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inusitada, dando por descoberta na ilusão da chegada, um fascínio

megalomaníaco de um povo , embevecido no olhar para o ouro ,


sobressaindo às razões no espaço do frenesi consumidor e a alienação do
conceito existencial no delírio pragmático do rico metal e suas
possibilidades no consumo de uma sociedade conservadora , atemporal,
extravasando suas vanglorias no asfalto descoberto , da honra no tempo
perdido de suas memórias , rastreando o ouro e a glória humana
desenfreada .

CENA I – Externa / Dia

( Com a voz no alto falante da única rádio amadora da cidade e único meio
de comunicação .)

ÁUDIO l

VOZ- (Cidade em movimento) Bommm dia , povo desta linda cidade! A


nossa rádio amador, único meio de comunicação do lugar , entra em ação
todos os dias e a voz latente de nossa conversa , ressalta toda glória do
nosso ilustre e digníssimo prefeito Vanelsen Van que lhes oferece todo o
ano este maravilhoso show , apenas uma vez ao ano , o brinde do nosso
majestoso prefeito e atenção , muita atenção , está chegando o show
montado pela nossa encantadora Lady Borovaska com sua bela voz
estupenda para encantar os habitantes de nossa cidade num show
encantador ; venham , prestigiem essa fabulosa cantora num grande
evento para os apreciadores da boa voz de nossa cantora , venham ..

ÁUDIO ll- (Entre mulheres na rua. )

MULHER l – É a voz do rádio amador !

MULHER ll – ( Suspirando ) Aff! Que linda voz !

MULHER lll – O pior é que ninguém o conhece.

MULHER l V- Já cheguei a sonhar com a voz dele e foi difícil .


MULHER l – ( Rindo entre os dentes ) Acordou toda ensopadinha .

MULHER V – ( Rindo ) Ai, ai, ai ! Que flagelo indecoroso !

TODAS – (Rindo muito ) Ah se o prefeito pudesse sondar os sonhos !

CENA ll – Externa / Dia .

VÍDEO l- ( Cenas na rua entre mulheres olhando vitrines)

ÁUDIO l

LADY l – Olha que lindo esse modêlito .

LADY ll – Nossa moda reluzente , cheia de paixões não se prende em


nenhum tempo , presente ou passado.

LADY lll – ( Rindo ) Acho que estamos perdidos neste mesmo tempo,
somos totalmente atemporais .

LADY I – Belle Époque , acho tão nostálgico !

LADY ll – ( Pegando uma roupa ) Acho que com esse aqui , vou chamar
atenção e roubar a cena de Lady Borovaska.

LADY l – Sabe das leis , não é ?

LADY ll – ( Pondo a mão na boca ) Cala-te boca , é considerado roubo.

LADY lll – Acho que vou usar uma roupa futurista neste recital da Lady .

LADY l – Cruzes , que mal gosto ! ( Riem )

CENA lll – Externa / Dia .

VÍDEO l - Carro passando com Lady Borovaska cantando

ÁUDIO l

VOZ DA CIDADE – Gritos e aplausos a Lady Borovaska ;

CENA lV – Interna / Dia .


VÍDEO I – ( Prefeito , esposa e filha )

ÁUDIO l

WANELSEN VAN – ( Vestindo o terno ) Esse show de Lady Borovaska pode


enfim fazer o povo achar que priorizamos a cultura definitivamente.

ANGELINA – ( Criança filha do prefeito ) Papai , você vai levar meu


irmãozinho também ?

WANELSIN VAN – Não tem como leva-lo , seu irmão morreu . Ande !Vá se
trocar com a babá para irmos logo e dar a impressão de um incentivo
cultural.

KRUSHELA VAN –( Arrumando-lhe a gravata) Oh , meu amor ! O ouro já é o


suficiente para todos.

WANELSEN VAN – Alguns conclamam por eventos culturais , mas são


apenas manifestações transitórias.

KRUSHELA VAN – E o livro do nosso mais ilustre e único escritor Galileu


Homero de Falcon ?

VANELSEN VAN – Ele só pode fazer um único exemplar , sempre foi assim,
sendo que somente eu posso lê-lo .

KRUSHELA VAN – ( Rindo ) Entendo ! Você como sempre ,: Sagaz , astuto,


meticuloso ; politicamente se estabelecendo.

VANELSEN VAN _ Perpetuamente ! ( Riem. )

CENA V= Externa / Dia.

VÍDEO ( Mina de ouro )

ÁUDIO l

CHEFE DA MINERAÇÃO-( Enquanto os homens puxam uma corda de um


buraco ) Vamos , força , força !! Como prémio um camarote junto às
autoridades no show de Lady Borovaska.

TODOS- UAU !!
CENA Vl –Externa / Dia .

VÍDEO l ( Crianças tomando banho no rio )

ÁUDIO l – Risos de crianças.

CENA Vll – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Do rio desce uma tinta ferrugem )

ÁUDIO l

CRIANÇA l – Olhem a cor da água ! Deve ser o veneno que a profetisa


Joana louca falou .

CRIANÇA ll – ( Coçando-se ) Meu corpo tá todo coçando .

CRIANÇA lll- Vamos sair , a água tá fedendo, vamos sair daqui ( Saem
correndo aos gritos )

CENA Vlll – Externa / Dia.

VÍDEO l ( Mina de ouro mostrando uma pedra enorme de ouro sendo


tirada do buraco no solo )

ÁUDIO l

MINEIRO l – Olhem !

MINEIRO ll – Deus dos ninguéns ,a pedra é enorme !

CHEFE DA MINERAÇÃO- ( Gritado ) Êiaaaaa ! Vamos , força , força total ,


valendo um camarote no show ; VAMOSSSSS !!

VÍDEO ll – ( A pedra de ouro saindo )

Todos entram em delírio coletivo junto à pedra.( Prostram-se )

OS FILHOS DO AMANHÃ
CENA lX-Interna / Dia .
VIDEO l -( Gueto dos excluídos e casting )

Personagens ( Atores adultos com a síndrome da infância , negros , índios


,etc.) PERSONAGENS : 01 Negro ( João ) e 01 negra ( Zulua )– 01 índio
(Assari )- 10 adultos com a síndrome do retardamento : Maria > menina
com a busca de um salvador. – José > menino que tem medo do
lobisomem .– Fábio > menino surdo . - Tadeu > filho do prefeito. Luis >
menino que sonha com anjos .- Sebastião > menino chorão . – Tereza >
menina comilona . – Benedita > menina que gosta de bonecas . –Rosinha >
menina malvada que bate nos outros .- Penha > menina cantora .

VÍDEO l –( Cena dos exclusos chorando , com a negra Zulua e o negro João
os colocando para dormir.)

Áudio l –

NEGRA ZULUA – Parem de chorar e vão para a cama , agora.

MARIA – Todas as noites sonho com a mesma mulher , ela está grávida de
um bebê .

NEGRO JOÃO – Vamos Maria , todos para a cama.

JOSÉ- Ô tio , você não deixa o lobisomem vir , viu !

NEGRA ZULUA – Ajudem o Fábio , sabem que não ouve nada.

TADEU – ( Ainda pequeno ) Ô tio , você é o nosso pai?

NEGRO JOÃO – ( Rindo ) Faz de conta .

SEBASTIÃO – Conta aquela historinha de novo .

NERGRO JOÃO – ( Começa a contar uma história ) Era uma vez , numa
mata distante , um cachorrinho chorava com medo do gavião.. ( A voz vai
sumindo lentamente enquanto vão se ajeitando nas camas..)e o gavião
era malvado , mas apareceu uma senhora idosa , e..

VÍDEO ll – ( Com todos já deitados )

ÁUDIO ll

LUIS- Vejo anjos no telhado .


TEREZA – ( Chorando ) Eu quero comer , estou com fome.

NEGRA ZULUA – Calma Tereza , você já jantou.

NEGRO JOÃO – Vamos dormir , não é hora de comida.

BENEDITA – A Rosinha pegou minha boneca.

NEGRA ZULUA- Vamos Rosinha , devolve a boneca da Benedita.

ROSINHA- ( Devolvendo a boneca ) Eu só queria brincar um pouquinho .

PENHA – Vou cantar a música para vocês dormirem de vez.

NEGRO JOÃO – ( Rindo ) Vamos Penha , pode começar a cantar.

NEGRA ZULUA – É ! Afinal você é a nossa cantora oficial na hora de dormir.

PENHA – ( Começa a cantar enquanto todos se dirigem para a cama )Nana


nenen , que o bicho vem pegar, papai foi para a roça e a mamãe foi
passear, nana neném , neném de carirú , foi pato e marreco , galinha e
peru .. (Todos fechando os olhos )

CENA X-Externa / Noite

VÍDEO l - ( Indio Assari em cima de uma montanha fazendo um canto de


guerra )

ÁUDIO l – ( O som do canto indígena )

CENA X –Interna e Externa / Noite .

VÍDEO l ( Todos Black Tie entrando pela boate se acomodando )

ÁUDIO l

MADAME RUSKAIA – Ohhh !! Que prazer recebe-los no meu


estabelecimento .

MINEIRO L- Salva , salve , que prazer !

MADAME RUSKAIA – Ohhh !! Quanta honra ilustríssimo senhor escritor ,


doutor Galileu Homero de Falcon.
GALILEU HOMERO DE FALCON – Boa noite ! Quando vai começar a farsa
cultural ?

MADAME RUSKAIA - ( Rindo entre os dentes de ouro)Professor?! Acho


que não entendi a piada, (Rindo ) Oh , grande mestre! O senhor como
sempre muito bem humorado.

MONSENHOR LUCIO FERRO- (Entrando ) Bonjú mademonseli Ruskaia,


você está deverasmente des-lum-bran-teee !

MADAME RUSKAIA - Esta noite promete cherry ,( Pondo a mão na boca


sorrindo) oh! Melhor dizendo , monsenhor Lucio Ferro , vai ser
memorável! Que o deus dos ninguéns nos proteja .

MONSENHOR LUCIO FERRO – Oxalá !

MADAME RUSKAIA – Prefeito Vanelsen Van, quanta honra ! Ahhh ! Sua


esposa a primeira dama Krusshela Van está lindíssima e trajando um belle
époque maaaraaavilhoso !

VANELSEN VAN – ( Nos ouvidos de Ruskaia ) Diga aos seus homens


vigiarem a porta , não deixem a louca Joana intervir aqui .

MADAME RUSKAIA – ( Rindo entre os dentes de ouro ) Oras prefeito ! Ela


não tem sequer uma pepita no bolso ,( Com desdém ) É POBRE !

KRUSHELA VAN – Não entendo porque ainda não a mandou para o exílio
com os outros.

VANELSEN VAN- ( Entrando ) Não posso fazer isso .

MINEIRO LL – Momento inesquecível !

MADAME RUSKAIA – ( Recebendo os convidados ) Bonjour mêssie, comê


televour ? Mademosseile Brusquêtá , aaadorei o seu vestido, está im-ba-
tí-vel ! ( Risos em geral entre os dentes )

CENA Xl –Externa / Noite .

VÍDEO l ( Madame Ruskaia começa a ouvir o som do índio Assari.)


ÁUDIO l

MADAME RUSKAIA – Que som é esse ? Parece vir do lado negro da


cidade, o gueto dos retardados . Ah, minha santa vodka destrambelhada !
É aquele índio maldito ! Todos , vamos , todos para dentro.

CENA Xll Externa / Noite .

VÍDEO l ( Aparecimento de Joana louca na porta da boate )

ÁUDIO l

JOANA LOUCA- A cidade corrompida pelo ouro , os seus lucros são como
uma colcha de retalhos feita de pele humana cobrindo sua tirania ; o seu
juiz temporário vendeu sua razão em prol do seu líder e apodreceu sua
semente de justiça..

VANELSEN VAN – ( surgindo na porta ) Tirem essa louca daqui.

JOANA LOUCA- ( Continuando ) ..O seu ouro entorpeceu sua ciência ; o


escritor , único deste local , autodidata , escreve apenas um exemplar de
seus livros , o qual somente você o detém para sua própria apuração do
comportamento do seu povo dominado pelo valor da pepita..

CENA – Xlll – Externa / Noite .

VÍDEO l (Dois homens tirando Joana do local)

ÁUDIO l

JOANA LOUCA – ( Aos gritos ) Malvado , desumano , inescrupuloso ! Jogou


o próprio filho no exílio .

CENA XV – Interna / Noite

VÍDEO l ( Começa o show de Lady Borovaska cantando uma música de Edit


Piaf)

ÁUDIO l – Lady Borovaska cantando.

CENA XV l – Interna / Noite .

VÍDEO l - ( Gueto dos excluídos )


ÁUDIO l

NEGRA ZULUA – ( Ouvindo o som da música de Lady Borovaska ) Meu


Deus ! O que será isso ?

NEGRO JOÃO – ( Assustado ) Zulua do céu ! O que é isso ? O som nunca


ultrapassou o muro na nossa mente .

NEGRA ZULUA – Ai , ai , ai , estou com medo!

NEGRO JOÃO – Vamos ver lá dentro .

CENA XVl – Interna / Noite .

Interna ( Negra Zulua e Negro João entrando no quarto com todos


acordando )

MARIA – Titia , o que é isso ? Eu estava sonhando com a mulher grávida de


um menino.

JOSÉ – E eu estava correndo do lobisomem , ele é feio .

FÁBIO – Eu estou ouvindo titia , isso é uma música ?

NEGRA ZULUA – Mas Fabinho , você é surdo !

TADEU – Eu quero a minha mamãe .

SEBASTIÃO – ( Chorando ) Estou com frio , titia .

LUIS – É um anjo que tá cantando .

TEREZA – Quero almoçar , titia , estou com fome.

NEGRO JOÃO – Tereza ,ainda é noite .

ROSINHA – ( Beliscando Tereza ) Gorducha , gorducha , gorducha !

NEGRA ZEFA – ROSINHA !?

BENEDITA – Titia , cadê a minha boneca ?

PENHA – ( Cantando ) Vamos dormir de novo ; nana nenen que o bicho


vem pegar..
NEGRA ZULUA – Esperem ! Se o som ultrapassou a barreira do muro na
mente , podemos nos aproximar dele , se só existe em nossas mentes .

INDIO ASSARI – ( Entrando ) Lá do alto daqui , dancei e clamei a Tupã para


que fizesse o som ultrapassar a barreira .

NEGRO JOÃO – Vamos ver.( Saem )

CENA XlV – Externa / Noite .

VÍDEO l -( Os exclusos se aproximando do lugar marcado .)

ÁUDIO- ( Somente a musica de Lady Borovaska)

CENA XV – Externa / Noite .

VÍDEO l ( Foco nos rostos dos excluídos expressando encanto e o volume


da música de Lady Borovaska se avolumando , com eles chegando ao
choro .)

ÁUDIO l

MARIA – OLHEM LÁ ! A mulher grávida dos meus sonhos.

CENA XlX – Externa

VÍDEO l - ( A cena mostrará uma mulher grávida andando nas ruas com
outas personagens feitas em animação : Figuras humanas bizarras ,
quimeras , demônios, dinossauros , etc. )

ÁUDIO l

JOSÉ – Socorro ! Olhem o tanto de lobisomem .

FÁBIO – Eu estou ouvindo , ouvido .. como é bom ouvir !

TADEU – Papai , papai!!

SEBASTIÃO – (Chorando em voz alta) Existe outro mundo !

LUIS – Vejo muitos anjos tortos misturados na escuridão da noite,


misturados.

TEREZA – Nessa festa vai ter muita comida .


BENEDITA – (Abraçando forte a boneca) Vou proteger você , bebezinho
lindo da mamãe !

ROSINHA – E agora , o que vai acontecer comigo ?

PENHA-( Começa a cantar chorando , misturando a música de Lady


Borovasca com a nana nanen ) Nana nenen , que o bicho vem pegar..

CENA XVl – Interna / Noite .

VÍDEO l -( Voltando ao show de Lady Borovaska )

ÁUDIO I

LADY BOROVASKA –Cantando e os aplausos da plateia .

CENA XVll – Externa / Noite .

VÍDEO l - ( Na saída da boate )

ÁUDIO l

GALILEU HOMERO DE FALCON- Grande show para o seu apogeu .

VANELSEN VAN – Ou para a minha glória .

GALILEU HOMERO DE FALCON – Subsistirá ao tempo?

VANELSEN VAN – Eu sou o tempo.

GALILEU HOMERO DE FALCON – Sua excelência pode fazer o tempo ?

VANELSEN VAN – Quero o livro antes do pronunciamento na catedral da


cidade.

GALILEU HOMERO DE FALCON – Ainda não consegui terminar.

VANELSEN VAN – Por que ?

GALILEU HOMERO DE FALCON – Não consigo encontrar liberdade no


povo; estão todos presos no estigma do ouro .

VANESIN VAN – Oras , seu idiota ! E o que importa o povo ? O livro é


apenas para a minha análise sobre o comportamento dele .
GALILEU HOMERO DE FALCON – Você não se importa com o povo .

VANELSIN VAN – O povo se extasia com o brilho do ouro e o seu valor


nivela o domínio .( Enfático ) Quero o livro ! ( Vira-lhe as costas saindo )

CENA XVlll – Externa / Noite .

VÍDEO l – ( Galileu Homero de Falcon andando a noite , solitário pelas ruas


e a voz do rádio amador )

ÁUDIO l

VOZ DO RÁDIO AMADOR – Boa noite ilustres moradores da linda cidade


reluzente de ouro , muito boa noiiiiite ! Depois de um belo recital de Lady
Borovasca encantando a todos , não mais que o ouro , a voz da cantora
penetra minas variadas no canto escuro da alma , uma mina de ouro ,
isolada na contramão da via , viva vida abundante no brilho extasiante do
ouro ..boa noiiitteeee !!

CENA XlX – Externa / Noite .

VÍDEO l - ( Galileu Homero de Falcon voltando correndo para a boate e


Joana louca tendo a visão com os quatro cavaleiros)

ÁUDIO l

JOANA LOUCA – Estão vindo a galope entre nuvens , os quatro cavaleiros :


Branco , falsa paz ; vermelho , guerra ; preto , fome ; amarelo , morte ;
estão vindo para nós , os filhos do além na solidão da alma , um reboco de
ouro cobrindo nossas razões e a voz do que clama no deserto ,
ARREPENDEI-VOS !! Digo-lhes e a voz não penetra na alma entorpecida
pelo minério.

CENA XXlV – Externa / Noite em croma kay .

VÍDEO l – ( vinda dos quatro cavaleiros nas nuvens )

ÁUDIO l – ( Joana a louca )

JOANA LOUCA – ( Olhando assustada , gritando ) Os quatro cavaleiros !


Branco ! A falsa paz do ouro já reinante ; vermelho ! A guerra na alma dos
habitantes , que vem a galope ; o preto ! Na assolação pelo declínio do
ouro , traduzirá nas bocas dos homens , a fome e a miséria ; o amarelo !
Que os céus nos acudam ! A morte e a destruição da cidade no desígnio de
um principado . ( Corre alucinada ) AR-RE-PEN-DEI-VOSSSSSS !!

CENA XX – Interna / Noite .

VÍDEO l - (Galileu Homero de Falcon se escondendo dentro da boate )

ÁUDIO l

GALILEU HOMERO DE FALCON – ( Assustado ) O que foi aquilo ? A Joana


louca dizia ver coisas de outro mundo e por momentos percebi que o céu
se fechou num vermelho estranho . Preciso de uma bebida forte !

CENA XXl –Externa / Noite .

VÍDEO l - ( Os quatro cavaleiros passando a galope se dirigindo para a


boate , passam por Joana Louca que cai , )

ÁUDIO l

JOANA LOUCA – Eis que o mal se instaura na cobiça dos homens ; o amor
pelo ouro é a sua desonra ; eis que vindo das esferas sobrenaturais , os
quatro cavaleiros resultarão na essência dos homens a sua destruição.
Vem dos quatro ventos oh , espírito ! E assopra sobre esses mortos para
que vivam.

CENA XXll – Interna / Noite .

VÍDEO l - ( Os quatro cavaleiros entrando na boate , incorporando os


quatro bonecos ( manequins de vitrine).

ÁUDIO l

GALILEU HOMERO DE FALCON – ( Debruçado sobre a mesa , levanta o


rosto devagar ) Silêncio , silêncio .. tudo é silêncio ! Nenhum barulho se faz
e a voz ensurdecedora do silêncio grita em m’alma . Ninguém vem para as
ruas se manifestar e tudo é silêncio. É.. eu entendo esse silêncio ! É o
próprio enredo da morte no silêncio que vai se desfechando e no entanto ,
na periferia das almas , depois da pele , além da derme , fora dela , o riso
gritante do ouro sobrepondo a razão nos olhos , deixando se perder no
negro escuro de suas ilusões . Estão presos em suas cobiças , presos , ( Vai
se afastando até esbarrar em um manequim ) presos , presos ..

ÁUDIO ll

MANEQUINS – ( Vão ganhando movimento gradativamente ) Como por


um vento avassalador , desceremos à galeria dos que dormem ; famintos ,
mentirosos , avarentos ..e a falsa paz estabelecida , desencadeara a
guerra, mas a guerra na alma insolente dos habitantes e a fome permeará
a cidade como o brilho do ouro, o ouro que ofuscou mentes vazias , se
extinguira ante as bocas que outrora proferiram status , roubará o pão nas
bocas dos vermes , animais rastejantes , feito a ganancia em pastos
desertos .. ( Voltam ao estado estáticos )

ÁUDIO lll

GALILEU- ( Titubeando ) Vocês , vocês , haaa , vocês !! O livro ! !


((procurando em uma bolsa ) o livro , onde está o livro ? ( achando um
manuscrito , lendo o título ) Até a liberdade chegar! O céus ! Eles fazem
parte do contexto ; é o perfil hediondo da cidade do ouro ( chora ) .

CENA XXlll – Interna / Noite

VÍDEO l - ( Atores saindo dentro dos bonecos para fora , na rua )

ÁUDIO l

GALILEU HOMERO DE FALCON – O que é isso ?

CENA XXlV- Interna / Noite .

VÍDEO l - ( Madame Ruskaia entrando )

ÁUDIO l –

RUSKAIA- ( Arrumando o penhoar ) Professor Galileu Homero de Falcon , o


senhor ? O que faz aqui a essas horas , não tinha ido embora ?

GALILEU HOMERO DE FALCON _ ( Titubeando ) Bem.. eu..eu..eu tinha .. só


que .. aconteceu algo estranho e não sei dizer o que foi.
MADAME RUSKAIA- ( Olhando a vitrine vazia , dá um grito ) Os meus
quatro manequins , onde foram ? SOCORRO ! ! Roubaram minha loja .
(olhando furiosa para o escritor ) Você ? Seu maldito ! Roubou-me ;
FOORAA !!

CENA XXV – Externa / Manhã .

VÍDEO l - ( Manhã na cidade em movimento )

ÁUDIO l

LADY l – Foi hilário o show de Lady Borovaska !

LADY ll – Viram o modelito da primeira dama Krusshela ?

LADY lll – Uau !! Elegantérrima !

LADY l – ( Suspirando ) Como gostaria de me parecer com ela ! ( risos )

LADY ll – Pasmem ! Ela já colocou dez dentes de ouro , ficou chiquérrima !

LADY lll – ( Vendo os quatro cavaleiros ) Olhem , que estranho !

LADY ll - Quem são e de onde vieram ?

LADY l – Mas não existe outro lugar .

LADY ll – Afff ! Pelo ao menos são homens . ( Riem escandalosamente )

CENA XXV – Externa / manhã .

VÍDEO l ( Prefeito e família na cidade )

ÁUDIO l

KRUSHELA VAN – Adoro andar ao sol da manhã .

VANELSEN VAN – Tudo é muito reluzente .

KRUSHELA VAN – Assim como o ouro.

ANGELINA – Papai , olhe aqueles homens bonitos.

KRUSHELA VAN – Estranho ! Quem são ?

CENA XXVl – Externa / dia .


VÍDEO l - ( Vanelsen Van se aproximando com um grande grupo de
pessoas )

ÁUDIO l

VANELSEN VAN – Salve , salve , senhores ! Quem são e de onde vieram se


não existe outro lugar ?

KRUSHELA VAN -Não os conhecemos .

OS QUATRO CAVALEIROS – ( Falam juntos automaticamente ) Viemos de


um além, de outras esferas longínquas , além , muito além da
possibilidade da vossa percepção humana .

LADY l – ( Aproximando-se ) São simplesmente elegantérrimos .

LADY ll – Que roupas !

LADY l – ( Aproximando-se ) Ulálá !! Quem me dera !

LADY lll – Gente , são ma-ra-vi-lho-sos ! Vamos saudá-los com festas e


danças .

CENA XXVll – Externa / Dia .

VÍDEO l ( Dança frenética de todos em volta dos cavaleiros )

ÁUDIO l –

Dança ROCK EN ROLL ( Metal pesado )

Letra da música –

Refrão : Bate firme

2 Bate forte

v Ouriçando o solo

e Do ouro faz brotar

z No mirante dos olhos


e O brilho que seduz

s Bate em mim e me faz luz.

Salve , salve ,grandes

Senhores do universo

Salve !

Seus dourados adornos

De olhar insinuante

Doravante como a pedra

No ouro olhar da mente

Somente ouro ,

Ouro puro

Resvalando a semente

Do ouro duro

Ouro puro

Salve !

Repete o refrão ,

CENA XXVlll – Externa / Dia.

VÍDEO l - ( Angelina filha do prefeito saindo do grupo, se dirigindo para o


vale dos excluídos )

ÁUDIO l –
O som do rock in roll acompanhando a cena de Angelina se perdendo na
distância .

CENA XXlX – Externa / Dia .

VÍDEO l - ( Angelina observando o irmão Tadeu no vale dos excluídos )

ÁUDIO l

ANGELINA – ( Gritado ) Tadeu , meu irmãozinho ! É você Tadeu ? Você


morreu e está aqui , aqui é o céu ?

TADEU – ( Se aproximando ) Você .. você é Angelina , minha irmãzinha


Angelina !

ANGELINA – ( Chorando ) Você não morreu , está vivo !

TADEU – Nosso pai mandou me para cá , porque segundo a negra Zulua ,


tenho uma doença incurável .

ANGELINA – ( Se aproximando de Tadeu , abraçando-o ) Vamos embora .

TADEU – Você não pode passar o muro , porque não poderá voltar .

ANGELINA – ( Voltando ) Posso sim ! Aqui não tem nenhum muro .

TADEU – ( Assustado , sai correndo ) Tem um muro sim e não podemos


transpô-lo , do outro lado tem a ferrugem que corrói, ferrugem ,
ferruuuugemmm !!

ANGELINA – ( Aos gritos fala chorando ) Volta Tadeu , o muro tá dentro de


você , em sua mente , volta !!

TADEU – ( Fugindo ) NÃOOOO !! ( Som reverberado )

CENA XXX – Externa / Dia .

VÍDEO l ( A cena volta ao baile na praça )

ÁUDIO l

KRUSSHELA – ( Dando um grito com a música e todos parando


repentinamente ) ANGELINA!! Deus dos ninguéns , onde você está minha
filha ? ANGELINAAAAAAAA !!
TODOS – ( Falando juntos com vozes robotizadas ) CALMA ! Não deve ter
ido longe , a cidade não tem fronteiras ; apenas faz fronteiras com o vazio
do nada e é plenamente plana .

XXXl – Externa / Dia .

VÍDEO l - ( Todos abrindo a ala para o cavaleiro branco )

ÁUDIO l

CAVALEIRO BRANDO – ( Faz uma guinada com o cavalo e sai a galope ) Eu


sou a paz e a paz reinará neste lugar . Êiaa !!

CENA XXXll – Externa / Dia .

VÍDEO l -( O galope do cavaleiro até Angelina )

ÁUDIO l

CAVALEIRO BRANCO-- Hêiaaaa !!

CENA XXXVlll – Externa / dia.

VÍDEO l – ( Desce do cavalo pegando Angelina , saindo a galope )

VÍDEO ll - ( A cidade perplexa , parada , grita ao ver o cavaleiro chegando )

ÁUDIO ll -

KRUSHELA VAN – ANGELINA !

CIDADE – ( Bradado ) Hêiaaaaaaaa !!

VANELSEN VAN – ( Entusiasmado ) Grande feito ! Os nobres


desconhecidos cativarão o meu respeito . ( Voltando-se para a cidade ) O
que quereis que eu os faça como recompensa ? Dando-lhes um cargo no
meu governo ; o que dizeis agora ?

TODOS- Senadores , deputados , juízes , par-la-men-ta-resss !

VANELSEN VAN –( Resoluto ) Dissestes bem ! VEREADORES !!

VOZ DA CIDADE – Gritos em delírio .

CENA XXXlll – Externa / Dia.


VÍDEO l - ( Joana Louca se aproximando do grupo )

ÁUDIO l

JOANA LOUCA – Arrependei-vos pois a hora já se foi e o branco cavalo


com seu cavaleiro , prenuncia a falsa paz e o resto porvir , o negro da
guerra existencial , pondo em vossas mentes a pergunta : Quem somos ? E
na divagação da fome , a resposta , sois a escória deste mundo fantasiado
com o brilho do ouro nos olhos e o brilho dele ofuscado na alma , pela
ignorância e por fim a morte , se não atingirdes o coração do alto .

ÁUDIO ll

VANELSEN VAN – ( Irritado ) Droga de situação ! Essa louca me persegue .

VOZ DA CIDADE EM CORO – Mande-a para o vale dos esquecidos ..( Três
vezes)

CAVALEIRO AMARELO – (Enfático ) MORTE A ELA !

CAVALEIRO BRANCO – Sejamos razoáveis , já que o prenuncio do grande e


último dia incitou-me agora ao contexto da morte , façamo-la .

VANELSEN VAN – ( Hesitante ) O que quereis que eu faço com a louca


como prêmio ?

OS QUATRO CAVALEIROS – Mate-a agora.

VOZ DA CIDADE – ( Começando a dançar do lento ao frenético ) Mate-a ,


mate-a , mate-a ..

CENA XXXlV – Externa / Dia.

VÓDEO l - ( Joana Louca sendo arrastada , enquanto a dança vai se


avolumando , é levada à forca )

ÁUDIO l

VOZ DA CIDADE – ( Chegando ao ápice do frenesi enquanto a cena da


forca acontece , só parando repentinamente no último suspiro de Joana )
Mate-a , mate-a, mate-a ..( Até fechar a cena )

CENA XXXV – Externa / Dia.


VÍDEO l - ( Vale dos esquecidos )

ÁUDIO l

ASSARI – ( Ensinando os a plantar ) A natureza é pródiga mas ela precisa


de nós , sem a natureza seremos seres propensos a destruição .

NEGRO JOÃO – Na minha terra distante , além da minha imaginação , a


terra respondia às carícias do homem , quando ele semeava , o rio cantava
sua memória , buscando no beija flor , nas borboletas , na passarada , o
canto polinizado do seu bico em terras que sumiam de vista.

NEGRA ZULUA – ( Rindo ) Que terra que é essa homem ? ( Fica triste ,
pensativa ) Nunca saímos daqui !

NEGRO JOÃO – Na terra onde os animais são respeitados e os pardais


brincam no alto do céu azul , numa revoada saudando a natureza.

MARIA – É onde mora a mulher grávida dos meus sonhos ?

NEGRA ZULUA – Nessa terra o vento sibila o amor.

MARIA – É lá , é lá que a mulher mora ! Ela já ganhou o filho ?

LUIS – Maria ! Eu vi o anjo e ele me disse que o menino já nasceu e


morreu adulto.

ASSARI – Maria , os sonhos podem serem reais , quando acreditamos na


voz da natureza .

MARIA – ( Chorando ) Ele já nasceu e morreu ? ( Chora copiosamente )

LUIS- ( Consolando-a ) Maria , o anjo me disse que ele morreu , mas que
viveu de novo e que todos os dias ele nasce , morre e depois vive de novo
nos corações .

JOSÉ – É onde fica a terra do lobisomem ?

JOÃO – O lobisomem mora na alma dos que transgredem a vida .

FÁBIO – Eu não ouvia , era surdo , só ouvi depois daquela música e por
que não ouço essa voz dos que são maus ?
NEGRA ZULUA – ( Abraçando-o ) Oh ! É porque você é puro Fábio .

SEBASTIÃO – ( Chorando ) Ô titia , o Fabio tá me chamando de catarrento


chorão .

NEGRA ZULUA – Não liga não , filho ! O Fabio só está revoltado , ele já
sabe quem é o pai dele ; perdoa-o , vamos !

LUIS – ( Gritando ) Eu vi , eu vi , não sonhei , desta vez eu vi um anjo .

TEREZA –( Todos cercando-o) Ele trouxe comida ?

BENEDITA – Quando você ver ele de novo , diga-lhe para trazer-me uma
boneca nova.

ROSINHA – Diga-lhe que não vou mais fazer maldades.

PENHA – ( Cantando ) “ Os anjos , estão voltando , vem para dizer que


Deus está chegando ..”

CENA XXXVl –

VÍDEO l - ( A cena volta na cidade ao amanhecer )

ÁUDIO l

MADAME RUSKAIA – ( Gritando na porta da boate/boutique ) Ontem fui


roubada e o único suspeito é o escritor Galileu Homero de Falcon ;
Roubou-me os manequins da minha vitrine , preeendam-no !

VÍDEO ll ( Cidade perplexa )

ÁUDIO l

VOZ DA CIDADE – Nunca lemos um livro desse escritor.

HOMEM Vl – Sabemos que ele observa e escreve sobre nós.

MULHER Vl – E é contra o ouro .

HOMEM Vll – Outro dia o vi delirando na ponte.

MULHER Vll – Verdade ! Dizia querer nos levar para outro mundo.

TODOS- ( Rindo ) Outro mundo ? Idiota ! Não existe outro mundo .


ÁUDIO ll – ( Toda a cidade rindo sarcasticamente. )

CENA XXXVll – Interna / Dia.

VÍDEO l - ( Os quatro cavaleiros saindo da multidão , entrando na boate )

ÁUDIO l

CAVALEIRO PRETO – Vamos beber e comemorar o início do triunfo.

MADAME RUSKAIA – ( Olhando-os intrigada ) Uêê ! Os senhores me são


tão familiares ; por ventura não teriam vós , suas excelências , parentesco,
mesmo que distante com a minha finada mãe , condessa Zora de
Bastosquela ?

QUATRO CAVALEIROS – ( Juntos falam como robôs ) Queremos bebida


forte , a mais forte que tiver.

MADAME RUSKAIA – ( Lisonjeando ) Ah , sim cavalheiros ! A nossa legítima


bebida da cidade , feita com o álcool da cana e limão dos lindos vales dos
canteiros nobres dos campos, serve?

QUATRO CAVALEIROS – ( Ríspidos) Arsênico ! Traga nos arsênico .

MADAME RUSKAIA – ( Estarrecida ) UAU .. Ba-bei ! Que fortões !

CENA XXXVlll – Interna / Noite .

VÍDEO l - ( Ruskaia seve a bebida espantada e dirige-se para uma outra


mesa ao lado , enquanto bebem em silêncio , robotizados )

ÁUDIO l

MADAME RUSKAIA – ( Se insinuando ) Gente , como vocês são


interessantes e lindos , é óbvio , e homens também , é claro né ! ( Puxa
mais o decote e cruza as pernas voluptuosamente ) sabem amigos , sou
muito só , mas tenho de me compor , devido as leis conservadoras de
Vanelsen Van , mas tem horas, quando vejo homens tão interessante
assim , me dá uma vontade louca de destrambelhar a rosca da vodka e
mandar todos beberem a vontade , dá .. ah sim .. isso dá ! Aquela Lady
Borovaska é uma ladra ; rouba todo o meu brilho só porque canta e tem
mais dentes de ouro na boca e pepitas do que eu, mas coitada ! Só pode
cantar aquela música e uma só vez ao ano , roubando todos os meus
pretendentes e no entanto , ninguém sabe ,mas ,

ela não é uma mulher assim como eu .

OS QUATRO CAVALEIROS _ ( Virando-se bruscamente o rosto ) Como


assim como eu ?

MADAME RUSKAIA – ( Repentinamente ) É homem transvestido e só eu


sabia.

TODOS – ( Caindo na risada, saem )

MADAME RUSKAIA _ ( Conduzindo-os à porta de saída ) Não precisam de


pagar nenhuma pepita é por conta da casa e voltem mais vezes viu ; os
senhores são tão simpáticos ! Há , ia me esquecendo , amanhã será o
pronunciamento de Vanelsen Van na catedral de monsenhor Lucio Ferro ,
estejam lá ; ah, que bobagem ! Eles compõem a liderança do prefeito; que
tola ! (Põe a mão no queixo ) Estranho ! Ainda acho que os conheço , não
sei de onde.

CENA XXXlX – Externa / Noite .

VÍDEO l -( Monsenhor Lucio Ferro recebendo o povo na porta da igreja)

ÁUDIO l

MONSENHOR LUCIO FERRO – ( Sorridente e cortês ) Sejam bem vindos


prezados contribuintes , suas pepitas dirão do vosso imenso galardão;
bom jour .. bom jour mademonselles ! Madame Rôskamolly , está dii-vi-
na! Há ! Já ia me esquecendo , hoje iniciaremos uma nova campanha de
doações de pepitas , ou seja , quem der mais recebe mais bênçãos do
nosso deus dos ninguéns . Salve , salve , conde Dolary Zadú !

CENA XXXX – Interna / Noite .

VÍDEO l -( Monsenhor Lucio Ferro no púlpito )

ÁUDIO l

MONSENHOR LUCIO FERRO – É com imenso prazer que a casa do deus dos
ninguéns os recebe nesta noite gloriosa de pompa e poder; temos agora
em nosso meio quatro cavaleiros ilustres , os quais compõem agora o
quadro no nosso governo pelo digníssimo ilustre e excelentíssimo prefeito
Vanelsen Van !

ÁUDIO ll

IGREJA SE LEVANTANDO COM BANDEIRAS – Salve o nosso líder , grande


Vanelsen Van o nosso deus e senhor . SALVE !!

CENA XXXXl – Interna / Noite .

VÍDEO l - ( Vanelse Van assumindo o púlpito)

ÁUDIO l

VANELSEN VAN – Prezados companheiros ! É com muita satisfação que


lidero o meu povo a uma sociedade absoluta e os nossos ideais
convergem-se para o ouro , nosso bem maior ; a pepita , nossa moeda
interna , de valor inestimável com o seu brilho perdurando aos nossos
olhos e a cidade sendo reluzida no esplendor de sua luz ;sendo assim
então digo a todos vós meus fiéis comandados , VIVA O OURO !!

CENA XXXXVlll – Interna / Noite .

VÍDEO l - ( A igreja entra em delírio com os quatro cavaleiros trazendo a


grande pedra de ouro em uma plataforma )

ÁUDIO l –

VOZ DA IGREJA – Som de êxtase e delírio .

CENA XXXXll – Interna / Dia.

VÍDEO l ( O quatro cavaleiros pondo a pedra em cima do púlpito )

ÁUDIO l

VANELSEN VAN – Eis ai meus fiéis considerados , o ouro extraído do nosso


rico solo .

ÁUDIO ll –
GALILEU HOMERO DE FALCON – ( Entrando ) O solo tão rico do ouro
expurgando seu brilho no valor da pele de cada um, aos olhos extasiados
pela ganancia dos farrapos rotos , fincados na alma de uma sociedade
repugnantemente mentirosa; são produtos deste meio consumista e
pretencioso , sem nem sequer saber quem realmente são e eu vos digo ,
são meros fantoches movidos pelo estigma do ouro.

VANELSEN VAN – ( Irritado ) Estúpido , louco !

OS QUATRO CAVALEIROS – Quem é esse imbecil que ousa afrontar este


parlamento ?

MADAME RUSKAIA – ( Levantando-se resoluta ) É ele , o maldito escritor !


Roubou meus bonecos da minha vitrine , eu vi , prendam-no !

CAVALEIRO VERMELHO – Estabelecerei uma guerra existencial e assim


provarei a cidade que este homem é louco.

VANELSEN VAN – Consentido !

CAVALEIRO PRETO – Essa mulher denunciou Lady Borovaska.

CAVALEIRO AMARELO – Sim ! Disse nos que a cantora fere os princípios da


moralidade estabelecida pela sua autoridade .

CAVALEIRO BRANCO – É uma ladra , rouba a atenção e a libido dos


homens .

VANELSEN VAN – Como assim ?

CAVALEIRO BRANCO – Não é uma mulher .

VANELSEN VAN – Hãmm !!

TODOS OS VAVALEIROS – É um homem !

VANELSEN VAN – ( Enfático ) Sou um governo democrático e para provar-


lhes isso , haverá agora uma decisão sobre os dois réus , o escritor Galileu
Homero de Falcon e a despudorada Lady Borovaska ou messiê Borovaska,
ladra ou ladrão , sei lá !

LADY BOROVASKA – ( Levantando-se ) NÃO ! Eu sou uma dama .


IGREJA – Risos debochados .

VANELSIN VAN – A quem quereis que eu solte , o messiê Borovaska ladrão


de corações ou o estúpido Galileu ?

IGREJA – Messiê Borovaska , messiê Borovaska .. ( três vezes )

VANELSEN VAN – O que quereis que façamos com o escritor traidor ?

IGREJA – Crucifica-o , crucifica-o , crucifica-o !!

VANELSEN VAN – E com o ladrão de corações , messiê Borovaska ?

IGREJA – Vamos apedrejá-la , apedrejá-la , apedrejá-la !!

GALILEU HOMERO DE FALCON – A mim podeis crucificar , pois para isso


vim até vós , mas ela , é somente uma escrava da sua ganancia ,assim
como todos vós.

IGREJA – Está decidido , vamos apedreja-la .

GALILEU HOMERO DE FALCON – Aquele que não tiver culpa que atire a
primeira pedra.

VÍDEO ll – ( Todos empurrando Galileu Homero de Falcon e Lady


Borovaska para a praça ; uns começam a pregar Galileu na cruz , outros
vão apedrejando Lady Borovaska que foge apedrejada para o vale dos
excluídos . )

CENA XXXXlll – Externa / tarde.

VÍDEO l – ( A cruz sendo erigida )

ÁUDIO l ( Ópera )

01 TENOR – Quiseste ser o melhor e no entanto eras só um pobre escritor.

GALILEU HOMERO DE FALCON – Eu sou o que sou , o ouro de vossas almas


e mesmo assim não entenderam , porque eu sou o ouro que ofusca os
olhos desta existência e brilha na alma em um recanto porvir .

03 MULHERES CONTRALTO – Ho ! Como podeis ser o ouro se apenas seus


trajes condizem com esse brilho , se viestes de uma plebe rude ?
TODOS – Plebe rude ! Menos que o nada de uma pepita de lata
enferrujada .

GALILEU HOMERO DE FALCON – Minha boca tá seca ,tão seca como vossas
justiças , mas se traduz na secura de vossas almas ; tenho sede e agora
quero água, água e não ágora agora .

TENOR – Deem-lhe o ácido puro da sarjeta dos pobres.

03 MULHERES CONTRALTO – Deem lhe a resina escura da noite sombria.

GALILEU HOMERO DE FALCON – Água , quero água !

TENOR- ( Chegando em sua boca uma haste com uma esponja) Olha o
soro do nosso ouro escorrido entre o rio.

TODA A CIDADE – ( Rindo ) Beba , beba , beba o sebo da ferrugem.

VOZ DA CIDADE- O lixo ! Beba do lixo a baba salgada da pobreza.

TENOR – Beeebaaaaaaaa !!

GALILEU HOMERO DE FALCON – Não conheces o outro lado da moeda , se


dais a Vanelsen o valor literal do ouro ,dais ! Mas o seu feitor, verdadeiro
feitor , depositou o seu real valor nos bancos das almas .

OS QUATRO CAVALEIROS – ( Falando ) Este homem blasfema , blasfema


contra o deus dos ninguéns .

TODA A CIDADE – ( Dançando freneticamente ,cantando ) Vemos uma


negra escuridão que abate sua alma e mesmo assim nos promete o brilho
do ouro ; és feio e deformado nesta cruz e ainda assim suborna-nos com
um brilho que nossos olhos não conseguem ver. MORTE , MORTE AO
ESCRITOR , MORTE !!

GALILEU HOMERO DE FALCON – Pai , perdoa-os , eles não querem saber o


que fazem ; o brilho do ouro deste mundo condicionou suas mentes .
(Trovões e relâmpagos ) Pai , está consumado . ( Inclina a cabeça )

CENA XXXXlV – Interna / Dia .

VÍDEO l – ( Concilio na catedral )


ÁUDIO l –

CAVALEIRO BRANCO – Pois bem senhores , terminou aqui minha terefa.

VANELSEN VAN – O que está dizendo ?

CAVALEIRO PRETO – Sim ! Ele quis apenas dizer que agora devo intervir.

VANELSEN VAN – E qual é a finalidade ?

CAVALEIRO PRETO – Para a segurança do seu império , devemos


estabelecer uma guerra , sim , uma guerra , mas porém uma guerra
existencial , fazendo com que cada um busque a sua própria identidade ,
caso não a encontrem , voltarão ao seu domínio totalmente subestimados

.VANELSEN VAN – Excelente ! E depois ?

CAVALEIRO PRETO – Sim, e depois ? Depois entrarei em cena , caso me


permita , lançarei sobre todos a escassez da pepita , ou seja , o ouro
concedido será monitorado pela falta e enfim , verão que os tempos de
glória são oriundos das mãos de sua excelência .

VANELSEN VAN –( Levantando – se ) MAGNÍFICO ! Comecem


imediatamente .

CENA XXXXlV – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Som do rádio amador sobre a cidade . )

ÁUDIO l –

VOZ DO RÁDIO AMADOR – Bom dia lindo povo desta bela cidade ; Temos
hoje algo muito importante a relatar vos ; é que por um mandado urgente
do nosso excelentíssimo prefeito Vanelsen Van , foi instaurado uma nova
lei que se cumprirá em uma gincana municipal , cujo teor do decreto é
este : Todo morador deverá de buscar e retratar sua identidade num
manuscrito instalado na praça da cidade , se porventura sua página estiver
em branco , sem nenhum relato , confirmará suas inscrições do acordo
com o governo em submissão total sem o privilégio da distribuição da
pepita e terás do estado o domínio reacionário .
CENA XXXXV – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Cidade em movimento , olhando assustados um para o outro ,


com papéis e canetas ( pena ) na mão , outros com notebook, etc. indo de
um lado para o outro )

ÁUDIO l

HOMEM l – ( Com notebook digitando ) Deus dos ninguéns ! ( Gritado )


Quem eu sou ? Meu eu inflado de substâncias douradas impedem-me de
ver minha alma. ( Grita com sangue esvaindo pela boca . )

VÍDEO ll – ( Conversa entre mulheres )

ÁUDIO ll

TODOS- Quem somos e por que esta seta indica um vazio ?

HOMEM ll – Desçam , desçam aos porões de suas vidas e busquem.

MULHER lll– Somos chic’s e isso é uma resposta .

MULHER l – ( Em confronto com outra mulher )O que achou de si na


busca ?

MULHER ll – ( Sorrindo ) Tenho um trunfo , quando o escritor morreu ,


comecei a acreditar no que disse e agora encontrei a minha identidade no
perfil dele naquela cruz e está aqui ( Mostra o coração ) dentro do meu
coração .

MULHER l – ( Metendo a mão no peito esquerdo da outra , arrancando-lhe


o coração com as mãos) Vou roubar-lhe essa graça . (Gritam
histericamente )

VÍDEO lll ( Conversa entre outras mulheres )

ÁUDIO l

HOMEM l- Nossas roupas e vestes traduzem quem somos.

MULHER lll – ( Para a mulher l V ) O que faremos agora ?

MULHER l V – O nosso diário , temos os nossos diários .


MULHER V – SIM !! Nele contém todo os nossos dias e o nosso perfil na
íntegra.

MULHER lll –( Abrindo o diário em branco ) Alguém apagou minhas letras ,


está em branco .

MULHER l V – ( Rindo ) Eu sabia ,sua vadia ! Você é lisa , lesa e lapidada .

MULHER l – ( Olhando para a mulher lll ) Vamos ficar com o diário dela
.(Avançam tirando o diário da mulher l V , lutando no chão ) O diário dela
também está em branco .

TODAS AS MULHERES – ( Abrindo seus diários dando um grito ) Todos os


diários estão em branco .

CENA XXXXVl- Externa / Dia .

VÍDEO l ( Toda a cidade em movimento acelerado , alguns caídos


ensanguentados. )

HOMEM ll – ( Chamando a atenção para si com um discurso ) Atenção !


Todos que compõem esse fatídico cenário devemos nos unir , pois somos
um grupo maior e estabelecermos uma nova regra do jogo ao estado .

TODOS – Isso é dissidência !

HOMEM lll – Ou escrevermos na pedra da praça uma mentira sobre nós .

HOMEM lV – Ele saberá que é mentira .

MULHER lll – Ele é o rei da mentira ; saberá sim .

HOMEM ll – Se criarmos uma nova ordem democrática , criando o estado


laico , a instauração de ordem sindical e a proliferação partidária como
opção de liberdade de expressão política há um novo contexto , o qual
podeis sugerir .

HOMEM LV – ( Gritado dentre o grupo ) PC !

MULHER LV – PMDB !
HOMEM V – Puta que pariu !

HOMEM V – Glasnost !

TODOS – Perestróika !!

HOMEM Vl – ( Bem alto ) E viva a nova ordem !

MULHER l V – ( Dando um grito , abortando um feto ) Ajudem-me , meu


baby está saindo antes da hora ; por favor , ajudem-me !

TODOS – ( Repugnando-a ) Ela é impura , tá doente , vamos expulsa-la


daqui. ( Xingando vão se desfalecendo expurgando sangue pelas bocas .)

CENA XXXXVll – Externa / Dia .

VÍDEO – ( Vanelsen Van e os quatro cavaleiros entrando na praça junto a


pedra com a cidade desfalecida no chão )

ÁUDIO l

VANELSEN VAN – ( Mexendo nas folhas soltas em cima da pedra )Todos os


papeis em branco ; tiveram uma ótima ideia .

CAVALEIRO PRETO – Agora vamos decretar a escassez total do ouro e com


a experiência da fome de víveres e a sede da mente em angústia pelo
deserto reinante em cada alma , verão a sua glória ascender-se em todo o
universo .

VANELSEN VAN – Que assim seja .

CENA XXXXVlll – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( A fome na cidade )

ÁUDIO l

TODOS – ( Olhando assustados para o alto ) O rádio amador !


VOZ DO RÁDIO AMADOR – ( Enquanto o texto vai se passando , a cidade
em SLOW MOTION segue o drama da fome ) A algo de inédito
acontecendo na cidade , onde seus habitantes convivendo com o
inesperado , se aglomeram na praça , esfomeados , roubam a comida das
bocas dos cachorros e deflagram uma animosidade perversa , cada um
querendo se vender a preço de bananas , aflorando em seus sentidos o
real valor de suas almas , matando e comendo os animais e quando não , a
própria carne viva purgando no asfalto , mas sobressaltados veem a
imagem de uma suposta assombração se aproximando .

TENOR – ( Olhando para o alto ) Esse rádio amador !

VOZ DA CIDADE – ( Sobressaltados ) Olhem ! A pessoa do escritor Galileu


Homero de Falcon , morto há três dias atrás .

HOMEM l – É uma assombração !?

MULHER l – O monsenhor Lucio Ferro nos garantiu que os mortos voltam .

TODOS – SERÁ !! Quem é você afinal ?

GALILEU HOMERO DE FALCON – Desço aqui neste vosso inferno astral,


neste período , no mais profundo âmago de suas existências , como
sempre faço em todo os tempos , pois também sou atemporal e dono do
próprio tempo , eu faço o tempo e neste tempo estive também dentre vós
e não me reconheceram , assim como agora não me reconheceriam , se
não me passasse por um ser comum , desprovido literalmente desse ouro,
Pois tendes o valor do ouro cravado em vossos olhos , mas trouxe-lhes um
outro valor , o do ouro brilhando em vossas almas ,donde reluz nas
sombras da escuridão o brilho da ciência ,do universo do espírito ,da
vida,,recusaram;

Mesmo assim voltei e voltarei sempre com a mesma proposta : Vivendo


dentre vós , morrendo por vós e ressuscitando por vós dentro de uma
instituição, a ela delegada essa tarefa. ( Vai saindo lentamente
desaparecendo no tempo . )

TODOS- ( Aos gritos ) Volte , volte aqui sua assombração e nos leve , nos
tire da penumbra desta escuridão maldita.
CENA XXXlX – Interna / Dia .

VÍDEO l – ( A cidade em polvorosa aos gritos , cai por terra )

ÁUDIO l – Gritos histéricos da cidade .

CENA Llll – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Vanelsen e os quatro cavaleiros entrando )

ÁUDIO l –

VANELSEN VAN - Enfim , agora os terei cativos ?

CAVALEIRO BRANCO – Ainda não majestade .

VANELSEN VAN – Como assim , ainda não ?

CAVALEIRO VERMELHO – Passou a paz sustentável do ouro , a falsa paz ;a


guerra existencial , a fome e o teor da inanição na alma e por fim , a
desolação do espírito .

VANELSEN VAN – E agora como ficaremos ?

CAVALEIRO PRETO – ( Rindo entre os dentes ) Nada melhor que a fome


para dominar um cérebro desnutrido de informação .

VANELSEN VAN – Poderá desencadear uma hecatombe social .

CAVALEIRO VERMELHO – Entre as formas e as reformas de uma era


inusitada , a avalanche dos guetos , escuras sombras no deserto.

VANELSEN VAN – Hilário !

CAVALEIRO AMARELO – Na justa distribuição da pepita ao capital, uma


parcela privilegiada , à divisão social das classes.

VANELSEN VAN – A classe subdividida em subclasses .

CAVALEIRO PRETO – Mas manteremos a hierarquia da burguesia.

VANELSEN VAN – E os outros ?

CAVALEIRO VERMELHO – Oras excelência ! Estais preocupado com os


outros ?
CAVALEIRO BRANCO – Os outros proliferarão nas sarjetas como erva
daninha no pasto , em classe média , classe baixa , classe dos farrapos
humanos, classe dos mortos de fome , dos loucos, bandidos , escravos,
mortos de fome , miseráveis , religiosos ,etc.

CAVALEIRO BRANCO- Venderão suas vontades, suas próprias almas


enferrujadas em troca de um par de botinas.

VANELSEN VAN – ( Inquietante ) SIM ! Mas .. e agora ?

CAVALEIRO AMARELO – Tereis a cidade na palma das mãos , se a sombra


escura da morte passear sobre suas almas cansadas , porque maior que a
fome e a desgraça humana , é o medo da desconhecida morte .

VANELSEN VAN – E como faremos isso ?

CAVALEIRO PRETO – Sou perito nesta causa , pois detenho o signo da


morte ; mas para continuarmos sendo democráticos , estabeleceremos
um desafio à cidade e a prova será esta : A cidade terá de tocar o coração
de Eloin cantando uma música vinda dos seus corações .

VANELSEN VAN- ( Irritado ) Elóin , Elóin , Elóin!! Rsss.. Elóin !

CAVALEIRO AMARELO – E obviamente que a cidade não tem mais coração


.

VANELSEN VAN – ( Dando uma gargalhada sinistra ) Que maravilha ! Não


tem coração ! O coração deles me pertence , a mim a ao OUROOOOO!!

CENA L – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Enquanto a voz do rádio amador vai se desenvolvendo , a


cidade vai se levantando devagar olhando para cima )

ÁUDIO l -

VOZ DO RÁDIO AMADOR - Atenção , atenção , moradores desta bela


cidade do ouro , um novo decreto do seu magnífico prefeito Vanelsen
Van, sugeriu que a cidade ensaiasse e cantasse uma música vinda lá do
coração e que esta música tocasse o coração de um tal Eloin , para que a
cidade não seja destruída é necessário que se faça isso ,
Do contrário seremos todos dizimados .

VÍDEO ll – ( A cidade corre acelerada , gritando alucinadamente )

ÁUDIO l

VOZ DA CIDADE – ( Todos apavorados ) É outro anuncio do rádio amador .

TENOR – ( Gritado ) Esperem ! Temos de nos organizar . ( Todos param


repentinamente ) Vamos começar a ensaiar e que todos cantem com a
alma e com o coração .

Cena Ll – Interna / Tarde .

VÍDEO l – ( Casa dos excluídos )

ÁUDIO l –

INDIO ASSARI – ( Entra agitado ) Estava na parte alta e de lá ouvi o anuncio


do novo decreto .

NEGRO JOÃO- O que é isso índio ?

NEGRA ZULUA – Calma João ! Vamos ver o que o índio Assari ouviu.

INDIO ASSARI – O homem da voz no ar dizia que se a cidade não tocar o


coração , eu não entendi de quem , mas acho que é o coração de Tupã
com uma música vinda da alma e do coração dos homens , a cidade vai ser
destruída; o maldito Anhangá pode matar a cidade.

NEGRO JOÃO – O Deus supremo de Iolorubá pode intervir.

NEGRA ZULUA – Mas João , esse desafio não é de Olorum .

INDIO ASSARI – O desafio é do Anhangá .

NEGRO JOÃO – A mulher cantora que fugiu para cá pode nos ajudar com
uma música também.

NEGRA ZULUA – Temos de preparar os outros e temos também a


possibilidade de invadirmos a cidade.

INDIO ASSARI – Enquanto ensaiam , vou falar com Tupã na parte alta
daqui .
NEGRO JOÃO- Mas Zulua e o muro ?

NEGRA ZULUA – Temos de dizer para eles que o muro não existe ,que foi
forjado na mente e que podemos sair sim.

NEGRO JOÃO- Mas.. e o prefeito ? Ele nos paga com pepitas , mesmo
excluídos, nos paga para cuidarmos dos doentes .

CENA Lll – Externa / Tarde .

VÍDEO l – ( João e Zulua chamando os outros )

ÁUDIO l –

ZULUA – ( Gritando ) Maria , José , Tereza ,Tadeu, cadê vocês ?

FABIO – ( Chegando ) Tia Zulua eu ouvi a senhora chamando .

NEGRO JOÃO – Fabio , onde estão os outros ?

FABIO – Estão na horta com a cantora .

CENA Llll – ( Externa / Tarde.)

VÍDEO l – ( Chegando na horta . )

ÁUDIO l

NEGRO JOÃO – Vocês , todos vocês , vamos começar uma nova


brincadeira .

SEBASTIÃO – A titia tá ensinando a gente cantar.

NEGRA ZULUA – Parabéns ! É sobre isso mesmo que viemos falar .

LADY BOROVASKA – Como assim ,sobre a música é alguma restrição ?

NEGRO JOÃO – Não mileide ! É que vamos ensinar e ensaiar com eles uma
nova música .

NEGRO JOÃO – É ! E dessa vez vamos cantar para Olorum e tentar tocar o
coração dele.

NEGRA ZULUA – Sim ! Depois invadiremos a cidade , assim eu creio .


VIDEO ll – ( Os excluídos entram em polvorosa )

ÁUDIO ll –

BENEDITA – ( Apavorada ) NÃO ! O muro não .

LUIS – Tem o muro , eu tenho medo dele !

VÍDEO lll – ( Começam a chorar exaltados )

ÁUDIO lll-

LADY BOROVASKA – Calma , calma ! Que muro é esse ? Não tem muro
nenhum .

NEGRA ZULUA – ( Chorando ) O muro foi forjado nas mentes , para que
nunca voltássemos .

NEGRO JOÃO – Olorum , nos perdoe ! Fomos forçados a omitir esse fato ;
Olorum nos perdoe , pois o mesmo muro está também em nossas mentes.

LADY BOROVASKA – ( Decidida ) A-CABOU ! Vamos , levantem –se que o


muro é uma mentira .

INDIO ASSARI – ( Se aproximando ) É mentira do Anhangá.

LADY BOROVASKA – Da política desses miseráveis .

VÍDEO LV – ( Sentam se no chão e começam a ensaiar )

CENA LlV – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( A cena volta na praça com eles já cantando )

ÁUDIO l – ( Letra da música , um misto de sacro com funk e outros ritmos.)

VOZ DA CIDADE CANTANDO –

Oh ! Infinito ouro

Onde escondo um tesouro

Dentro do coração de lata ,

Oh, infinito tesouro


Que se mistura ao zinabre

Da alma dilacerada

Na ferrugem do engodo ,

Rogai por nós na virada ,

Na virada desse funk.

TENOR – ( Animando-os ) Vamos , cantem , cantem mais alto que esse


cara existe mesmo e poderá ouvir se levantarem suas vozes ; cantem !

VOZ DA CIDADE CANTANDO UM FUNK –

Se comer o pão

Que Vanelsen amassou

Vou comer

Vou comer

Vou comer

E morder,

E morder devagarzinho

Vou comer o seu

Cozinho ou não cozinho

Na lenha o espeto

No fogo do seu rasto

Vira lata prá xuxú

Vou morder no seu rabo

Rabo,

Rabo, e

Pedir mais angu


Mais angu

Mais angu.. ( Vão cantando o refrão e dançando até desfalecerem no


chão)

TENOR – ( Apavorado ) Levantem-se , vamos seus idiotas , levantem-se e


cantem , seus molengas ! LEVANTEM-SE !! ( Cai desfalecendo-se) Le-van-
temmmmmm.

VANELSEN VAN- ( Se aproximando da cidade caída ) Eu sou o deus de


vocês e detenho todo o processo de suas vidas em minhas mãos .
Tentaram com vossos corações falidos atingirem o coração deste
desconhecido, ( Gritado ) Mas eu sou o vosso deus!!

CENA LV – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Todos do vale dos excluídos andando rumo ao muro e à cidade)

ÁUDIO l – (VOZES DE TODOS OS EXCLUIDOS CANTANDO-)

VANELSEN VAN – ( Olhar aterrorizado) Maldição ! Que música é essa ?

-Mais perto quero estar

Meu Deus de ti

Ainda que seja a dor

Que me leve a ti ,

Sempre hei de suplicar

Mais perto quero estar..

CENA LVl – Externa / Dia .

ÁUDIO l –( A música continua sendo cantada)


VÍDEO l – ( Quando chegam na demarcação do muro com bandeiras
pretas, alguns recuam com medo e a cena de um anjo passando e
derrubando as bandeiras .)

TEREZA- ( Recuando ) Ahhh ! O muro , nãoooo !!

JOSÉ – ( Chorando ) Eu tenho medo do muro .

BENEDITA- Ele me sangrou no nariz todas as noites.

VÍDEO ll – ( Se recompõem transpondo o muro cantando , com cenas


diversas de outros muros da história mundial literalmente caindo ao
transpassarem. )

ÁUDIO ll –

TODOS OS EXCLUÍDOS – Continuam cantando a música até adentrarem a


cidade.

MÚSICA CANTADA PELOS EXCLUÍDOS, LOGO SENDO ACOMPANHADOS


POR UM NÚMERO GRANDE DE CRIANÇAS E QUANDO ADENTRAM A
CIDADE, VÃO SOERGUENDO O POVO CAÍDO NO CHÃO.

CENA LVl – Externa / Dia .

VÍDEO l – ( Vanelsen Van chegando com uma arma na mão )

ÁUDIO l

VANELSEN VAN – Malditos ! O que fazem fora do gueto dos excluídos ?

NEGRA ZULUA – ( Caminhando rumo a ele ) Sua máscara caiu , seu ouro
caiu , sua moral caiu , porque Olorum é o único senhor do universo .

VANELSEN VAN – Voltem para o seu reduto e leve também esses


desgraçados.

FÁBIO – PAIÊÊÊ !!
VÍDEO ll – ( Vanelsen Van se assusta puxando o gatilho atingindo Negra
Zulua no peito )

ÁUDIO ll

TODOS – NÃÂOOOOOOOOOOOO !!

FABIO= ( Chorando , abraça o corpo de Negra Zulua )

FABIO = Mamã , mamã , mamã ..

CENA LXll – Interna / Dia .

VÍDEO l – ( Todos correm para o lado de Vanelsen Van , pegando-o ,


lançando-o fora )

TODOS –( Cena feita em croma kay ) FORAAAA !!

CENA LXlll – Interna / Noite .

VÍDEO l – ( Vanelsen Van cai sentado numa cadeira giratória de escritório )

ÁUDIO l

VANELSEN VAN – ( Girando a cadeira , com uma caneta na boca )


Expulsaram-me , mas voltarei , nem que seja em outra cidade e farei com
que se perca no tempo também sob o domínio do ouro , ou mesmo de
uma cobiça qualquer ; talvez um esporte que os aliene e os faça esquecer
que estou no poder, que sou o poder, mas voltarei ; voltarei ! ( Dá uma
gargalhada e uma última guinada na cadeira ) Porque EU SOU
DEUSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS !!!!!!!!!!

FIM

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