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A MOBILIDADE ELÉCTRICA – TERÁ FUTURO?

Ao longo dos últimos anos trabalhei na área da mecanização agrícola. Um dos aspectos menos
desenvolvidos neste domínio, pelo menos em Portugal, tinha a ver com a utilização de
combustíveis alternativos, com o objectivo da redução da nossa pegada ecológica. Isto
acontece, do meu ponto de vista, porque não existe uma alternativa credível quanto a
necessidade de utilização de elevados requisitos em termos do binómio força e potência
necessárias, quando se pensa na electrificação deste tipo de veículos.

Mas penso existir uma grande hipocrisia no que diz respeito à mobilidade eléctrica, visto em
sentido generalizado, quando se tenta esconder o balanço energético associado à sua
utilização. Exemplo disto é quando se fala por exemplo, na simples produção das baterias ion-
lítio. Estou certo de que a avaliação deste balanço energético na produção de baterias para
veículos eléctricos é uma questão complexa que envolve vários factores. Mas tendo em conta
que as fontes energéticas usadas neste domínio, assentam quase exclusivamente em
combustíveis fósseis, o caso muda de figura. Outro aspecto que não deve ser escondido são as
consequências ambientais relacionadas com a mineração exigidas para a extracção dos
minerais como o lítio, cobalto, níquel e outros utilizados. Impactos ambientais significativos,
como desmatamento, poluição da água e do solo, para além dos impactos sociais que este tipo
de intervenção exerce junto das populações.

Sabemos que o grande argumento da mobilidade eléctrica é ser apresentada com uma
alternativa promissora aos veículos com motores de combustão interna. Será? Penso que este
argumento, apesar de forte, tem muitos outros factores positivos como sejam: a redução de
emissões poluentes, impacte ambiental reduzido(?), eficiência energética, menor custo de
operação e manutenção, incentivos governamentais, etc. Mas também apresenta uma série de
inconvenientes, quando comparada com os combustíveis fósseis: autonomia, débil infra-
estrutura de carregamento, demora no carregamento, custo inicial, vida útil das baterias e o
seu custo de substituição, impacte ambiental relacionado com a produção e reciclagem das
baterias em fim de vida, dependência da rede eléctrica nacional, etc.

Numa abordagem com a preocupação a uma mobilidade sustentável, a opção pela


electrificação faz algum sentido. Mas se quisermos ir mais ao fundo deste novo ecossistema,
conseguimos identificar algumas fragilidades, para não dizer incongruências. Ou seja, o balanço
energético exigido em toda a fileira da mobilidade eléctrica, não parece revelar uma diferença
assim tão notória, pelo que os defensores irredutíveis da opção pelo eléctrico, parecem só
querer ver um lado do problema.

À luz dos meus conhecimentos, naturalmente muito limitados, a mobilidade eléctrica parece
ser uma solução do presente, não isenta de fragilidades, mas que parece ser apenas uma
solução provisória. Como alternativa surge num horizonte longínquo a solução do hidrogénio.
Provavelmente poderá ser uma aposta com alguma resistência pelos indefectíveis defensores
da opção eléctrica, mas constitui-se com uma alternativa sustentável de argumentos a favor,
como sejam: ser uma energia limpa, elevada autonomia, facilidade e rapidez no
reabastecimento, emissões zero, potencial de armazenamento de energia em grande escala,
etc. No entanto existem, mesmo assim, muitas limitações ao seu uso generalizado, por ser uma
tecnologia complexa e ainda sem escala, infra-estrutura de produção/distribuição muito
limitada, custo e complexidade de uma estrutura de produção e distribuição, etc. No entanto
parece poder ser encarada com a boa solução na redução da nossa pegada de carbono,
particularmente no que diz respeito a soluções rodoviárias, transporte aéreo e soluções
agrícolas.

O futuro apesar de longe, está aí ao virar da esquina. Considerar a solução eléctrica ´ como
uma solução de futuro, não estou tão certo disso. Provavelmente vão coexistir durante algum
tempo um mix de utilização de diversas formas de soluções energéticas, para além da
mobilidade eléctrica. Poderão ser exemplos disso, para além dos combustíveis fósseis, os
biocombustíveis, o gás natural e o hidrogénio. Vamos aguardar.

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