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Num escoamento externo quando o corpo se movimento através do fluido se manifesta uma
interação fluido-corpo resultando em forças que podem ser descritas em função da tensão de
cisalhamento na parede (τw) provocada pelos efeitos viscosos e uma tensão normal provocada pela
distribuição de pressão (p).
O arrasto e a sustentação podem ser determinados pela integração das tensões de cisalhamento e das
tensões normais ao corpo.
Para determinar esta força é necessário determinar o formato do corpo e as distribuições da tensão
de cisalhamento na parede e da distribuição de pressão ao longo da superfície do corpo.
FD
CD = onde
1
ρ U ∞2 A
2
C D = C Dp + C Df
FDf
C Df =
1
ρ U ∞2 A
2
A representa a área superficial ou área molhada. Por exemplo numa placa paralela ao escoamento
A=bL onde b é a largura da placa e L o comprimento da placa.
FDp
C Dp =
1
ρ U ∞2 A
2
Neste caso A pode representar projeção num plano normal da área do corpo. Por exemplo num
cilindro A=DL , onde D é o diâmetro do cilindro
Como foi visto no Cap.10, no caso de uma placa plana paralela ao escoamento, o arrasto se deve
unicamente ao atrito superficial. Desta forma CD= CDf.
Na Tab.11.1 se são dados os valores do coeficiente de arrasto para diferentes corpos rombudos entre
eles, esferas, semi-esferas, cilindros, placas planas, aerofólios; também é dado o coeficiente de
arrasto de corpos típicos como asas de avião e automóveis. Cabe salientar que estes são valores de
referência. Um estudo mais apurado deverá ser realizado para projetos de sistemas específicos.
Do estudo do escoamento da camada limite numa placa plana sabemos que a fronteira da camada
limite tenderá ao valor da velocidade de corrente livre (Voo) admitida a jusante da placa. Neste caso
aplicando a Eq. de Bernoulli podemos constatar que não existe variação da pressão ao longo da
placa. No caso do escoamento sobre um cilindro isto é bem diferente. Consideremos um
escoamento não viscoso sobre um cilindro. Neste tipo de escoamento as linhas de corrente formadas
em torno do corpo são simétricas e a linha de corrente que atinge o ponto de estagnação contorna o
cilindro aderida ao mesmo. Devido à curvatura do cilindro a velocidade do fluido que contorna o
cilindro (U) é diferente da velocidade de corrente livre e dependente da posição angular. Neste caso
aplicando a Eq. de Bernoulli pode ser constatado que existe uma variação da pressão dependente da
variação da velocidade que contorna o cilindro.
Consideremos que a montante do cilindro a corrente livre não perturbada apresenta uma velocidade
Voo e uma pressão Poo. Podemos aplicar a Eq. de Bernoulli que contorna o cilindro considerando um
ponto a montante do cilindro e outro sobre a superfície da mesma com pressão p e velocidade
U=U(θ).
p ∞ V∞2 p U2
+ = +
ρg 2g ρ g 2 g
Para analisar a distribuição de pressão utilizamos na forma adimensional definindo o coeficiente de
pressão (Cp):
p − p∞
cp =
1
ρ V∞2
2
Explicitando o termo (p - poo) da Eq. de Bernoulli e substituída na Eq. de Cp se obtém:
U
c p = 1 −
2
V∞
Para escoamento não viscoso a solução teórica (potencial) da distribuição de pressão é dada como:
c p = 1− 4 sen 2 θ
U (θ ) = 2V∞ sen θ
U (θ )
U * (θ ) = = 2 sen θ
V∞
Considerando o escoamento não viscoso o arrasto por atrito será nulo (CDf =0). Devido à simetria
da distribuição de pressão em torno ao cilindro o arrasto por pressão é nulo (CDp=0). Dados
experimentais mostram que sempre existirá um arrasto no cilindro mesmo tratando-se de fluidos
com viscosidade muito pequena. Isto nos leva ao denominado Paradoxo de d´Alambert o qual
especifica que o arrasto num corpo é sempre nulo para escoamento não viscoso, porém o arrasto
num corpo imerso num fluido viscoso não é nulo.
Numa placa plana paralela ao escoamento a camada limite se desenvolve num campo de
escoamento onde a pressão permanece constante. Isto significa que o gradiente de pressão é nulo.
No caso de geometrias mais complexas, ou placa plana com inclinação, o campo de pressão deixa
de ser uniforme. No caso de um cilindro na camada limite se desenvolve um gradiente de pressão
devido à variação da velocidade da corrente livre que contorna a fronteira da camada limite.
Consideremos uma partícula de fluido, que escoa dentro da camada limite, que viaja do ponto A
para o ponto F. Tal partícula está submetida à mesma distribuição de pressão das partículas de
fluido próximas, porém fora da camada limite. Contudo, devido aos efeitos viscosos, a partícula
localizada dentro da camada limite sofre perdas de energia. Sendo assim a partícula não tem energia
suficiente para vencer o gradiente adverso de pressão quando escoa de C para F. Considera-se que a
partícula de fluido quando chega em C não tem quantidade de movimento suficiente para vencer o
gradiente de pressão adverso.
Observando o perfil de velocidades dentro da camada limite (Fig. ) vemos que no ponto D, onde
ocorre a separação do escoamento, o gradiente de velocidade e a tensão de cisalhamento na parede
são nulos. Após este ponto se origina um escoamento reverso dentro da camada limite.
∂u
= 0 e τw = 0
∂y y =0
No ponto de separação
Figura 11.9 Solução numérica (CFD) do escoamento num cilindro com emissão de vórtices
Devido aos efeitos da separação da camada limite a pressão média na metade traseira do cilindro é
muito menor que na metade dianteira. Isto origina um arrasto (CD) devido principalmente à parcela
de arrasto por pressão (CDp) já que o arrasto por efeitos viscosos (CDf) pode ser muito pequeno. O
arrasto por pressão é denominado também arrasto por forma devido a sua dependência da forma do
objeto.
(1) O perfil de velocidade na camada limite é mais uniforme no caso do escoamento turbulento que
no caso do escoamento laminar.
(2) A energia associada com os movimentos turbulentos aleatórios é maior que a laminar.
Para determinar o coeficiente de arrasto (CD) numa esfera lisa podemos também utilizar as equações
sugeridas por Chow:
Re ≤ 1 1 < Re ≤ 400 400 <Re ≤ 3x105 3x105 < Re ≤ 2x106 Re > 2x106
24 24 0,000366
(Re )0, 646 (Re )0, 4275
CD = CD = CD =
Re C D = 0,5 C D = 0,18
Figura 11.12 Coeficiente de arrasto em função do número de Reynols para cilindros e esferas
A estrutura típica do escoamento segundo o número de Reynolds é mostrada na Fig. 11.13. Para
baixo número de Reynolds (Re≅0,1) se observa o escoamento típico (A) sem separação. A medida
que Reynolds aumenta (Re≅10) se origina uma região de separação na parte traseira do corpo (B).
A formação de vórtices oscilantes (C) se origina (Re≅100), conhecidos como vórtices de Von
Karman. Para maiores Re se produz a configuração do escoamento laminar (D) no qual o arrasto é
quase constante. Posteriormente quando se alcança o Re crítico (≅3x105) o escoamento torna-se
turbulento (E) no qual o ponto de separação desloca-se para a parte traseira do perfil originando-se
queda brusca do arrasto.
Geralmente o arrasto aumenta com o aumento da rugosidade superficial nos corpos delgados como
os perfis aerodinâmicos. Isto se deve a que o escoamento se torna turbulento. Nesta condições a
maior contribuição para o arrasto total se deve ao arrasto por atrito (CDf) que é muito maior no
escoamento turbulento que no escoamento laminar. Por outro lado, como se observa na figura
abaixo, nos corpos rombudos, como um cilindro circular ou esferas, o aumento da rugosidade
superficial pode causar uma diminuição do arrasto total. Para uma esfera lisa quando o Re atinge o
valor crítico (Re≅3x10 5), a camada limite se torna turbulenta. Nesta condição a esteira atrás da
esfera fica mais estreita. Isto origina uma diminuição significativa do arrasto por pressão (CDp) e um
leve aumento do arrasto por atrito (CDf). A combinação desta duas parcelas de arrasto (CDp + CDf)
fornece um arrasto total menor que nas condições de escoamento laminar. O aumento da rugosidade
superficial pode conseguir que a camada limite se torne turbulenta para um Re mais baixo e com
isto conseguir um arrasto total menor. Esta é, por exemplo, a técnica utilizada nas bolas de golfe
que apresentam uma rugosidade artificial exagerada para conseguir um escoamento turbulento com
menor Re (≅ 4x104) e diminuir assim o arrasto. Desta forma com uma tacada a bola pode alcançar
maiores distâncias percorridas comparadas com o caso de uma esfera lisa.
Figura 11.15 Diferença do escoamento de uma esfera lisa e uma bola de golfe.
Um aerofólio apresenta uma borda de ataque e uma borda de fuga. Denomina-se corda ( c ) a linha
que une a borda de ataque com borda de fuga. A linha curva que é sempre simétrica às superfícies
superior e inferior denomina-se linha de camber ou linha média. Um perfil aerodinâmico é
simétrico quando a linha da corda e a linha de camber são retas coincidentes. O formato de um
aerofólio apresenta uma curvatura que atinge seu máximo indicada pela espessura máxima.
Um perfil aerodinâmico quando submetido a uma corrente de fluido com velocidade V∞ apresenta
uma força resultante ( R ou FR) que é formada por duas componentes. Uma componente
denominada força de sustentação (L ou FL) que atua perpendicular à velocidade e uma força de
arrasto (D ou FD) que atua paralela à velocidade. O ângulo de ataque ( α ) é o ângulo formado
entre a linha da corda e a velocidade de corrente livre. A força de sustentação é apresentada na
forma adimensional como:
L
CL =
1
ρ V∞2 Ap
2
Onde CD é o coeficiente de arrasto e D a força de arrasto. Num perfil aerodinâmico o arrasto total
origina-se pelo arrasto devido à pressão CDf, o arrasto devido ao atrito (superficial) CDf e o arrasto
induzido CDi por efeitos de envergadura finita. Geralmente nos aerofólios o arrasto superficial é o
mais importante. Isto pode se inverter para relações t/c maiores que 25% onde t é a espessura
máxima do perfil e c a corda do mesmo.
p − p∞
cp =
1
ρ V∞2
2
cp é denominado coeficiente de pressão que é a diferença entre a pressão estática local e a pressão
estática de corrente livre adimensionalizada pela pressão dinâmica da corrente livre. Na figura
abaixo mostra-se a curva típica da distribuição de pressão em torno de um aerofólio. A parte
inferior do aerofólio apresenta uma pressão maior que na parte superior. Geralmente isto se
apresenta trabalhando com o eixo de cp negativo tal como mostrado. O ponto de estagnação ocorre
próximo da borda de ataque. Neste local a velocidade V=0. Para escoamento incompressível Cp=0
neste ponto. Quando a corda é unitária a sustentação é relacionada com o coeficiente de pressão:
C L = ∫ (C pi − C ps )d
x
1
0 c
Onde Cpi é o coeficiente de pressão da superfície inferior e Cps representa coeficiente de pressão da
superfície superior.
Um aerofólio com um determinado ângulo de ataque originará uma distribuição de pressão tal como
mostrada na figura acima. Para graficar o comportamento da sustentação versus o ângulo de ataque
de um perfil aerodinâmico devemos previamente avaliar a distribuição de pressão para cada angulo
desejado e posteriormente graficar o resultado. Uma curva típica deste resultado pode ser observada
na figura abaixo. Como se aprecia existe uma região em que a sustentação aumenta linearmente
com o ângulo de ataque até alcançar a sustentação máxima (CLmax). Nesta região o escoamento
apresenta-se suave sem separação da camada limite. Após este máximo o gradiente adverso de
pressão provoca a separação do escoamento na superfície superior do aerofólio originando-se um
esteira turbulenta. Nestas condições o aerofólio entra em estol o que significa que perde
sustentação e ocorre aumento do arrasto. O ângulo em que se origina este fenômeno denomina-se
ângulo de estol.
Um aerofólio simétrico apresentará uma curva de CL versus α que passa pela origem. Isto é para
α=0 0 a sustentação CL=0. No caso de perfis assimétricos para α=00 o aerofólio apresenta um
sustentação, contudo existirá um ângulo tal que terá sustentação nula tal como mostrado na figura
abaixo.
Um aerofólio é uma seção de asa que, para efeitos de análise de escoamento, considera-se como
bidimensional. Trata-se portanto de uma asa de envergadura infinita. Quando se estudam perfis com
envergadura finita devem ser considerados os efeitos tridimensionais provocados pelas pontas das
asas, as quais reduzem a sustentação e aumentam o arrasto. Num aerofólio de envergadura finita
são originados vórtices de fuga devido a que a pressão média na superfície inferior é maior que a
pressão média na superfície superior. Esta diferença de pressão se manifesta perto das pontas na
qual o fluido tende a escoar da parte superior para a parte inferior. Como a asa está em movimento
para jusante do aerofólio formam-se estes vórtices de fuga tal como mostrados na figura abaixo.
Figura 11.22 Circulação e feito de vórtices de fuga num perfil de envergadura finita
onde b é a envergadura e Ap a área projetada. Se o comprimento da corda é constante tal como numa
asa retangular, esta relação fica simplificada como ar = b/c. As asas compridas são mais eficientes
que as asas curtas devido às perdas das pontas são menos significativas. O efeitos de pontas também
origina um arrasto induzido o qual deve ser determinado e adicionado ao arrasto por atrito e por
pressão do aerofólio.
Nos perfis com envergadura finita as velocidades dirigidas para baixo reduzem o ângulo de ataque
efetivo em proporção ao coeficiente de sustentação.
α = α efec + α i
onde αefec é o ângulo efetivo numa asa com envergadura finita, αi é o ângulo de ataque induzido
por efeito da velocidade para baixo originada pelos vórtices de fuga. Isto origina uma redução da
inclinação da curva da sustentação como observado na figura. Da teoria de fluido incompressível o
ângulo induzido é determinado como:
CL
αi =
πar
A inclinação da curva de sustentação para um aerofólio com envergadura infinita é definida como
coeficiente de inclinação:
dC L
ao =
dα
Desta forma a sustentação pode ser avaliada para uma asa de envergadura infinita em função de ao
curva utilizando a relação:
C L = a oα eefct
C L = ao (α − α i )
Numa asa de envergadura finita os vórtices de fuga (Fig.11.22) originam velocidades para baixo
que provocam um aumento do coeficiente de arrasto CD , o qual pode ser avaliado como:
C D = C D∞ + C Di
onde CD∞ é o coeficiente de arrasto da seção considerada um perfil de envergadura infinita e CDi é
o arrasto induzido que pode ser avaliado pela expressão:
C L2
C Di = C Lα i =
πar
Efeito da compressibilidade
Para corpos perfilados para escoamentos com número de M<0,5 os efeitos de compressibilidade no
coeficiente de arrasto não são significativos. Já para escoamentos com M alto o coeficiente de
arrasto é fortemente dependente do número de Mach, como se observa no exemplo da figura.
Nas condições de estado de vôo constante (condições de cruzeiro) a sustentação (FL) deve ser igual
ao peso da aeronave (W).
1
W =L= ρ V∞2 A
2
2W
Vmin =
ρ C L max A
Desta forma a velocidade mínima de aterrissagem pode ser reduzida pelo aumento de CLmax. ou
pelo aumento da área da asa. Os flapes são partes móveis da borda de fuga de uma asa que podem
ser prolongados num aterrissagem e decolagem com a finalidade de aumentar a área efetiva da asa.
Uma bola de golfe bem tacada. Diâmetro Dg=43mm Peso W=0,44N Velocidade V=61,0 m/s
Uma bola de tênis bem rebatida. Diâmetro Dg=38,1mm Peso W=2,45x10-2N Velocidade V=18,3m/s
FD 1
CD = ou FD = ρ U ∞2 AC D
1 2
ρ U ∞2 A
2
Número de Reynolds
UL UL
Para Bola de Golfe Re L = Para bola de Tênis Re L =
ν ν
Área
D2 D2
Bola de Golfe ABg = π = 0,0014522 Bola de Tênis ABt = π = 0,00114m 2
4 4
Pressão Dinâmica:
Para as duas Bolas de Golfe Para a Bola de Tênis
Pv = ρ U ∞2 = 0,5 x1,2 x(18,3) = 201Pa
1 1
Pv = ρ U ∞2 = 0,5 x1,2 x 612 = 2232,6 Pa
2
2 2
• A bola de golfe padrão (com cavidades) alcança uma maior trajetória já que possui uma menor
desaceleração.