edificações Mistas -
Total de área verde em 19,95
6,27 Sistema viário
APP

106
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Comparando-se os percentuais de usos do solo entre os sítios de monitoramento,


através da Figura 5.10, observa-se maior presença de áreas verdes, agrícolas e de lazer no
sítio 1. No sítio 2 predominam as quadras edificadas, verificando-se um percentual muito
baixo de áreas livres, o que pode causar o sobreaquecimento do local. O sítio 5 também
apresentou elevado percentual de lotes com casas, porém possui mais áreas verdes e de
água, o que pode favorecer o arrefecimento.

Figura 5.10 – Percentuais de usos do solo nos sítios urbanos.

A somatória de lotes edificados (em tons de vermelho na Figura 5.10) em oposição


às áreas livres (vegetação e água, mostrados em tons de verde e azul, na Figura 5.10)
aumenta na seguinte ordem: sítios 1, 5, 3, 4 e 2. O aumento de lotes edificados pode
acarretar o aquecimento dos sítios, desfavorecendo o conforto térmico, como identificou
Duarte (2000). Ressalta-se que os sítios 1 e 5 situam-se próximos da zona rural, sendo
provável que o comportamento térmico ao longo do dia se distinga dos sítios 3, 4 e 2,
localizados em zonas urbanas consolidadas.

107
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

5.2.2 Microclima e topoclima em sítios urbanos sob a influência de


fragmentos florestais – monitoramentos em pontos fixos em duas
alturas (1,5 m e 10 m)

Magnitude das Ilhas de Calor


Os monitoramentos de temperatura e umidade do ar foram realizados entre agosto e
setembro de 2009, em dias de céu claro, com ausência de pluviosidade e brisa leve,
predominando a direção dos ventos SE. As tardes foram quentes e secas, com temperatura
média máxima do ar de 29,7 oC e média da umidade relativa do ar de 29,7%. As manhãs
apresentaram-se amenas e úmidas, com temperatura média mínima de 14 oC e umidade
relativa do ar de 76,2%, um pouco elevada em decorrência de chuvas em dias anteriores ao
início dos monitoramentos.
A comparação do comportamento térmico entre os sítios urbanos e a estação de
referência, na zona rural, possibilitou identificar a ocorrência de ilhas de calor,
caracterizada pelo sobreaquecimento da área urbana no período noturno. A diferença
térmica entre a zona urbana e a zona rural (ΔTu-r ) foi em média de 1,5_oC, como mostram
as Figuras 5.11 e 5.12. Entre os horários de 0:00h e 2:00h observaram-se diferenças
térmicas mais significativas, com médias urbanas acima do desvio padrão em relação à
média da área rural, alcançando 1,4 oC.
No entanto, as maiores diferenças foram observadas nos horários próximos ao
nascer e pôr do sol, com ΔTu-r de 2,5 oC, às 7:00h, e de 1,9 oC às 18:30h. Estes picos
devem-se às diferentes taxas de aquecimento e de resfriamento entre a área urbana e a rural,
bem como a ocorrência de temperatura mínima 1,8_oC mais baixa na área rural. Por outro
lado, nos horários de insolação, a área urbana apresentou temperaturas inferiores e menor
taxa de aquecimento. Consequentemente, a amplitude térmica diária no ambiente rural foi
mais elevada 3,4 oC que na área urbana.
A umidade relativa do ar tende a ser mais baixa no ambiente urbano no período
noturno, atingindo uma diferença máxima, de 6,5%, logo após o nascer do sol, às 7:00h.
Notou-se, em todos os sítios, uma queda abrupta na umidade absoluta do ar, calculada a
partir dos dados de temperatura do ar e de umidade relativa do ar, por volta das 17:00h,
constatando-se um limiar na perda de calor por evaporação. A média da umidade absoluta

108
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

do ar às 16:00h foi de 9,3 g/m3, às 17:00h diminuiu 1 g/m3, voltando a aumentar às 18:00h.
No ambiente rural este decréscimo ocorreu de maneira uniforme e com menor intensidade.
Analisando-se individualmente os sítios, cujos dados são apresentados na Tabela
5.7, constatou-se maior intensidade das ilhas de calor em bairros de maior desenvolvimento
urbano (sítios 2, 3 e 4). A ΔTu-r máxima observada nos sítios avaliados, às 22:00h, foi de
1,8_oC (medições a 10 m do solo). Neste sentido, Oke (1981) explica que o aumento das
obstruções no meio urbano dificulta a irradiação térmica, contribuindo para o aquecimento
noturno, explicando, assim, o fenômeno das ilhas de calor, que se intensifica em zonas
urbanas com maior densidade de construções.

Figura 5.11 – Temperatura do ar e umidade relativa do ar ao longo do tempo na área urbana e na


área rural. Dados obtidos na Estação Meteorológica do CEPAGRI, e média dos
monitoramentos realizados em cinco pontos na área urbana de Campinas. Dados
obtidos entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009, na altura de 10 m.

109
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Figura 5.12 – Diferença térmica entre a área urbana e rural (ΔT u-r, em oC) ao longo do tempo.
Cálculo a partir da média horária dos dados obtidos na Estação Meteorológica do
CEPAGRI (altura de 1,5m), e da média de monitoramentos realizados em cinco pontos
na área urbana de Campinas, entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009 (altura de 10m).

Tabela 5.7– Diferença térmica (ΔTu-r , em oC) entre sítios urbanos e a zona rural de Campinas, SP,
em três horários do dia: (a) 6:00h; (b) 14:00h; (c) 22:00h. Cálculo a partir da média horária dos
dados obtidos na Estação Meteorológica do CEPAGRI, e da média de monitoramentos realizados
em cinco pontos na área urbana de Campinas, entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009, na altura de
10 m. Sítio 1- Bosque de Barão; Sítio 2 Jardim Guanabara; Sítio 3- Jardim Proença; Sítio 4-Jardim
Nova Europa; Sítio 5-Jardim Madalena.

HORA SÍTIO 1 SÍTIO 2 SÍTIO 3 SÍTIO 4 SÍTIO 5


6:00 2,11 1,91 2,06 2,58 0,24
14:00 -0,26 -0,88 -1,29 -1,37 0,09
22:00 1,61 1,82 0,93 1,47 -0,23

Como era esperado, o sítio 5 sofreu influências da zona rural, com pequenas
diferenças térmicas em relação à este ambiente nos três horários analisados. No entanto, o
mesmo não ocorreu no sítio 1, também fronteiriço à zona rural, observando-se um
comportamento térmico semelhante às demais áreas, inclusive mais aquecido às 14:00h.
Comparando-se os usos do solo dos sítios 1 e 5, esperava-se que o primeiro tivesse
maior semelhança com o ambiente rural do que o segundo, tendo em vista o alto percentual
de áreas de chácaras, grama, pasto e terra exposta. Além disso, o sítio 5 apresentou 11,29%

110
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

de lotes com casas a mais que o sítio 1. Portanto, três proposições podem explicar os
motivos pelos quais o sítio 5 assemelha-se mais com o ambiente rural do que o sítio 1: a
incidência dos ventos regionais SE no ponto de monitoramento provenientes da zona rural,
o maior percentual de água no sítio 5, e a grande cobertura vegetal próxima ao sítio_1
(Mata de Santa Genebra).
Voltando à Figura 1, e considerando os ventos predominantes SE, verifica-se que a
massa de ar que atinge o sítio 5 vem diretamente da zona rural, enquanto no sítio 1 provém
da área urbana. Ao mesmo tempo, a presença do Ribeirão das Anhumas no sítio 5 contribui
para o seu resfriamento noturno, embora seja insuficiente para arrefecer o ambiente
construído no período diurno. Também destaca-se que a massa vegetal da Mata de Santa
Genebra (250,36 ha) é muito superior à do Bosque da Paz (4,0 ha), o que pode contribuir
para menores amplitudes térmicas no sítio 1. Faria e Mendes (2004) haviam observado
menores taxas de aquecimento e de resfriamento do ar em áreas urbanas com cobertura
vegetal significativa, corroborando esta afirmativa.
Confrontando os resultados esperados aos obtidos, em relação à intensidade das
ilhas de calor nos sítios urbanos, a partir da relação entre o percentual total de quadras
edificadas sobre as não edificadas, verifica-se que somente o sítio 1 não correspondeu ao
previsto. Assim, pode-se inferir que o volume de vegetação teve grande peso nas trocas
térmicas com o meio urbano, diminuindo a amplitude térmica e a taxa de aquecimento do
ar.

Estratificação térmica nos sítios urbanos


Foi calculada a média horária da temperatura e da umidade absoluta do ar dos
pontos de monitoramento urbanos, nas alturas de 10 m e 1,5 m, como representado nas
Figuras 5.13 e 5.14. Nota-se que as curvas de temperatura obtidas a 10 m mostraram-se
mais estáveis que a 1,5 m, além de haver maior semelhança entre os sítios urbanos. Ao
contrário, os dados obtidos a 1,5 m foram insuficientes para a estabilidade da curva da
temperatura do ar, diferenciando-se entre as áreas, em decorrência das características
específicas dos ambientes em que os instrumentos foram instalados. Ressalta-se que apesar

111
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

dos registradores terem sido protegidos da radiação, eles não foram inseridos em um abrigo
meteorológico, o que pode ter comprometido sua estabilidade.
A menor variação dos dados obtidos a 10 m confirma que o ar acima da camada de
rugosidade urbana representa os efeitos microclimáticos mistos, e ao contrário, a 1,5 m, a
temperatura do ar sofre efeitos do sombreamento e da emissividade dos materiais próximos
(pisos e paredes), oscilando ao longo do dia e variando entre os ambientes. No caso do sítio
1, onde os instrumentos foram posicionados em uma área aberta, distante das edificações, a
curva na altura de 1,5 m mostrou-se mais estável.
Em geral, observaram-se temperaturas mais elevadas na camada próxima ao solo,
com picos acentuados que coincidem com a temperatura máxima do dia. A diferença
térmica nas duas alturas (Figura 5.13) é mais significativa entre 9:00h e 16:00h, sendo mais
evidente às 12:00h, horário em que a temperatura do ar é 2 oC mais elevada na altura de 1,5
m do que a 10 m. A temperatura máxima a 1,5 m ocorreu às 14:15h (30,4 oC), enquanto a
10 m ocorreu às 15:15 (29,1_oC). A temperatura mínima ocorreu por volta das 6:00h e foi
semelhante nas duas alturas (~16,3 oC).

35.00
(a) 1,5m (b) 10m
30.00
Temperatura do ar (o C)

25.00

20.00

15.00

10.00
0:00
1:30
3:00
4:30
6:00
7:30
9:00

10:30
12:00
13:30
15:00
16:30
18:00
19:30
21:00
22:30
10:30
12:00
13:30
15:00
16:30
18:00
19:30
21:00
22:30

0:00
1:30
3:00
4:30
6:00
7:30
9:00

Tar média dos bairros ‐ 1,5m do solo Tar média dos bairros ‐ 10m do solo

Figura 5.13 – Temperatura do ar ao longo do tempo obtida em sítios urbanos em Campinas, SP.
Média horária dos dados obtidos entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009, com
registradores posicionados a (a) 1,5 m e a (b) 10 m do solo. Barra de erros indica o
desvio padrão em relação à média.

112
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

A taxa média de aquecimento do ar, entre 7:00h e 12:00h, na altura de 10 m é de 1,8


o
C/h enquanto a 1,5 m aumenta para 2,1 oC/h, indicando que o ar na camada próxima ao
solo aquece-se mais rapidamente, devido à proximidade dos materiais construtivos que
emitem radiação térmica para o ambiente. Assim, há uma defasagem de uma hora no
atingimento da temperatura máxima a 10 m. Já na zona rural, a taxa média de aquecimento
neste mesmo intervalo de tempo aumenta para 2,7_oC/h. Constatou-se que a zona 5 também
apresentou um aquecimento rápido neste período (2,4_oC/h).
Em relação à umidade absoluta do ar, observam-se valores mais baixos na zona 3,
porém com pequenas diferenças entre os sítios. Nota-se que por volta das 17:00h, antes do
pôr do sol, houve uma queda na umidade absoluta do ar na área urbana, devido ao
aquecimento do ar e das superfícies durante todo o dia. O mesmo ocorreu no ambiente
rural, mas com menor intensidade.

113
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

A – Sítio 1

B – Sítio 2

Figura 5.14 – Temperatura do ar e umidade absoluta do ar ao longo do tempo em sítios urbanos e na


zona rural de Campinas, SP. Dados obtidos entre os dias 26/08/2009 e 03/09/2009,
com registradores posicionados a 1,5 m e a 10 m do solo. Dados que representam a
zona rural foram obtidos na estação meteorológica do CEPAGRI. (a) Sítio 1 (Bosque
de Barão); (b) Sítio 2 (Jardim Guanabara); (c) Sítio 3 (Jardim Proença); (d) Sítio 4
(Jardim Nova Europa); (e) Sítio 5 (Jardim Madalena). Barras de erros indicam o desvio
padrão da média dos monitoramentos urbanos.

114
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

C – Sítio 3

D – Sítio 4

E – Sítio 5

115
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

Relação entre o uso do solo urbano e a temperatura do ar local


Alguns parâmetros climáticos, que representam o topoclima, foram relacionados aos
percentuais de uso do solo, como mostra a Figura 5.15.
Nota-se que a diferença térmica entre os sítios com a zona rural (ΔTu-r), ou seja, a
intensidade da ilha de calor às 22:00h , aumentou com os percentuais de “Lotes com
Casas”, exceto em relação ao sítio 5, influenciado pelo ambiente rural. Também foi
constatado que o percentual de quadras edificadas em relação às áreas livres e verdes teve
relação com a intensidade das ilhas de calor, que aumentou na seguinte ordem: sítios 3, 4 e
2. O sítio 2, com maior percentual de áreas edificadas, apresentou temperatura mais elevada
que os demais às 14:00h, indicando uma relação entre o aumento do percentual de quadras
urbanizadas e o aquecimento do ar local.
Já o sítio 4 foi o que apresentou maior ΔTu-r. É possível que a presença de água no
sítio 4, presente no sistema de lazer anexo ao Bosque dos Guarantãs, tenha contribuído para
o seu resfriamento noturno, mas seja insuficiente para a diminuição da temperatura máxima
do ar, decorrente da massa edificada.
Verificou-se que tanto a umidade absoluta do ar como a umidade relativa máxima
do ar aumentaram com o percentual de áreas verdes, intensificando-se na presença de
corpos d’água. Os valores máximos ocorreram no sítio 5, opondo-se aos sítios 2, 3 e 4, com
alto desenvolvimento urbano.

116
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

2% 35

2% 30

1% 25

oC
1% 20

0% 15

0% 10
1
Temperatura 2 ar
máxima do 3
Temperatura 4 ar
mínima do 5
Amplitude térmica
2% SÍTIOS 85
75
2%
65

%
1% 55
45
1%
35
0% 25
1 Umidade relativa
2 máxima 3 Umidade4 relativa mínima 5
2% 12
SÍTIOS
11
2%
10

g/m3
1% 9
8
1%
7
0% 6
Água
1 Umidade
2 absoluta máxima3 Umidade
4 absoluta mínima 5
2.0 2.5
SÍTIOS
1.5 2.3

oC/hora
1.0 2.1
oC

0.5 1.9
0.0 1.7
‐0.5 1 2 3 4 5 1.5
Intensidade da ilha de calor às 22:00h Taxa média de aquecimento
SÍTIOS
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1 2 3 4 5

SÍTIOS
Lotes com Edifícios Altos, Baixos, Mistos Lotes com Casas
Shopping, Galpões Pavimentação
Área Institucional Áreas verdes, agrícolas e de lazer
Água Total de quadras edificadas
Total de áreas livres, verdes e de água

Figura 5.15 – Variáveis climáticas relacionadas ao padrão de ocupação urbana em Campinas, SP.
Sítio 1- Bosque de Barão; Sítio 2 - Jardim Guanabara; Sítio 3 - Jardim Proença; Sítio 4
– Jardim Nova Europa; Sítio 5 - Jardim Madalena. Variáveis e unidades de medidas
indicadas na figura.

117
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

A intensidade das ilhas de calor comportou-se inversamente à taxa de aquecimento


no período da manhã, ou seja, os locais com temperaturas mais elevadas às 22:00h
aqueceram-se mais lentamente entre as 7:00h e 12:00h. As áreas urbanas mais abertas
comportaram-se semelhantemente à estação do CEPAGRI, no que diz respeito ao ganho
térmico e ao resfriamento. A amplitude térmica diária aumentou com taxa de aquecimento.
A correlação linear entre estas variáveis é mostrada na Figura 5.16.

Figura 5.16 – Correlações lineares entre a intensidade de ilhas de calor noturnas (ΔTu-r ) às 22:00h, a
amplitude térmica diária e a taxa de aquecimento em áreas urbanas. Cálculos a partir
das médias de dados coletados entre 26/08/2009 e 03/09/2009, na altura de 10m, em
cinco sítios urbanos e na estação meteorológica do CEPAGRI, em Campinas-SP.

Faria e Mendes (2004), comparando as taxas de aquecimento e resfriamento em


Bauru e Braga, haviam observado que as áreas urbanas inicialmente mais quentes, ou seja,
as de maior inércia térmica, apresentaram uma taxa de aquecimento mais lenta, o que
significa dizer que sofreram menor variação térmica diária.
Assim, constatou-se que a principal diferença entre o ambiente urbano e o rural
deve-se à perda lenta de calor pelas edificações no período noturno, causada pela inércia
térmica dos materiais construtivos, fluxos de calor entre os componentes verticais e à baixa
velocidade do ar ocasionada pelo aumento da rugosidade. Em oposição, as áreas com maior
percentual de solo exposto e áreas agrícolas são intensamente aquecidas no período diurno,
devido à incidência de radiação solar sobre o solo. Nestes ambientes, com o solo seco e
ausência de obstruções do céu, o fluxo de calor sensível se acentua, ocorrendo o
resfriamento rápido do ar após o pôr do sol.

118
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

5.3 Síntese dos resultados e comentários finais

Cinco sítios urbanos, caracterizados pela predominância da tipologia construtiva


residencial, com diferentes densidades de ocupação e níveis de desenvolvimento, tiveram
seu microclima e topoclima monitorados. Em todos havia a presença de um fragmento
florestal urbano, considerando-se um raio de 500 m ao redor da estação de monitoramento,
apesar de variar a distância destes até o ponto de monitoramento.
A temperatura do ar esteve mais elevada na camada próxima ao solo e as diferenças
térmicas entre as duas alturas monitoradas foi significativa entre 9:00h e 16:00h, atingindo
máxima diferença às 12:00h, horário em que a temperatura do ar apresentou-se 2 oC mais
elevada na altura de 1,5 m do que a 10 m. Verificou-se que o ar na camada próxima ao solo
aquece-se mais rapidamente, devido à proximidade dos materiais construtivos que emitem
radiação térmica para o ambiente. A taxa média de aquecimento do ar na altura de 10 m foi
de 1,8 oC/h enquanto a 1,5 m aumentou para 2,1 oC/h.
A temperatura máxima do dia e a intensidade das ilhas de calor tendem a aumentar
com o percentual de áreas edificadas. No entanto, a intensidade nas ilhas de calor diminui
em áreas sujeitas a incidência de ventos provenientes da zona rural. A intensidade das ilhas
de calor, às 22:00h, variou entre 0,9 oC e 1,8 oC, valores baixos quando comparados à
referência para a área central de Campinas, de 4 oC, observada por Pezzuto (2007).
A taxa média de aquecimento dos sítios urbanos, calculada entre as 7:00h e 12:00h
na altura de 10 m, pode ser considerada um parâmetro para a identificação de locais
suscetíveis às ilhas de calor noturnas. Os sítios com baixas taxas de aquecimento pela
manhã, estiveram mais aquecidos no período noturno e apresentaram menores amplitudes
térmicas diárias. Esta característica está relacionada ao aumento da inércia térmica
decorrente da massa edificada, indo ao encontro das observações feitas por Faria e Mendes
(2004).
Em relação ao efeito das florestas urbanas no clima local, verificou-se uma redução
na amplitude térmica diária do sítio, com características rurbanas, próximo de um
fragmento de grande dimensão (caso da Mata de Santa Genebra, com 250,36 ha). Este
efeito não foi constatado em um sítio fronteiriço à zona rural na presença de uma ilha de
vegetação de menor dimensão (caso do Bosque da Paz, com 4 ha). Diante disso, conclui-se

119
CAPÍTULO 5 Monitoramentos climáticos em pontos fixos urbanos situados próximos de fragmentos florestais

que as florestas urbanas apresentam elevada inércia térmica, e que o aumento da umidade
do ar, decorrente dos efeitos da evapotranspiração, contribui para a diminuição da
temperatura do ar máxima do dia do entorno edificado, diminuindo, assim, a amplitude
térmica diária.

120
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e


ocupação do solo e proximidade de um fragmento florestal

As características físicas do ambiente construído e da vegetação acarretam em


diferenças climáticas que podem ser observadas tanto na microescala como na escala local
urbana. No primeiro caso, observa-se que a temperatura e umidade do ar são suscetíveis às
características físicas pontuais, descritas pela geometria, pela presença de materiais ou de
fontes de aquecimento e de resfriamento. No segundo caso, o mesmo raciocínio se aplica,
porém as diferenças térmicas e de umidade do ar são mais sutis entre sítios com padrões
espaciais semelhantes.
Como o clima local urbano depende do microclima, é plausível propor que uma
anomalia na escala microclimática possa modificar o clima na escala local, e que esta
mudança possa ser observada na forma de gradiente. Neste sentido, Jauregui (1990) citando
Landsberg (1981) afirmou que enquanto os efeitos da arborização urbana sobre o ambiente
limitam-se ao microclima, os grandes parques urbanos provocam mudanças além dos seus
limites físicos. Do mesmo modo, Upmanis et al. (1998) citaram pesquisas que
comprovaram a influência das áreas verdes na temperatura do entorno edificado. Nestes
trabalhos, a diferença térmica entre as áreas urbanas e o interior dos parques (ΔTu-p) bem
como a extensão do efeito térmico sobre o ambiente urbano aumentaram com o tamanho
das áreas verdes.
Com base nestas referências, Upmanis et al. (1998) utilizaram a técnica de medidas
móveis para obter a magnitude e a extensão do efeito de parques em Göteborg, na Suécia.
Os resultados mostraram uma diferença máxima entre a temperatura urbana e o parque
(ΔTu-p) de 5,9_oC na extensão de 1 km, medida aproximadamente igual à largura do maior
parque (156 ha). Para o menor parque (2,4 ha), ΔTu-p diminuiu para 1,7 oC, e a extensão do
efeito sobre o entorno foi de somente 20 m.
Jauregui (1990) diagnosticou um ΔTu-p de 2 a 3_oC e uma diminuição de 15% na
umidade relativa do ar (ΔURu-p), entre o parque Chapultepec (~500 ha), na cidade do

121
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

México, e o entorno edificado. A extensão do efeito térmico sobre a área urbana foi de
aproximadamente 2000 m, coincidindo com a largura do parque. A maior diferença entre
as temperaturas mínimas aferidas no parque e na área urbana foi de 4_oC e ocorreu na
estação seca. No entanto, a temperatura máxima do parque em alguns momentos superou a
da área urbana.
Trabalhos semelhantes foram realizados em Sacramento-Califórnia, obtendo-se um
ΔT u-p de aproximadamente 1,2 oC em ~1000m (IMAMURA et al., 1992). Em Taipei-
Taiwan, observou-se que parques maiores que 12 ha são mais frios que o entorno, parques
entre 3 e 12 ha podem ser mais frios que o entorno, e os menores que 3 ha apresentaram
maior instabilidade térmica na comparação com o entorno. Analisando-se a temperatura
em um raio urbano igual à largura de cada parque, obteve-se um ΔTu-p máximo de 4 oC
(CHANG et al., 2007). Em Erzurum – Turquia, uma área de reflorestamento (3,4 ha) foi
comparada à área urbana, obtendo-se uma diferença térmica entre a floresta e o ambiente
rural (ΔTf-r) média de -0,71 oC e uma ΔURu-f média de 3,2% (YILMAZ et al., 2006). Em
Singapura foram monitoradas duas reservas naturais e o entorno construído, obtendo-se um
ΔTu-p máximo de 1,3 oC, observada no maior parque (36 ha). A extensão do efeito de
resfriamento limitou-se a 100 m. No parque de menor dimensão (12 ha), devido às
características da vegetação, não houve influência no entorno (HIEN; YU, 2004).
Tendo em vista as particularidades climáticas, as características do meio urbano e
da vegetação, considera-se importante a realização de pesquisas semelhantes no Brasil.
Estes resultados auxiliarão na definição de como deve ser a distribuição, a quantificação e a
qualidade das áreas verdes no tecido urbano, contribuindo para a melhoria dos níveis de
conforto térmico.
Na presente pesquisa, foi constatada uma diferença térmica média entre fragmentos
florestais urbanos e o ambiente rural (ΔTf-r) de - 2,8 oC às 14:00h, e de + 0,9 oC às 6:00h.
As florestas urbanas apresentaram-se, portanto, arrefecidas no horário de maior
aquecimento e com certo aquecimento no horário em que ocorre a temperatura mínima
diária. Este fenômeno foi atribuído à obstrução das ondas longas, do sub-bosque para a
atmosfera, pelo dossel florestal. A umidade absoluta do ar nas florestas esteve, em média,

122
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

2,3 g/m3 mais elevada que na área rural, às 14:00h. Os fragmentos florestais apresentaram
estabilidade microclimática, com baixa amplitude térmica e baixa taxa de aquecimento e de
resfriamento. Constatou-se, no maior fragmento, um decréscimo de 0,5_oC e um aumento
de 0,94 g/m3 na umidade absoluta do ar a cada 100 m de distância da fronteira urbana, o
que mostra a influência do ambiente construído no microclima da floresta.
Os pontos urbanos situados próximos destes fragmentos de vegetação apresentaram,
em geral, baixa intensidade das ilhas de calor noturnas - em média 1,5 oC. Constatou-se
uma diferença térmica entre o ambiente urbano e o rural (ΔTu-r) de -0,7 oC às 14:00h, e de +
2,0 oC às 6:00h. As maiores diferenças foram observadas nos horários próximos ao nascer
do sol (2,5 oC) e pôr do sol (1,9 oC). As áreas urbanas apresentaram menor amplitude
térmica e de umidade comparadas à zona rural. A temperatura do ar no interior dos
fragmentos florestais apresentou-se inferior à da área urbana: ΔTf-u de -2,1 oC, às 14:00h, e
de -1,1_oC, às 6:00h. Tanto no ambiente construído quanto nas florestas observou-se um
sobreaquecimento no período noturno e baixas temperaturas durante o dia, comparadas à
zona rural.
Se os pontos urbanos monitorados estivessem mais próximos ou distantes dos
fragmentos florestais haveria uma mudança na temperatura e umidade do ar local? O efeito
das florestas urbanas sobre o clima local varia com os padrões de uso do solo? Este efeito
aumenta com a porcentagem de área de floresta presente na cidade?
Diante destas questões, este capítulo tem como objetivos: identificar as variações na
temperatura e na umidade do ar local decorrentes da aproximação a fragmentos florestais
urbanos; encontrar um percentual mínimo de área de floresta sobre a área total urbanizada
capaz de modificar o clima local urbano. Para tanto, serão analisadas cinco zonas urbanas
com distintos padrões de ocupação, localizadas na cidade de Campinas-SP. Estas zonas
abrangem sete fragmentos florestais, caracterizados por arborização densa e com certa
estratificação, em diferentes estágios de conservação: Mata de Santa Genebra, Bosque dos
Italianos, Bosque dos Alemães, Bosque dos Jequitibás, Bosque São José, Bosque dos
Guarantãs e Bosque da Paz.

123
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6.1 A técnica de monitoramentos climáticos móveis

A técnica de registros móveis consiste na aquisição de dados climáticos ao longo de


um trajeto pré-estabelecido, tendo como objetivo identificar diferenças térmicas e de
umidade no plano horizontal. Geralmente é utilizada em pesquisas cujos espaços urbanos
são de grande abrangência, como em metrópoles, cidades ou bairros. A vantagem do
método está na ampliação do número de pontos monitorados e no uso de poucos
instrumentos. Uma desvantagem é que quanto maior o tempo gasto na aquisição dos dados
ao longo do trajeto, maiores são os desvios causados pelas oscilações térmicas e de
umidade ao longo do dia.
Os primeiros estudos com medidas móveis de carro foram realizados em 1929 por
Smitdt, em Viena - Áustria, e ao mesmo tempo por Peppler, em Karlsruhe - Alemanha
(GEIGER, 1966). Para controlar a oscilação das variáveis no tempo, as medidas eram feitas
em circuitos fechados, retornando-se várias vezes nas mesmas áreas. Esta técnica sofreu
adequações e foi aplicada em cidades no mundo todo (CHANDLER, 1962; LOMBARDO,
1985; YAMASHITA, 1996; NAGARA; SHIMODA; MIZUNO, 1996; JONSSON, 2004;
FARIA; MENDES, 2004; MAITELLI et al., 2004; CHANG et al., 2007; PEZZUTO, 2007;
PAGLIARINI, 2008; COX 2008; IMAMURA et al. 1992; JUSUF et al. 2007;
PADMANABHAMURTY 1990/91; SAARONI et al. 2000; WONG; CHEN 2005;
KARLSSON 2000; UPMANIS et al. 1998).
O sensor, para a obtenção de temperatura e umidade do ar, deve ser protegido da
radiação, por um abrigo termométrico, e ventilado mecanicamente, a fim de forçar as trocas
de ar entre o interior do abrigo e o ar externo. Os instrumentos devem ser de baixa inércia,
como recomendado por Faria e Mendes (2004), diminuindo assim o tempo de resposta às
diferenças térmicas ocorrentes na ambiência urbana. Quando realizado de carro, o abrigo
deve ser acoplado ao veículo distante do motor (LOMBARDO, 1997). Os dados são
registrados em pontos pré-determinados ou em intervalos de tempo regulares. O veículo
deve, na medida do possível, trafegar a uma velocidade constante e relativamente baixa,
entre 20 km/h e 50 km/h (PERSSON, 1997 referenciado por SOUZA; ASSIS, 2007;
PEZZUTO, 2007).

124
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

É recomendado que as aquisições móveis sejam realizadas em horários de


temperaturas mais estáveis, distantes do nascer e pôr do sol. Os horários de maior
estabilidade térmica para o Brasil (Time Zone +3hs) são 3:00, 9:00, 15:00 e 21:00 horas.
Posteriormente, os dados são corrigidos para um horário de referência, utilizando-se
para tanto registros contínuos das mesmas variáveis climáticas, obtidos em pontos fixos
localizados na área avaliada. O número de pontos fixos recomendado é de 2 pontos / km2
(HASENACK; BECKE, 1991). A taxa de variação de temperatura e umidade registrada no
ponto fixo é somada ou subtraída aos dados dos móveis feitos no mesmo intervalo de
tempo (HASENACK et al, 2003), ou corrigida a partir de equações polinomiais (SOUZA;
ASSIS, 2007; PEZZUTO, 2007).

6.1.1 Proposição de adequações na técnica de monitoramentos climáticos


móveis para a representação do espaço urbano

A técnica de monitoramentos climáticos móveis vem sendo utilizada para a


obtenção de dados que representariam tanto o clima local urbano quanto o microclima. No
primeiro caso, busca-se relacionar a variável climática a um padrão de urbanização e no
segundo caso busca-se relacionar a variável climática aos materiais construtivos, presença
de vegetação ou de água, etc, em pontos pré-determinados.
Partindo das recomendações feitas por Oke (2006a) e Monteiro (1976), em relação
aos métodos de observação do clima urbano nos diferentes espaços climáticos, propõe-se,
no presente estudo, uma adequação na técnica de monitoramentos móveis, visando a
representação de diferenças higrotérmicas intra-urbanas representativas do clima local.
Esta adequação parte da seguinte proposição:
Se as medidas móveis forem feitas de carro, em movimento, com o protetor do
registrador ventilado (naturalmente e mecanicamente) e na altura de ~2m, assume-se que
cada dado coletado não representa necessariamente o microclima específico de um ponto,
mas um ar misturado, abaixo da altura média dos elementos urbanos (Zh), como
representado na Figura 6.1.

125
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.1 – Técnicas de aquisição de dados para a representação do clima local urbano. S1 –
registros em pontos fixos na camada de inércia; S2 – registros móveis, com ventilação
natural e mecânica do sensor preso em carro em movimento.

Foi mostrado no Capítulo 4 que ocorre uma estratificação térmica entre as alturas de
1,5_m e 10 m e que na primeira há maior instabilidade e variabilidade dos dados, devido à
influência de elementos próximos. Assim, sugere-se que se faça a correção horária das
medidas móveis a partir de estações de referência representativas da mesma unidade
climática, ou seja, a partir dos dados obtidos na altura Z, representada na Figura 6.1, e uma
correção decorrente da altura de aquisição, tendo em vista as diferenças térmicas entre as
alturas de 10 m e de 1,5 m.

6.2 Materiais e Métodos

As etapas metodológicas, detalhadas a seguir, foram:


− Classificação do uso do solo e delimitação de zonas urbanas a partir do padrão espacial;
− Monitoramento de temperatura e umidade do ar em duas alturas – 1,5 m e 10 m – em
pontos fixos, conforme apresentado no Capítulo 4;
− Estabelecimento de um percurso fechado ao longo das zonas urbanas de interesse,
tangenciando os pontos fixos e os fragmentos florestais urbanos, para registros de
temperatura e umidade do ar, por meio móvel, em três horários do dia (9:00h, 15:00h e
21:00h).
− Delimitação das áreas de influência dos pontos fixos em relação ao percurso
estabelecido, a partir do método dos polígonos de Thiessen;
− Correção horária dos registros móveis a partir da taxa de variação dos registros fixos
feitos na altura de 10 m;
− Correção dos registros móveis devido às diferenças térmicas ocorrentes entre a altura de
1,5_m e 10 m;
− Tratamento estatístico dos dados e representação na forma de mapas e gráficos.

126
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6.2.1 Classificação do uso do solo e delimitação de zonas urbanas

Os critérios para a classificação do uso do solo foram idênticos aos descritos no


Capítulo 4, Sessão 4.2.2. A classificação foi feita ao longo dos eixos viários em que foram
realizados os monitoramentos móveis, em uma distância de 500 m de cada lado das vias.
Finalizada a classificação, identificaram-se, visualmente, padrões semelhantes,
delimitando-se cinco zonas urbanas que abrangem um ou mais fragmentos florestais, como
apresentado na Figura 6.2.

6.2.2 Monitoramentos em pontos fixos

Foram estabelecidos cinco pontos de monitoramentos fixos para a obtenção de


dados de temperatura do ar e umidade relativa do ar, mostrados na Figura 6.2. Estes pontos
serviram para a correção horária e relativa a altura de aquisição dos dados móveis.
Os monitoramentos foram realizados em duas alturas – 10 m (temperatura do ar e
umidade relativa do ar) e 1,5 m (temperatura do ar). Os registradores foram protegidos da
radiação e ventilados naturalmente, e foram fixados em torres em quintais de residências.
Os dados foram coletados automaticamente, em intervalos de 15 minutos, durante nove dias
consecutivos, entre 26/08/2009 e 03/09/2009. Detalhes deste procedimento foram
apresentados no Capítulo 5, Sessão 5.2.

6.2.3 Estabelecimento do percurso, procedimentos de medição e


instrumentação

O percurso foi estabelecido de modo que tangenciasse tanto os pontos fixos de


monitoramento como os fragmentos florestais urbanos. Foram observados os fluxos viários
possíveis para a realização de um circuito único e fechado, na menor distancia possível, a
fim de abranger todas as áreas de interesse e reduzir o tempo de aquisição dos dados
móveis. O percurso de 55 km, mostrado na Figura 6.2, foi realizado de carro, gastando-se
um tempo médio de duas horas para cada coleta. A velocidade do carro variou, mantendo-
se em média de 40 km/h nos locais de interesse, com aceleração do veículo em outros
trechos.

127
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.2 – Mapa com informações sobre o percurso e pontos utilizados na correção dos
monitoramentos climáticos móveis. Fragmentos florestais urbanos (ponto verde): Zona
1 – Mata de Santa Genebra; Zona 2 – Bosque dos Italianos e dos Alemães; Zona 3 –
Bosque dos Jequitibás; Zona 4 – Bosque São José e dos Guarantãs; Zona 5 – Bosque
da Paz.

128
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Os registros móveis foram realizados entre os dias 29/08/2009 e 01/09/2009 (quatro


dias), sob uma condição de tempo estável, com baixa nebulosidade e sem registros de
pluviosidade, em três horários do dia: às 9:00, 15:00 e 21:00 horas.
Utilizou-se um registrador de temperatura e umidade do ar modelo 175-H2, da
marca TESTO, programado para intervalos de 30 segundos. O registrador foi protegido da
radiação, ventilado naturalmente e mecanicamente, e foi fixado sobre o capô do veículo,
como mostra a Figura 6.3.

Figura 6.3- Sensor de temperatura e umidade protegido e ventilado naturalmente e mecanicamente


fixado sobre um veículo automotor para registros móveis.

Para relacionar um ponto geográfico às variáveis climáticas, um GPS modelo


60CX, da marca Garmin, foi conduzido no interior do veículo. O GPS foi programado para
adquirir as coordenadas geográficas a cada 30 segundos. Os pontos foram inseridos sobre o
mapa de uso do solo no Arc Map, utilizando-se o sistema de projeção UTM, Córrego
Alegre 23 Sul. A correção dos pontos foi feita na própria base digital, movendo-os para os
eixos viários correspondentes.

6.2.4 Delimitação das áreas de influência dos pontos fixos

Foi utilizado o método dos polígonos de Thiessen (triangulação), que consiste em


um desenho geométrico no qual se unem as mediatrizes das retas que ligam um ponto de
referência (posto meteorológico) aos demais. As áreas de influência dos pontos fixos em
relação aos pontos móveis constam na Figura 6.2 e em detalhe na Figura 6.4.

129
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Ex.: Ponto Móvel 50


pertencente à Zona 1. Z1 Z5

Z2

Percurso

Figura 6.4 - Área de abrangência dos pontos fixos em relação aos dados obtidos por meio móvel.

6.2.5 Correção horária dos dados obtidos por meio móvel

Visto que cada percurso foi realizado em até duas horas, foi necessária a correção
horária dos dados obtidos por meio móvel, utilizando-se como referência as variáveis
obtidas nos cinco pontos fixos, na altura de 10 m.
A correção horária dos dados foi feita para cada percurso realizado (quatro dias), em
três horários (9:00h, 15:00h e 21:00h). Tendo em mãos a média da temperatura do ar e
umidade relativa do ar nos pontos fixos a cada 15 minutos, calculou-se a taxa de variação a
cada 30 segundos. Sabendo-se a diferença entre o horário de aquisição de um registro
móvel e o horário padrão da aquisição, a variação térmica e de umidade neste intervalo de
tempo foi somada ou subtraída aos pontos móveis correspondentes.

6.2.6 Correção dos dados obtidos por meio móvel devido à altura de
aquisição

Conhecendo-se a média da diferença térmica ente a altura de 1,5 m e de 10 m em


função do tempo (Figura 6.5), somou-se esta diferença aos dados obtidos por meio móvel,
observando-se o seu horário de aquisição. Esta correção foi feita somente para os dados de
temperatura do ar, visto que a umidade relativa do ar não foi monitorada a 1,5 m.

130
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.5 – Diferença térmica entre a altura de 10 m e 1,5 m. Cálculo a partir da média dos dados
obtidos em cinco pontos fixos, localizados na área urbana de Campinas-SP, entre os
dias 26/08/2009 e 03/09/2009. Linhas tracejadas mostram os horários padrão (9:00h,
15:00h e 21:00h) de análise da temperatura do ar obtida por meio móvel.

6.2.7 Temperatura e umidade dos registros móveis após correções

A Tabela 6.1 mostra a diferença entre os valores iniciais e finais das variáveis
climáticas obtidas por meio móvel, após a correção horária e de altura. Foi calculada a
média dos dez pontos móveis iniciais e dos dez pontos móveis finais, e posterior subtração
das médias obtidas. Para uma melhor comparação do conteúdo de vapor de água presente
no ar nas áreas de estudo, estimou-se a umidade absoluta do ar, Cva [g/m3], a partir dos
dados de temperatura, t [oC] e T [K], umidade relativa do ar, UR [%], e pressão saturante, es
[hPa] com referências em Angelocci (2002).
Considerando a ocorrência de um erro máximo dos registradores utilizados (erro do
registrador do veículo e erro do registrador do ponto fixo; erro no dado inicial e no dado
final do percurso), a diferença entre as medidas móveis iniciais e finais deveria ser de até
quatro vezes a precisão dos sensores ( + 0,5 oC e + 2%), ou seja, de 2oC e de 8.
Os dias e períodos cujos erros estão dentro desta faixa de valores são apresentados
em destaque na Tabela 6.1, concluindo-se que a correção da temperatura do ar foi
satisfatória para os três horários de interesse (9:00h, 15:00h e 21:00h). Já para os dados de
umidade relativa do ar os erros obtidos foram maiores, principalmente pela manhã e noite,
visto que não foi feita a correção relativa à altura na aquisição. A conversão da umidade

131
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

relativa em absoluta parece minimizar os erros, além de possibilitar uma melhor


comparação do teor de umidade do ar entre os padrões de urbanização, optando-se pela
análise desta variável.

Tabela 6.1 - Diferença entre os dados iniciais e finais dos registros móveis (circuito fechado), após
as correções. Destaque (cinza) para os dias e horários em que o erro, da temperatura do ar e
umidade relativa do ar, é admissível.
Período Variável Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4
Temperatura do ar [oC] 0,5 1,9 2 4
Manhã Umidade relativa do ar [%] 0,2 10,5 13,1 18,7
Umidade absoluta [g/m3] 0,8 0,9 1,3 1,4
Temperatura do ar [oC] 0,4 0,1 1,2 0,1
Tarde Umidade relativa do ar [%] 2,3 2,6 6 0,3
Umidade absoluta [g/m3] 0,8 0,8 1,4 0
Temperatura do ar [oC] 1,9* 0,8 0,3 1,8
Noite Umidade relativa do ar [%] 14,8* 15 11,9 17,2
Umidade absoluta [g/m3] 1,5* 2,1 2,1 1,8
* Circuito incompleto. Parada a 1km antes do ponto final.

6.2.8 Tratamento e representação dos dados

Os dados obtidos por meio móvel, corrigidos e georreferenciados, foram


sobrepostos ao mapa de classes de usos do solo, no software ArcMap, possibilitando
relacionar o comportamento higrotérmico aos padrões espaciais. Foram realizadas análises
exploratórias, com dois tratamentos dos dados:
No primeiro tratamento optou-se pela separação dos dias e horários de medição
(quatro dias e três horários). As análises da distribuição e da freqüência dos dados,
representada em boxplots e tabelas, permitiram identificar os valores interquartis (que
representam 50% dos dados), os valores inferiores ao 1º quartil e os superiores ao 3º quartil.
Assim, foi possível identificar os pontos de temperatura ou umidade predominantes na zona
analisada (interquartis), os pontos mais aquecidos e menos úmidos, e os menos aquecidos
mais úmidos. Como houve uma variação térmica e de umidade do ar ao longo dos quatro
dias de monitoramento, neste tratamento foi possível identificar diferentes respostas dos
elementos urbanos às condições de tempo.
No segundo tratamento optou-se pelo cálculo da média e desvio padrão dos dados
separados por horários. Desconsiderou-se, assim, a variação na resposta térmica dos

132
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

elementos urbanos decorrente das condições de tempo. As médias foram calculadas para
manchas de uso do solo com um mesmo padrão espacial (ex. trecho com quadras
residenciais, trecho com quadras industriais, trecho com sistema de lazer, etc.), observando-
se as distâncias entre as manchas e os fragmentos florestais urbanos. Os resultados foram
representados em gráficos.
Finalmente, calcularam-se os percentuais de área de floresta / área total urbana
(A.V./A.U.). As médias horárias e diárias de temperatura e umidade em função do
percentual de área de floresta presente na área urbana foram apresentadas em boxplots e
gráficos de linha. Um detalhamento deste procedimento será apresentado posteriormente.

6.3 Resultados e discussão

6.3.1 Apresentação das zonas de monitoramento

A Zona 1 (Figura 6.6) constitui uma paisagem fragmentada, na qual ocorrem


diversos usos, de maneira descontínua. Os comércios de grande porte e as indústrias estão
localizados ao longo do eixo rodoviário que conecta Campinas à cidade de Paulínia. Esta
rodovia é o principal corredor que dá acesso para os bairros Cidade Universitária, Bosque
de Barão e Vila Costa e Silva. As áreas edificadas (loteamentos de baixo gabarito)
entremeiam-se às chácaras, verificando-se extensas áreas de grama, pasto ou terra exposta.
Na porção noroeste desta zona encontra-se a Mata de Santa Genebra. Há uma
predominância das áreas não construídas sobre as edificadas: áreas rurbanas (19,03%), de
pasto, grama ou terra exposta (18,56%), mata (19,16%), de lotes com casas (17,93%)
(Tabela 6.2).
Na Zona 2 (Figura 6.7) predomina o uso residencial de baixo gabarito, com 54,10%
dos terrenos ocupados por casas (Tabela 6.3), e edifícios isolados na aproximação da área
central (Zona 3). Ao redor da rotatória da Praça 23 de Outubro (Torre do Castelo), há 350m
do Bosque dos Italianos, há um centro de bairro, com comércio local. A área institucional
longilínea, no sentido NE-SO é o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), local bastante
arborizado. A porcentagem de bosques e matas (0,90%) é representada pelos Bosques dos
Italianos e dos Alemães. O terreno desta zona tem um leve declive: a Torre do Castelo é o

133
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ponto mais elevado e a fronteira com a área central, na Av. Orozimbo Maia, é o ponto mais
baixo.
A Zona 3 (Figura 6.8) caracteriza-se pela verticalização e predomínio da atividade
comercial e de serviços, com 20,43% de ocupação por lotes com edifícios baixos e 9,13%
por lotes com edifícios altos (Tabela 6.4). O percurso parte da Av. Orozimbo Maia, na
fronteira com a Zona 2, sobre o Córrego do Saneamento, afluente do Ribeirão das
Anhumas, e termina no Bosque dos Jequitibás, na fronteira com a Zona 4. Este bosque
juntamente com outro pequeno fragmento florestal, localizado ao lado do estádio de
futebol, ocupam 3,34%.
O Bosque dos Jequitibás possui características semelhantes aos demais já
apresentados, porém, como em princípio a área central não faria parte das análises, o seu
microclima não foi monitorado. Referências do microclima no Bosque dos Jequitibás são
apresentadas em Castro (1999).
A Zona 4 (Figura 6.9) é composta por vários bairros, predominando o uso
residencial popular, com edificações de baixo gabarito (49,54%) (Tabela 6.5). O Bosque
São José e o Bosque dos Guarantãs somam 0,87% das áreas de bosques e matas. O trajeto
inicia-se na fronteira com a Zona 3, próximo do Bosque dos Jequitibás, inicialmente sobre
um fundo de vale. Cortando a área, no sentido SE-NO, encontra-se o Cemitério da Saudade,
cujos arredores são ocupados por galpões, comerciais e de serviços. O trajeto segue em
direção ao Município de Valinhos, onde a ocupação é predominante rurbana.
A Zona 5 (Figura 6.10) localiza-se na fronteira com a área rural, sendo acessada
pela Rodovia Dom Pedro I, e caracteriza-se pela ocupação predominantemente residencial
de baixo gabarito, com loteamentos populares e condomínios horizontais fechados
ocupando 49,16% da área (Tabela 6.6). Próximo da rodovia, no trecho inicial do percurso,
há alguns edifícios baixos, ao lado há uma área extensa de pasto (7,22%). O Ribeirão das
Anhumas e uma de suas nascentes, localizada no interior do Bosque da Paz, correspondem
a 1,51% desta zona. As margens do ribeirão encontram-se, em parte, desprotegidas. Seu uso
foi classificado como rurbano, com 8,71% de ocupação, por conter alguns trechos
arborizados, algumas construções e áreas com grama ou terra exposta. A área de mata, no
interior do Bosque da Paz, representa 2,91% da zona.

134
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.6 – Limites da Zona 1, classificação dos usos do solo e trajeto do monitoramento
climático.

Tabela 6.2 - Porcentagens de usos do solo da Zona 1.


Classe % Classe %
Córregos, lagos, água 0,35 Shopping, galpões 8,31
Silvicultura 2,26 Institucional 1,58
Grama, pasto terra exposta 18,56 Casas 17,93
Sistema de lazer 1,88 Edifícios baixos 0,53
Bosque, mata 19,16 Edifícios altos -
Rurbano 19,03 Vias 9,95
Edificações mistas 0,46 TOTAL 100

135
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.7 – Limites da Zona 2, classificação dos usos do solo e trajeto do monitoramento
climático.

Tabela 6.3- Porcentagens de usos do solo da Zona 2.


Classe % Classe %
Córregos, lagos, água 0,02 Shopping, galpões 6,91
Silvicultura - Institucional 7,59
Grama, pasto terra exposta 1,21 Casas 54,10
Sistema de lazer 1,55 Edifícios baixos 1,82
Bosque, mata 0,90 Edifícios altos 4,00
Rurbano - Vias 20,73
Edificações mistas 1,15 TOTAL 100,00

136
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ZONA 3

Figura 6.8 – Limites da Zona 3, classificação dos usos do solo e trajeto do monitoramento
climático.

Tabela 5.4 - Porcentagens de usos do solo da Zona 3.


Classe % Classe %
Córregos, lagos, água 0,22 Shopping, galpões 12,17
Silvicultura - Institucional 1,52
Grama, pasto terra exposta 2,62 Casas 12,36
Sistema de lazer 2,23 Edifícios baixos 9,13
Bosque, mata 3,34 Edifícios altos 20,43
Rurbano 0,73 Vias 25,67
Edificações mistas 9,56 TOTAL 100,00

137
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.9 – Limites da Zona 4, classificação dos usos do solo e trajeto do monitoramento
climático.

Tabela 6.4 - Porcentagens de usos do solo da Zona 4.


Classe % Classe %
Córregos, lagos, água 0,22 Shopping, galpões 8,08
Silvicultura - Institucional 5,40
Grama, pasto terra exposta 5,31 Casas 49,54
Sistema de lazer 3,76 Edifícios baixos 1,20
Bosque, mata 0,87 Edifícios altos 2,50
Rurbano 3,83 Vias 19,24
Edificações mistas 0,04 TOTAL 100,00

138
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.10 – Limites da Zona 5, classificação dos usos do solo e trajeto do monitoramento
climático.

Tabela 6.5 - Porcentagens de usos do solo da Zona 5.


Classe % Classe %
Córregos, lagos, água 1,51 Shopping, galpões 2,26
Silvicultura - Institucional 1,30
Grama, pasto terra exposta 7,22 Casas 49,16
Sistema de lazer 5,94 Edifícios baixos 1,94
Bosque, mata 2,91 Edifícios altos -
Rurbano 8,71 Vias 19,04
Edificações mistas - TOTAL 100,00

139
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6.3.2 Condições de tempo no período de monitoramento

Os monitoramentos de temperatura e umidade do ar foram realizados entre agosto e


setembro de 200910, em dias de céu claro, com ausência de pluviosidade e brisa leve,
predominando a direção dos ventos SE. Nos dias em que foram realizados os
monitoramentos móveis (dia Juliano 241 a 244), as tardes foram quentes e secas, com
temperatura média máxima do ar de 29,7 oC e média da umidade relativa mínima do ar de
26,1%. As manhãs foram amenas e úmidas, com temperatura média mínima de 12,4 oC e
umidade relativa máxima do ar de 81,6%. As variáveis climáticas no período monitorado
são apresentadas na Figura 6.11, observando-se um ligeiro aumento na temperatura máxima
do ar e decréscimo na umidade relativa do ar mínima no período.

Figura 6.11 – Condições do tempo em Campinas entre 11/08/2009 (dia Juliano 223) e 03/09/2009
(dia Juliano 246), segundo a estação meteorológica do CEPAGRI, e delimitação do
período de monitoramento do clima urbano.

10
Os monitoramentos móveis e dos sítios urbanos foram feitos no mesmo período dos
monitoramentos no interior dos fragmentos florestais urbanos, em duas alturas, conforme apresentado no
Capítulo 3, Sessão 3.5.2.

140
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6.3.3 Temperatura do ar e umidade absoluta do ar local em diferentes zonas


urbanas, em quatro dias e três horários, após a ocorrência de chuva

Zona 1
A Figura 6.12 a Tabela 6.7 mostram os resultados da temperatura do ar e umidade
absoluta do ar, coletados por meio móvel na Zona 1, entre agosto e setembro de 2009.
A variação nas condições de tempo ao longo dos quatro dias de observação resultou
em uma elevação na temperatura do ar, que pode ser observada nos três horários do dia. O
aumento da umidade absoluta do ar foi mais sutil e pôde ser observado nos horários da
manhã e noite, oscilando à tarde. Às 15:00h do segundo dia, houve uma diminuição
acentuada na umidade absoluta do ar, voltando a aumentar no terceiro e quarto dias. O
aquecimento do ar deve ter provocado a evaporação da água do solo e superfícies, que
estava disponível em decorrência das precipitações anteriores ao início dos
monitoramentos. Este aquecimento do ar deve também ter elevado a taxa de
evapotranspiração das áreas vegetadas, principalmente no terceiro dia, levando ao aumento
da umidade absoluta do ar.
A temperatura do ar apresentou-se mais baixa às 9:00h, aumentando às 15:00h e
diminuindo novamente ao anoitecer, às 21:00h. No entanto, em resposta à elevada inércia
térmica, que caracteriza o ambiente urbano e as florestas, a temperatura do ar às 21:00h
esteve mais elevada que às 9:00h. Respondendo de maneira inversa, a umidade absoluta do
ar apresentou-se mais elevada ao amanhecer, diminuindo com o aquecimento do ar e das
superfícies durante à tarde, e elevando-se novamente à noite.
Os pontos de maior e menor aquecimento são apresentados na Figura 6.13.
Observa-se que o comportamento térmico dos pontos ao longo do trajeto variou tanto em
relação aos horários quanto aos dias de monitoramento. Esperava-se encontrar um padrão
de comportamento térmico mais evidente, que diferenciasse as manchas de ocupação
presentes nesta zona, especialmente em relação à presença da Mata de Santa Genebra e de
sua influência no entorno edificado.
Ainda assim, foi possível identificar o aquecimento ao longo do eixo rodoviário,
próximo de áreas de pasto, no horário às 15:00h. Nos trechos urbanizados fronteiriços à
rodovia a temperatura do ar também esteve elevada às 9:00h e 21:00h. O superaquecimento

141
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

da rodovia às 15:00 evidenciou as diferenças térmicas com o fragmento florestal urbano,


constatando-se um resfriamento do ar na aproximação da Mata de Santa Genebra.
No entanto, alguns pontos situados ao lado de um gramado fronteiriço à mata,
mostraram-se aquecidos, diferindo-se dos pontos localizados próximos ao fundo de vale. A
diferença térmica entre estas duas localidades aumentou ao longo dos dias, alcançando 2,3
o
C no quarto dia.
Por outro lado, a temperatura do ar esteve baixa em uma rua paralela ao fragmento
florestal nos três horários do dia, indicando uma possível influência da floresta em um
entorno mais amplo. Portanto, ainda que a fronteira estivesse aquecida, em decorrência da
obstrução do céu pela densa folhagem das copas das árvores e dificuldade em perder calor
para a atmosfera urbana, presume-se que a mata seja capaz de arrefecer as
circunvizinhanças.

142
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.12 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na Zona 1 ao longo de
quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e
02/09/2009, em Campinas-SP.

143
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Em geral, observou-se maior amplitude dos dados em pontos com ampla abertura
para o céu, coincidindo com as áreas de pasto, grama, terra exposta situadas ao longo da
rodovia. Estes apresentaram temperaturas elevadas, mesmo nas proximidades da Mata de
Santa Genebra, ocasionando ilhas de calor pontuais. Os locais menos aquecidos estavam
próximos de superfícies d’água ou a uma distância entre 100-400 m da mata.
Diante destes resultados, acredita-se que a baixa ocupação da Zona 1, com a
presença de terrenos baldios, áreas de pasto, terra exposta, bem como a presença da rodovia
e de galpões industriais, exerçam pressão sobre o microclima da Mata de Santa Genebra,
diminuindo a extensão e a magnitude do efeito de resfriamento sobre o entorno edificado.
Além disso, o vento regional predominante ao atingir o local passou antes pela zona central,
aquecendo a massa de ar.

144
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Tabela 6.6 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 1.
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Geral
9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h
N 39 39 39 34 33 39 40 34 35 35 30 37 148 136 150
Média 21,0 28,5 20,4 20,8 30,0 21,0 22,0 31,0 23,3 22,5 32,7 23,6 21,6 30,4 22,0
Erro padrão 0,05 0,04 0,11 0,03 0,06 0,09 0,07 0,04 0,21 0,06 0,07 0,25 0,06 0,14 0,14
D.P. média 0,33 0,23 0,66 0,17 0,35 0,54 0,44 0,24 1,26 0,33 0,37 1,50 0,77 1,58 1,74
Temperatura do ar

Variância 0,11 0,05 0,44 0,03 0,12 0,29 0,20 0,06 1,58 0,11 0,14 2,26 0,60 2,48 3,03
Kurtose -0,53 3,30 -0,46 1,24 0,16 6,12 -0,33 1,43 -1,26 0,26 -0,83 -1,40 -1,41 -1,08 -0,92
D.P. kurtose 0,74 0,74 0,74 0,79 0,80 0,74 0,73 0,79 0,78 0,78 0,83 0,76 0,40 0,41 0,39
Amplitude 1,2 1,1 2,7 0,7 1,4 2,5 1,7 1,0 4,2 1,4 1,1 4,7 2,9 5,2 6,5
Mínimo 20,5 28,2 19,0 20,5 29,4 18,9 21,0 30,7 20,8 22,0 32,3 20,7 20,5 28,2 18,9
Máximo 21,7 29,3 21,7 21,3 30,8 21,5 22,7 31,7 25,0 23,4 33,4 25,4 23,4 33,4 25,4
Percentis 25 20,8 28,3 20,1 20,6 29,8 20,9 21,6 30,9 22,2 22,2 32,4 22,0 20,8 28,7 20,8
50 20,8 28,4 20,5 20,8 29,9 21,2 22,2 31,0 23,6 22,4 32,7 24,3 21,5 30,6 21,4
75 21,2 28,6 21,0 20,9 30,3 21,4 22,4 31,1 24,5 22,7 32,9 25,0 22,3 31,4 23,6
N 39 39 39 34 33 39 40 34 35 35 30 37 148 136 150
Média 10,2 9,37 9,16 10,3 7,13 9,97 12,1 9,94 11,05 12,0 9,74 11,89 11,2 9,05 10,49
Erro padrão 0,03 0,07 0,09 0,04 0,05 0,04 0,06 0,09 0,21 0,05 0,07 0,20 0,08 0,10 0,11
0,20 0,46 0,57 0,22 0,28 0,22 0,37 0,51 1,24 0,28 0,37 1,20 0,94 1,18 1,37
Umidade absoluta do ar

D.P. média
Variância 0,04 0,21 0,33 0,05 0,08 0,05 0,14 0,26 1,55 0,08 0,14 1,43 0,88 1,40 1,89
Kurtose 6,18 0,25 3,34 -0,36 3,44 5,46 -1,02 -0,02 -0,99 -0,01 3,02 -1,38 -1,71 -0,65 -0,05
D.P. kurtose 0,74 0,74 0,74 0,79 0,80 0,74 0,73 0,79 0,78 0,78 0,83 0,76 0,40 0,41 0,39
Amplitude 1,2 2,22 2,66 0,8 1,40 1,20 1,3 1,96 3,65 1,2 1,71 3,68 2,8 4,49 5,44
Mínimo 9,8 8,38 8,51 10,0 6,73 9,64 11,3 9,26 9,79 11,4 9,26 10,28 9,8 6,73 8,51
Máximo 11,0 10,59 11,17 10,8 8,13 10,84 12,6 11,22 13,45 12,6 10,97 13,96 12,6 11,22 13,96
Percentis 25 10,1 8,99 8,83 10,2 6,94 9,82 11,7 9,51 9,99 11,8 9,44 10,74 10,3 8,41 9,77
50 10,2 9,34 8,96 10,3 7,09 9,95 12,1 9,80 10,46 12,0 9,66 11,99 11,4 9,43 10,05
75 10,3 9,71 9,25 10,5 7,28 10,05 12,4 10,27 12,14 12,1 9,91 13,02 12,0 9,80 11,02

145
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ZONA 1 DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4


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Figura 6.13 – Temperatura do ar [oC] na Zona 1 ao longo de quatro dias em três horários. Dados
obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. Pontos em
verde – temperatura do ar abaixo do 1º quartil; Pontos em amarelo – temperatura do ar
interquartis; Pontos em vermelho – temperatura do ar acima do 3º quartil.

146
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 2
A Figura 6.14 e a Tabela 6.8 mostram os resultados da temperatura do ar e umidade
absoluta do ar, coletados por meio móvel em três horários do dia, na Zona 2. Verificou-se
que a média horária da temperatura do ar aumentou ao longo dos dias monitorados, porém a
umidade absoluta elevou-se até o 3º dia, diminuindo no 4º dia. Isso pode indicar uma
restrição na disponibilidade de água para a evaporação no último dia, contrapondo-se aos
dados observados na Zona 1, onde verificou-se uma decréscimo seguido de aumento da
umidade absoluta do ar.
Às 21:00h a temperatura do ar apresentou-se mais elevada que às 9:00h, em
decorrência da inércia térmica da área urbana. A temperatura média máxima ocorreu às
15:00h, bem como a máxima das mínimas e a máxima das máximas, comparando-se os três
horários analisados. Respondendo de maneira inversa à temperatura do ar, a umidade
absoluta do ar apresentou-se mais elevada ao amanhecer, diminuindo com o aquecimento
do ar e das superfícies durante à tarde e elevando-se novamente à noite.
A amplitude dos dados de temperatura do ar sofreu pequena variação horária, sendo,
em geral, maior às 15:00h. Já a amplitude dos dados de umidade absoluta do ar variou ao
longo dos horários monitorados, não se observando um padrão no seu comportamento.
A identificação dos locais mais aquecidos e menos aquecidos na Zona 2, através da
análise dos percentis, é apresentada na Figura 6.15, sendo possível observar um padrão
relacionado às manchas de usos do solo. Verificou-se um sobreaquecimento no centro de
bairro, próximo à rotatória da Torre do Castelo, em todos os horários analisados. Neste
local, apesar das características construtivas assemelharem-se a outros trechos do bairro,
havia maior geração de calor por veículos, além de uma grande área pavimentada na
rotatória.
As imediações do Bosque dos Italianos apresentaram-se sempre mais aquecidas que
as do Bosque dos Alemães. No entanto, este local esteve mais frio que o centro de bairro,
com diferenças térmicas mais evidentes às 15:00h e 21:00h. Apesar disso, somente no 2º
dia à tarde o Bosque dos Italianos apresentou temperaturas inferiores ao 1º quartil,
predominando uma situação de temperaturas moderadas a quentes (interquartil ou superior
ao 3º quartil).

147
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Já no Bosque dos Alemães a ocorrência de temperaturas baixas foi mais freqüente,


por situar-se na porção mais baixa do relevo, distinguindo-se do Bosque dos Italianos.
A proximidade dos dois bosques ocasionou o arrefecimento do ar e uma
homogeneidade térmica nos pontos localizados no trecho que os conecta, efeito que foi
mais evidente às 15:00h. A proximidade dos fragmentos florestais beneficiou, portanto, um
trecho urbano de 500 m.
Partindo do Bosque dos Alemães em direção ao Centro (SE), na porção mais baixa
do terreno, houve uma tendência de resfriamento às 9:00h e às 21:00h, porém este trecho
apresentou-se mais aquecido que os demais às 15:00h. Analisando as características de uso
do solo, esperava-se observar temperaturas similares às do centro de bairro, o que não
ocorreu. Presume-se que o ar fresco e úmido dos bosques deslocou-se em direção ao fundo
de vale. O curso d’água, presente na Av. Orozimbo Maia (Zona 3), intensificou a
capacidade de resfriamento do trecho urbano abaixo do Bosque dos Alemães. Este
fenômeno foi mais evidente às 21:00h, e esteve mais suscetível às influencias da área
central às 15:00h.

148
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.14 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na Zona 2 ao longo de
quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e
02/09/2009, em Campinas-SP.

149
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Tabela 6.7 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 2.
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Geral
9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h
N 14 22 22 23 19 24 28 26 22 25 24 20 90 91 88
Média 20,4 28,2 21,1 20,5 28,9 21,3 23,2 30,7 24,9 23,8 31,8 25,3 22,2 30,0 23,0
Erro padrão 0,08 0,10 0,05 0,05 0,10 0,06 0,06 0,06 0,09 0,10 0,13 0,11 0,16 0,16 0,21
D.P. média 0,30 0,45 0,24 0,24 0,44 0,27 0,32 0,33 0,44 0,49 0,62 0,51 1,56 1,50 2,00
Temperatura do ar

Variância 0,09 0,20 0,06 0,06 0,20 0,07 0,10 0,11 0,19 0,24 0,39 0,26 2,43 2,26 3,99
Kurtose 0,73 -1,41 -1,65 -1,43 -1,28 -1,13 1,88 -1,81 -1,15 -1,77 -1,55 -1,70 -1,69 -1,25 -1,86
D.P. kurtose 1,15 0,95 0,95 0,93 1,01 0,92 0,86 0,89 0,95 0,90 0,92 0,99 0,50 0,50 0,51
Amplitude 1,0 1,4 0,6 0,7 1,3 1,0 1,3 0,9 1,5 1,3 1,8 1,4 4,4 5,1 5,2
Mínimo 20,0 27,7 20,8 20,1 28,3 20,8 22,3 30,2 24,2 23,1 30,9 24,6 20,0 27,7 20,8
Máximo 21,0 29,0 21,4 20,8 29,6 21,8 23,7 31,2 25,7 24,4 32,7 26,0 24,4 32,7 26,0
Percentis 25 20,1 27,8 20,9 20,3 28,5 21,1 23,1 30,4 24,6 23,3 31,2 24,8 20,5 28,6 21,1
50 20,3 28,2 21,0 20,5 28,9 21,3 23,3 30,9 24,9 23,8 32,0 25,2 23,1 30,4 21,7
75 20,5 28,6 21,3 20,7 29,4 21,5 23,4 31,0 25,3 24,3 32,4 25,8 23,4 31,1 25,0
N 14 22 22 23 19 24 28 26 22 25 24 20 90 91 88
Média 9,98 8,13 9,18 10,22 7,08 8,95 11,70 9,00 10,24 11,57 8,94 10,76 11,02 8,37 9,74
Erro padrão 0,09 0,07 0,05 0,08 0,11 0,05 0,05 0,06 0,08 0,06 0,09 0,08 0,09 0,09 0,09
D.P. média 0,33 0,35 0,23 0,37 0,49 0,26 0,29 0,32 0,37 0,32 0,42 0,34 0,82 0,85 0,80
Umidade absoluta do ar

Variância 0,11 0,12 0,05 0,14 0,24 0,07 0,08 0,10 0,14 0,10 0,18 0,12 0,67 0,72 0,64
Kurtose 10,36 1,57 2,79 1,08 8,79 0,08 0,42 -0,14 3,86 6,28 3,66 -0,47 -1,32 -0,53 -1,14
D.P. kurtose 1,15 0,95 0,95 0,93 1,01 0,92 0,86 0,89 0,95 0,90 0,92 0,99 0,50 0,50 0,51
Amplitude 1,35 1,21 0,91 1,44 2,18 0,97 1,19 1,29 1,58 1,59 1,89 1,21 3,06 3,66 2,88
Mínimo 9,72 7,81 8,94 9,66 6,64 8,55 11,23 8,43 9,84 11,12 8,41 10,22 9,66 6,64 8,55
Máximo 11,07 9,02 9,85 11,10 8,82 9,52 12,42 9,72 11,42 12,72 10,30 11,43 12,72 10,30 11,43
Percentis 25 9,84 7,88 9,02 10,03 6,79 8,74 11,52 8,76 10,00 11,38 8,63 10,47 10,12 7,88 9,04
50 9,89 7,98 9,12 10,17 6,96 8,94 11,64 8,98 10,15 11,53 8,90 10,82 11,35 8,63 9,60
75 9,96 8,28 9,21 10,24 7,11 9,06 11,87 9,21 10,37 11,66 9,08 10,96 11,64 8,98 10,41

150
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ZONA 2 DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4


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Figura 6.15 – Temperatura do ar [oC] na Zona 2 ao longo de quatro dias em três horários. Dados
obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. Pontos em
verde – temperatura do ar abaixo do 1º quartil; Pontos em amarelo – temperatura do ar
interquartis; Pontos em vermelho – temperatura do ar acima do 3º quartil.

151
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 3
A Figura 6.16 e a Tabela 6.9 apresentam os resultados da temperatura do ar e
umidade absoluta do ar, coletados por meio móvel em três horários do dia, na Zona 3 -
Centro. Observa-se que houve um aumento na temperatura do ar ao longo dos quatro dias
de monitoramento, acentuando-se no 3º dia. Do mesmo modo, ocorreu a elevação da
umidade absoluta do ar até o 3º dia, diminuindo no último dia. Este mesmo comportamento
fora observado na Zona 2, o que pode indicar ter havido uma restrição de água no solo e
demais superfícies disponível para a evaporação, acompanhadas do aumento da
temperatura do ar, predominando as trocas de calor sensível ao latente.
A umidade absoluta do ar apresentou-se mais elevada às 9:00h, diminuindo às
15:00h e aumentando novamente às 21:00h, respondendo inversamente à variação da
temperatura do ar.
Portanto, há um limiar na taxa de evapotranspiração das florestas que responde às
condições de tempo e à quantidade de água disponível no solo e na folhagem: a
evapotranspiração é máxima com o solo úmido, se a atmosfera estiver quente e seca; e a
evapotranspiração é mínima quando o solo está seco, se a atmosfera estiver quente e seca.
Neste experimento há indícios de uma transição da primeira para a segunda condição.
A amplitude dos dados de temperatura do ar na Zona 3 foi maior às 9:00h, enquanto
a amplitude dos dados de umidade absoluta do ar foi maior às 15:00h, nos dois primeiros
dias de monitoramento, e às 21:00h, nos dois últimos dias. Isso significa que as diferenças
térmicas intra-urbanas nesta zona foram mais visíveis e significativas pela manhã, três
horas após o nascer do sol, mas as diferenças na umidade absoluta do ar foram mais
evidentes quando a umidade relativa do ar estava baixa.
A análise dos percentis, com a identificação dos locais de maior e menor
aquecimento, consta na Figura 6.17. O trecho percorrido na Av. Orozimbo Maia, ao longo
do curso d’água, apresentou-se aquecido (temperatura superior ao 3º quartil) ou com
temperatura moderada (temperatura interquartis) às 9:00h, tendendo a resfriar-se ao longo
do dia, em comparação aos demais pontos.
Os locais mais aquecidos variaram em relação ao horário do dia. Às 9:00h os pontos
mais aquecidos estavam situados na parte baixa da Av. Francisco Glicério, caracterizada

152
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

pela predominância de edifícios altos. Já às 15:00h, os pontos de maior aquecimento


estavam sob a Av. Aquidabã, que também apresentava edifícios altos, porém mais distantes
entre si (menor relação H/W) recebendo mais radiação solar no nível do piso e superfícies
verticais quando comparado ao anterior. Às 21:00h foram as ruas fronteiriças ao Bosque
dos Jequitibás que apresentaram temperaturas mais elevadas. Assim, a influência deste
fragmento florestal no clima do entorno edificado teve baixa extensão, configurando uma
ilha de calor no período noturno e uma ilha de frescor pela manhã e tarde.
Observou-se ainda que com o passar dos dias e diminuição do conteúdo de água
disponível para a evaporação e resfriamento do ar, as imediações do Bosque dos Jequitibás
aqueceram-se mais rapidamente. No entanto, no 3º dia, às 9:00h, observou-se um aumento
do efeito do bosque sobre o clima do entorno construído, fato que pode ser relacionado ao
aumento acentuado da temperatura do ar concomitante à umidade absoluta do ar, com
posterior decréscimo. Isso pode ter exigido da vegetação uma taxa elevada de
evapotranspiração.
Verificou-se, ainda, que o efeito do Bosque dos Jequitibás sobre o entorno se
diferenciou entre as zonas 3 e 4, sendo mais baixa na primeira, em decorrência da
verticalização.

153
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.16 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na Zona 3 ao longo de
quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em
Campinas-SP.

154
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Tabela 6.8 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 3.
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Geral
9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h
N 17 21 15 14 15 12 18 24 13 33 18 13 82 78 53
Média 20,9 29,1 21,3 20,5 29,6 21,4 22,8 31,1 25,4 23,3 32,7 25,8 22,2 30,6 23,4
Erro padrão 0,20 0,06 0,04 0,17 0,05 0,07 0,09 0,05 0,10 0,12 0,06 0,14 0,15 0,16 0,30
D.P. média 0,82 0,28 0,15 0,62 0,20 0,24 0,40 0,23 0,38 0,69 0,27 0,49 1,38 1,42 2,18
Temperatura do ar

Variância 0,67 0,08 0,02 0,39 0,04 0,06 0,16 0,05 0,14 0,48 0,07 0,24 1,90 2,02 4,74
Kurtose 1,95 2,04 0,30 -1,68 -1,00 -1,21 -0,06 -0,24 1,60 -1,11 1,02 -0,48 -1,15 -1,25 -1,96
D.P. kurtose 1,06 0,97 1,12 1,15 1,12 1,23 1,04 0,92 1,19 0,80 1,04 1,19 0,53 0,54 0,64
Amplitude 3,2 1,1 0,6 1,8 0,6 0,7 1,5 0,9 1,3 2,4 1,1 1,6 4,8 5,0 5,4
Mínimo 19,9 28,3 21,0 19,7 29,2 21,0 21,9 30,7 24,5 22,0 32,1 24,8 19,7 28,3 21,0
Máximo 23,1 29,4 21,6 21,4 29,8 21,6 23,5 31,7 25,8 24,4 33,2 26,3 24,4 33,2 26,3
Percentis 25 20,2 28,9 21,2 19,9 29,3 21,2 22,5 30,9 25,2 22,6 32,6 25,5 21,1 29,3 21,3
50 20,6 29,2 21,3 20,3 29,6 21,4 22,7 31,0 25,5 23,5 32,7 26,1 22,5 30,9 21,6
75 21,4 29,3 21,4 21,1 29,8 21,6 23,1 31,3 25,6 23,9 32,8 26,2 23,5 31,6 25,6
N 17 21 15 14 15 12 18 24 13 33 18 13 82 78 53
Média 9,85 7,50 9,15 10,25 7,48 9,08 11,57 9,25 10,01 11,57 8,69 10,44 10,99 8,31 9,66
Erro padrão 0,08 0,07 0,04 0,04 0,11 0,14 0,04 0,03 0,07 0,02 0,04 0,11 0,09 0,09 0,09
D.P. média 0,32 0,31 0,14 0,15 0,44 0,50 0,16 0,13 0,25 0,11 0,16 0,39 0,78 0,83 0,67
Umidade absoluta do ar

Variância 0,10 0,10 0,02 0,02 0,19 0,25 0,03 0,02 0,06 0,01 0,03 0,15 0,61 0,70 0,45
Kurtose 1,57 13,03 0,13 -0,79 4,81 -0,70 -0,10 -0,39 -1,58 -0,07 -1,43 -1,52 -1,30 -1,69 -0,87
D.P. kurtose 1,06 0,97 1,12 1,15 1,12 1,23 1,04 0,92 1,19 0,80 1,04 1,19 0,53 0,54 0,64
Amplitude 1,12 1,55 0,44 0,52 1,73 1,55 0,62 0,54 0,77 0,47 0,50 1,07 2,34 2,48 2,49
Mínimo 9,54 7,19 8,87 9,96 7,01 8,47 11,26 8,96 9,63 11,33 8,43 9,88 9,54 7,01 8,47
Máximo 10,65 8,74 9,31 10,48 8,74 10,01 11,88 9,50 10,40 11,80 8,92 10,95 11,88 9,50 10,95
Percentis 25 9,65 7,34 9,06 10,13 7,20 8,57 11,46 9,16 9,79 11,50 8,54 10,05 10,25 7,45 9,13
50 9,75 7,45 9,15 10,27 7,42 8,96 11,55 9,24 9,97 11,58 8,75 10,50 11,46 8,56 9,64
75 9,95 7,53 9,27 10,40 7,48 9,48 11,65 9,37 10,22 11,64 8,82 10,79 11,60 9,13 10,19

155
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ZONA 3 DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4


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Figura 6.17 – Temperatura do ar [oC] na Zona 3 ao longo de quatro dias em três horários. Dados
obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. Pontos em
verde – temperatura do ar abaixo do 1º quartil; Pontos em amarelo – temperatura do ar
interquartis; Pontos em vermelho – temperatura do ar acima do 3º quartil.

156
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 4
A Figura 6.18 e a Tabela 6.10 mostram os resultados da temperatura do ar e
umidade absoluta do ar para a Zona 4. Do mesmo modo que nas zonas já analisadas,
observou-se que as médias horárias das variáveis climáticas aumentaram ao longo dos
quatro dias, acentuando-se no 3º dia. Verificou-se, também, a intensificação das diferenças
térmicas intra-urbanas com o aumento da temperatura média diária.
Apesar da média horária da temperatura do ar ser menor às 9:00h, a temperatura
mínima observada nos dois primeiros dias ocorreu às 21:00h, indicando que nesta zona
existem pontos com elevada taxa de resfriamento, distinguindo-se dos demais. Já os valores
máximos para a temperatura do ar ocorreram às 15:00h.
A umidade absoluta do ar respondeu de maneira inversa ao comportamento térmico
diário. Houve um aumento até o 3º dia, com um decréscimo sutil às 15:00 do 4º dia, quando
houve também grande amplitude dos dados.
A amplitude dos dados de temperatura sempre foi maior no horário noturno,
evidenciando os pontos de maior e menor aquecimento. Já a maior amplitude dos dados de
umidade absoluta do ar ocorreu às 15:00h, nos dois primeiros dias, e às 21:00h, nos dois
últimos dias. O mesmo ocorreu na Zona 3, indicando que as diferenças na umidade absoluta
do ar foram mais evidentes quando a umidade relativa do ar estava baixa.
A identificação dos locais de maior e menor aquecimento, possibilitada pela análise
dos percentis, é apresentada na Figura 6.19. No trecho inicial do percurso, na fronteira com
a Zona 3, entre o Bosque dos Jequitibás e o Bosque São José, a temperatura elevou-se ao
longo dos quatro dias de monitoramento. Às 15:00h, nos dois primeiros dias, o trecho
apresentou temperaturas abaixo do 1º quartil, porém a partir do 3º dia esta região sofreu um
aquecimento em todos os horários. Observou-se, ainda, que às 21:00h a temperatura esteve
sempre elevada, apesar deste trecho viário situar-se sobre um fundo de vale e entre dois
fragmentos florestais. O trecho é caracterizado por edifícios altos ao longo da avenida sobre
o vale; predominam as atividades comerciais e de serviços, com tráfego intenso e
congestionamentos em horários de pico.
As imediações do Bosque São José apresentaram baixas temperaturas,
comparativamente ao trecho percorrido sobre a avenida. Apesar disso, a temperatura

157
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

elevada do cânion urbano e geração de calor influenciaram as imediações do bosque,


diminuindo o efeito esperado sobre o clima urbano. Neste local, observaram-se alguns
pontos com temperatura do ar abaixo do 1º quartil nos três primeiros dias às 9:00h e às
15:00h, apesar de ser notável o aquecimento da área ao longo dos quatro dias de
monitoramento. Às 21:00h o local sempre apresentou temperaturas superiores ao 3º quartil.
Verificou-se ainda uma diferença térmica entre as duas faces do bosque, sendo mais fria a
rua voltada para SO, na direção do Cemitério da Saudade, e mais quente a face NE, voltada
para o cânion urbano.
A mudança no padrão de uso do solo na região próxima ao Cemitério da Saudade,
caracterizada pelo baixo gabarito e maior abertura para o céu, acarretou a diminuição da
temperatura do ar às 9:00h e 21:00h, em relação ao cânion urbano, devido à menor inércia
térmica. Em alguns momentos a temperatura do ar na região do cemitério esteve abaixo do
1º quartil. Já às 15:00h a temperatura do ar nestas imediações manteve-se igual ou superior
à do cânion. A grande área com solo permeável que compõe o cemitério é responsável pelo
aumento na amplitude térmica do local, caracterizando uma situação semelhante à do
ambiente rural.
Nas imediações do Bosque dos Guarantãs também houve uma diferença térmica em
decorrência da presença do sistema de lazer, anexo ao fragmento florestal. Apesar do local
ter um curso d’água e um lago, esta face do parque apresentou-se mais aquecida que a face
onde se concentra a massa de vegetação. Somente no 2º dia às 15:00h houve uma inversão
neste padrão de comportamento térmico, coincidindo com a máxima amplitude nos dados
de umidade absoluta do ar, como citado anteriormente. Nas ruas lindeiras ao Bosque dos
Guarantãs observaram-se momentos ocasionais em que a temperatura do ar esteve abaixo
do 1º quartil: no 2º dia às 15:00h, possivelmente em decorrência da alta taxa de
evapotranspiração e aumento das trocas de calor latente; e no 1º e 4º dia às 21:00h.
Em direção ao fundo de vale, à NE, existiam terrenos baldios que estavam sendo
ocupados por um condomínio de edifícios baixos. A temperatura do ar neste local esteve
ligeiramente mais fria que à montante, fato que pode ser explicado pelo acúmulo do ar
arrefecido pelo bosque no fundo de vale.

158
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Ao aproximar de Valinhos, verificou-se uma tendência ao resfriamento ao longo dos


dias, nos horários das 9:00h e 15:00h. Possivelmente esta região sofreu influencia dos
ventos SE provenientes do ambiente rural, arrefecendo a área e contrastando-a com os
demais pontos nos dias mais quentes.
Na Zona 4 verificou-se que presença de gramado e a verticalização elevaram a
temperatura do ar nas ruas fronteiriças dos dois fragmentos florestais. Conseqüentemente, a
extensão do efeito sobre o clima do entorno foi pequena, na abrangência microclimática,
mesmo na presença de curso d’água.

159
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.18 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na Zona 4 ao longo de
quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e
02/09/2009, em Campinas-SP.

160
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Tabela 6.9 – Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 4.
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Geral
9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h
N 54 57 51 54 52 55 57 56 50 54 54 53 219 219 209
Média 19,7 29,0 19,7 19,7 29,2 20,1 21,4 30,5 24,2 21,3 32,2 24,0 20,5 30,2 22,0
Erro padrão 0,03 0,03 0,08 0,03 0,05 0,08 0,08 0,04 0,08 0,07 0,07 0,10 0,06 0,09 0,15
D.P. média 0,21 0,26 0,59 0,22 0,33 0,61 0,58 0,30 0,58 0,50 0,49 0,74 0,94 1,30 2,19
Temperatura do ar

Variância 0,04 0,07 0,35 0,05 0,11 0,37 0,34 0,09 0,34 0,25 0,24 0,54 0,88 1,69 4,80
Kurtose 0,16 -0,38 -1,61 -0,49 -0,46 -0,87 -0,71 -0,51 -0,68 -0,10 -1,44 -0,01 -1,00 -0,89 -1,69
D.P. kurtose 0,64 0,62 0,66 0,64 0,65 0,63 0,62 0,63 0,66 0,64 0,64 0,64 0,33 0,33 0,33
Amplitude 0,9 1,1 1,8 0,9 1,2 2,2 2,1 1,3 2,6 1,9 1,4 3,8 3,6 4,4 6,9
Mínimo 19,1 28,5 18,9 19,2 28,5 19,0 20,6 29,8 23,0 20,5 31,5 22,0 19,1 28,5 18,9
Máximo 20,0 29,6 20,7 20,1 29,8 21,3 22,7 31,2 25,6 22,4 32,9 25,8 22,7 32,9 25,8
Percentis 25 19,5 28,8 19,1 19,5 28,9 19,7 21,0 30,2 23,7 20,9 31,6 23,4 19,7 29,1 20,0
50 19,7 29,0 19,8 19,7 29,3 20,2 21,3 30,4 24,3 21,2 32,2 24,0 20,6 29,8 21,2
75 19,8 29,2 20,3 19,9 29,5 20,4 21,7 30,7 24,7 21,6 32,6 24,6 21,3 31,2 24,1
N 54 57 51 54 52 55 57 56 50 54 54 53 219 219 209
Média 9,72 7,54 9,95 10,09 7,66 9,08 11,38 9,23 10,27 11,69 8,87 10,55 10,73 8,36 9,95
Erro padrão 0,04 0,07 0,03 0,04 0,06 0,05 0,02 0,04 0,11 0,04 0,05 0,11 0,06 0,06 0,06
D.P. média 0,32 0,53 0,24 0,27 0,44 0,36 0,16 0,27 0,80 0,31 0,36 0,82 0,87 0,94 0,82
Umidade absoluta do ar

Variância 0,10 0,28 0,06 0,07 0,10 0,13 0,03 0,07 0,64 0,10 0,13 0,67 0,76 0,87 0,68
Kurtose 10,23 0,23 0,18 0,12 10,57 18,28 0,13 7,85 2,45 0,45 4,21 -0,54 -1,51 6,39 0,41
D.P. kurtose 0,64 0,62 0,66 0,64 0,65 0,63 0,62 0,63 0,66 0,64 0,64 0,64 0,33 0,33 0,33
Amplitude 1,88 2,23 1,01 1,33 2,59 2,29 0,65 1,75 3,64 1,47 2,01 3,51 3,15 4,08 3,98
Mínimo 9,34 6,37 9,45 9,36 7,19 8,78 11,15 8,71 9,13 11,02 8,23 8,79 9,34 6,37 8,78
Máximo 11,22 8,60 10,46 10,69 9,78 11,08 11,80 10,45 12,76 12,50 10,24 12,30 12,50 10,45 12,76
Percentis 25 9,53 7,45 9,80 9,88 7,42 8,91 11,25 9,09 9,85 11,43 8,64 9,82 9,85 7,61 9,23
50 9,66 7,66 9,96 10,11 7,60 8,97 11,34 9,19 10,09 11,69 8,81 10,74 11,15 8,51 9,92
75 9,79 7,80 10,09 10,26 7,79 9,17 11,45 9,33 10,48 11,84 9,00 11,12 11,44 9,09 10,41

161
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ZONA 4 DIA 1 DIA 2


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DIA 3 DIA 4
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Figura 6.19 – Temperatura do ar [oC] na Zona 4 ao longo de quatro dias em três horários. Dados
obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. Pontos em
verde – temperatura do ar abaixo do 1º quartil; Pontos em amarelo – temperatura do ar
interquartis; Pontos em vermelho – temperatura do ar acima do 3º quartil.

162
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 5
Os resultados dos monitoramentos de temperatura do ar e umidade absoluta do ar
por meio móvel da Zona 5 são apresentados na Figura 6.20 e Tabela 6.11. Assim como nas
demais áreas, verificou-se um aumento da temperatura do ar e umidade absoluta do ar ao
longo dos quatro dias monitorados.
A temperatura média mínima tendeu a ocorrer às 21:00h, indicando que nesta zona
a taxa de resfriamento é superior à taxa de aquecimento, sofrendo, porém, alterações ao
longo dos quatro dias. As diferenças térmicas entre os pontos também foram mais
acentuadas à noite. As temperaturas mais elevadas ocorreram às 15:00h, como nos demais
casos.
A umidade absoluta apresentou-se mais elevada às 9:00h, diminuindo às 15:00h e
elevando-se às 21:00h. A diferença de umidade entre os pontos variou entre os dias e
horários, sendo que a amplitude máxima observada ocorreu no 3º dia à noite, mantendo-se
elevada no último dia, em todos os horários.
Como o percurso para a aquisição das variáveis climáticas na Zona 5 foi curto, a
variação dos dados foi pequena, não observando-se um padrão no comportamento térmico
que represente as manchas de usos do solo, como mostrado na Figura 6.21.
Verificou-se uma tendência ao aquecimento nos pontos mais próximos à rodovia,
influenciados pela ampla pavimentação e fronteira com a zona rural. Esperava-se que a
temperatura do ar na rua lateral do Bosque da Paz e no fundo de vale, próximo ao Ribeirão
das Anhumas, fosse mais baixa que nos demais pontos, o que não foi observado. Neste
local verificou-se a presença de uma extensa área de gramado, que faz parte do sistema de
lazer anexo ao Bosque da Paz. Os pontos de temperatura abaixo do 1º quartil ocorreram de
maneira ocasional, variando entre os dias e horários.
Predominaram as situações em que o centro da área monitorada apresentou
temperaturas inferiores aos pontos próximos da rodovia, com exceção do 3º e 4º dia, às
9:00h, momentos em que tanto as imediações do bosque quanto do curso d’água estiveram
mais aquecidos que o trecho próximo à rodovia.
Notou-se, portanto, certa homogeneidade na distribuição térmica, que pode ter sido
provocada tanto pela influência das massas de ar provenientes da zona rural, como pelas

163
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

características físicas do bairro, que apresentou altos percentuais de lotes edificados.


Ressalta-se que o fragmento florestal e as margens do curso d’água estavam mal
conservados, diminuindo, possivelmente, o potencial de resfriamento do ar na ambiência
urbana.

Figura 6.20 – Temperatura do ar [oC] (a) e umidade absoluta do ar [g/m3] (b) na Zona 5 ao longo de
quatro dias em três horários. Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e
02/09/2009, em Campinas-SP.

164
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Tabela 6.10– Estatística descritiva dos dados temperatura do ar [oC] e umidade absoluta do ar [g/m3], obtidos por meio móvel na Zona 5.
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Geral
9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h 9:00h 15:00h 21:00h
N 10 11 12 11 10 13 14 12 11 12 10 12 47 43 48
Média 19,9 29,5 17,5 20,0 29,6 17,4 21,2 30,8 22,5 21,3 32,7 20,8 20,7 30,6 19,4
Erro padrão 0,03 0,10 0,11 0,11 0,02 0,14 0,07 0,10 0,17 0,12 0,15 0,16 0,10 0,20 0,33
D.P. média 0,08 0,33 0,39 0,37 0,08 0,49 0,27 0,33 0,56 0,41 0,46 0,57 0,71 1,30 2,26
Temperatura do ar

Variância 0,01 0,11 0,16 0,13 0,01 0,24 0,07 0,11 0,31 0,17 0,21 0,33 0,51 1,69 5,13
Kurtose 1,73 1,79 -1,96 -1,08 -0,80 -1,40 -0,75 -1,44 -0,45 -0,90 -0,68 0,40 -1,45 -0,73 -1,54
D.P. kurtose 1,33 1,28 1,23 1,28 1,33 1,19 1,15 1,23 1,28 1,23 1,33 1,23 0,68 0,71 0,67
Amplitude 0,3 1,2 1,0 1,1 0,2 1,4 0,9 0,9 1,9 1,2 1,4 1,6 2,3 4,1 6,9
Mínimo 19,8 29,1 17 19,5 29,5 16,5 20,8 30,3 21,5 20,6 31,9 20,3 19,5 29,1 16,5
Máximo 20,1 30,3 18,0 20,6 29,7 17,9 21,7 31,2 23,4 21,8 33,2 21,9 21,8 33,2 23,4
Percentis 25 19,8 29,3 17,2 19,6 29,5 16,8 21,0 30,5 22,2 21,0 32,2 20,4 19,9 29,6 17,4
50 19,9 29,6 17,3 20,0 29,6 17,6 21,2 30,8 22,5 21,3 32,8 20,6 20,8 30,3 18,0
75 20,0 29,7 17,9 20,3 29,6 17,7 21,4 31,0 22,9 21,6 33,1 21,1 21,3 31,2 21,8
N 10 11 12 11 10 13 14 12 11 12 10 12 47 43 48
Média 10,35 7,54 9,68 10,85 6,21 10,69 11,81 9,34 10,54 12,43 9,00 10,67 11,43 8,07 10,40
Erro padrão 0,09 0,14 0,09 0,15 0,07 0,20 0,03 0,05 0,29 0,19 0,25 0,21 0,13 0,20 0,12
D.P. média 0,29 0,45 0,31 0,50 0,22 0,74 0,13 0,19 0,96 0,66 0,80 0,72 0,90 1,33 0,81
Umidade absoluta do ar

Variância 0,08 0,20 0,10 0,25 0,05 0,54 0,02 0,04 0,93 0,43 0,64 0,52 0,82 1,77 0,66
Kurtose 1,01 0,93 -1,55 1,50 -0,06 0,15 -0,19 -0,68 -1,42 1,15 -0,09 -0,57 -0,27 -1,24 -0,68
D.P. kurtose 1,33 1,28 1,23 1,28 1,33 1,19 1,15 1,23 1,28 1,23 1,33 1,23 0,68 0,71 0,67
Amplitude 0,93 1,67 0,84 1,86 0,68 2,11 0,43 0,60 2,72 2,43 2,33 2,20 3,86 4,44 2,89
Mínimo 10,03 6,78 9,33 10,08 5,92 10,05 11,65 8,99 9,26 11,45 8,03 9,47 10,03 5,92 9,26
Máximo 10,96 8,45 10,17 11,94 6,60 12,15 12,08 9,59 11,99 13,89 10,36 11,66 13,89 10,36 12,15
Percentis 25 10,14 7,10 9,42 10,62 6,06 10,20 11,71 9,21 9,74 12,10 8,49 10,00 10,65 6,78 9,75
50 10,30 7,60 9,54 10,70 6,21 10,38 11,80 9,35 10,74 12,28 8,78 10,81 11,65 8,17 10,28
75 10,49 7,64 10,00 11,06 6,34 11,21 11,90 9,50 11,37 12,89 9,48 11,27 11,97 9,25 10,88

165
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ZONA 5 DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4


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Figura 6.21 – Temperatura do ar [oC] na Zona 5 ao longo de quatro dias em três horários. Dados
obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e 02/09/2009, em Campinas-SP. Pontos em
verde – temperatura do ar abaixo do 1º quartil; Pontos em amarelo – temperatura do ar
interquartis; Pontos em vermelho – temperatura do ar acima do 3º quartil.

166
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Diferenças higrotérmicas intra-urbanas nas zonas de estudo ao longo de quatro dias:


síntese e discussão dos resultados
Os resultados apontaram um aumento da temperatura do ar nas cinco zonas
analisadas ao longo dos quatro dias monitorados. Segundo dados da Estação Meteorológica
de Campinas (CEPAGRI), durante este período, posterior à ocorrência de chuva, houve um
aumento na temperatura máxima do ar e diminuição na umidade relativa do ar, que foi mais
acentuada no 3º dia, como mostra a Figura 6.22. Assim, a condição da atmosfera no 3º dia
de monitoramento acarretou a diminuição na umidade absoluta do ar em algumas zonas
urbanas. No caso da Zona_1 este decréscimo foi observado no 2º dia, elevando-se
posteriormente. Acredita-se que, neste momento, as condições atmosféricas tenham exigido
máxima taxa de evapotranspiração dos fragmentos florestais para adequação ao ambiente.
É importante ressaltar que o conteúdo de água disponível no solo determina a
quantidade de água perdida pela evapotranspiração. Como destacou Geiger (1966), a
evapotranspiração decresce significativamente entre dias posteriores à ocorrência de chuva
e períodos secos. Ao contrário, as superfícies d’água evaporam mais intensamente em dias
quentes e secos.
Portanto, há um limiar na taxa de evapotranspiração das florestas que responde às
condições de tempo e à quantidade de água disponível no solo e na folhagem: a
evapotranspiração é máxima com o solo úmido, se a atmosfera estiver quente e seca; e a
evapotranspiração é mínima quando o solo está seco, se a atmosfera estiver quente e seca.
Neste experimento há indícios de uma transição da primeira para a segunda condição.
As diferenças térmicas e de umidade intra-urbanas se acentuaram no 3º e 4º dias de
monitoramentos, coincidindo com a diminuição dos níveis máximos de umidade relativa do
ar. Em geral, as diferenças intra-urbanas foram maiores às 21:00h (Figura 6.22), mas o
maior contraste entre os fragmentos florestais e outras categorias de usos ocorreu às 15:00h.
Neste sentido, observou-se que as áreas abertas, tais como os gramados, pasto, terra
exposta, e as avenidas com amplo leito viário (mesmo as situadas sobre fundos de vale),
apresentaram intenso aquecimento, contrastando-se com as matas e bosques.
Nas zonas fronteiriças ao ambiente rural ou em fragmentos florestais conectados a
sistemas de lazer (com ampla abertura para o céu), a extensão e a magnitude do efeito dos

167
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

fragmentos florestais sobre o entorno edificado foi baixa. Somente na Zona 4, no trecho
próximo ao Município de Valinhos, verificou-se um efeito de resfriamento causado pela
aproximação da zona rural, devido às massas de ar mais frias, características do clima desta
cidade.
Na Zona 3, central, a diferença térmica entre o Bosque dos Jequitibás e os trechos
urbanos verticalizados foram mais visíveis às 9:00h. Pela tarde, houve um aquecimento
intenso da Av. Aquidabã, verticalizada e com leito viário amplo, provocando um efeito
negativo sobre o bosque. Esta mesma influência foi constatada nas proximidades do
Bosque São José.
A altitude influenciou as diferenças térmicas intra-urbanas, favorecendo o
resfriamento dos pontos situados na porção baixa do terreno. Dessa maneira, o Bosque dos
Alemães mostrou-se mais arrefecido que o Bosque dos Italianos, e os trechos urbanos
situados em pontos elevados não foram influenciados pelas massas de ar frescas e úmidas
provenientes dos bosques, ao contrário dos trechos situados abaixo destes.
A localização em fundos de vale não implicou, entretanto, numa condição climática
favorável dos sítios urbanos adensados e verticalizados, ou nos córregos cujas margens são
pouco arborizadas, como ocorreu na Av. Orozimbo Maia (Zona 3), na Av. Princesa
D’Oeste (Zona 4), ao longo do sistema de lazer junto ao córrego do Bosque dos Guarantãs
(Zona 4) e no trecho urbano ao lado do Ribeirão das Anhumas (Zona 5). Por outro lado,
observou-se uma condição favorável dos sítios urbanos próximos de fundos de vale
vegetados, como no caso de trechos próximos à Mata de Santa Genebra (Zona 1).
Prevaleceu o seguinte estado térmico, nas ruas fronteiriças aos fragmentos
florestais: às 9:00h, temperaturas moderadas (interquartis); às 15:00h, temperaturas
moderadas à frias (interquartis ou inferiores ao 1º quartil); e às 21:00h, temperaturas
moderadas à quentes (interquartis ou superiores ao 3º quartil).

168
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

A C

B D

Figura 6.22 – Diferenças térmicas [oC] e diferenças de umidade absoluta do ar [g/m3] intra-urbanas
em cinco zonas de Campinas-SP, ao longo de quatro dias (gráficos A e B) e três
horários (gráficos C e D). Dados obtidos por meio móvel, entre 29/08/2009 e
02/09/2009, comparados aos registros da estação meteorológica do CEPAGRI, no
mesmo período. Zona 1 – Barão Geraldo e Vila Costa e Silva; Zona 2 – Jardim
Guanabara; Zona 3 – Centro Urbano; Zona 4 – Jardim Proença, Nova Europa, Vila
Formosa; Zona 5 – Jardim Madalena.

169
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6.3.4 Diferenças higrotérmicas intra-urbanas decorrentes de manchas de


ocupação e do distanciamento de fragmentos

Tendo em vista a variação na resposta dos fragmentos florestais decorrente das


condições atmosféricas, buscou-se obter um efeito “médio” da vegetação sobre o clima do
entorno edificado. Para tanto, calculou-se a média dos dados horários para trechos urbanos
com padrões espaciais semelhantes (manchas de usos do solo presentes em cada zona de
estudo). Também foi observado o distanciamento destas manchas em relação aos
fragmentos florestais.

Zona 1
A Figura 6.23 apresenta as médias horárias de temperatura e umidade do ar
relacionadas aos padrões espaciais, na abrangência do quarteirão, identificados na Zona 1.
Observou-se que a fronteira da Mata de Santa Genebra sofreu um aquecimento nos três
horários do dia, exceto na porção mais baixa do terreno, em direção ao córrego, onde a
temperatura do ar esteve cerca de 0,3 oC mais baixa do que a média da Zona 1.
Na rua fronteiriça com a mata, o trecho mais elevado (distante do fundo de vale)
apresentou temperatura do ar superior à média da Zona 1, com as seguintes diferenças: 0,3
o
C às 9:00h, 0,2 oC às 15:00h e 1,2 oC às 21:00h. No horário noturno, verificou-se o efeito
de ilha de calor na fronteira mata-casas, com uma diferença térmica em relação ao ambiente
rural (ΔTu-r) de 2,4 oC. O aquecimento na fronteira entre a mata e a área de lazer, onde
predomina a cobertura por grama, também foi observado, alcançando 0,5 oC, às 21:00h.
Apesar do aquecimento do ar na fronteira da Mata de Santa Genebra, a umidade
absoluta do ar mostrou-se elevada. Às 9:00h, não houve diferenças com a área urbanizada,
mas às 21:00h observaram-se as seguintes diferenças em relação à média da Zona 1: na
fronteira mata-casas +0,3 g/m3 ; no trecho próximo ao gramado +0,9 g/m3 ; na fronteira
mata-córrego +1,4 g/m3.
O efeito de resfriamento da Mata de Santa Genebra foi verificado nas quadras
residenciais distantes entre 100 m e 800 m da borda, e não na fronteira da mata com o
ambiente construído. Estas quadras correspondem ao percurso realizado nos bairros Bosque
de Barão e Real Parque, tendo como limite os galpões industriais, lindeiros à Rodovia

170
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Milton Tavares de Souza (SP-332). Este trecho apresentou temperaturas inferiores às da


fronteira em 0,4 oC às 9:00h e 15:00h, e 1,6_oC às 21:00h. As diferenças térmicas com a
média da Zona 1 foram de 0,1 oC às 9:00h, 0,2 oC às 15:00h e 0,4 oC às 21:00h.
O trecho de casas do lado oposto à rodovia, ou seja, na direção do centro de Barão
Geraldo, não apresentou diferenças significativas em relação às casas próximas à Mata de
Santa Genebra. É possível que as características de uso e ocupação do solo, com elevado
percentual de áreas verdes e a presença de água na Fazenda Rio das Pedras, tenha
contribuído para a manutenção da temperatura amena neste trecho. Já nas proximidades da
mata, onde havia grandes percentuais de pasto, grama, terra exposta (coberturas que
contribuem para o aquecimento), o efeito térmico da Mata de Santa Genebra sobre o
entorno diminuiu.
Notou-se que o ar sobre as áreas de pasto junto à rodovia sofreram grande
aquecimento às 15:00h, observando-se uma diferença térmica com a Zona 1 de 0,8 oC. Às
21:00h a diferença térmica passou para 0,6 oC, indicando que a combinação “rodovia e
áreas de pasto” também contribuem para a formação de ilhas de calor, verificando-se uma
diferença para com a zona rural de 1,8 oC. Somente às 9:00h observou-se temperaturas
inferiores ao ambiente rural, apresentando, contudo, baixa umidade absoluta do ar. Assim,
o efeito térmico desse padrão de ocupação sobre o ambiente construído pode prevalecer
sobre o efeito provocado pelos fragmentos florestais.
O trecho composto por galpões industriais junto à rodovia esteve arrefecido às
9:00h, observando-se diferenças térmicas sutis com a Zona 1 - de 0,3 oC às 15:00h e de 0,2
o
C às 21:00h. A baixa umidade absoluta do ar neste trecho se intensificou ao longo do dia,
alcançando uma diferença em relação à Zona 1 de 0,6 g/m3, às 21:00h. A mata deve ter
favorecido o arrefecimento dos galpões, localizados entre 800 – 1600 m de distância. Por
outro lado, o uso industrial junto à rodovia deve ter prejudicado a mata, aquecendo-a.
As quadras residenciais localizadas a uma distância de 3300 m da Mata de Santa
Genebra, no Bairro Vila Costa e Silva apresentaram-se mais aquecidas e menos úmidas que
as localizadas próximo à Mata, apresentando temperatura do ar superior à média da Zona 1
em 0,3 oC às 9:00h e 1 oC às 21:00h, não observando-se diferenças às 15:00h. A umidade
absoluta apresentou-se entre 0,3 e 0,4 g/m3 inferiores à média da Zona 1.

171
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.23 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 1.

172
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 2
A Figura 6.24 apresenta as médias horárias de temperatura e umidade do ar das
manchas de usos e ocupação do solo da Zona 2, com a presença do Bosque dos Italianos e
do Bosque dos Alemães. As análises serão feitas observando-se a posição das quadras
relativa aos bosques, aos centros urbanos (centro de bairro e fronteira com a área central,
verticalizada) e ao fundo de vale.
Comparando o centro de bairro, localizado na porção mais elevada do terreno, ao
trecho urbano próximo do Centro, localizado no fundo de vale, verificou-se certa influência
da topografia na temperatura local urbana. Às 9:00h, a rotatória da Praça da Torre do
Castelo (topo do terreno) apresentou temperatura do ar 1 oC mais elevada do que a média
geral dos pontos da Zona 2, enquanto o trecho urbano próximo ao Centro (fundo de vale)
apresentou temperatura do ar 1 oC inferior a média da Zona 2, havendo, portanto uma
diferença térmica de 2 oC entre estes locais. Já às 15:00h observou-se que o vale sofreu
influências da Zona Central, apresentando-se 1 oC mais aquecido do que o centro de bairro.
Às 21:00h ocorreu novamente uma inversão, com o resfriamento do vale, que apresentou
temperatura do ar 0,7_oC inferior ao centro de bairro.
Portanto, constatou-se que pela manhã e à noite o vale favoreceu o resfriamento
urbano, porém, à tarde a massa de ar quente e seca do Centro provocou o sobreaquecimento
deste trecho. A presença de água, bem como o deslocamento das massas de ar frias e
úmidas em direção ao fundo de vale, tornou-se insuficiente para arrefecer esta região
urbana mais verticalizada.
As quadras residenciais localizadas a montante do Bosque dos Italianos
apresentaram, às 9:00h, temperatura do ar 0,5 oC mais elevada do que a média dos pontos
que representam a Zona 2. As quadras situadas entre os bosques dos Italianos e dos
Alemães, que correspondem a um trecho de 500 m, apresentaram temperatura do ar 0,2 oC
inferior à média da Zona 2, bem como as quadras a jusante do Bosque dos Alemães, em
direção ao vale. A umidade absoluta do ar nas quadras a montante do Bosque dos Italianos,
às 9:00h, esteve 0,2 g/m3 inferior que a média da Zona 2. No mesmo horário, as quadras a
jusante do bosque dos Alemães apresentaram umidade absoluta do ar 0,1 g/m3 superior à
Zona 2. Constatou-se, assim, um aumento de 0,3 g/m3 de umidade absoluta do ar e um

173
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

decréscimo de 0,7_oC na temperatura do ar nas quadras situadas na porção mais baixa do


terreno, abaixo dos dois bosques.
Às 15:00h, mesmo sob influência do Centro, as diferenças térmicas entre estas
quadras residenciais permaneceram. A porção a montante do Bosque dos Italianos
apresentou temperatura do ar 0,4 oC mais elevada do que a média; a área entre os dois
bosques esteve 0,3 oC mais arrefecida do que a média; e as quadras de casas à jusante do
Bosque dos Alemães estiveram 0,4 oC mais frias que a media da Zona 2. Isso representa
uma diminuição de 0,8 oC entre as casas localizadas à montante e a jusante dos bosques. O
mesmo ocorreu com a umidade absoluta do ar, verificando-se um incremento de 0,2 g/m3
nos pontos mais baixos, em comparação com os mais elevados.
Às 21:00h o efeito dos bosques e da declividade do terreno sobre a área urbana se
intensificou. Enquanto a porção a jusante do Bosque dos Italianos apresentou temperatura
do ar 0,6 oC mais elevada do que a média, o trecho de casas entre os dois bosques esteve
mais arrefecido em 0,2 oC, e a área a jusante do Bosque dos Alemães apresentou uma
diminuição de 0,5 oC em relação à média dos pontos da Zona 2. Assim, o ar nas quadras
residenciais à jusante dos bosques esteve 1,1 oC mais frio e 0,3 g/m3 mais úmido do que as
quadras à montante.
Ao contrário do caso da Mata de Santa Genebra, as quadras fronteiriças aos
bosques apresentaram temperaturas iguais ou inferiores à média. Verificou-se, contudo,
uma diferença entre os dois bosques, sendo mais intenso o resfriamento na fronteira com o
Bosque dos Alemães. Nos três horários do dia, a fronteira com Bosque dos Italianos não
apresentou diferença térmica em relação à média da Zona 2. No entanto, na fronteira com o
Bosque dos Alemães, a temperatura do ar esteve 0,5 oC mais baixa às 9:00h e às 15:00h, e
às 21:00h a diferença térmica foi nula. Às 15:00h, a fronteira dos Italianos apresentou
umidade absoluta do ar mais elevada 0,2g/m3 do que a média da Zona 2 e às 21:00h a
mesma diferença foi observada na fronteira com o Bosque dos Alemães.
Apesar da tendência na diminuição da temperatura do ar em direção à porção mais
baixa do terreno e intensificação do resfriamento na fronteira com o Bosque dos Alemães,
às 21:00h foi verificada uma ilha de calor neste local, com intensidade de 0,5 oC.

174
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Verificou-se, portanto, que a influência da vegetação sobre o clima do entorno agiu


conjuntamente com a topografia, resfriando e umidificando as áreas na porção mais baixa
do relevo. Foi notório o benefício no clima local das quadras localizadas entre os dois
bosques, que sob influencia dos mesmos, apresentou-se arrefecido e úmido nos três
horários do dia.

175
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.24 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 2.

176
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 3
A Figura 6.25 apresenta as médias horárias de temperatura e umidade do ar das
manchas de usos e ocupação do solo da Zona 3 (Centro) onde há o Bosque dos Jequitibás.
Às 9:00h o trecho urbano próximo ao bosque foi o local menos aquecido dentre as manchas
de uso e ocupação que compõem a Zona 4, com temperatura do ar 1,4 oC abaixo da média.
Contudo, a umidade absoluta esteve 0,3 g/m3 abaixo da média.
Com o aquecimento geral da área central e diminuição na umidade absoluta do ar,
verificou-se que às 15:00h a fronteira com o bosque permaneceu arrefecida, com
temperatura do ar 0,5 oC abaixo da média. O trecho urbano fronteiriço a um sistema de
lazer, próximo do fundo de vale, e a via sobre o canal na Av. Orozimbo Maia, também
mostraram-se arrefecidos. Já, as quadras ao longo da Av. Francisco Glicério, altamente
verticalizada e com baixa abertura para o céu, estiveram aquecidas neste horário, com
temperatura do ar 0,4 oC mais elevada do que a média. Por outro lado, a umidade absoluta
do ar, neste trecho verticalizado, apresentou-se mais elevada do que nos locais mais
abertos, tais como na fronteira bosque-centro e na avenida sobre o canal, indicando intensa
evaporação em áreas mais expostas à radiação solar.
Às 21:00h houve uma inversão no comportamento térmico das manchas de usos do
solo presentes ao longo do trajeto. Verificou-se o sobreaquecimento da fronteira bosque-
centro, com temperatura do ar 1 oC superior à média, enquanto o “core” da área central
apresentou temperatura do ar 0,5 oC inferior à média. Porém, o trecho fronteiriço ao
bosque esteve mais úmido que a área verticalizada, com uma diferença na umidade absoluta
do ar alcançando 0,5 g/m3. Notou-se uma tendência no aumento da umidade absoluta do ar
em direção ao fundo de vale.
Não é conclusivo que a presença do bosque na zona central seja responsável pelo
arrefecimento da área urbana de aproximação. No entanto, ao calcular a diferença térmica
entre este trecho e o “core” da zona central, constatou-se que: às 9:00h a temperatura do ar
apresentou-se 1 oC mais baixa na fronteira com o bosque; às 15:00h a diferença térmica
passou para 0,4 oC; e às 21:00h houve um sobreaquecimento da zona de aproximação ao
bosque, com temperatura do ar 0,8 oC mais elevada que o “core”. Isso representa uma ilha
de calor, nas imediações do Bosque dos Jequitibás, com intensidade de 2,9 oC.

177
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.25 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 3.

178
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 4
A Figura 6.26 apresenta as médias horárias de temperatura e umidade do ar das
manchas de usos e ocupação do solo da Zona 4, local onde encontram-se o Bosque São
José e o Bosque dos Guarantãs. Esta zona sofreu a influência de duas áreas distintas: o
primeiro trecho, que parte da fronteira com a Zona 3 e vai até o trecho próximo ao
Cemitério da Saudade, esteve sob influência da massa de ar aquecida do Centro; o segundo
trecho que parte do Bosque dos Guarantãs em direção à Valinhos, esteve sob influência da
massa de ar fria da zona rural.
Analisando o primeiro trecho, verificou-se que a fronteira do Bosque São José
apresentou-se mais arrefecida e úmida do que as áreas de transição para a zona central, que
são ocupadas por edifícios altos e casas. Destaca-se que às 21:00h a diferença térmica entre
a fronteira com o Bosque dos Jequitibás (Zona 3) e a fronteira com o Bosque São José
(Zona 4) foi de 2,1 oC, indicando maior intensidade das ilhas de calor no fragmento florestal
próximo da zona central.
A fronteira casas-bosque mostrou-se mais arrefecida e úmida que o trecho urbano
percorrido sobre uma avenida implantada em fundo de vale, que conecta o Bosque São José
e o Bosque dos Jequitibás. Isso mostra que a verticalização favoreceu o aquecimento do ar.
Às 9:00h, a diferença térmica entre estes locais foi de 0,3 oC, e a diferença de umidade
absoluta do ar foi de 0,2 g/m3; às 15:00h, a diferença térmica passou para 0,2 oC, e a
umidade absoluta do ar entre os dois trechos igualaram-se; às 21:00h verificou-se uma
diferença térmica de 0,5 oC e de umidade absoluta do ar de 0,2 g/m3.
Comparando a fronteira casas-bosque com a área composta por cemitério e gal-
pões, verificou-se que a diferença mais significativa ocorreu às 21:00h, quando a área pró-
xima ao cemitério apresentou temperatura do ar 0,5 oC inferior à da fronteira com o bosque.
Comparando a fronteira do Bosque São José com a média da Zona 4, verificou-se
que o local esteve mais úmido 0,3 g/m3 às 9:00h, com temperatura do ar igual à média; às
15:00h a temperatura do ar esteve 0,1 oC abaixo da média e a umidade absoluta do ar 0,1
g/m3 acima da média; e às 21:00h a fronteira esteve mais aquecida 0,3 oC, e mais úmida
0,2g/m3.
O trecho composto por edificações mistas, distante entre 700 e 900 m do Bosque

179
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

São José, apresentou-se mais frio e mais seco que a média da Zona 4, com as seguintes
diferenças: às 9:00h a temperatura do ar esteve 0,9 oC abaixo da média e a umidade
absoluta do ar, 0,5 g/m3 abaixo da média da Zona 4; às 15:00h, a diferença foi de 0,2 oC e
0,2 g/m3 ; e às 21:00h a diferença foi de 0,2 oC e 0,1 g/m3. No entanto, não foi possível
atribuir a mitigação térmica à presença do Bosque São José, visto este trecho urbano está
situado na vertente oposta ao bosque, tendo o cemitério como divisor de águas. Assim, é
mais provável que este trecho com edificações mistas tenha sido influenciado pelo
cemitério, tendo em vista que a umidade do ar encontrava-se abaixo da média esperada.
Partindo do fundo de vale em direção ao Bosque dos Guarantãs, observou-se um
aumento na temperatura do ar. Neste caso, o bosque ocupava o topo da vertente analisada,
deslocando o ar arrefecido e úmido para o fundo de vale. No entanto, a presença do sistema
de lazer junto ao bosque não favoreceu o arrefecimento do seu entorno. Apesar da presença
do lago e do córrego, este local está coberto por extenso gramado, areia e quadras
esportivas pavimentadas, provocando o aquecimento e aridez do ar local.
A fronteira do Bosque dos Guarantãs apresentou temperatura do ar 0,1 oC superior à
média da Zona 4, às 9:00h e às 15:00h. Já às 21:00h, a temperatura do ar diminuiu,
apresentando-se 0,4 oC inferior à média. A umidade absoluta do ar diferenciou-se +0,1
g/m3da média. Apesar do resfriamento noturno, possivelmente causado pelos dos ventos
provenientes da zona rural, verificou-se que as casas distantes entre 800-1500 m do bosque
estiveram mais frias do que a fronteira com o bosque, constatando-se as seguintes
diferenças: 0,2_oC às 9:00h, 0,1 oC às 15:00h e 0,7 oC às 21:00h. Isso representa uma
diferença térmica em relação à média de 1,1 oC e um aumento na umidade absoluta do ar de
0,7 g/m3, indicando uma ação conjunta entre o bosque e da massa de ar rural no
resfriamento destas quadras.
O sistema de lazer, distante a 1500 m do Bosque dos Guarantãs, apresentou
temperatura do ar 1,4 oC mais baixa do que a média geral da zona, no horário noturno, o
que deve ser causa da baixa abertura do dossel, aumentando a taxa de resfriamento. No
entanto, a área rurbana, que contém um pequeno fragmento de vegetação, esteve mais
aquecida neste horário, possivelmente devido às características construtivas do entorno
próximo, onde há um maior número de galpões.

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CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

181
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

(a)
Figura 6.26 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 4. (a) Trecho 1 – Bosque São José;
(b) Trecho 2 – Bosque dos Guarantãs.

182
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

(b)

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CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Zona 5
A Figura 6.27 apresenta as médias horárias de temperatura e umidade do ar das
manchas de usos e ocupação do solo da Zona 5, onde encontra-se o Bosque da Paz.
Verificou-se que a fronteira bosque-casas sofreu um aquecimento de 0,2 oC nos três
horários do dia, em relação à média que representa a Zona 5, e a umidade absoluta do ar
apresentou-se mais elevada 0,3 g/m3, às 15:00h. Já na fronteira do bosque com uma área
institucional a temperatura do ar mostrou-se mais amena (0,1 oC mais baixa às 9:00h e
21:00h) e umidade absoluta um pouco superior à média às 15:00h (0,2 g/m3).
Na Zona 5, existiam dois trechos com quadras residenciais – o primeiro estava mais
próximo do shopping e da rodovia e o segundo adentrava a malha urbana consolidada da
cidade. Ambos tinham certa aproximação com cursos d’água. Ao compará-los, verificou-se
que o trecho próximo ao shopping apresentou-se mais aquecido e mais úmido, com as
seguintes diferenças em relação à área urbana próxima do bosque: 0,5_oC e 1,8 g/m3 às
9:00h; 0,4 oC e -0.7 g/m3 às 15:00h; 0,2 oC e 1,4 g/m3 às 21:00h. Apesar destas diferenças,
ambos os locais apresentaram temperatura do ar igual ou inferior à rua fronteiriça ao
bosque.
Às 15:00h o trecho próximo do Ribeirão das Anhumas esteve mais aquecido que as
demais manchas de usos da Zona 5, com uma diferença térmica de 0,5 oC em relação à
média. Considera-se que a ausência de um reflorestamento adequado de suas margens, a
urbanização e a área de gramado presente no sistema de lazer no Bosque da Paz ,
contribuíram para o aquecimento deste fundo de vale. Assim, o corpo d’água foi
insuficiente para diminuir o fluxo de calor proveniente do solo exposto, gramado e
materiais construtivos no período da tarde.
Outro fenômeno observado foi o aquecimento do ar no interior do Bosque da Paz às
21:00h (na altura de 1,5 m), com temperatura do ar 1,7 oC superior à média dos pontos da
Zona 5, diferentemente das demais zonas analisadas 11. Este fenômeno pode ser atribuído à

11
Ressalta-se que os monitoramentos microclimáticos no interior dos bosques
foram realizados no mesmo período das medidas móveis em área urbana.

184
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

obstrução das ondas longas pelo dossel florestal e ao resfriamento da área urbana no
período noturno.
Portanto, constatou-se que a Zona 5 sofreu grande influência do ambiente rural, com
intenso aquecimento da área urbana no período da tarde e resfriamento noturno, diminuindo
o efeito Bosque da Paz sobre o entorno edificado.

185
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.27 – Diferenças térmicas e de umidade do ar na Zona 5.

186
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Diferenças térmicas entre os fragmentos florestais e as zonas urbanas


Comparando-se os dados que representam o microclima dos fragmentos florestais
urbanos, a 1,5 m do solo, às médias horárias das cinco zonas correspondentes,
identificaram-se as seguintes diferenças térmicas (ΔTf-u), mostradas na Tabela 6.12.

Tabela 6.11 – Diferença térmica entre os fragmentos florestais e urbanos e as zonas urbanas em que
se inserem. Medidas fixas realizadas a 1,5 m (fragmentos) e medidas móveis estimadas para a altura
de 10 m (área urbana).
Hora Diferença térmica floresta-área urbana - ΔTf-u [oC]
MSG ITA ALE S. JOSÉ GUA PAZ
9:00h -0,6 -1,7 -2,5 -0,3 0,5 -1,0
15:00h -3,9 -3,8 -3,6 -4,1 -3,7 -4,2
21:00h -0,4 -0,7 -0,8 -0,1 -0,4 1,7

Verificou-se que às 9:00h, a maior ΔTf-u ocorreu entre os pontos urbanos da Zona 2
e o Bosque dos Alemães, em 2,5 oC. Neste horário, ao contrário dos outros fragmentos
florestais, o Bosque dos Guarantãs estava 0,5 oC mais aquecido que a Zona 4, em que se
insere. Às 15:00h, as diferenças térmicas se assemelharam entre as áreas, variando entre 3,6
o
C (entre a Zona 2 e o Bosque dos Alemães) e 4,2_oC (entre a Zona 5 e o Bosque da Paz).
Às 21:00h a maior diferença térmica ocorreu novamente entre a Zona 2 e o Bosque dos
Alemães, em 0,8 oC. O Bosque da Paz foi o único que apresentou aquecimento noturno,
com temperatura do ar 1,7 oC mais elevada do que a média dos pontos urbanos da Zona 5.

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CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Diferenças higrotérmicas intra-urbanas em função do distanciamento de fragmentos


florestais
Foram calculadas as diferenças térmicas intra-urbanas, a intensidade das ilhas de
calor noturnas e as diferenças na umidade absoluta do ar intra-urbanas, decorrentes do
distanciamento dos fragmentos florestais. Os resultados de cada zona de estudo são
apresentados na Figura 5.28.
Na Zona 1 (UCZ 5 fronteiriça à UCZ 7, segundo a classificação de Davenport et al.,
2000) onde localiza-se um fragmento florestal com área de 250,36 ha, foi constatado:
• um aquecimento na rua fronteiriça com a Mata de Santa Genebra, intensificado na
presença de gramado e atenuado na aproximação de corpo d’água, com uma
diferença máxima, entre estas situações, de 0,8_oC, no horário noturno. A ilha de
calor neste local às 21:00h teve intensidade de 1,7 oC;
• decréscimo na temperatura do ar do ambiente urbano conforme aproximação da
mata, constatando-se uma diminuição de 0,4_oC na temperatura do ar, em relação à
média da zona, às 21:00h, na extensão de 800 m. A diferença térmica máxima em
relação ao trecho mais distante (4.500m) foi de 1,4 oC;
• aumento na umidade absoluta do ar do ambiente urbano decorrente da aproximação
da mata, com diferença máxima de 1,4 g/m3, sendo que trecho mais árido está
distante 1.600_m da mata e é composto por galpões industriais.

Na Zona 2 (UCZ 3 fronteiriça à UCZ 1) onde localizam-se dois fragmentos


florestais, distantes a 500 m entre si, com áreas de 1,5 ha e 2,0 ha, foi constatado:
• estabilidade térmica nas ruas fronteiriças aos bosques, apresentando, no entanto,
ilhas de calor às 21:00h com intensidade de ~2,2 oC.
• o arrefecimento e estabilidade térmica da área urbana localizada entre os dois
fragmentos florestais, na extensão de 250 m (distância dos pontos a um dos dois
fragmentos) com diminuição da temperatura do ar em ~2,5 oC nos três horários do
dia, e aumento sutil da umidade absoluta do ar, em até 0,23 g/m3, às 21:00h;
• diminuição da temperatura do ar na área urbana à jusante dos dois bosques,
intensificada na aproximação de um fundo de vale, pela manhã e noite. Às 9:00h a

188
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

diferença térmica entre o ponto mais elevado do terreno e o ponto mais baixo foi de
1,6 oC, em 1.200 m de distância.
• diminuição da temperatura do ar do ambiente urbano, às 15:00h, provocada
conjuntamente pela aproximação do fragmento florestal e distanciamento da
fronteira com o Centro, alcançando uma diferença térmica de 1,8 oC em 800 m.
Na Zona 3 (UCZ 1 fronteiriça à UCZ 3, segundo a classificação de Davenport et al.,
2000) onde localiza-se um fragmento florestal com área de 10,5 ha, foi constatado:
• aquecimento gradativo dos trechos próximos ao fragmento florestal, ao longo do
dia. A avenida larga com edifícios altos favoreceu o aquecimento das superfícies à
tarde, intensificando as ilhas de calor às 21:00h, que atingiu 2,9 oC no trecho viário
e 3,6 oC na fronteira do Bosque dos Jequitibás;
• mesmo diante de intenso aquecimento, observou-se o aumento da umidade do ar na
aproximação do fragmento florestal às 21:00h;
• aumento da umidade absoluta do ar na área urbana em decorrência da aproximação
do fundo de vale nos três horários do dia.

Na Zona 4 (UCZ 3 fronteiriça à UCZ 1, no trecho inicial, e à UCZ 7, no trecho


final, segundo a classificação de Davenport et al., 2000) onde localizam-se dois fragmentos
florestais, distantes a 2.000 m entre si, com áreas de 3,36 ha e 3,3 ha, foi constatado:
• diminuição sutil da temperatura do ar e aumento da umidade absoluta do ar em
decorrência da aproximação do fragmento florestal urbano e distanciamento do
Centro, atingindo 0,3 oC e 0,23 g/m3 às 21:00h;
• diferença térmica de 0,7 oC às 21:00h entre as fronteiras dos dois bosques,
decorrente presença de curso d’água e distanciamento da UCZ 1 (centro);
• diminuição na umidade absoluta do ar na fronteira com bosque, cujo entorno
apresenta áreas abertas e gramadas, em até 0,33 g/m3;
• diminuição da temperatura do ar e aumento da umidade absoluta do ar em área
urbana residencial sob influência da UCZ 7 (rural), com diminuição na intensidade
da ilha de calor noturna em 0,8 oC quando comparada ao trecho residencial
localizado entre os dois fragmentos florestais.

189
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Na Zona 5 (UCZ 3 fronteiriça à UCZ 7, segundo a classificação de Davenport et al.,


2000) onde localiza-se um fragmento florestal com área de 4,0 ha, foi constatado:
• não ocorrência de ilha de calor noturna, com temperaturas do ar inferiores ao
ambiente rural às 21:00h. Este resfriamento deve ser causado conjuntamente pela
proximidade da UCZ 7 e incidência de ventos regionais SE sobre a zona urbana em
análise, presença do fragmento florestal e de cursos d’água;
• diminuição da temperatura do ar decorrente da aproximação do fragmento florestal
urbano e de superfície d’água presente da mata, concomitante ao distanciamento da
rodovia, com uma diferença térmica de 0,6 oC em relação à fronteira da área verde,
na extensão entre 100-750 m;
• efeito de resfriamento provocado, possivelmente pelo fragmento florestal, no
entorno edificado na extensão de 400 m, com diminuição da temperatura do ar em
até 0,5 oC, às 9:00h, em relação à fronteira do Bosque da Paz, que apresentava-se
mais aquecida;
• aumento na umidade absoluta do ar diante da aproximação do fragmento florestal,
exceto às 21:00h. O mesmo foi observado na área urbana distante a 750 m do
fragmento, decorrente da aproximação de corpo d’água.

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CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

191
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

COLUNA I COLUNA II

Figura 6.28 – Gradiente térmico e de umidade do ar provocado pelo distanciamento de fragmentos


florestais urbanos. Resultados de monitoramentos móveis em cinco zonas urbanas de
Campinas-SP. (Coluna I) Diferença entre a temperatura do ar dos pontos e a
temperatura do ar média da zona de referência (oC). Ilha de calor às 21:00h calculada
através da diferença da temperatura do ar nos pontos e a temperatura do ar na zona
rural, segundo dados da estação meteorológica do CEPAGRI) ; (Coluna II) Diferença
entre a umidade absoluta do ar dos pontos e a umidade absoluta do ar média da zona de
referência (g/m3). Zonas indicadas na figura.

192
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

COLUNA I COLUNA II

193
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

6.3.5 Percentual de área de floresta em relação à área total urbanizada para


a modificação do clima local urbano

Como foi constatado, houve uma influência na temperatura e umidade do ar local em


decorrência da aproximação dos fragmentos florestais que, no entanto, variam com o
padrão de ocupação urbana e com o padrão da fronteira. Assim, as zonas urbanas puderam
ser dividas de acordo com o padrão da zona climática urbana (UCZ) e padrão da fronteira,
como mostra a Figura 5.29.

Figura 6.29 – Diferenciação de zonas urbanas, para análise do clima local sob influência de
fragmentos florestais e da fronteira. UCZ – zona climática urbana, segundo Davenport
et al. (2000).

A UCZ 1 fronteiriça com a UCZ 3 envolve a Zona 3 – Centro (Bosque dos


Jequitibás); na UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 1 agrupou-se os dados da Zona 2 – Castelo
(Bosque dos Italianos e Bosque dos Alemães), e parte da Zona 3 – Jardim Proença (Bosque
São José, até o limite do cemitério da Saudade) e Jardim Nova Europa (Bosque dos
Guarantãs, descartando-se o trecho em direção à Valinhos); a UCZ 3 fronteiriça com a
UCZ 7 abrange parte da Zona 3 (trecho em direção à Valinhos) e a Zona 5 – Vila Madalena

194
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

(Bosque da Paz); e a UCZ 5 fronteiriça com a UCZ 7 envolve a Zona 1 – Bosque de Barão
(Mata de Santa Genebra).
Calculou-se o percentual de cobertura florestal relativo ao total de área urbanizada
para cada uma destas quatro UCZs, com base nas diferenças térmicas e de umidade do ar
decorrentes da distância de um fragmento florestal. O método de cálculo destes percentuais
é apresentado na Figura_6.30. Para tanto, supõem-se que a influência da floresta no clima
urbano seja igual em todas as direções do círculo. A simplificação na análise foi necessária
para a confirmação ou refutação da hipótese.

Figura 6.30 – Esquema de cálculo do percentual de reserva florestal em relação à área urbanizada.
1- equação de área de um círculo; 2 – relação entre a área verde e a área
urbanizada.

Assim, quando A.V. = A.U., tem-se 100% de porcentagem de área florestal; quando
A.U. é muito superior à A.V., o percentual de área florestal tende a zero. O percentual
aumenta com a aproximação do ponto urbano ao fragmento florestal e com a área do
fragmento. Estes percentuais foram calculados para grupos de pontos com as seguintes
distâncias médias [d] da fronteira com a floresta: 100m; 200m; 400m; 600m; 800m;
1000m; 1200m; 1400m. A distância de 100m abrange os pontos das ruas fronteiriças aos
fragmentos, entre 0-100m; a distância de 200m abrange pontos localizados entre 100 –
200m da fronteira do fragmento, e assim por diante. As maiores distâncias só foram

195
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

calculadas quando não havia co-influência de mais de um fragmento florestal sobre os


pontos urbanos, ou seja, quando a distância entre 2 ou mais fragmentos era maior que a
distância do ponto ao fragmento mais próximo.
A diferença térmica intra-urbana e de umidade absoluta do ar de pontos em relação
à média que representa a UCZ correspondente (ΔTp-UCZ; ΔUAp-UCZ), foi correlacionada à
porcentagem de cobertura florestal, como apresentado nas Figuras 6.31 a 6.35.

196
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.31 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média das variáveis da
UCZ 1 fronteiriça com a UCZ 3 em função do percentual de área florestal em relação
à área total urbanizada [%].
A – Diferenças térmicas [oC] às 9:00h, 15:00h e 21:00h; B Diferenças na umidade absoluta do ar [g/m3] às 9:00h,
15:00h e 21:00h; C - Intensidade da ilha de calor [oC] às 21:00h, considerando a temperatura do ar da zona rural (dados
da estação meteorológica do CEPAGRI); D– média dos três horários das diferenças térmicas e de umidade absoluta do
ar. Linha tracejada corresponde à média da UCZ correspondente.

197
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.32 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média das variáveis da
UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 1 em função do percentual de área florestal em relação
à área total urbanizada [%].
A – Diferenças térmicas [oC] às 9:00h, 15:00h e 21:00h; B Diferenças na umidade absoluta do ar [g/m3]
às 9:00h, 15:00h e 21:00h; C - Intensidade da ilha de calor [oC] às 21:00h, considerando a temperatura do
ar da zona rural (dados da estação meteorológica do CEPAGRI); D– média dos três horários das
diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar. Linha tracejada corresponde à média da UCZ
correspondente.

198
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.33 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média das variáveis da
UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 7 em função do percentual de área florestal em relação
à área total urbanizada [%].
A – Diferenças térmicas [oC] às 9:00h, 15:00h e 21:00h; B Diferenças na umidade absoluta do ar [g/m3]
às 9:00h, 15:00h e 21:00h; C - Intensidade da ilha de calor [oC] às 21:00h, considerando a temperatura do
ar da zona rural (dados da estação meteorológica do CEPAGRI); D– média dos três horários das
diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar. Linha tracejada corresponde à média da UCZ
correspondente.

199
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Figura 6.34 – Diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar em relação à média das variáveis da
UCZ 5 fronteiriça com a UCZ 7 em função do percentual de área florestal em relação
à área total urbanizada [%].
A – Diferenças térmicas [oC] às 9:00h, 15:00h e 21:00h; B Diferenças na umidade absoluta do ar [g/m3]
às 9:00h, 15:00h e 21:00h; C - Intensidade da ilha de calor [oC] às 21:00h, considerando a temperatura do
ar da zona rural (dados da estação meteorológica do CEPAGRI); D– média dos três horários das
diferenças térmicas e de umidade absoluta do ar. Linha tracejada corresponde à média da UCZ
correspondente.

200
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Na UCZ 1 fronteiriça com a UCZ 3 (Figura 6.31-A) , observou-se a redução


gradativa da temperatura do ar com o aumento do percentual de área florestal em relação ao
total urbanizado às 9:00h. Nos demais horários, o efeito de resfriamento não foi evidente,
observando-se, ao contrário, uma tendência ao aquecimento com o aumento do percentual
de cobertura florestal às 21:00h, que deve-se à mudança da geometria urbana. Às 15:00h os
valores interquartis das diferenças térmicas estiveram abaixo da média (referência zero)
somente com 42% de A.V./A.U. Neste horário, com 10% de A.V./A.U. os valores
interquartis ainda estiveram acima da média, indicando que este percentual de floresta não
seria suficiente para arrefecer o centro urbano.
Verificou-se baixa capacidade do fragmento em elevar a umidade absoluta do ar em
função do percentual de A.V./A.U (Figura 6.31-B). Houve um ligeiro aumento somente
com 42% de área de floresta às 15:00h e 21:00h.
As diferenças higrotérmicas na UCZ 1 também foram ocasionadas pela
aproximação / distanciamento da UCZ 3 e pelas diferenças na geometria urbana (relação
H/D). Como mostra a Figura 6.35, a avenida próxima ao fragmento florestal apresentava
uma relação H/W bastante inferior à avenida que representa o “core” da UCZ 1. O
aumento da abertura para o céu implicou no aumento das superfícies expostas à radiação
solar, elevando a temperatura do ar às 15:00h e às 21:00h nos arredores do fragmento
florestal, e intensificando a ilha de calor (Figura 6.31-C). Apesar da baixa relação H/W
facilitar as trocas térmicas e acelerar a perda de calor para a atmosfera, o fluxo de calor do
centro em direção a este trecho urbano e o superaquecimento das áreas extensas de asfalto
não colaboraram para que houvesse o resfriamento do ar.
Apesar disso, as médias das diferenças térmicas diárias (Figura 6.31-D) indicam que
houve uma diminuição da temperatura e aumento da umidade do ar em função do aumento
de A.V./A.U. Com cerca de 4% de área de floresta sobre o total urbanizado a temperatura
do ar já se apresentou abaixo da média, e com de 20% iniciou-se o aumento da umidade do
ar. A distância dos pontos urbanos em relação à fronteira do fragmento florestal (área igual
a 10,5 ha) é de aproximadamente 400 m, para 4% de A.V./A.U., e de 200 m, para 20% de
A.V./A.U. , mostrando um efeito térmico limitado às imediações do fragmento florestal.

201
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Provavelmente, a diminuição da abertura para o céu do trecho imediato ao fragmento


florestal seria favorável à mitigação da temperatura.

D D

Figura 6.35 – Perfis viários em zona urbana central (UCZ 1) com diferentes razões entre a altura das
edificações (H) e a distância entre elas (D). (A) Avenida Aquidabã, na aproximação de
um fragmento florestal; (B) Avenida Francisco Glicério (“core” da UCZ 1), ambas em
Campinas-SP. Fonte das fotografias: Street View do Google Earth, 2011.

Na UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 1 (Figura 6.32), as diferenças térmicas e de


umidade devido ao aumento do percentual de A.V./A.U. nos três horários analisados não
foram evidentes, possivelmente devido à pequena dimensão dos fragmentos florestais (área
entre 1,5 – 3,36 ha). Porém, notou-se a diminuição gradativa da temperatura do ar máxima
às 21:00h, reduzindo a intensidade da ilha de calor em função do aumento do percentual de
floresta (Figura 6.32-C). As médias térmicas diárias (Figura 6.32-D) indicam que o efeito
efetivo da floresta sobre o entorno ocorreu com 15% de A.V./A.U., observando-se, a partir
deste percentual, o aumento da umidade absoluta do ar conjuntamente com a diminuição da
temperatura do ar. A oscilação verificada com percentual mais baixo de área de floresta
(10%) deve-se a ocorrência de outros elementos que provocaram anomalias no clima local

202
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

(ex. fundos de vale), visto que houve, em seguida, elevação da temperatura e diminuição da
umidade do ar. O pico de máxima umidade e temperatura mínima ocorreu com cerca de
20% A.V./A.U. Este percentual representa pontos urbanos distantes entre 100-200m de
pequenos fragmentos florestais, o que mostra a formação de ilhas de frescor limitadas à
ambiência do quarteirão em pequenos fragmentos florestais.
Na UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 7 (Figura 6.33) verificou-se uma tendência na
diminuição da temperatura do ar mínima a partir de 5% de A.V./A.U., às 9:00h. Já às
15:00h, houve uma redução na temperaturas máximas, e às 21:00h nota-se um efeito de
resfriamento mais efetivo com o aumento do percentual de área de floresta. O efeito pode
ser observado tanto pelas diferenças térmicas em relação à média da UCZ 3 (Figura 6.33-
A) como pela diminuição da ilha de calor (Figura 6.33-C). O aumento da umidade absoluta
do ar foi mais visível no horário noturno (Figura 6.33-B).
Apesar da zona rural mostrar-se mais fria do que as áreas urbanas próximas do
fragmento florestal, às 9:00h e às 21:00h, esta apresentou-se menos úmida a noite.
Possivelmente, a baixa umidade deve-se a presença da rodovia, shopping, e predomínio de
áreas de pasto. Assim, pode-se afirmar que o clima local foi modificado conjuntamente
pelo distanciamento da zona rural e aproximação da mata.
As diferenças higrotérmicas médias diárias (Figura 6.33-D) mostram que o efeito
conjunto do arrefecimento e elevação da umidade do ar ocorreu com cerca de 4,5% de
A.V./A.U. A temperatura do ar esteve abaixo da média a partir de 10% de área de floresta,
e um efeito mais efetivo do fragmento florestal sobre o entorno construído iniciou-se com
13% de A.V./A.U., observando-se valores de umidade absoluta do ar acima da média.
Na UCZ 5 fronteiriça com a UCZ 7 (Figura 6.34) também constatou-se a
influência conjunta do distanciamento da zona rural e aumento da porcentagem de
A.V./A.U. Às 9:00h e às 15:00h houve uma pequena redução nos valores máximos da
temperatura (Figura 6.34-A). Porém, às 21:00h houve uma tendência ao aumento dos
valores máximos e diminuição dos valores mínimos, aumentando a amplitude dos dados, o
que deve ter sido causa da presença de manchas de usos do solo diversificadas ao redor do
fragmento florestal (ex. gramado, casas, fundo de vale). Isto ocasionou na ocorrência de

203
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

ilhas de calor de várias intensidades (Figura 6.34-C) e, inclusive, de pontos com


temperaturas mais baixas que a zona rural.
No horário noturno foi evidente a elevação da umidade absoluta do ar em função do
aumento de A.V. / A.U. Nos demais horários, o aumento dos valores máximos de umidade
foi sutil.
A média diária das diferenças térmicas (Figura 6.34 -D) mostra grande estabilidade
térmica com percentual de A.V. / A.U maior que 18%, o que indica uma possível ação da
mata de grande dimensão (250,36 ha) no entorno edificado (equivalente à extensão de 1200
m). No entanto, a temperatura esteve abaixo da média somente com mais de 36% de área de
floresta (equivalente à extensão de 600 m), momento em que se observa o início do
aumento da umidade absoluta do ar. Essa atingiu valores acima da média somente com
mais de 50% de A.V. / A.U. (pontos distantes 400 m ou mais próximo da mata).
Apesar das diferenças higrotérmicas intra-urbanas se diferenciarem entre os três
horários analisados, as médias diárias das diferenças térmicas e de umidade (gráficos de
linha), possibilitaram identificar um comportamento entre as áreas. Em todos os casos,
observou-se uma tendência de redução da temperatura do ar e aumento da umidade
absoluta do ar com o aumento do percentual de área de floresta, exceto na fronteira dos
fragmentos florestais, onde pode ocorrer um pequeno aquecimento. A intensidade do efeito
variou entre as UCZs, possivelmente em decorrência da dimensão dos fragmentos
florestais.
Considerando que o efeito dos fragmentos sobre o entorno edificado seja
identificado pela redução da temperatura do ar concomitante ao aumento da umidade
absoluta do ar, foi possível identificar os seguintes percentuais de floresta urbana para que
se observe um efeito no clima local (Tabela 6.13).

204
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Tabela 6.12 - Percentuais mínimos de floresta sobre em relação à área total urbanizada para a
modificação do clima local.
Porcentagem mínima para
Padrão da paisagem e da que a temperatura do ar
fronteira Porcentagem mínima em esteja abaixo da média e para
(UCZ Segundo Davenport et al., que o efeito é iniciado que a umidade absoluta do ar
2000) esteja acima da média da
UCZ correspondente

UCZ 1 fronteiriça com a UCZ 3 20% + que 40%

UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 1 15% ~20%

UCZ 3 fronteiriça com a UCZ 7 4% 13%

18% (estabilidade térmica)


UCZ 5 fronteiriça com a UCZ 7 30% (inicia-se o aumento da 50%
umidade absoluta do ar)

6.4 Síntese dos resultados e comentários finais

Os fragmentos florestais urbanos atuam sobre o clima local, diminuindo


temperatura do ar e elevando a umidade absoluta do ar do entorno edificado. O efeito pode
ser expresso em termos de magnitude (o quanto varia em relação à média esperada para
uma zona climática urbana - UCZ) e de extensão (como e até aonde varia no espaço).
Alguns fatores podem intensificar ou minimizar o efeito das florestas sobre o clima urbano,
tais como: o horário do dia, a condição de tempo e número de dias sem chuva, o padrão de
ocupação urbana e da fronteira da zona urbana analisada, o tamanho e a forma do
fragmento florestal, a topografia, dentre outros.
A análise de dados de temperatura e umidade do ar, obtidos por meio móvel,
permitiu identificar que as diferenças térmicas intra-urbanas são acentuadas com baixa
umidade relativa do ar. Nesta condição, houve um maior contraste entre as ruas fronteiriças
aos fragmentos florestais urbanos e os bairros circunvizinhos.
Após o sexto dia de estiagem, sob condição de tempo estável, baixa nebulosidade e
ventos fracos, observou-se uma diferença térmica máxima de 4,7_oC, na UCZ 5 fronteiriça
à UCZ 7 (zona residencial de baixa densidade e desenvolvimento fronteiriça com a zona

205
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

rural). A diferença máxima na umidade absoluta do ar foi de 3,6 g/m3, nas UCZs 3 e 5
fronteiriças à UCZ 7 (zona residencial de média e baixa densidade fronteiriças com a zona
rural). Os pontos mais aquecidos e áridos estavam sobre as rodovias e os mais frios e
úmidos encontravam-se ao lado dos fragmentos florestais, próximos de superfícies d’água.
As áreas abertas, com baixa relação H/W (altura dos elementos sobre o
distanciamento entre eles), tais como gramados, terra exposta, rodovias, avenidas largas,
vales sem área de preservação permanentes, mostraram-se intensamente aquecidas,
diminuindo e /ou anulando o efeito dos fragmentos florestais sobre o clima local urbano. A
diferença térmica entre pontos fronteiriços à Mata de Santa Genebra (250,36 ha), próximos
de um gramado e de um corpo d’água vegetado, foi de 0,8_oC, no horário noturno. Em uma
zona de alta densidade e verticalização, a geometria do cânion urbano com baixa relação
H/W acarretou o aquecimento gradativo e intenso da região ao longo do dia, intensificando
as ilhas de calor às 21:00h. Diante disso, recomenda-se evitar a implantação de ruas largas
e com tráfego intenso, áreas de sistemas de lazer pouco arborizadas, áreas agrícolas, areia
ou terra exposta, junto aos fragmentos florestais urbanos.
As massas de ar arrefecidas pelos fragmentos florestais urbanos tenderam a
acumular-se nos fundos de vale. Assim, pontos situados em nível abaixo das florestas
apresentaram-se mais arrefecidos e úmidos que os situados acima, com uma diferença de
até 1,6 oC entre o ponto mais elevado do terreno e o ponto mais baixo, em direção ao fundo
de vale. No entanto, a proximidade dos centros urbanos mostrou-se desfavorável ao
resfriamento do entorno edificado aos fragmentos florestais urbanos, principalmente à tarde
e à noite, mesmo em regiões próximas de fundos de vale. Presume-se que o bom estado de
conservação das margens dos córregos e dos espigões contribua para o arrefecimento das
cidades.
Comparando-se a temperatura do ar nas fronteiras dos fragmentos florestais às
médias térmicas urbanas, constatou-se o seguinte comportamento: temperaturas moderadas
(interquartis) às 9:00h; temperaturas moderadas à frias às 15:00h (interquartis ou inferiores
ao 1º quartil); temperaturas moderadas à quentes às 21:00h, (interquartis ou superiores ao
3º quartil). Portanto, as florestas urbanas configuram ilhas de frescor durante o dia e ilhas
de calor à noite.

206
CAPÍTULO 6 Temperatura e umidade do ar local: influência do padrão de uso e ocupação do solo e proximidade de um
fragmento florestal

Identificou-se comportamento semelhante nas variáveis climáticas diante do


aumento do percentual de área de floresta sobre a área total urbanizada, com redução da
temperatura do ar concomitante à elevação de umidade absoluta do ar, o que possibilitou
encontrar porcentagens de área de floresta/total urbanizado (A.U. / A.V.) para cada UCZ
capazes de modificar o clima local. No entanto, estas porcentagens podem variar diante da
presença de elementos, com diferentes capacidades térmicas, presentes na microescala. Em
geral, verificou-se que a porcentagem mínima de 20% de A.U. / A.V. possibilita observar
algum efeito no clima local de qualquer padrão de ocupação urbana, o que significa o início
da diminuição da temperatura do ar e aumento da umidade absoluta do ar. Porém, para uma
mudança efetiva do clima local (umidade acima e temperatura abaixo da média esperada)
os percentuais deveriam ser bem maiores. A pior situação ocorre em áreas urbanas com
grandes porções de terra exposta bem como em áreas centrais verticalizadas, necessitando-
se de 40-50% de área de floresta para que se observem níveis de umidade acima da média
esperada.
Em linhas gerais, observou-se que a extensão do efeito da floresta urbana sobre o
entorno construído é igual ao diâmetro de uma circunferência com área equivalente à da
floresta, ou, no caso de áreas com formato irregular, o efeito equivale à aproximadamente à
sua largura média. Isso significa que os fragmentos com a dimensão de um quarteirão
provocam um efeito limitado à extensão de 100-200 m. Uma situação favorável foi
observada em área urbana sob a influência de dois fragmentos florestais. Neste caso, a
extensão do efeito aumentou para cerca de 1,5 vezes o diâmetro da circunferência que
representa a área média dos fragmentos.
Portanto, as áreas verdes irregulares, comumente existentes no tecido urbano (áreas
em forma de tiras, fatias, etc.) desfavorecem o efeito sobre o entorno, do mesmo modo que
seu microclima é afetado (Herrmann et al., 2005). A distribuição homogênea de fragmentos
florestais12, com formato regular, na área urbana, pode ser interessante para a diminuição da
temperatura máxima do ar, elevação da umidade e estabilidade climática.

12
Estas sugestões se prendem aos dados coletados, e a área mínima dos fragmentos florestais
estudado foi de 1,5_ha.

207
CAPÍTULO 7 Conclusões

208
CAPÍTULO 7 Conclusões

7 Conclusões

Esta pesquisa buscou caracterizar tanto o microclima de fragmentos florestais


urbanos como o seu efeito no clima local, evidenciando a interação entre as escalas
climáticas. Neste sentido, os materiais e métodos utilizados foram adequados às unidades
do espaço urbano avaliado – a quadra, o bairro e a zona urbana. Três experimentos de
campo foram realizados nesta sequência, partindo da microescala para a escala local
urbana. Este encadeamento experimental proporcionou que os resultados obtidos em um
primeiro experimento subsidiassem o planejamento experimental da próxima etapa, e assim
sucessivamente. Além disso, buscou-se uma visão sistêmica do clima urbano e de sua
interação com a vegetação, nas várias escalas.
A complexidade do estudo deve-se ao número de fatores que influenciam as
variáveis climáticas – condições de tempo, geometria urbana, influência da fronteira,
topografia, presença atípica de elementos naturais e edificados, área do fragmento florestal
e o seu estado de conservação, dentre outros que foram observados no decorrer das
análises.
A hipótese da pesquisa - “Existe um percentual mínimo de área florestal, para
diferentes padrões de ocupação urbana, que seja suficiente para modificar o clima local”
– foi comprovada. Constatou-se que estes percentuais podem variar diante de características
específicas dos sítios, observadas na microescala.
O estudo permitiu tecer as seguintes conclusões:
- As florestas urbanas apresentam baixa amplitude térmica diária e níveis elevados
de umidade absoluta do ar. A temperatura do ar é mais elevada que o ambiente rural pela
manhã e mais baixa à tarde. A baixa amplitude térmica é acompanhada de alta inércia
térmica, causada pela obstrução do dossel, o que dificulta as trocas térmicas entre o sub-
bosque e a atmosfera. A amplitude térmica é maior em fragmentos de grande dimensão,
comparados aos fragmentos pequenos (cuja área corresponde a um quarteirão), devido à
significativa diminuição da temperatura mínima do ar.
- Ocorrem diferenças térmicas e de umidade do ar no perfil vertical e horizontal das
florestas urbanas. Há indícios de que a causa da estratificação térmica vertical, com

209
CAPÍTULO 7 Conclusões

temperaturas mais baixas a 10 m que a 1,5 m, deve-se ao aumento da velocidade dos ventos
e diminuição da resistência da camada de ar aderida às folhas, aumentando a parcela de
perda de calor latente. Já as diferenças térmicas no perfil horizontal devem-se à presença de
elementos com diferentes capacidades térmicas, fontes de calor, e proximidade da fronteira
urbana, ocasionando em distúrbios pontuais (pequenos fragmentos) ou na forma de
gradiente (grandes fragmentos florestais).
- A intensidade nas ilhas de calor é mais elevada em áreas urbanas distantes da zona
rural, em decorrência do aumento da inércia térmica. Os sítios com baixas taxas de
aquecimento pela manhã, estiveram mais aquecidos no período noturno e apresentaram
menores amplitudes térmicas diárias.
- O efeito de grandes fragmentos florestais sobre o entorno edificado, com
características rurbanas, intensifica as ilhas de calor noturnas e diminui a amplitude térmica
diária. O mesmo não ocorre na presença de pequenos fragmentos. Há indícios que, apesar
das florestas urbanas apresentarem elevada inércia térmica, o aumento da umidade do ar
decorrente dos efeitos da evapotranspiração, diminui a temperatura do ar máxima do dia do
entorno edificado e, conseqüentemente, a amplitude térmica diária. Por outro lado, a
amplitude térmica de um grande fragmento florestal apresenta-se mais elevada que nos
pequenos fragmentos, devido à manutenção da temperatura máxima e diminuição
significativa da temperatura mínima diária.
- O efeito das florestas sobre o clima urbano não apresenta sempre a mesma
magnitude e extensão. A magnitude é maior à tarde e em condições atmosféricas com baixa
umidade relativa do ar, confirmando os resultados de Gomes e Lamberts (2009) e Cox
(2008). No entanto, a extensão do efeito é maior pela manhã e em dias posteriores à
ocorrência de chuva.
- As maiores diferenças térmicas ocorreram entre pontos sobre rodovias (mais
aquecidos) e pontos próximos de fragmentos florestais com superfície d’água (arrefecidos).
- Áreas com alta abertura para o céu, ou seja, com baixa relação H/D (altura dos
elementos sobre o distanciamento entre eles), tais como gramados, terra exposta, rodovias,
avenidas largas, vales sem área de preservação permanentes, mostraram-se intensamente

210
CAPÍTULO 7 Conclusões

aquecidas. Assim, quando localizadas próximas de fragmentos florestais urbanos o efeito


de resfriamento do ar é reduzido ou anulado, especialmente no período da tarde.
- O arrefecimento provocado pelos fragmentos florestais urbanos tende a deslocar-
se para as porções mais baixas do terreno. No entanto, a impermeabilização, o adensamento
construtivo e presença de solo exposto em fundos de vale são desfavoráveis a este efeito.
- As florestas urbanas configuram ilhas de frescor durante o dia e ilhas de calor à
noite.
- Identificou-se que o percentual de área de floresta sobre o total urbanizado deve
ser superior a 20%, para que se possa observar o início do efeito de arrefecimento e de
elevação da umidade do ar, em qualquer padrão de ocupação urbana. Para que a
temperatura do ar esteja abaixo da média e para que a umidade absoluta do ar esteja acima
da média esperada para uma zona urbana, a porcentagem deve ser maior, podendo alcançar
entre 40-50% em áreas urbanas verticalizadas ou com predomínio de terra agrícola, solo
exposto e gramado.
- Há indícios de que a extensão do efeito sobre o entorno construído seja igual ao
diâmetro de uma circunferência com área equivalente a da floresta, confirmando os
resultados de Upmanis et al. (1998) e Jauregui (1990/1991). A extensão pode aumentar em
áreas urbanas sob a influência mais de um fragmento florestal, chegando a 1,5 vezes este
diâmetro, como também pode diminuir, quando o formato do fragmento for irregular.
- Diante disso, recomenda-se a implantação mínima de 20% de áreas de florestas
urbanas sobre um total urbanizado, com formato regular, distribuídas homogeneamente
sobre o tecido urbano, em uma distância igual a duas vezes a largura mínima do menor
fragmento. Ressalta-se que este percentual é válido para as condições climáticas de
Campinas, bem como para a categoria específica de área verde estudada.

Neste trabalho obtivemos inúmeros indícios dos fatores que implicam em maior ou
menor influência dos fragmentos florestais no clima urbano. Isso permite uma série de
pesquisas que complementarão esta tese. Sugerem-se os seguintes temas para trabalhos
futuros:

211
CAPÍTULO 7 Conclusões

- Disponibilidade de água no solo e a influência dos fragmentos florestais urbanos


no clima do entorno edificado;
- Índice de vegetação urbana e clima local urbano;
- A influência da topografia e da altitude no clima local urbano;
- A importância da área de preservação permanente em fundos de vale no
microclima urbano;
- O fator de visão do céu e o microclima das áreas verdes urbanas;
- O fator de visão do céu no meio urbano e influência dos fragmentos florestais
urbanos no clima local;
- A influência da ventilação no deslocamento das massas de ar e arrefecimento das
áreas urbanizadas sob a influência dos fragmentos florestais urbanos;
- Áreas verdes urbanas, microclima e comportamento humano.

212
CAPÍTULO 8 Referências

8 Referências
ABREU, L. V. D. Avaliação da escala de influência da vegetação no microclima por diferentes
espécies arbóreas. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, 2008.
ABREU, L.; LABAKI, L.C. Conforto térmico propiciado por algumas espécies arbóreas: avaliação
do raio de influência através de diferentes índices de conforto. Ambiente Construído, Porto
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AKBARI,H.; POMERANTZ, M.; TAHA, H. Cool surfaces and shade trees to reduce energy use
and improve air quality in urban areas. Solar Energy, v. 70, n. 3, p. 295–310, 2001.
ANGELOCCI, L.R. Água na planta e trocas gasosas/ energéticas com a atmosfera: Introdução
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BEAUDET, M.; MESSIER, C. Variation in canopy openness and light transmission following
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