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Bom, vamos imaginar por um momento que o Brasil, este país formado
por tantas e tão distintas etnias, em algum momento passe a receber um fluxo
migratório de falantes de língua inglesa, um fluxo tal que estes acabam
influenciando nosso idioma. Bom, em inglês ‘texto’ se escreve quase igual ao
português, ‘text’, mas ao contrário deste, o ‘x’ não se lê como ‘s’ e sim como
‘cs’; então, com esta influência teríamos que texto no futuro, ou passaria a ser
lido como ‘tecsto’, ou então, por erro de grafia dos imigrantes pouco
familiarizados com o idioma de Saramago passassem a escrever ‘testo’,
mantendo o significado. Com o tempo e com o uso cada vez menos acadêmico
do português na comunicação da internet, o novo jeito, ‘testo’, acaba sendo
mais efetivo na comunicação do que sua versão antiga e sendo adotado como
grafia oficial. Pode ser que Portugal, entretanto, não sofra os efeitos da
‘invasão inglesa’ e siga usando texto em sua grafia original, mais adaptada à
realidade dos lusitanos.
Moscas
Mas nosso texto, por incrível que pareça, não trata de gramática, e sim
de biologia! Vamos agora a um segundo exemplo, aparentemente, sem
conexão com o primeiro. Ressalto que o exemplo abaixo não é meu, eu o li
quando era ainda criança, mas nunca mais consegui encontrar a bibliografia
para dar o devido crédito:
Agora suponha que, por uma mutação no DNA, algumas dessas moscas
nasçam, às vezes, sem asas. Quais destas moscas seriam mais facilmente
caçadas pelo passarinho? Obviamente aquelas que não podem voar. Estas,
então, não conseguem chegar à idade de reproduzir-se e passar aos
descendentes seus genes.
Entretanto, imagine, agora, que o prado fica à beira de uma praia e que
nesta praia vente muito. As moscas e os passarinhos que experimentem se
aventurar a voar na praia rapidamente são pegos pelo vento e jogados ao mar.
As moscas sem asas, contudo, caminham do prado para a areia sem ser
atingidas pelo vento, que passa acima de suas cabeças, e passam a levar uma
nova vida na praia, longe de suas irmãs e de seus predadores.
Evolução
Essa foi a ‘sacada’ de gênio de Darwin, uma ideia simples que mudou a
forma como vemos o mundo. Darwin era um naturalista e, como tal,
empreendeu uma viagem pelo mundo a bordo do navio HMS Beagle, tendo
coletado milhares de espécies animais nos lugares por onde passou. Alguns
anos depois, já em casa, a análise destes animais o fez constatar um fato
surpreendente: as espécies mudam conforme o ambiente em que vivem. O
mais famoso exemplo disto são os tentilhões, espécie de pássaro que Darwin
recolheu nas Galápagos e nos quais constatou que, conforme a ilha e o
alimento disponível nela, mudava a forma do bico; forte nas ilhas onde era
necessário quebrar nozes, fino e pontiagudo quando precisava comer insetos,
etc.
Capelão
Em poucas palavras (e simplificando bastante devido ao espaço) isso é
a evolução tão propalada, tão debatida e tão pouco compreendida; ela não é
um ‘ato mágico’, mas um processo natural (não estou discutindo aqui a
existência ou não de um deus, mas se deus existe e criou a vida, criou-a desta
forma); ela não é direcional, ou seja, não há um ‘ápice da evolução’ ou um ser
‘mais evoluído que outro’, existem adaptações que funcionam melhor ou pior
em determinado nicho (não somos, por exemplo, mais evoluídos que uma
bactéria ou que uma barata, apenas evoluímos para ocupar nichos distintos
destas); não é fruto do acaso e sim uma seleção dos fenótipos mais adaptados.
Esta ideia simples foi tão revolucionária que hoje influencia áreas do
conhecimento tão díspares quanto medicina, paleografia, heurística,
inteligência artificial, psicologia, música, política… e para a biologia é tão
importante que o geneticista e biólogo evolutivo ucraniano-estadunidense.
Dobzhansky afirmou que nada em biologia faz sentido a não ser à luz da teoria
evolutiva.
Evidências
Mas como podemos demonstrar que espécies mudam ao longo do
tempo e são selecionadas conforme essas mudanças? Bom, evidências podem
ser encontradas em pequena escala entre bactérias. O biólogo Richard Lenski,
por exemplo, desenvolveu um experimento de 25 anos em que analisou 12
populações idênticas da bactéria Escherichia coli colocadas em frascos de
glicose. Passado esse tempo, em que ocorreram perto de 58 mil gerações,
foram analisadas as bactérias atuais e comparadas com as originais
(congeladas). Foram encontradas mudanças significativas, sendo que as atuais
estão mais aptas que suas antecessoras para viver no ambiente em que vivem,
no qual há abundância de alimento. A linhagem original de E. coli, por exemplo,
levava uma hora para dobrar sua população, mas a atual consegue fazer em
cerca de 40 minutos. A equipe que realiza o experimento prevê que as futuras
gerações irão se reproduzir ainda mais rapidamente.
Mas não para por aí, há muitas, muitas outras evidências de que a
Teoria Sintética da Evolução é uma boa explicação. Para saber mais, a
bibliografia deste texto é um bom começo.
Bibliografia
CALZAVARA, B. Um experimento de 25 anos observou a evolução em
ação. Hypescience [online], 2013. Disponível em <https://hypescience.com/um-
experimento-de-25-anos-observou-a-evolucao-em-acao/>.Acesso em 14 Jul
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DENNETT, D. Darwin’s dangerous ideia: evolution and the meaning of life.
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Acesso em 14 Jul 2018.
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<https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/texto>. Acesso em 14
Jul 2018.
PRIBERAM Dicionário da Língua Portuguesa [online], 2008-2013. Verbete
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RIDLEY, M. Evolução. Porto Alegre: Artmed, 2008.
WEINER, J. O bico do tentilhão:uma história da evolução no nosso tempo.
Rio de Janeiro: Rocco, 1995.