MEIO AMBIENTE
Escórias têm grande emprego na
Lixo não,
subproduto
SIDERÚRGICAS ELEVAM ÍNDICES DE REUTILIZAÇÃO E
DE COMERCIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS
m 2003 o Brasil produziu
E
31,2 milhões de toneladas de
aço. Esse volume, freqüen-
temente divulgado quando se
deseja demonstrar o desem-
penho da siderurgia nacional,
está dividindo a atenção de
quem analisa o setor com outro dado
relacionado à produção de aço: o volu-
me de resíduos sólidos gerados pelas
usinas e sua destinação.
Dados do Instituto Brasileiro de Si-
derurgia (IBS) apontam que, no ano
passado, a indústria do aço produziu
13,5 milhões de toneladas de resíduos,
uma média de 435 kg/t de aço produ-
zida. As escórias de alto-forno e de
aciaria representaram 80% desse total,
com 10,8 milhões de toneladas. O res-
tante era formado por material parti-
culado dos sistemas de despoeiramento
(11%) e lamas coletadas nas estações
de tratamento de efluentes (9%).
O setor tem empreendido esforços
contínuos para melhorar a gestão dos
614 METALURGIA & MATERIAIS • OUTUBRO DE 2004
indústria de cimento e na construção civil
resíduos, como o emprego de lamas e pós
na sinterização – que já corresponde a 9%
do destino dos subprodutos nas usinas –,
e a utilização de escórias de alto-forno na
produção de cimento em substituição ao
clínquer e a escória de aciaria aplicada na
construção civil no lugar da brita.
Atualmente as receitas da venda des-
ses co-produtos já são representativas
nos resultados das companhias. Em
2003, o Sistema Usiminas gerou 6,5 mi-
lhões de toneladas de resíduos nas usi-
nas Intendente Câmara, em Ipatinga
(MG), e José Bonifácio de Andrada e
Silva (Cosipa), em Cubatão (SP). Desse
total, a Usiminas comercializou quase 2
milhões de toneladas de resíduos – 72%
na forma de escória granulada – o que
propiciou receita de R$ 13,5 milhões à
empresa. A Cosipa vendeu 40% de seus
resíduos (1,28 milhão de toneladas), en-
tre escória de alto-forno e de aciaria, e
faturou R$ 27,5 milhões.
A Cosipa reutiliza 58% dos resíduos
e destina apenas 2% deles a aterros. Após
Divulgação/CST
haver investido US$ 240 milhões no pro-
jeto ambiental que foi concluído no ano
passado, a companhia praticamente
zerou seus passivos ambientais.
Com metade do tempo de operação
da siderúrgica paulista, a CST é a mais
jovem das usinas integradas em ativi-
dade (20 anos) e, de certa forma, apro-
veitou-se da modernização tecnológica
para produzir volumes menores de re-
síduos. A usina gera 513 kg/t de aço,
sendo 61% comercializado – propician-
do R$ 22 milhões de receita –, 31% re-
tornando ao processo, 7% co-processa-
do e 1% – cerca de 25 mil toneladas de
lama de alto-forno – destinado a cerâ-
micas ou à central de armazenamento de
subprodutos. “Vários trabalhos com ins-
tituições de pesquisa estão sendo desen-
volvidos, visando a um maior reaprovei-
tamento desse 1% remanescente”, afir-
ma a analista de meio ambiente, Kenya
Martins de Carvalho Oliveira.
A companhia, que nos últimos cin-
co anos investiu R$ 83 milhões em equi-
pamentos para aumentar seus índices de
ecoeficiência, patrocina vários projetos
de pesquisa com universidades para
aprimorar a utilização de resíduos. No
ano passado, os gastos da CST nessa
área foram de R$ 4,4 milhões. Entre os
projetos estão a utilização do lodo de
coqueria na agricultura, a produção de
tijolos de co-produtos e o emprego de
escórias para corrigir a acidez de solos
e na indústria de cimento.
Apesar de toda atividade industrial
produzir resíduos, os setores metalúrgi-
co, químico e de celulose e papel são os
maiores geradores. Com a finalidade de
mapear a quantidade e o destino desses
materiais, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) está exigindo dos
Estados a realização de inventários com
as indústrias – resolução no 312/02. Os
dados recolhidos também servirão para
os processos de licenciamento ambiental.
A Fundação Estadual do Meio Am-
biente (Feam), de Minas Gerais, con-
cluiu sua pesquisa com dados de 586 em-
presas de médio e grande porte instala-
das no Estado, tradicional pólo siderúr-
gico. Os resultados apontaram 15,2 mi-
lhões de toneladas de resíduos gerados
no intervalo de um ano. Desse total, cer-
ca de 10 milhões de toneladas foram
classificadas numa listagem para base
dos cálculos, cujos resultados mostra-
ram a forte presença da indústria meta-
lúrgica. As escórias de alto-forno e de
aciaria contribuíram com 43,7% da lis-
tagem, em seguida vieram os resíduos
de minerais não-ferrosos (23,6%) e su-
cata de metais ferrosos (10,9%). Na pon-
ta do lápis, a metalurgia foi responsável
por 78,2% do total de resíduos gerados
pela indústria mineira.
Mesmo com a preocupação das usi-
nas em elevar os índices de ecoefi-
ciência, os anos de atividade sob uma
legislação ambiental ainda incipiente
criaram enormes passivos ambientais
na siderurgia. Hoje, o controle efetivo
da contaminação de solos e lençóis
freáticos ainda é um desafio para o se-
tor, que assume o mea-culpa e vem fa-
zendo a sua parte. “As empresas estão
preocupadas com o passivo ambiental
que geraram, algumas já estão se pre-
parando para fazer uma autodenúncia
e propor soluções conciliatórias com os
órgãos fiscalizadores”, afirma o profes-
sor dr. Joel Barbujiani Sígolo, do Insti-
tuto de Geociências da USP.
Sígolo atualmente coordena um tra-
balho em parceria com empresas que
integram a Associação Brasileira das
Empresas de Diagnóstico e Remediação
de Solos e Águas Subterrâneas (Aesas),
como forma de alinhar a pesquisa cien-
tífica às práticas de campo. Segundo
Rivaldo Mello, presidente da entidade,
este ano o setor de remediação e diag-
nóstico deve faturar R$ 126,5 milhões,
um crescimento de 22% em relação a
2003. “Esses valores representam não só
o crescimento do setor, mas também a
maior preocupação por parte das empre-
sas que necessitam de estudos nessa
área”, afirma Mello. (CC)
METALURGIA & MATERIAIS • JULHO DE 2004 615