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Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
ESPECIFICAÇÃO DO MODELO
CONCEITUAL EM SIMULAÇÃO DE
EVENTOS DISCRETOS: APLICAÇÃO
EM UM CASO REAL
Wilson Inacio Pereira (EEM-IMT)
wilson@maua.br
Leonardo Chwif (POLI-USP)
leochwif@usp.br
De acordo com Harrel e Tumay (1995), aproximadamente 40% do tempo gasto em um estudo
de simulação deve ser dedicado à modelagem conceitual (incluindo-se coleta de dados), 20%
à implementação e 40% à verificação, validação e análise. No entanto, na prática, esta
porcentagem não se verifica: Wang e Brooks (2007a) avaliaram a realização de estudos de
simulação com estudantes divididos em duas categorias: principiantes e especialistas. O grupo
de “principiantes” era formado por estudantes de graduação, enquanto o grupo de
“especialistas” era formado por estudantes de pós-graduação, com alguma experiência em
simulação. Para ambos os grupos foi atribuída uma tarefa de conduzir um estudo completo de
simulação, baseada em casos reais. Observou-se que, desconsiderando a fase de coleta de
dados, o grupo principiante dedicou cerca de 12% do tempo total do estudo à fase de
modelagem conceitual (estruturação do problema e confecção do modelo conceitual),
enquanto o grupo de “especialistas” dedicou, em média, 36% do tempo total do estudo a estas
atividades (ou seja, 3 vezes mais do que o primeiro grupo). Este resultado indica que, em
geral, quanto mais experiência o modelador possuir, mais importância será dada ao processo
de construção do modelo conceitual.
De acordo com Robinson (2006), a modelagem conceitual em Simulação de Eventos
Discretos é um tema pouco explorado na literatura e necessita de maiores investigações.
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Segundo Law (1991), trata-se da etapa mais difícil e menos explorada dentro do processo de
simulação. Robinson (2006) afirma, ainda, que a visão geral dos modeladores é que a
modelagem conceitual é mais “arte” do que “ciência” e, portanto, os livros de simulação
dedicam poucas páginas a este tema tão importante, quando o fazem. Um modelo conceitual
bem feito certamente levará a um bom modelo computacional, o que, conseqüentemente,
gerará um modelo operacional apropriado (ou seja, um modelo pronto para realizar
experimentos – vide Figura 1). Por outro lado, a inexistência de um modelo conceitual, ou a
utilização de um modelo mal elaborado, provavelmente levará a um modelo computacional
que poderá exigir muitos retrabalhos e/ou que não seja capaz de capturar os objetivos da
simulação.
Como este tema (modelagem conceitual) ainda é pouco explorado na literatura, não há uma
definição consagrada e totalmente aceita a seu respeito, existindo, até mesmo, definições
contraditórias (Chwif, Pereira e Barretto 2009). Algumas dessas definições podem ser
encontradas em Nance (2004), Briot e Meurrisse (2006), Fishwick (1995), Robinson (2004),
Law (2008), Pace (1999) e Lacy et al. (2001). Apesar das divergências existentes, é possível
estabelecer dois pontos em comum:
O modelo conceitual é um dos primeiros produtos do processo de simulação;
O modelo conceitual é independente da linguagem de simulação ou do simulador que irá
ser utilizado na fase de implementação.
Assim, neste trabalho, o modelo conceitual será definido como sendo “o resultado do
processo de modelagem/abstração, gerando uma representação independente do software.
Em outras palavras é a representação do modelo abstrato (modelo que está na nossa cabeça)
em uma forma explícita. Uma forma mais completa de se expressar o modelo conceitual é por
meio de um documento chamado "Especificação da Modelagem Conceitual". É importante
ressaltar que o modelo conceitual pode, e deve, ser alterado e revisado continuamente à
medida que o estudo de simulação se desenrola. O documento “Especificação da Modelagem
Conceitual”, citado na definição anterior, será discutido na próxima seção.
2. Especificação da Modelagem Conceitual
Diversas técnicas e métodos de representação de modelos conceituais são discutidos na
literatura. Heavey e Ryan (2006) classificaram estes métodos em métodos formais e métodos
descritivos. Segundo os autores, dentre os métodos formais pode-se citar as Redes de Petri,
DEVS (Discrete Event System Specification), State Charts, Activity Cycle Diagrams (ACD),
dentre outras. Chwif (1999) comparou diversas técnicas de representação em relação a vários
critérios (entendimento e uso, representação explícita dos objetivos da simulação e se possui
ou não representação gráfica), identificando o ACD como uma das mais intuitivas e simples
de se utilizar. Quanto aos métodos descritivos, pode-se citar o IDEF0 (Integrated Definition
for Function Modeling), RAD (Role Activity Diagrams) e o Diagrama de Estados e de
atividades da UML. Montevechi et al. (2008) propuseram um método que utiliza
conjuntamente três técnicas de representação de modelos conceituais: o IDEF0, Sipoc
(Suppliers Inputs Process Outputs Customer) e o fluxograma. Apesar de todos estes métodos
disponíveis, foi demonstrado por Wang e Brooks (2007b) que a técnica de representação de
modelo conceitual mais utilizada é o fluxograma e, em alguns casos, descrições textuais.
A proposta do presente trabalho consiste em uma documentação mais ampla do que uma
descrição gráfica, ou mesmo textual, de um modelo de simulação, onde serão descritos
diversos aspectos desta fase (modelagem conceitual). Este documento pode ser dividido em 4
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partes, a saber:
Parte I: Descrição do “OCER”, que é um acrônimo para Objetivos, Complexidade,
Entradas/Saídas e Rodadas.
Parte II: Descrição do Processo, incluindo as Hipóteses Simplificadoras do Modelo.
Parte III: Descrição do Memorial de Dados
Parte IV: Grade de Revisões e Anexos.
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caso, deve-se definir quais serão os fatores, as respostas e o tipo de planejamento a ser
adotado (por exemplo, planejamento 2k). Se o estudo necessitar de simulação-otimização,
deverão ser definidas as variáveis de decisão adequadas, bem como a função objetivo. Por
fim, as definições do regime de simulação (simulação em regime ou simulação terminal) e
o tempo de simulação também devem ser colocados neste item do documento.
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processo de recebimento, fabricação e expedição de uma indústria de fabricação de material
granulado plástico (polipropileno), fruto de um projeto de consultoria realizado por um dos
autores. O escopo do processo envolve o processo de recebimento de 7 tipos de matéria-
prima, a granel ou em big-bags, o processo de manufatura e a embalagem final (em pacotes
big-bags ou de 25 kg), envolvendo os seguintes equipamentos: 7 silos externos, 3 linhas de
manufatura com 3 silos internos cada, 1 extrusora e 3 silos finais. Além disso, há 2 máquinas
de empacotamento manual, 3 equipamentos de homogeneização e 1 linha automática para o
empacotamento dos sacos de 25 kg. Por questões de sigilo, parte das informações do caso real
foi omitida. Cada parte da especificação foi colocada em uma tabela para facilitar a
visualização das informações.
A Tabela 1 especifica a definição do OCER. A Tabela 2 ilustra a descrição do processo e as
hipóteses do modelo. O diagrama de descrição do processo mostrado na Tabela 2 poderia ser
colocado, opcionalmente, nos anexos do documento de especificação. A descrição completa
do processo em linguagem natural não será colocada neste trabalho por questões de espaço.
A Tabela 3 mostra uma descrição parcial do memorial de dados de entrada. Novamente, por
questões de espaço, foram representados apenas alguns dos dados de entrada - a especificação
completa possui cerca de 15 conjuntos de dados de entrada. Na especificação mostrada na
Tabela 3, foram definidos os dados e os seus valores. Na etapa inicial de uma especificação
real, quando ainda não há dados coletados, é possível citar somente o significado do dado de
entrada e, posteriormente, incluir seu valor. Finalmente, a Tabela 4 define a grade de revisões.
No caso mostrado na Tabela 4, foram gerados 4 documentos de revisão, descrevendo revisões
em que dados foram inseridos e informações foram corrigidas. Isto mostra que, como
comentado anteriormente, esta especificação é um documento “vivo”, que pode ser alterado
até a conclusão final do projeto - obviamente é desejável que o documento seja “congelado”
logo antes da implementação do modelo computacional.
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Saídas:
Recebimento:
Tempo médio e máximo de espera dos caminhões para descarga;
Taxa de utilização da moega;
Níveis (mínimos, médios e máximos) dos silos externos.
Alimentação:
Utilização da linha de alimentação (possível gargalo);
Níveis (mínimos, médios e máximos) dos silos de armazenagem.
Extrusão:
Utilização das extrusoras.
Homogeneização:
Utilização dos homogeneizadores.
Embalagem:
Utilização das ensacadeiras;
Utilização da linha de embalagem de sacos de 25 kg.
Geral:
Produtividade geral da fábrica;
Produção mensal total de cada família;
Produção mensal total de cada tipo de embalagem.
Rodadas A simulação será feita em regime permanente e será considerado um tempo de
warm-up previamente calculado. Serão simulados quatro cenários:
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Processo
Dados de Entrada
Dado 5: Mix de produção
Família Percentual (%)
1 7%
2 40%
3 26%
4 15%
5 11%
6 1%
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Dado 11: Tempo de paradas para análise
Cada ordem de produção terá um tempo de parada de linha associado, definido por uma
distribuição triangular: menor valor = 200, valor mais provável = 350 e maior valor = 550
(valores em minutos).
Embora ilustre apenas uma parte do que foi feito no projeto real, este exemplo permite que se
tenha uma idéia das informações principais contidas no documento de especificação
conceitual, cuja finalidade é auxiliar o analista a definir o modelo computacional antes da sua
implementação. Na próxima seção serão discutidos alguns aspectos vantajosos de se construir
um documento deste tipo.
4. Comentários e discussões
Apesar da construção e manutenção deste documento demandar um tempo adicional no
processo de modelagem, existem inúmeras vantagens em se criá-lo:
a) Este documento pode permitir a subcontratação de uma pessoa que desenvolverá o
modelo computacional. Sem este documento, não é possível informar de forma adequada
para uma terceira pessoa como o modelo deverá ser construído.
b) Este documento pode ser validado com o cliente em uma, ou mais, reuniões de validação
conceitual. De fato, de acordo com Law (2008), o processo de leitura passo a passo do
modelo conceitual para os “Stakeholders” (processo chamado pelo autor de “Walk-
through”) e a troca idéias são ações importantíssimas.
c) O analista estará mais “resguardado” caso o cliente reclame posteriormente do modelo
operacional. Por exemplo, se o escopo do modelo que foi acordado entre o cliente e o
analista mudar e o cliente não estiver satisfeito com o modelo computacional por este
motivo, o analista poderá recorrer à especificação original do modelo conceitual. Por isso,
a cada revisão, é importante gerar um documento que confirme que o cliente concorda
com o que foi escrito. De preferência, o cliente deve participar da reunião de “Walk-
through” da especificação.
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d) É mais fácil corrigir erros na especificação do modelo do que no modelo computacional.
Como as informações da especificação estão “no papel”, é mais fácil alterá-las do que
mudar uma lógica de programação ou elementos do modelo. Com isso, mesmo sendo
gasto um tempo adicional na criação da especificação inicial, ganha-se tempo no estudo
de simulação, pois o modelo computacional tende a apresentar menos erros.
e) Trata-se de um documento formal do processo de modelagem, que pode ser resgatado
futuramente para uma simples verificação ou mesmo para um processo de pós-auditoria,
caso ocorra algum problema no estudo de simulação.
f) O documento de especificação pode ser utilizado como base para uma métrica de
dimensionamento do esforço de implementação, em termos do número de horas que
deverão ser gastas na implementação do modelo computacional. Embora ainda que
preliminarmente, um dos autores está trabalhando em um modelo para gerar tal
estimativa.
Para o caso da fábrica de material granulado, 90% do documento foi aprovado após a reunião
de “leitura” (criação da revisão 1 - vide tabela 4). Obviamente, alguns ajustes foram
necessários até que o documento atingisse a forma final (revisão 4). A partir daí, a
implementação se baseou integralmente no documento de especificação, gerando o modelo no
software Simul8 ilustrado na Figura 2.
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questão relevante é que, no momento da implementação, todas as informações necessárias ao
modelo estavam disponíveis, evitando atrasos no projeto por falta de informações.
5. Conclusões e recomendações para trabalhos futuros
O presente artigo discutiu a fase de construção do modelo conceitual em simulação, que
apesar da sua importância é deixada de lado por muitos analistas. Foram discutidas as
definições existentes de modelo conceitual e proposto um documento denominado
“Especificação do Modelo Conceitual”. A seguir, este documento foi exemplificado por meio
de um projeto real de consultoria realizado por um dos autores. Vale ressaltar que, embora a
confecção desta documentação demande um tempo razoável, há um ganho de tempo
significativo nas fases subseqüentes do projeto de simulação, já que os retrabalhos são
evitados e/ou minimizados.
Face ao exposto, pode-se concluir que a construção do modelo conceitual, especialmente para
casos complexos, não reverte apenas em ganho em tempo com eliminações de retrabalhos e
melhoria no alinhamento de conceitos, mas é fundamental para o sucesso da implementação
do modelo computacional.
A proposta deste documento está sendo aprimorada continuamente e, para trabalhos futuros,
pretende-se desenvolver uma metodologia que permita utilizar o documento de especificação
conceitual para estimar o tempo necessário para as etapas de implementação e análise do
modelo computacional.
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