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PORTUGUÊS A2.

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Mitos, lendas e histórias do além-túmulo
A. Antes de começar... Leia a lenda do guaraná, da região Norte do Brasil:
Conta a lenda que em uma aldeia dos índios Maués havia um casal,
com um único filho, muito bom, alegre e saudável.
Ele era muito querido por todos de sua aldeia, o que levava a crer
que no futuro seria um grande chefe guerreiro. Isto fez com que
Jurupari, o deus do mal, sentisse muita inveja do menino.
Por isso resolveu matá-lo. Então, Jurupari transformou-se em uma
enorme serpente e, enquanto o indiozinho estava distraído colhendo
frutinhas na floresta, ela atacou e matou a pobre criança.
Seus pais, que de nada desconfiavam, esperaram em vão pela
volta do indiozinho, até que o sol foi embora. Veio a noite e a lua começou a brilhar no
céu, iluminando toda a floresta. Seus pais já estavam desesperados com a demora do menino.
Então toda a tribo se reuniu e saíram para procurá-lo. Quando o encontraram morto na floresta,
uma grande tristeza tomou conta da tribo.
Ninguém conseguia conter as lágrimas. Neste exato momento uma grande tempestade caiu
sobre a floresta e um raio veio atingir bem perto do corpo do menino. Todos ficaram muito
assustados. A índia-mãe disse: "É Tupã que se compadece de nós. Quer que enterremos os
olhos de meu filho, para que nasça uma fruteira, que será nossa felicidade". E assim foi feito.
Os índios plantaram os olhos do indiozinho imediatamente, conforme o desejo de Tupã, o rei do
trovão.
Alguns dias se passaram e no local nasceu uma plantinha que os índios ainda não conheciam.
Era o guaranazeiro. É por isso que os frutos do guaraná são sementes negras rodeadas por uma
película branca, muito semelhante a um olho humano.
Retirado de: https://www.sohistoria.com.br/lendasemitos/guarana/

1. Os mitos e as lendas são relatos fantásticos da tradição oral e do folclore1


dos povos, protagonizados por seres que encarnam forças da natureza e
aspectos gerais da condição humana. Os mitos e lendas também fazem
parte do imaginário coletivo, e explicam a origem de determinados
fenômenos naturais e seres vivos. Por exemplo, a lenda brasileira da mulher
que se apaixona por Jaci, deus da Lua, explica a origem da vitória-régia,
grande planta aquática da região amazônica. Outros mitos, como as fábulas,
têm uma função moralizante, com seres sobrenaturais que castigam os
seres humanos por seus vícios e comportamentos socialmente censurados.
O boto cor-de-rosa, por exemplo, acostuma seduzir e engravidar moças
desacompanhadas metamorfoseado em um rapaz elegantemente vestido;
ao Velho do Saco os pais ameaçam com entregar as crianças rebeldes; e a
Cuca, também conhecida como Bicho-papão, é uma bruxa horrenda com
cabeça de jacaré que rapta crianças travessas. Por sua parte, seres míticos, como duendes e
outros espíritos, extraviam os viajantes e pregam todo tipo de peças2 nas pessoas (...)
________________
1
Conjunto de costumes, manifestações artísticas e crenças de um povo, preservados pela tradição; sabedoria popular.
2
Pregar uma peça: preparar uma artimanha por brincadeira ou maldade.

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2. Comente:
• Quais são os mitos e lendas mais conhecidos no seu país?
• Quais mitos têm uma função moralizante?
• Com quais figuras fantásticas atemorizam as crianças no seu país?
• Você acredita nesses mitos e lendas?

B. Vamos lá! Mitos e lendas de todos os tempos


1. Veja as figuras míticas e lendárias mais conhecidas do folclore brasileiro.

Saci-Pererê: É descrito como Iara: Muito conhecida na


um menino negro de uma região Norte, é descrita como
perna só, sempre com seu uma mulher com cauda de
cachimbo e seu gorro peixe que seduz os homens
vermelho; e dependendo da que estão à margem dos rios
região pode ser benigno ou com sua bela voz e bela
maligno. Dizem que se aparência. Dizem que era a
manifesta na natureza como filha de um pajé, famosa por
um redemoinho de folhas suas habilidades como
secas, e que gosta de invadir guerreira. Enfrentou a inveja
casas e fazer travessuras de seus irmãos, sendo lançada
como trançar as crinas dos por seu pai a um rio como
cavalos e sugar-lhes o sangue. castigo por tê-los matado.

A mula sem cabeça: A Pisadeira: Lenda popular no


Presente não só no folclore do interior de Minas Gerais e em
Brasil, mas também em outros São Paulo, é uma mulher de
países da América Latina, a aspecto terrível, com olhos
mula sem cabeça seria uma vermelhos, nariz pontiagudo e
mulher amaldiçoada por ter unhas compridas, que fica nos
dormido com um padre. Na telhados aguardando que as
virada de quinta para sexta- pessoas vão dormir. Quando
feira, a mulher se converte em alguém se deita de barriga
uma mula com labaredas no cheia, a Pisadeira sai de seu
lugar da cabeça, que ataca esconderijo e pisa no peito da
todas as pessoas que encontra pessoa, paralisando-a. A vítima
pelo seu caminho. fica consciente e desesperada.

Boitatá: Dizem que quem Curupira: Entidade protetora


encontra esse ser mágico pode dos bosques que ataca quem
enlouquecer, ficar cego ou desrespeita a natureza, fazendo
morrer. Boitatá é descrito como com que se perca na mata.
uma serpente de fogo, Descrito como um anão de
metamorfose de uma cobra cabelos vermelhos, seu traço
faminta de tempos antigos que mais característico, no entanto,
gostava de devorar os olhos dos são seus pés virados para trás.
animais da floresta. Há quem Dizem também que monta um
diga, porém, que a tal da cobra porco do mato. Algumas
luminosa não é mais do que um pessoas acostumam deixar-lhe
fogo-fátuo, muito comum nos esteiras e rolos de fumo como
pântanos e cemitérios. oferenda.
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1. Responda de acordo com a descrição das lendas:
• Qual ou quais desses seres fantásticos têm uma função moralizante?
• Qual ou quais desses seres fantásticos explicam fenômenos da natureza?
• Qual ou quais desses seres fantásticos podem ser tanto bons como maus?
• Qual ou quais desses seres fantásticos são próprios de uma certa região do Brasil?
• Qual ou quais desses seres fantásticos são encontrados também fora do Brasil?

2. Comente: Quais figuras há no folclore de seu país parecidas com as brasileiras? Por que você
acha que há figuras parecidas em países diferentes? Com base nos seus próprios medos,
como seria uma figura fantástica atemorizante para você? Qual seria para você uma situação
verdadeiramente medonha?

3. Ao longo dos anos, muitos mitos e lendas tradicionais


desaparecem e outros se transformam no contexto das
novas dinâmicas sociais e culturais das cidades. As lendas
urbanas também refletem medos e inquietações dos
sujeitos urbanos, razão pela qual podemos encontrar o
mesmo mito em diferentes países, e narram eventos
fictícios ou com certo fundo de verdade, porém exagerados
e acrescentados com detalhes fantásticos. Como os mitos e lendas tradicionais, as lendas
urbanas também podem ter uma moral ou pretendem corrigir vícios das pessoas.
Muitas lendas inclusive já foram criadas nas redações de jornais sensacionalistas e
permanecem no imaginário coletivo das pessoas, muitas das quais afirmam ter visto ou
presenciado os acontecimentos fantásticos. Entre as mais famosas lendas urbanas do Brasil
encontramos a Loira do Banheiro, o espírito de uma mulher morta que assombra os
corredores de uma escola construída no local onde ficava a sua casa, entre outros.

A moça do táxi
Reza a lenda que certa vez, um taxista encerrava o expediente depois
de um longo dia. Era de madrugada. Quando o taxista já se encaminhava
para sua casa, apanhou no cemitério uma bela moça que precisava de uma
corrida até a igreja. Ali, a mulher desceu e entrou para rezar, mas antes
pediu para o taxista a esperar fora. Depois de rezar, a mulher pediu para o
taxista a levar de volta para o cemitério, e, quando chegaram, lhe disse
que estava sem dinheiro, que passasse na sua casa no dia seguinte para
lhe pagar a corrida.
Irritado, o taxista não teve mais o que fazer do que esperar até o dia seguinte. Cedo de
manhã, foi ao endereço que a moça lhe indicou. Foi recebido por uma senhora, a quem o taxista
lhe contou o que tinha acontecido na noite anterior, mas a senhora não acreditou. Convidado
para entrar, o taxista avistou na sala o retrato da moça a quem ele tinha levado no táxi. O
taxista apontou para o retrato e disse: “É aquela moça”. A senhora ficou em choque, e informou
que a mulher do retrato era a sua filha, que tinha falecido de tuberculose vários anos atrás.
Confira a origem da lenda aqui:
http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/11/sepultura-de-moca-do-taxi-atrai-curiosos-em-belem.html
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4. Comente:
• Você já tinha ouvido falar da moça do táxi? Você acha que tenha um fundo de verdade na
estória? Quais lendas urbanas existem no seu país? Quais medos, aspectos da condição
humana ou lições morais podemos ver nessas lendas?
• Procure na internet outras lendas urbanas do Brasil e comente-as.

C. Saiba mais! Estórias de terror


Segue uma estória de terror na qual faltam alguns
verbos no pretérito imperfeito e no pretérito perfeito
simples. Selecione uma das sequências de tempos
verbais da tabela abaixo (a, b, c ou d) para completar
cada um dos parágrafos (1, 2, 3 e 4).
Confira o gabarito na página 78 desta unidade.

1. Quando eu ____________ criança, minha avó sempre me ____________ histórias horríveis


sobre lobisomens, mulas-sem-cabeça e outros monstros que ____________ as pessoas pela
noite. Naquela época eu ____________ que nada disso aconteceria comigo...
2. Mas, numa bela noite de verão em que eu ____________ sozinho em casa, eu ____________
para a cozinha e ____________ a escutar um barulho estranho. O esquisito era que a cada
passo que eu ____________, o barulho ____________.
3. Nesse instante eu me ____________ inteiro, ____________ o suor frio escorrer da minha testa
e ____________ até escutar meu coração batendo, nervoso. Na verdade, eu ____________
com muito medo. ____________ a rezar.
4. Porém, depois eu ____________ que o barulho ____________ dos meus próprios chinelos, que
____________ molhados e ____________ barulho quando eu ____________. Que vergonha!
Depois disso eu dei muita risada da situação.

(Texto preparado pelo professor Felipe Honório para o material de apoio do curso Português e Cultura
Brasileira, nível 2, do Centro de Estudos Brasileiros, Cali, Colômbia, 2018, pág. 65)

1. 3.
a. era; contava; assustaram; pensava a. arrepiava; sentia, podia; fiquei; começava
b. era; contava; assustavam; pensava b. arrepiei; senti; pude; fiquei; comecei
c. era; contou; assustaram; pensava c. arrepiava; senti; pude; ficava; comecei
d. era; contou; assustavam; pensei d. arrepiei; senti; pude; fiquei; começava
2. 4.
a. estive; ia; começava; dei; recomeçava a. percebi; vinha; estavam; faziam; andava
b. estava; fui; comecei; dava; recomeçou b. percebi; veio; estiveram; faziam; andei
c. estive; fui; começava; dei; recomeçava c. percebi; vinha; estavam; fizeram; andava
d. estava; fui; comecei; dava; recomeçava d. percebia; veio; estavam; faziam; andava

D. Agora vai! Conte uma estória ou caso curioso que tenha acontecido com você com uma
das temáticas a seguir:
a. Conte uma estória de assombração ou que envolva uma experiência sobrenatural.
b. Conte um caso uma travessura ou traquinagem da sua infância.
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E. Fique de olho: Para contar uma estória, fazemos fundamentalmente três coisas:
a. Falamos da situação ou fazemos descrições, usando o pretérito imperfeito do indicativo:
• Podemos falar do lugar em que tudo aconteceu, a idade que tínhamos, etc.
Eu era uma criancinha naquela época. Tinha seis anos. era uma criança
Naquela época eu estava na escola. tinha onze anos
Estávamos num parque onde tinha muitas árvores. estava na escola
Havia muita gente na rua naquele momento. havia muita gente

• Podemos falar de ações ou fenômenos que estavam em curso naquele momento.


Eu estava andando pela rua nesse momento. conversando
Ele e eu estávamos indo para a escola. comendo
estava
Nesse momento elas estavam me contando uma coisa. indo
Estava chovendo muito. pondo

• Podemos falar de atitudes, desejos ou possibilidades daquele momento:


Nesse momento eu ia trabalhar no projeto. ia falar
Nós queríamos falar com elas. queria dormir
Ele não podia ir naquele dia porque estava doente. podia fazer

• Podemos falar de coisas que aconteceram antes dos eventos relatados.


Eu tinha dormido mal na noite anterior. falado
tinha
A gente tinha visto um filme de terror dois dias atrás. comido
havia
Nós não havíamos comido antes de sair. feito

➢ Para situar no contexto, podemos usar conectivos ou marcadores de tempo como:


naquela época, nesse momento, no dia / na semana / no mês anterior, dois dias atrás, etc.

b. Contamos os eventos que aconteceram, usando o pretérito perfeito do indicativo:


...quando ouvi um grito. tomei estive disse
...quando ela foi atropelada. comi tive quis
Nesse momento houve uma explosão. saí fiz trouxe
fui vim soube
Depois disso não pudemos ver o que aconteceu. dei pude coube
Logo depois vimos o ladrão correndo. vi pus houve

➢ Para a sucessão de eventos, podemos usar conectivos ou marcadores de tempo como:


quando, aí, depois, depois disso, logo depois, então, em seguida, posteriormente, etc.

c. Durante a narração podemos parafrasear falas usando o imperfeito (discurso indireto):


Ela disse que queria me ajudar, mas que não podia. tinha
disse que
Nós lhes dissemos que tínhamos que sair. queria
perguntei se
Eles nos perguntaram se podíamos ficar. podia
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1. Complete com o verbo TER no pretérito imperfeito do indicativo:
• Quantos anos você tinha quando bebeu álcool pela primeira vez?
• Minha mãe ____________ vinte e sete anos quando eu nasci.
• Nós não ____________ cachorro quando nos mudamos para esta casa.
• Tu ____________ vinte anos quando nos conhecemos, não é mesmo?
• Minha namorada e eu ____________ vinte e dois anos quando começamos a namorar.
• Minha mulher já ____________ um filho quando nos casamos.
• ____________ várias pessoas na rua quando houve o tiroteio.

2. Complete com o verbo ESTAR no pretérito imperfeito do indicativo:


• Eu estava na escola quando meu irmão mais novo nasceu.
• Eu e Camila ____________ na Rússia quando da Copa de 2018.
• A gente ____________ na rua quando houve o acidente.
• Tu não ____________ em casa quando minha avó chegou?
• As portas da empresa ____________ fechadas quando os funcionários chegaram.
• Não pude chegar a tempo porque o trânsito ____________ um horror.
• Nós ____________ com gripe, por isso preferimos não sair de casa ontem.

3. Complete com ESTAR no imperfeito e o verbo entre parênteses no gerúndio:


• Eu estava dormindo quando ouvi um barulho estranho na cozinha. (dormir)
• Minhas irmãs _________ ____________ televisão quando ouviram a explosão. (ver)
• Dona Marina _________ ____________ os sapatos quando caiu. Coitada! (pôr)
• Rodrigo _________ ____________ gasolina no carro quando teve o acidente. (pôr)
• Eu _________ ____________ à universidade quando minha mãe me ligou. (ir)
• Os estudantes _________ ____________ quando o diretor entrou na sala. (sair)
• A professora e eu _________ ____________ com a reitora sobre a reforma curricular. (falar)
• Um ano atrás nós _________ ____________ para comprar a nossa casa. (economizar)

4. Complete com IR no imperfeito e o verbo entre parênteses no infinitivo:


• Eu ia trabalhar no instituto, mas recebi uma proposta melhor da Universidade. (trabalhar)
• Eu _________ ____________, mas preferi ficar calado. (protestar).
• Tereza _________ ____________ vestido, mas não tem um sapato que combine. (pôr)
• Linda e eu _________ ____________ você, mas você veio nos visitar primeiro. (visitar)
• Meus pais _________ ___________ a Miami, mas perderam o voo. (viajar)
• Eu _________ ____________ ao jogo na TV, mas faltou a luz no bairro. (assistir)
• Ontem _________ ____________ uma reunião na firma, mas a reunião foi cancelada. (ter)
• Nós _________ ____________ o nosso carro, mas nos arrependemos. (vender)

➢ Gabarito do exercício da página 76: 1. b; 2. d; 3. b; 4. a.

SOBRE O PROJETO: Quais estórias e lembranças você guarda de suas brincadeiras infantis?
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