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HORROR
NOIRE
“Nossos nomes serão escritos
em milhares de paredes.
Venha comigo e torne-se imortal.”
CANDYMAN
ROBIN R.
MEANS COLEMAN
HORROR
NOIRE
SUMÁRIO
ASHLEE
BLACKWELL
Como chegamos aqui?
PRÓLOGO
Em busca do sentimento de equilíbrio
PREFÁCIO
A promessa revelatória do cinema de gênero
INTRODUÇÃO
Estudando negros e filmes de terror
PRÉ-1930
O nascimento do bicho-papão negro no imaginário
1930
Febre na selva: um romance de horror
1940
Bandidos aterrorizantes e miseráveis menestréis
1950, 1960
Invisibilidade negra, ciência branca e uma noite com Ben
1970
Grite, branquelo, grite: retribuição, mulheres duronas e carnalidade
1980
Nós sempre morremos primeiro: invisibilidade, segregação racial
econômica e o sacrifício voluntário
1990
Estamos de volta! A vingança e o terreno urbano
CONCLUSÃO
Capturando alguns Zzzzzs: os negroz e o terror no século XXI
NOTAS
CINEMATECA
BIBLIOGRAFIA
AGRADECIMENTOS
HORROR
NOIRE
INTRODUÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA
ASHLEE
BLACKWELL
COMO CHEGAMOS AQUI?
PRÓLOGO
EM BUSCA DO SENTIMENTO DE
EQUILÍBRIO
PREFÁCIO
A PROMESSA REVELATÓRIA DO
CINEMA DE GÊNERO
DESAFIANDO O TERROR
Meu interesse nos filmes de terror e em suas narrativas
acerca de raça certamente não começam e muito menos
terminam nos filmes de Romero. Filmes como King Kong
(1933), com seus nativos de pele preta entoando “uga-
buga” e que se enamoram da pele branca, são
extraordinariamente úteis para jogar uma luz na forma
como entendemos o papel de raça, assim como
(imaginárias) práticas culturais. E nem me fale de filmes
como Bones: o anjo das trevas (2001), inspirados pela
cultura hip-hop, com seus temas neo-blaxploitation ao
som de rap. A corda que une todos os filmes que vou
examinar aqui é a sua habilidade de inspirar abordagens
raciais provocativas e que oferecem lições únicas e
mensagens acerca das relações raciais.
Eu mostrarei neste livro que existem muitos filmes de
terror que contribuem para a conversa sobre negritude.
Acredito que seja particularmente importante entender
que existe uma miríade de filmes de terror, geralmente
feitos por criadores negros como Spencer Williams (O
sangue de Jesus, 1941), Bill Gunn (Ganja & Hess, 1973) e
Ernest Dickerson (Def by Temptation, 1990), que exibem
temática negra, elenco negro e cenários negros que
contribuem para o conteúdo inovador do gênero.
O horror tem algo a dizer sobre religião, ciência,
estrangeiros, sexualidades, poder e controle, classe,
papéis de gênero, origem do mal, sociedade ideal,
democracia etc. Esses tópicos mudam completamente de
figura quando são examinados sob a ótica da cultura
negra. Meu ponto é: a história da negritude contada pelo
terror é interessante e complexa. Enquanto o terror às
vezes tem sido marcado pela sua reputação de “filme B”,
de baixo orçamento e/ou de gênero explorador, é
impossível negar sua capacidade única de expor as
questões e preocupações do nosso mundo social,
incluindo nossas sensibilidades raciais.8
“Uma forma de rebaixar o gênero do terror”, escreve
Hutchings, “é subestimar sua audiência […] dizendo que
as únicas pessoas que possivelmente podem gostar
desse tipo de coisa são doentes ou estúpidos (ou doentes
e estúpidos)”.9 Eu não quero desconsiderar o que para
alguns é uma “pulga atrás da orelha” no que diz respeito
aos filmes de terror. Muitos desses filmes são, realmente,
repletos de sanguinolência (a doença) e com roteiros
fracos (a estupidez). Filmes de terror raramente são
coisas dignas de vencer um prêmio no Festival de
Cannes, mas o seu público pode ser bem mais esperto do
que alguns críticos e acadêmicos imaginam. Esse público
entende que o gênero como um todo não é inerte, e que
realizadores de filmes de terror revelam algo muito,
muito mais horrorizante: que o nosso mundo e as
relações são realmente unidos por pouco mais do que
cola de peruca spirit gum.
A noite dos mortos-vivos é um clássico cult agora. Os
aficionados do gênero concordam que foi uma das
maiores contribuições de Romero para o gênero e para a
mídia. Contudo, já se passaram algumas décadas desde
que Noite exigiu que nos perguntássemos o que era mais
assustador: zumbis comedores de carne, ou aquilo que
fazemos uns com os outros diariamente.
Então, aí está. Eu obviamente acredito que o gênero
do terror tem uma grande promessa revelatória e é isso
que me move a explorar sua miríade de definições de
negritude, assim como aquilo que o gênero revela sobre
os tipos relevantes de personagens negros, em relação
aos níveis de participação dos negros em filmes e a
respeito da contribuição negra para o nosso mundo
social.
HORROR
NOIRE
INTRO
ESTUDANDO NEGROS E FILMES DE
TERROR
FLUXO EPISTEMOLÓGICO
Horror Noire é guiado por várias conjecturas básicas. A
primeira delas é que o estudo de raça continua a ser
importante. Em seu livro Darkwater: Voices from Within
the Veil (1920), W.E.B. Du Bois nota que, ao focar no
assunto de raça nos Estados Unidos, ele se encontra
mais uma vez escrevendo (tristemente) acerca de um
tema “sobre o qual grandes almas já disseram grandes
palavras”.35 O tema da raça não perde o interesse para
Dubois pelas mesmas razões que o impeliram a escrever
sobre o assunto pela primeira vez — o problema sempre
presente da divisão entre cores. O “estranho significado
de ser negro” no início do século XX, quando Dubois
escrevia, nos seguiu até o século XXI. O “estranho
significado” de ser negro neste milênio continua a se
referir, em partes, ao “problema da divisão entre cores”
(ao contrário das proclamações recentes a respeito de
uma sociedade pós-racial). Trata-se de um questão ainda
exacerbada pelo “sentido de sempre olhar para si
mesmo por meio dos olhos de outros, de medir a própria
alma pela fita métrica de um mundo que o olha com
divertido desdém e pena”.36 Para o historiador de cinema
Thomas Cripps, os filmes de Hollywood, “desde o início”,
tiveram um papel vital em aguçar a distinção da linha de
cor, enquanto trabalhavam de maneira efetiva para
espalhar as crenças raciais e as angústias da
sociedade.37 Este livro também leva em conta um
número de “-ismos”. Ele interroga as consequências do
racismo, machismo, classismo, separatismo,
heterossexismo, noções de masculino e masculinidade,
assim como de feminino e feminilidade. As notórias
estudiosas feministas Patricia Hill Collins e bell hooks
exigem que entremos em sintonia com as intersecções e
interconexões entre discursos dominantes sobre raça,
classe, gênero e sexualidades. Assim sendo, este é um
projeto de viés negro/feminista no qual os negros são
identificados como sujeitos, e não apenas como objetos
(o que também é o caso em muitos destes filmes); a
realidade histórica da negritude de acordo com os filmes
é definida e exposta; e a história do filme negro de terror
é contada de um vantajoso ponto de empoderamento e
com o objetivo de elevar a consciência.38
Este livro é também uma extensão do ensaio “Her
Body, Himself: Gender in the Slasher Film”,39 de Clover, e
da obra de Pinedo, que, em Recreational Terror: Women
and the Pleasures of Horror Film Viewing,40 argumenta
que há mais nos filmes de terror do que misoginia,
violência e olhares voyeurísticos. Embora esses e outros
casos problemáticos de “-ismos” sejam encontrados nos
filmes, este livro argumenta que também existem
oportunidades — ainda que não haja muito esforço —
dentro dos filmes para perturbar ou eviscerar nossas
visões dominantes e presunçosas acerca do lugar de
cada um no mundo. Questões perturbadoras de mácula,
escuridão e bufonaria não são as únicas intenções deste
livro. Em vez disso, o terror também tem sido um meio
capaz de tomar todos os tópicos de empoderamento e
revolução para reescrever os lugares do heroísmo e da
maldade. “Embora os paralelos diretos entre as forças
sociais e a cultura popular sejam arriscados, na melhor
das hipóteses”, estão presentes aqui dois entendimentos
distintos a respeito do funcionamento da participação
negra nos filmes de terror.41 Na primeira instância, os
negros têm sido mostrados como deficientes — infantis,
contaminosos, situados nas esferas mais baixas da
escala socioeconômica, servindo de metáfora e como
catalizadores do mal, e demonizados, ainda que nem
sempre tenham sido escalados, propriamente, no papel
do diabo. No segundo momento, este livro trabalha para
revelar como o gênero do terror tem o potencial de
desmitificar representações onerosas dos afro-
estadunidenses, que são calcadas em, e derivadas de,
um tipo de “menestrel do fim do século”.42 Ao contrário,
a negritude pode ser tão madura, temente a Deus e
resistente ao mal, inteira e completa, sábia e antiga,
totalmente engajada contra o mal, e estar presente no
centro ou nas cercanias das edificações de bondade.
PRÉ-1930
O NASCIMENTO DO BICHO-PAPÃO
NEGRO NO IMAGINÁRIO
CONCLUSÃO
Foi contra o pano de fundo desse início do século XX,
quando W.E.B. Du Bois lamenta pelo negro que mede “a
própria alma pela fita métrica de um mundo que o olha
com divertido desdém e pena”, que os negros entraram
na produção de filmes.76 Eles buscaram oferecer
entretenimento a partir de seu próprio e vantajoso ponto
de vista da negritude enquanto combatiam as
representações desdenhosas prevalecentes que eram
circuladas por aqueles particularmente investidos em
preservar noções puras de brancura. Certamente, para
esses cineastas negros, o lucro em potencial também
não incomodava. Contudo, as mentiras de Griffith se
mostraram motivações fortes para que negros entrassem
na área — rapidamente e em grande número.
Companhias independentes de filmes negros e cinemas
negros começaram a aparecer. No fim da década de
1920, o número impressionante de setecentos cinemas
negros atendiam ao público negro (provando que a
“renascença” não foi apenas um fenômeno do Harlem).77
Ainda assim, a vida do cineasta negro estava longe de
ser fácil. Censura, distribuição, acesso a recursos (como
equipamentos, atores, pagamentos) e a necessidade de
um retorno do investimento eram problemas
significativos e frequentemente impossíveis de serem
resolvidos. Como resultado, cineastas não negros ainda
dominavam a indústria, e a visão deles acerca dos
negros e da cultura negra prevalecia. Parecia não haver
meios de deter as representações de negros como
figuras monstruosas ou as comédias de terror
racialmente ofensivas, nas quais os negros eram vítimas
de violências nas mãos dos brancos. Pior ainda, o negro
assustado de olhos arregalados estava só começando a
aparecer, chegando ao ápice na década seguinte. A
próxima década, de 1930, viu uma diminuição de
performances com pintura blackface, dando mais
oportunidades para atores negros “reais”. Contudo, os
papéis destinados aos negros, especialmente no gênero
do terror, que estava sendo formalizado nos anos 1930,
eram terrivelmente regressivos. A década também viu
um aumento da participação de mulheres negras: elas
não seriam mais interpretadas por homens brancos com
o rosto pintado, e assim mais papéis foram escritos para
elas, ainda que frequentemente interpretassem bruxas
vodus seminuas ou empregadas completamente vestidas
e praticantes de vodu.
Na década seguinte havia ainda mais problemas
representacionais para os negros surgindo no horizonte.
“Filmes da selva” — sobre as vidas não civilizadas de
negros que viviam em lugares como o continente
africano ou a ilha do Haiti — se tornaram populares nos
anos 1930. As contribuições desses filmes para o gênero
do terror foram profundas, e os tropos dessas produções
continuam populares até hoje. Negros retratados como
figuras selvagens, praticantes malvados de vodu falando
“uga-buga” enquanto se açoitam numa frenética dança
vodu cadenciada por música da selva (percussão)
rivalizavam com o grotesco de Gus e Lynch. Além disso,
os brancos ainda eram retratados como superiores e
iluminados… e ainda eram os protetores e salvadores
das mulheres, que continuavam a ser ameaçadas pelos
negros. Havia muito pouco para combater essas
imagens, já que 1930 foi mais uma década de filmes de
terror “com negros” do que de “filmes negros” de terror.
* Embora a autora naturalize uma hierarquia entre humanos (negros)
e animais em um zoológico, como se o absurdo da exibição fosse o
fato de ser experienciado por humanos, para um discurso
antirracista que vai na raiz do problema, é interessante pensar que a
lógica da mentalidade racista (diferenciação e hierarquização com
base no fenótipo) é correlata à lógica do especismo (diferenciação e
hierarquização com base na diferença de espécie, basicamente a
oposição animal “humano” e animal “não humano”). Dizer “como se
negros fossem animais” pontua uma necessidade de dissociar
negros de animais com veemência (devido ao histórico de
animalização dos negros, no discurso que associa negritude a
características não-humanas) tal que não pontua o fato de que os
“animais não-humanos” não deveriam ser violados, exibidos e
agredidos. Para as irmãs Aph e Syl Ko, grupos sociais marginalizados
tendem a focar que a diferença mórfica e “espiritual” deveria
pressupor uma diferença de tratamento do grupo privilegiado,
porque ignoram o fato de que por “humano” a mentalidade
eurocêntrica quer dizer “branco”, e os demais grupos marcados pela
diferença são “não-humanos” e, por extensão, lidos como “animais”.
Assim, elas defendem que a luta não deveria ser pra ser tratado
melhor que o animal, mas pelo fim da lógica hierarquizante. Ver: Ko,
Aph; Ko, Syl. Aphro-ism: essays on pop culture, feminism, black
veganism from two sisters. Nova Iorque: Lantern Books, 2017. [NE]
* Cakewalk no original, refere-se à dança dos escravos norte-
americanos de ritmo sincopado surgida a partir de uma tentativa de
imitação do minueto e das quadrilhas dos brancos europeus em
meados do século XIX. Mario Jorge Jacques conta, em seu livro
Glossário do Jazz (Biblioteca 24 horas, 2009), que o nome surgiu das
reuniões em certas fazendas que autorizavam a dança aos domingos
como diversão também para os brancos e que presenteavam com
um bolo os melhores dançarinos. A base musical era composta por
marchas sincopadas e que vieram a contribuir para a característica
rítmica do ragtime. [NE]
HORROR
NOIRE
1930
FEBRE DA SELVA, UM ROMANCE DE
HORROR
CONCLUSÃO
O amor estava no ar na década de 1930, mas estamos
falando do gênero do terror, e a estrada para a paixão,
de forma esperada, era cheia de curvas mortais.
Macacos, vodu, nativos e zumbis tinham o costume de
atrapalhar assuntos do coração. Parte do terror residia no
fato de que essas monstruosidades se intrometiam em
assuntos de corações brancos. Personagens monstruosos
como Kong, Murder, e até mesmo a Múmia, sabiam como
estragar uma noite de amor para Ann, Madeline e Helen,
respectivamente, ainda que tentassem ganhar a afeição
dessas garotas de pele menos pigmentada. Isso era algo
assustador e sério, já que o público médio (branco)
“consideraria extremamente abjeto o aprisionamento de
cristãos brancos por nativos de pele escura. E ainda pior,
pois, como as vítimas de feitiçaria vodu costumavam ser
mulheres nessas narrativas iniciais e amplamente
racistas […] isso atacava a paranoia racial
profundamente arraigada”.70 Que sorte a nossa haver os
cavaleiros brancos que cavalgavam para salvar o dia e
resgatar suas amadas da vilania, não? A lição aqui é que,
ao ser vítima de algum tipo de intruso maligno de pele
mais pigmentada, a pureza racial e sexual era desafiada,
mas, por fim, restaurada.
De fato, não há amor maior para um homem (ou
gorila) do que o amor de uma mulher branca pura. Mas ai
daquela que negociar com o mal e distribuir a maldade
— não existe pecado maior. Envolvidas nessas relações
sórdidas, estavam as Klilis, Mandys e Juanitas. Essas três
mulheres amaldiçoadas foram longe demais para
continuar vivas. De maneira interessante, embora as três
tenham utilizado a espada metafórica do vodu em vida,
nenhuma delas foi morta por ela. Em vez disso, homens
decidiram o destino dessas mulheres. Klili foi
estrangulada por um homem (miscigenado), Mandy foi
perseguida pelos homens brancos e a bala nas costas de
Juanita foi disparada por um homem branco. Essas
mulheres, com seus corações negros, estavam ainda
mais obscurecidas por conta de sua relação com o vodu.
Contudo, os mais acentuados desdém e desprezo foram
reservados para Juanita, uma mulher branca que, por
vontade própria, se submeteu e se aliou ao mundo dos
negros.
Certamente alguns poderiam dizer que o terror
precisa estar situado em algum ponto, e nesses filmes é
uma eventualidade que ele se encontre entre pessoas
negras e em locais majoritariamente negros. Contudo,
nos filmes desse período, o foco não recai tanto no terror
(ou no amor), mas na representação dos negros como
figuras pavorosamente horríveis, o que configura uma
diferença fundamental. Esses não são filmes de terror
modernos em que os monstros simplesmente surgem
para retalhar e torturar pessoas; mas são filmes em que
não basta localizar o terror no monstro (por exemplo, um
gorila): o monstro também precisa ser enegrecido. Além
disso, se esse monstro… enegrecido… tem relações
sexuais com uma nativa negra, o efeito é maior do que
aquele causado por um simples “Bu!”; quando isso
acontece, o assunto passa a ser a natureza nojenta dos
negros. A maldade negra sendo jogada de um lado para
o outro, os negros obedientes, as mamães pretas, os
malandros, todos são utilizados como estofo para a
ridicularização racial e para assegurar a supremacia
branca. Esse é o verdadeiro terror desses filmes.
De modo representativo, ao longo dos anos seguintes,
as coisas não ficariam mais fáceis para os negros. A
longo prazo, por exemplo, o Haiti e a zumbificação
seriam ainda mais explorados na cultura popular. Na
imprensa, os haitianos continuariam a ser retratados
como figuras perversas e contaminadas por meio de
bordões que davam conta de que o “povo dos barcos”
(em busca de liberdade política e econômica) estava
chegando, levando não só vodu para os Estados Unidos,
mas também doenças (tuberculose e AIDS).71 O terror
continuava a implicar os negros em zumbificação,
acrescentando também um pouco de satanismo (Coração
satânico [1987]) e canibalismo (Zumbiz [2005]).
Na década seguinte, os anos 1940, o progresso
continua a ser lento para os negros em filmes de terror.
Na verdade, o gênero estava regredindo ao escalar
negros como bufões e alívios cômicos, além de dar ainda
mais destaque para a performance do malandro em
filmes de susto como The Body Disappears (1941),
estrelando Sleep ’n’ Eat, e O rei dos zumbis (1941), com
Mantan Moreland. Vislumbres de esperança surgiram
para os negros com o retorno de um diretor negro,
Spencer Williams. Os “filmes negros” de terror de
Williams tinham monstros, o diabo, e uma boa dose de
lição de moral para acompanhá-los. Mas, primeiro,
teríamos que enfrentar outro filme de macaco: Son of
Ingagi (1940), um filme meio-macaco, meio-humano de
Williams.
* Para uma mentalidade supremacista branca, tudo o que destoa da
norma (homem branco heterossexual cisgênero, cristão e classe
média) são animalizados, mas o racismo anti-negro vitimiza este
grupo com mais violência simbólica explícita como a “habilidade de
acasalar com o animal”. Para Aph e Syl Ko, a categoria de animal foi
uma invenção colonial que tem sido imposta a humanos e a animais:
aos primeiros porque justifica serem tratados como os segundos; os
segundos porque é naturalizado que sejam violados. Ao investigarem
as noções de “humano” e “humanidade” elas compreenderam que a
categoria “animal” opera como ferramenta de opressão em relação
a grupos racializados, pois animalizar humanos (racializados) é uma
forma de justificar a exploração, violação e exposição — bem como o
“nojo” proveniente da “bestialidade” essencializada. Ver: Ko, Aph;
Ko, Syl. Aphro-ism: essays on pop culture, feminism, black veganism
from two sisters. Nova Iorque: Lantern Books, 2017. [NE]
* O termo é pejorativo. A palavra mulus, no latim, faz referência a
“mulo”, o animal híbrido, estéril e produto do cruzamento do cavalo
com a jumenta, ou da égua com o jumento. Por influência espanhola,
o termo passou a designar um mulo jovem, e foi pela analogia com a
origem mestiça do animal que a palavra ganhou tom pejorativo para
pessoas negras com a pigmentação mais clara. [NE]
* Conforme diz Grada Kilomba em Memórias da Plantação (Cobogó,
2019): “No mundo conceitual branco, o sujeito Negro é identificado
como o objeto ‘ruim’, incorporando os aspectos que a sociedade
branca tem reprimido e transformando em tabu, isto é,
agressividade e sexualidade. Por conseguinte, acabamos por
coincidir com a ameaça, o perigo, o violento, o excitante e também o
sujo, mas desejável – permitindo à branquitude olhar para si como
moralmente ideal, decente, civilizada e majestosamente generosa,
em controle total e livre da inquietude que sua história causa”. [NE]
HORROR
NOIRE
1940
BANDIDOS ATERRORIZANTES E
MISERÁVEIS MENESTRÉIS
BRIGA DE MONSTROS
Os filmes de terror “com negros” lançados ao longo da
década evidenciam o quão ruim as coisas estavam para
os negros. A morta-viva (1943) é um filme situado no
Caribe, na ilha de St. Sebastian pós-colonização, em uma
plantação de açúcar e numa selva ao redor.3 Para os
negros no filme, St. Sebastian é uma ilha construída pela
morte por causa de sua antiga história de amor com a
escravidão. O filme começa de forma pejorativa com
uma mulher branca, Betsy (Frances Dee), ignorando de
maneira casual e acrítica as atrocidades da escravidão
enquanto conversa com um homem negro descendente
de escravizados:
— Razaf (16)47
CONCLUSÃO
As produções de Spencer Williams não eram
tecnicamente complexos. Afinal, um dos filmes (O
sangue de Jesus) mostrava o Diabo como um homem
vestido com algo semelhante a uma fantasia de
halloween. Alguns críticos chegaram a dizer que suas
lições simplistas de piedade não correspondiam com os
tempos mortais em que eram transmitidas. Ainda assim,
Williams usou literalmente de sua fé para criar “filmes
negros” de terror populares e de sucesso centrados na
cultura negra (sulista) e pensados para o público negro.
Infelizmente, Hollywood ignorou as evidências e
continuou a procurar narrativas banais e estereotipadas.
Ainda assim, grupos de indivíduos instruídos e
organizações continuariam a fazer apelos a Hollywood,
pedindo que o tratamento dos negros sofresse alguma
revolução. Joel Fluellen (Pongo, o gorila branco [1945]) e
Betsy Blair (atriz e esposa de Gene Kelly), em 1946,
apareceram diante da Guilda dos Atores de Cinema (SAG)
e propuseram que a associação advogasse pela afiliação
de negros: “AGORA, PORTANTO, SEJA RESOLVIDO que a Guilda dos
Atores de Cinema use de todos os seus poderes para se
opor à discriminação contra os negros no cinema”.78 Em
1947, Boris Karloff (A múmia [1932]), como membro do
comitê antidiscriminação da SAG, notou os desafios que a
guilda enfrentava e o acréscimo de mudanças que a
organização buscava:
1950/60
INVISIBILIDADE NEGRA, CIÊNCIA
BRANCA E UMA NOITE COM BEN
OS INVISÍVEIS
À medida que os anos 1950 emergiam, os personagens
negros se tornaram uma presença rara no terror. O que
no passado constituía na representação do trabalho
“negro”, como empregados ou trabalhadores rurais, se
tornou menos necessário numa era em que o cinema
estava mais preocupado com ameaças científicas e
extraterrestres. Nesses desafios, os brancos, e
notavelmente as personagens femininas, assumiam o
papel de ajudante. Por exemplo, num filme de 1957, O
ataque vem do Polo, um (hilário) pássaro monstro
gigantesco com uma tela de energia anti-matéria
ameaça o planeta (os Estados Unidos, em particular).
Embora a invenção mais mortal da ciência, a bomba
atômica, não seja capaz de exterminar esse alienígena,
os cientistas permanecem resolutos, esforçando-se para
encontrar uma solução. Nesse filme, há pouca
necessidade da presença de negros carregando bolsas ou
servindo refeições. O pássaro é um dilema para
intelectuais, e o espaço em que essas pessoas trabalham
são laboratórios ou centros de pesquisa. Nesse contexto
de trabalho, os negros não servem, teoricamente, para
nada.
No filme, a “srta. Caldwell” (Mara Corday), uma
mulher branca matemática e analista de sistemas,
exerce a função de ajudante. Embora prometa ser uma
pessoa estudada, ela é incapaz de mapear o padrão de
voo básico do pássaro (isto é, analisar o seu sistema). Em
vez disso, Caldwell se transforma naquela que recebe
ordens e tolera abusos sexuais de maneira afável — ela é
referida como “mãe, querida mãe” e recebe ordens de
um colega de trabalho, “me beija e fica quieta” —, o que
ela faz avidamente. Esse tipo de “repressão severa da
sexualidade/criatividade feminina”, escreve Wood, não
apenas atribui passividade, subordinação e dependência
à figura da mulher, mas “em uma cultura dominada por
homens […] a mulher como o Outro assume uma
significância particular”.7 Embora o trabalho primordial
de Caldwell seja parecer bonita e servir como algum tipo
de empregada, servindo bebidas aos homens, ela é
capaz de fazer notas e cuidar de painéis eletrônicos —
tarefas que presumidamente vão muito além da
capacidade dos negros.
Até mesmo na ausência geral de diversidade racial, o
uso do simbolismo racial era abundante ao longo da
década de 1950. O filme A noiva do gorila (1951) une a
diferença e a aberração de forma parecida. Aqui, o
personagem Barney (Raymond Burr) é o capataz de uma
plantação de seringueiras que cuida do gerenciamento
de uma residência construída no interior da selva
amazônica. Barney é um gerente cruel que possui
lembranças saudosas: “Oh, quando eles tinham
escravos!”. Os cineastas sabiam que filmes de selva do
tipo tinham implicações raciais, e essa produção não foi
uma exceção, trazendo frases como: “Pessoas brancas
não deveriam viver por muito tempo na selva”. De
acordo com Thomas Cripps em Making Movies Black, um
escritor do jornal AfroAmerican, de Maryland, Carl
Murphy, “foi chamado para ser um consultor em […] A
noiva do gorila [daí] estabelecendo um ponto de vista
negro em relação a coisas que iam além do uso da
palavra ‘crioulo’ nos diálogos”.8 Na verdade, insultos não
estão presentes no filme, tampouco participações
significativas de negros. No filme, Barney passa a cobiçar
a esposa do chefe, Dina (Barbara Payton), e mata o chefe
para poder possuí-la. O assassinato é testemunhado por
Al-Long (Gisela Werbisek), uma bruxa que amaldiçoa
Barney. O homem é atormentado por alucinações nas
quais ele acredita que está se transformando em um
gorila. O filme apresenta uma pequena ponta do famoso
ator negro Woody Strode no papel de Nedo, um policial
local. Sua presença é breve aqui, e Strode interpreta de
maneira direta. Ele é estoico e profissional. Suas ações
estão largamente centradas na procura rápida pelo
quarto de Al-Long para ver se ela tinha escondido
alguma evidência do assassinato do chefe. Seus
princípios funcionam para dar credibilidade ao poder
assustador do vodu. Alarmado pelo poder da bruxa, Nedo
a censura de forma veemente: “Eu não acredito em
magia negra […]. Mas fique longe da minha casa. Eu não
quero bruxas perto das minhas crianças”. Ele então sai
de cena (e do filme) rapidamente. A brevidade da
participação de Strode é triste, já que serve para lembrar
o que atores negros poderiam acrescentar ao gênero —
um medo real, sem precisar arregalar os olhos para
parecer assustado. Contudo, qualquer tipo de
representação, assustada ou normal, na metade do
século XX, ainda era uma raridade.
Outra produção pertencente a esse ciclo de filmes de
terror, A noiva e a besta (1958), traz gorilas/primitivismo
e civilização no centro de tudo. Contudo, mais uma vez,
os negros desaparecem das telas. A noiva e a besta não
tem nenhuma pessoa negra em seu elenco, mas ainda
assim obteve sucesso ao exibir o “continente escuro” e
tudo que vem dele como algo grotescamente assustador.
No filme, Dan (Lance Fuller), um grande caçador, se casa
com Laura (Charlotte Austin). A licença de casamento
deles custa 6 dólares, o que faz Dan exclamar de forma
inexplicável: “Eu poderia comprar seis esposas por esse
preço no meio da África!”. Dan apresenta Laura para
Spanky, um gorila africano que ele capturou e mantém
aprisionado no porão de sua casa no topo de uma
montanha nos Estados Unidos. Laura exibe uma estranha
atração sexual pela besta ao conhecer Spanky, olhando
de forma luxuriosa para o gorila e, mais tarde, sonhando
com o animal. Em uma cena chocante, Spanky visita
Laura no quarto, onde a besta e a mulher se abraçam, e
o animal despe Laura em seguida. Dan mata Spanky
imediatamente. A estranha atração de Laura pelo animal
é explicada sob hipnose: em uma vida passada Laura foi
um gorila, a rainha dos gorilas, para ser mais exata.
Laura e Dan, juntamente com o “criado” Taro9
(interpretado pelo ator branco Johnny Roth com o rosto
pintado de marrom), cujo vocabulário é limitado a se
dirigir a Dan como “Bwana”, vão até a África para que
Dan volte a caçar. Aqui, os monstros (gorilas negros) e o
lugar (África) são abertamente racializados. Enquanto
está na África, a atração de Laura por todas as coisas
africanas — um tipo de febre da selva — se torna ainda
mais profunda, e Dan tentar curar a obsessão dela. O
filme termina com uma Laura entusiasmada sendo
levada para os confins da selva nos braços de um gorila
negro. Contudo, a cena provoca inquietação, mostrando
Dan como a verdadeira vítima, que perde o seu amor
para um tipo de miscigenação grotesca, uma mistura de
espécies que provoca um medo parecido com aquele da
mistura de raças. Em resumo, animais e negros são a
mesma coisa.
1970
GRITE, BRANQUELO, GRITE —
RETRIBUIÇÃO, MULHERES DURONAS
E CARNALIDADE
OS HORRORES DO BLAXPLOITATION
Lamentando as representações e a qualidade dos filmes
dos anos 1970 que estrelavam atores negros, Ellen Holly,
do New York Times, escreveu em 1974: “um dos
problemas em ser negro e ter recursos limitados é que
raramente controlamos a nossa imagem. Nós raramente
aparecemos na mídia como dizemos que somos, mas
geralmente como os brancos dizem que somos”.11 As
condições econômicas sob as quais os filmes negros
eram feitos fizeram surgir o termo “blaxploitation” —
uma união entre os conceitos da palavra negro em inglês
(black) e “exploração”12 —, que é usado para definir os
filmes negros da década, fossem de terror ou não.
Blaxploitation descreve uma era de lançamentos de
filmes negros que frequentemente se inspiravam nas
ideologias do movimento Black Power enquanto
apresentavam temas de empoderamento,
autossuficiência (ainda que nem sempre pelos meios
legais) e tomada de consciência. Nos “filmes negros” de
terror, especialmente, monstros famosos ou brancos,
como Drácula ou o monstro de Frankenstein, foram
transformados de propósito em “agentes” do poder
negro.13 Os filmes blaxploitation geralmente tinham uma
mensagem contra o status quo, desafiando a exploração
“do Homem” ou “dos branquelos” em detrimento das
comunidades negras (por exemplo, importação de
drogas, círculos de prostituição e policiais corruptos),
embora raramente a crítica passasse de uma acusação
contra alguns indivíduos ruins.
A tentativa do blaxploitation de engajamento político
não passou incólume a críticas. Rhines explica:
MULHERES DURONAS
Ao longo das décadas, os papéis das mulheres se
tornaram mais centrais e inovadores no terror. Em filmes
não negros de terror, as mulheres lutaram de maneira
triunfante contra monstros (Laurie Strode em Halloween:
a noite do terror [1978]) e foram aterrorizadas pelo mal
(Pamela Voorhees em Sexta-feira 13 [1980]). Enquanto o
público já havia visto mulheres malvadas antes em forma
de vampiras, tentações, súcubos e rainhas vodu, a
heroína no terror estava apenas começando a fazer
incursões revolucionárias durante a década de 1970.
Carol Clover, em Men, Women and Chain Saws:
Gender in Modern Horror Film, teoriza acerca da forma e
função da heroína no terror, descrevendo-a como a
“Garota Final”. O apelido captura o sentido — ela é a
única que, no fim, não morre. Na verdade, a Garota Final
é a única sobrevivente — superando ao ataque do
monstro, e geralmente sendo a única (como Ripley em
Alien: o oitavo passageiro [1979]). Como Clover explica,
“ela encara a morte sozinha, [e] sozinha encontra a força
para enrolar o monstro por tempo suficiente para ser
resgatada (final A) ou matar o monstro sozinha (final
B)”.51 A Garota Final também é uma sobrevivente —
esperta, habilidosa e uma lutadora diante do mal.
Novamente, elabora Clover, os filmes da década de 1970
começaram a apresentar “Garotas Finais que não apenas
lutavam, mas faziam isso de maneira feroz e até mesmo
matavam o assassino sozinhas, sem a ajuda de
ninguém”.52
O que importa aqui, em parte, é a ausência de um
salvador masculino. Na falta de um salvador masculino, é
a mulher que assume e derrota o monstro. Como Clover
afirma, as qualidades mais importantes de uma Garota
Final são “a qualidade da luta e as qualidades que a
permitem sobreviver”.53 Em Halloween, por exemplo,
quando Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) está encurralada
em um closet pelo mortífero Michael, ela não chora e
entra em colapso, esperando a morte. Em vez disso, ela
entra em modo de luta, até mesmo improvisando uma
arma com um cabide (a única coisa por perto) para lutar
contra o mal. Da mesma forma, Ellen Ripley (Sigourney
Weaver) em Alien: o oitavo passageiro mostra sua
aguerrida capacidade de liderança quando a equipe se
depara com um monstro alienígena imbatível. Enquanto
um homem negro, Parker (Yaphet Kotto), quer atacar de
cara — “Você vai me deixar matar essa coisa, não vai?”
—, é Ripley quem entende que essa abordagem não
funcionaria, assumindo o controle ao gritar: “Cala a boca
e me deixe pensar!”. As Garotas Finais costumam ser
brancas. Quando sua luta com o monstro acaba, a vida
delas volta ao normal. Ripley dorme em paz depois de
ejetar o alien. A vida tranquila e suburbana de Laurie
Stode pode voltar ao normal.54
Contudo, os filmes de terror da década de 1970 com
mulheres negras lidavam com a Garota Final de maneiras
diferentes. As Garotas Finais brancas geralmente não
estavam disponíveis sexualmente e eram masculinizadas
em seus nomes (por exemplo, Ripley) e pelo uso de
armas (fálicas, como facas ou motosserras). Pelo
contrário, as mulheres negras eram altamente sexuais,
com a sedução servindo como uma das peças mais
importantes do seu arsenal. Assim como a Garota Final
branca, as mulheres negras encaram a morte. Contudo,
essas mulheres negras não estão lutando contra algum
bicho-papão; elas geralmente lutam contra o racismo e a
corrupção. Nesse quesito, não é possível dormir depois
que o “monstro” é derrotado, pois o monstro é codificado
amorfamente como “branquelo”, e a opressão dos
branquelos é persistente.
Sendo impossível derrotar o mal (os sistemas de
desigualdade) que as cerca, as mulheres negras em
filmes de terror podem ser descritas como “mulheres
duronas” resilientes. Elas são soldados em uma batalha
duradoura, na qual a vitória total é elusiva. A caminhada
triunfante da mulher negra em direção ao sol promete
levá-la não a uma vida de paz, mas de volta para o meio
da polícia corrupta, homens machistas e “o Homem” que
explora sua comunidade negra.
A Mulher Durona, diferente da Garota Final
(assexuada), geralmente luta não apenas por sua vida,
mas também pela sobrevivência dos homens. Por
exemplo, no filme blaxploitation não pertencente ao
terror chamado Foxy Brown (1974), a personagem Foxy
(Pam Grier) enfrenta o “Homem”, seduzindo seus
inimigos antes de matá-los, enquanto também se sujeita
a abusos físicos e estupro, tudo porque deseja vingar a
morte do namorado. O “filme negro” de terror com
zumbis A vingança dos mortos (1974) apresenta uma
motivação parecida para a sua Mulher Durona. A
personagem batizada provocativamente de “Sugar”
(Marki Bey) deseja vingar a morte de seu namorado
Langston, que foi assassinado por um chefe branco do
crime. Sugar usa sua bela aparência e sensualidade para
se aproximar de seus inimigos, já que não lhe é permitido
batalhar como as outras Garotas Finais. Ela não
abandona a sua sexualidade, nem tem um nome
“masculino” ou possui sua própria arma “masculina”,
tem lábios e quadris, mas nenhuma serra elétrica. Da
mesma forma, a Mulher Durona de Os gritos de Blácula
(1973), Lisa (Pam Grier), entra na luta para salvar não
um, mas dois homens — um deles do vampirismo que
percorre suas veias e o outro, um antigo amor, do ataque
de um vampiro.
O aclamado filme de arte Ganja & Hess (1973)
(vencedor do prêmio Escolha da Crítica no Festival de
Cannes),55 dirigido pelo diretor negro Bill Gunn,
apresenta a história de um homem atormentado e de
uma Mulher Durona malvada. O “filme negro” de terror é
centrado no dr. Hess Green (Duane Jones de A noite dos
mortos-vivos), um arqueólogo atraente e de sucesso. O
abastado Hess é “um homem elegante e sofisticado por
causa de suas roupas, seu Rolls Royce e uma grande
mansão, onde um empregado realiza todos os seus
desejos”.56 O status socioeconômico de Hess é
apropriado, já que a estratégia do diretor era fazer um
filme “contra estereótipos”, refletindo, dessa maneira,
“um desejo honesto de transcender os clichês
debilitantes dos filmes blaxploitation”.57 Assim, Hess foi
oferecido como a antítese das representações da
subclasse urbana e daqueles que recebiam lucros ilícitos
por meio de economias do submundo, como podia ser
visto em inúmeros filmes blaxploitation.
No filme, Hess é empregado pelo Instituto de
Arqueologia e tem um assistente, um negro mais velho,
George Meda (Gunn). Em um momento privado,
enquanto Meda está na recepção esperando para se
apresentar a Hess, ele passa o tempo apontando uma
pistola para o seu reflexo num espelho de parede. Esse é
o primeiro vislumbre que o público tem da insanidade de
Meda.
Hess convida Meda para acompanhá-lo até sua casa,
e, durante sua estadia por lá, ele revela um lado rude,
ofendendo o empertigado e educado Hess com piadas
vulgares. Meda então se esgueira para longe de Hess, faz
um nó de forca, sobe em uma árvore na propriedade e
ameaça se enforcar. Hess compreende que Meda é um
bêbado “neurótico”, uma combinação volátil de
instabilidade. Hess pede a Meda que não se mate na
propriedade dele, pois, argumenta o arqueólogo: “isso
vai dar às autoridades motivo suficiente para que
invadam a minha privacidade com todo tipo de
perguntas humilhantes. […] Eu sou a única pessoa de cor
no quarteirão […], e pode acreditar que a polícia vai me
levar para ser interrogado”.
Meda então ataca Hess, esfaqueando-o “em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo”. A arma que Meda acaba
usando é uma adaga do povo Myrthia, uma casta antiga
de bebedores de sangue da Nigéria, que é parte da
extensa coleção privada de objetos valiosos de Hess.
Tendo “assassinado” Hess, Meda comete suicídio.
Contudo, a infecção da lâmina faz Hess acordar morto-
vivo e com sede de sangue. Hess guarda o corpo de
Meda em um freezer no porão em vez de chamar a
polícia, evidenciando que até mesmo as elites negras,
não apenas prostitutas como em Monstro sem alma,
continuam a temer a polícia (branca).
Hess então sai à caça de sangue, viajando de sua
gigantesca propriedade até um gueto para se alimentar
dos pobres. O abastado Hess rouba sangue de uma
clínica de doação de sangue. Ele mata uma prostituta e o
cafetão dela por causa de sangue. Outra prostituta, que
cuida do bebê recém-nascido, tem um destino igual,
porém ele deixa o bebê abandonado e intocado,
chorando perto do corpo da mãe. Nesse quesito, Ganja &
Hess se tornou um filme emblemático entre as produções
dos anos 1970 que estavam “desafiando constantemente
a legitimidade do capitalismo, do domínio patriarcal […],
o monstro se tornou um símbolo da revolta na civilização
burguesa”.58
Logo, a esposa de Meda, Ganja (Marlene Clark), chega
em busca do marido, que já havia “desaparecido antes”
durante seus surtos de psicose. Como prometido pelo
nome de Ganja (uma gíria em inglês para a maconha),
Hess fica completamente viciado naquela mulher bela,
mas grosseira. Ganja então encontra o corpo do marido e
pouco depois se casa com Hess. Seus motivos são
simples: ela prefere se casar com um louco
extremamente rico do que ser a viúva de um pobre.
Hess revela o seu segredo para Ganja, transformando-
a com a adaga para que eles possam viver juntos para
“sempre”. Juntos, eles representam personalidades
viciantes — com seu desejo de sangue e indulgências
carnais. Eles trabalham juntos com frequência —
matando e transando, às vezes ao mesmo tempo — até
que Hess conclui que tal existência é insustentável.
Hess procura por uma cura, e a encontra. Ele precisa
aceitar Jesus como seu único salvador e então ficar
diante de uma cruz, com a sombra da crucifixo sobre o
coração. Somente então Hess pode morrer e, quem sabe,
ir para o céu. O filme termina com Hess indo à igreja
para se curar. Ele então volta para Ganja para morrer,
implorando-lhe que se junte a ele em uma morte
pacífica. Contudo, Hess morre sozinho.
Ganja prefere continuar infectada, uma súcubo sexy, e
continua sozinha, fingindo ser de alta classe e educada.
Ela fica na casa de Hess, com sua riqueza, enquanto tem
sua cota de amantes e vítimas. Ganja não apenas
sobrevive ao seu encontro com o monstro, mas escolhe
alegremente se tornar um. Ganja também é uma Mulher
Durona sexy e sexual, que encontra a vitória na morte
dos seus dois maridos e agora, completamente
independente (livre dos maridos e cheia de dinheiro),
pode realizar todo e qualquer desejo. Ela não é mais
amarrada ou aterrorizada; mas ela mesma aterroriza
(homens) alegremente. Ela não espera que um príncipe
em seu cavalo branco vá ao seu resgate; assim, Ganja
desenvolveu maneiras de assegurar sua própria
sobrevivência e ter sucesso.
Ganja & Hess foi, inicialmente, “suprimido” pelos seus
produtores porque o filme se distanciava muito do
blaxploitation que havia se tornado tão popular naquela
década. “Os produtores”, escrevem Diawara e Klotman,
“queriam um filme para explorar o público negro — uma
versão negra dos filmes de vampiros brancos. Contudo,
eles se afastaram quando Gunn foi além do gênero
vampiresco para criar um produto original”.59
PAM GRIER: EXPLORANDO A MULHER
DURONA
Pam Grier se tornou um ícone da era blaxploitation,
estrelando em sete filmes só para a AIP.60 Ela se tornou,
como Dunn descreve em “Bad Bitches” and Sassy
Supermamas, uma musa da AIP e do cinema negro, o que
ajudou a “estabelecer a imagem de deusa sexual de
Grier”.61 Contudo, Grier não foi lançada pela AIP como
uma deusa sexual no estilo de atrizes brancas como Ava
Gardner, Elizabeth Taylor, Hedy Lamarr ou Lauren Bacall.
Em vez disso, ela foi confinada ao estereótipo da negra
gostosa — uma “imagem dominante”, como Hill Collins
descreve, da sexualidade feminina negra, em que as
mulheres negras se tornam um símbolo da sexualidade
feminina depravada, enquanto a heterossexualidade
feminina branca se torna o “culto” da verdadeira
feminilidade.62 Tais imagens relegavam as mulheres
negras à “categoria de mulheres sexualmente
agressivas”, o que logo justifica e abre espaço para
abusos sexuais.63 Por exemplo, em Foxy Brown (1974) a
personagem de Grier é drogada e sofre um estupro
coletivo (por racistas brancos). O terrível encontro é
apresentado como um desafio necessário, pois permite
que Foxy se vingue daqueles que maltrataram seu
namorado. Em Coffy: em busca de vingança (1973),
Grier, interpretando Coffy, se oferece para se disfarçar de
prostituta — o que requer que seu cafetão faça um
“teste” com ela.
FIGURA 5.3 HESS E GANJA EM GANJA & HESS.
Kelly/Jordan Ent./Photofest
A marca de Grier era sua nudez parcial. A câmera se
detia em seus seios redondos e em suas pernas longas
enquanto ela passava por todo tipo de exploração sexual.
Dunn escreve:
CONCLUSÃO
Embora muitos dos filmes de terror dos anos 1970
tivessem sido apelativos de várias maneiras — em
orçamento, em qualidade, em seu tratamento do corpo
feminino e em sua representação dos desfavorecidos —,
eles não deveriam ser prontamente deixados de lado
como filmes esvaziados de um discurso relevante. Os
“filmes negros” de terror e os filmes de terror “com
negros” da década deixaram o público com uma
indicação clara da função e do papel de raça, gênero,
sexualidade, cultura e classe na cultura popular, e de que
maneira essas identidades podem, de forma certa ou
errada, ser refletidas no mundo social. Nos filmes, as
lutas contra essas opressões, e temas de levante
(intra)racial diante de tais opressões, dialogavam com a
retórica da não violência e integração, assim como
resistência armada e autoconfiança negra, se não
supremacia. Os filmes se esforçaram para revelar ao
público que, para os negros, o horror (ou o monstro)
estava localizado dentro da branquitude — o branquelo,
o sistema, o Homem. Diferente dos filmes de terror dos
grandes estúdios, em que Garotas Finais enfrentam um
mal individual (como um alienígena com uma sede
mordaz de sangue) e lutam para derrotá-lo, os filmes
negros revelaram que o mal que circundava a negritude
era duradouro.
Enquanto “o público negro sempre foi uma parte
substancial do público de terror”, esses filmes dos anos
1970, que saudavam especificamente o público negro,
encorajaram os negros a enxergarem para além do
monstro, identificando-se com as mensagens de
igualdade negra por meio da união metafórica (exércitos
de zumbis) ou por meio de um projétil metafórico
(poções vodu ou o pênis).90 Com estrelas negras nesses
papéis, ainda que apelativos em determinados
momentos, sua presença e performance superaram o
tratamento que negros recebiam em filmes de terror
antigos, em que eram retratados como figuras
assustadas, que tremiam de medo e arregalavam os
olhos. Os negros, nessa época, eram orgulhosos.
O período nem sempre foi puramente reacionário em
relação aos tipos de racismo e classismo que os negros
enfrentavam na época. Ganja & Hess, por exemplo,
excluiu amplamente a branquitude numa tentativa de
privilegiar histórias saídas da negritude. Aqui, não
haviam “figuras de papelão” e personagens
“simplificados” que faziam sua reputação “ao matar
vilões brancos em tela”.91 Filmes negros de terror que se
esforçavam para fugir dos tropos do blaxploitation
tradicional encontraram uma resposta morna entre
alguns frequentadores de cinema, como explica o
produtor Rob Cohen: “Eles querem um tubarão atacando
uma praia de veraneio ou tramoias nível Um Golpe de
Mestre. Se existe uma coisa que a audiência não quer é
uma mensagem. E se há algo além disso, esse algo é
uma mensagem negra”.92 Em resumo, os filmes da era
blaxploitation enfrentavam um dilema multifacetado de
ser cultural e politicamente negro em demasia, de não
ser negro o suficiente ou de não ser puro entretenimento.
Os filmes blaxploitation de terror mostravam
personagens bem homogêneos e limitados — em classe,
gênero, políticas e interações com os brancos. O jornal
Washington Post previu que a tendência cinematográfica
se voltaria para “negros interagindo entre eles mesmos
ou com brancos”.93 Além disso, o jornal expressava
otimismo em relação ao tratamento representacional dos
negros, que eram “mostrados como humanos completos
— bons e maus, ricos e pobres, espertos e burros”.94
Qualquer previsão de interação mais substantiva para a
década seguinte não se concretizou. Na década de 1980,
os negros foram associados aos temíveis espaços
urbanos, fazendo com que os brancos fugissem para os
subúrbios. Os negros e seus filmes de terror foram
colocados na geladeira à medida que o gênero voltava
suas atenções mais exclusivamente para os medos da
classe média branca.
HORROR
NOIRE
1980
NÓS SEMPRE MORREMOS PRIMEIRO
— INVISIBILIDADE, SEGREGAÇÃO
RACIAL ECONÔMICA E O SACRIFÍCIO
VOLUNTÁRIO
SALVADORES NEGROS E
SACRIFÍCIO VOLUNTÁRIO
Em um grande contraste com os temas nacionalistas e
revolucionários dos filmes de terror da década de 1970,
nos anos 1980, se os negros apareciam para contribuir
com o gênero, sua participação era amplamente vista em
filmes de terror “com negros”, sendo marcada por um
apoio afirmativo aos brancos. O pouco que os negros
ofereciam ao terror não era apenas desalentador, mas
poderia ser descrito como uma nova forma de exploração
negra. Tony Williams, em seu ensaio “Trying to Survive on
the Darker Side”, descreve o pessimismo geral em
relação ao conteúdo da década:
CONCLUSÃO
Os monstros dos anos 1980 geralmente desafiavam os
modelos estabelecidos. Eles não eram racializados como
negros, como em King Kong ou O monstro da lagoa
negra. Ao contrário, os monstros dos anos 1980 eram
brancos, masculinos e suburbanos. Dessa forma, em
filmes brancos e suburbanos de terror, a “raça [se
tornou] uma ausência estruturante nos arredores do
terror contemporâneo, em que monstros, vítimas e heróis
são predominantemente brancos, uma categoria não
marcada racialmente”.62 Os monstros dos anos 1980
tinham acesso a recursos como fantasias de Papai Noel
ou equipamentos de mineração, dirigiam carros e
fabricavam as suas próprias armas. Esses “monstros
brancos cujas faces emergem de um agrupamento
aleatório de anuários escolares, carteiras de motoristas e
espelhos de banheiros” podiam passar despercebidos,
pois a maldade deles não era imediatamente
identificável por causa da ausência de codificação de
cor.63 Se eles não chamassem suas vítimas, entrando nos
sonhos delas, por exemplo, os monstros poderiam ser
amplamente invisíveis, porque se encaixavam muito
bem.
Os negros não tinham tanta sorte. Eles ficavam presos
em ilhas ou eram deixados para trás em cidades
moribundas. Personagens negros só enxergavam algum
tipo de reparação imagética quando se tornavam o
símbolo de uma devoção inter-racial unilateral. Embora
não recebessem nenhum gesto de bondade por parte
dos brancos, eles queriam ajudar, e sua recompensa era
encontrar a morte enquanto contribuíam com a
continuidade da branquitude. Obviamente, isso era o
suficiente para que eles fossem para o céu, e não para o
inferno. Esse tipo de sacrifício voluntário teria que servir
para os negros (ou para os negros supimpas mágicos e
místicos, como o cineasta Spike Lee os apelidou),64 já
que nem a própria magia podia ser usada para sua
salvação.
Alguns acadêmicos refletiram que o terror desse
período parecia entender “o Outro como um bode
expiatório”, recusando-se a “ver o monstro como uma
aberração que precisa ser abatida para assegurar a
normalidade da burguesia”.65 No entanto, tal conclusão
não pode ser alcançada no contexto de análise da
presença dos negros no terror ou da ausência de um
“terror negro”. James Snead argumenta que a omissão,
ou exclusão, é a forma mais comum de estereotipação,
mas também é a mais difícil de identificar porque sua
manifestação é a própria ausência.66 Na verdade, o Outro
Nativo Americano se tornou o bode expiatório do mal, e a
década como um todo foi um comentário sobre como
reassegurar a normalidade da burguesia branca. Uma
maneira, de fato, era ficar longe de cemitérios e das
áreas urbanas centrais.
Se Michael Jackson não tivesse inserido uma tirada
autodepreciativa acerca da sua identidade em Thriller, a
heterossexualidade masculina não teria sido examinada
e seria considerada a norma. As mulheres, como a sexy e
silenciosa Katrina, que deveriam ser vistas, mas não
ouvidas, é que eram consideradas “um problema, uma
fonte de ansiedade, de questionamentos obsessivos”, ao
contrário dos homens.67
Contudo, enquanto as comunidades brancas e negras
ocupavam uma existência “onde nunca haveriam de se
encontrar” nos anos 1980, as coisas começaram a mudar
dramaticamente na década seguinte — os anos 1990 —,
quando a condição do mundo urbano tomaria o palco
central. Os negros que foram deixados para trás
finalmente seriam inseridos em histórias sérias de
redenção moral — com mulheres negras, em alguns
casos, atuando como salvadoras vocais e poderosas.
* Em tradução livre: A escuridão cai sobre a terra/ A meia-noite se
aproxima/Criaturas rastejam à procura de sangue/ Para aterrorizar a
vizinhança [NT]
HORROR
NOIRE
1990
ESTAMOS DE VOLTA! A VINGANÇA E
O TERRENO URBANO
CEDENDO À TENTAÇÃO
Os anos 1990 começaram com Def by Temptation (1990),
um “filme negro” sério e independente que lembra muito
o trabalho de Spencer Williams em O sangue de Jesus
(1941). Distribuído pela Troma Entertainment, uma
empresa infame por causa de seu extenso catálogo de
filmes bregas e apelativos, além de filmes de terror como
O vingador tóxico (1984) e A camisinha assassina (1996),
Temptation acabou se destacando por sua qualidade e foi
saudado pelo presidente da Troma, Lloyd Kaufman, como
o “melhor” filme do catálogo da empresa.4 Assim como O
sangue, Temptation era limitado pelo orçamento, mas,
assim como O sangue, Temptation compensava as
dificuldades por meio da imaginação e de sequências
altamente estilizadas.
Temptation foi escrito, dirigido e produzido pelo ator
negro James Bond III, diretor estreante que também atua
no filme. O filme apresenta um talentoso elenco negro,
com Samuel L. Jackson, Kadeem Hardison, Bill Nunn e
Bond (todos tinham aparecido juntos no filme Lute pela
coisa certa [1988], de Spike Lee), e conta com uma
pequena participação da cantora/atriz de teatro e TV
Melba Moore e o saxofonista de jazz Najee. O filme foi o
primeiro trabalho de produção do renomado produtor de
televisão e cinema, autor, ator e diretor Nelson George.
Além disso, o premiado diretor de fotografia e diretor
Ernest K. Dickerson (Dexter, temporadas 2008 e 2009;
Dia dos mortos, 1985; Malcolm X, 1992; A escuta,
temporadas 2004-2006) é o diretor de fotografia do
filme.
O filme se concentra em Joel (Bond III), um seminarista
de vinte anos que está visitando o irmão mais velho “K”
(Kadeem Hardison), um ator que mora no Brooklyn. É a
primeira viagem de Joel para Nova York, que vive em
uma cidadezinha na Carolina do Norte. Ele deixa para
trás a sua “Vovó” (Minnie Gentry), que o criou após a
morte dos pais, falecidos em um acidente de carro. A
história gira em torno da busca de Joel, que deseja ter
certeza a respeito de sua decisão de seguir os passos do
pai e se tornar pastor. O Brooklyn, como uma grande
cidade do norte, é apresentado como o lar de influências
corruptoras — escapadas sexuais, infidelidade, bebidas,
e em uma cena dramática até mesmo a TV se mostra
literalmente mortal. Ao contrário, a cidadezinha do sul é
mostrada como um lugar que irradia retidão. O sul é “lá
em casa”, a utopia negra fantástica da boa criação,
piedade e história. Os sulistas se encontram em igrejas, e
não em bares. As mulheres sulistas usam cruzes, e não
maquiagem pesada. Temptation apresenta aquilo que
Reid chama de “dualismo moralista regional”, em que a
cultura sulista é associada às responsividades decentes e
honestas, em oposição direta ao norte.5
No filme, um espírito demoníaco chamado Temptation
(Cynthia Bond) é, de acordo com o enredo, uma “coisa”
que usa da sexualidade para tornar a moralidade sua
refém. O espírito, ao longo dos séculos, ganhou forma
carnal e passou a seduzir os pecadores, considerando
uma vitória particular quando um verdadeiro inocente —
como um pastor temente a Deus — sucumbe à tentação.
Temptation assume uma forma feminina no filme e, de
modo similar a Abby (1974), preda os homens que
apanha, ou que a apanham, para matá-los durante o
sexo. As vítimas da viúva negra representam pecados
bem específicos e significativos, e assim temos uma
visão social bem conservadora. Há um homem que
encoraja uma de suas namoradas a fazer um aborto. E
também há um que tira a sua aliança antes de se
relacionar com Temptation. Aqui, depois do sexo,
Temptation provoca o homem: “Querido, eu te passei
uma coisa que não tem cura. Vai crescer e crescer até te
consumir”. A resposta do homem sobre a aparência
saudável de Temptation — “Você não parece ter nada” —
configura um sermão óbvio a respeito do sexo sem
proteção. O homem, presumidamente infectado com
uma doença sexualmente transmissível, começa a se
deteriorar imediatamente, tornando o seu pecado visível
para a esposa, que, por causa da infidelidade do marido,
atira nele. Contudo, o filme reserva sua violência mais
gráfica (punição) a um homem gay. Ele é atraído por
Temptation, e ela o encoraja a experimentá-la só uma
vez porque “uma mulher é muito melhor”. No quarto de
Temptation, à medida que o homem se prepara para o
que acredita ser sexo consensual, ela parece mais
maliciosa do que sedutora, como foi com suas outras
vítimas masculinas. Quando o homem pergunta se fez
alguma coisa errada, ela responde “sim” de maneira
desdenhosa antes de estuprá-lo violentamente. Aqui,
Temptation se torna uma “coisa”, inserindo um objeto
não mostrado, ou parte do corpo, no reto do homem,
enquanto ele pergunta “De onde você tirou isso?” antes
de implorar a Temptation que pare e retire aquilo. Ele
recebe toda a fúria dela, com os rosnados de Temptation
abafando os gritos do homem enquanto ela o penetra e o
retalha, para então sair do quarto ensopada com o
sangue dele. A cena mais feroz do filme é uma
representação alarmante da violência homofóbica,
alinhando-se com — e aprovando de maneira velada — a
violência real que a comunidade LGBTQI+ experimenta. Por
exemplo, um relatório de 1989, divulgado um ano antes
do lançamento Temptation, revelou que 5% dos gays e
10% das lésbicas entrevistados afirmaram ter sido
vítimas de algum tipo de violência homofóbica, enquanto
47% de todos os entrevistados afirmaram já ter sido
vítimas de algum tipo de discriminação baseada em sua
orientação sexual.6
Temptation mira em Joel, que é mostrado como uma
figura claramente destoante em Nova York, tanto nas
roupas quanto em seus maneirismos. K, que é “afiado
como uma lâmina”, usa as roupas urbanas da moda —
moletons caros e tênis. Sua fala é moderna e pincelada
com gírias e palavrões. Contudo, Joel chega usando
roupas cáqui, uma camisa abotoada e sapatos marrons
“feios”. Ele tem a fala refinada e não conhece
coloquialismos, respondendo “Fornicar é pecado” quando
K pergunta se ele “cairia de boca” se conhecesse uma
mulher atraente. Joel, da “cidadezinha”, onde ele
provavelmente “espantava mosquitos, tirava leite de
vaca e merdas do tipo”, precisa ter uma aula sobre como
se vestir e sobre o dialeto urbano.7 K começa a suspeitar
de Temptation e, com a ajuda de um agente federal à
paisana, Dougy (Bill Nunn), que também investiga crimes
paranormais, tenta matar Temptation.
FIGURA 7.1 JOEL E K EM DEF BY TEMPTATION.
Troma Films/Photofest
A história de Temptation se volta para o heroísmo de
uma mulher. K e Dougy são mortos, deixando Joel
vulnerável. De repente, Vovó aparece em cena para
salvar o neto. Armada com a bíblia de Joel (que ele
deixou em casa) e uma cruz de madeira, Vovó chuta a
porta de Temptation, pronta para travar uma batalha
espiritual ao apoiar Joel com algumas palavras de
pregação. Juntos, Vovó e Joel lutam contra Temptation.
Vovó personifica certo tipo de teologia mulherista — uma
preocupação com a comunidade negra e sua salvação
como um todo — enquanto mostra a “resiliência das
famílias centradas em uma mulher e seu desejo de
cuidar das crianças negras”.8 Temptation celebra e se
agarra a uma noção de uma avó ou parente que assume
tal posição, ainda que essa conexão comunitária seja
cada vez mais elusiva.
A representação desse tipo de figura materna
evidencia um rompimento importante com os filmes não
negros de terror. A “mãe como figura devoradora e
venenosa” é estranha ao “terror negro”, onde as
mulheres negras, quando mostradas, são reverenciadas.9
No “terror negro”, a narrativa central geralmente não se
foca em mães negras produzindo “sementes do mal”, ou
“psicopatas”, e nem deforma a religião com crueldade
abusiva para criar uma criança sobrenatural e
monstruosa (como em Carrie, a estranha [1976]).
No clímax do filme Joel escolhe Deus, proclamando:
“Demônio, eu te esconjuro!”. Graças ao poder da cruz
que Vovó trouxe com ela, Joel destrói Temptation ao
erguer o objeto diante dela, fazendo-a revelar sua
verdadeira forma demoníaca e grotesca antes de
explodir. Joel e Vovó, então, representam a família e a fé
restauradas. O filme termina com um aviso de perigo,
pois K e Dougy foram ressuscitados como criaturas do
mal e andam atraindo mulheres. Contudo, de volta ao
caminho direito, Joel afirma ao público que está pronto
para lutar pelas coisas certas. Dessa forma, o filme
afirma, “a única resposta para o sofrimento e a
decadência urbana é Jesus”.10
Temptation foi saudado pelo jornal Washington Post
como um filme “anos luz à frente de Blácula”, tendo
“profundidade e detalhamento emocional que
geralmente faltam em filmes do tipo”, e evitando alguns
do estereótipos geralmente oferecidos pelo “sistema de
filmes brancos”.11 O filme foi citado como uma produção
de baixo orçamento. Contudo, se o filme for avaliado fora
dos padrões hollywoodianos (como fez o presidente da
Troma), ele não pode ser simplesmente ignorado como
um filme B. Em vez disso, como revela a crítica do Post,
trata-se de um filme negro com convenções narrativas
únicas, que não deveriam ser “ignoradas como defeitos
artísticos ou técnicos”.12 Pelo contrário, o filme contribui
para a tradição cinematográfica negra que não trabalha
para replicar as sensibilidades ou inclinações estéticas,
ou, no caso do terror, a obsessão pelos efeitos especiais,
de Hollywood.
Temptation se juntou a outros dois filmes negros
dramáticos e misteriosos, Não durma nervoso (1990) e
Amores divididos (1997), logo, marcando os anos 1990
como uma década focada na cultura e famílias negras,
especialmente aquelas fora do gueto. Nervoso, dirigido
pelo aclamado diretor negro Charles Burnett, é inspirado
no terror e se concentra em um vigarista malvado, Harry
(Danny Glover), que entrou na casa de uma família
temente a Deus num bairro negro de classe média em
Los Angeles. Harry traz consigo uma gama de rituais
supersticiosos (jogar sal para afastar o azar) e folclóricos
(medicina popular, encantamentos) da sua “casa” — o
sul — e que aparentemente não se enquadram mais em
um lar cristão nortenho, criando, dessa forma, “tensões
entre os valores latentes do sul rural e aqueles
expressados pela cultura negra urbana e
13
contemporânea”. Depois que Harry se torna vítima de
uma das suas superstições e morre, a família se vê livre
do seu mal, evitando que matem uns aos outros. O
igualmente enigmático Amores divididos (1997), dirigido
pela premiada diretora negra Kasi Lemmons, coloca a
religião do povo negro como peça central de sua
narrativa. O filme, situado em uma cidadezinha da
Louisiana nos anos 1960, conta a história da família
Baptiste, descendente de um escravagista branco e uma
escravizada negra. A família lida com uma série de
traumas. A jovem Eve (Jurnee Smollett) compõe esse
núcleo familiar, e, assim como sua tia Mozelle (Debbie
Morgan), ela possui o dom da “visão”. Sendo uma
“conselheira psíquica”, Mozelle reza para Jesus antes de
“ver” algo para seus clientes. Contudo, não se trata de
vodu, e Mozelle nega saber como praticar vodu, isto é,
até que uma mulher desesperada por ajuda não deixa
outra opção para Mozelle, e ela acaba precisando usar o
seu poder. Da mesma forma, há uma bruxa, Elzora
(Diahann Carroll), cujo poder é ambíguo, mas alimentado
por sistemas tradicionais de crença e conhecimentos de
antigas práticas religiosas negras. Amores se torna um
“bom filme negro” à medida que demonstra
“conhecimento íntimo e especializado da experiência
negra”.14
O TOQUE DE MIDAS
O “terror negro” ganhou proporções épicas quando, em
1998, o gênero foi tocado por Oprah Winfrey e seu filme
Bem-amada. Um dos poucos “filmes negros” de terror
com uma origem literária negra, Bem-amada foi baseado
em um romance de Toni Morrison, vencedora do Prêmio
Nobel e do Prêmio Pulitzer. O roteiro do filme foi escrito
pela atriz negra Akosua Busia, e coproduzido pela Harpo
Films, de Winfrey. O filme apresentou um elenco
predominantemente negro, premiado e cheio de estrelas,
liderado pela própria Oprah. A direção ficou por conta de
Jonathan Demme, um diretor branco que recebeu um
Oscar pelo filme de terror O silêncio dos inocentes
(1991). Juntos, Um vampiro no Brooklyn e Bem-amada
serviram para lembrar uma das maiores contribuições
que um filme pode fazer para as discussões a respeito da
negritude, ainda que não seja totalmente feito por
negros. Os dois filmes têm diretores brancos, mas são
“filmes negros” de terror pela atenção que dedicam à
negritude. Como observa Yearwood, não existem regras
definitivas sobre o que é um filme negro, apenas o fato
de que o público negro é capaz de enxergar a
diferença.29 Em Bem-amada, a fantasma cruel acaba se
revelando uma vítima. O assassino acaba se mostrando
um protetor. O pedófilo acaba se mostrando uma vítima
da fantasma e o amante da assassina. E o verdadeiro
mal acaba por ser a escravidão. Scott escreve: “a
narrativa da história (com suas assombrações, mortos-
vivos, ar de mistério, violência nauseante e exorcismos)
é horrenda o bastante para substanciar sua conexão com
o gênero do terror”.30 Tudo acontece em uma casa em
que as coisas (até mesmo um cão) voam, batem e se
quebram. Mas, como Anissa J. Wardi nota, Bem-amada
não tinha a intenção de ser um Poltergeist do século XIX.
Na verdade, a tradução do romance para a tela grande,
nas mãos de um diretor de filmes de terror, “reduziu a
complexidade do texto, criando nada além de um
espetáculo”.31
O filme começa em 1865 — o ano em que a
escravidão é abolida por meio da 13a emenda incluída na
Constituição dos Estados Unidos —, na modesta casa de
Sethe (Oprah Winfrey), localizada nos arredores de
Cincinnati, Ohio. Na casa vivem Sethe, sua sogra, Baby
Suggs/Vovó Baby (Beah Richards), e uma velha acamada,
que era a dona da casa e a entregou para Sethe. Sethe
tem três filhos, uma menina, Denver (Kimberly Elise), e
dois meninos adolescentes, Howard (Emil Pinnock) e
Buglar (Calen Johnson). Uma fantasma está destruindo
tudo em que consegue encostar. Howard e Buglar fogem
de casa e nunca voltam. O filme dá um salto de oito
anos, com Baby Suggs já morta e Denver já uma jovem
mulher. Um velho amigo, Paul D (Danny Glover) chega
para se reconectar com Sethe e os dois se tornam
amantes. Os dois compartilham uma história trágica de
escravidão numa plantação no Kentucky chamada Doce
Lar, guardada por um dono sádico conhecido como
Professor (Jude Ciccolella).
Em resposta à chegada de Paul D (que imediatamente
compreende que a casa é assombrada), a aparição
invisível ganha uma forma humana física, surgindo como
Amada (Thandi Newton) para competir pela atenção e
afeição de Sethe. Amada é uma criança no corpo de uma
mulher jovem. Amada mal consegue falar, preferindo
grunhir até ser ensinada como balbuciar algumas
palavras. Ela baba, sacode a cabeça e se desequilibra
nas pernas que acabou de descobrir. Sua novidade é
marcada pela pele macia e delicada de seus pés (nunca
usados). Ela não conhece a decência. Quanto maior o
tempo de permanência de Amada, mais Sethe
enlouquece com sua preocupação alucinada em relação
a Amada, e nem Paul D nem sua filha, Denver,
conseguem ajudá-la. A fantasma é igualmente obcecada
por Sethe e se esforça para aliená-la das pessoas que a
amam. Amada atenta Paul D, e ele sucumbe, transando
com ela. Pouco depois, Paul D sai da casa de Sethe. À
medida que Amada consome todo o amor e os recursos
de Sethe, a jovem Denver precisa se virar para sustentar
a si mesma e a família, e então sai de casa para arrumar
emprego na cidade.
A história é centrada na identidade de Amada e nas
razões pelas quais ela assombra Sethe. A conexão delas
é revelada em um flashback. Em sua época de
escravizada e com uma gravidez muito adiantada, Sethe
foi estuprada pelo escravizador e seus filhos. Ela e o
marido, Halle (Hill Harper), planejam fugir de Doce Lar, e
pensam na casa da mãe dele, Baby Suggs, uma velha
escravizada liberta. Eles mandam as crianças na frente,
mas Halle não consegue fugir, deixando Sethe para
encontrar a liberdade sozinha. Pouco depois de chegar
na casa de Baby Suggs, os caçadores de escravos vão
até lá para reclamar Sethe e os filhos dela. Não
suportando vê-los a caminho de tamanha brutalidade,
ela decide matar as crianças. Sethe consegue cortar a
garganta do bebê, Amada, antes de ser impedida. Ao vê-
la com a criança e uma serra velha, os caçadores a
abandonam, acreditando que Sethe é louca demais para
ser levada de volta. Amada, então, é a manifestação
física de várias crueldades: a primeira é o ato de Sethe, o
motivo pelo qual Amada volta para representar a culpa
de Sethe; a segunda é a crueldade da escravidão que
levou ao infanticídio em primeiro lugar. Bem-amada nos
pergunta quem deve carregar a responsabilidade e a
memória dessa instituição cruel.
Ellen Scott, em seu ensaio The Horrors of
Remembrance, observa que o filme recupera a narrativa
de uma dor emocional, física e política, que é
efetivamente apagada em grande parte dos demais
tratamentos populares acerca da escravidão:
— Pinedo (112-113)35
MEIO-HUMANO, MEIO-VAMPIRO
Blade: o caçador de vampiros (1998), um filme de terror
“com negros” baseado no personagem da Marvel Comics
de mesmo nome, assim como Um vampiro no Brooklyn,
faz uso do estereotipo do mulato trágico, mas triplica o
problema, apresentando uma figura meio-humana, meio-
vampira e não exatamente negra. O vampiro negro,
Blade (Wesley Snipes), é atormentado e vingativo,
buscando retaliação contra a raça de monstros que o
criou. O filme mostra, com o uso de flashbacks, que a
mãe de Blade, Vanessa (Sanaa Lathan), foi atacada e
mordida por um vampiro quando estava grávida de
Blade. Apesar de não ter sido mordido diretamente, ele
foi infectado com vampirismo ainda no útero. Ele saiu de
sua mãe quando ela estava morrendo, fazendo dele um
espécime único, meio-humano, meio-vampiro. Ele é um
“caminhante diurno”, imune ao poder destrutivo do sol, e
não é afetado pelo alho. Blade também é extremamente
forte, cheio de ódio pelos vampiros e se vê numa guerra
constante com sua sede por sangue.
No filme, já no presente, cerca de trinta anos depois,
no que parece ser uma cena muito dolorosa para Blade,
ele descobre que sua vida de órfão — ao que tudo indica,
Vanessa seria uma mãe solo — era uma mentira.
Vanessa não morreu completamente durante o
nascimento dele e retornou como vampira, escolhendo
seguir a vida junto com os vampiros, e não com o filho.
Para piorar, o homem com quem ela forma par, Deacon
Frost (Stephen Dorff), não é apenas (muito) branco e o
principal adversário de Blade, mas também é revelado
por Frost, de maneira cruel e zombeteira, o segredo por
trás da identidade de Blade — Frost é, em essência, seu
pai branco, pois foi ele quem o transformou em vampiro,
substituindo o pai negro e desconhecido de Blade.
Embora Blade seja um adulto, o filme pede que o
público lamente por essa criança órfã de mãe, uma
criança não natural, que se torna uma vítima por causa
da ausência de amor e autoridade parental, cujos
“poderes especiais são justificadamente provocados”, ao
mesmo tempo que sua raiva se faz entendida.46 De
assassino Blade rapidamente se transforma em anti-herói
e então em um super-herói, quando sua história se torna
parte de sua motivação. Vanessa, não Blade, é
representada como aquela que é verdadeiramente
impura e monstruosa. Uma mulher bonita que nunca
envelhece e que aparenta ter a idade de Blade, ela o
acaricia de forma sedutora, os lábios dela roçando nos
dele enquanto o prepara para a morte. Ela, novamente,
sacrifica o filho para Frost. Quando Blade sobrevive e
mata a própria mãe, ela sofre por sua monstruosidade e
pelas tragédias raciais do filho.
Ao longo do filme, surge a rara representação da mãe
negra tóxica e destrutiva. No entanto, Blade encontra em
Whistler (Kris Kristofferson) um pai branco substituto,
com quem luta lado a lado em uma guerra contra os
vampiros. Talvez o relacionamento de Blade e Whistler
“sugira uma relação servil ao paternalismo branco”, mas
o filme não explora essa conexão da forma como o
gênero fez no passado, por exemplo, com o estereotipo
do ajudante/servo leal.47 Em vez disso, Blade mostra
uma relação complexa de amizade e amor, primeiro
nascida da tragédia e de objetivos comuns de vingança
(a família de Whistler foi morta por vampiros), e, então,
evoluindo durante os anos da vida isolada que eles
compartilharam.
Blade acaba não explorando os anos de parceria
profissional e doméstica dos homens, optando por colorir
o filme com estereótipos de hipermasculinidade e
hipersexualidade tradicionais. Por exemplo, Blade, à
beira da morte, é trazido de volta pela dra. Karen Jenson
(N’Bushe Wright) — uma hematologista negra que deixa
Blade beber seu sangue para que sobreviva. A cena em
que Blade chupa o sangue dela é uma exibição violenta e
extraordinariamente erótica, já que Blade se sacia e,
quando satisfeito, solta um grito orgástico que reverbera.
Blade, assim como Max de Um vampiro no Brooklyn,
não tem nenhum encontro desse tipo com um homem.
Max transforma homens ao gotejar um pouco de sangue
na língua deles, com o filme dizendo explicitamente que
ele “não precisa fazer aquela merda que o Blácula faz”.
Apesar de Max transformar suas vítimas em vampiros,
ele não o faz no estilo de Blácula, mordendo o pescoço
delas ou outra parte do corpo. Max reserva esse tipo de
encontro apenas para as mulheres, assim como Blade.
Blade e Max servem para lembrar ao público da “lascívia,
do desejo sexual feminino”, assim como a habilidade
deles — da qual, supostamente, apenas homens são
capazes — de satisfazer esse desejo enquanto unem
“sexualidade e apocalipse”.48 No entanto, esse tipo de
junção não fica confinada aos vampiros, afinal, monstros
masculinos (como Candyman) são masculinizados
quando prometem experiências sexuais tão fora deste
mundo às mulheres que elas morrem — a mais
derradeira fantasia de sadomasoquismo e sexo
brutal/estupro.
No final, Blade, assim como Spawn, decide manter um
olhar atento sobre a raça humana, mantendo-a a salvo
dos monstros. Juntos, eles são a “super-polícia”; o tipo de
reguladores sociais que se esperaria encontrar
patrulhando ambientes hostis. Demônios infernais e
vampiros não são desafios para qualquer tipo de
salvador. Eles são um trabalho para monstros dispostos a
policiar suas próprias espécies. Os dois super-heróis
deram um novo significado para a violência cruel de
negros contra negros. No caso de Blade, a representação
foi extraordinariamente popular. O filme ficou em
primeiro lugar em sua semana de lançamento,
angariando 17.073.856 milhões de dólares e lucrando
mais de 70 milhões com exibições caseiras. Esse filme
daria origem a mais dois outros.49
CONCLUSÃO
CAPTURANDO ALGUNS ZZZZZS —
OS NEGROZ E O TERROR NO SÉCULO
XXI
CONTOS DO HIP-HOP
Os anos 1980 marcaram uma explosão no
desenvolvimento do rap. Os estilos de rap se tornavam
cada vez mais diversos, desde o som fácil do grupo
Sugar Hill Gang, influenciado pela música disco, e as
letras machistas de LL Cool J, até os pronunciamentos
políticos de Grandmaster Flash and The Furious Five e os
sermões da bandidagem de Ice-T. Em meio a essa
enxurrada de atividade musical, o terror está presente, e
as duas formas de cultura popular se sincronizam
facilmente. Em 1988, o duo de rap DJ Jazzy Jeff (Jeff
Townes) e Fresh Prince (Will Smith) lançou o álbum He’s
the DJ, I’m the Rapper, com a música “Nightmare on My
Street”. O lançamento do álbum coincidiu com o
lançamento de A hora do pesadelo 4: o mestre dos
sonhos, com a música de Fresh Prince servindo como um
tributo não oficial à popularidade da franquia de filmes:10
I walked in the house, the Big Bad Fresh Prince/
But Freddy killed all that noise real quick/ He
grabbed me by my neck and said: “Here’s what
we’ll do. We gotta lotta work here, me and you.
The souls of your friends you and I will claim.
You’ve got the body and I’ve got the brain.”*
AS DAMAS PRIMEIRO
“Filmes negros” de terror com frequência trazem consigo
mensagens sociopolíticas poderosas para comunidades
negras. Street Tales of Terror (2004) é uma antologia
premiada de terror que segue a linha de Contos
macabros (1995) ou Snoop Dogg’s Hood of Horror (1995),
porém sem o humor.31 Ele apresenta uma trilogia de
contos morais centrados em mulheres, como “A clínica”,
em que Jalissa (Nicole Ford) está contemplando o seu
segundo aborto. Ela é aterrorizada por uma criatura
sangrenta em seus sonhos, que, obviamente, acaba se
revelando como o seu primeiro feto abortado (na idade
que teria se estivesse vivo). Aqui, o filme termina com
Jalissa fazendo pré-natal, e seu feto está intacto. Talvez
“A clínica” seja uma mensagem pró-vida e
fundamentalista, ou talvez uma mensagem sobre manter
a comunidade negra intacta ao comparar crianças negras
com pureza, esperança e promessas para comunidades e
culturas negras. Sobchack elabora: “o bebê é
culturalmente visto como uma figura de doçura
pungente, desamparado, vulnerável e dependente”,
ainda não foi corrompido e ao mesmo tempo afirma a
criação de novas experiências sociais, encenando
histórias novas e promissoras.32 Fica evidente que “A
clínica”, como muito dos “filmes negros” de terror,
resiste ao impulso O bebê de Rosemary (1968), em que
“o útero [é] o novo cemitério”, já que a gravidez não é
tipicamente associada a algo monstruoso ou o
demoníaco.33 A antologia também conta com “A
vingança”, a história de uma mocinha bem-comportada,
Jessica (Tenia Yarbrough), que é provocada e sofre
bullying antes de ser afogada em uma piscina por três de
seus colegas de sala. No seu vigésimo aniversário, o
fantasma de Jessica retorna, então, ela e sua mãe, Mama
(Shirley Whitmore), conseguem se vingar dos jovens que
a mataram. No conto, temos a mãe negra monstruosa
retratada, mas o público é convidado a entender sua
loucura, transformada em maldade, pois ela é consumida
por uma dor insuportável. É explicado que Jessica foi
morta no mesmo dia em que Mama enterrou seu jovem
sobrinho. Por isso, Mama luta contra a inocência e a
possibilidade de futuro perdidas. Por fim, em “Noite de
formatura”, Bernice (Mykei Gray), uma estudante
universitária puritana, é estuprada por um atleta popular
em uma festa, e nenhum de seus colegas universitários
intervêm. No fim das contas, ela descobre que está
grávida e é expulsa da escola por causa da quebra de
conduta (culpabilização da vítima). Bernice então se
enforca e, como fantasma, executa sua vingança
sangrenta. Aqui se apresenta a dificuldade que vítimas
de estupro enfrentam quando tentam denunciar o crime,
bem como o que acontece quando uma vítima “menos
importante” luta contra um criminoso “famoso”.
Em “filmes negros” de terror, mulheres não são meras
vítimas. Em vez disso, continuam a prosperar como
heroínas conquistadoras, capazes de batalhar contra
zumbis, ou melhor: “zumbiz”, como Josephine (Jenicia
Garcia) faz em Zombiez (2005), lutando contra monstros
canibais e colegas de trabalho machistas. Josephine nos
faz lembrar da força de Sugar em A vingança dos mortos
(1974), da engenhosidade de Lisa em Os gritos de
Blácula (1973) e de Vovó em Def by Temptation (1990)
enquanto ela luta contra o mal. De forma louvável, filmes
de terror “com negros” também incluem mulheres
negras. Alien vs. predador (2004) apresenta um
dramático afastamento de antigos filmes da série
Predador, que punham a violência nas selvas da África do
Sul ou nos guetos de Los Angeles, com homens brancos
salvadores. Em Alien vs. predador, a batalha é
transportada para o Oceano Antártico, dando a Alexa
Woods (Sanaa Lathan), uma arqueóloga/cientista
habilmente treinada e intelectualmente sofisticada, a
oportunidade de salvar o mundo da ameaça alienígena.
De forma notável, Alexa se junta a um predador (“o
inimigo do meu inimigo é meu amigo”). Os dois formam
uma equipe impressionante, com Alexa até mesmo
permitindo que o predador a marque.34 A vampira
Akasha, do filme de terror “com negros” A rainha dos
condenados (2002), retratada pela cantora de hip-hop
Aaliyah, não é a heroína, mas o interesse amoroso do
vampiro branco Lestat (que, estranhamente, é o
vocalista de uma banda de rock).
Por contraste, os “filmes negros” de terror
praticamente idênticos Cryptz (2002) e Vampz (2004)
chegam a compartilhar o ator Rick Irvin como uma vítima
de ataque vampiro, providenciando, infelizmente,
imagens misóginas de abusos contra mulheres.
Certamente o terror não é o gênero certo para carregar a
bandeira do chamado politicamente correto; entretanto,
esses filmes prejudicam bastante a compreensão da
feminilidade negra. Ambos os filmes convidam,
primariamente, olhares masculinos objetificantes na
direção de — no caso de Criptz — vampiras strippers que
fazem pole dance com os seios à mostra por um tempo
excessivamente longo antes de darem seguimento ao
que interessa, que é sugar o sangue das vítimas. A
sedução de Drácula é negada às vampiras, pois suas
vítimas menosprezam mulheres e fazem comentários
machistas até mesmo enquanto elas os enviam para a
(des)morte.
No fim, as mulheres são derrotadas, com suas roupas
de stripper providenciando uma bela visão das estacas,
por um grupo de homens que empalaram seus seios para
atingir os corações. Vampz trabalha ainda mais essa
visão de mulheres como objetos sexuais, com cenas das
vampiras se beijando e transando umas com as outras.
Entretanto, o objetivo não foi providenciar um momento
feminista, mas apenas exibir uma lésbica com uma
performance estereotípica de feminilidade para
apimentar o filme. Nas suas produções, os homens se
gabam de suas proezas sexuais, ainda mais nas cenas de
beijo em que as mulheres os encaram de maneira
provocativa enquanto se agarram. Não há dúvidas de
que essas mulheres vão morrer, já que usurpam e
atacam o poder masculino ao se envolverem em
conquistas sexuais com outras mulheres.35 Essas cenas
falham ao representar a lesbianidade como uma
performance feita para o público masculino — tanto para
aqueles que assistem à ação dentro dos covis
vampirescos quanto para aqueles que assistem na tela.
FIGURA C2 ALEXA WOODS E O MONSTRO ALIEN EM ALIEN VS. PREDADOR
20th Century-Fox/Photofest
ALGO NOVO
O gênero de terror não é inteiramente derivativo. Kracker
Jack’d (2003) é um filme cômico de assassino em que
estudantes negros e grosseiros agridem de forma
selvagem um estudante branco que se apropriou
completamente da cultura negra do hip-hop, ao ponto de
chamar os negros de nigger.* Esse “filme negro” de
terror deixa claro que apenas negros podem usar a
palavra nigger, o que eles fazem com frequência. No
filme, quando os estudantes começam a morrer, o
“branquelo” vira um suspeito. Entretanto, há uma
reviravolta no filme, e descobrimos que o assassino é, na
verdade, LaShawn (Mark Anthony Riveria), um estudante
negro inteligente que recebeu de forma pejorativa o
apelido de Carlton (o personagem nerd Carlton, da série
Um maluco no pedaço).36 LaShawn, ao explicar o motivo
de ter cometido os assassinatos, responde de forma
agressiva: “Um irmão não pode ter a pele mais clara e
ser educado sem que um filho da puta cheio de joias
brilhantes, saído do gueto de West Side, que fica
agarrando o pinto enquanto fala aquelas merdas sobre
pretos com dinheiro”.
Três filmes de terror igualmente inovadores
compartilham o tema médico. No “filme negro” de terror
Crazy as Hell (2002), Man (Eriq La-Salle), um misterioso
paciente de hospital psiquiátrico seguro de si e
charmoso, acredita ser Satã, e, com a chegada de um
médico metido, o dr. Ty Adams (Michael Beach), Man
começa a ensiná-lo uma coisa ou outra sobre humildade.
Porém, Man é um trapaceiro, um demônio da vida real,
forçando o dr. Adams a confrontar seus fracassos, ou o
que Fulmer descreve como “os limites da moralidade”.37
Uma dessas falhas inclui a insistência obstinada de que
ele é um médico infalí-vel.38 Pouco disposto a ouvir, o dr.
Adams se envolve com o suicídio de um paciente e
fracassa em aceitar a morte de sua jovem filha, que ele
poderia ter impedido. O dr. Adams é confrontado por
seus demônios, incluindo Satã, que assume sua forma
verdadeira: um homem branco, Delazo (Ronny Cox), que
se apresenta como o bondoso administrador do hospital.
É Delazo quem dá as boas-vindas ao dr. Adams no
inferno. O filme de terror “com negros”, Sublime (2007),
apresenta um homem branco, George (Tom Cavanaugh),
que vai ao hospital para um procedimento de rotina, mas
sai da anestesia semicomatoso, tendo sofrido várias
amputações. A enfermeira, uma mulher branca, o seduz,
testando a fidelidade dele para com a esposa. Seu
cuidador, Mandingo (Lawrence Hilton-Jacobs), é um
homem negro que figura proeminentemente na vida de
George no hospital. Mandingo é um sádico que
atormenta George, sobe em cima dele na cama, o
provoca e xinga antes de usar tesouras de poda para
cortar o corpo já danificado de George. Sublime fala
sobre estereótipos e medos, e o homem descobre que
está preso em sua mente inconsciente, que manifestou
seus machismos e racismos latentes na forma de figuras
estereotipadas que o atormentam. Finalmente, o
premiado O último paciente (2005) apresenta um elenco
inovador, com o ator septuagenário Bill Cobbs no papel
de dr. Green, um médico/pesquisador aposentado do
interior que encontrou a fonte da juventude no veneno
da cobra cascavel e ervas chinesas.39 Exposto como
extraordinariamente poderoso depois de tirar um trator
de cima de uma criança que se envolveu em um
acidente, o segredo de Green se torna alvo de ladrões.
Os bandidos morrem na fazenda de Green por meio das
mãos ocultas, porém igualmente poderosas, da esposa
de Green, que é parcialmente transfigurada em um
monstro assassino por causa do veneno da cobra.
PREFÁCIO
1. Worland, Rick. The Horror Film: An Introduction. Malden, MA:
Blackwell, 2007. xi. Impresso.
2. Wordland (xi).
3. Ele gerencia um curso de efeitos visuais, “Tom Savini’s Special
Make-up Effects Program”, e um de cinema digital, “Tom Savini’s
Digital Film Production Program”.
4. White Boyz. Dir.: Marc Levin. Atuação: Danny Hoch. Fox Search
Light, 2004. DVD.
5. Heffernan, Kevin. Ghouls, Gimmicks, and Gold: Horror Films and
the American Movie Business, 1953-1968. Durham, NC: Duke
University Press, 2004. 204. Impresso.
6. Johnson, Ben. “Some Say Police Dog Is Racist”. New Pittsburgh
Courier, 14 maio 2003: A1. Impresso.
7. Machosky, Michael. “Seeking the Paranormal”. Pittsburgh Tribune
Review, 18 out. 2005. Pittsburgh Tribune. Web. 2 ago. 2010.
https://archive.triblive.com/news/seeking-the-paranormal-2/.
8. Crane, Jonathan. Terror and Everyday Life. Thousand Oaks, CA:
Sage Publications, 1994. Impresso.
9. Hutchings, Peter. The Horror Film. Londres: Pearson, 2004. 83.
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INTRODUÇÃO
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Kozol. Champaign: University of Illinois Press, 2001. 235.
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2. Retirado do artigo Window Dressing on the Set: Women and
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3. www.noiredigerati.com.
4. Penzler, Otto. Black Noir: Mystery, Crime, and Suspense Fiction
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Writer’s Digest Books, 2007. 10. Impresso.
8. Hutchings, Peter. The Horror Film. Londres: Pearson, 2004. 115.
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9. Clover, Carol J. Men, Women, and Chainsaws: Gender in the
Modern Horror Film. Princeton, NJ: Princeton University Press,
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10. Crane, Jonathan. Terror and Everyday Life. Thousand Oaks, CA:
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23. Hutchings (76).
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33. Guerrero, Edward. Framing Blackness: The African American
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34. Grant (8).
35. Du Bois, W. E. B. Darkwater: Voices From Within the Veil. Nova
York: Harcourt, Brace, and Howe, 1920. VII. Impresso.
36. Du Bois, W. E. B. The Souls of Black Folks. Nova York: NAL
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37. Cripps, Thomas. Slow Fade to Black: The Negro in American Film,
1900-1942. Nova York: Oxford University Press, 1993. Impresso.
38. Ver: Hill Collins, Patricia. Black Feminist Thought. Nova York:
Routledge, 2009. Impresso; hooks, bell. Reel to Real: Race, Sex,
and Class at the Movies. Nova York: Routledge, 1996. Impresso.
39. Clover, Carol J. “Her Body, Himself: Gender in the Slasher Film”.
The Dread of Difference: Gender and the Horror Film. Ed. Barry
Keith Grant. Austin: University of Texas Press, 1996. Impresso.
40. Pinedo.
41. Zimmerman, Bonnie. “Daughters of Darkness: The Lesbian
Vampire on Film”. The Dread of Difference: Gender and the Horror
Film. Ed. Barry Keith Grant. Austin: University of Texas Press,
1996. 382. Impresso.
42. Ver: Winokur, Mark. “Technologies of Race: Special Effects,
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40 (2004). Web. 20 jan. 2006.
www.genders.org/g40/g40_winokur.html.
CONCLUSÃO
1. De acordo com o site Box Office Mojo.com, a bilheteria
doméstica total de A bruxa de Blair (1999) foi de 140.539.009
milhões de dólares, enquanto Serpentes a bordo (2006) teve uma
bilheteria doméstica total de 34.020.184 milhões. “A bruxa de
Blair”. “Serpentes a Bordo”. Box Office Mojo.com. IMDb.com Inc.,
s.d. Web. 10 ago. 2010.
2. Esses remakes aconteceram junto do aumento da serialização.
Por exemplo, oito filmes da franquia Halloween foram feitos antes
que o diretor Rob Zombie recomeçasse seu Halloween. O efeito
narrativo da serialização fez com que a audiência começasse a
pensar que, independentemente do que acontecesse, o monstro
nunca morreria realmente, uma ferramenta considerada um
clichê, uma tapeação usada como desculpa para fazer mais
filmes, além de uma inovação pós-moderna que prejudica a
morte ou até mesmo o (anti)heroísmo.
3. Bowles, Scott. “Horror Glut Killing off Part of the Pack”. USA
Today, 30 abr. 2007: D1. Impresso.
4. Hutchings, Peter. The Horror Film. Essex, Inglaterra: Pearson,
2004. vii. Impresso.
5. Fischoff, Stuart, Joe Antonio e Diane Lewis. “Favorite Films and
Film Genres as a Function of Race, Age, and Gender”. Journal of
Media Psychology 3.22 (inverno, 1998). Web. 10 ago. 2010.
6. Carvajal, Doreen. “How the Studios Used Children to Test-Market
Violent Films”. New York Times, 27 set. 2000: A1, A21. Impresso.
7. O teste foi recebido com protesto pela Federal Trade Commission
e pelo estúdio, embora a Motion Picture Association of America
tenha prometido repensar seus métodos. Ver: Carvajal, Doreen.
“How the Studios Used Children to Test-Market Violent Films”.
New York Times, 27 set. 2000: A1, A21. Impresso.
8. Giroux, Henry A. Fugitive Cultures: Race, Violence, and Youth.
Londres: Routledge, 1996. 55. Impresso.
9. Para uma extraordinária e compreensiva contabilidade de
“filmes negros” de terror e filmes de terror “com negros”, ver:
Mark Harris. Web. 25 jul. 2010. Blackhorrormovies.com. 2005-
2009.
10. “Are You Ready for Freddy?”, do grupo de rap Fat Boys, tocada
nos créditos finais. “A Nightmare on Elm Street 4: The Dream
Master”. IMDb.com, IMDb.com Inc., 1990-2010. Web. 12 ago.
2010.
11. É notável como atualmente o terror está repleto de todos os
tipos de caçadores de monstros negros (na sua maioria, homens),
especialmente em filmes lançados diretamente em DVD. Por
exemplo, Cidade dos vampiros (2001), coestrelado por Bokeem
Woodbine como um policial caçador de vampiros em um universo
alternativo, que, ironicamente, possui um vampiro como parceiro
na polícia. Vegas Vampires (2004) traz de volta ícones da era
blaxploitation dos anos 1970, Fred Williamson, Richard Roundtree
e Bernie Casey, que se juntam a estrelas conhecidas dos filmes
negros urbanos como Tiny Lister e Glenn Plummer, além do
rapper Kurupt, para atrair uma diversidade de público. O filme
Vampiros assassinos (2005) teve um orçamento bem apertado,
mas conseguiu atenção com a participação do ícone da
blaxploitation dos anos 1970 Rudy Ray Moore, e com uma arte de
capa no DVD que apresentava um personagem parecido com
Blade que sequer aparece no filme.
12. Jones, Eileen. “Will Smith’s Hancock Fiasco”. Alternet, 5 jul.
2008. Web. 25 jul. 2010.
www.alternet.org/story/90473/will_smith/27s_%27hancock%27_fia
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13. Há também Soy Leyenda (1967) e o filme de ficção científica A
batalha dos mortos (2007).
14. Harvey, Ben. Night of the Living Dead. Nova York: Palgrave
Macmillan, 2008. 10. Impresso.
15. Urban Gothic. Dir.: Michelle Palmer. Atuação: Ernest Dickerson,
Adam Simon. Automat Pictures, 2002. Filme.
16. “Bones”. Box Office Mojo.com.IMDb.com Inc., s.d. Web. 26 jul.
2010; “Bones”. IMDb.com, IMDb.com Inc., 1990-2010. Web. 26 jul.
2010.
17. Urban Gothic. Dir.: Michelle Palmer. Atuação: Ernest Dickerson,
Adam Simon. Automat Pictures, 2002. Filme.
18. Reid, Mark A. Black Lenses, Black Voices: African American Film
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19. Denzin, Norman K. Reading Race. Londres: Sage, 2002. 113.
Impresso.
20. Alexander, George. Why We Make Movies: Black Filmmakers Talk
about the Magic of Cinema. Nova York: Harlem Moon, 2003. 114.
Impresso.
21. As esperanças para o filme eram altas, com todos os envolvidos
no projeto esperando que o filme se tornasse uma franquia como
Crypt ou, mais recentemente, a série Todo mundo em pânico. O
objetivo extra, de acordo com o coprodutor Christopher Tuffin, era
“ousar com a combinação de humor e sanguinolência”. “Snoop
Scraps: Rapper to Produce/Star in Horror Pic”. Eurweb.com, 20
abr. 2006. Web. 25 jul. 2010.
22. Richards, Chris. “Va. Slayings Spur Harder Look at Horrorcore”.
Washington Post, 25 set. 2009. Washington Post Company. Web.
25 jul. 2010.
23. Na verdade, a qualidade de Now Eat é bem pequena, e Lynch faz
seu rap no quarto, num microfone de baixa qualidade. Logo,
precisei pegar as letras das músicas do CD da trilha sonora de
Now Eat. Ver: Brotha Lynch Hung. Now Eat. Siccmade Records,
2000. CD.
24. Bulwa, Demian. “Bay Area Suspect Allegedly Bludgeoned
Victims”. San Francisco Chronicle. Hearst Communications Inc.,
23 set. 2009. Web. 25 jul. 2010.
25. Arnold, Thomas K. “Coming Back for Seconds, Thirds …”. USA
Today, 26 set. 2005. Web. 26 jul. 2010. Além dos lançamentos em
todos os cinemas, há também os festivais de filmes e aluguéis
sob demanda.
26. Bick, Julie. “Attack of the Sequel King!”. Fast Company 77 (1 dez.
2003). 33. Impresso.
27. Goldstein, Gregg. “Filmmakers Take Direct Flight to DVD”.
Hollywood Reporter 393 (30 mar. 2006). 1, 10. Web. 26 jul. 2010.
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29. Kurutz, Steven. “The Star Rapper Paul Wall’s New Video: The
iPhone 3gs”. Wall Street Journal, 24 set. 2009. Web. 12 ago. 2010.
30. “Holla’ for Halloween: Urban Horror Film Weaves in Comedy for a
Scary Time”. Eurweb.com, 29 out. 2007. Web. 29 out. 2007.
31. Horror Dance Film Festival: escolha do diretor; Denver
International World Cinema Film Festival: melhor filme e melhor
ator; Chicago Horror Film Festival: melhor diretor (segundo lugar),
todos em 2006.
32. Sobchack, V. “Bringing It All Back Home: Family Economy and
Generic Exchange”. The Dread of Difference: Gender and the
Horror Film. Ed. Barry Keith Grant. Austin: University of Texas
Press, 1996. 148. Impresso.
33. Skal, David J. The Monster Show: A Cultural History of Horror. Ed.
revisada. Nova York: Faber and Faber, Inc., 2001. 294. Impresso.
34. Em Predador 2: a caçada continua, a heroína recebe uma valiosa
arma antiga. Alexa é marcada pelo predador como uma algo
“dele” — do seu time, parte de seu clã — no rosto.
35. Zimmerman, B. “Daughters of Darkness: The Lesbian Vampire on
Film”. The Dread of Difference: Gender and the Horror Film. Ed.
B.K. Grant. Austin: University of Texas Press, 1996. 385. Impresso.
36. No final do filme, o “branquelo” é mostrado com a máscara do
assassino na mochila, fazendo uma alusão de que talvez ele
tenha participado dos assassinatos ao lado de “Carlton”.
37. Fulmer, J. “‘Men Ain’t All’ — A Reworking of Masculinity in Tales
from the Hood, or, Grandma Meets the Zombie”. Journal of
American Folklore 115(457/458): 433. Impresso.
38. Fulmer (433).
39. Vencedor do New York International Independent Film and Video
Festival em 2006.
40. Barackula: The Musical. Dir.: Mike Lawson. Barackula.com, 2008.
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41. Klein, Aaron e Brenda J. Elliott. The Manchurian President: Barack
Obama’s Ties to Communists, Socialists and Other Anti-American
Extremists. Washington, DC: World-NetDaily Books, 2010.
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42. Jason Mattera on Obama Zombies. Simon and Schuster Videos.
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43. “Barakula Full Latex Mask”. Halloween Express.com, 1999-2010.
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44. Delonas, Sean. Cartoon. New York Post, 18 fev. 2009: 12.
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45. HorrorHound Weekend 2010, 26 mar. 2010. 11320 Chester Rd,
Cincinnati, oh 45246.
46. Watkins, Craig S. Representing: Hip Hop Culture and the
Production of Black Cinema. Chicago, il: The University of Chicago
Press, 1998. 24. Impresso.
47. HorrorHound Weekend 2010, 26 mar. 2010.
48. Gilroy, Paul. “Race Ends Here”. Ethnic and Racial Studies 41
(1998): 838-847. Impresso. St. Louis, Brett. “Post-Race/Post-
Politics? Activist-Intellectualism and the Reification of Race”.
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49. Ver também: Gallagher, Charles. “Color-Blind Privilege: The
Social and Political Functions of Erasing the Colorline in Post Race
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50. Hicks, Heather. “Hoodoo Economics: White Men’s Work and
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Obscura 53 18 (2003): 28. Impresso.
51. “Scary Movie”. Box Office Mojo. com. IMDb.com Inc., s.d. Web.
10 ago. 2010.
52. Os Wayans não estão mais relacionados com a franquia Todo
mundo em pânico.
53. Em 1° de junho de 2009, um incêndio atingiu os estúdios da
Universal e consumiu o set de King Kong, destruindo um artefato
histórico que era também um monumento ao tratamento racista
dispensado aos negros.
54. Hobson, Janell. “Digital Whiteness, Primitive Blackness:
Racializing the ‘Digital Divide’ in Film and New Media”. Feminist
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55. Burnett, Charles. Comunicação pessoal, 29 jan. 2009.
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