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RESUMO
Em geral, o setor de manutenção é objeto de críticas e pressões internas em decorrência,
principalmente, por ser um setor responsável pelo percentual significativo dos custos gerais de
produção e da empresa. Pode-se acrescentar também, na maioria das vezes, como o setor
responsável pelo comprometimento dos prazos de entrega e pelas não conformidades dos
produtos através do mau estado de conservação das máquinas e dos equipamentos de
produção. Essa conjuntura fez com que as empresas promovessem mudanças buscando
soluções inovadoras por meio de novas práticas de gestão da manutenção. Uma inovação
proposta por esse trabalho é a MANUTENÇÃO PUXADA. Ela se apresenta como uma forma
de gerenciar os tempos, as atividades e os indicadores de resultado do setor de manutenção de
maneira diferente. As novas práticas de gestão proposta trazem no seu escopo um modelo
mental diferente de entender as funções e as atividades do setor. Buscar um novo modelo
mental de pensar a manutenção requer novos conceitos, novas práticas e novas formas de
medir o desempenho operacional de seus funcionários e do próprio setor. No entanto, existem
carências empíricas e pouca bibliografia disponível sobre esse tema. Logo, o objetivo desse
artigo é a descrição de uma proposta de um Método de MANUTENÇÃO PUXADA a partir
de um estudo de caso.
1 INTRODUÇÃO
Em geral, é possível afirmar que até o aparecimento da Teoria das Restrições (TOC) e do
Sistema Toyota de Produção (STP), os setores das empresas não pensavam suas atividades
como um elo de uma “corrente” (TOC) ou de um processo (STP). Como evidência podem-se
buscar os seus Sistemas de Indicadores de Desempenho. Para Dias (2005) os indicadores de
desempenho das empresas se dividem em indicadores financeiros que refletem o Resultado
Operacional da Empresa (ROE) e Taxa Interna de Retorno (TIR) e os não financeiros que
refletem a Produtividade do Trabalho (horas aplicadas por horas produzidas, totais de peças
fabricadas ou disponibilidade geral das máquinas de produção).
É possível verificar, atualmente, que os departamentos ou setores das empresas não têm, na
grande maioria das vezes, seus indicadores operacionais ligados ao (ROE). O “modelo mental
de pensamento” desses setores internos da empresa está alinhado com o pensamento de “elo”
e não da “corrente” ou da “operação” e não do “processo”. Observa-se no setor de
manutenção, por exemplo, a utilização do indicador “horas de máquina parada ou
disponibilidade geral das máquinas” como indicador de seu desempenho. A fim de buscar sua
meta, o setor de manutenção monta um grupo tarefa para aumentar a disponibilidade geral das
máquinas. No entanto, em diversos casos, não é pensado “máquina crítica ou gargalo” ou
“processo de fabricação”. Por conseguinte, apesar da disponibilidade das máquinas aumentar,
o atraso do prazo de entrega dos produtos ou serviços da empresa não diminui. Esse fato pode
ser considerado uma evidência de se pensar e agir setor “elo ou operação” ao invés de
empresa “corrente ou processo”.
A partir desses fatos e na busca de tentar resolver esses problemas, o trabalho tem como
objetivo discutir e propor um modelo de gestão das atividades de manutenção para um
ambiente da Teoria das Restrições e do Sistema Toyota de Produção.
Faz-se necessário, no entanto, esclarecer e conceituar previamente termos, expressões e
princípios utilizados a respeito do tema.
4 MANUTENÇÃO PUXADA
A “MANUTENÇÃO PUXADA” tem como escopo PUXAR a realização da manutenção e da
conservação das máquinas e dos equipamentos da produção a partir de um “padrinho”
responsável. Ela deve ter suas atividades orientadas pelas necessidades do mercado
“produção”, pelo resultado operacional da empresa e pelos objetivos estratégicos do setor de
manutenção. O principal objetivo da MANUTENÇÃO PUXADA é propiciar à empresa uma
melhoria no seu resultado operacional, mediante produtos, processos e serviços adequados ao
mercado a um preço competitivo. Ela foi pensada, desenvolvida e implementada a partir de
três princípios:
a) Puxado
A implementação das atividades dos planos de manutenção deve ser puxada pela produção ou
pelo setor de Planejamento da produção. O planejamento e a execução dessas atividades deve
ser feito pelo “padrinho” da máquina e puxados a partir dos tempos disponíveis de produção,
figura 1. Para isso, o desempenho da MANUTENÇÃO PUXADA deve ser medido pelos
indicadores de desempenho da empresa, da produção e do setor de manutenção.
Somatório do tempo
Somatóriode de tempo
do do
de Somatório de
Máquina Parada Somatório
> > plano
tempo
máquina parada plano de manutenção
de manutenção
pela produção
b) Incremental
A implementação da MANUTENÇÃO PUXADA como um processo cumulativo e
dependente da eficiência da utilização dos tempos de parada de produção e das melhorias
incrementais nas atividades de manutenção e conservação das máquinas e equipamentos de
produção.
c) Dinâmico
Utilização do padrinho no processo de gestão da máquina e dos seus indicadores de
desempenho para sincronização continua das demandas das atividades de manutenção,
conhecimentos e recursos necessários capturados no ponto de necessidade de manutenção ao
longo de todo o período de execução. O plano de manutenção preventivo, o seu planejamento
e a sua execução não devem ser rígidos. É preciso haver prontidão e percepção do padrinho da
máquina sobre as necessidades de produção, de manutenção e do conhecimento do ritmo de
produção da referida máquina de maneira dinâmica e orquestrada e que esteja sempre em
movimento e na direção da melhoria do resultado operacional da produção e da empresa.
Um ponto importante para a implementação da MANUTENÇÃO PUXADA é a definição dos
Indicadores Estratégicos de Desempenho da manutenção das máquinas e dos seus respectivos
padrinhos. Pois, esses indicadores irão puxar todos os treinamentos operacionais, elaboração
dos Planos de ação e implementação de melhorias e servirão com base para as reuniões de
análise crítica dos resultados operacionais da empresa e do setor de manutenção.
No entanto, para que haja uma padronização no critério de escolha dos indicadores de
desempenho da manutenção, a MANUTENÇÃO PUXADA definiu um modo de como o
padrinho deve ENXERGAR a manutenção de máquinas dentro do contexto da empresa,
figura 2, e estabelecer seus indicadores estratégicos de desempenho.
Conforme a figura 2, os três olhos para se enxergar as atividades de manutenção dentro do
contexto da empresa são: i) olho que enxerga o cliente; ii) olho que enxerga o resultado
operacional da empresa; e iii) olho que enxerga o Tempo de Reparo “MTTR” e o Tempo
entre Falhas “MTBF” da máquina.
Prazo
Confiabilidade
Vendas(Produção) - M.P. - D.O.
R = Quantidade
Ativo Total (Imobilizado + Estoque) Cliente
Qualidade
Custo
Flexibilidade
5 ESTUDO DE CASO
O estudo de caso foi realizado em uma empresa de grande porte do Rio Grande do Sul. O
interesse de realizar o estudo nessa empresa foi o seu relevante prestígio dentro do ramo
automobilístico combinado com o elevado grau de necessidade de melhoria do seu processo
de manutenção diante da crescente competitividade em que a empresa e o grupo estão
inseridos. O trabalho foi acompanhado pelo idealizador do método e pautou-se na troca de
conhecimento entre o autor e os funcionários dos setores de produção, manutenção e
qualidade.
Para o coordenador de manutenção, a necessidade de iniciar a implementação da
MANUTENÇÃO PUXADA na empresa foi a partir da constatação: i) do baixo nível de
implementação dos Planos de Manutenção; ii) do alto índice de horas de manutenção
aplicadas em manutenção corretiva; e iii) do total de horas de máquinas paradas ser superior
ao total de horas necessárias para execução do plano de manutenção preventiva. Ele conclui
afirmando que a primeira ação tomada foi o redesenho do sistema de manutenção da empresa,
figura 4.
Indicadores de Manutenção Preventiva Treinamento
Manutenção Indicadores de Treinamento
Técnico / operacional Manutenção (Mecânica, Qualidade e Segurança) Técnico / operacional
Preventiva Manutenção
Manutenção
Corretiva
Auditoria
Escalonada Sistema de
Sistema de Manutenção
Manutenção Fras-Le
Manutenção Fras-Le Gestão Visual da Autônoma
(SMF)
(SMF) Manut. Do Posto
de Trabalho
Manutenção
Puxada
Probabilidade pela
Reunião com os Chefes dos setores Intervensões frequentes (regulagens, setup, etc)
Exposição ao risco
Severidade e probabilidade Característica de funcionamento da elementos em movimentos, velocidade de
de acidente máquina movimentação, etc.
Figure 5 - Relação dos critérios de seleção das máquinas críticas - Fonte: autores
A segunda etapa é a definição dos padrinhos das máquinas críticas. Segundo o coordenador de
manutenção, a empresa preferiu escolher dois padrinhos de manutenção, figura 6, para cada
máquina crítica. O padrinho mecânico puxa as atividades relativas à área mecânica e o
padrinho eletricista puxa as atividades relacionadas com as características elétricas e
eletrônicas.
Definir e subdividir as atividades dos Planos de manutenção das máquinas críticas em
atividades de menor tempo, é a terceira etapa do método de implementação da
MANUTENÇÃO PUXADA. Nessa etapa, os padrinhos definem o plano de manutenção
preventiva considerando os itens ou componentes responsáveis pelas condições básicas de
funcionamento da máquina ou equipamento. Essa definição deve estar relacionada com o foco
de criticidade da máquina, ou seja, qualidade, manutenção, produção ou segurança. É
importante ressaltar que a definição do novo plano de manutenção preventiva deve ser feita
pelos funcionários dos respectivos setores críticos. Isso possibilitará, por exemplo, a
possibilidade de inserção de itens de manutenção relacionados com a qualidade do produto
final. Após definição do plano, o mesmo deve ser subdividido em atividades menores, isto é,
cada atividade deve ser dividida na menor atividade independente possível.
A separação das atividades de manutenção em atividades externas e internas é a quarta etapa
do método. Os padrinhos mecânico e elétrico devem separar as atividades dos seus planos de
manutenção em externas e internas. Consideram-se atividades externas aquelas atividades que
podem ser realizadas com a máquina funcionando. As atividades internas são atividades que
só podem ser realizadas com a máquina parada. Essa separação é de extrema importância,
pois reduz a necessidade de máquina parada para implementação total do plano de
manutenção.
A quinta etapa é a implementação da MANUTENÇÃO PUXADA propriamente dita. Após a
finalização da separação, os padrinhos planejam suas atividades internas de manutenção
dentro dos tempos de paradas realizadas pela produção, ou seja, nos intervalos de setup, troca
de turno, falta de operador, pequenas paradas e outras. Essa atividade de planejamento deve
acontecer a partir de reuniões constantes entre os padrinhos das máquinas e a chefia de
produção. Pode-se afirmar que normalmente a dinâmica da empresa e do setor de produção é
intensa. Isso faz com que algumas paradas não previstas apareçam e outras paradas previstas
deixem de acontecer. Necessitando com isso, constantes replanejamentos.
Observou-se também, durante o estudo de caso, a necessidade de uma maior aproximação dos
padrinhos das máquinas críticas com o funcionário responsável pelo planejamento da
produção (PCP). Pois, algumas paradas de máquinas oriundas de troca de mix de produção ou
falta de matéria prima podem ser identificadas antecipadamente.
A última etapa do método é a implementação das rotinas das reuniões diária, semanal e
mensal de análise crítica dos indicadores de desempenho. Seus principais objetivos estão
descritos na figura 7. Essas reuniões além de divulgarem os resultados do setor de
manutenção e das atividades da MANUTENÇÃO PUXADA, têm também o objetivo de
levantar os principais problemas pendentes e propor suas respectivas soluções em equipe.
Nessas reuniões são analisados os seguintes indicadores: i) Despesa de Manutenção, figura 8;
ii) Disponibilidade das máquinas, figura 9; iii) Horas de Manutenção Planejada X Horas de
Manutenção Corretiva, figura 10; iv) Horas de Manutenção Corretiva, figura 11; v) Aderência
à execução do Plano de Preventiva, figura 12; vi) Máquina parada por motivo de manutenção
no IROG, figura 13.
MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO
PUXADA PREVENTIVA
1. Análise do IROG X Parada por 1. Análise dos Indicadores de 1. Análise dos Indicadores de
manutenção; manutenção das suas máquinas; manutenção das suas máquinas;
2. Inspeção diária da máquina – M.A.; 2. Planejamento da execução do Plano 2. Verificar estado geral das máquinas;
de manutenção;
3. Verificação do preenchimento da 3. Planejamento da execução do Plano
planilha do IROG e dos problemas 3. Levantamento das dificuldades de manutenção;
levantados; encontradas;
4. Levantamento das dificuldades
4. Plano de Ação. 4. Plano de ação. encontradas e Plano de Ação.
II) O indicador Disponibilidade das máquinas da área piloto, figura 9, manteve seu valor
médio acima dos valores estabelecidos pela empresa. Atualmente, o sistema sugere que esse
cálculo seja considerado somente com as máquinas gargalos de produção, ou seja, aquelas que
estão com suas capacidades inferiores às suas demandas de mercado. Essas máquinas devem
ser indicadas pelo setor de Planejamento e Controle da Produção.
III) A figura 10 aponta para a migração das atividades de manutenção Corretiva para as
atividades de manutenção Planejada. A empresa definiu como meta a relação de: 80% de
manutenção Planejada X 20% de manutenção Corretiva.
Mão-de-obra manutenção (%)
80%
73%
67%
70% 65% 65%
62% 59%
59% 58%
60% 55% 55% 57%
52%
50%
10%
0% ro
ço
ro
ril
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ro
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M
ut
Ja
te
e
v
ov
ez
Fe
Se
D
Meses
Corretiva Planejada
horas manutenção
8000
6779,23 6845,78
7000
horas de manutenção
6070,96 5997,97
6742,68
6000
4944,88 5100,42
5000 4435,5
4000 4594,43
3724,95
3967,14
3000
2000
2207,3
1000
0
o
ir o
o
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De
Meses
Corretiva (H.)
ia
ai
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Fe
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M
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M
M ESES
60
53
50 46
40
Quant. máquinas
38
Percentual
30
20
10 7,9
3,8
3 2,2
2 1
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Me se s
TOTAL DE MAQ. COM IROG
TOTAL DE MAQ. MANUT. PRINCIPAL CAUSA
PERCENTUAL
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo buscou apresentar as principais características de um sistema de manutenção para um
ambiente de produção enxuta e da teoria das restrições. Os autores procuraram expor as
principais definições e passos de implementação da MANUTENÇÃO PUXADA em termos
do que realmente é importante quando se trata da Gestão da Manutenção das máquinas e
equipamentos de produção.
Buscar a melhoria do resultado operacional da empresa a partir de uma maior eficiência de
todo o sistema de produção assim como conservar o parque de fabricação a um custo
compatível, foi o que estimulou os autores a desenhar e implementar esse sistema de
manutenção.
É possível observar pelo estudo que uma vez que o setor de produção tenha disponível uma
quantidade de horas de máquina parada superior a necessária para implementação da sua
manutenção preventiva, pode-se pensar na utilização da MANUTENÇÃO PUXADA.
Partindo da premissa de que o mercado brasileiro pode estar avançando para uma combinação
de lotes de produção cada vez menores de uma quantidade maior de variedade, os resultados
obtidos pelo trabalho apontam para uma reflexão da utilização da MANUTENÇÃO
PUXADA como alternativa de implementação dos planos de manutenção sem utilização de
horas produtivas por manutenção. O estudo oferece aos engenheiros de manutenção uma nova
possibilidade de se pensar o planejamento das atividades de manutenção.
Dessa forma, os autores suportam a hipótese de que pela aplicação da MANUTENÇÃO
PUXADA de maneira eficiente os setores de produção e as empresas podem alcançar seus
objetivos estratégicos e, estar assim, melhor preparados para lidar com os constantes desafios
de um mercado competitivo.
Por fim, o estudo enfatiza que a adoção de um modelo de sistema de manutenção que utilize a
MANUTENÇÃO PUXADA aponta para uma gestão mais eficaz das máquinas e
equipamentos do setor produtivo. Para que isto possa ser feito, é necessário que além de
identificar todas as restrições do sistema produtivo e disponibilizar os recursos materiais
necessários para a transformação, os gestores “padrinhos” sejam tratados como atores
importantes desse processo. Pois assim, a empresa pode buscar um melhor resultado
econômico-financeiro.
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1990.