Diz-se que a fotografia “é pescar uma memória do tempo...”.
Quando se registra uma foto
de uma paisagem marcante, de um bebê que acabou de nascer, de um grupo de pessoas comemorando um acontecimento especial, ou simplesmente de algo que “vale a pena” registrar, aquele segundo é petrificado em uma imagem, e se torna um registro do tempo que pode ser acessado posteriormente, não somente para nos trazer à memória algo do passado, mas para, a partir daquele ponto da história, nos ajudar a refletir sobre a caminhada que trilhamos lá de atrás até agora. A música também tem essa característica (adicionando movimento e poesia ao instante). Quer conhecer como era uma pessoa tempos atrás, seus pensamentos, gostos, modo de viver: observe as músicas que ela gostava de ouvir. Essa perspectiva também vale para a igreja. Quer saber o quão saudável uma igreja é: observe o que ela canta. Pois umas das marcas de uma igreja saudável é “saber cantar”. Ao iniciarmos esse projeto de trabalharmos músicas autorais nos cultos da igreja, demos início à montagem da cena para tirarmos uma fotografia da Igreja Presbiteriana Filadélfia em Planaltina/GO nos anos de 2022/2023. E assim como uma foto aérea é tirada de uma cidade para ajudar seus administradores a entenderem alguns fenômenos e criarem políticas de desenvolvimento e resolução de problemas que existam, essa “foto” da IPF registra pontos importantes de como a igreja tem caminhado, suas virtudes e seus defeitos. Ao sentar em uma mesa com um caderno e uma caneta nas mãos com o objetivo de compor uma canção para servir à igreja, é possível extrair do compositor não apenas sua habilidade em lidar com as palavras, suas referências musicais ou a maneira como a cultura o influencia, mas também como ele tem absorvido a teologia que lhe está sendo ensinada e aquilo que lhe tem enchido o coração. Mas não apenas do compositor é possível estabelecer uma análise. É possível, a partir da figura dos compositores traçar um perfil dos demais irmãos. No entanto, a despeito de o compositor poder ser contado individualmente, ele também é um ser coletivo. Assim da igreja é possível observar sua capacidade de entender o que se canta (e o que se prega), como tem interpretado e dirigido a liturgia do culto, quão rasa ou quão profunda tem sido sua compreensão do Altíssimo (e de sua Palavra), que tipo de ensino tem lhe chamado a atenção, o quanto de espaço a igreja tem dado ao desenvolvimento dos dons e talentos de seus membros, como tem administrado seus recursos, com a igreja tem lidado com a arte e a cultura que a cercam. Como dito, ao tomarmos coragem de registrar uma foto dessas, assumimos o risco de exibirmos, [e deixarmos registrado na história], muitos defeitos. Deixarmos evidente o ponto onde queremos chegar como igreja do Senhor, mas o quanto ainda estamos longe de alcançar. No entanto, assim como a história da redenção é progressiva e vai se desenrolando no decurso dos anos, a história de uma igreja é assim também, e, o olhar ao passado deve nos servir de norte para trilharmos os caminhos necessários para atingimos os objetivos presentes (a igreja precisa ter metas, saber as áreas em que precisa crescer), e o objetivo primeiro da igreja é servir a Deus, cada dia mais e melhor. Imagino ser este apenas um primeiro passo. Que ainda vamos registrar muitas outras fotos (a falta de outras fotos pode ser um sinal ruim). Que vamos olhando para estas primeiras memórias, e vamos querer fazer outras, melhores, mais bonitas, mais verdadeiras, cada vez mais maduras, cada vez mais para a glória de Deus. Que glorifiquem a Deus e edifiquem a igreja. Esse é o objetivo. Para uma primeira foto, acho que teremos uma foto boa foto. Não perfeita, mas bonita e agradável (temos nos esforçado para isso). Pois a IPF tem mostrado cuidado e zelo em seu ministério musical bem como em suas áreas de ensino da Palavra. Buscamos músicas cristocêntricas, que reforcem as doutrinas bíblicas e o evangelho no coração da igreja, que contribuam para que o ajuntamento solene encontre seu sentido [reconhecer a obra de Cristo e render adoração ao Pai], sejam ricas em vocabulário, em didática, em estética, ritmos e harmonias, mas que também sejam acessíveis, equilibradas, compreensíveis, dentro daquilo que a igreja tem tido condições de absorver, e que, absorvidas, a igreja possa canta-las com toda energia e temor, e, pela ação do Espírito Santo, possam elevar o espírito comunitário a uma adoração sincera e real ao Senhor das nossas vidas. Se essas primeiras músicas ainda não possuem todas essas características, vamos persistir em alcança-las. Valorizemos, portanto, o ponto que estamos agora; a conquista, dada por Deus, de produzirmos este projeto. É um privilégio! Tenhamos carinho pelo projeto, oremos pelas pessoas que estão à frente dele, estudemos as músicas para as executarmos bem, que cantemos com vigor e afinação, que consigamos transmitir para a igreja a emoção de termos essas músicas no repertório, e que, ao buscarmos expressar a identidade da igreja nessas músicas, a igreja se identifique de fato com as canções e as cantem, com entendimento e alegria. Não deixemos de olhar avante, de sonhar, de querer mais, crendo que Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que aquilo que pensamos e esperamos. Que essas músicas transcendam as paredes da igreja, transcendam as paredes do nosso coração, e, através de nós, inspirem também outras vidas para Jesus. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas a Teu nome dá glória” (Salmo 115:1). Pode não dar certo? Pode. É importante sabermos que nós não somos a música que cantamos. A igreja tem o direito de achar que não ficou tão bom, criticar, pedir para mudar, fazer de outro jeito, deixar de investir. Isso não significa que a igreja não nos ama e que não podemos servi-la de outras formas. Por fim, agradeço a Deus por esse momento, por estar aqui com vocês, compartilhando algo tão pessoal que tem tocado o meu coração há muito tempo. É um sonho se realizando! E digo não apenas da produção musical, ou o vislumbrar da igreja cantando nossas músicas num culto de domingo. Mas é um sonho não estar sozinho, caminhar junto com alguém, compartilhar a fé, crescermos juntos, vivermos como igreja. Que a música nos una mais como irmãos e nos aproxime mais de Deus. Que o efeito de impactar e contagiar que a música tem nos alcance, e que este momento aqui, de irmãos reunidos e ligados num mesmo propósito, seja a fotografia perfeita que fique marcada em nossos corações por toda nossa história, mesmo que as músicas já não estejam mais no repertório.