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A Poética de Aristóteles: Notas

★ Todos os gêneros da poesia são uma imitação, mas diferem por que meios imitam, no
que imitam e como imitam. Imitar é um reflexo natural da humanidade, presente
desde a infância, e é o ponto de partida para qualquer obra poética que vise o agrado
do público.
★ Dramas: obras que imitam seres humanos em ação.
★ A arte é a imitação por meio de ritmo, harmonia e linguagem. Empédocles e Homero
usam versos, mas um é poeta e o outro, fisiólogo. Assim, não é apenas de versos que a
poesia é feita.
★ A representação de um caractere (pode ser um personagem) pode ser igual ao real
(realista), pior (pessimista) ou melhor (otimista). A tragédia se foca em pessoas
melhores (heróis) e a comédia, em pessoas piores que as reais (sátiras), através da
exploração do lado mais ridículo do vício. Na tragédia, mesmo personagens
repreensíveis devem ser retratados com nobreza. Versos heróicos (dez sílabas cada)
são próprios da tragédia, e iâmbicos (versos ritmados por meio da alternância de
sílabas longas e curtas na língua grega) da comédia.
★ A tragédia é a imitação de uma ação elevada e completa em um tempo finito (enredo),
apresentada por meio de linguagem embelezada. Uma ação é o resultado do
pensamento e do caráter de um personagem. Assim, o personagem é definido por seu
caráter, mas seu destino (felicidade ou infelicidade) por suas ações.
○ Tragédias precisam de princípio, meio e fim (integral). A imitação da vida só
tem sucesso quando respeita a finitude da existência.
○ Componentes de uma tragédia:
■ Enredo (alma da tragédia. O enredo deve ter o mínimo possível de
contradições e se resolver sozinho,não recorrendo a um Deus Ex
Machina )
● Peripécia: um feito de um personagem.
● Reconhecimento: personagens percebem algo que lhes fugia ao
conhecimento. Pode ser por meio de sinais (menos artísticos),
por invenção do poeta (alheio à arte), por recordação, por
paralogismo, por silogismo ou, o mais belo de todos, dos fatos
em si.
● Padecimento: ação nociva ou dolorosa, frequentemente resulta
na morte de um personagem, um ferimento, etc.
■ Caracteres (o elemento natural que manifesta a ação)
■ Elocução (expressão de sentido por meio de palavras)
■ Pensamento (capacidade de dizer o que é pertinente e conveniente no
âmbito discursivo)
■ Espetáculo (o menos artístico, pois a tragédia pode funcionar sem ele)
■ Música (o maior dos embelezamentos)
○ Partes de uma tragédia:
★ A beleza é resultado de algo finito, com dimensão apropriada e ordem. Focar-se em
uma única ação, seja de vários personagens ou um só, tende a criar tragédias mais
belas.
★ As preocupações da poesia, em oposição às da história, tem foco universal. Para
assegurar a verossimilhança na poesia, é necessário fugir ao formato episódico,
estabelecendo uma lógica interna dentro da narrativa, onde nada é aleatório, os fatos
são ordenados e o público consegue compreender as ações dos personagens e perdoar
eventuais fugas da realidade que visem o embelezamento da narrativa.
★ As melhores tragédias são as que têm finais onde um personagem, devido a um erro
grave, tem sua boa fortuna transformada em desgraça. Estruturação dupla, ou seja,
finais diferentes para bons e maus, também são mais preferidas.
★ Terror e compaixão resultam de espetáculo, ou, se o poeta é decente, da estruturação
dos fatos. Assim, o público padece mais de um personagem que é ferido por um
familiar do que por um inimigo, por exemplo. Personagens que fazem mal devido a
sua ignorância, assim, possuem maior impacto narrativo.
★ Caracteres precisam de 4 coisas: serem bons, serem convenientes, serem
semelhantes, e serem coerentes. Assim, de acordo com Aristóteles, uma mulher viril
e corajosa não seria um bom exemplo de caractere, pois foge ao que convém a uma
narrativa que tenha verossimilhança com a realidade (da época dele, pelo menos).
Assim, personagens devem ter ações que sejam necessárias e verossímeis.
★ É má prática introduzir episódios num enredo sem terminá-los ou levar em conta sua
coerência com o acordo pré-estabelecido entre história e audiência. Toda tragédia
tem complicação (a gordura do enredo) e resolução.
★ Épico: uma estrutura de tragédia com vários enredos.
★ O pensamento trata de tudo que é facultado pela linguagem, e numa tragédia, deve
proporcionar compaixão, terror, magnitude ou verossimilhança. A elocução, que
compreende elemento, sílaba, conectivo, nome, verbo, articular, flexão e enunciado, é
interessante para uma estruturação coerente, mas não estritamente necessária.
Precisa ser clara sem ser banal.
★ O princípio de um enigma é dizer coisas reais fazendo associações possíveis. Para
metaforizar bem, deve-se ser um bom observador de semelhanças.
★ Numa epopeia (toda epopeia tem elementos de tragédia, mas nem toda tragédia é
uma epopeia), observam-se as mesmas prioridades que numa tragédia, mas sua
extensão e metro são diferentes. As epopéias são mais longas, com narrativas
centradas em vários fatos simultâneos, com versos heróicos sendo os preferidos, mas
também aparece o tetrâmetro e o iambo. A tolerância para o irracional é maior, ou
seja, paralogismos, onde há precedente verossímil para um resultado supostamente
irracional, podem ser aceitos pelo público, contanto que a narrativa seja persuasiva o
suficiente para isso.
★ Para uma poesia bem sucedida, deve-se fugir dos erros de lógica narrativa,
interpretação errônea de figuras de linguagem e de contradições na estrutura do
enredo.
★ Aristóteles considera a tragédia superior à epopeia, por conseguir transmitir tudo o
que precisa apenas por meio da leitura, por ter tudo o que a epopeia tem, e por ser
mais curta.

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