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Ibero-americano do CIGRÉ
Foz do Iguaçu-Pr, Brasil - 20 a 24 de maio de 2007
J. L. Nunes, Jr.
Grupo de Trabalho de Líquidos Isolantes GT D1.01 da
Comissão de Estudos de Materiais e Tecnologias Emergentes da CIGRE - Brasil
RESUMO
Durante o ano de 2004 e no 1° semestre de 2005, foram relatadas ocorrências de falha em mais de uma
dezena de reatores de classe de tensão de 500 kV de fabricantes diversos, além de um transformador
elevador de 230kV, e a constatação, após inspeção interna, da ocorrência de curto entre espiras na parte
superior dos enrolamentos e do ataque ao cobre por compostos de enxofre.
A partir de abril de 2005, com as ações de mitigação adotadas no óleo mineral isolante dos equipamentos
com a adição de um agente passivador onde constatado o caráter corrosivo do óleo, verificou-se sensível
redução do total de falhas reportadas como devido a este fenômeno.
Apesar do mecanismo de formação e depósito de sulfeto de cobre ainda não ser completamente
conhecido, tanto as metodologias de ensaio de determinação de enxofre corrosivo da ABNT NBR
10505/06 quanto a ASTM D1275/06 já estão ajustadas para detecção do fenômenoe, portanto o
entendimento hoje, mesmo que parcial do fenômeno, já nos permite utilizar óleos isolantes novos sem
características de corrosividade, limitando o problema as unidades já identificadas
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Compostos de enxofre são naturalmente encontrados no petróleo. Na produção de óleos isolantes, aqueles
compostos de baixo peso molecular, consequentemente mais reativos, são retirados do óleo durante o
processo de refinação. Os compostos de alto peso molecular, menos reativos, podem permanecer na
formulação do óleo, pois tem um efeito positivo na sua estabilidade à oxidação.
Em transformadores e reatores, os metais estão continuamente em contato com óleo isolante e, portanto
sujeitos à corrosão. A presença de compostos de enxofre reativos poderá resultar na deterioração destes
metais. A extensão da deterioração é dependente da quantidade e reatividade do composto e de fatores
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como tempo e temperatura. A detecção destes compostos, mesmo que de modo apenas qualitativo, é um
meio para reconhecer uma situação de risco potencial.
Em um primeiro momento, o único fato comum era que estes reatores operavam em locais com
temperatura ambiente elevada (sertão da Bahia e do Maranhão) fazendo supor que a temperatura estaria
envolvida no processo. Em nenhum dos casos, ensaios de cromatografia gasosa, mesmo realizados pouco
antes da ocorrência da falha detectaram qualquer defeito incipiente em evolução.
Em todo o mundo, são reportadas mais de 45 falhas envolvendo reatores e transformadores tanto AC
como DC, de 6 diferentes fabricantes enchidos com óleo minerais isolantes de 8 diferentes fornecedores.
A diversidade de ocorrências sugere a existência de mais de um mecanismo de falha já que são reportadas
falhas tanto em equipamentos operando com tensão AC como DC e dispersão de sulfeto de enxofre
ocorrendo tanto no sentido das camadas mais internas do papel para as externas quanto no sentido
inverso, além de envolverem pelo menos 4 diferentes fabricantes de óleo mineral isolante.
Pelo potencial de risco ao Sistema Elétrico, este GT no segundo semestre de 2004, criou uma Força-
Tarefa na tentativa de compreender o mecanismo de falha e os possíveis meios de diagnóstico para
identificação das unidades em risco.
A partir de abril de 2005, com as ações de mitigação adotadas no óleo mineral isolante dos equipamentos
onde constatado seu caráter corrosivo, segundo o ensaio preconizado pelo Relatório Técnico 002/05 do
GT D1.01 do Cigré Brasil, atual norma NBR 10505/06 - Determinação de enxofre corrosivo, verificou-se
sensível redução do total de falhas reportadas como devido a este fenômeno.
Apesar do mecanismo de formação e depósito de sulfeto de cobre ainda não ser completamente
conhecido, as ocorrências até esta data confirmam os ensaios de laboratório realizados até aqui que
atestam a dependência da temperatura e em sistemas selados para ocorrência do fenômeno, já que não se
constatou sua ocorrência fora destas condições. O grau de influência de fatores como transitórios e
campos eletromagnéticos estão sendo estudados.
Em julho de 2006, a TERNA divulgou, em reunião realizada no Rio de Janeiro, os resultados de estudos
realizados em conjunto com a Sea Marconi e a Universidade do Missouri que apresenta o DBDS (dibenzil
dissulfeto) como o composto provavelmente responsável pela tendência à corrosividade nos óleos
minerais isolantes.
Este estudo apresenta uma tabela onde, dos 14 óleos isolantes novos disponíveis no mercado mundial, 07
apresentavam este composto em diferentes concentrações e não passavam nos ensaios de determinação de
enxofre corrosivo, segundo a ASTM D1275:06B.
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Como fator limitante, nos equipamentos já afetados, o aditivo apenas suspende o processo, não havendo
regressão da reação dos sulfetos e óxidos formados (não reversibilidade).
A passivação do óleo é realizada com um derivado do BTA solúvel em óleo, disponibilizado pela própria
Nynas com o nome comercial de NYPASS, como um concentrado para ser diluído no óleo para obtenção
de uma concentração final de 100 ppm.
Embora um levantamento feito pelo ONS tenha identificado como unidades em risco 49 bancos trifásicos
de reatores, foi reportada a passivação de aproximadamente 320 equipamentos (4.300.000 L) além de 21
equipamentos (284.000 L) onde a carga de óleo foi substituída.
Apesar do ONS não listar transformadores diretamente como unidades em risco, o Setor Elétrico passivou
grande quantidade desses equipamentos. Foram identificados 209 transformadores passivados
(11.000.000 L) e 25 (900.000 L) com substituição do óleo.
5. WORKSHOP ABINEE
Após a proposta de aditivação do óleo mineral com uma agente passivador, as concessionárias
passaram a demandar uma posição dos fabricantes de equipamentos em relação a ela e, em
função desta questão, em junho de 2005, a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica) organizou um Workshop com a presença dos fabricantes de equipamentos (ABB, AREVA,
SIEMENS, TOSHIBA) da NYNAS e da DOBLE além de representantes da ABRATE (Associação
Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica) e da ANEEL (Agencia Nacional de
Energia Elétrica) e da CIGRÉ.
Foi posição unânime dos fabricantes de equipamentos defenderem a proposta da NYNAS de passivar o
óleo dos transformadores e reatores em operação e a serem instalados.
A ABB sugeriu a adoção de ensaios para avaliação do potencial de corrosão dos óleos com o uso de tiras
de cobre enroladas com papel isolante (CCD – cover conductor deposition test) como forma de reproduzir
melhor os fenômenos que ocorrem nas situações reais para permitir a avaliação das soluções de
remediação propostas.
Dentro das conclusões do Workshop, este Grupo de Trabalho (D1.01) assumiu o compromisso de estudar
a metodologia de ensaio visando obter valores mínimos de repetibilidade e reprodutividade para permitir
avaliar com segurança o caráter corrosivo dos óleo em operação de modo a identificar as unidades em
risco de falha.
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Em março de 2005, o GT iniciou as discussões para definição de um método de ensaio para determinar o
potencial corrosivo dos óleos isolantes que apresentasse uma melhor repetibilidade e reprodutividade,
conjugando os esforços de mais de 10 laboratórios entre fabricantes de equipamentos, concessionárias de
energia, fabricantes de óleo e laboratórios independentes.
Durante o primeiro semestre de 2005 foram realizadas várias intercomparações laboratoriais para
avaliação de repetibilidade e reprodutividade e ajuste dos parâmetros de ensaio.
Conforme definido no plano de trabalho da FT, foi realizada a avaliação das metodologias de ensaio para
determinação de enxofre corrosivo (segundo ASTM D1275, DIN 51353, ISO 5662 e método DOBLE
modificado) em óleos disponíveis comercialmente no Brasil.
Simultaneamente, os laboratórios das empresas participantes deste GT realizaram seus próprios ensaios e,
após a discussão dos resultados apresentados, chegou-se ao consenso de que o método de ensaio citado na
ANP, (NBR 10505, lâmina de cobre/140°C/19h), equivalente ao ASTM D1275 e o da IEC (DIN 51353,
lâmina de prata/100ºC/18h) não eram efetivos na caracterização dos óleos minerais isolantes que
contivessem compostos de enxofre que pudessem vir a causar corrosão do cobre sob certas condições de
uso.
O método de ensaio NBR 10505/06 pode apresentar resultados classificados como não conclusivos e o
GT D1.01 está trabalhando em técnicas de microanálise no sentido de quantificar valores de enxofre
depositados na fita de cobre para definição como corrosivo ou não corrosivo.
Um grupo de trabalho da IEC está desenvolvendo estudos para proposição de uma alternativa à DIN
51353 (determinação de enxofre corrosivo utilizando-se fita de prata), devendo adotar o método sugerido
pela WG A2.32 da CIGRÉ que utiliza fita de cobre recoberta com papel e uma relação cobre/óleo mais
próxima da encontrada nos equipamentos elétricos.
7. NOVOS DESENVOLVIMENTOS
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Além da versão modificada da IEC 60666, em agosto de 2006, dois métodos alternativos baseados em
fotoespectrometria foram preparados respectivamente pelo LACTEC e pelo CEPEL, por serem mais
fáceis de serem implementados pelos laboratórios químicos das concessionárias, permitindo o início do
monitoramento do teor de passivador no óleo.
Deste então, os laboratórios que iniciaram seu monitoramento reportaram diferentes taxas de consumo de
passivador. Alguma redução do teor de passivador no óleo de equipamentos em operação é esperada, pelo
seu próprio mecanismo de ação mas, como a grande maioria destes equipamentos foi passivada antes da
disponibilização do método de ensaio ou mesmo antes da informação de que processos de aditivação
realizados através de sistemas termo-vácuo poderiam causar perda de passivador em função do vácuo ou
temperatura elevados, não há como assegurar que esta variação não é devida a erros no próprio processo
de aditivação.
8. CONCLUSÃO E COMENTÁRIOS
A preocupação com a presença de enxofre corrosivo em óleos isolantes foi, durante os últimos anos,
quase que negligenciada pelos usuários principalmente depois que processos de hidrotratamento tornaram
comuns nas refinarias. Evidência deste fato é que o método de ensaio original (ASTM D-1275) data de
1953.
É importante notar que o enxofre corrosivo enfrentado hoje difere daquele identificado anteriormente. O
“antigo” era proveniente de deficiências na refinação do óleo e, portanto estava presente na forma
corrosiva antes do contato com o equipamento elétrico. Na situação atual, os compostos corrosivos não
está presente no óleo antes do contato. Eles podem ser formados pela quebra das moléculas de compostos
de enxofre que, a princípio, teriam características benéficas quanto à estabilidade à oxidação do óleo, mas
que devido às condições de operação, tais como alta temperatura e ausência de oxigênio, transformam-se
em compostos reativos que então irão promover o ataque ao cobre gerando o sulfeto de cobre que, ao se
dispersar no papel, causa a perda de sua suportabilidade dielétrica, vindo a ocasionar um curto entre
espiras.
Precisaremos, para o futuro, quebrar alguns paradigmas tais como imaginar que um óleo isolante que
necessite de aditivos artificiais é um óleo de “base ruim”. Iremos conviver daqui para frente com óleos
isolantes naftênicos com baixíssimos teores de enxofre, mas que, para cumprir as exigências de
estabilidade da IEC 61125, terão que ser aditivados artificialmente.
O entendimento hoje, mesmo que parcial do fenômeno, já nos permite utilizar óleos isolantes novos sem
características de corrosividade, de acordo com as normas ASTM D1275:06B e NBR 10505/06,
limitando o problema as unidades já identificadas.
Nosso Grupo de Trabalho, em conjunto com a Comissão de Estudos 10.1 (óleos minerais isolantes) da
ABNT iniciou, há cerca de um ano, gestões junto a ANP (Agência Nacional de Petróleo) no sentido de
atualizar o regulamento técnico que especifica os parâmetros necessários para comercialização no Brasil
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de óleos minerais isolantes. O processo de revisão do regulamento técnico 25/05 da ANP, ora em curso,
para ajustá-la as novas exigências dos ensaios de corrosividade, provavelmente exigirá um abrandamento
nos parâmetros de estabilidade a oxidação para permitir que óleos isolantes com baixos teores de enxofre
possam ser disponibilizados ao mercado. A revisão deve priorizar o aspecto de funcionalidade do óleo
isolante.
Apesar do foco na funcionalidade, as relações entre o fornecedor do óleo e o usuário devem ser pautadas
pela transparência e qualquer composto ou aditivo que possa ser afetado pelos processos usuais de
manutenção, tais como tratamento termo-vácuo ou a regeneração da carga de óleo, com possibilidade de
alteração das características originais do óleo deve ser de conhecimento prévio do usuário.
Os fóruns de discussão técnica e de normalização têm buscado aprimorar os métodos de ensaio que
avaliem as propriedades funcionais do óleo como, por exemplo, o próprio método de determinação de
enxofre corrosivo, os ensaios de compatibilidade entre os diversos materiais de construção dos
equipamentos elétricos e os ensaios de estabilidade a oxidação para que reflitam, o mais fielmente
possível, a situação real a que estes materiais são submetidos.
Nosso Grupo de Trabalho vai continuar desenvolvendo estudos na busca de uma maior compreensão do
problema, inclusive no desenvolvimento de um método mais apurado para detecção do potencial
corrosivo de óleos isolantes.
BIBLIOGRAFIA
[1] Grupo de Trabalho de Líquidos Isolante D1.01 CIGRÉ – Brasil, RELATÓRIO TÉCNICO D1-01-
002/05 - ENXOFRE CORROSIVO EM ÓLEO MINERAL ISOLANTE
[2] Grupo de Trabalho de Líquidos Isolante D1.01 CIGRÉ – Brasil, INTERIM REPORT D1.01-
002/06 - ENXOFRE CORROSIVO EM ÓLEO MINERAL ISOLANTE
[3] Workshop ABINEE, jun/2005 – S. Paulo,SP
[4] Apresentação TERNA, jul/2006 – Rio de Janeiro, RJ
[5] NBR 10505/05 - Óleo mineral isolante - Determinação de enxofre corrosivo - Método de ensaio