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HIDROGEOLOGIA AVANÇADA

PARTE II – Aula 05

Reservas e Projetos de Abastecimento


de Comunidades

Prof. Milton Matta


1- INTRODUÇÃO
O Capítulo de Projetos e Análises de poços tem como
principal objetivo transmitir ao estudante de hidrogeologia
uma visão geral sobre construção de poços tubulares e suas
variadas aplicações. Como objetivos específicos podem ser
citados:
• descrição dos principais métodos de perfuração de
poços tubulares;

• discussão sobre os processos de elaboração de


projetos de poços tubulares;

• construção de poços tubulares de forma correta, sem


riscos de contaminação das águas subterrâneas;

• utilização de poços tubulares e sua relação com a ocupação


urbana;
• desenvolvimento de poços tubulares e
otimização de vazões;

• discussão dos projetos relacionados à


manutenção de poços e suas implicações na vida
útil dos mesmos.

A relevância desse assunto para o estudo das águas


subterrâneas é muito grande, sobretudo nos tempos atuais
onde a sociedade moderna discute, nos mais variados
fóruns, os problemas relacionados com o abastecimento de
água potável. Sabe-se que apenas cerca de 1% da água do
planeta é doce e que a metade faz parte dos lençóis
subterrâneos.
2- As obras de Captação em Belém e
Adjacências

Na região de Belém e adjacências existe uma grande variedade de


tipos de obras de captação das águas subterrâneas, que vão desde os
conhecidos “Poços Amazonas” até sofisticadas obras de engenharia
hidrogeológica.

2.1- POÇOS ESCAVADOS - AMAZONAS

A grande maioria dos poços para abastecimento de água subterrânea


na área de Belém e adjacências é o “poço amazonas”. Na verdade,
tratam-se de “buracos” cavados manualmente para captar água do
subsolo, feitos sem qualquer preocupação técnica ou higiênica. Os
perfuradores são moradores das comunidades que dispõem das
ferramentas básicas.
Poço escavado (Amazonas) na região de Ananindeua, objeto de medida
de nível de água.
Poços Escavados
Esses poços estão vastamente distribuídos na RMB e normalmente
possuem suas águas contaminadas por uma gama muito variada de
fontes pontuais de contaminação.

As zonas aqüíferas explotadas pelos poços do tipo amazonas são os


terraços alúvio-coluvionares. As profundidades variam de 2 a 10 metros,
diâmetros de boca na ordem de 0,90 metros a 1,50 metros e níveis
estáticos que variam dependendo do período de medida. Valores entre
2,5 a 7,8m foram medidos. A maioria dos poços está associada com
bombas submersas ou similares.

A maioria desses poços está em propriedades particulares que passam


por sérias dificuldades de abastecimento quando, boa parte desses
poços, no período de estiagem máxima, seca, obrigando o
aprofundamento dos mesmos ou a utilização de outras alternativas para
solucionar o abastecimento.
Poço escavado (Amazonas) na região de Belém e sua alta
vulnerabilidade frente às fontes de contaminação/poluição.
Na área existem algumas dezenas de nascentes que estão associadas às mais
variadas utilidades desde residências particulares a granjas e balneários. Estas
fontes são surgências de água na superfície, como conseqüência do nível
freático “cortar” a superfície topográfica.

2.2 - POÇOS TUBULARES

Os poços tubulares perfurados no âmbito da RMB estão divididos em três


grupos distintos quanto aos seus processos construtivos.

A) O primeiro deles é constituído por poços rasos, com


profundidades que dificilmente ultrapassam 25m.

Explotam zonas aqüíferas dos sedimentos Pós-Barreiras, com diâmetros de


perfuração de 6 a 8 polegadas e revestidos com tubos de PVC ou similar de 4
ou 3 polegadas. Os níveis estáticos medidos durante um ciclo hidrológico
completo variaram de 2,4 a 6,2 metros.
Esses poços são mal construídos, sem qualquer preocupação técnica e por
pessoas não habilitadas. Normalmente são elementos que possuem algum
equipamento de perfuração manual ou mesmo sondas elétricas e se dizem
especialistas em perfuração de poços.

Nesse caso o processo de perfuração é rotativo-manual. Normalmente a


rotação é feita por três indivíduos que manipulam o equipamento e,
dependendo do material que está sendo atravessado, a sondagem é
bastante lenta.

Nessas obras de captação o fator determinante é o custo do poço. Para


tanto, os “sondadores” utilizam-se de tubos PVC que são serrilhados a
mão para funcionarem como filtros, sem qualquer controle granulométrico
do material aqüífero. Os revestimentos são precários e os cuidados com o
desenvolvimento do poço inexistem.

Os poços desse conjunto constituem uma importante fonte de contaminação dos


aqüíferos confinados ou semi-confinados por romperem as camadas confinantes
e permitirem a condução dos agentes poluidores aos níveis aqüíferos inferiores.
Poços tubulares com proteção
sanitária e ligação para caixa
d’água. Região de Belém.
É desnecessário mencionar que esses sondadores estão totalmente fora da
regulamentação vigentes e não são cadastrados no CREA-PA nem suas
obras.

O segundo conjunto de poços tubulares é aqueles construídos por firmas


estabelecidas no mercado e que possuem técnica um pouco mais elaborada.
Ainda assim, essas firmas não estão legalmente registradas nos órgãos legais
(CREA-PA) e, normalmente não se responsabilizam tecnicamente por suas obras.
Diversos são os casos que tem chegado aos órgãos fiscalizadores, através de
denuncias de consumidores que tiveram seus poços perfurados por firmas não
habilitadas e sem geólogos em seus quadros, como exige a legislação em vigor.

As principais reclamações tem sido associadas (i) às bombas que queimam


com facilidade em função da entrada de areia nos poços, causadas por mal
dimensionamento das aberturas dos filtros e falta de cuidado com a
compactação dos pré-filtros e (ii) falta de qualidade nas águas captadas ou
contaminações nas mesmas associadas à falta de cimentação nos poços e
outros erros construtivos.
Poço tubular com ligação para caixa d` água, abastecendo escola pública em
Ananindeua.
Esses poços explotam os aqüíferos da unidade Barreiras e chegam a atingir
profundidades de até 100 m. Os diâmetros de perfuração são de 12 ¼” na
maioria das vezes e revestidos por tubos e filtros de 6 polegadas.
Essas obras, na sua grande maioria, estão em condomínios residenciais e
pequenas comunidades. Os processos construtivos são rotativos através de
sondas elétricas.
O terceiro grupo de poços tubulares é construído por firmas
regularmente registradas nos órgãos competentes, com vasta experiência no
mercado e que constroem obras de engenharia geológica que vêm sendo
espalhadas na região de Belém e Ananindeua. Vários desses poços têm mais
de uma dezena de anos de construção e não tem apresentado qualquer
problema.

Esses poços explotam os aqüíferos da


Formação Pirabas em profundidades
de até 280 metros, sendo que o nível
ideal (melhor qualidade e quantidade)
acha-se entre 180 m e 270 m. Os
diâmetros de perfuração variam de 22”
a 17 ½” e são revestidos com 14” e 8”,
respectivamente.
Equipamento de
perfuração de poços
profundos na região de
Belém (Poço da UFPA).

Tanques de lama associados à


perfuração de poços profundos
em Belém (Poço da UFPA)
Normalmente nos revestimentos são utilizados tubos de aço carbono
“schedulle 40” e filtros de aço inoxidável AISI 304, com aberturas de 0,50 mm a
0,75 mm. Para profundidades menores, até 200 m, em alguns poços são
utilizados tubos geomecânicos e filtros inox com ranhura de 0,5mm a 0,75mm.

Os métodos de perfuração normalmente são rotativos com circulação de


fluido a base de bentonita e água doce, com amostragem de calha em
intervalos de 2 em 2 metros ou 3 em 3 metros.

Perfuração do Poço Campus UFPA.

Foto 01-
Testemunhos de
sondagem.
Foto 03- Acampamento montado Foto 02- Aspectos do
às margens do rio Guamá. fluido de perfuração.

Foto 05- Equipamento de


Geofísica para perfilagens. Foto 04- Perfilagens geofísicas.
Foto 06- Hastes da coluna
de perfuração. Foto 07- Broca de perfuração.

Foto 09 -Operação de colocação de Foto 08– Material para ser usado


hastes. como pré-filtro.
3 - Reservas Hídricas Subterrâneas

As principais terminologias, segundo Matta, 2002, são


as seguintes:
a) Reservas Reguladoras - Reservas Renováveis;
b) Reservas Permanentes
c) Reservas Totais
d) Reservas de Explotação – Recurso Explotável;
e) Potencialidade Hídrica;
f) Disponibilidade Hídrica
Reservas Renováveis (Rr)
Rr = A. Δh. ηe, onde:
A= área de ocorrência do aqüífero (L2 );
Δh = variação do nível d´água (L);
ηe = porosidade efetiva (adimensional)
Rr = A. Δh. ηe , onde A = 1240 km2 , Δh = 1,8m e ηe =
10%, obtém-se para as reservas renováveis um volume
de 223,2 milhões de m3/ano.

Reservas Permanentes
Sistema Barreiras – Pós-Barreiras – Aluviões

VS = A. b. ηe, onde:
A = Área de ocorrência do sistema aqüífero (L2 )
b = espessura média saturada (L)
ηe = porosidade efetiva (adimensional)
Vs = A. b. ηe, onde A= 1240 km2 ; b = 30,8 ; ηe =
10%, obtém-se para o volume de saturação o valor
de 3,8 bilhões de m3.
Sistema Aqüífero Pirabas

VP = A. h. S, onde:
A = área de confinamento do aqüífero (L2 )
h = carga hidráulica média (L)
S = coeficiente de armazenamento (adimensional

VP = A. h. S, onde A= 1240 km2 ; h = 280m ; S = 1,01 x 10 –4,


obtém-se para o volume sob pressão o valor de 35,1 milhões
de m3.

Vs = A. b. ηe, onde A= 1240 km2 ; b = 220m (PEHRMB, 2001)


; ηe = 8 %, obtém-se para o volume de saturação o valor de
VS + VP = 35,1 milhões de m3 + 21,83 bilhões de m3
21,83 bilhões de m3.
= 21,86 bilhões de m3.
As reservas permanentes dos sistemas aqüíferos da área totalizam 25,66
bilhões de m3,
m3 valor obtido pela soma das reservas do sistema livre (3,8
bilhões de m3) com o sistema confinado (21,86 bilhões de m3).
Reservas Hídricas Subterrâneas dos Sistemas
Hidrogeológicos

Reservas Sistema Barreiras– Sistema Pirabas Dois Sistemas


Pós-Barreiras–
Aluviões

Renováveis 223,2 milhões de


m3/ano.

Permanentes 3,8 bilhões de m3 21,86 bilhões de m3 25,66 bilhões de m3

TOTAIS 4,02 bilhões de m3 21,86 bilhões de m3 25,88 bilhões de m3


4- Proposta Alternativa de Abastecimento

Referência = Projeto PEHRMB/CPRM, 2002

Base da Proposta = Demanda de Água da População


População dos 02 (dois) Municípios

Barcarena: 73 163 hab. + (3.91% Pop.) X 25 anos = 144 680 hab.


Abaetetuba: 132.354 hab. + 2.77% Pop. x 25 anos = 224 009 hab.
População Total = 144 680 + 224 009 = 368 689 habitantes

Assim, o consumo diário no âmbito da área estudada seria:

População estimada: 368 689 habitantes


Consumo per capta considerado: 150 L/dia
Consumo Diário de Água = 150 l/dia X 368 689 = 55 303 350 l/dia (55 303 m3/dia)
Dados Técnicos para a Construção dos Poços Tubulares para
atender a Demanda
1 - Profundidade = 200 m;

2 - Método de perfuração = método rotativo com circulação direta de fluido de


perfuração;

3 - O diâmetro da câmara de bombeamento = 14“com a sua base localizada a 70m


do solo;

4 - Revestimento = tubos geomecânicos e nas zonas com potenciais para a


produção de água seriam utilizados filtros inoxidáveis, com vazões médias de 8 a
10 m3/metro linear;

5 - Espessura de aqüíferos necessária: 70m, com utilização de 65% da metragem


linear resultando em cerca de 45m de filtro 08 polegadas, sinalizando uma
expectativa de vazão de teste em torno de 400 m3/h, o que sinaliza uma
capacidade de vazão de produção para o poço de 250 m3/h;

6 - Vazão média de 250 m3/h.

Preço do Poço Unitário = R$ 200.000,00


População atual = menor demanda de água exigida = proposta mais
barata

População Total = 73. 163 + 132.354 = 205.517 habitantes

O consumo diário no âmbito da área estudada seria de:

População estimada: 205.517 habitantes


Consumo per capta considerado: 150 L/dia
Consumo Diário de Água = 150 l/dia X 205 517
= 30 827 550 l/dia ou 30 827 m3/dia

Q= 250 m3/h (Vazão média por poço)


Regime de Bombeamento: 18 h/dia
Vazão diária p/ um regime de bomb. de 18h = 250 m3/dia X18 h/dia
= 4.500m3/dia
Número de Poços = 30 827 m3/dia (demanda diária)/ 4500 m3/dia

=6,85 poços= 7 poços + 2 poços extras = 9 poços necessários

Valor dos 9 poços = R$ 200.000,00 X 9 poços = R$ 1. 800. 000,00

O sistema de bombeamento ficaria em torno de R$ 287.789,76,


considerando-se, apenas, a colocação de uma bomba em cada poço.

Valor Total da Obra


Poços + Sistema de Bombeamento
R$ 1.800.000,00 + 287.789,76 = R$ 2.087.789,76

Preço per capita = R$ 2.087.789,76 / 205.517 = R$ 10,16/ per capita

Isso implica que se o abastecimento atual de água potável da


população dos dois municípios fosse paga pela população
atual, cada individuo pagaria R$ 10,16.
Avaliação Econômica

Para a realização desse cálculo

Consideraram-se alguns fatores


que interferem no custo final da
captação da água subterrânea

aquisição e preço do manutenção consumo de


instalação da bomba poço do poço energia
Gastos financeiros anuais referentes a amortização do poço
(Gfap)
Gfap = P x i (1+i)n / (1 + i)n – 1

P = Custo inicial
Gfap = 200.000,00 x 0,12 (1+ 0,12)25
I = taxa de juros ao ano
(1+ 0,12)25 - 1
n = vida útil do poço

Gfap= R$ 25 499,94/ano

Gastos financeiros anuais referentes ao investimento e


instalação da bomba (Gfb)
Gfb= F/(1+i)n Gfb= R$ 31.976,64/(1+0,12)5

F= custo inicial ( R$ 31.976,64)


i= taxa de juros (12% ao ano) Gfb= R$ 18.144,41/ano
n= vida útil da bomba (05 anos)
Gastos financeiros anuais referentes à energia

Q = 250 m3/dia = 6,94 x 10-2 m3/s

P (KW) = 15 Q.H = Custo da energia para a Bomba Submersa

H = 70 m (Altura manométrica)

Energia Consumida em 1h de Bombeamento


P = 15 x Q x h

P1h = 15 x 6,94 x 0,01 x 70 P 1h = 72,87 kw


Energia Consumida em
1h de Bombeamento
P18 h = 72,87 X 18 h P 18 h = 1 311,66 kw
Tarifa anual de Energia

Te = P18 x 1KW/h x n (Tarifa de Energia)

Onde:

Te - tarifa anual de energia

1KW/h = 0,45 centavos de reais (Fonte: Rede Celpa – dez de 2004)


n = Número de dias do ano

Te = 1.311,66 x 0,45 x 365 dias Te = R$ 215 440,15/ano


Gastos financeiros anuais referentes a manutenção do poço (Gm)

Gm (5% Gpf) = 0,05 x 200.000 Gm = R$ 10.000,00/ano

Custo de produção do m3 de água subterrânea (Cp)

GAp = valor da amortização


Cp = Gfap + Gfb + Te + Gm / Pa anual
GAb = fator de recuperação das
gerações de bombas
Cp = 25.499,94+ 18.144,41 + 215.440,15+ 10.000,00 Te = tarifa anual de energia
1.642500,00
Gm = manutenção do poço
Va = volume anual previsto
Cp = R$ 0,164 / m3 (Custo final do m3 de água)
= Q x h/d Va =1.642 500 m3
(quant./anual de água necessária
para abastecer a população)
Va (Produção anual) = Q x h/d
Quantidade anual de água
Va = 1.642.500,00 m3 necessária para abastecer a
população

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