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CONTROLE ESTATÍSTICO
DA QUALIDADE
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primeiro desafio: como especificar um componente e garantir que sua fabricação
forneça peças idênticas, dentro dessa especificação?
Até o início do século XX, o problema foi tratado com a redundância de
inspeções (cuidado: muitas empresas utilizam a mesma abordagem ainda nos
dias de hoje; cabe a nós, engenheiros, mudarmos esse panorama – e você vai
aprender nesse curso como podemos fazer isso). A Figura 1 mostra um processo
de fabricação típico do início da Revolução Industrial; essa abordagem consiste
na fabricação de peças visando às tolerâncias de especificação e certificadas por
meio de inspeções (medições). As peças fora das especificações são separadas
para serem retrabalhadas ou descartadas. Após o retrabalho, a peça é aprovada
ou reprovada ao passar por uma nova inspeção.
O problema dessa abordagem é que ela atua nos efeitos e não nas causas.
Ao negligenciar o processo que, “fora de controle”, produz peças não conformes,
eventualmente se atinge o colapso quando a quantidade de peças que necessitam
de retrabalho ou descarte é consideravelmente grande. Sem falar que, muitas
vezes, há a intenção de mudança de especificações para que se possa aproveitar
peças de refugo. É claro que tal abordagem não é sustentável sob nenhum prisma;
há muitos impactos econômicos, ambientais e até sociais quando uma empresa
segue por um caminho pouco científico como esse.
Como, então, utilizar o método científico para propor uma abordagem
diferente? Qual seria a condição ideal de um processo produtivo?
Idealmente, gostaríamos de produzir peças uniformes, com a menor
variação possível – peças virtualmente idênticas. O método cientifico entra em
jogo na análise do processo produtivo que, uma vez sob controle, resulta em uma
produção previsível e “correta”, diminuindo e até excluindo a necessidade de
muitas inspeções, retrabalhos e descartes, como indica a Figura 2:
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Figura 2 – Processo de fabricação de produtos virtualmente uniformes
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3. Cesse a dependência da inspeção para atingir a qualidade. Elimine a
necessidade de inspeção em massa ao trazer qualidade para o produto em
primeiro lugar;
4. Acabe com a prática de escolher um fornecedor com base no preço. Em
vez disso, minimize o custo total. Mova em direção de ter uma relação de
longo termo e confiança com um fornecedor;
5. Melhore constantemente e eternamente o sistema de produção e de
serviços, de forma a melhorar a qualidade e a produtividade, e,
consequentemente, reduzir constantemente o custo;
6. Institua treinamento no trabalho;
7. Promova liderança. O objetivo da supervisão deve ser ajudar pessoas e
máquinas a realizar um trabalho melhor.
8. Remova o medo; assim, todos poderão trabalhar efetivamente para a
companhia;
9. Quebre barreiras entre departamentos. Pessoas em pesquisa, projeto,
vendas e produção devem trabalhar como um time para antecipar
problemas de produção e de uso que podem ser encontrados em produtos
e serviços;
10. Elimine tudo que remeta a metas de zero defeitos e novos níveis de
produtividade. Essas exortações apenas criam relacionamentos
conflituosos, uma vez que a maior parte das causas de baixa qualidade e
produtividade pertence ao sistema de produção e, portanto, está além da
força de trabalho;
11. Elimine metas numéricas e padrões de trabalho que determinem objetivos
numéricos. São as melhorias nos sistemas de trabalho que resultam em
qualidade e, consequentemente, em possíveis metas, e não as metas por
si mesmas;
12. Remova barreiras que impossibilitem pessoas a sentir orgulho do trabalho
próprio;
13. Institua um programa vigoroso de educação e autodesenvolvimento;
14. Coloque todos na companhia para trabalhar no cumprimento da
transformação. A transformação é o trabalho de todos.
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corretamente ajustadas e, principalmente, da necessidade de entendimento e
estudo permanente sobre o produto, processo ou serviço.
Outra contribuição filosófica importante de Deming é o famoso ciclo PDSA 1
(ou, talvez na forma mais comum, PDCA), em que cada letra corresponde a uma
ação no desenvolvimento de um processo ou produto: Plan (planejar), Do
(executar), Study (estudar a execução) e Act (agir de forma a introduzir melhorias).
O conceito de ciclo, conforme ilustrado na Figura 3, é uma lembrança importante
da característica iterativa dessa filosofia; quanto mais vezes essa sequência de
planejamento e execução (de experimentos) seguida por um estudo das respostas
e ações corretivas é executada, melhor é o conhecimento e consequente
desenvolvimento do processo ou produto.
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Deming chamou-o de ciclo de Shewhart por estar supostamente implícito no trabalho deste. No
entanto, o conceito se popularizou de forma a ser reconhecido como ciclo de Deming (Wheeler e
Chambers, 1992, pg. 9).
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Quantidade percentual de produtos manufaturados.
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ferramentas qualitativas, e, nas aulas seguintes, das demais, momento em que
entrarão, de fato, as análises estatísticas.
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Figura 4 – Exemplos de folhas de verificação
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A importância do gráfico de Pareto é a rápida identificação dos fatores
principais de um processo. É comum, na engenharia, nos referirmos ao diagrama
de Pareto por meio da máxima que diz que “70% dos problemas são causados
por 30% dos fatores 3”.
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Eventualmente os valores referidos podem variar para 80% e 20%, 75% e 25%. É comum, em
um experimento planejado com, por exemplo, 8 fatores, descobrir relevância estatística para
apenas 2 ou 3, o que fica evidenciado pelo gráfico de Pareto.
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TEMA 3 – VARIAÇÃO E QUALIDADE
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Um bom livro para a compreensão dos efeitos da aleatoriedade em nosso dia a dia é o livro
intitulado O andar do bêbado: como o acaso determina nossas vidas, de Leonard Mlodinow.
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Montgomery (2019) apresenta diversas definições para qualidade, em
ordem de abrangência de significado ao longo do tempo, uma vez que a resposta
para a pergunta “o que é qualidade?” não é tão simples e direta:
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5. Criar mapas de processo de modo que compreenda e analise todas as
etapas da produção;
6. Construir cartas de controle de modo a identificar causas atribuíveis que
comprometam o controle estatístico do processo (CEP);
7. Realizar experimentos planejados (DOE) para descobrir possíveis causas
atribuíveis e otimizar processos;
8. Manter o processo produtivo dentro dos limites de especificação e com
controle estatístico (CEP).
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Por fim, vamos estudar, na seção seguinte, uma metodologia estruturada
de resolução de problemas.
TEMA 5 – DMAIC
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MSE. Depois, também são realizadas avaliações dos processos utilizando,
principalmente, cartas de controle, que aprenderemos também em outra aula.
A etapa analyse compreende a análise crítica dos dados já coletados, a
formulação de hipóteses para comportamentos observados e a criação de uma
base de conhecimentos sobre o processo que se aprofunda a cada nova
verificação.
A etapa improve subentende a criação e teste de potenciais soluções que
aumentem a qualidade do processo, geralmente reduzindo sua variabilidade.
Repare que, compreendida nas etapas define, measure e analyse está a
aplicação do método científico ou também do ciclo PDSA, ou seja, essas etapas
são cíclicas e muitas vezes necessitamos de algumas iterações para solucionar
um problema, ou para reduzir variações. Dentro desse processo cíclico está a
execução de experimentos que, apesar de não tão comuns nas indústrias
brasileiras, deveriam ser planejados. Um experimento planejado é uma forma
inteligente e muito mais barata de testar hipóteses sobre um processo ou produto
em relação aos métodos tradicionais de experimentação (que são, em geral, a
tentativa e erro – quando parâmetros de um processo são modificados ao acaso,
sem uma metodologia que sustente essas modificações – e o OFAT – one factor
at a time, “método” muito comum de variar parâmetros individualmente, mantendo
os demais fixos). Estudaremos experimentos planejados em outra aula.
Por fim, a etapa control é atingida após a realização de todo o esforço de
engenharia das etapas anteriores, quando conseguimos reduzir variações em um
processo e otimizá-lo, de forma que, nesse momento, ele esteja rodando de
maneira “limpa”, eficiente e eficaz. Conforme veremos, um processo sob controle
pode sair de controle em algum momento, por conta de causas atribuíveis que
venham a aparecer (como desgastes, variações inesperadas etc.).
De tempos em tempos, o ciclo DMAIC deve ser repetido, uma vez que
condições mudam com o tempo. Existem outras metodologias de
desenvolvimento de projetos que podem variar com o tipo de aplicação, setor
industrial e empresa. Usualmente, empresas grandes possuem uma adaptação
própria. Entretanto, é válido ressaltar que a base de todas essas metodologias é
o método científico, que deve ser seguido não só na ciência, mas também no
trabalho de engenharia.
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REFERÊNCIAS
BOX, G.; BISGAARD, S. The scientific context of quality improvement. Center for
Quality and Productivity Improvement of University of Wisconsin-Madison.
Madison, n. 25, p. 1-45, 1987.
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