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Cálculo Diferencial

e Integral III
Material Teórico
Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Carlos Henrique de Jesus
Prof.ª Dr.ª Ana Lucia Nogueira Junqueira

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Integrais Múltiplas: Integral Dupla

• Contextualização;
• Introdução;
• Integral Dupla;
• Método Prático de Calcular
Integrais Duplas: Teorema de Fubini;
• Cálculo de Integrais Duplas
em Regiões Mais Gerais;
• Invertendo a Ordem de Integração;
• Área de uma Superfície;
• Simetria em Integrais Duplas;
• Mudança de Variáveis em Integrais Duplas;
• Mudança de Variáveis na Forma Polar.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Introduzir o conceito de integral dupla de funções de duas variáveis;
· Apresentar o teorema de Fubini para o cálculo de integrais duplas
como integrais iteradas;
· Apresentar o teorema de mudança de variáveis e cálculo do deter-
minante jacobiano;
· Trabalhar a mudança de variáveis em coordenadas polares;
· Apresentar a diversidade de exemplos e aplicações de integrais duplas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
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Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
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Determine um Isso amplia a
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para estudar.

Mantenha o foco!
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as redes sociais.

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de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Contextualização
Contexto histórico
Já vimos que o desenvolvimento histórico do cálculo seguiu a ordem contrária
à dos textos e cursos básicos atuais sobre o assunto: primeiro, surgiu o cálculo
integral e só muito tempo depois, o cálculo diferencial. A ideia de integração teve
origem em processos somatórios ligados ao cálculo de certas áreas (notadamente
de quadraturas), volumes e comprimentos. A diferenciação, criada bem mais tarde,
resultou de problemas sobre tangentes às curvas e de questões sobre máximos e
mínimos. Mais tarde ainda, verificou-se que, salvo algumas restrições, a integração
e a diferenciação estão relacionadas entre si, sendo que cada uma delas é uma es-
pécie de operação “inversa” da outra.

Segundo Schubring (2005), o conceito de integral sofreu uma mudança peculiar


quanto à sua importância para análise. Enquanto a determinação de áreas e volu-
mes constituía o objetivo principal para a aplicação de processos infinitos desde o
seu início, esse tipo de problema foi transmutado em inversões simples de diferen-
ciação depois que o cálculo diferencial tornou-se estabelecido. A integral (indefini-
da) como a inversa da diferencial foi de importância derivada e não teve nenhum
papel próprio nos estudos fundamentais ao longo do século XVIII.

O conceito de integral tornou-se novamente independente apenas após os estu-


dos de Cauchy sobre integral definida, em 1814. Surpreendentemente, essa alte-
ração foi relacionada a uma “ressurreição” do conceito de infinitamente pequeno
(infinitésimos).

Então, os métodos de exaustão praticada pelos gregos tinham sido retomados


pelos métodos dos indivisíveis nos tempos modernos. Desenvolveu-se, principal-
mente, nos estudos de Kepler para a determinação do volume de uma pipa de
vinho, utilizando métodos com raízes em Arquimedes, que culminou com os indivi-
síveis de Cavalieri, o que veio a colaborar nos primórdios do cálculo infinitesimal.
Habilmente utilizado, permitiu calcular volumes de sólidos, comparando-os com
sólidos já conhecidos, e, consequentemente, o cálculo de áreas.

Nesse contexto, a base conceitual atomística do método foi o pressuposto de


que qualquer figura geométrica pode ser entendida como composto de “indivisí-
veis”, quantidades arbitrariamente pequenas, formando, assim, uma soma de ele-
mentos (de “fatias” que têm a dimensão inferior n-1).

Já na primeira obra de Newton e Leibniz sobre o novo cálculo diferencial, o


cálculo integral (então chamado de “relação inversa do problema da tangente”) foi
concebido como inversão do cálculo anterior.

Medvedev (1974, apud SCHUBRING, 2005) mostrou, porém, que o cálculo in-
tegral, nas primeiras obras de Newton, ainda não foi baseado em cálculo diferencial.

8
Em vez disso, ele foi obtido a partir do método de cálculo de áreas por meio de
desenvolvimento de funções em séries infinitas.

Esse autor também criticou a opinião generalizada de créditos a Newton sobre


a ideia de a integral ser indefinida ser considerada como uma função primitiva, e
a Leibniz sobre a ideia de a integral definida como um limite de aproximação de
somas. Além disso, ele mostrou que Newton já havia introduzido o conceito de
integral definida como um limite de somas, em 1686, e a constante de integração
ter sido usada pela primeira vez para resolver um problema concreto em um dos
artigos de Leibniz de 1694. Importante destacar que onde quer que seja tratado
o cálculo integral, os livros didáticos do século XVIII, formalmente, apresentam a
integral como o inverso da diferenciação na tarefa de determinar a função primiti-
va. Sem discutir questões de existência, as regras para a determinação de integrais
foram examinadas.

O estudo mais abrangente de como o conceito de integral foi desenvolvido é


dado por Medvedev. Característico do estado da arte desse conceito no século
XVIII é livro de Euler (1768-1770) sobre cálculo integral. No seu primeiro volume,
a extensa obra em três volumes contém uma curta seção geral dando definições e
explicações. A primeira explicação introduz a integral como um problema de in-
versão: “O cálculo integral é o método para localizar, a partir de uma dada relação
entre diferenciais, a relação entre as quantidades em si” (EULER, 1809, p. 1).

Euler ainda acrescenta a caracterização do cálculo diferencial e integral como o cál-


culo entre operações opostas, comparando-as com o análogo cálculo básico de ope-
rações da aritmética. Ainda segundo Schubring (2005), Medvedev também analisou
os desenvolvimentos que levaram à ascensão da integral definida na segunda metade
do século XVIII.

Um fator importante a favor da sua crescente importância foi a investigação das


oscilações e suas representações em séries trigonométricas. A investigação para
determinar os coeficientes dessas séries mostrou que estes poderiam ser mais ade-
quadamente determinados, usando integrais definidas.

Um novo impulso foi fornecido pelos problemas levantados pela integração


multidimensional; este é o lugar onde apresentar a integral como uma soma tor-
na-se necessário.

A Teoria do Potencial exigiu o cálculo de integrais definidas. Lagrange usou o


conceito de integral definida ao longo de sua Analitique méchanique como uma
importante noção fundamental. No entanto, Cauchy foi o primeiro a levantar o
conceito da integral definida para o patamar de uma noção fundamental privilegia-
da, e o primeiro a tornar compreensível o conceito e a existência da integral como
objeto próprio adequado de pesquisa matemática, em seu livro de 1823. Este é
o lugar no qual a integral definida foi introduzida como uma soma de quantidades
infinitamente pequenas. Em outras palavras, a passagem ao limite de somas indi-
nitamente pequenas, que são séries com infinitos termos. É onde entram outras
aplicações sobre conceitos de continuidade, convergência e integral.

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Uma visão mais aprofundada do horizonte conceitual do sentido de limite de


Cauchy foi feita por Dirksen, em seus comentários sobre a duplicação ou multipli-
cação de limites.

Importante destacar que Dirksen foi um dos leitores mais diligentes e defensores
das inovações de Cauchy em conceitos básicos.

Uma objeção frequente é de que Cauchy não pode ser acusado de um inadmis-
sível intercâmbio de passagens para o limite, porque ele já havia salientado, em
seu famoso livro de memórias sobre integrais definidas, de 1814, que resultados
diferem quando a sequência é alterada. Além disso, essa objeção é pouco sólida
por duas razões:
1. No período inicial de sua obra, Cauchy ainda não via a integral definida
como um conceito básico independente. Em particular, ele ainda não
tinha definido isso como um limite de um número infinito de somas.
Assim, o livro de memórias não estuda a intermutabilidade de passagens
para o limite, mas a aplicação de intercâmbio entre duas variáveis x e z
em integrais duplas.
2. Cauchy examinou esses intercâmbios em pontos onde a primeira integra-
ção leva a um resultado indeterminado como 0/0. Portanto, para Cauchy
e os dois colaboradores acadêmicos Lacroix e Legendre, era evidente que
os resultados são iguais para ambas as ordens de integração, e que é preci-
samente essa igualdade que faz com que seja possível determinar a integral
dupla, apesar da indeterminação em uma das ordens de integração.

Assim, segundo Schbring (2005, p. 476), quando confrontado com os resulta-


dos diferentes nas duas ordens de integração, a preocupação de Cauchy era encon-
trar um termo corretivo A a fim de restabelecer a igualdade. Lacroix e Legendre, na
verdade, declararam ser esta uma das principais realizações do livro de memórias
de Cauchy: que ele conseguiu determinar “exatamente a correção necessária para
estabelecer a igualdade entre os resultados obtidos pelos dois modos de realização
integrações”.

Desse modo, apesar de a alegação de Laugwitz, Cauchy não confirma dois


1 1 1 1
∂K π ∂K π
resultados diferentes,∫0 ∫0 ∂z dxdz = 4 e ∫0 ∫0 ∂z dxdz = − 4 , mas determina um
1 1
∂K π π
termo corretivo da forma
∫0 ∫0 ∂z dxdz = 4 + A = − 4 (CAUCHY, 1882, p. 322
apud SCHUBRING, 2005, p. 471).

A integral definida assentada nas quantidades infinitamente pequenas não só


correspondeu ao núcleo racional do conceito dos indivisíveis, mas também se
articulou com intenções originais de Leibniz, quando este apresentou o seu conceito
de integral. O Cálculo Integral baseou-se novamente na integral definida. Por sua
definição, as funções não foram assumidas como sendo contínuas, mas uma nova

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classe de funções integráveis foi introduzida em seu lugar. A definição da integral
definida seguiu a definição de integral por somas dadas por Riemann.

A notação ∫ f ( x, y ) dA deixa indicada a integral dupla pela região R de integração


R
e pelo elemento infinitesimal de área dA. Já a notação ∫∫ f ( x, y ) dA enfatiza o fato
R
de ser uma integral dupla.

Mais sobre Bernhard Riemann (1826-1866)


Riemann foi uma das mentes do passado que mais influenciou os matemáticos
do século XX. Filho de um pobre clérigo do Norte da Alemanha, ele estudou os
trabalhos de Euler e de Legendre quando ainda estava no curso secundário, e
diz-se que ele dominou o tratado de Legendre sobre a Teoria dos Números em
menos de uma semana. Mas ele era tímido e modesto, com pouca consciência de
suas habilidades extraordinárias, tanto que aos dezenove anos foi para a Univer-
sidade de Göttingen com o objetivo de estudar Teologia e tornar-se também um
clérigo. Felizmente, uma proposta vantajosa e a permissão do pai fê-lo mudar-se
para a Matemática.

A presença do legendário Gauss fez de Göttingen o centro do mundo matemáti-


co, mas Gauss era distante e inacessível - particularmente aos estudantes iniciantes
-, e depois de apenas um ano Riemann deixou esse ambiente insatisfatório e foi
para a Universidade de Berlim. Lá atraiu o interesse amigável de Dirichlet e de
Jacobi, e aprendeu muito com ambos.

Dois anos mais tarde, retornou a Göttingen, onde obteve o grau de doutor, em
1851. Durante os oito anos seguintes, suportou uma pobreza debilitante e criou
suas maiores obras. Em 1854, foi nomeado “Privatdozent” (conferencista não-re-
munerado), que naquele tempo era o primeiro degrau necessário para a escalada
acadêmica.

Gauss morreu em 1855 e Dirichlet foi chamado a Göttingen como seu sucessor.
Dirichlet ajudou Riemann como pôde, primeiro com um pequeno salário e depois
com uma promoção a professor assistente. Em 1859, ele também morreu e Rie-
mann foi nomeado professor titular para substitui-lo.

Assim, os anos de pobreza de Riemann acabaram, mas sua saúde estava abala-
da. Aos trinta e nove anos morreu de tuberculose na Itália, na última das várias via-
gens que fez para fugir do clima frio e úmido do Norte da Alemanha. Ele teve uma
vida curta e publicou relativamente pouco, mas seus trabalhos alteraram, perma-
nentemente, o curso da Matemática na Análise, Geometria e Teoria dos Números.

Dos nove artigos publicados por Riemann, somente cinco tratam de Matemática
Pura. Seu primeiro artigo publicado foi sua celebrada dissertação de 1851 sobre
a teoria geral das funções de uma variável complexa. Aqui o objetivo fundamental
de Riemann era livrar o conceito de função analítica de qualquer dependência de
expressões explícitas, tais como séries de potências e concentrar-se apenas em
conceitos gerais e ideias geométricas.

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Além disso, baseou sua teoria no que, hoje, são chamadas equações de Cauchy-
-Riemann, criou o engenhoso artifício das superfícies de Riemann para esclarecer
as funções a múltiplos valores e foi conduzido ao teorema da aplicação de Riemann.
Vale destacar que Gauss, raramente, era entusiasta das realizações matemáticas de
seus contemporâneos, mas ele elogiou, calorosamente, o trabalho de Riemann em
sua recomendação oficial à faculdade.

Em 1854, quando lhe foi requerido submeter um ensaio para ser admitido como
“Privatdozent”, sua resposta foi outro trabalho significativo, cuja influência está
gravada indelevelmente na Matemática de nosso tempo. O problema que ele se
propôs era analisar as condições de Dirichlet (1829) para representar uma função
por sua série de Fourier. Uma das condições que a função deveria ter era ser inte-
grável. Mas o que isso significa?

Que Dirichlet usara a definição de integrabilidade de Cauchy, que se aplica ape-


nas a funções contínuas ou, no máximo, com um número finito de descontinuida-
des. Certas funções que aparecem em Teoria dos Números sugeriram a Riemann
que essa definição deveria ser ampliada. Ele, então, desenvolveu o conceito da
Integral de Riemann como aparece, agora, nos textos de Cálculo, estabeleceu
condições necessárias e suficientes para a existência de tal integral e generalizou o
critério de Dirichlet para a validade das expansões de Fourier.

A famosa Teoria dos Conjuntos de Cantor foi diretamente inspirada em um


problema surgido nesse artigo e essas ideias levaram ao conceito de integral de
Lebesgue e a tipos ainda mais gerais de integração.

As investigações pioneiras de Riemann foram, portanto, o primeiro passo em


outro novo ramo da Matemática, a Teoria das Funções de Variável Real. O Te-
orema do Rearranjo de Riemann da teoria das séries infinitas foi um resultado
incidental nesse artigo; ele estava familiarizado com o exemplo de Dirichlet, mos-
trando que a soma de uma série, condicionalmente, convergente pode mudar pelo
rearranjo dos termos.

Aplicações de integrais múltiplas


As pricipais aplicações de integrais múltiplas, notadamente as integrais duplas,
referem-se a conceitos da Física.

Cálculo da massa
Suponha que uma lâmina fina tem a forma de uma região elementar D e que a
massa esteja distribuída uniformemente sobre D com densidade conhecida, isto é,
existe uma função z = f(x, y) > 0 definida em D que representa massa por unidade
de área em cada ponto (x, y) ∈ D. Se a lâmina é feita de material homogêneo,
a densidade é constante. Nesse caso, a massa total da lâmina é o produto da
densidade pela área da lâmina. Quando a densidade varia de ponto a ponto em D
e f é uma função integrável sobre D, a massa total é dada por:

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M ( D) = ∫∫ f ( x, y ) dxdy
D

Momento de massa
O momento de massa de uma partícula, em torno de um eixo, é o produto de
sua massa pela distância (na perpendicular) ao eixo. Então, o momento de massa
da lâmina D em relação aos eixos coordenados X e Y são, respectivamente,:

Mx = ∫∫ yf ( x, y ) dxdy e My = ∫∫ xf ( x, y ) dxdy
D D

Centro de massa
O centro de massa da lâmina D é definido por x, y , onde: ( )
My Mx
x= e y=
M ( D) M ( D)

( )
Fisicamente, x, y é o ponto em que a massa total da lâmina poderia estar
concentrada sem alterar seu momento em relação a qualquer dos eixos. Se f(x,y) =
( )
k, k > 0 em todo D, x, y é chamado de centroide de D. Nesse caso, o centro de
massa é o centro geométrico da região D.

Momento de inércia
Sejam L uma reta no plano, D uma lâmina como antes definida e δ (x,y) = δ
((x,y), L), a distância no plano do ponto (x,y) ∈ D à reta L.

Se f(x,y) é a densidade em cada ponto de D, o momento de inércia da lâmina


em relação à reta L é:

IL = ∫∫ δ ( x, y ) f ( x, y ) dxdy
2

Em particular, se L é o eixo X:

Ix = ∫∫ y f ( x, y ) dxdy
2

E se L é o eixo Y:

Iy = ∫∫ x f ( x, y ) dxdy
2

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

O momento de inércia polar em relação à origem é:

I0 = I x + I y = ∫∫ ( x + y2 ) f ( x, y ) dxdy
2

O momento de inércia de um corpo em relação a um eixo é sua capacidade de


resistir à aceleração angular em torno desse eixo.

Aplicações de integrais triplas: volume

Em particular,se f(x,y,z) = 1 para todo (x,y,z) ∈ W, então o volume de W é:

V (W ) = ∫∫∫ dV = ∫∫∫ dxdydz


W W

Concluindo
Algumas das técnicas de integração de uma variável referem-se a cálculos de
áreas de superfícies planas, de volumes dos sólidos de revolução, de volumes por
anéis cilíndricos e de volumes por seções transversais. Já o ensino de integrais múl-
tiplas é introduzido como prolongamento dessas ideias, devido ao lugar importante
atribuído à noção de somas de Riemann na organização matemática das integrais.

Observa-se, ainda, que tanto a Geometria Analítica quanto a Geometria Descritiva


interagem, fortemente, com as integrais, nos programas de Cálculo, devido ao lugar
funcional ocupado pelo estudo de funções de uma e de várias variáveis, e suas respectivas
representações gráficas no plano bidimensional (2D) ou no espaço tridimensional (3D).

Além disso, é notável que a vida das integrais múltiplas é reforçada pelo estudo
das integrais duplas, área de regiões planas e volume de sólidos, integrais duplas
em coordenadas polares, área de superfícies tridimensionais, integrais triplas, mo-
mento de inércia e centro de massa, coordenadas cilíndricas e esféricas, mudança
de variáveis e cálculo vetorial. O estudo desse último, por sua vez, é suborganizado
por campos vetoriais, integrais curvilíneas, independência de caminhos, teorema
de Green, teorema de Gauss e teorema de Stokes, fazendo parte dos conteúdos
do ensino das integrais múltiplas.

O ensino de integrais encontra, portanto, um lugar natural na organização mate-


mática do Cálculo Diferencial e Integral, começando com funções de uma variável
e estendendo-se a funções de várias variáveis.

Assim, afirmamos que o primeiro nicho das integrais múltiplas é o nicho da aná-
lise matemática que podemos caracterizar como nicho estrutural, no sentido em
que as integrais múltiplas vêm completar um programa de estudo, reforçando uma
coerência, seguindo um esquema de dois segmentos (estudo de funções de uma
variável real e de funções de várias variáveis reais) e três tempos (definição/limite
de funções, cálculo diferencial e cálculo integral). Além disso, as integrais múltiplas
servem ao cálculo de áreas de superfícies e de volumes de sólidos.

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Nesse contexto, alimentam-se via gráficos, das técnicas de representação gráfi-
ca, assim como do raciocínio geométrico, ocupando, assim, um nicho geométrico
que pode ser caracterizado como nicho interpretativo. As integrais múltiplas ser-
vem, também, para calcular massa, momentos de inércia e várias outras noções
procedentes da Física. Encontramos, assim, as aplicações ocupando um nicho físi-
co que caracterizamos como nicho aplicativo.

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Introdução
Os problemas de “medida”, relacionados aos conceitos de comprimento, área e
volume, remontam aos tempos dos egípcios, há mais de quatro mil anos – como já
relatamos. Com o conhecimento de integrais simples, obtemos áreas de regiões pla-
nas limitadas por gráficos de funções, volumes de sólidos, usando métodos de fatias
ou discos circulares, aplicações na Geometria, na Física, entre outras áreas. Nesta
Unidade, os conceitos de integral simples serão estendidos para integrais duplas.

Integral Dupla
b
Você deve se lembrar do cálculo de uma variável que a integral simples ∫ f ( x ) dx ,
a

onde f : I ⊂  → R é uma função contínua e não negativa no intervalo I = [a, b],


definida como a área S delimitada pelo eixo X, pelas retas x = a e x = b, e pelo
gráfico da função y = f(x).

f(x)

a b x

Figura 1

Tal conceito de integral simples pode ser estendido a uma função de duas variáveis
reais f : D ⊆ R 2 → R contínua na região D compacta – limitada e fechada. Como
D é limitado, existe, então, um retângulo R = [a, b] × [c, d] tal que D ⊂ R .

Dividiremos o retângulo R em sub-retângulos Rij da seguinte maneira:

Dividiremos os intervalos [a, b] e [c, d] em n subintervalos de mesmo comprimento


b−a d−c
∆x = e ∆y = , respectivamente; daí, traçamos retas verticais e horizontais
n n
pelas extremidades desses subintervalos. A seguir, escolheremos ( xi , yj ) ∈ Rij para
• •

formar a soma:

16
Figura 2

A seguir, escolheremos ( xi• , y•j ) ∈ Rij para formar a soma:

n n n
Sn = ∑ ∑ f ( xi• , y•j )∆x∆y = ∑ f (x ,y )∆ •
i

j A
j =1 i =1 i, j =1

Onde f ( xi , yj ) = 0 , se ( xi , yj ) ∉ D .
• • • •

Trata-se da soma de Riemann de f. Se existir nlim Sn = L , dizemos que f é inte-


→∞
grável e que o número L é dito integral e f sobre D e é indicado por ∫∫D f ( x, y ) dxdy
ou .

Assim:

∫∫ f ( x, y ) dxdy = lim ∑ f ( x , y )∆x∆y


• •
D i j
n→∞
i, j =1

A demonstração é realizada por meio dos seguintes passos:


1. Se f é contínua, então é integrável;
2. Se f(x,y) ≥ 0 é contínua em D, então o gráfico de f está acima do plano
XY. Daí o volume do sólido W que está abaixo do gráfico de f e acima de
D é dado por

V (W ) = ∫∫ f ( x, y ) dxdy
D

Logo, para encontrar o volume do sólido W, integramos f(x,y) que é o “teto”,


sobre D, que é o “piso” do sólido.

17
17
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Gf : z = f(x,y) (''teto'')

(''piso'')
x

(x*i ,y*i ) Rij

Figura 3

Se f(x,y) = 1, é numericamente igual à área da região D.

Propriedades:

∫∫ ( f + g ) dA = ∫∫
D D
fdA + ∫∫ gdA ;
D


∫∫ kfdA = k ∫∫ fdA ;
D D

• Se D = D1  D2 ⇒ ∫∫D fdA = ∫∫D fdA + ∫∫D fdA .


1 2

D
D

Figura 4

Exemplo 1:

Ilustraremos como calcular, pela definição, a integral dupla da função f(x, y) = xy2
sobre o retângulo D = {( x, y ) ∈ R 2 : 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ y ≤ 1} .

18
Resolução:

n
n ( n + 1)
Já sabemos que 1 + 2 + 3 +  + = ∑ k = e por indução finita, podemos
2
n ( n + 1) ( 2n + 1)
1
n
mostrar que ∑ k =
2
.
1 6
Consideremos a partição do retângulo D determinada pelos pontos:

0 = x0 < x1 < x2 < … < xn = 1 e 0 = y0 < y1 < y2 < … < yn = 1.


1
Sendo xk = k∆x e yk = k∆y, k = 1,2,3, …, n e ∆x = ∆y = .
n
Então, as somas de Riemann, com xi = xi e yj = y j são:

n n n
 n 2
Sn = ∑ ∑ f ( xi , yi ) ∆x∆y = ∑  ∑ i ( ∆x ) j 2 ( ∆y )
3

j =0 i =0 j =0  i =0 
n
 1   n   n
 1  n ( n + 1)  2 n+1 n 2
= ∑  2   ∑ i   j 2 ( ∆y ) = ∑  2  ( ) ∑ j ( ∆y )
3 3 3
 j ∆y =
j =0  n   i =0   j =0  n  2  2n j =0
n + 1 n  1  2  n + 1   1  n 2  n + 1   1   n ( n + 1) ( 2n + 1)  ( n + 1) ( 2n + 1)
2

= ∑   j =  2n   n3  ∑
2n j =0  n3 
j =  3 
 2n   n   6
=
12n 3
.
j =0 
( n + 1) (2n + 1) = 1 .
2

Logo, lim Sn = lim


n→∞ 12n3
n→∞ 6
Esse exemplo é uma demonstração clara de como o cálculo da integral dupla
pela definição pode não ser uma tarefa fácil. Para tal, temos o método da integração
iterada – ou integral repetida –, que é dado pelo teorema de Fubini e que veremos
a seguir.

Método Prático de Calcular Integrais


Duplas: Teorema de Fubini
Seja f : D ⊂ 2 →  contínua no retângulo D = {(x,y) ∈  2 : a < x < b e c <
y < d}

Então:

f ( x, y ) dxdy =
d
 b f ( x, y ) dx  dy = b
 d f ( x, y ) dy  dx.
∫∫D ∫ c  ∫a  ∫
a  ∫c 

As integrais:

∫  ∫ f ( x, y ) dx  dy e ∫  ∫ f ( x, y ) dy  dx.


d b b d

c a a c

19
19
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

São as integrais iteradas de f(x,y) sobre o retângulo D e nas quais está especificada
a ordem de integração. Como o resultado independe da ordem de integração, esta
é determinada pela maior conveniência ou facilidade no cálculo da integral simples.

Corolário: se g(x) e h(y) são contínuas em [a,b] e [c,d], respectivamente, então:

( ) ( )  b g ( x ) dx   d h ( y ) dy .
∫∫[a,b]×[c,d] g x h y dxdy =
 ∫a   ∫c 

Exemplo 2:

Calcularemos a integral do Exemplo 1, agora usando o teorema de Fubini:

1
 x 2 1  1 1  y 3 1
 1
∫∫D xy dA =∫0  ∫0 xy dx  dy = ∫0 y  ∫0 xdx  dy = ∫0 y  2   dy = 2 ∫0 y dy 2  2   = 23.1 = 6
1 1 1 1 1 1
2 2 2 2 2

 0  0

Como é possível notar, o uso de integrais iteradas facilita, enormemente, o


cálculo da integral dupla.

Cálculo de Integrais Duplas


em Regiões Mais Gerais
Definição 1:

Dizemos que D é uma região do tipo I, ou região simples vertical Rx, se D


for limitada à esquerda pela reta vertical x = a, à direita pela reta vertical x = b,
inferiormente pela curva de equação y = g1(x) e superiormente pela curva y = g2(x),
sendo g1 e g2 contínuas – como, por exemplo, a região indicada na Figura a seguir:

y = g2 (x)
y

D (x,y)

y = g1 (x)

a x b x
Figura 5

20
Então, D = {(x,y) ∈  2 : a < x < b e g1(x) < y < g2(x)} . Prova-se que:

g2 ( x )
 b
f ( x, y ) dy  dx
∫∫ f ( x, y ) dxdy = ∫  ∫
D a g1 ( x ) 

Definição 2:

Dizemos que D é uma região do tipo II, ou região simples horizontal Ry, se D
for limitada inferiormente e superiormente pelas retas horizontais y = c e y = d,
respectivamente, à esquerda pela curva x = h1(y) e x = h2(y), sendo h1 e h2 contí-
nuas – como, por exemplo, a região da Figura a seguir:

d
x = h1 (y) D x = h2 (y)

c
x
Figura 6

Então, D = {(x,y) ∈  2 : c < y < d e h1(y) < x < h2(y)}. Prova-se que:

h2 ( x )
 b
f ( x, y ) dx  dy
∫∫ f ( x, y ) dxdy = ∫  ∫
D a h1 ( x ) 

Você Sabia? Importante!

O teorema leva o nome do matemático italiano Guido Fubini (1879-1943), quem demonstrou
a versão mais geral em 1907. Mas a versão para as funções contínuas era conhecida, pelo
menos, um século antes pelo matemático francês Augustin-Louis Cauchy.

Exemplo 3:

Determinar o volume do sólido limitado pelos planos coordenados e pelo plano


x + y + z = 3, no primeiro octante.

21
21
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

3
Figura 7

Resolução:
x = 0

As equações dos planos coordenados são: y = 0 .
z = 0

E a região D no plano XY fica determinada por x = 0, x = 3, y = 0 e y = 3 – x.

3
Figura 8

Portanto,

x =3
 y =3 − x 
V = ∫∫ ( 3 − x − y ) dxdy ou ∫∫ ( 3 − x − y ) dydx = ∫  ∫ ( 3 − x − y ) dy  dx =
D D x =0 
 y =0 
3  y2 
y =3 − x
 3
9 x2   9 x 3 x2 x3  x =3  27 27 27 27
7 9
= ∫ 3y − xy −   dx = ∫x=0  2 − 3x + 2  dx =  2 − 2 + 6   = 2 − 2 + 6 = 6 = 2 u.v.
x =0 
2  y =0 
   x =0 

Exemplo 4:

Determinar o volume do sólido limitado superiormente por z = 4 – x2, inferior-


mente por z = 0 e no plano XY por x = 0, x = 2, y = 0 e y = 6.

22
Resolução:

Representando o sólido e a região D, temos:

z = 4 – x2
4

6
R

Figura 9

 x3  
2
 8 16 6 16  6  16
6
 2 ( 4 − x2 ) dx  dy = 6 6
y] = ( 6 ) = 32u.v.
V= ∫∫
D
zdA = ∫
0  ∫0  ∫
0
 4 x −   dy =
 3 0  ∫ 0  8 −  dy =
 3 3 ∫0
dy =
3  0 3

Exemplo 5:

Calcule, por integral dupla, a área da região D limitada pelas curvas y = x3 e


y= x.
Resolução:

Primeiramente, esboçaremos a região D para encontrar os limites de integração:

y
y = x1/2 y = x3

1 y = x = x1/2

y = x3
D

1 x

Figura 10

23
23
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

 1

Então, D = ( x, y ) ∈ 2 : 0 ≤ x ≤ 1 e x3 ≤ y ≤ x 2  e:
 
 x2   2 3 x 4 1  2 1
1
 x2 
1
1 1 1  12 3 5
A ( D ) = ∫∫ dA = ∫  ∫ 3 dy  dx =
D 0 x  ∫0  y]x3  dx = ∫0  x − x  dx =  3 x 2 − 4   = 3 − 4 = 12 u.a.
     0

Definição 3:
Suponhamos que D seja uma região limitada com a seguinte propriedade: qual-
quer reta vertical (paralela ao eixo Y) ou horizontal (paralela ao eixo X) intercepta D
em, no máximo, dois pontos. Tal região pode ser decomposta em regiões simples
do tipo vertical (tipo I) ou tipo horizontal (tipo II) e a integral dupla sobre D é cal-
culada usando a propriedade aditiva da integral. Confira, na seguinte Figura, uma
decomposição de D nas regiões D1 e D2 e a integral sobre D dada por:

∫∫ f ( x, y ) dA = ∫∫ f ( x, y ) dA + ∫∫ f ( x, y ) dA
D D1 D2

Figura 11

Invertendo a Ordem de Integração


Ao fazer a decomposição da região D em regiões simples, a escolha da região
Rx ou Ry depende, naturalmente, do formato da região D. Embora as integrais
iteradas resultem no mesmo valor, independentemente da ordem de integração,
em determinada ordem o integrando pode não ter a sua primitiva elementar e,
neste caso, uma inversão na ordem de integração deve ser efetuada.

Vale ressaltar que, ao inverter a ordem de integração, a região D não sofre alte-
ração, apenas o cálculo da integral iterada se processa na ordem inversa e os limi-
tes da integração podem requerer a conveniente adequação para esse cálculo. Na
Figura a seguir exibimos a região D = D1 ∪ D2 sobre a qual expressamos a integral
dupla como integral iterada nas duas ordens de integração possíveis: dxdy e dydx:

24
Figura 12

 c≤y≤d
Na Figura 12a, a região D  e a integral dupla sobre D são
h1 ( y ) ≤ x ≤ h2 ( y )
calculadas pela integral iterada:

f ( x, y ) dA =
d
 h2 ( y ) f ( x, y ) dx  dy
∫∫ D ∫c  ∫h1 ( y )  (a)

Por outro lado, na Figura 12b, a região D deve ser discriminada em termos
separados de D1 e D2, assim:

 a ≤ x ≤ e  e ≤ x ≤ b
D1 =  e D2  .
c ≤ y ≤ g2 ( x ) c ≤ y ≤ g1 ( x )

E a integral dupla, com ordem invertida, fica como:

g2 ( x ) g1 ( x )
e
f ( x, y ) dy  dx + ∫  ∫
b
f ( x, y ) dy  dx
∫∫ f ( x, y ) dA = ∫  ∫
D a c  e 
 c  (b)

Aparentemente, o cálculo da integral (a) é mais simples porque há apenas uma


integral iterada, mas isto dependerá muito mais do integrando f(x,y) do que do
número de integrais iteradas a serem efetuadas. Como já alertamos, o integrando
pode não ter uma primitiva elementar.

Exemplo 6:

Calcularemos a integral dupla de f(x,y) = xy sobre a região D ilustrada a seguir,


nas duas ordens de integração:

25
25
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

y
2 x+y=2

D
1

y-x=0

x
Figura 13

Resolução:

A região D pode ser decomposta em regiões simples, verticais ou horizontais,


vejamos:
1. Como região vertical simples, temos:

 0≤ x ≤1
D=
x ≤ y ≤ 2 − x

E, neste caso, a integral dupla fica da seguinte maneira:

1
2− x  1  y 2  y =2 − x  1
1
x ( 2 − x ) − x2  dx
2
∫∫D xydA = ∫0  ∫x xydy 

dx = ∫
0
x  
 2  y = x 
 dx =
20∫  

1 2 4 3  1
1 1 1
1 1 4 1
= ∫ x ( 4 − 4 x ) dx = ∫ ( 4 x − 4 x ) dx =  2 x − x   =  2 −  = .
2

20 20 2  3  0  2  3 3

2. Decompondo D em regiões horizontais simples, D = D1 ∪ D2, temos:

0 ≤ y ≤ 1 1 ≤ y ≤ 2
D1 =  e D2 = 
0 ≤ x ≤ y 0 ≤ x ≤ 2 − y

26
Neste caso, a integral dupla fica como:

∫∫D
xydA = ∫∫
D1
xydA + ∫∫ xydA
D2

 x2  x = y  2 x 
2 x =2 − y 
= ∫  ∫ xydx  dy + ∫  ∫ xydx  dy =
1y 2 2− y 1

 0
0   1  0  ∫0  2   dy + ∫1 y  2   dy
 x =0   x =0 

1  y2   1 2
y =1
1 1 3 1 2
= ∫ y dy + ∫ y ( 2 − y ) dy =    + ∫ ( 4y − 4y2 + y3 ) dy
2

2 0 2 1 2  4  y =0  2 1
 
1 1  2 4 3 y 4    1 1 
y =2
32   4 1 
= +  2y − y +    = +  8 − + 4  −  2 − + 
8 2  3 4   y =1  8 2  3   3 4 
 
1 1  4 11  1 1  5  8 1
= +  −  = +  = =
8 2  3 12  8 2  12  24 3

Como podemos ver, o resultado é o mesmo, embora, neste caso, a situação (1)
se torna mais simples para efetuar a integração dupla, uma vez que o integrando
tem primitiva elementar.

Exemplo 7 – uma função sem primitiva elementar:


2
Calcular a integral dupla da função f(x,y) = e − y sobre a região D entre as retas
x = 0, y = 4 e y = 4x.

Resolução:

Neste exemplo, o cuidado com a escolha da ordem de integração deve ser


redobrado, uma vez que a ∫ e − y não pode ser calculada por métodos elementares
2

de cálculo integral, ou seja, a função g(y) = e − y2 não tem primitiva elementar. Logo,
devemos escolher a ordem de integração iterada de forma a integrar primeiro em
relação à x, assim, podemos escrever a região D como horizontal simples:

0 ≤ y ≤ 4

D= y
0 ≤ x ≤ 4

E, usando o teorema de Fubini, temos:

− y2  4 
y
4 4 2  x= 
y
1 4
∫∫D
− y2
∫0  ∫0 dx  dy = ∫ e − y  x ]x =04  dy = ∫ ye − y dy
2
e dxdy = e
0
  4 0

du
Com a substituição u = −y2 ⇒ du = −2ydy ⇒ ydy = − , logo:
u
1 4 − y2 1 −16 1  = 1 1 − e −16 
ye dy = − ∫ eu du = −  eu 
u=−16

4 ∫0 8 0 8 u = 0  8  
1
∫∫
2

Portanto: e − y dxdy = 1 − e −16 


D 8
27
27
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Exemplo 8:
x− y
1 1

Calcular a integral iterada ∫ ∫ ( x + y)


0 0
3
dA nas duas ordens de integração.

Resolução:

Calcularemos separadamente e usaremos uma estratégia:

1
x− y
1
2x − ( x + y ) 1
2x
1
1
∫ ( x + y)
0
3
dy = ∫
0 ( x + y)
3
dy = ∫
0 ( x + y)
3
dy − ∫
0 ( x + y)
2
dy

    1  y =1 
y =1
x
1 1
= −2 x ∫ ( x + y ) dy − ∫ ( x + y ) dy  −  +
−3 −2

 ( x + y )2    x + y  y =0 
0 0
  y =0   
 x 1  1 1 1
= − + + − =
 (1 + x ) x  1 + x x  (1 + x )2
2

1 1 x − y  1
1  1  x =1   1  1
Logo: ∫0  ∫0 ( x + y )3  ∫0 (1 + x )2
 dy  dx = dx = −
 1 + x   =  − 2 + 1 = 2
x =0 
   

Agora, invertendo a ordem de integração – mas para não calcular novamente,


deve-se inverter a ordem de integração como se permutássemos as variáveis e
depois tomássemos o valor oposto, isto é, pela antissimetria do integrando.

Permutando as variáveis, temos:

1 1 y − x  1
∫0  ∫0 ( x + y )  dy = 2
 3
dx
 

E assim, na ordem dxdy, temos:

1 1 x − y  1 1
y−x  1
∫0  ∫0 ( x + y )3 
 dx  dy = − ∫0  ∫0 ( x + y )3  dy = − 2

   

Por que, neste caso, a inversão na ordem de integração dá resultados diferentes? Em outras
Explor

palavras, isto contradiz o teorema de Fubini?

Na verdade, não contradiz o teorema de Fubini, porque uma das condições de


sua aplicabilidade é que o integrando f(x,y) seja uma função limitada na região D,
x− y
o que não ocorre com a função f ( x, y ) = . De fato, ao longo da reta y = 2x
( x + y )
3
obtemos:

28
Então, o que dizer da integral dupla neste caso? Se a integral dupla
existisse, as integrais iteradas seriam iguais. Como isso não ocorreu, a função em
questão não é integrável em D.

Atenção! Importante!

Uma coisa é poder calcular cada integral iterada – que em determinados casos existem –;
outra coisa é a integral dupla – que neste caso não existe.

Exemplo 9:

Encontrar o centro de massa da lâmina representada pela região parabólica


da Figura a seguir, sabendo que a densidade em um ponto (x,y) da lâmina é
proporcional à distância desse ponto ao eixo X.

Figura 14

Resolução:

Como está mostrado na Contextualização desta Unidade, o centro de massa


My Mx
( )
de uma lâmina D é definido por x, y , onde x =
M ( D)
e y=
M ( D)
, sendo Mx e
My os momentos de massa da lâmina D em relação aos eixos coordenados X e Y,
respectivamente, dados por: M x = ∫∫ yf ( x, y )dxdy e M y = ∫∫ xf ( x, y )dxdy .
D D

Como a lâmina é simétrica em relação ao eixo Y e a densidade ρ(x,y) = ky, k


constante, o centro de massa está no eixo Y, portanto, x = 0 . Para calcular y ,
precisamos primeiro calcular a massa da lâmina e o momento de massa My.

29
29
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

A massa de uma lâmina é dada por M ( D ) = ∫∫ ρ ( x, y ) dxdy , então, temos:


D

D = {( x, y ) ∈  2 : −2 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ 4 − x 2 }
k 2  2 4− x2  k 2
y   dx = ∫ (16 − 8 x 2 + x 4 ) dx
4− x2
M ( D ) = ∫∫ kydA = ∫
2

D −2 0 ∫ kydydx = ∫ 
2 −2  −2
 2 −2
k  8 3 x 5   k 
2
64 32   64 32   k  512  256k
= 16 x − x +   =  32 − +  −  −32 + −   =   = M ( D) =
2  3 5  −2  2  3 5   3 5   2  15  15
 
Agora, encontraremos o momento de massa da lâmina em relação ao eixo X:

k 2  3 4− x2  k 2
( ) dx
4− x2
Mx = ∫ y ( ky ) dydx =
2
∫ 3 ∫−2   0  3 ∫−2
2 3
y  dx = 4 − x
−2 0

k 12 x5 x 7   4096k
2
k 2
= ∫ ( 64 − 48 x + 12 x − x ) dx = 64 x − 16 x +
2 4 6 3
−  =
3 −2 3 5 7  −2  105
 
4096k
Mx 105 = 16 .
Assim,=y =
M 256k 7
15
 16 
E o centro de massa dessa lâmina é  0,  .
 7
Exemplo 10:

Determine o volume do tetraedro limitado pelos planos x + 2y + z = 2, x = 2y,


x = 0 e z = 0.

Em uma questão como essa, é prudente esboçar dois diagramas, o do sólido


tridimensional e o da região plana D sobre a qual o sólido se encontra. Apenas
assim saberemos, com certeza, os limites de integração.

Segue um esboço do sólido: a figura mostra o tetraedro T limitado pelos planos


coordenados x = 0, z = 0, pelo plano vertical x = 2y e plano x + 2y + z = 2.

Figura 15

30
Segue um esboço da região D. Como o plano x + 2y + z =2 intercepta o plano
XY (cuja equação é z = 0) na reta x + 2y = 2, vemos que T está acima da região
triangular D, no plano XY, limitada pelas retas x = 2y, x + 2y =2 e x = 0

Figura 16

O plano x + 2y + z =2 pode ser escrito como z = 2 – x – 2y, de modo que


o volume pedido está sob o gráfico da função z = 2 – x – 2y e acima da região
 x x
triangular D = ( x, y ) ∈  2 : 0 ≤ x ≤ 1 e ≤ y ≤ 1 −  .
 2 2
Portanto:

x
1 1−  y =1− 
x
V = ∫∫ ( 2 − x − 2 y ) dA = ∫ ∫x ( 2 − x − 2 y ) dydx = ∫  2 y − xy − y  x  dx
1
2 2 2
D y=
 2 
0 0
2

1  x  x x2 x2 
2

= ∫  2 − x − x 1 −  − 1 −  − x + +  dx = ∫ ( x 2 − 2 x + 1) dx
1

0
  2  2 2 4  0

 x3   1
1
1
=  − x + x   = − 1 + 1 = u.v.
2

 2  0  3 3

Área de uma Superfície


Definição 4:

Se f e suas derivadas parciais primeiras são contínuas em uma região fechada


R no plano XY, então a área da superfície S dada por z = f(x,y) sobre R é estabe-
lecida por:

s = ∫∫ dS = ∫∫ 1 +  f x ( x, y )  +  f y ( x, y )  dA
2 2

R R

31
31
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Exemplo 11:

Achar a área da superfície da porção do plano z = 2 – x – y que se encontra


sobre o círculo x2 + y2 < 1 no primeiro octante, tal como indica a seguinte figura:

Figura 17

Resolução:

Como z = f(x,y) = 2 – x – y, então, fx(x,y) = – 1 e fy(x,y) = – 1.

Logo, a área da superfície S é dada por:

S = ∫∫ 1 +  f x ( x, y )  +  f y ( x, y )  dA = ∫∫ 1 + ( −1) + ( −1) dA = ∫∫ 3 dA = 3 ∫∫ dA
2 2 2 2
R R R R

Observe que a última integral é apenas a área da região R multiplicada por 3.


Como a região R é 1 do círculo de raio 1, então, A ( R ) =
π e, portanto:
4 4

S = 3. A ( R ) = u.a.
4

Simetria em Integrais Duplas


Seja D ⊂ R2 simétrica em relação ao eixo Y e f(x,y) uma função ímpar na
variável x, isto é, f(–x,y) = – f(x,y). Então, ∫∫ f ( x, y ) dxdy = 0 . De fato, como D
D
tem simetria em relação ao eixo Y, observamos que D está limitada à direita pela
curva x = x(y) e à esquerda pela curva x = – (y). Supondo que a projeção de D sobre
o eixo Y seja o intervalo [c,d], temos o esboço para D.

32
Figura 18

Então, temos:

Em (*) usamos o resultado de cál-


culo de uma variável: se g(x) é uma
função ímpar. Então, temos que:
a
∫ g ( x ) dx = 0.
−a

Mudança de Variáveis em Integrais Duplas


Por meio de uma mudança de variáveis x = x(u,v) e y = y(u,v), uma integral du-
pla sobre uma região D do plano XY pode ser transformada em uma integral dupla
sobre uma região D’ do plano UV – observe a representação na seguinte Figura:

Figura 19

33
33
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

A correspondência entre as regiões D’ e D é bijetora e podemos retornar de D


para D’ por meio da transformação inversa: u = u(x,y) e v = v(x,y). Considerando
que as funções relativas à mudança de variáveis são contínuas com derivadas
parciais contínuas em D’ e D, respectivamente, temos:

∂ ( x, y )
∫∫ f ( x, y ) dxdy = ∫∫ f ( x ( u, v ) , y ( u, v ) ) dudv
D D’ ∂ ( u, v )
∂ ( x, y )
Onde é o valor absoluto do determinante jacobiano – ou seja, deter-
∂ ( u, v )
minante da matriz jacobiana – de x e y em relação a u e v, dado por:

∂x ∂x
∂ ( x, y ) ∂u ∂v
=
∂ ( u, v ) ∂y ∂y
∂u ∂v
A fórmula é válida se:
I f é contínua;
II As regiões D e D’ são formadas por um número finito de sub-regiões do
tipo Dx ou Dy;
∂ ( x, y )
III O jacobiano ≠ 0 em D’ ou se anula em um número finito de
pontos de D’. ∂ ( u, v )
A transformação que leva pontos (r,q) do plano em coordenadas polares Rq a
pontos (x,y) do plano cartesiano XY é dada por:

x = (r,q) = rcosq e y = y(r,q) – rcosq.


∂ ( x, y ) cosθ − rsenθ
E seu jacobiano é dado por = =r.
∂ ( r,θ ) senθ rcosθ
Portanto, a expressão de mudança de variáveis cartesianas para polares é:

∫∫ f ( x, y ) dxdy = ∫∫ f ( rcosθ , rsenθ ) rdrdθ .


Rxy Rrθ

Figura 20

34

S = 3. A ( R ) = u.a.
4

Mudança de Variáveis na Forma Polar


Seja R uma região plana que contém todos os pontos (x,y) = (rcosq, rsenq) que
satisfazem às condições 0 < g1(q) < r < g2(q), α < q < β, onde 0 < (β – α) < 2p.

Se g1 e g2 são contínuas em [α,β] e f é contínua em R, então:

β g2 (θ )
∫∫ f ( x, y ) dA = ∫ ∫
R α g1 (θ )
f ( rcosθ , rsenθ ) rdrdθ

Exemplo 12:

Achar a área da superfície S correspondente à porção do hemisfério


f ( x, y ) = 25 − x2 − y2 que se encontra sobre a região R do plano XY e limitada
pelo círculo x2 + y2 < 9, tal como indicado na seguinte Figura:

Figura 21

Resolução:

As derivadas parciais primeiras de f são:

−x −y
fx ( x, y ) = fy ( x, y ) =
25 − x − y
2 2
e 25 − x2 − y2

35
35
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

E, de acordo com a expressão de área de uma superfície S, temos que:

2
dS = 1 +  fx ( x, y )  +  fy ( x, y )  dA
2

2 2
 −x   −y  5
= 1+  +  dA = dA
 25 − x2 − y2   25 − x2 − y2  25 − x2 − y2
   

5
Portanto, a área da superfície S é: S =
25 − x2 − y2
∫∫
dA .
R

Podemos usar a parametrização em coordenadas polares x = rcosq e x = renq.


Ademais, lembramos que, em coordenadas polares, dA = rdrdq.

Então, como a região R está limitada por 0 < r < 3 e 0 < q < 2p, obtemos:

2π 3 5 2π  r =3
 2π 2π
S= ∫ ∫ rdrdθ = 5 ∫  − 25 − r 2   dθ = 5 ∫ ( −4 + 5 ) dθ = 5 ∫ dθ = 5 ( 2π ) = 10π u.a.
0 0
25 − r 2 0
  r =0  0 0

Importante! Importante!

Coordenadas polares:

P (x,y)

r
y

O x x

Figura 22
Relações:

r 2 = x2 + y2
 x = rcosθ 
 ⇔ y
y = rsenθ θ = arctg  x 
  
(cont.)

36
(cont.)

P(r, θ, z)

x
θ r
y
y
x

Figura 23

Exemplo 13:

Calcular ∫∫ R
( e ) dxdy , sendo R a região semicircular dada por: x
x2 + y2 2
+ y2 < 1
e y > 0.

Resolução:
0 ≤ r ≤ 1
Mudaremos para coordenadas polares, então, a região R = 
0 ≤ θ ≤ π

( e ) dxdy = ∫∫ e ∫  ∫ er rdr  dθ .


π 1
∫∫
x2 + y2 r2 2
rdrdθ =
R R 0 0 
1
Para resolver a integral ∫ er rdr, usaremos a substituição u = r2 ⇒ du = 2rdr.
2

e du =  eu   = e − 1 .
1 1 1
∫ ∫
r2
Assim: e rdr = u
0 0  0

∫  ∫ er rdr  dθ =
π 1 π π
∫ ( e − 1) dθ = ( e − 1)∫ dθ = ( e − 1) θ ]0  = ( e − 1) π .
2 π
Daí:
0 0  0 0  

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Anexo 1
Vejamos também o procedimento para encontrar limites de integração de
integrais duplas em coordenadas cartesianas e com mudanças de variáveis, as
quais podem ajudar a compreender e elucidar resoluções do Material teórico desta
Unidade e preparar para a resolução das atividades propostas, as quais retiradas do
livro Cálculo, volume 2, de George Thomas Junior:

Figura 1 – Procedimento para encontrar os limites de integração de integrais duplas


Fonte: Thomas Junior, 2004

38
Figura 2 – Como integrar em coordenadas polares
Fonte: Thomas Junior, 2004

Gráficos em coordenadas polares:

Seguem algumas noções e certos exemplos para auxiliar a entender – ou


relembrar – este tema, tomando por base o livro Cálculo, volume 2, de Anton,
Bivens e Davis.

Consideremos o problema de traçar o gráfico de equações em r e q, condições


nas quais tomamos q medido em radianos.

Em um sistema de coordenadas cartesianas – retangulares –, o gráfico de uma


equação em x e y consiste de todos os pontos do plano cujas coordenadas (x,y)
satisfazem à equação. Porém, em coordenadas polares, os pontos têm um núme-
ro infinito de coordenadas, de modo que dado ponto do plano pode ter algumas
coordenadas polares que satisfazem à equação polar, enquanto que outras não a
satisfazem. Portanto, dada uma equação em r e q, definimos o gráfico em coor-
denadas polares dessa equação como todos os pontos nos quais, pelo menos, um
par de coordenadas (r,q) satisfaz à equação.

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39
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Antes, vejamos como é um sistema de coordenadas polares:

Figura 3 – Pontos no sistema de coordenadas polares


Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

O polo é indicado pela letra O e o eixo polar pela letra L. Na ponta do segmento
verde, um ponto com coordenada radial 3 e coordenada angular de 60 graus
 π  . Na ponta do segmento azul, o ponto de coordenadas (4,210º).
 rd 
6 
Exemplo 1:
π
Esboçar o gráfico das equações: (a) r = 1 (b) θ = .
4
No caso (a) temos uma equação em que r é constante (=1), mas q é qualquer –
pense qual seria o gráfico que mantém o raio constante e o ângulo dando todas as
voltas. Já no caso (b) ocorre o oposto, o ângulo q que é constante  = π  e o raio
 
 4
é que pode variar de –∞ a ∞.

Veja os seguintes gráficos:

Figura 4
Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

40
Em (a), para todos os valores de q, o ponto (1,q) está a uma unidade do
centro da figura e, como q é arbitrário, o gráfico é uma circunferência de raio
1 e centro (0,0).
 π
Em (b), para todos os valores de r o ponto  r,  está sobre uma reta que faz
π  4
ângulo de com o eixo positivo do X. Já para r > 0 o ponto está sobre a reta no
4
primeiro quadrante e para r < 0, sobre a reta no terceiro quadrante.

Especialmente importantes são as equações r = f(q) que expressam r como


função de q. Para fazer o gráfico de uma função desse tipo, escolhemos alguns
valores típicos de q, calculamos o seu correspondente valor de r e plotamos os
pares (r,q) em um sistema de coordenadas polares – os seguintes exemplos ilustram
este processo.

Exemplo 2:

Esboçar o gráfico de r = q, q > 0 em coordenadas polares, evidenciando


pontos escolhidos.

Observe que r cresce à medida que q cresce. Assim, o gráfico é uma curva que
se afasta em espiral do polo – centro do sistema polar. Plotando alguns pontos que
π
correspondam a valores de q que sejam múltiplos de , torna-se possível chegar
2
ao esboço do gráfico – lembrando que r tem os mesmos valores de q; mas como
ângulo, q é medido em radianos e r como número real. Segue o gráfico:

Figura 5
Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

Exemplo 3:

Esboce o gráfico de r = sen(q) em coordenadas polares. Para tal, plotaremos


alguns pontos que seguem na Tabela 1. Em seguida, temos o esboço do gráfico
com alguns dos pontos da Tabela, pois outros pares recaem sobre o mesmo ponto,
tal como  − 1 , 7π  , que coincide com  1 π  .
   , 
 2 6  2 6

41
41
UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Tabela 1

Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

Figura 6
Fonte: Anton, Bivens e Davis , 2007

Vejamos como podemos encontrar a equação cartesiana dessa equação


polar: multiplicando a equação polar por r e obtendo: r2 = rsen(q) que, usando a
parametrização (ou mudança de variável) x = rcos(q) e y = rsen(q), vemos que:

2
 1 1
x + y = y ⇔ x + y −  =
2 2 2

 2 4
 1 1
Que é uma circunferência no plano cartesiano de centro  0,  e raio .
 2 2
Agora, você já pode imaginar o gráfico da equação r = cos(q), não é mesmo?

Exemplo 4:

Veja o esboço do gráfico de r = cos(2q) em coordenadas polares, cuja curva


gerada é conhecida como rosácea de quatro pétalas.

42
Figura 7
Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

Atenção! Importante!

Por vezes, é importante fazer o gráfico da função trigonométrica em coordenadas cartesianas


para estudar a variação de r relativamente a q.
Outra coisa muito importante, no esboço de curvas em coordenadas polares, é testar a
simetria da curva, que pode ser em relação a algum eixo coordenado, ou aos dois, ou ainda
em relação a alguma outra reta. Lembre-se, por exemplo, que, em coordenadas cartesianas,
o cosseno é uma função par, isto é, cos(–q) = cos(q) e o seno é uma função ímpar, isto é,
sen(–q) = –sen(q).

Exemplo 5:

Esboçar o gráfico de r = a(1 – cos(q)) em coordenadas polares, supondo a uma


constante positiva.

Observe que, neste caso, trocar q por |q não altera a equação. Então, o gráfico
é simétrico em relação ao eixo polar, portanto, basta fazer o gráfico na parte
superior e depois refleti-lo em relação ao eixo polar para obter a parte inferior.

Fazendo o gráfico em cartesianas r = acos(q) e depois refletindo em relação ao


eixo X para obter r = –acos(q), e ainda transladando de a unidades para obter r =
a – acos(q) = a(1 – acos(q)), podemos analisar as variações, como as que se seguem:
π a
· Quando q varia de 0 a , r cresce de 0 até ;
3 2
π π a
· Quando q varia de a , r cresce de até a;
3 2 2
π 2π 3a
· Quando q varia de a , r cresce de a até ;
2 3 2
2π 3a
· Quando q varia de a p, r cresce de até 2a.
3 2
Isso produz no sistema polar a curva polar mostrada na Figura a seguir. O restante da
curva é obtido continuando este tipo de análise de p até 2p, quando, neste caso, comple-
ta a volta inteira. A curva obtida, em forma de coração, é denominada cardioide.

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Figura 8
Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

Exemplo 6:

Esboço do gráfico de r2 = 4cos(2q) em coordenadas polares.

Para fazer o mesmo procedimento anterior, em coordenadas cartesianas, preci-


samos tomar as curvas r = ±2 cos ( 2θ ) e fazer separadamente o gráfico de cada
uma e depois combiná-los.

O gráfico resultante, em coordenadas polares, é denominado lemniscata – que,


em grego, significa laço.

Figura 9
Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

A equação r = 2 cos ( 2θ ) tem o mesmo gráfico que r = −2 cos ( 2θ ) , porém


de forma diagonalmente oposta. Assim, o gráfico da equação r2 = 4cos(2q) consiste
de duas lemniscatas idênticas sobrepostas.

Veja outros gráficos em polares:

Figura 10 – Família de círculos


Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

44
Figura 11 – Família de rosáceas
Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

Figura 12 – Família de cardioides e limaçons


Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

Figura 13 – Família de espirais


Fonte: Anton, Bivens e Davis, 2007

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UNIDADE Integrais Múltiplas: Integral Dupla

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Introdução às Integrais Duplas
Me Salva! ITD01 – Introdução às integrais duplas, disponível no link abaixo.
https://youtu.be/mFsgx121c_Y
Integral Dupla – Exercício Fácil
Somatize: integral dupla – exercício fácil – professora Edna Mendes, disponível no link
abaixo.
https://youtu.be/Z9ORGP7YLLE
Professor Armando Peixoto: integrais duplas
disponível no link abaixo.
https://youtu.be/HCpMxxFmz08
Integrais Duplas – Invertendo os Limites de Integração – Aula 1
Omatematico.com – professor Grings – integrais duplas – invertendo os limites de
integração – aula 1, disponível no link abaixo
https://youtu.be/jopUbj3oxvU
Região Retangular e Teorema de Fubini
Responde Aí – integrais duplas – região retangular e teorema de Fubini, disponível no
link abaixo
https://youtu.be/-cYoktf9RNE
Aplicações da Integral Dupla – Cálculo III # 7
Fugindo da DP – aplicações da integral dupla – cálculo III # 7, disponível no link abaixo
https://youtu.be/3QbRmd7845w

Livros
Cálculo
Ademais, leia o capítulo 15 (p. 392-405) do livro Cálculo, volume 2, de George B.
Thomas Junior, publicado em São Paulo pela Editora Addison Wesley, em 2004.

46
Referências
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. v. 2. 8. ed. Porto Alegre, RS:
Bookman, 2007.

BARBONI, A.; PAULETTE, W. Fundamentos de Matemática: cálculo e análise:


cálculo diferencial e integral. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

BOULOS, P.; ABUD, Z. I. Cálculo diferencial e integral. 2. ed. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2002.

BUFFONI, S. S. O. Cálculo vetorial aplicado. v. 1. Rio de Janeiro: Câmara


Brasileira de Jovens Escritores, 2004.

Euler, L. 1809. Elementos d’Algebra. Rio de Janeiro: Impressão Régia.

FLEMMING, D. M.; GONCALVES, M. B. Cálculo: funções, limite, derivação,


integração. 6. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2007.

LARSON, R.; EDWARDS, B. H. Cálculo 2 de varias variables. 9. ed. Santa Fe,


México: McGraw-Hill/Interamericana, 2010.

LEITHOLD, L. O cálculo com Geometria Analítica. 3. ed. São Paulo: Harbra, 1994.

SCHUBRING, G. Conflicts between generalization, rigor, and intuition: num-


ber concepts underlying the development of analysis in 17th-19th century France
and Germany. New York: Springer, 2005. (Sources and studies in the history of
mathematics and physical sciences)

SIMMONS, G. F. Cálculo com Geometria Analítica. v. 1. São Paulo: Pearson


Makron Books, 2010.

STEWART, J. Cálculo de varias variables. Transcendentes tempranas. 7. ed.


Santa Fe, México: Cengage Learning Editores, 2012.

SWOKOWSKI, E. W. Cálculo com Geometria Analítica. 2. ed. São Paulo:


Makron Books do Brasil, 1995.

THOMAS JUNIOR, G. B. Cálculo. v. 2. 10. ed. São Paulo: Addison-Wesley, 2004.

VILCHES, M. A.; CORRÊA, M. L. Cálculo: v. 3. Rio de Janeiro: UERJ, 2005.

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