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TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA
MECATRÔNICA

USO DE SUPERCONDUTORES PARA AUMENTO DE


EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM MOTORES ELÉTRICOS
AUTOMOBILÍSTICOS

Autores: Samuel Cardoso dos Santos1


Thiago Queiroz Mendes2
Orientador: Prof. MBA João Carlos de Freitas Loureiro3
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo científico, por meio de revisão
bibliográfica, acerca da viabilidade da utilização de supercondutores em motores elétricos
tendo em vista o aumento da eficiência energética. Para este estudo, são abordadas as
vantagens e desvantagens de supercondutores fazendo alusão a motores elétricos
construídos sem sua utilização. Além disso, é evidenciado neste trabalho a expectativa de
ganho de eficiência energética. De forma a facilitar o entendimento do conteúdo, também
é feita uma breve introdução à motores, supercondutores e isolantes. No mais, os
resultados apresentados no trabalho lustram a viabilidade do uso de supercondutores em
motores elétricos tomando como base tecnologias mais recentes desenvolvidas para esta
finalidade.

Palavras-chaves: Supercondutores, Motores elétricos, eficiência energética

ABSTRACT

This work aims to carry out a scientific study, through a literature review, about the
feasibility of using superconductors in electric motors with a view to increasing energy
efficiency. For this study, the advantages and disadvantages of superconductors will be
discussed, alluding to electric motors built without their use. In addition, this work shows
the expected gains in energy efficiency. In order to facilitate the understanding of the
content, a brief introduction to electric and superconducting motors is also made. In
addition, the results presented in the work show the feasibility of using superconductors in
electric motors, highlighting their advantages and disadvantages based on the latest
technologies developed for this purpose.

Key-words: Superconductors, Electric motors, Energetic Efficiency

1
UNIFACS. Departamento de Engenharia. 1° autor, turma 2022.2 do Curso de Engenharia
Mecatrônica. E-mail: samuelcd145@gmail.com
2
UNIFACS. Departamento de Engenharia. 2° autor, turma 2022.2 do Curso de Engenharia
Mecatrônica. E-mail: ticoqueiroz1@gmail.com
3
UNIFACS. Departamento de Engenharia. Professor e orientador dos Cursos de Engenharia.
E-mail: joao.loureiro@unifacs.br

Salvador 09 de dezembro de 2022


TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA
MECATRÔNICA

1. INTRODUÇÃO

Tendo em vista o atual cenário do mercado automobilístico, onde as


maiores empresas do ramo estão voltando seus investimentos e interesses para
a eletrificação, estudar meios de aprimorar essa tecnologia que ainda apresenta
deficiências, porém possui enorme potencial, tendo sido o foco de muitos
pesquisadores.

Assim como durante Segunda Revolução Industrial, uma grande corrida


está sendo travada novamente entre os gigantes da automobilística, dessa vez,
para definir quem irá liderar o mercado de veículos elétricos. Com a iniciativa da
Tesla, hoje diversas empresas estão apostando suas fichas na eletrificação e,
algumas, como a Toyota, no mercado híbrido.

Nesse contexto, um grande desafio ainda a ser superado é garantir uma


autonomia significativa para esses motores que não torne o custo de aquisição
e manutenção muito elevado. Pensando nisso, alguns estudos estão sendo
feitos para viabilizar a aplicação de supercondutores na construção de motores
elétricos, tendo em vista um grande aumento na eficiência energética destes, já
que materiais supercondutores garantem a passagem total de corrente ao
apresentar resistência próxima a zero e, portanto, com pouquíssimas perdas por
calor (efeito Joule), garantindo um drástico aumento na eficiência energética que
por sua vez aumentará a autonomia dos motores.

Apesar de extremamente promissora, a aplicação desses materiais no


ramo automobilístico está limitada a alguns fatores como por exemplo a
necessidade de baixas temperaturas para que o material adquira essa
característica de supercondutividade. Portanto, este trabalho consiste em uma
revisão bibliográfica integrativa onde são evidenciados os principais pontos que
tangem a aplicação desses materiais em motores elétricos referenciando
estudos já realizados, destacando os principais pontos que dificultam a aplicação
e barreiras já superadas. Além disso, também é feito um comparativo entre os
motores elétricos convencionais e protótipos já construídos que possuem essa
tecnologia, evidenciando os resultados encontrados.
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2. REFERÊNCIAL TEÓRICO

Para entender a importância desse estudo, é importante olhar para as


soluções atuais, entendê-las e compreender as suas vantagens e desvantagens.
Portanto, os seguintes conceitos e soluções serão apresentados:

2.1. MOTORES A COMBUSTÃO

Essenciais na atualidade, os motores a combustão estão presentes desde


meados do século XIX, quando o mecânico alemão Lenoir criou o primeiro motor
a combustão interna que funcionava a base de gás de iluminação e possuía 1 cv
de potência. (UFPEL, 2013) Um dos exemplos de motores a combustão pode
ser visualizado na Figura 1.

FIGURA 1 – MOTOR A COMBUSTÃO

FONTE: VOLKSPAGE

Com a chegada da modernidade esses motores atingiram potências


extremamente altas, além de grande autonomia e cada vez mais as grandes
empresas automobilísticas buscam meios de aperfeiçoamento. Apesar de todas
essas melhorias, estes motores ainda trabalham com combustíveis fosseis, que
são limitados e poluem o meio ambiente, ou combustíveis como o álcool ou o
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biodiesel, que apesar de serem renováveis não conseguiriam suprir toda a


demanda de toda a frota automobilística mundial, pensando justamente nisso,
um grande movimento que prioriza a eletrificação de motores veiculares tem
ganhado força, dividindo as grandes montadoras.

2.2. MOTORES ELÉTRICOS

Presente nas vidas de todas as pessoas, a vista ou não, os motores


elétricos possuem uma presença confirmada a partir do mesmo período que os
motores a combustão, porém devido aos altos custos operacionais e à baixa
autonomia, o uso destes motores em veículos foi bem restrito. (DE SOUZA,
WALLISON, 2017) Na figura 2 podemos ver um exemplo de motor elétrico mais
moderno.

FIGURA 2 – MOTOR ELÉTRICO

FONTE: MYERS, MICHEL (2021, p. 11)

Devido à algumas discussões ambientais sobre o uso de fontes não


renováveis, emissão de gases poluentes, e melhora da potência e eficiência dos
motores elétricos, eles voltaram a ganhar visibilidade como possível solução
para essas questões. Porém, esta transição não se resume a um esforço apenas
das montadoras, ainda existe uma falta de infraestrutura para serviços de
manutenção e recarga das baterias dos veículos, unido à pressão de
companhias petroleiras e automobilísticas que se recusam a realizar iniciativas
em apoio a esse processo de adaptação. Além disso, o fato que veículos
elétricos não conseguem atingir uma autonomia equivalente ou superior aos
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concorrentes a combustão fizeram com que carros elétricos fossem uma minoria
entre os consumidores por muito tempo, entretanto, nos últimos anos essa
realidade tem cada vez mais se revertido.

Com iniciativa da Tesla, a eletrificação tem sido o foco das maiores


montadoras, e já é realidade de vários veículos de sucesso como a F-150
Lightning da Ford Motor Company, que nas primeiras 48 horas do seu
lançamento atingiu a marca de 44 mil pedidos e após algum tempo atingiu a
marca de 160 mil encomendadas, tendo fila de espera até 2024. (LAMBERT,
FRED, 2021). Os veículos elétricos chamam atenção por diferentes fatores,
desde a sustentabilidade, economia, rápida resposta para aceleração, espaço
do motor convertido em porta-malas até a flexibilidade do seu uso, alguns
modelos permitem inclusive utilizar das baterias como geradores capazes de
alimentar uma residência inteira por horas.

Com isso, aos poucos os investimentos estão sendo direcionados para


essa nova revolução automobilística, e hoje um dos fatores de foco maior das
pesquisas é acerca de como aumentar a eficiência energética desses motores e
uma das principais soluções investigadas para isso, são os supercondutores.

2.3. SUPERCONDUTORES

Descoberto no começo do século XX, os supercondutores são um


conjunto de materiais que a uma determinada temperatura e pressão obtém a
capacidade de conduzir corrente elétrica através do material praticamente sem
a resistência elétrica. Este efeito foi descoberto pela primeira vez pelo físico
holandês Heike Kamerlingh Onnes ao observar a falta da resistência elétrica do
mercúrio ao estar submetido a uma temperatura de 4,2K(-268,8°C). (DA SILVA,
COSME, 2015). Na modernidade, materiais supercondutores conseguem esta
capacidade em temperaturas mais altas como a do nitrogênio líquido 77 K (-
196,15°C) e ainda existem materiais que conseguem ser supercondutores em
temperatura ambiente, porém em altíssimas pressões. Devido a estes e outros
avanços, já existem diversas pesquisas que buscam viabilizar a aplicação
desses materiais em motores elétricos, sendo que uma boa parte delas discutem
sobrem a aplicação principalmente na área de construção das bobinas destes
motores, visando o aumento da potência e eficiência energética que eles
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acarretam. Além disso, essa aplicação já pode ser evidenciada até mesmo em
protótipos funcionais e propostas para construção de motores para aeronaves,
que serão abordados mais adiante no artigo.

Algumas outras aplicações de materiais supercondutores são:


transmissão de energia elétrica com resistência próxima a zero, manufatura de
eletroímãs de alta potência, armazenamento de energia em campos
eletromagnéticos, construção de veículos de levitação magnética como o trem
MAGLEV (mostrado na figura 3 e figura 4), entre outras.

Entretanto para ser possível adquirir a capacidade de supercondução em


todos os casos é necessário que o material permaneça abaixo de uma
temperatura específica. Neste caso, o aerogel é um excelente isolante térmico
que auxilia grandemente na manutenção da baixa temperatura do material.

FIGURA 3 – SUPERCONDUTOR MANTENDO IMÃ LEVITANDO

FONTE: P&R AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL

FIGURA 4 – FUNCIONAMENTO DO MAGLEV


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FONTE: LEE, HYUNG (2006, p. 5)

2.4. AEROGEL

Apesar de não ser discutido ou utilizado frequentemente no cotidiano o


aerogel é um material com uma capacidade de condução térmica extremamente
baixa, tornando-o assim um dos materiais mais isolantes que existe, e um dos
materiais sólidos mais leves que existe, sendo possível por exemplo conservar
uma flor em contato com uma chama protegida apenas por uma placa desse
material, conforme evidenciado na figura 5. O baixo peso e a capacidade isolante
do aerogel se deve a sua estrutura que é formado de mais de 95% ar preso em
uma estrutura super porosa que pode ser feita de sílica, óxidos metálicos,
compostos orgânicos ou uma mistura híbrida entre materiais orgânicos e
inorgânicos. (LARISSA, MELITA, 2019).

Devido a essas características de alta porosidade e de alto isolamento


térmico o aerogel é utilizado em criação de filtro para separar poluentes ou no
isolamento térmico de edifícios, sendo também usado para a captura de poeira
de caudas de cometas (figura 6) e em proteções térmicas de espaçonaves contra
a temperatura de reentrada em planetas. (SABRY, FOUAD, 2022).

FIGURA 5 – FLOR PROTEJIDA DE BICO DE BUNSEN POR AEROGEL


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FONTE: SABRY, FOUAD (AEROGEL)

FIGURA 6 – COLETOR DE POEIRA DE COMETAS COM BLOCOS DE


AEROGEL

FONTE: SABRY, FOUAD (AEROGEL)

3. METODOLOGIA

O formato de realização do artigo consiste em uma pesquisa de revisão


bibliográfica qualitativa, nesse método são exploradas diferentes fontes de
informação sobre um determinado assunto e então esses dados são
correlacionados e integrados ao conhecimento dos autores. Aderindo a essa
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metodologia para a pesquisa, o trabalho então foi dividido de forma a definir


perguntas e respondê-las ao longo do estudo, foram elas:

• Quais os motivos para a utilização dos supercondutores em motores


elétricos veiculares e quais são as vantagens e desvantagens em
relação aos motores elétricos convencionais?
• Já existe algum motor elétrico com utilização de supercondutores
que seja funcional e aplicável em veículos reais?
• Quais as soluções propostas para a criação de um sistema compacto
capaz de garantir as condições ideais de temperatura e pressão para
atingir a supercondução?

Direcionados então pelas perguntas, foi realizada uma busca exploratória


de diferentes fontes de artigos científicos, tendo como principais o SciELO e o
Google Scholar, de forma a primeiro entender a partir de diferentes linhas de
pesquisa quais são as tecnologias e possíveis aplicações dos supercondutores
em motores elétricos atualmente estudados. Para a pesquisa, algumas palavras
e termos foram definidos como referência, dentre eles podemos destacar:
“Supercondutores”, “Motores”, “Motores Elétricos”, “Motores Supercondutores”,
“Aerogel”. Os mesmos termos foram buscados em inglês a fim de alcançar uma
maior gama de materiais publicados.

O método utilizado para seleção do material consistiu na leitura dos


autores, os quais compartilharam os materiais relevantes por meio de um
ambiente interativo criado exclusivamente para realização da pesquisa através
da ferramenta “Sharepoint”. Lá, foram compartilhadas anotações, artigos e toda
e qualquer fonte de informação relevante ao estudo para que pudéssemos nos
aprofundar no conteúdo e aos poucos responder as perguntas definidas como
norte.

Por fim, tendo então diferentes fontes de informação para leitura, os


autores deram então início na coleta das principais ideias, tecnologias,
problemas e relatos relevantes ao assunto, assim entendendo a viabilidade da
aplicação desses materiais no ramo automotivo, bem como quais soluções estão
sendo desenvolvidas para as limitações atuais. Além disso, ao se aprofundar no
assunto, os autores foram capazes de realizar considerações acerca das ideias
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e assuntos discutidos nos artigos, agregando valor à pesquisa e bem como


trazendo ideias com referências sólidas.

4. DISCUSSÃO

4.1 Quais os motivos para a utilização dos supercondutores em motores


elétricos veiculares e quais são as vantagens e desvantagens em
relação aos motores elétricos convencionais?
O funcionamento de um motor elétrico é baseado em uma ideia simples,
consiste em suma na passagem de uma corrente elétrica por um condutor
gerando um campo eletromagnético que ao interagir com outro campo
eletromagnético força a movimentação de um eixo, e existem diferentes
maneiras de utilizar esta ideia seja devido ao tipo de correte elétrica utilizada
(continua ou alternada), ao modo em que os campos magnéticos interagem ou
até ao design utilizado na construção do motor. Os motores convencionais são
construídos com condutores feitos em sua maioria de cobre, que apesar de ser
um excelente condutor elétrico ainda possui uma resistência elétrica natural.
Porém, devido a necessidade da proximidade entre o condutor e o eixo de
rotação, à quantidade de voltas de fios condutores em torno deste mesmo eixo,
caracterizando uma bobina (figura 7), e da alta corrente que passa por estes fios
há uma grande quantidade de energia sendo transformada em calor que não
contribui para a rotação do motor ainda mais sendo que esse mesmo calor
danifica os componentes internos do motor e aumenta resistência elétrica do
condutor causando um ciclo de feedback positivo e uma limitação de corrente
que pode ser utilizada no motor.

FIGURA 7 – BOBINAS DE UM MOTOR ELÉTRICO


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FONTE: SILBERNAGEL, CASSIDY (2019,p.24)

Para resolver estes problemas, ao invés de um condutor normal nos


enrolamentos do motor, seria utilizado um material supercondutor que apesar de
possuir alguns requisitos para adquirir a capacidade de supercondução seria
capaz de fornecer algumas vantagens sobre os motores elétricos convencionais,
como o aumento de eficiência energética nos motores elétricos (principalmente
com a utilização de correntes altas), a capacidade de utilizar correntes mais altas
do que o convencional, a redução do tamanho do motor, o aumento da potência
(mais da energia entregue ao motor estará sendo utilizada para a rotação) e
redução de danos causados ao motor pelo calor. Um outro ponto que também
reforça a importância do uso de supercondutores é o impacto direto na redução
da robustez das baterias utilizadas, visto que ao garantir uma maior eficiência
energética, os requisitos para se alcançar uma autonomia que rivalize com os
motores a combustão cairão drasticamente, assim como o preço de manutenção
e aquisição.
Entretanto, o uso de materiais supercondutores possui algumas
desvantagens como a necessidade de um sistema de resfriamento dedicado ao
motor que dependendo do material utilizado requer nitrogênio líquido ou até
mesmo hélio líquido. Como consequência, uma parte da energia do carro seria
utilizado para abastecer o sistema de refrigeração além da necessidade de o
motor estar abaixo de uma temperatura mínima, pois, alguns dos materiais
supercondutores são isolantes elétricos quando não estiverem em seu estado
de supercondução.
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4.2 Já existe algum motor elétrico com utilização de supercondutores que


seja funcional e aplicável em veículos reais?
Atualmente em relação à veículos existem duas utilizações confirmadas,
uma delas se refere a um trabalho de um grupo de japoneses que em 2012
modificaram um veículo (um Toyota Crown Athlete) para utilizar um motor feito
com materiais supercondutores, neste trabalho o veículo permaneceu em
funcionamento de dezembro de 2011 até maio de 2012 operando normalmente
e foi especulado que esse tipo de sistema funcionaria melhor em veículos para
cargas maiores como ônibus. Segundo os autores desta pesquisa, algumas das
razões disto foram que veículos mais pesados necessitam de uma potência mais
elevada fazendo com que a potência utilizada pelo refrigerador tenha um impacto
menos significativo na eficiência geral do veículo, e a constante aceleração e
desaceleração de ônibus faz com que os freio regenerativos sejam mais efetivos.
Abaixo separamos algumas das imagens desses protótipo:

FIGURA 8 – MOTOR ACOPLADO AO REFRIGERADOR E


COMPRESSOR
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FONTE: TSUYOSHI, SHINZATO (2012, p. 3)

FIGURA 9 – POSICIONAMENTO DO MOTOR E REFRIGERADOR NO


VEÍCULO

FONTE: TSUYOSHI, SHINZATO (2012, p. 3)

FIGURA10 – VEÍCULO TOYOTA CROWN ATHLETE


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FONTE: TSUYOSHI, SHINZATO (2012, p. 4)

Uma outra utilização é uma notícia sobre um protótipo de motor


supercondutor desenvolvido pela TOSHIBA (o qual foi dito que está totalmente
funcional) que possui 2700 cv e é aproximadamente 10 vezes menor do que um
motor convencional de potência similar e está com previsão de chegar ao
mercado até 2030, até o momento apenas uma imagem simulando a estrutura
foi divulgada (figura 11). Além da TOSHIBA, também foram evidenciados
durante a pesquisa diversos trabalhos de sobre esta aplicação em motores a
jato, sendo um assunto amplamente discutido justamente pela alta potência
envolvida.
FIGURA 11 – COMPARAÇÃO DO MOTOR DA TOSHIBA COM
MOTOR A JATO

FONTE: PAIOLA ALESSANDRO


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4.3 O que pode ser proposto para a criação de um sistema compacto capaz
de garantir as condições ideais de temperatura e pressão para atingir a
supercondução?

Com base no que foi levantado ao longo da pesquisa, ficou evidente que
para usufruir da vantagem de se utilizar supercondutores é necessário que o
sistema de resfriamento do veículo tenha um custo energético menor ao que
seria dissipado como calor por motores elétricos convencionais. Portanto, para
isso sugerimos a utilização de um refrigerador em um circuito fechado para evitar
a troca de calor desnecessária com o ambiente. O refrigerador proposto já possui
estrutura similar e é conhecido como “helium-based cryocooler”, o qual funciona
comprimindo e descomprimindo um volume de gás hélio para gerar temperaturas
extremamente baixas. As vantagens deste tipo de refrigerador são o seu peso
baixo (5-20 kg), seu consumo de energia dentro do aceitável (100 volts/ 3
amperes), o qual seria ainda mais reduzido por não ser necessário utilizá-lo
constantemente, considerando que o mesmo somente deverá ser ativado em
ciclos para manter o sistema na temperatura mínima necessária e o seu pequeno
tamanho (468 x ø133 mm). (CRYOMECH, 2022). Os pontos negativos que são
necessários destacar são que o veículo estaria inoperante caso o nitrogênio
saísse do sistema de resfriamento e a necessidade deste sistema poder ser
acionado mesmo com o veículo não sendo utilizado, portanto, alguns
componentes de segurança serão necessários.

Além de alguns componentes auxiliares, como sensores de pressão e/ou


temperatura, o circuito de resfriamento deverá ser formado por quatro
componentes principais: as bobinas de material supercondutor, o refrigerador,
uma válvula de segurança de alívio e uma conexão de fluido. A válvula de
segurança de alívio deverá ser responsável por atuar em caso de o veículo
permanecer sem energia por um período grande o suficiente para que o
nitrogênio líquido retorne a sua forma de gás, permitindo que seja liberado aos
poucos ao ambiente sem que ocorra uma explosão ou danos ao próprio circuito.
Também vale destacar que ele é um gás inerte e que já está presente em grande
quantidade na natureza e, portanto, não afetaria o meio ambiente em caso de
vazamento. Já a conexão de fluido deverá permitir o reabastecimento do circuito
de refrigeração vazio depois de ser resolvido o problema que levou o circuito a
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esvaziar, o qual pode ser reabastecido com nitrogênio gasoso ou líquido em uma
estação especializada ou com uma ferramenta portátil que possa ser utilizada
pelo motorista.

Um outro ponto a ser considerado é que a dificuldade do uso de


tecnologias com materiais supercondutores não está estritamente no fato de ser
preciso alcançar temperaturas extremamente baixas, mas também conseguir
mantê-las, assim permitindo que estes materiais consigam ser utilizados de
forma adequada e de maneira contínua. O aerogel ou um de seus compósitos
seria um dos melhores candidatos de isolante térmico

Além de extremamente leve e um forte isolante térmico, o aerogel tem


uma composição que em sua maior parte é ar, porém, justamente devido a isso
ele possui uma grande fragilidade a impactos fortes, os quais são comuns de
acontecer com veículos, portanto, para suprir esta vulnerabilidade, esse material
é unido a outros formando um compósito. Para a aplicação na proposta do
sistema de refrigeração, cada um dos materiais escolhidos para essa mistura
deverá priorizar garantir uma alta capacidade de isolamento térmico e possuir
uma resistência a impactos maior do que o aerogel normal. Em nossa proposta,
esse compósito deverá ser utilizado para revestir todo o circuito de refrigeração
e, dependendo da construção do motor elétrico ter as bobinas revestidas total ou
parcialmente, assim garantindo uma redução drástica na perda da eficiência do
sistema de refrigeração.

5. CONCLUSÃO

Conforme evidenciado, a aplicação de supercondutores em motores


elétricos veiculares é viável, no entanto, os sistemas auxiliares que são
necessários para compatibilizarem a sua aplicação possuem grande
complexidade, como é caso do sistema de resfriamento. Nesse sentido, apesar
de já existirem algumas tentativas que resultaram em êxito, como o protótipo do
veículo da Toyota, a aplicação dessa tecnologia ainda detém de muitos pontos
de otimização que estão sendo discutidos por diferentes estudos e propostas de
solução como as que foram apresentadas.
Dando novamente ênfase ao contexto de eletrificação em que as grandes
montadoras se encontram, é inevitável afirmar que cada mais vez o estudo dessa
aplicação de supercondutores ganhe atenção. Afinal, a cada novo modelo
elétrico criado, mais nos aproximamos das limitações impostas pela resistência
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elétrica que impedem o melhor aproveitamento da potência e eficiência


energética, assim, gerando como consequência direta a necessidade de aplicar
baterias extremamente robustas para criar veículos elétricos que rivalizem com
os a combustão em termos de performance. No entanto, ao mesmo tempo que
se resolve um problema, também é criado um dos maiores detratores desse
processo de eletrificação do mercado automobilístico: o alto preço de aquisição
e manutenção das baterias. Fato esse, que pode ser evitado ao se utilizar dos
supercondutores para garantir o máximo aproveitamento energético pelos
motores elétricos.
Em complemento, destacamos que durante o processo de pesquisa,
sejam nos artigos e nas notícias mais atuais sobre o assunto, ficou claro que
aplicação desses materiais em motores elétricos é um tópico muito abrangente
e que tem ganhado força nos últimos anos, além de ter se mostrado muito
relevante para o contexto da eletrificação que as grandes montadoras estão
vivendo. Não só isso, mas como citado ao longo do artigo, o uso de
supercondutores em motores elétricos por grandes empresas como a Toshiba já
saiu da teoria e promete ganhar forma até 2030, reforçando ainda mais a
importância desse assunto.
No mais, destacamos que as propostas apresentadas para criação de um
ambiente interno aos veículos capaz de manter supercondutores estáveis e
assim os utilizar diretamente no processo de conversão energética (aplicação
nas bobinas) são apenas sugestões para linhas de pesquisa e vão de encontro
aos estudos mais atuais ao considerar o que foi levantado nos artigos estudados,
tendo assim como objetivo reunir dados e gerar insights que podem ser utilizados
como referência para continuidade dos estudos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA
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POR QUE UM SUPERCONDUTOR PRECISA ESTAR EM BAIXA OU ALTA
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