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Este trabalho possui como principal objetivo a avaliação dos impactos ambientais e
sociais gerados pelas baterias de lítio utilizadas nos veículos elétricos ao longo da sua vida útil,
isto é, desde mineração até o descarte; e o estudo dos principais métodos de reciclagem e
reutilização existentes para esses dispositivos, envolvendo descrições dos processos, assim
como análises sobre as vantagens, desvantagens e viabilidade no âmbito econômico e
ambiental.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os veículos elétricos são veículos motorizados que utilizam pelo menos um motor
movido a eletricidade para se locomover. Eles se diferenciam dos veículos convencionais, pois
empregam um sistema de propulsão elétrica em vez de um sistema com motor de combustão
interna (MCI). Esses veículos são conhecidos por sua notável eficiência energética e pela baixa
emissão de substâncias poluentes. Dessa forma, o motor elétrico aproveita a energia química
armazenada em baterias recarregáveis, convertendo-a em energia elétrica, que é então
transformada em energia mecânica pelo motor elétrico, permitindo assim o deslocamento do
veículo (INEE, 2007).
A expectativa é de um crescimento significativo do número de veículos elétricos (VEs),
incluindo os híbridos e totalmente elétricos, em todo o mundo nos próximos anos. Esse
aumento é impulsionado principalmente por incentivos e regulamentações governamentais,
investimentos das principais montadoras, preocupações ambientais crescentes e avanços no
desenvolvimento de baterias cada vez mais eficientes, especialmente as de íon-lítio (BOMBE,
2021).
Dentre as ações dos governos globais, destaca-se o anúncio feito pela União Europeia
em 2021, que decidiu proibir a partir de 2035 a venda de automóveis com motores de
combustão interna. O objetivo é que, a partir dessa data, apenas os veículos totalmente
elétricos (BEV) sejam disponibilizados no mercado europeu. Essa medida visa reduzir as
emissões de CO2 provenientes de veículos automotivos e mitigar seus impactos ambientais
(CAREY e STEITZ, 2021). Consequentemente, é esperado que os fatores mencionados
anteriormente contribuem diretamente para o aumento da frota de carros elétricos nos
próximos anos.
É importante ressaltar que a velocidade e o sucesso na adoção dos veículos elétricos
dependem de alguns elementos cruciais, tais como incentivos governamentais, ampla
disponibilidade de estações de recarga para as baterias e investimentos no desenvolvimento
de novas tecnologias. Como resultado, prevê-se que a distribuição desses veículos seja
desigual ao redor do mundo, sendo que, atualmente, a transição da frota de veículos com
motores de combustão interna para os elétricos ocorre principalmente em países mais
desenvolvidos (VASCONCELOS, 2017).
Além disso, o custo da bateria representa aproximadamente 40% a 50% do custo total
do veículo elétrico, e seu peso pode chegar a cerca de 450 kg (SANTOS, 2017). O valor médio
de um carro elétrico é mais alto do que o de um veículo movido a combustão, e existem poucos
modelos disponíveis no mercado brasileiro (SANTOS, 2017). Um deles é o modelo da
montadora chinesa JAC, que trouxe o E-JS1, sendo o veículo elétrico mais barato disponível no
mercado nacional, com os preços começando a partir de R$ 145.900,00 (pesquisa feita no dia
13 de janeiro de 2023). Possuindo um motor elétrico capaz de produzir 62 cv de potência, e
chegando a oferecer uma autonomia de até 300km em um cenário bastante otimista. Com isso,
a partir do valor de um carro elétrico popular, é possível adquirir um veículo convencional de
uma categoria superior (SANTOS, 2017).
À medida que a produção de carros elétricos aumenta, os custos tendem a diminuir, o
que tornará sua circulação mais acessível no país. Conforme Faller e Junior (2019), o custo de
abastecer um veículo elétrico é de aproximadamente R$0,16 por quilômetro percorrido,
enquanto um carro a combustão tem um custo médio de R$0,35 por quilômetro. Dessa forma,
o aumento da demanda pode influenciar os preços de mercado e tornar os veículos elétricos
mais economicamente vantajosos.
À medida que os veículos elétricos se popularizam, haverá uma demanda crescente por
energia elétrica e uma pressão adicional sobre as redes de transmissão, o que pode exigir
investimentos para sua adaptação, "além do crescimento natural da demanda de energia
decorrente da expansão das necessidades convencionais" (VONBUN, 2015, p. 23).
No que diz respeito à depreciação, os carros movidos a combustão interna apresentam
uma taxa menor, uma vez que os veículos elétricos ainda são relativamente novos no mercado
e não se sabe ao certo o que pode acontecer após cinco anos de uso. Além disso, a compra de
veículos elétricos usados, que já estão fora da garantia, gera apreensão nos consumidores
(SANTOS, 2017).
Para os usuários que apreciam velocidade, os carros elétricos podem ser
decepcionantes, pois geralmente não atingem altas velocidades como os veículos com motores
a combustão (SANTOS, 2017), a menos que sejam dispostos a desembolsar valores
significativamente mais altos para adquirir um carro elétrico como o Tesla Model S, que acelera
de 0 a 100 km/h em 2,1 segundos.
Por outro lado, os carros convencionais com motores de combustão interna requerem
mais manutenção, devido à necessidade frequente de trocas de óleo do motor e abastecimento
de combustível. As tecnologias dos motores a combustão são amplamente dominadas, e há
várias oficinas e fábricas de automóveis no país, impulsionando a economia brasileira.
Portanto, é mais fácil encontrar profissionais capacitados para realizar a manutenção desses
veículos devido ao conhecimento da combustão interna.
Quando se trata de análises financeiras e econômicas dos veículos elétricos, os
resultados não são muito encorajadores, uma vez que destacam não apenas o alto custo de
compra e o tempo prolongado para obter retorno financeiro, mas também a limitada autonomia
das baterias, questões relacionadas à infraestrutura de recarga e a relação entre os preços dos
combustíveis e os da energia elétrica (VONBUN, 2015).
É essencial avaliar a relação custo-benefício dos veículos elétricos, levando em
consideração que esse modelo apresenta uma matriz energética limpa e sustentável. No
entanto, é igualmente importante analisar "quão limpa é a geração incremental de energia, a
fim de evitar a troca de um tipo de poluição por outro a um custo financeiro elevado" (VONBUN,
2015, p. 33). Em resumo, é crucial considerar fatores como o custo dos veículos, a
disponibilidade da matriz energética, os níveis de emissões geradas durante a produção ou
uso, bem como os aspectos relacionados aos hábitos dos usuários, manutenção e segurança
dos veículos.
De acordo com Sun et al. (2019), uma das principais distinções entre as baterias para
veículos elétricos e aquelas usadas na ignição de carros a combustão é a necessidade das
primeiras de fornecer energia de forma contínua, exigindo uma capacidade energética
significativamente maior. Diversos fatores influenciam a decisão sobre qual bateria será
utilizada, incluindo sua densidade energética, voltagem típica, eficiência, preço e temperatura
de operação, entre outros.
O avanço da tecnologia das baterias de tração tem um impacto significativo na indústria
de veículos elétricos, uma vez que essas baterias são responsáveis por alimentar o sistema de
propulsão dos veículos elétricos (Hannan et al., 2017). Inicialmente, uma bateria recarregável
de chumbo-ácido foi utilizada em veículos elétricos. No entanto, com o desenvolvimento da
tecnologia de baterias, uma variedade crescente de tipos de baterias de energia surgiu no
mercado (PELEGOV, 2018).
4. IMPACTOS AMBIENTAIS
Além disso, as baterias de lítio são conhecidas por apresentarem desafios no processo
de descarte, pois são consideradas resíduos tóxicos, podendo contaminar o meio ambiente,
além de apresentarem riscos de combustão (ZHU et al., 2021).
5. MÉTODOS DE RECICLAGEM
Dadas as várias etapas envolvidas no ciclo de produção das baterias de lítio e o seu
significativo potencial para gerar diversos impactos ambientais e sociais, torna-se imperativo
explorar medidas que possam mitigar esses efeitos. Atualmente, várias alternativas conhecidas
estão sendo testadas nas fábricas para minimizar esses problemas ambientais e garantir
aplicações futuras com pegadas ambientais reduzidas.
Quando as baterias de lítio dos carros elétricos atingem aproximadamente 80% de sua
capacidade de carga original, sinalizando uma redução de 20%, considera-se que chegaram ao
fim de sua vida útil. Neste ponto, existem cinco métodos principais de descarte de baterias:
restauração, reciclagem, incineração, descarte e reutilização (ZHU et al., 2021). Cada um
desses métodos carrega implicações e considerações distintas.
A incineração envolve a utilização dos materiais constituintes da bateria como
combustível para a combustão. Embora essa abordagem seja considerada menos eficiente em
termos de energia, ela é necessária em certas circunstâncias em que outros métodos podem
apresentar riscos devido à presença de determinados componentes da bateria. No entanto, a
incineração carrega o potencial de emitir gases tóxicos durante o processo de descarte (ZHU et
al., 2021). Deve-se observar que, exceto para reutilização, todos os outros procedimentos de
descarte resultam no fim da vida útil da bateria.
Uma opção viável é o processo de restauração, que envolve a desmontagem completa
das baterias de lítio, permitindo que os materiais catódicos sejam reutilizados diretamente na
produção de novas baterias, sem necessidade de etapas adicionais de processamento (ZHU et
al., 2021). Ao contrário dos métodos mencionados, a reutilização de baterias de lítio que
chegaram ao fim de sua vida útil em carros elétricos aumenta a vida útil dos dispositivos. Isso é
possível porque a carga restante nessas baterias é suficiente para alimentar aplicações que
exigem requisitos de energia mais baixos, especialmente considerando os avanços na
produção de baterias de lítio que aumentaram significativamente sua capacidade de carga
geral (ZHU et al., 2021).
A reutilização de baterias encontra aplicações comuns em bicicletas elétricas, cenários
de reutilização direta e reconstrução de baterias. No entanto, é importante considerar que a
opção de reutilização não é aplicável em casos de defeitos ou danos causados por acidentes,
pois vários fatores podem contribuir para a falha da bateria.
Para que essas alternativas sejam viáveis no futuro deve-se levar em conta alguns
desafios, sendo que o custo é a principal barreira que existe atualmente, visto que a etapa de
desmontagem das baterias envolve processos manuais que elevam o custo final, ou seja, é
necessário a automatização para viabilizar e otimizar o procedimento.
Outros pontos que impedem a difusão e que complicam a implementação desse
processo de reutilização estão relacionados à grande diversidade de design utilizados nas
células das baterias de lítio e de composições químicas. A inexistência de um padrão dificulta a
etapa de reagrupamento de células e módulos compatíveis entre si, processo crucial antes da
montagem das novas baterias (HARAM et al.,2021; ZHU et al.,2021).
6. CONCLUSÃO
Com base nesta pesquisa, podemos concluir que o crescimento previsto no uso de
baterias de lítio em veículos elétricos traz consigo riscos ambientais e sociais significativos.
Esses problemas estão relacionados aos estágios de mineração, produção e descarte das
baterias, que apresentam riscos de explosão e são consideradas resíduos tóxicos.
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