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soniasouza3@terra.com.br
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Octávio Nassur
Sônia Maria Ferreira de souza
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Octávio Nassur
Agradecimentos
São inúmeras as pessoas que fizeram parte desta composição
de saberes. Uns envolvidos com dança; outros, com ginástica.
Uns com a música e outros apenas estimulando a criatividade
nos mais madrugueiros cafés. Não existem critérios para
numerar a importância de cada um, visto que a soma de todos
é que torna esse livro uma unidade, mas preciso retribuir o
Sônia Maria Ferreira de souza
carinho e atenção de alguns que vão representar outros em
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suas instâncias.
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Ao Rhony Ferreira, iniciador de tudo. “Amigão, sempre vou
querer ser você quando crescer! Obrigado por tudo”.
Aos grupos da Família Heart, que desde o Júnior até o Beat, me
deram as maiores alegrias e ensinamentos da vida.
“Meninas, somos feitos de nossas lembranças.
Obrigado por comporem em mim a parte mais linda.
Tatuagens são para sempre”.
Ao Heart Company, que me apresentou os extremos.
“Obrigado pela deliciosa aventura de vivenciar o único, de se
tornar a experiência mais intensa, de construir as conexões
mais importantes, as gargalhadas mais altas e os choros mais
úmidos. Vocês serão para sempre o que pulsa em mim”.
Ao Airton Rodrigues, Thiago Nascimento, Carlinhos de Jesus, Rodrigo Negri, Ray
Fernandes, Renata Furtado “Queridos, Santos, Priscila Yokoi, Luiz Arrieta, Ivonice Satiê,
minha admiração, crescimento Cristina Helena, Edy Wilson, Ady Addor, Andrea
pessoal e profissional com vocês ficou Tomioka. “Sei que devo estar cometendo a gafe de
marcado pelos intermináveis cafés esquecer alguém próximo, mas independentemente
nas madrugadas e ideias impossíveis. de nomes, dos que ainda são presentes aos que já
Ainda tenho tudo anotado! Obrigado nos deixaram, agradeço o crédito e o conhecimento
pelo crédito, parceria e amizade”. partilhado em algum dos eventos em que
trabalhamos juntos no Brasil. Vocês representam a
A Cristiane Wosniak, que, desde o
dança, me inspiram e fazem parte disso tudo”.
início da busca pelo saber, se fez
presente, atuante e disposta a ajudar. A uma pessoa que desafiou o calado, instigou o
“Cris, você não é apenas detentora
Sônia Mariaconhecimento
Ferreira ede acreditou
souza que relógio tem mais
de uma propriedade fantástica de que 28h por dia. Ela se ofereceu para transformar o
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semear o saber, mas uma referência vídeo em cores diagramadas, o áudio em texto, as
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importantíssima na dança para todos teclas do teclado em gramaturas e texturas. Com
nós. Obrigado por me permitir e uma refinada paciência, me deu tempo para refletir
estimular alçar voos mais altos”. e transcrever as relações de sabores de minha
vida para este manual de desmedidas. “Bruna, não
A Marcelo Cirino, Roseli Rodrigues,
apenas pelas recordações que me trouxe, mas pela
Carlota Portela, Toshie Kobayashi,
oportunidade de poder compartilhar um pouco deste
Ricardo Scheir, Caio Nunes, Cristina
caminho. Entro em uma nova fase e gostaria que
Cará, Erika Novachi, Jhean Alex,
soubesse que foi uma das grandes responsáveis por
Augusto, Beto Vasconcelos, Wanderley
isso. Obrigado pelo crédito e desafio”.
Lopes, Tíndaro Silvano, Jorge Teixeira,
Bia Matar, Steven Harper, Oswald
Berry, Fly, Carlos Nunes, Eva Schul,
Tânia Agra, Janaína Jorge, Eduardo
Menezes, Caminha, Luciana Paludo,
Carlos Moraes, Jair Moraes, Vera
Bublitz, Ismael Guiser, Mário
Dedicatória
Este livro é dedicado: Obrigado ao meu pai por ser
analítico; à minha mãe, por ser
Aos que fazem e aos que me apoiaram a fazer.
intuitiva; à minha irmã, por
O primeiro remete aos artistas em geral. Ao ser torcedora e à minha filha,
bailarino, ao professor, ao coreógrafo, ao dono Sofia, que é o motivo de toda
da escola de dan- ça que, mesmo frente à falta inspiração a cada manhã; ela me
de apoio e incentivo do governo,
Sôniadefiniram
Maria queFerreira de souza
instiga, questiona, incentiva e é
esse é o seu trabalho, é o seu fardo e assumiram
soniasouza3@terra.com.br a grande responsável por cada
essa delicada e importante tarefa com muita minuto dedicado à reedição
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responsabilidade. Adoro viajar pelo Brasil, para as deste livro; desperta todos
mais longínquas distâncias e conhecer pessoas os meus canais de percepção
que, embora sozinhas, fazem parte deste grande quando brinca; me apaixona a
coro silencioso da dança. Continuem gritando, cada movimento; me emociona a
ou melhor, movendo-se e possibilitem mais e cada olhar; e é com quem quero
mais pessoas a sen- tirem o prazer que é dançar! experimentar os mais diversos
O segundo diz respeito às pessoas que nunca sabores do mundo.
me dei- xaram encontrar a solidão e, mesmo Só posso dizer que sou um
ausentes, me com- pletavam e me confortavam. homem afortunado por, de olhos
Ofertaram seus ombros e colos sem a fechados, poder contar com
expectativa de algo em troca durante a chuva; vocês. Obrigado por tudo.
comemoraram da forma mais pura e sincera
Para estes digo: “Diante da
du- rante sol. Aqueles que são insubstituíveis,
imensidão do espaço e da
que cabem em uma ou duas mãos no máximo,
vastidão do tempo, é um prazer e
e você percebe ser afortunado pelo simples fato
honra compartilhar uma mesma
delas fazerem parte de sua vida:
época e mundo com vocês”.
Minha Família.
Sumário
Introdução
Capítulo 1
o que servir – pensamento pré-coreográfico
Capítulo 2
a cozinha e seus utensílios – palco e seus elementos
Capítulo 4
os ingredientes – elementos da dança
Capítulo 5
o sabor – variação de dinâmicas
Capítulo 7
controlando a temperatura do forno –
Sônia entradas
Maria eFerreira
saídas
de souza
Arrumando o prato
soniasouza3@terra.com.br– Leitura ocidental
Decorando a mesa – Leitura de imagem
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Capítulo 8
colocando a mesa – preparando o ambiente
Capítulo 9
hora de comer – desliguem seus celulares,
vai começar
Bibliografia
Sobre o autor
Durante alguns deliciosos anos, dediquei minha vida a ensinar
dança, unir pessoas em grupos e coreografar. Trabalhei em di-
versas escolas e também tive o meu próprio Studio. Assumi po-
sicionamentos diferentes para a época, como grupos femininos
quando só se viam masculinos, interpretações de músicas mui-
to lentas quando só se ouviam as muito rápidas e coordenar 35
bailarinas (Street Heartbeat) em viagens por todo o país e par-
tes do mundo quando eu tinha 18 anos. Estudei música, enge-
nharia da computação, educação física e marketing, mas nada
se compara ao projeto – “Heart Company” – onde 16 bailarinos
Introdução
Sônia Maria Ferreira de souza
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9 culinária coreográfica
roupa fora da sala... tudo isso é avaliado para Dizer a coisa certa
descobrir quem realmente produz que “tipo de à pessoa certa no
som”. Partindo desse princípio humano, temos, momento certo.
então, como ir para a cozinha cênica trabalhar Descobrir aquilo que
as melhores combinações entre os sabores e a Nasa, em Houston,
dissabores da vida.
chama de uma “Janela
Estar compartilhando histórias nesse livro é do Espaço”. Ela se
apenas o resultado de informações colhidas baseia no conceito
durante toda e qualquer experiência que tive de que a comunicação
até esse momento. Quando falo “esse mo- somente pode ocorrer
mento” refiro-me exatamente ao “ponto final” no tempo certo e nas
desta frase, pois aceito o processo evolutivo
circunstâncias certas.
da vida e, quem sabe,Sônia
quandoMaria
eu chegar ao
Ferreira de souza
último capítulo, minha relação com o mundo já seja outra e "Posicionamento"
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minhas conclusões também. Mas também compreendo que La Ries – Jack Trout
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crenças e princípios fazem o homem, e que toda fruta sem-
pre cai perto da sua árvore. Por isso, sempre olho para trás
e revejo quem fui e de onde vim, o que minha família significa
para mim e no que eu sempre acreditei. Hoje, antes de entrar
em uma sala de aula e coreografar, defino que existem passos
importantes que devem preceder ao movimento em si, e um
deles é saber quem realmente é o elenco fora da sala de aula,
despido da técnica... qual é o verdadeiro sabor de cada um.
A partir daí, todos os outros processos, que vamos aplicar
durante o livro, serão ingredientes para ressaltar esses sabo-
res e experimentar quais as possibilidades de combinações.
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Sônia Maria Ferreira de souza
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11 culinária coreográfica
Dona Emília, minha avó por parte de pai, teve 10 filhos. Nasceu em
Uraí, uma cidade pequena no norte do Paraná onde reside até hoje.
Já escreveu alguns livros sobre a cidade, a sua história e, consequen-
temente, a minha também. Sempre que posso, vou até lá dar um
alô na época do Natal e encontrar o restante da família que, mes-
mo morando em Belo Horizonte, Amapá, Manaus, Rio de Janeiro,
Estados Unidos e outros tantos lugares, faz todos os esforços para
se encontrar lá, nessa data, na casa da vovó.
Janta natalina
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na casa da vovó
Como agradar a todos
Meu pai, seus 9 irmãos, eu, minha irmã, mais primos e sobrinhos,
pasmem.. parei de contar no 15. Vamos imaginar agora minha avó
preparando almoço para todo mundo comer ao mesmo tempo;
e mais, algo que agrade a todos que, mesmo nascidos em uma
mesma casa, hoje repartem diferentes culturas. Buscar um paladar-
base para esse momento é instintivo, inconsciente e nada fácil.
Então, vai minha Vó Emília para a criação: começa pelo macarrão,
que pode ser acompanhado por diversos molhos, mas a grande
panela é dele. Temos ainda os charutinhos enrolados por folhas
12 culinária coreográfica
e recheados com carne moída, comida
tipicamente árabe, e um tradicional
yakisoba, japonês. Antes de o macarrão
ser servido, já estamos saboreando, como
aperitivo, as famosas coxinhas de galinha
fritas na hora, outra especialidade de
minha avó. Uma materna sensibilidade
e lembranças a fizeram resolver, com
sabedoria, como satisfazer a todos. Pode-
se ter mais trabalho ou menos trabalho
mas, coreograficamente, qual é nossa
t o é f á c i l ; d i f í c i l
Inventar um pra a ele.
preocupação com quem vai saborear
nosso “prato”? Propor um prato com
é dar um nome
um novo sabor também pode ser bem
interessante, mas essa proposta cabe em
qualquer lugar? Caberia Sônia Maria Ferreira de souza
nessa grande
reunião de família? Guarde essa resposta
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em uma Tupperware, quem sabe HP07816191176724
a gente a use mais tarde.
Duas semanas antes de viajar até Uraí, recebi um sentada ao seu lado. Para
telefonema de uma tia, irmã de meu pai, dizendo minha surpresa, meu pai,
que era para eu levar algo que representasse como o filho mais velho, se
uma lembrança da minha avó (seria feita uma levantou com um ônibus de
surpresa para ela). Comprei então um sapo brinquedo na mão. Iniciou
verde de pelúcia que foi a primeira coisa que sua fala, explicando o
vinha na minha memória de infância. Sempre porquê daquele ônibus e o
que minha avó ia lá em casa e me colocava para pendurou na árvore.
dormir, contava a história do “Sapo com boca Em seguida foi a minha
grande que queria entrar no céu”. Bem, já em mãe que colocou a sua
Uraí, após a janta em família, nos reunimos todos lembrança na árvore,
– tios, primos, sobrinhos, netos, genros, noras e seguida por mim, minha
agregados – em uma varanda da casa onde havia, irmã, meu cunhado, minha
ao centro, uma árvore de natal vazia e minha avó esposa, minha sobrinha...
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Todas as nossas lembranças
possuem uma carga emocional.
E assim, irmão por irmão, família deve significar algo verdadeiro para o
por família. Ao final da última intérprete e contribuir para a construção
lembrança pendurada, aquela do todo. É preciso que a definição do
árvore recheada e coberta de tema dê possibilidades de o elenco
objetos foi a que mais significou contribuir além da plástica e também
uma história de Natal para todos trazer, em seu movimento, uma carga
os que estavam ali.Hoje, entendo emocional particular. Se você, coreógrafo,
que um trabalho coreográfico conseguir trazer seu elenco, com sabores
deve ser conduzido dessa maneira, e histórias tão distintas, para dentro
criando conexões com lembranças dessa grande panela, com certeza vai
vividas. O que cada um pode também conseguir atingir o paladar da
trazer e pendurarSônia
na “árvore-tema” tão distinta
Maria Ferreira de plateia.
souza
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Antes de começarmos um trabalho, é muito importante saber
claramente para quem ele está sendo criado e onde vai ser
apresentado. Imaginem um grande chef de cozinha francesa
comandando um fast food por duas semanas. Dificilmente ele
Antes de cozinhar, vai conseguir extração de qualidade da equipe, que não está
deixar separadas acostumada com seu vocabulário e nem com seus temperos
algumas respostas:
(movimentos), e muito menos vai agradar às pessoas que estão
Qual o sabor de na fila do caixa, de pé, esperando o prato ser servido. E agora
cada um do seu
imaginem o contrário, o cozinheiro do fast food comandando
elenco? Quais suas
propriedades em a cozinha do restaurante francês... Vou deixar o resto por sua
destaque e fraquezas? criatividade.
Onde vai ser servido
esse prato?
Por último, mas não menos importante, é saber se sua proposta é
levar algo típico para circular em outras culturas (como apresentar
a cozinha mineira em Porto Alegre ou trazer um acarajé para
Curitiba) ou, ainda, se faz sentido, na semana do Japão no Brasil,
14 você aparecer com esfirras de vários sabores. culinária coreográfica
Desde muito cedo, fui estimulado na área das Artes. Com 5 anos,
ganhei meu primeiro violão e depois desse vieram mais 23 ins-
trumentos entre os de cordas e os percussivos. Sem perceber
que esse “treino subconsciente rítmico” poderia, um dia, me
ajudar a identificar que existe uma cadência na qual as coisas
e pessoas vivem, comecei a reparar desde o simples caminhar
até o som dos carros passando pelos bueiros da cidade. Tudo
era produzido em uma velocidade, e tudo produzia um som.
Batendo as panelas
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sua coreografia. Eu o chamo de condu-
tor, quem faz o link, quem preenche os
espaços, quem dá o poder da lembrança
para o público. Uma boa escolha musi-
cal, entre harmonias, ruídos e silêncios
é o primeiro passo para começar uma
bela receita e depois é só seguir com o
restante dos ingredientes. Saber se vai
se utilizar de alguma memória emocio-
nal sonora ou criar um posicionamento
novo de sua coreografia na plateia vai
depender muito da música escolhida.
17 culinária coreográfica
Curiosidade
Hoje existe uma explosão de produtos na mídia. Vamos pensar
nos livros. Todos os anos publicam-se aproximadamente 30 mil
livros nos Estados Unidos. Mais 30 mil livros a cada ano. Até não
parece muito, a não ser quando você pensa que, para dar con-
ta da produção de um ano, teria de ler 24 horas por dia, durante
17 anos. Vamos ver agora os jornais. Em cada ano, os jornais ame-
ricanos utilizam mais de dez milhões de toneladas de papel
impresso. Isso significa que uma pessoa comum consome
42,5 kg de mensagens
Sôniaimpressas
MariaporFerreira
ano. A edição
de dominical
souza
de um grande jornal metropolitano como The New York Times pesa
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2 kg e contém aproximadamente 500 mil palavras. Ler tudo isso,
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a uma velocidade média de 300 palavras por minuto, levaria
quase 28 horas. Isso não apenas pode acabar com o seu domin-
go, mas também com uma boa parte do resto de sua semana.
E como uma pessoa lida com essa quantidade de informação?
Não muito bem. Estudos sobre a sensibilidade do cérebro humano
estabeleceram a existência do fenômeno “sobrecarga sensorial”.
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Sônia Maria Ferreira de souza
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A cozinha e
seus utensílios
Palco e seus elementos
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Muitas pessoas pensam que existe uma receita para se fazer uma co-
reografia. Até deve existir, mas que tempero você vai usar? Ou vai me
dizer que o feijão da sua casa feito com a mesma receita do restau-
rante tem o mesmo sabor? No decorrer do livro, vou mostrar alguns
“condimentos cerebrais” que podem ajudar a transformar seu arroz,
de acompanhamento, em prato principal. Vamos entender qual a
função da mente analítica e da mente intuitiva e como ficar desperto
para o mundo virtual em que vivemos.
Cambuquinhas de 100 g
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Os ingredientes
Trabalhar com sua criatividade somada à da plateia são,
com certeza, ingredientes que vamos usar. Entender que
a coreografia é o resultado de complexas emoções de sua
vivência e que ela vai ser interpretada por várias outras pessoas,
com as mais diferentes experiências, também já é um bom
começo. Ler um livro e depois assistir ao seu filme nunca vai ser
a mesma coisa porque a construção de um mundo, quando nos
dão liberdade, sempre vai ter relação com nossas experiências,
sendo assim mais interessante do que a tela do cinema. Saber
que precisamos entender sobre os “paradigmas do mundo” e
sobre “comunicação” são outras cambuquinhas especiais.
20 culinária coreográfica
Vamos pensar que essas cambuquinhas sejam experiências particulares, algo
que você pode acrescentar a gosto, mas pense que o seu paladar não é igual
ao de todo mundo. Muitos gostam da música romântica e outros, do rock and
roll; alguns de pimentas e outros de vinagre; alguns ao ponto e outros mal
passado. Tudo isso nós precisamos saber usar e pensar em para quem servir.
Encontramos aqui já uma situação corriqueira no mundo da dança: montamos
coreografias para serem apresentadas em praticamente todos os lugares e
para todas as culturas, talvez mais preocupados
em apresentar o “prato principal” do que saber se o
público queria realmente saborear aquilo, naquele
momento, naquele dia. Servir sopa quente ao meio-
dia e no verão pode ser tão indesejado quanto levar
uma coreografia de dia das mães, feita na escola,
SôniaPara
para um festival competitivo. Maria Ferreira
as mães, naquele de souza
dia especial, a coreografia tinha um significado
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que ultrapassava a plasticidade. Eu realmente
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conseguiria atingir a emoção. Esse mesmo trabalho
coreográfico, apresentado em outro mês, em um
festival de dança, pode não ter significado nenhum
para o público presente. Sempre que assisto a algo
assim, lembro-me de uma frase do publicitário
Duda Mendonça que diz:
21 culinária coreográfica
Pesos e Medidas
ou Percepção
e Paradigmas
Um entendimento mais amplo da percepção
Quando coloco água até a metade
Sônia de um
Maria copo e pergunto
Ferreira de souzaa várias
pessoas o que estão vendo, algumas dirão que
soniasouza3@terra.com.bro copo está metade
cheio; outras, metade vazio. Todas viram o mesmo copo, mas cada
uma o percebeu de uma forma.
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Quando o professor chega à sala de aula e diz que todos terão de ler
um livro de 100 páginas, alguns se sentirão pressionados pela ‘árdua’
tarefa, enquanto outros ficarão aliviados por ser o livro tão pequeno.
Outros, ainda, poderão achar que livro com tão poucas páginas deve ser
inconsistente em suas informações... Foi a percepção de cada um diante
da solicitação do professor.
Curiosidades
1. No Alasca, a primeira noite de um visitante precisa ser passada
com a esposa do anfitrião, sob pena de este sentir-se ofendido.
Em contrapartida, em alguns países árabes, é crime olhar para o
rosto das mulheres.
24 culinária coreográfica
Um entendimento mais amplo sobre paradoxos
O crescimento da inteligência está estreitamente
relacionado à mudança de paradigmas.
O mesmo mecanismo que, no construtivismo de
Piaget, nos coloca na situação de ter que encontrar
uma solução e depois nos permite retornar ao
equilíbrio com mais inteligência é o que se configura
na presença de um paradoxo: o paradoxo nos coloca
diante de uma situação “sem saída” em que a única
chance de progredir é mudar de paradigma.
Inevitavelmente, saímos de situações
Sônia Mariaparadoxais
Ferreiracom
de souza
novas perspectivas e issosoniasouza3@terra.com.br
nos faz progredir pois,
quando um paradigma HP07816191176724
muda, as possibilidades se
i m p o r t a n t e s n ã o
multiplicam.
“ O s p r o b l e m a s
Albert Einstein dizia que
l v i d o s n o m e s m o
“os problemas importantes
não podem ser resolvidos no
p o d e m s e r r e s o
mesmo nível de pensamentos
p e n s a m e n t o s e m
nível de
em que formam criados”. Com
”
isso, ele estava dizendo que,
r a m c r i a d o s .
que fo
muitas vezes, a única forma
que temos para resolver um
problema é mudando de
paradigma.
Albert Einstein
25 culinária coreográfica
Por que ter falado tudo isso? Para pensarmos
na relação espetáculo – plateia. Entender que
nem sempre vamos agradar ou propor. Por vezes,
o mais complexo entendimento e ludicidade
trazidos pela dança podem ter significados
diferentes se usados em uma cultura diferente
daquela onde foram criados. Esse trânsito, sendo
compreendido ou não, também é uma das
funções da dança. Certa vez eu li uma frase de
Álvaro Lins, crítico pernambucano:
"TodaSônia
arte há
Maria de
Ferreiraconter
de souza mais
27 culinária coreográfica
Por que tivemos dificuldade em
encontrar a solução? Porque fomos
criados com estímulos limitadores e
geométricos e não instigados a encontrar
soluções fora dos padrões. Pensar em
romper um padrão seria um “erro”,
como pensar em ultrapassar o limite
do “quadrado” também. O que nunca
pensamos é que, por vezes, algumas
respostas só existirão se rompermos
alguns paradigmas culturais.
28 culinária coreográfica
Por Tíndaro Silvano
A condição número 1, para se começar a coreografar, é você saber
com quem você vai lidar, não só em termos técnicos, mas também
o tipo de temperamento dessas pessoas e suas ansiedades
artísticas, ou seja, o estado de fome em que essas pessoas vão
estar. Você precisa saber o que se pode oferecer a elas para saciar,
pelo menos, por um tempo aquele desejo. Os grandes coreógrafos
são os que entendem esse momento e perpetuam para outras
Sônia
instâncias, pois os bailarinos Maria Ferreira
amadurecem, evoluem ede seussouza
anseios
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mudam também. O bom trabalho é aquele que, mesmo dançado
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anos depois, ainda realiza intérpretes e público.
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Sônia Maria Ferreira de souza
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A colherCriatividade
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Penso que não exista uma melhor definição sobre criati-
vidade do que essa: “É uma colher”. Ela é responsável por
mexer tudo aquilo que você tem em sua memória a fim
de criar algo exclusivo e pessoal. Ela vai ser muito citada a
cada capítulo, e saber qual e como utilizá-la nas diferentes
formas serão o toque especial para os grandes pratos. Para
tanto, vamos conhecer algumas de suas definições.
A criatividade
Sônia tem sido abordada
Maria de maneiras
Ferreira de souzadistintas, através dos
tempos. Em tempos passados, chegou-se a considerar a criatividade
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inspiração divina – o criador é um ser divinamente inspirado – ou até
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como loucura – o ato de criação provém de um acesso de loucura.
As teorias psicológicas modernas em muito contribuíram para uma
melhor compreensão do complexo fenômeno da criatividade, ten-
tando encontrar melhores explicações, definições operacionais,
instrumentos de avaliação, seus fatores condicionantes, entre outros.
Para Sigmund Freud, pai da psicanálise, ela origina-se de um conflito
dentro do inconsciente. Criatividade é uma forma de reduzir tensão,
onde o indivíduo cria para aliviar certos impulsos. É a tese da “catarsis
criadora”. Segundo Freud, criatividade e neurose têm a mesma fonte
de origem: os conflitos do inconsciente.
A criação é uma forma de sublimação, de se atingir indiretamente
algo que, conscientemente, não se teria condição de fazê-lo. Parando
de brincar ao se tornar adulto, o indivíduo só aparentemente desiste
desta grandiosa fonte de prazer. Ao perder a ligação com os objetos
reais das brincadeiras, passa a fantasiar. Suas fantasias podem ser
31 culinária coreográfica
a d e s u b l i m a ç ã o ,
ç ã o é u m a f o r m
A cria m e n t e a l g o q u e ,
s e a t i n g i r i n d i r eta
tanto desejos eróti-
cos quanto desejos de de n ã o s e t e r i a
engrandecimento. O
conscientement e ,
artista ou criador, como
d i ç ã o d e f a z ê - l o.
con
não possui os meios de
alcançar determinadas
satisfações, foge da reali-
dade e passa a elaborar de-
sejos imaginários. Segundo d Freud
Sigmun
Freud, o artista não está
longe de ser um neurótico;
criar é o seu consolo,
Sônia Maria Ferreira de souza
é a gratificação do seu pró-
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prio inconsciente inacessível. dade de o indivíduo reverter a relação figura/fundo,
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parte/todo. Esta habilidade modifica-se nas dife-
A teoria gestaltista, cujos
líderes são M. Wertheimer, K. rentes idades.
Koffka e W. Kohler, considera O pensamento criador é, primariamente, uma
a criatividade como a habili- reconstrução de configurações, “insight”.
33 culinária coreográfica
Estar aberto a experimentar significa não desperdiçar
nada do que está ao nosso redor. Tudo é fonte de infor-
mação para uma futura mistura particular. Criar seu
banco de ingredientes, ou biblioteca cerebral, como
eu costumo me referir à memória nos cursos que dou,
é o primeiro passo. Saber olhar, prestar atenção no
simples é um exercício diário que, com o tempo, se
torna automático e prazeroso.
Trabalhando a memória
Lembro-me de uma época que eu praticava exercícios de me-
mória. Entrava em um lugar e contava quantas janelas havia
ali, quais seus formatos e quais as suas cores (geometria e
temperatura). Quando chegava em casa, tentava reproduzir
aquele lugar em desenho num caderno. Passado um tempo,
quando isso já se tinha se tornado mecânico e fácil, como um
jogo de memória, eu comecei também a contar o número de
ventiladores e cores de toalhas nas mesas dos restaurantes.
Mais um tempinho e eu já estava contando quantas pessoas
usavam calça jeans e cores dos tênis. Teve um período em
que, quando eu viajava para dar cursos, entrava na sala e já
34 culinária coreográfica
marcava na memória tudo o que com os braços ou com os pés em
tinha dentro: colchonetes (de que cor deslocamento, girava feito o venti-
e onde estavam na sala), ventilado- lador ou criava um movimento que
res, cor do chão, marca do aparelho representasse isso, imitava acertos e
de som, quantos alunos, cores de erros de alunos na aula, mas agora
roupas, quem prendia cabelo, quem interpretados pela minha leitura...
trazia garrafinha de água e assim por E fui percebendo que essa “loucura”
diante. Achei que estava começan- estava me dando um formato de
do a enlouquecer, mas ficava muito criação, utilizando nada mais que
feliz quando chegava em casa ou ao meu simples cotidiano. Estava tudo
hotel e, em vez de anotar as formas ali. Eu antes olhava e não sabia ver.
Sônia
assistidas, eu estudava comoMaria
trans- Ferreira
Hoje vou deabastecer
souzaminha biblioteca
por para o corpo. Desenhava a janela cerebral, ou banco de ingredientes,
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35 culinária coreográfica
e se cada parte de nosso corpo fosse uma
cor pintando esse espaço, essa obra se tor-
naria incrível. Sou apaixonado pela criação
e pelo criador. Conectar tudo isso, para criar
um você-autor, só depende da quantidade
de ingredientes, que você adquiriu durante
sua vida, e uma “colher”.
36 culinária coreográfica
Curiosidade
Em sua epistemologia, Piaget (1975) discute o pensamento matemá-
tico (1º volume), pensamento físico (2º volume) e pensamento bioló-
gico, psicológico e sociológico (3º volume). Seria de se perguntar por
que o pensamento plástico (ou visual) não foi incluído. A esse res-
peito, o próprio Piaget apontou que o terceiro volume de sua epis-
temologia constitui um marco geral, uma primeira aproximação ao
problema e uma incitação ao trabalho interdisciplinar, já que não se
fecha sobre si mesma, mas abre novos campos para a investigação
epistemológica. PorSônia
esse motivo,
Mariaacredito na consideração
Ferreira do pen-
de souza
samento plástico (possibilidade de pensar a partir de linhas, pontos,
soniasouza3@terra.com.br
cores etc), notadamente nos termos propostos por Francastel (1973)
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que, aliás, não deixa de chamar a atenção para a grande contribui-
ção dos trabalhos de Piaget.
37 culinária coreográfica
A pesquisa mais ampla desenvolvida sobre o pen-
samento criativo foi feita por J.P. Guilford, um
eminente psicólogo que soube definir a diferença
entre o pensamento divergente e convergente e foi
um dos primeiros a destacar algumas habilidades
do pensamento criativo.
Uma receita,
Sônia Maria Ferreira de souza
vários pratos
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38 culinária coreográfica
ocorrer onde o problema ainda está
por descobrir e onde não existe ainda
meio assentado de resolvê-lo. O pen-
samento convergente implica uma
única solução correta, ao passo que o
divergente pode produzir uma gama
de soluções apropriadas".
e n t e i m p l i c a u m a
o c o n v e r g
“O pensament rreta, ao passo que
Sônia Maria Ferreira de souza
c o
soniasouza3@terra.com.br
ún i c a s o l u ç ã o HP07816191176724
g a m a
d e p r o d u z i r u m a
o divergen t e p o
a p r o p r i a d a s . ”
de soluções
lGuilford
Joy Pau
40 culinária coreográfica
Refletindo sobre as aptidões intelectuais e sua relação com a criatividade,
Guilford (1964 apud lowebfeld, 1970, p. 65) afirma:
41 culinária coreográfica
Certa vez me solicitaram um trabalho co- começamos, da forma mais simples:
reográfico rápido, tipo fast food, para ser bolo central. Uma coisa geométrica, le-
dançado na porta dos cinemas, divulgan- vando a outra... De repente, um menino
do o lançamento de um filme de dança. fica intercalado “errado” em uma fila,
O tema era a história de uma bailarina e não respeitando a ordem, menino, me-
um dançarino de hip hop que se conhe- nina, menino, menina, e se coloca ao
ceram em uma escola. lado de outro menino. Pronto. Estava
O parceiro dela tinha se machucado nos levantada a questão. Reorganizamos
ensaios, e o dançarino fazia trabalhos co- ou assumimos? O reorganizar me tra-
munitários no mesmo espaço. Resultado, ria novamente o controle das figuras e
ele entrou para substituir o bailarino na padrões. Eu teria segurança e seguiria
apresentação final, mas claro que não foi rapidamente para o seguinte, mas não
tão simples assim. Tínhamos 2 minutos foi o que aconteceu. Esse simples “erro”
para retratar tudo isso:Sônia Maria
uma história de Ferreira de souza
de ocupação deu uma excelente opor-
amor, encontros, desencontros, meninos
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tunidade de romper com o comodismo
e meninas, uniforme americano, 2 técni- e pensar em realmente o que podería-
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cas distintas. Poderíamos fazer, e por aí mos fazer a partir dali.
Finalizamos o deslocamento,
possibilitando também outras
Sônia Maria Ferreira de souza
frentes com cada bailarino virado
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para o lado que parou.
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Logo na sequência, estabilizamos 3 e
geramos mais uma troca de posição dos
outros 3, configurando um triângulo em
movimento e um outro estático.
44 culinária coreográfica
Volte a ler a frase de Immanuel Kant no
1º parágrafo da introdução deste livro.
Ela irá acompanhá-lo para toda a vida.
45 culinária coreográfica
Sônia Maria Ferreira de souza
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Os ingredientes
Elementos da dança
46 culinária coreográfica
Estando na nossa cozinha, tudo é fácil. Sabemos onde está o
açúcar, onde liga o fogão, como mexer no microondas, mas...
e na cozinha dos outros? Coreografar é estar permanente-
mente utilizando os objetos dos outros. Se não quiser per-
guntar tanto, procure definir os principais pontos de partida
e torne-os padrão do conhecimento culinário.
Laban e seus
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4 elementos
Rudolf Laban nasceu no dia 15 de dezembro de 1879, em Bratislava, na
Hungria. Por ser filho de general do exército, teve a oportunidade de
viajar muito e viver em outros países desde a sua infância.
Embora a família tenha se empenhado para que ele seguisse a carreira
do pai, matriculando-o na Academia de Cadetes de Wiener Neustadt,
Laban resolveu seguir suas inclinações artísticas e foi estudar pintura,
escultura e arquitetura, em vez de teatro e dança, pelo fato de aquelas
artes serem mais bem conceituadas.
47 culinária coreográfica
Nos sete anos em que viveu em Paris, teve a opor-
tunidade de absorver a atmosfera cultural da cida- o artista explorasse, ao má-
de, envolvendo-se com muitos atores, dançarinos ximo, as suas possibilidades
e diretores. Estudou os princípios de Delsarte en- de movimentação, desenvol-
veredando gradativamente para a área da dança vendo a criatividade.
e do teatro.
Não estava interessado na
Ao voltar para Alemanha, em 1910, dedicou-se aos superação dos limites fí-
estudos de alguns métodos de escrita da dança sicos, nem se preocupava
além de observar o treinamento dos dançarinos, com a cultura do físico, mas
obtendo assim mais subsídios para o desenvolvi- sim com o desenvolvimen-
mento de sua pesquisa sobre o movimento e de to artístico, acreditando que
sua atividade artística e pedagógica. Apesar desses somente por meio da explo-
novos contatos, Laban não se tornou um professor ração dos limites do corpo e
de ginástica ou de técnica de dança;
Sônia MariapeloFerreira
contrário, dedosouza
poder da arte, o homem
em vez de tentar fazer com que o dançarino adqui-
soniasouza3@terra.com.br poderia alcançar a sua liber-
risse e mantivesse, por meio HP07816191176724
do treino constante, dade individual, do espírito
um padrão de habilidade e destreza, almejava que sem limites.
O sonho de Laban era formar indivíduos em uma sociedade que dançasse, reno-
vando desta maneira a civilização corrompida. Por isso, ao criar a Escola de Artes
do Monte Veritá, Laban pretendia montar muito mais que uma escola, queria
formar uma espécie de comunidade artística visando desenvolver o potencial do
corpo e da expressão de forma mais completa.
Em vez de ensinar uma técnica de dança, Laban procurava apresentar, nas suas
aulas, exercícios de coordenação, flexibilidade, controle e versatilidade rítmica. A
importância não era desenvolver a habilidade para virar inúmeras piruetas ou dar
saltos altíssimos, mas a capacidade de criar e recriar e explorar ideias por meio da
improvisação; compreender e usar o corpo expressivamente. Logo, tal treinamen-
to voltava-se muito mais a questões estruturais do movimento, procurando fazer
48 culinária coreográfica
que o aluno se tornasse consciente das relações entre o
seu corpo e o espaço, das diferentes rítmicas, da fluência,
experimentando essas descobertas não apenas no âmbito
das ideias, mas também segundo a própria experiência prá-
tica. Com isso, de acordo com Laban, as suas aulas serviam
tanto para o artista profissional como para o amador. Desta
maneira, já nesse período, é possível ver o esboço bem tra-
cejado do que seria a Teoria do Movimento, visto que Laban
sempre se preocupou em estabelecer bases para que a
dança pudesse ser finalmente compreendida, tornando-se
tão valorizada quanto a música e as artes plásticas.
(Fonte: guimarães).
49 culinária coreográfica
O corpo é o nosso principal elemento
na dança. Tudo precisa estar integrado com
consciência, pois é o ponto de partida para
quaisquer movimentos e passos. O corpo pode
ser subdividido em:
Passos
Andar, correr, saltar, pular, saltitar,
galopar e deslizar.
50 culinária coreográfica
a d e d e c o n s c i ê n c i a
i c a é a q u a l i d
Técn a o m o v i m e n t o .
cor p o r a l a p l i c a d a
Vamos compreender que nosso cor-
po consegue, nominalmente, realizar
pelo menos 8 tipos de movimentos e
7 tipos de passos. Suas combinações
são infinitas, mas precisamos saber
que partimos sempre do simples para
o complexo. Sinto-me um afortunado
quando me lembro do início de tudo
Força
Noção
Flexibilidade
corporal
Sônia Maria Ferreira de souza
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HP07816191176724 Percepção
Velocidade espaço-
Corpo
temporal
Contrologia Equilíbrio
Coordenação
Postura
motora
Lateralidade
52 culinária coreográfica
Temos ainda a mais importante de
todas as valências físicas: a força. "A
força muscular é, das capacidades
físicas, a mais importante de todas,
pois ela é elemento indispensável
na realização de qualquer tipo de
movimento. Do mais elementar ao
mais complexo." (ROCHA, 2000).
Força
Resistência Apertada e frouxa
53 culinária coreográfica
Ataque Resistência
Pode ser considerada toda atitude, Pode ser apertada ou frouxa. Normalmen-
desde deslocamento total a um te é avaliada uma resistência pela quanti-
simples recuo da cabeça. dade de força desprendida para a manu-
tenção e controle do movimento. Se muita,
Peso
é considerada apertada; se pouca, frouxa.
O peso vai depender do quanto o
corpo se conecta com o chão atra- Fluxo
vés da força da gravidade. Pode ser Refere-se à manifestação dinâmica e
pesado ou leve. É pesado quando contínua da força e pode ser contínuo ou
utiliza a gravidade a seu favor, interrompido. Iniciar e retroceder, pausar e
e normalmente se apropria de continuar podem ser considerados inter-
acentos para baixo; é leve quando rompidos. Contínuos são os movimentos
confronta a gravidade.Sônia Maria Ferreira de souza
sem intervalos, seguindo uma força fluída.
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t o d o m o v i m e n t o,
é u m a s p e c t o o cul
"O espaço a s p e c t o v i s í v e l d o e s p a ç o "
t o é u m
e o movimen Laban
Rudolf
54 culinária coreográfica
O espaço é um local onde o movimento se apresenta. O mo-
vimento é parte integrante do espaço. Mesmo quando não
estamos nos movendo, nossos corpos estão ocupando um
determinado espaço, ou seja, estamos fazendo formas está-
ticas no espaço. Quando nos movemos, cada movimento tem
nível, direção, tamanho, lugar, foco e trajetória.
Forma Direção
A forma no espaço é definida pelo seu de- É designada para onde está sen-
senho unitário ou em conjunto; se é algo do conduzido meu movimento.
Sônia Maria Ferreira
geométrico ou abstrato. de de
Difere souza
foco e apresenta uma
É uma sequência de microfotografias que característica de apontamento,
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possuem certa fluência e condução. deslocamento.
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Nível Tamanho
São as alturas utilizadas enquanto Diz respeito à amplitude do meu
se dança. Se estamos saltando, de pé, movimento como intérprete ou
de joelhos, ou deitados. Chamamos ao tamanho utilizado cenica-
de níveis: alto, médio e baixo. É importante, mente pelo meu grupo.
como grupo, saber utilizar essas alturas
simultâneas, descontruindo a unidade e
ampliando as possibilidades de diferentes Lugar
interpretações musicais. Representa onde espacialmente
eu ou integrantes do meu grupo
estamos localizados..
55 culinária coreográfica
Foco
É a direção do seu olhar durante o de formações, desenhos, em 4 tempos
movimento. Eu posso ir para diago- e normalmente na contagem de 5, 6,
nal fundo, mas manter o foco, olhar, 7 e 8. Isso é o mais básico e comum a
para frente. Normalmente temos um ser aplicado. Por fazer sempre assim,
problema no que diz respeito a core- simétrico, também é normal realizá-la
ografias frontais. São aquelas em que em linha reta, de um ponto a outro, e
os alunos desenvolveram um ponto de todo grupo junto, como se descons-
referência nos ensaios marcado pelo truísse uma cena e montasse outra,
espelho e, mesmo na hora da apresen- sempre utilizando esse mesmo tempo.
tação, sem o mesmo, já têm condicio- As sugestões aqui são experimentar
nado o olhar para frente. sair da contagem padrão e, também,
Trajetória utilizar deslocamentos em curva,
Sônia Maria Ferreira de souza
aproprando-se mais do que 4 tempos
Esse ponto é muito importante. Mes-
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ou então menos e, assim, rompendo a
mo falando sobre transições nos pró- cadência já esperada e óbvia. Realizá-
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ximos capítulos, vamos pincelar sobre -la dançando ou com algum argumen-
esse tema rapidamente. Temos, como to além de caminhar em cena pode ser
de costume, o hábito de utilizar trocas muito interessante também.
56 culinária coreográfica
Forma O desenho do corpo
no espaço
57 culinária coreográfica
Por último, mas não menos importante, vamos em determinada velocidade
abordar um pouco a noção de tempo. (lenta ou rápida) e com uma
duração definida (longa ou cur-
Tempo é a duração cronológica de uma ação
ta). A combinação desses ele-
ou evento. Na dança, assim como na música, o
mentos de tempo produz um
tempo está relacionado ao ritmo.
padrão rítmico, caracterizado
O ritmo consiste na combinação de durações
pelo acento, que é a ênfase dada
iguais ou de diferentes unidades de tempo
em determinado momento
produzidas pelos movimentos corporais. Po-
do movimento, acompanhan-
dem ser representadas pelas notações musi-
do a marcação forte no ritmo,
cais de valores de tempo.
e pela pausa, medida de tempo
Os movimentos do corpo sempre se dão em durante a qual uma ação corpo-
um tempo delimitado, obedecendo a um com- ral é interrompida e reiniciada.
passo (unidade rítmica marcada
Sônia pelo Ferreira
Maria pulso), (Fonte:
de souza
Unidança).
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Compasso Marcação e pulso
Tempo
Acento Marcação do tempo forte
58 culinária coreográfica
Curiosidade
A dança Grega nasceu em Creta, e sua origem e arte lírica surgiu na
“ilha ascendente”.
Os deuses ensinavam a dança aos mortais para que estes “os honras-
sem” e também “alegrassem” Omero.
59 culinária coreográfica
Por Oswald Berry
Você não pode apenas gostar da dança, porque isso não é
suficiente. Precisa amar e ter paixão. Se você não estiver muito
apaixonado e amando realmente, você não resiste. O caminho da
criação é prazeroso, porém muito árduo, pois sempre temos um
tempo para cumprir. Essa é a crueldade com que precisamos saber
Sônia Maria Ferreira de souza
lidar. Disciplina, dignidade e humildade, são 3 ingredientes
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que sempre devemos ter à mão.
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O sabor
Variações de dinâmicas
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Vamos imaginar um prato de almoço em que primeiro você
tenha que comer só o arroz, após o feijão, depois a farofa
e, por último, a carne; cada sabor, inteiro e sem misturar. A di-
nâmica da alimentação e da vida está nas combinações, que
instantaneamente propõem novos sabores e possibilidades.
Já sabemos qual é o sabor do que vamos comer dentro dos
padrões de cozinha doméstica. A variação vem da mistura
e do tempero.
62 culinária coreográfica
Nós estamos falando de um prato preparado com base em
4 ou 5 ingredientes. Agora imagine as possibilidades com
um grupo de 10 ou 15 bailarinos!
o m e t r i c a m e n t e .
s a r a c i o n a r ge
m o s h a b i t u a d o r a d a e l i n e a r.
Es t a f o r m a e q u il i b
, p e n s a m os d e
L o g o
Sônia Maria Ferreira de souza
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É muito comum, quando se acendem as luzes do palco,
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observarmos um grupo igualmente uniformizado, pre-
parado para o início da coreografia. Já nesse momento,
deduzimos: "vão se mover igual também." Foi retirada
sua personalidade, e o todo virou um só. A sequência da
história já é prevista: todos juntos, dançando a mesma
sequência, transitando ao mesmo tempo e configuran-
do desenhos no palco equilibradamente bem no centro.
Explico por meio das ilustrações a seguir:
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Como podemos saber se tendemos para essa
linearidade? Avalie e observe, pelo menos,
4 pontos iniciais:
Criar possibilidades
Trabalha-se com
Desconstrução de transições
base nas formas
de figuras e composição
geométricas
de leituras
Tenho certeza de que a, partir de agora, você vai começar a colorir mais seu pra-
to – quer dizer, seu palco. Vai perceber o sabor e o valor de cada bailarino e com
que formas eles podem se combinar, sem necessariamente terem que ser servidos
como apenas arroz ou feijão, além de nem todos precisarem estar no meio ou sen-
do divididos por igual, partindo do meio. Na próxima vez em que for almoçar em um
restaurante, segure o prato com 3 dedos bem no meio e veja se é possível equilibrá-
-lo enquanto se serve. Depois tente isso assistindo à sua coreografia e, assim, vai
entender o que é dinâmica espacial.
66 culinária coreográfica
Em certo momento, eu percebi que estava sendo
redundante em alguns inícios de conduções coreo-
gráficas. Assistia seguidamente aos últimos trabalhos
e acabava encontrando uma “receita” ou pré disposi-
ção de raciocínio sobre como ocupar os espaços, o que
me levava a um formato de estrutura padrão.
as quantidades
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Descentralização espacial
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Imagine ainda se você estabelecer que, durante uma semana,
não comerá arroz. Fará a substituição por outro carboidrato,
por quantidades diferentes de outros alimentos ou o espaço
ficará vazio?
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69 culinária coreográfica
A partir daí, a utilização deste tipo de recurso para
desconstrução de ideias e formas geométricas se tornou
contínua em meus trabalhos, e comecei a aprofundar o
estudo de transições e espaços não ocupados.
71 culinária coreográfica
A análise de fotos e de como tirá-las
passou a ser um exercício de criação
coreográfica. Começou a ser impos-
sível olhar paisagens e formas e não
imaginar o elenco disposto nos con-
tornos dos desenhos, preenchendo as
figuras, separando objetos e texturas..
Eu comecei com paisagens naturais,
depois fui procurando explorar as lu-
zes, as sombras, o clima, a temperatu-
ra, as lentes, um tema, as cores e, em
seguida, fui procurar um padrão nas
fotos do dia, da semana ou período
em que eu estava vivendo. Focava o
meu olhar para determinado ponto
ou conjunto de coisas. Isso tudo co-
Sônia Maria Ferreira de souza
meçou muito naturalmente até che-
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gar ao ponto de análise emocional.
Essa conexão criada no momentoHP07816191176724
do
clique da foto talvez nunca retorne
ou talvez seja corriqueira. O impor-
tante é que você reforçou, em sua
memória, algo que com certeza ainda
vai utilizar. Talvez nem saiba quando
ou como, mas lhe garanto que como
dito no capítulo 3, da colher, o funda-
mental é o abastecimento; afinal,
todo dia é dia de feira.
Agora imagine as possibilidades em
todas as formas já existentes! Desde
os carros nas ruas às flores no parque.
Da louça suja na pia à feira de móveis.
Das nuvens no céu ao ponto arroz
nos fios do blusão de lã. Abra sua
72 cabeça, memorize as formas, culinária coreográfica
reconheça as texturas.
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73 culinária coreográfica
Compreenda as cores e temperaturas,
admire o incompreensível. Se revolte com
sujeira nas ruas, arrume seu cabelo vaido-
samente no reflexo de uma vitrine, mas
nunca, nunca deixe de prestar atenção
além dos seus olhos.
Reviva a cena toda, não limite a sua pupi-
la. Vincule os segundos com o que pensa,
gere sensações e auxilie sua memória.
Olhe por outro ângulo o que sempre viu
da mesma forma. Circule em volta de uma
árvore e preste atenção às diferentes ma-
neiras de como ela pode ser vista. Trabalhe
sua inteligência emocional.
Sônia Maria Ferreira de souza
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75 culinária coreográfica
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A ordem
dos pratos
Estrofes musicais
76 culinária coreográfica
Sabemos que, em um restaurante, você sempre en-
contra no cardápio a entrada – que eu chamaria de
ambientização inicial – o prato principal – desenrolar
da coreografia – e, por fim, a sobremesa – a conclusão
da proposta. Vamos tentar entender cada parte e por
que elas juntas se completam.
Entrada
Introdução coreográfica
Sempre temos, no início da música, um período de introdução, algo que
vai dar o tom e o “aroma” da sequência. Neste momento, estamos prepa-
rando a plateia para o que queremos contar ou propor. É algo como quan-
do o Brasil jogar futebol às 16h, mas a TV começar a transmitir desde às
15h 45min. Todo mundo se prepara no sofá para o jogo que vai começar.
Esse é o momento que precisa ter o que eu chamo de “apelo de expecta-
tiva” – criar suspense, não entregar o todo, mostrar algumas partes a fim
de despertar o interesse da plateia a permanecer no sofá e ver o restante.
77 culinária coreográfica
Normalmente é anunciado o nome da em um livro já lido anteriormente. É difí-
coreografia ou tema coreográfico. As cil competir com a criatividade do leitor,
pessoas escutam o apresentador ou pois ele constrói um mundo da melhor
leem no programa. Nesse momento, maneira possível dentro de sua máxi-
elas ficam na expectativa da apresen- ma criação. Pode ser bem divertido esse
tação e tentam fazer uma rápida aná- desafio. O outro é apresentar um tema
lise em sua biblioteca de memória para inusitado, podendo ter sua história ou
verificarem se sabem do que se trata e, condução até com reconhecimentos
assim, preestabeleceram uma relação musicais ou visuais (como o cenário),
com o que será visto. mas cuidando para que o diálogo com
quem assiste seja interessante a ponto
Se o público já ouviu falar sobre o tema
de ele querer construir junto com você.
ou sabe do que se trata, você provavel-
mente terá que superar suas expectati-
Sônia Maria Ferreira de souza
vas. É como assistir a um filme baseado
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ã o a b s o l u t a m e n t e
a s as m a n e i r a s s s .
N a d a n ç a t o d c o m o c o n d u z i - l a
d i f e r e n ç a e s t á e m
interessa n t e s , a
78 culinária coreográfica
Eu iniciei minha caminhada coreográfica na dan- que já haviam construído
ça com um grupo chamado Street Heartbeat, for- em suas cabeças, tendo al-
mado por 32 meninas. Foi um choque nacional gumas ideias semelhantes
quando só mulheres apresentaram um trabalho e outras sugeridas após as
de Dança de Rua em um festival competitivo. Em apresentações. Outras pes-
meados de 93, montamos esse grupo para preen- soas, sem noção do que se
cher uma lacuna no evento de um amigo, o que tratava, eram conduzidas a
acabou durando 11 anos. Não tem como não me conhecer algo novo e, quem
lembrar de forma mais Sônia Maria
carinhosa Ferreira
dessas meni- desabe,
souzaprocurar saber mais
nas com as quais tenhosoniasouza3@terra.com.br
contato até hoje. Tudo o depois. Outras ainda eram
que descobrimos juntos foi lição e, com certeza, é
HP07816191176724 levadas pela plasticidade,
aplicado em algum momento de nossas vidas. Fo- indiferentes ao tema e aos
ram inúmeras histórias que merecem não um ca- seus conceitos. Tudo isso e
pítulo, mas um livro inteiro. Para o momento, vou muito mais é dança e sua
contar sobre um trabalho apresentado em 2000. infinita relação com a mente
Chamava-se “Antítese”. Foi uma pesquisa a respei- dos outros através dos olhos
to de todas as coisas que conseguimos relacionar e ouvidos. Tudo se permite e
com seus opostos, visto que a palavra significa é apresentado na entrada
isso – contrário. Partimos do volume de integran- do jantar.
tes, entre uma dançando sozinha e, em seguida,
todas as outras; em outro momento, uma de nos-
sas bailarinas entrava nas pontas dançando Balé
Clássico; o restante do elenco, Dança de Rua. Ex-
ploramos o branco e o preto, o alto e baixo, o lento
e o rápido... e constatamos que as pessoas, saben-
do do significado da coreografia, esperavam algo
79 culinária coreográfica
16h – começa o jogo propriamente dito. São as es-
trofes iniciais, refrões e estrofes finais. Essa é nossa
maior estrutura da coreografia, em que jogos, pau-
sas, velocidades, intensidades, todas as qualidades
e explorações corporais, são aplicadas para compor
e conduzir seu tema.
Prato principal
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Desenvolvimento da proposta
Ao se trabalhar com música, é importante entender algumas
coisas. Uma delas é a métrica.
Métrica, em música, é a divisão de uma linha musical em
compassos marcados por tempos fortes e fracos, representada
na notação musical ocidental por um símbolo chamado de
fórmula de compasso. Apropriadamente, métrica descreve o
inteiro conceito de medição de unidades rítmicas, mas pode
ser usada como um descritor específico de uma obra individu-
al, conforme representado pela fórmula do compasso: "Esta
80 culinária coreográfica
música está num compasso 4/4" equivale 1 ou 2 estrofes de
a dizer que "Esta música está em anda- ambientização inicial;
mento 4/4" ou "É uma música em 4/4". 2 ou 4 estrofes de refrão;
As músicas não possuem regras, mas têm
2 estrofes de refrão;
uma linha que permeia sua composição.
Se prestarmos atenção, a maioria 2 ou 4 estrofes da segunda parte;
é formada por:
2 estrofes de refrão;
1 ou 2 estrofes finais.
Por que é importante saber isso?
Porque toda sua estrutura – tra-
balho de peso, volume, dinâmica,
entradas e saídas, transições, inten-
sidade, leitura de movimento – está
Sônia Maria Ferreira de souza
diretamente ligada à música ou
soniasouza3@terra.com.br
à ausência dela.
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Sobremesa
A expectativa
Apresentar soluções precipitadamente pode comprometer seu trabalho
quanto à expectativa e, quando perdemos isso, desprendemos a atenção
de todos. Temos sempre que fazer com que o cérebro de quem assiste
esteja procurando algo no seu trabalho, mas não podemos dar a certeza
para eles tão facilmente. Se você sabe qual é a sobremesa antes do final,
é capaz de não jantar, esperando a hora do doce.
83 culinária coreográfica
Ao contrário do ditado popular, na dança,
a última impressão é a que fica. Se um
espetáculo começa mal e termina bem, ele
será comentado positivamente, porque re-
cuperou e acabou crescente. Se ele começa
muito bem e termina mal, será comentado
que não sustentou e decaiu. Por mais que
ambos tenham uma parte boa e uma mais
fraca, a ordem dos fatores aqui altera o
comentário final.
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s t á n a e x p e c t a t i v a
A s e d u ç ã o e Não antecipe a sobremesa.
da descoberta.
A expectativa valoriza
os pratos anteriores.
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Controlando
a temperatura
do forno
Entradas e saídas
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Saber preparar o forno na temperatura certa para depois
colocar o alimento ou a que horas é preciso baixar o fogo
para não queimá-lo é conhecimento também necessário na
dança. A que horas colocar mais bailarinos, que horas estes
devem sair pelas coxias, por que retirá-los e de que forma
isso fará sentido, vai depender simplesmente da necessida-
de e temperatura do forno.
Transições
(deslocamento)
Interpretação
musical
Composição de leitura
(utilização simultânea
de vários sons)
Placas de alturas
Dinâmica interna
compostas
(intensidade)
(isolar no chão)
Imprevisíveis
Sônia Maria Ferreira de souza (sair do tradicional
início de sequência no 1)
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É natural, entre nós, de origem cultural judaico-cristã oci-
dental, que desde cedo aprendemos que uma página se
lê da esquerda para a direita e de cima para baixo (ocorre
o oposto no Japão, por exemplo) e achamos que o olhar
do observador vai naturalmente partir do topo da pági-
na e descer ao pé ou fazer uma leitura diagonal do canto
superior esquerdo ao canto inferior direito (vestergaard
& schroder, 2004:63).
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Arrumando o prato
Leitura ocidental
É por essa razão que a grande maioria dos anúncios tem a assinatura ao
pé da página, geralmente no canto inferior direito. É uma técnica para
reafirmar a marca, a fim de o consumidor se lembrar dela no momento
em que for ao mercado; é o último incentivo à ação.
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Sônia Maria Ferreira de souza
Os pontos 1 e 2 correspondem 4 zona morta terminal – seguimos nos-
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às zonas nobres: so olhar ao setor quatro, procurando
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1 zona primária – dentro de uma leitura novos elementos de interesse.
ocidental, área onde procuramos em
O ponto 5 corresponde
primeiro lugar quando olhamos para
ao centro ótico:
uma página impressa;
Situado um pouco acima do centro
2 zona terminal diagonal – área em que geométrico, o centro ótico é o ponto
corremos os olhos rapidamente, se- onde paramos realmente, atentando
guindo a linha diagonal e visualizando, para os detalhes. Por isso, esta zona
de forma geral, os elementos/assuntos central tem força maior natural para
da página. prender nossa atenção.
Os pontos 3 e 4 correspondem
às zonas mortas: O ponto 6 é o centro geométrico:
3 zona morta – setor que necessita ser Depois de uma rápida olhada pela
valorizado com elementos de des- página, focalizamos a vista no ponto
taque para um maior equilíbrio dos central.
elementos, colocando fotos ou textos
em destaque;
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Agora vamos utilizar esse estudo e aplicá-lo no
palco, não observado por cima, mas imaginado
frontalmente.
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Decorando a mesa
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Leitura de imagens
Na leitura da imagem, são mobilizadas experiências
não apenas cognitivas e culturais, mas também afeti-
vas, de sensibilidade ou psicomotoras. Para a concreti-
zação dessa leitura, é necessário atender:
Percepção do que a imagem representa, levando em
consideração o seu assunto e projeção da forma de ser
e de pensar do púbico;
Identificação dos elementos (bailarinos e/ou cenários)
que compõem a imagem;
Interpretação do que a imagem significa, atendendo
ao seu poder evocativo e simbólico.
91 culinária coreográfica
Percepção
A realidade imediata representada
(personagens, cenários, objetos,
formas, linhas, entre outros).
Identificação
A Composição: representação As cores:de souza
Sônia Maria Ferreira
do espaço e da luz através:
Primárias: vermelho, amarelo, azul.
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De linhas e pontos de fuga (que
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Secundárias (formadas por duas cores
criam um efeito de perspectiva
e de profundidade); primárias em partes iguais): verde,
Da cor e dos seus diversos matizes laranja e violeta.
ou reflexos. Terciárias ou mistas (intermediária en-
Da representação do movimento atra- tre uma secundária e uma primária):
vés das reações entre a luz e as formas. as restantes.
Dos elementos morfológicos: pontos,
textura, linhas horizontais, verticais, Quentes: vermelho, laranja, amarelo.
curvas e oblíquas, formas geométricas. Frias: azul, anil, violeta.
Neutra: verde.
92 culinária coreográfica
Curiosidade
A escolha de luz e o figurino são diretamente remetidos ao estado de espíri-
to e intenção emocional coreográfica. Pode ser apenas uma parte, como por
completo. O importante é saber que subjetivamente as cores já possuem
determinações preestabelecidas que podem ser usadas ao seu favor:
Branco – síntese de todas as cores. Representa a pureza de alma. É a cor da
paz e da perfeição. Pode simbolizar a claridade, mas, ao mesmo tempo, pali-
dez, frieza e esterilidade.
Sônia Maria Ferreira de souza
Preto – cor que absorve as demais; símbolo da escuridão, da interrupção da
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vida, do sofrimento, da dor, do silêncio, do abismo, do medo, do luto.
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Vermelho – cor do fogo, do perigo, da paixão; símbolo da coragem, da vitali-
dade; cor da felicidade (no Oriente).
Laranja – cor do aconchego e do bem-estar; símbolo do otimismo e da gene-
rosidade. Representa o equilíbrio entre a sexualidade e o espírito.
Amarelo – cor do sol, da luz; símbolo de riqueza e de alegria.
Verde – símbolo do equilíbrio. Relaciona-se com a natureza – princípio e fim
de tudo. Representa esperança, juventude, prosperidade.
Azul – cor da purificação e da busca da verdade interior. É a cor do mar e
do céu. Pode exprimir distanciamento e aproximação. Simboliza serenidade,
harmonia, amor e fidelidade.
Anil – cor da espiritualidade em sintonia com a matéria; remete para a racio-
nalidade; exprime reserva e introversão. Simboliza, como o azul, fidelidade.
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Se observarmos esse desenho
temos a certeza que as linhas
estão tortas. Não cabe aceitar
que são paralelas.
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Agora, conseguimos perceber que realmente
são paralelas, mas por quê?
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Existe um outro exemplo clássico para
perceber que nosso cérebro trabalha numa
velocidade maior que a compreensão
do intelecto:
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Interpretação
Polissemia
Os diversos temas e mundos sugeri- Valor utilitário: interesse comercial,
dos pelas mensagens; didático, documental, narrativo,
Relações com o cultural e civilizacio- crítico...;
nal; a formação do público; O sentido das cores: a representação
Valores temporais (do passado, do do real; a tradução de estados de alma,
presente ou de projeção do futuro) a relação com o todo.
que afirmam estados de alma repre-
sentantes beleza, tristeza, depressão,
angústia, euforia...;
97 culinária coreográfica
Função explicativa – a imagem tem como acusadora para alertar consciên-
por objetivo explicar a realidade cias. As caricaturas e desenhos humo-
através de sobreposição de dados. rísticos privilegiam esta função crítica.
Isso o que acontece nas ilustrações
que ajudam a explicar os textos ou Função estética – a imagem visa à
em diagramas que ajudam a mostrar satisfação e ao prazer do belo, valori-
graficamente um processo ou uma zando as repetições, alternâncias ou
relação. Pode ser designada por fun- contrastes dos elementos que a confi-
ção descritiva – a imagem contribui guram, como as linhas, formas, cor, luz...
para apresentar em detalhe a realida-
de (pessoa, paisagem...). Enquanto a Função simbólica – a imagem orienta-
função informativa (representativa) é se para significados sobrepostos à
sintética, a função explicativa (descri- própria realidade (como acontece com
tiva) é analítica. Sônia Maria bandeiras
Ferreira dee imagens
souza convencionais,
como
soniasouza3@terra.com.bro coração com uma flecha...).
Função argumentativa – a imagem
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procura influenciar comportamentos,
persuadir, convencer, tornando-se um Podemos ainda destacar outras diver-
importante instrumento na publicida- sas funções, que normalmente combi-
de e na propaganda. Ao centrar-se no nam entre si, como as seguintes:
receptor e ao ter a intenção de influen-
ciá-lo, esta função junta-se à função
Função narrativa – a imagem conta ou
conativa ou apelativa da linguagem,
sugere histórias, cenas, ações (como
que tenta exportar, suscitar ou pro-
sucede em desenhos, filmes);
vocar estímulos, promover e mudar
comportamentos.
Função expressiva – a imagem revela
sentimentos, emoções e valores do
Função crítica – a imagem não apenas
próprio autor ou daquilo que repre-
informa, mas procura desvendar e
senta (expressões faciais, posturas do
denunciar situações. Tanto pode ser
corpo, perspectivas de enquadramento,
apenas desveladora de uma realidade
jogos de luz, relação com o cenário);
ou processo, apontando caminhos,
98 culinária coreográfica
Função lúdica – a imagem
orienta-se para o jogo, o
entretenimento, incluindo o
humor, a caricatura;
Existem muitas coisas que podem ser envolvidas
Função metalinguística – em seus estudos para uma composição coreo-
a imagem interessa-se pelo gráfica como pensamento, elaboração, criação
código visual, como sucede e condução. A cada minuto, entendo que o me-
com a utilização de modelos lhor aprendizado é estar atento ao nosso dia a dia.
para representar algo ou de A quantidade de informações cotidianas que nos
autorretrato a serem pintados. circunda e que podemos trazer para dentro da
dança é infinita. Essa é nossa maior contribuição
para a arte. A criação está diretamente relacionada
Sônia Maria“quem
a você é”
Ferreira dee “para
souza quem você cria”. A cone-
xão necessariamente precisa existir para tornar a
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codificação da coreografia e a descodificação pelo
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público em algo orgânico, verdadeiro.
Em musicais, fazemos muito isso. Precisamos contar uma história com o corpo, com a voz,
com dramaticidade, e esse conjunto de coisas não pode derrubar um ao outro. Precisamos
cuidar para ver se o figurino não vai brigar com a proposta do tema, se não vai atrapalhar sua
movimentação, se o cenário não vai ficar demais. A harmonia de todos os elementos juntos
precisa estar equilibrada para se tornar um todo significativo e não fragmentos de partes.
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Colocando
a mesa
Preparando o ambiente
Mente intuitiva
O sonho é um projeto pessoal, mas as outras pessoas são fun-
damentais para alcançá-lo. Ninguém o realiza sozinho. Walt
Disney afirmou certa vez: “Você pode sonhar, projetar, criar
e construir o lugar mais maravilhoso do mundo. Mas precisará
de pessoas para tornar o sonho realidade.” A grande realização
de Walt Disney não foi o Mickey nem a Branca de Neve. Seu ato
mais genial foi ter moldado uma organização capaz de “dar
vida” a esses e a tantos outros personagens.
Performance acrobática;
atuação; mundos imaginários;
formas desoniasouza3@terra.com.br
arte pelo mundo;
Sônia Maria Ferreira de souza
ousadia; destreza;
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graça e dança.
r a z o á v e i s ,
p r e c i s a m s er
Sônia Maria Ferreira de souza
s o n h o s n ã o c e r t
soniasouza3@terra.com.br
r o ” .
“O s e p o d e m d a
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p o r i s s o q u
é
Albert Einstein não sabia falar até os
4 anos de idade, só aprendeu a ler aos
Souza
Cezar 7, chegou a ser expulso da escola onde
estudava e não foi admitido na Escola
Michael Jordan, o astro do basquete Politécnica de Zurique.
mundial, foi cortado do time da escola;
Em 1944, a diretora da agência de
Winston Churchill repetiu o 7º ano do modelos Blue Modeling disse a Norma
Ensino Fundamental e só aos 62 anos Jean Baker: “É melhor você fazer um
de idade tornou-se primeiro ministro curso de Secretariado ou arrumar um
da Inglaterra; marido.” Norma ficou conhecida mais
tarde como Marilyn Monroe.
105 culinária coreográfica
É importante sabermos que quando lidamos com pessoas,
mesmo em dança, existem muitas outras coisas envolvidas.
Vou contar um fato que me chamou atenção:
Hora
de comer
Desliguem seus celulares,
vai começar
u i r p e l o n o v o c a
obstinado em encontrar uma
resposta para um fenômeno. e seg
Mas, normalmente, a emo-
ção apenas dá o ponto de Heath
Chip
partida em uma jornada. É o Maria Ferreira de souza
Sônia
gatilho. O importante ésoniasouza3@terra.com.br
que
ela nos coloque no caminho
certo. Com a rotina estabele-
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Cada vez, que eu lia uma nova pergunta
cida depois da mudança, va-
desta entrevista, me convencia de que
mos seguir por esse caminho
instintivamente procuramos fazer isso
mesmo quando estivermos
na dança.
cansados. A fórmula é usar a
emoção para despertar pai- A cada coreografia montada, a cada
xão por uma ideologia, mu- apresentação feita, o maior legado que
dar, estabelecer uma rotina e podemos deixar é o gatilho apertado,
seguir pelo novo caminho". tanto do bailarino, que se tornando um
profissional ou não, vai ser um eter-
no admirador apaixonado pela dança,
como do público, que certamente voltará
para dentro de um teatro assistir outros
espetáculos e levará seus filhos e amigos
para repartir o que sentiram na primeira
vez. Precisamos atingir o “senso de iden-
113 culinária coreográfica
tidade” das pessoas para promover mudanças. Mas
o que seria isso? Heath conta que uma atitude
tomada pelo senso de identidade exige que você
pense: “Quem sou eu? Se sou esse tipo de pessoa,
como agir nessa determinada situação?”. É o que
fazemos na criação dos filhos. Quando nos sacri-
ficamos por eles ou abrimos mão de certas coisas,
estamos pensando: “O que um bom pai ou uma
boa mãe faria nessa situação por sua família?”
v a s p o s s i b i l i d a d e s
m l e q u e d e n o
Apresente u tro e fora dos palcos.
e respostas den
119 culinária coreográfica
Por Cristiane Wosniak
ou melhor, ao ensaio!
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Em um evento internacional teve seu primeiro contato com as danças urbanas e se apaixonou.
Aprofundou suas pesquisasSônia Maria
em Los Angeles, Ferreira
grande expoentede souza
do Hip Hop, com o qual se identificou
com linguagens e leituras. Sem perder o contato com a raiz do movimento e sua história, idealizou no
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Brasil o Festival Internacional de Dança Hip Hop, um encontro com mais de 1500 bailarinos de todo o
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mundo, com a presença dos criadores da cultura e dos maiores destaques da dança na atualidade.
Paralelo ao estudo contemporâneo desta modalidade, sempre foi um apaixonado por arquitetura, de-
coração, filosofia, fotografia, cafés e viagens. Desenvolveu o Dance Progress System, sistema de ensino
através das danças urbanas, em um programa musical, que facilita a compreensão sobre o movimen-
to. Sua metodologia despertou interesse por inúmeras Secretarias de Educação, sendo aplicada por
professores em escolas Estaduais e Municipais.
Foi diretor e coreógrafo do grupo de dança Heartbeat, de 1993 a 2004, tornando-o reconhecido na-
cionalmente por suas diferenciadas criações espaciais e levando-o a ser palestrante e consultor em
Composição Coreográfica de inúmeras universidades, escolas de dança e congressos.
Em 2001, Octávio bate um recorde mundial, ministrando 27 aulas de Hip Hop em 27 horas ininterrup-
tas para argumentar a forma de trabalho corpo-mente.
Hoje, além de trabalhar com a Cia. de Dança Heart Company, é Coordenador do mba em dança da
faculdade Inspirar em Curitiba. É proprietário da Dance & Concept Brasil, agência e produtora, reali-
zando eventos na área da dança em toda a América Latina e Europa.
125 culinária coreográfica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
Contém fotografias.
cdu 792.8
revisão ortográfica Ana Paula Guida Tavares e Fátima Natividade
formato 18 mm × 21 mm
Thesis (TheSans,
tipografia Sônia MariaTheSerif e TheMix)
Ferreira dee souza
Honey Script