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SÉRIE DOMS TOSCANO 05 – SEU GUARDA-COSTAS DA MÁFIA

Ser o irmão mais novo de um chefe da Máfia nunca foi fácil, mas sempre fiz

com que funcionasse. Eu era Jeremy, o atrevido e sarcástico, sempre pronto com uma

resposta espirituosa e uma língua afiada. Nada me afeta.

Mas quando volto para casa depois de anos estudando em Londres, meu irmão

me coloca sob a proteção de Bear Thornton. Severo, leal e comandante, Bear é o

executor mais duro da família.

Ele também é o homem com quem fantasiei durante anos, passando longas

noites sem dormir sonhando com ele me colocando sobre os joelhos.

Agora sou um homem adulto. Isso não é mais amor de cachorrinho. Quero seus

braços grossos e musculosos em volta de mim, me prendendo, me fazendo dele.

E pelo olhar dele, ele vê que eu também não sou mais uma criança. Mas não há

nenhuma maneira de Bear trair as ordens do meu irmão me reivindicando. Ele é

muito leal.

Eu o quero. Eu não posso tê-lo.

E ele será meu guarda-costas durante toda a semana.

Alguma coisa vai acontecer.

Estou sob a proteção do Bear, mas quem vai me proteger de mim mesmo?

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COMENTÁRIOS DA REVISÃO

ANGÉLLICA

Este livro teve um pouco mais de ação. Julian irrita um pouco por ser mimado e

Bear taciturno, então um vai conhecendo o outro e se moldando (neste caso Julian

kkk).

Acredito que o autor será bom num futuro e vai pegar o jeito da máfia e seus

meninos – agora torna-se uma leitura passável em um bela tarde. Gostosinha quase

baunilha ou florzinha. Eu amo livros assim... claro que de vez em quando. Kkkk

Bora ler e me contar o que acharam.

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CAPÍTULO UM

Bear Thornton estava parado na entrada da mansão Toscano, seus olhos

examinando o vasto terreno à sua frente. Os jardins exuberantes e a arquitetura elegante

eram banhados pelo brilho quente do sol do fim da tarde, lançando longas sombras sobre

os gramados meticulosamente cuidados. Ele não pôde deixar de sentir uma pontada de

orgulho ao ver a cena; esta era a família a quem ele dedicou sua vida a proteger, e agora

eles estavam prosperando.

Ao mesmo tempo, porém, um desconforto torturante instalou-se em seu estômago.

Com o casamento próximo de Toscano, a segurança seria mais crucial do que nunca. Bear

sabia muito bem que o submundo estava repleto de inimigos apenas esperando por uma

oportunidade para atacar.

‒ Lindo, não é? ‒ Disse Angelo, aparecendo ao lado de Bear e seguindo seu olhar. ‒

É difícil acreditar que minha irmã mais nova vai se casar.

‒ O tempo voa. ‒ Respondeu Bear, sua voz rouca traindo uma pitada de

sentimentalismo. ‒ Lembro-me de quando ela ainda estava aprendendo a andar.

‒ Eu também ‒ Suspirou Angelo, depois ficou sério. ‒ Mas não podemos baixar a

guarda, Bear. Agora não. Haverá alguns convidados importantes no casamento, e ambos

sabemos que há aqueles que adorariam ver a família Toscano ser derrubada.

‒ Concordo. ‒ Bear assentiu. ‒ Já comecei a analisar possíveis ameaças e vou

garantir que a equipe esteja em alerta máximo.

‒ Bom homem. ‒ Disse Angelo, dando um tapinha no ombro de Bear. ‒ Eu confio

em você implicitamente, e é por isso que...

‒ Angelo! ‒ Uma voz familiar soou atrás deles, fazendo com que os dois homens se

voltassem para a fonte. Demorou muito para surpreender Bear, mas quando ele viu o

intruso, seus olhos se arregalaram.

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Julian Toscano.

O exterior áspero de Bear suavizou-se, a surpresa tomando conta dele. Já se

passaram anos desde a última vez que ele viu o irmão mais novo de Angelo. Ele era

apenas um adolescente quando foi estudar em Londres – como a maioria dos adolescentes,

ele era uma pessoa rude e desajeitada.

As discussões com Angelo, o modo como Julian preferiu se trancar em seu quarto,

esquivando-se de todas as suas responsabilidades toscanas... Foram tempos difíceis para a

família Toscano ‒ a de sangue, não para a organização como um todo. Ele sempre tinha

uma piada sarcástica, uma coisinha inteligente para atacar seus irmãos.

E não importava o que Bear tivesse feito, Julian sempre olhava para ele, algo em sua

postura parecendo desconfortável e na defensiva. Como se ele não confiasse em Bear.

Sim, houve uma razão para Angelo ter mandado Julian embora para uma educação

à moda antiga no exterior.

Tinha funcionado. Agora Julian estava diante dele, transformado em um jovem

encantador. Seu cabelo, macio e esvoaçante, emoldurava seu rosto em uma cascata

artística de ondas castanhas. Os olhos de Bear traçaram as curvas sutis, a delicadeza de

suas feições. Havia uma aura de vulnerabilidade que o rodeava, trazendo à tona os

instintos protetores de Bear.

O tempo que passou no exterior claramente o tratou bem.

À medida que as memórias inundavam a mente de Bear, uma tapeçaria de emoções

se desenrolava em seu coração. Ele sempre nutriu uma queda por Julian. O garoto era

diferente do irmão mais velho, não tão teimoso e implacável. Ninguém jamais pegaria

Angelo sorrindo abertamente daquele jeito ‒ bem, talvez exceto o parceiro de Angelo.

Mesmo assim, estaria em segurança, a portas fechadas.

Julian correu até eles, com os olhos brilhantes. ‒ E Bear, já faz muito tempo desde a

última vez que vi você! Você não envelheceu um dia!

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O menino claramente aprendeu a mentir. Bear estava um pouco grisalho

ultimamente, salpicando suas têmporas. ‒ Não posso dizer o mesmo de você, garoto. ‒

Respondeu Bear, tentando manter o tom leve, apesar da intensidade de seus pensamentos.

‒ Ah, bem, a universidade fará isso com você. ‒ Julian brincou, ousado pelo

comentário de Bear. ‒ Mas chega de falar de mim. Ouvi dizer que temos um casamento

para nos preparar.

Angelo cruzou os braços. ‒ Ruby está muito feliz com seu namorado - e eu

conversei com ele. Ele vai tratá-la bem.

Ou então, ele não precisava dizer.

Os olhos de Julian brilharam com malícia, seus lábios se curvaram em um sorriso

sedutor. Ele piscou para Bear. ‒ Se eu pudesse ter tanta sorte também.

Fazia anos que Bear não via Julian, mas claramente o jovem não havia mudado

muito. Bear revirou os olhos. Julian adorava apertar botões e obter reações – e se isso

acontecia por meio de um flerte insincero e sendo um idiota, aparentemente tudo bem

para ele.

Se ele quisesse atenção, Bear não iria lhe dar. Bear se virou. Felizmente, outra

pessoa entrou em cena – alguém que merecia mais atenção do que Julian.

O som de risadas ecoou pelo grande hall de entrada da mansão Toscano. Ruby, com

o rosto vermelho de excitação e felicidade, entrou na sala, seu vestido elegante esvoaçando

enquanto ela corria em direção a seus amados irmãos.

‒ Julian! ‒ Ela exclamou, jogando os braços ao redor deles em um abraço apertado. ‒

Eu senti tanto sua falta!

‒ Que bom ver você também, Ruby. – Julian sorriu, retribuindo o abraço

afetuosamente. Bear não pôde deixar de notar como o amor que compartilhavam um pelo

outro parecia ofuscar momentaneamente o hábito de indiferença e brincadeira de Julian.

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Quando eles se separaram, a expressão de Ruby ficou mais séria. ‒ Estou feliz que

você esteja aqui também, Bear. Com tudo o que está acontecendo, não posso deixar de me

preocupar com a segurança de todos.

‒ Fique tranquila, Ruby. ‒ Disse Angelo, colocando uma mão reconfortante em seu

ombro. ‒ Estamos fazendo tudo o que podemos para garantir que nossos convidados

estejam seguros em seu casamento. Na verdade, estou designando Bear para ser o guarda-

costas pessoal de Julian durante toda a semana que antecede a cerimônia.

As sobrancelhas de Bear se ergueram com o anúncio inesperado. Ótimo. Uma semana

inteira com o verdadeiro pé no saco.

Claro, Julian apenas sorriu divertido.

A perspectiva de passar uma semana inteira acompanhando o jovem provocador

causou um arrepio na espinha de Bear, mas ele resistiu ao impulso de expressar suas

preocupações.

‒ Realmente? ‒ Ruby perguntou, surpresa evidente em sua voz. ‒ Quero dizer, eu

sei que Julian pode ser difícil, mas isso não é um pouco... excessivo?

‒ Não é para manter outras pessoas protegidas dele, mesmo que algumas pessoas

se inscrevessem nisso num piscar de olhos.

‒ Obrigado pelo voto de confiança. ‒ Disse Julian, com a voz seca.

Angelo o ignorou. – É para mantê-lo protegido de perigos. Dada à natureza de

grande visibilidade deste evento, penso que é necessário. ‒ Respondeu Angelo, num tom

firme. ‒ E, além disso, quem melhor para ficar de olho nele do que o próprio Bear? Ele

provou repetidamente que é o melhor homem para qualquer trabalho.

A mandíbula de Bear cerrou enquanto ele ouvia a decisão de Angelo, frustração

percorrendo-o. Ele não conseguia acreditar que estava sendo encarregado de cuidar de

Julian. O jovem Toscano havia se tornado um homem atraente, mas irritantemente

malcriado, e Bear sabia que seria necessário todo o seu autocontrole para não perder a

paciência com ele.

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‒ Angelo. ‒ Bear começou cautelosamente, escolhendo cuidadosamente as palavras.

‒ Tem certeza de que sou a melhor escolha para este trabalho? Há outros que poderiam

cuidar disso, e eu poderia me concentrar em questões de segurança mais urgentes.

Angelo fixou em Bear um olhar inabalável, sua expressão resoluta. ‒ Eu confio em

seu julgamento e capacidades, Bear. Você sempre esteve ao lado de nossa família e preciso

de você ao lado de Julian agora mais do que nunca. Não há mais ninguém que eu

preferiria que o protegesse.

Bear suspirou interiormente, sabendo que discutir com Angelo seria infrutífero. Ele

assentiu com relutância, aceitando seu novo papel apesar de suas reservas.

‒ Muito bem. ‒ Disse ele, preparando-se para o desafio que tinha pela frente.

Ruby sorriu para ele. ‒ Obrigado, Bear. Sei que posso confiar em você para manter

minha família segura.

‒ Claro, Ruby. ‒ Disse Bear, conseguindo dar um pequeno sorriso. ‒ É o que eu faço.

Ruby e Angelo saíram juntos, continuando uma conversa anterior sobre os detalhes

do casamento. Deixado para trás, Julian se aproximou de Bear, com os olhos brilhando de

malícia. ‒ Bem, parece que você vai ficar comigo esta semana, garotão. Espero que você

esteja pronto para uma grande aventura!

Bear lutou para suprimir as imagens do que aquela ‒ grande aventura ‒ poderia

implicar, lembrando-se do seu dever de proteger a família Toscano a todo custo. Com um

breve aceno de cabeça, ele respondeu: ‒ Apenas certifique-se de ficar longe de problemas,

Julian.

‒ Onde está à diversão nisso? ‒ Julian provocou.

‒ Diversão não é a prioridade aqui. ‒ Bear rosnou, sua paciência se esgotando. ‒

Manter você seguro é.

‒ Tudo bem, tudo bem. ‒ Julian cedeu, levantando as mãos em uma falsa rendição.

‒ Prometo me comportar... na maior parte do tempo.

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Julian, que estava observando a troca com um sorriso curioso, aproximou-se de

Bear. ‒ Então é oficial? ‒ Ele perguntou brincando. ‒ Você é meu guarda-costas pessoal

durante a semana? Que legal!

Ele se inclinou, seu hálito quente contra a orelha de Bear, sua voz baixa e

provocadora. ‒ Sabe, sempre achei que você era o melhor no que faz. E agora posso ver

você em ação de perto e pessoalmente.

O pulso de Bear acelerou com o tom de flerte de Julian, mas ele lutou para manter a

compostura.

Julian gostava de atenção. Foi exatamente o que ele fez.

Mas suas travessuras só fizeram Bear querer colocá-lo sobre os joelhos.

Bear conhecia bem a cena gay da cidade. Quando jovens bonitos agiam de maneira

malcriada, geralmente só havia uma coisa que eles queriam: seu controle, ensinando-lhes

uma lição.

Ele não pôde deixar de imaginar como seria ensinar boas maneiras a Julian, deitá-lo

no colo e espancá-lo até que ele aprendesse algum respeito.

O pensamento provocou uma onda de necessidade dentro dele, mas ele o deixou de

lado, concentrando-se na tarefa que tinha em mãos.

‒ Sua segurança é minha prioridade. ‒ Bear respondeu rispidamente, ignorando o

comentário sugestivo de Julian. ‒ Não tenha nenhuma ideia de tornar isso mais difícil do

que o necessário.

Julian fingiu inocência, erguendo as mãos em uma falsa rendição. ‒ Prometo me

comportar da melhor maneira... principalmente. ‒ Disse ele com uma piscadela.

‒ Vamos deixar uma coisa bem clara. ‒ Rosnou Bear, forçando -se a manter contato

visual com o jovem irritante à sua frente. ‒ Você não colocará em risco sua segurança ou a

segurança de qualquer outra pessoa neste casamento, empurrando a mim ou a qualquer

outra pessoa aos nossos limites. Está claro?

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O sorriso de Julian vacilou por um momento, mas ele rapidamente se recuperou,

oferecendo a Bear uma saudação simulada. ‒ Cristalino, grandalhão. ‒ Disse ele

alegremente. ‒ Agora, por que você não me mostra o que planejou para minha proteção?

Tenho certeza de que será bastante esclarecedor.

Enquanto caminhavam lado a lado pelos corredores opulentos da mansão Toscano,

Bear não pôde deixar de se desesperar silenciosamente com o desafio que estava por vir.

Ele não apenas tinha que garantir a segurança de todos no casamento que se aproximava,

mas também tinha que enfrentar a presença enlouquecedora - e inegavelmente atraente -

de Julian Toscano.

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CAPÍTULO DOIS

Risos e conversas encheram o ar ao redor deles enquanto Bear e Julian seguiam para

a alfaiataria, criando uma sinfonia de vida que contrastava fortemente com o silêncio tenso

do par. O foco de Bear nunca se desviou do ambiente, seus olhos aguçados examinando

cada rosto, cada movimento, cada ameaça potencial.

O coração de Julian bateu forte. Já se passaram anos desde que ele viu Bear pela

última vez, e vê-lo agora o deixou cheio de emoções estranhas. Bear exalava um ar de

confiança e força que parecia chamar a atenção onde quer que fosse. A maneira como seus

músculos ondulavam sob a camisa e a barba por fazer em seu queixo aumentava seu

fascínio. Julian não resistiu a lançar olhares para ele, cativado por sua presença imponente.

O homem só ficou mais bonito com o tempo, e Julian não pôde deixar de sentir uma

vibração de excitação no estômago ao perceber a masculinidade robusta de Bear.

A mente de Julian voltou à sua adolescência, uma época em que sua paixão por

Bear havia criado raízes. Ele havia descartado isso como uma mera paixão, algo que

desapareceria com o tempo.

Com o passar dos anos, Julian deixou essas emoções de lado, acreditando que não

passavam de resquícios de suas fantasias adolescentes.

Mas agora, já adulto, ele não podia negar que esses sentimentos permaneciam. Ao

lado de Bear agora, a chama da atração ganhou vida mais uma vez.

Sua família o mandou embora para mudá-lo – mas alguns sentimentos não foram

facilmente extintos.

‒ Deve ser uma vida fascinante, ser um executor da Máfia. ‒ Julian refletiu em voz

alta, na esperança de atrair Bear para uma conversa. Ele estudou as feições esculpidas do

homem mais velho, tentando ler as emoções enterradas sob o exterior endurecido. ‒ Como

é?

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Bear grunhiu evasivamente, sem tirar os olhos do ambiente. ‒ Não é da sua conta.

Julian não pôde deixar de se sentir um pouco desapontado com a resposta curta. Ele

passou anos se perguntando sobre o homem que parecia existir apenas nas periferias de

seu mundo, e agora que eles finalmente caminhavam lado a lado, ele sentiu vontade de

saber mais.

‒ Vamos, Bear. ‒ Pressionou Julian, sem se deixar intimidar pela demissão inicial. ‒

Estou ausente há anos. Certamente você tem algumas histórias para compartilhar. Quero

dizer, você é praticamente uma lenda nesta cidade.

‒ Lendas são para livros. ‒ Rosnou Bear, com a voz tingida de irritação. ‒ Estou

apenas fazendo meu trabalho.

‒ Seu trabalho? ‒ Julian repetiu, levantando uma sobrancelha. ‒ Você faz isso

parecer tão mundano. Mas tem que haver mais do que isso, certo? O perigo, a excitação, o

poder...

‒ Poder. ‒ Bear bufou, finalmente virando-se para Julian. Seus olhos escuros

fixaram-se nos do jovem com uma intensidade que causou arrepios na espinha de Julian. ‒

Não se trata de poder, garoto. É uma questão de lealdade. Lealdade a Angelo Toscano.

‒ Ah, lealdade. ‒ Murmurou Julian, impressionado com a profundidade da devoção

de Bear à sua família. ‒ Essa é uma qualidade admirável.

‒ É isso que você acha? ‒ Bear perguntou, seu tom ainda inflexível. Ele se virou para

examinar o caminho deles, garantindo sua segurança. ‒ Então fique longe de problemas. É

tudo o que peço.

‒ É justo. ‒ Admitiu Julian com um suspiro, sabendo que não deveria abusar ainda

mais da sorte.

Por enquanto, pelo menos.

A campainha acima da porta tocou alegremente quando Julian a abriu, o cheiro

familiar de lã e cedro enchendo suas narinas. A alfaiataria parecia inalterada desde a

infância, um aconchegante casulo de ordem em meio ao caos das ruas da cidade. Fileiras

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de ternos alinhavam-se nas paredes, cada um meticulosamente trabalhado e apresentado

em cabides de madeira.

‒ Ah, jovem senhor Toscano! ‒ Gritou o alfaiate, emergindo de trás de uma cortina

com um sorriso caloroso. ‒ Tem sido muito tempo!

‒ Olá, Signor Alessi ‒ Respondeu Julian, retribuindo o sorriso. ‒ É bom ver você

novamente.

‒ Venha, venha ‒ Alessi acenou, guiando Julian até os fundos da loja, onde um

espelho triplo estava esperando. ‒ Vamos ver o que podemos fazer por você hoje.

Quando Julian tirou o casaco e o passou para Bear, ele não pôde deixar de olhar de

relance para o homem mais velho. Sob o brilho suave das luminárias vintage da loja, Bear

parecia ainda mais formidável do que antes. Seus ombros largos preenchiam sua jaqueta, o

tecido apertando seus braços musculosos. Sua postura era forte e confiante, não revelando

nada da vulnerabilidade que Julian vislumbrara na conversa anterior.

Sim, aquele amor de cachorrinho não tinha desaparecido.

Tinha crescido presas.

‒ Tudo bem, vamos começar. ‒ Disse Alessi alegremente, desenrolando uma fita

métrica com um movimento experiente do pulso. Ele começou a fazer as medições de

Julian, cantarolando baixinho enquanto se movia ao seu redor.

Julian ficou parado, permitindo que o alfaiate fizesse sua mágica. Mas sua mente

estava em outro lugar, voltando para a figura enigmática parada a poucos metros de

distância. Ele ficou paralisado pela maneira como os olhos escuros de Bear pareciam

absorver cada detalhe do ambiente, avaliando ameaças potenciais com um distanciamento

calmo que desmentia a tempestade que se formava sob a superfície.

‒ Signor Alessi, o casamento está chegando... Talvez Bear possa usar um terno novo

também? ‒ Julian sugeriu brincando, deixando seus olhos vagarem pelo corpo do homem

mais velho mais uma vez.

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Ele imaginou como seria a aparência de Bear vestido com uma das belas criações do

Signor Alessi, o tecido sob medida acentuando cada curva e ângulo de seu corpo

musculoso...

‒ Talvez outra hora. ‒ Bear respondeu rispidamente, sua expressão ilegível. ‒ Neste

momento, tenho um trabalho a fazer.

Droga. ‒ Claro. ‒ Murmurou Julian, sentindo uma pontada de decepção. Ele sabia

que estava abusando da sorte ao tentar envolver Bear dessa maneira, mas não conseguiu

evitar.

Havia algo inegavelmente atraente no estoico executor, algo que o atraiu e se

recusou a deixá-lo ir.

Afinal, ele sempre foi assim: quanto mais as pessoas queriam que ele calasse a boca,

mais queria provocá-las.

‒ Estamos quase terminando aqui, Sr. Toscano. ‒ Anunciou Alessi, tirando Julian de

seu devaneio. ‒ Só preciso fazer alguns ajustes e seu traje estará pronto.

‒ Obrigado, Alessi. ‒ Disse Julian, forçando um sorriso. Mas por dentro, seus

pensamentos estavam acelerados enquanto considerava as possibilidades tentadoras que

estavam além de seu alcance.

Enquanto o alfaiate continuava a trabalhar nos retoques finais do terno de Julian,

seus pensamentos voltaram à adolescência. Ele se lembrou das noites passadas em seu

quarto, um romance roubado escondido debaixo do travesseiro, as páginas cheias de

histórias do mundo da Máfia que todos eles habitavam. As histórias alimentavam suas

fantasias, o fascínio misterioso do perigo e do poder inebriava sua mente jovem.

‒ Signor Alessi... ‒ Disse Julian, com a voz tingida de malícia enquanto voltava o

olhar para Bear mais uma vez. — ... você se lembra daqueles filmes antigos de gângster

que eu costumava assistir quando vinha para cá depois da escola? Você sabe, aqueles em

que o herói está sempre vestido para matar?

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‒ Ah, sim, claro! ‒ Alessi riu, parando em seus ajustes para relembrar. ‒ Você

sempre foi tão cativado por eles, não foi?

‒ Na verdade, eu estava... ‒ Admitiu Julian, permitindo -se um pequeno sorriso. ‒

Especialmente quando o executor saía das sombras, forte e silencioso como... Bem, como

Bear, na verdade.

Os olhos de Bear se voltaram para Julian, sombrios e intensos, enquanto se fixavam

nele em um desafio ardente. Sua irritação era palpável, mas só serviu para alimentar o

desejo de Julian de ampliar ainda mais os limites. Testando o relacionamento deles, ele se

apoiou no balcão, seus dedos traçando a borda de um botão prateado ornamentado.

‒ Sabe, Bear... ‒ Ele refletiu, suas palavras deliberadamente casuais. ‒ ... eu sempre

imaginei como seria ser um daqueles personagens nesses filmes. Posso ser o herdeiro, mas

é você quem vive essa vida, no final das contas. Qual é a sensação de fazer as coisas que

você faz?

‒ Não tenho tempo para brincadeiras infantis, garoto. ‒ A resposta de Bear foi curta,

seu foco voltando para a porta como se estivesse tentando ignorar as palavras de Julian.

‒ Quem disse alguma coisa sobre jogos? ‒ Julian rebateu. ‒ Estou simplesmente

tentando entender o homem que está diante de mim, um homem que dedicou sua vida a

servir meu pai e proteger nossa família.

‒ Cuidado. ‒ Bear avisou, seu tom baixo e perigoso. ‒ Você está pisando em gelo

fino.

‒ Tudo bem, tudo bem. ‒ Julian concedeu, levantando as mãos em uma falsa

rendição. ‒ Não há necessidade de ser duro comigo... a menos, é claro, que seja isso que

você queira.

Alessi, sempre um profissional consumado, deixou todas as brincadeiras passarem

por ele sem dizer uma palavra. ‒ Aqui está... ‒ Disse ele, entregando a Julian uma seleção

de roupas. ‒ Seu terno estará pronto para o casamento. Enquanto isso, por favor,

experimente estes.

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‒ Obrigado, Alessi. ‒ Quando Alessi se despediu, Julian deslizou para trás da tela

de privacidade. Ele ficou apenas de cueca, sentindo o ar fresco roçar em sua pele.

Havia um espelho de pé, pronto para alguém avaliar suas roupas. Julian não

resistiu à oportunidade de se olhar, torcendo e girando o corpo para verificar seu reflexo.

Nada mal, ele pensou, virando-se para olhar sua bunda.

Não que eu já tenha tido alguma reclamação…

Ele sorriu. Sim, descobriu-se que, quando se tratava de homens britânicos, um

sotaque americano e um sorriso faziam muito trabalho pesado.

Bem, tecnicamente falando, os homens que ele pegava tendiam a fazer o

levantamento – levantando-o sobre as bancadas, levantando-o contra a parede, levantando

sua bunda para penetrá-lo mais profundamente...

‒ Tente não demorar o dia todo, ok? Ainda temos lugares para ir.

Julian estremeceu e saiu de seu devaneio. Confie que Bear será um ‘estraga prazeres’.

‒ Claro. ‒ Disse ele com um suspiro, enfiando as pernas nas calças feitas sob medida.

Bear estúpido. Negócios isso, e lealdade aquilo, e Julian pare de perder tempo, blá, blá,

blá... Era uma maravilha que Julian já tivesse tido uma queda por ele, realmente. Ele

claramente não merecia isso.

Ao se curvar para prendê-los, ele percebeu um movimento pelo canto do olho.

O reflexo do Bear no espelho.

Observando ele.

O coração de Julian parou. Um momento depois, ele se forçou a desviar o olhar e

continuar a se vestir, como se não tivesse acabado de flagrar seu guarda-costas

observando-o com uma intensidade que lhe causou arrepios na espinha.

Aturdido, ele não resistiu e insistiu um pouco mais: ‒ Sabe, Bear, sempre achei

fascinante como alguém como você consegue se mover por este mundo com tanta

facilidade. Você é um lobo normal entre ovelhas.

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– Continue falando assim e você descobrirá o quão forte um lobo pode morder,

garoto. – Bear murmurou, sua voz sombria e perigosa.

‒ Isso é uma ameaça ou uma promessa? ‒ Julian enfiou a cabeça por cima da tela de

privacidade e lançou um sorriso malicioso a Bear.

‒ Considere isso um aviso. ‒ Eosnou Bear, sua paciência claramente se esgotando. ‒

Achei que você já deveria ser um homem adulto. Não me faça colocar você sobre meus

joelhos, garoto.

Julian abaixou a cabeça antes que Bear pudesse ver como ele ficou vermelho. ‒ Nem

sonharia com isso. ‒ Mentiu suavemente.

No entanto, por dentro, sua mente corria com fantasias perversas de estar curvado

sobre aquelas coxas poderosas, sentindo o calor da palma da mão de Bear em sua pele, a

picada estimulante de cada tapa...

Bear o estava observando.

Só assim, a paixão de Julian passou de uma fantasia unilateral para algo real.

Ele queria isso.

‒ Seu terno estará pronto para o casamento, Sr. Toscano. ‒ Anunciou Alessi,

trazendo Julian de volta à realidade. Ele rapidamente ajustou suas roupas e endireitou sua

postura – mandando um comando bem específico, garoto! para certas partes de sua anatomia.

Ele saiu de trás da tela, tomando cuidado para não deixar qualquer indício de sua

excitação aparecer.

‒ Obrigado, Signor Alessi. ‒ Disse Julian, lutando para manter a voz firme enquanto

se preparava para sair. ‒ E obrigado pelos trajes para passear. Eles se encaixam

perfeitamente, como sempre.

‒ É sempre um prazer, Sr. Toscano. ‒ Respondeu o alfaiate, com os olhos brilhando

de calor. Uma pitada de familiaridade brilhava em seu profissionalismo. ‒ E se comporte,

certo?

‒ Claro. ‒ Prometeu Julian.

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Embora no fundo ele soubesse que esta era uma promessa que não tinha intenção

de cumprir.

Ao saírem da loja, ele pôde sentir a presença de Bear ao seu lado, forte e inabalável

– um lembrete constante dos desejos proibidos que ardiam dentro dele, apenas esperando

pela chance de serem liberados.

O coração de Julian batia forte como um tambor em seu peito quando eles saíram

da alfaiataria, o ar fresco do outono beliscando sua pele. Apesar da temperatura fria, um

calor se espalhou por ele, alimentado pelos pensamentos perversos que giravam em sua

cabeça.

Ele olhou de soslaio para Bear, observando os ombros largos e o queixo forte do

executor, a maneira como seus olhos examinavam a rua com uma vigilância praticada. ‒

Ei, Bear... ‒ Disse Julian, com a voz casual, mas misturada com um sutil flerte. ‒ Sabe, você

deveria comprar um terno também.

‒ Eu tenho um para o casamento.

‒ Eu não quis dizer para o casamento, eu quis dizer para usar todos os dias. Aposto

que você ficaria lindo todo arrumado.

Bear bufou com desdém, seu foco nunca vacilando no ambiente. ‒ Não é meu estilo,

garoto. Sinto-me mais confortável com algo em que posso lutar. – Ele apontou para sua

jaqueta de couro surrada.

‒ Realmente? ‒ Julian pressionou, não querendo deixar a oportunidade escapar. ‒

Posso imaginar agora: um terno feito sob medida para se adequar ao seu corpo forte,

destacando cada curva e ângulo do seu corpo. ‒ Seus olhos permaneceram nos braços de

Bear, imaginando como ficariam envoltos em tecido fino.

‒ Chega! ‒ Bear resmungou, interrompendo a fantasia de Julian. ‒ Isso não está

acontecendo.

‒ Que pena! ‒ Julian suspirou, fingindo decepção. Internamente, porém, o fogo

ardia cada vez mais intensamente. Ele estava determinado a romper o exterior

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aparentemente impenetrável de Bear - para descobrir o homem sob o executor e se

entregar à sua paixão de longa data antes de deixar a cidade.

‒ Vamos nos concentrar em voltar inteiros. ‒ Disse Bear, com a voz tensa como se

tentasse manter o controle.

‒ Claro. ‒ Concordou Julian, com um sorriso brincalhão dançando em seus lábios.

Em sua mente, porém, ele já estava planejando seu próximo passo – cada passo o

aproximava de viver as fantasias que assombraram sua adolescência.

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CAPÍTULO TRÊS

Era seu segundo dia na missão de guarda-costas de Julian Toscano, e Bear já estava

sem paciência. O jovem atrevido e irreverente parecia estar fazendo tudo ao seu alcance

para irritar Bear, e estava precisando de toda a sua contenção para não colocá-lo em seu

lugar.

A escolha do local do casamento por Ruby foi um espetáculo de tirar o fôlego.

Aninhada entre jardins exuberantes, a grande propriedade parecia ter saído de um conto

de fadas.

Lustres de cristal cintilantes pendiam do alto, lançando reflexos dançantes no piso

de mármore polido.

Parece chique, mas essas coisas são um grande perigo. Frágil, caro e uma oportunidade

perfeita para alguém causar o caos, pensou Bear, franzindo a testa. Tenho que ficar de olho neles.

Os jardins encantadores além das janelas altas, embora pitorescos, apresentavam

seus próprios desafios. As flores vibrantes e as sebes bem cuidadas formavam um labirinto

de belezas naturais, oferecendo serenidade e isolamento.

Sim, eles significam problemas. A beleza pode enganar. Esses jardins criam muitos pontos

cegos, lugares onde os problemas podem se esconder à vista de todos...

Seu reconhecimento foi interrompido.

‒ Este lugar não é incrível? ‒ Julian perguntou, sua voz cheia de sarcasmo. Ele olhou

em volta para o brilho e o glamour e revirou os olhos. ‒ É difícil gastar tanto dinheiro e

sair com algo que parece tão barato.

Bear cerrou a mandíbula, tentando se concentrar. Seu dever era proteger Julian, em

vez de calá-lo.

Mas caramba, Julian o estava testando.

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Apesar de sua frustração, Bear se viu lançando olhares furtivos para Julian

enquanto caminhavam pelo local. Em algum momento durante sua estada no exterior, ele

se tornou um jovem surpreendentemente atraente, com olhos penetrantes, um queixo

pronunciado e uma boca bonita – uma que parecia sempre conter um sorriso travesso. O

terno que ele usava agora, feito perfeitamente para ele, apenas acentuava sua constituição

magra e esbelta.

Pensamentos passaram pela cabeça de Bear – pensamentos sobre calar essa boca

imediatamente.

Sim, isso seria alguma coisa. Ele colocaria Julian de joelhos e lhe ensinaria uma lição

de disciplina e de boas maneiras.

Ele cruzou os braços e desligou o som de Julian reclamando de alguma coisa.

Bear era leal a Angelo. Ele nunca cruzaria esse limite.

Mas isso não significava que ele não pudesse pensar sobre isso.

‒ Terra para Bear. ‒ Disse Julian, estalando os dedos na frente do rosto de Bear. ‒

Você deveria ser meu guarda-costas, lembra? Mantenha seus olhos no prêmio.

‒ Sua segurança é minha prioridade. ‒ Bear resmungou, forçando- se a manter o

foco. Sua mente vagou, entretanto, por fantasias da linda boca de Julian fazendo sua

mágica, tomando cada centímetro dele.

Julian adorava apertar botões, mas Bear podia ver a necessidade de atenção que

estava escondida por trás de seu atrevimento.

Se Bear o colocasse de joelhos... ele iria gostar.

‒ Bom. Então nós nos entendemos. ‒ Julian sorriu, como se soubesse exatamente o

que Bear estava pensando. Era irritante e ainda mais atraente.

‒ Fique perto. ‒ Bear instruiu, sua voz severa enquanto tentava recuperar o controle

da situação. ‒ Há muitas pessoas aqui e não sabemos quem pode representar uma ameaça.

‒ Relaxe, grandalhão. Eu me viro sozinho. ‒ Julian piscou, causando uma onda de

aborrecimento – e desejo – crescer dentro de Bear.

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Ele balançou a cabeça, tentando clarear seus pensamentos. Ele tinha um trabalho a

fazer, e não era entregar-se a fantasias sobre seu pupilo. Mas à medida que avançavam

pelo local, ficava cada vez mais difícil para Bear ignorar o quão tentador era Julian

realmente.

‒ Ah, aí estão vocês dois. ‒ Cumprimentou Angelo enquanto se aproximava,

ajustando as abotoaduras de sua imaculada camisa branca. Seu homem, Sebastian, estava

logo atrás dele, parecendo exatamente um ousado professor universitário. ‒ Bear, lembre-

se de ficar de olho no meu irmão mais novo. É crucial que nada dê errado no dia do

casamento.

‒ Claro, Angelo. ‒ Respondeu Bear, em tom sério. ‒ Eu não vou deixá-lo fora da

minha vista.

‒ Tanta confiança que você tem em mim, para atrair seu grande e forte guarda-

costas para mim. ‒ Julian brincou, revirando os olhos enquanto ajeitava as lapelas do

paletó. ‒ É como se você pensasse que eu entraria em combustão espontânea se ele não

estivesse colado ao meu lado.

‒ Muito engraçado, Julian. ‒ Angelo claramente lutou contra a vontade de deixar

transparecer sua frustração. ‒ Concentre-se no casamento e talvez possamos passar por

isso sem nenhum incidente. ‒ Com isso, ele saiu, indo cuidar dos preparativos.

‒ Tudo bem, tudo bem. ‒ Julian suspirou, fingindo tédio enquanto olhava ao redor

do salão habilmente decorado. ‒ Embora deva dizer que já vi arranjos de flores melhores

em funerais. O que você acha, Bear?

‒ Seus comentários não são úteis, Julian. ‒ Bear avisou, cerrando os dentes. Ele

tentou se concentrar em examinar os arredores em busca de ameaças potenciais, mas os

golpes constantes de Julian tornavam quase impossível manter o foco.

‒ Vamos, Bear. Ilumine-se. Afinal, isso deveria ser uma celebração. ‒ Julian deu um

sorriso atrevido, seus olhos dançando com malícia. ‒ Além disso, você não precisa se

preocupar com a possibilidade de eu fugir com o noivo.

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‒ Muito engraçado. ‒ Disse Bear, com a voz tensa. ‒ Basta lembrar que estou aqui

para fazer um trabalho e você não está tornando isso mais fácil. ‒

‒ Talvez se você relaxar um pouco, nós dois poderíamos aproveitar as festividades.

– Julian sugeriu, seu tom cheio de sarcasmo. ‒ Sério, Bear, parece que você está com um

pau na mão...

Bear podia sentir seu sangue fervendo. ‒ Tudo bem. ‒ Ele rosnou, agarrando Julian

pelo braço e puxando-o para o lado, para longe dos agitados planejadores e decoradores

de casamento. ‒ Já estou farto da sua atitude. Não sei se você está tentando me

impressionar ou apenas me irritar, mas de qualquer forma, isso acaba agora.

Julian ergueu uma sobrancelha, seus lábios se curvando em um sorriso

irritantemente malicioso. ‒ Ah, vamos, Bear. Não aguenta um pouco de provocação? Achei

que um cara durão como você, entre todas as pessoas, teria a pele mais dura.

‒ Provocando? ‒ Bear bufou, cerrando os punhos para resistir à vontade de agarrar

a garganta de Julian e estrangulá-lo. As imagens que passaram por sua mente eram

viscerais e não totalmente indesejáveis. Ele quase podia sentir o calor do corpo de Julian

pressionado contra o seu, o gosto de seus lábios... ‒ Não se trata de ser capaz de aceitar

uma piada, Julian. Estou aqui para mantê-lo seguro e seu comportamento está

dificultando meu trabalho.

‒ Talvez eu goste de dificultar as coisas para você. ‒ Sussurrou Julian, inclinando-se

perigosamente para perto, com o hálito quente na orelha de Bear. ‒ Mantém as coisas

interessantes, não acha?

Tardiamente, Bear percebeu que a provocação de Julian talvez não fosse apenas

uma provocação. A expressão do garoto era presunçosa como sempre, mas enquanto

esperava pela resposta de Bear, havia algo mais em seus olhos também.

Incerteza.

Desejo.

Ah, Julian estava mal.

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Ele não foi o primeiro garoto que veio para Bear com aquele olhar específico. Havia

lugares no ponto fraco da cidade onde jovens bonitos esperavam por um homem

dominador e masculino para colocá-las à prova.

Embora geralmente esses jovens estivessem mais interessados em exibir seu melhor

comportamento. Se Julian algum dia soubesse o que era isso, claramente o descartara há

muito tempo por ser chato.

O coração de Bear acelerou, o desejo guerreando com a frustração em seu peito. Foi

necessário todo o autocontrole que ele tinha para não colocar Julian sobre os joelhos e dar-

lhe a surra que ele claramente merecia.

Mas isso era apenas uma fantasia. Ele não podia arriscar alienar Angelo, não

quando lhe foi confiada à responsabilidade de proteger seu irmão mais novo.

‒ Chega de jogos. ‒ Advertiu Bear, lutando para manter a voz firme. ‒ Preciso que

você coopere comigo, Julian. Não posso protegê-lo se você está constantemente tentando

me minar.

‒ Tudo bem, tudo bem. ‒ Julian cedeu, erguendo as mãos numa falsa rendição. ‒

Vou me comportar... por enquanto.

Bear soltou um suspiro exasperado, tentando ignorar o desejo ardente que sentia de

colocar esse garoto sobre seus joelhos. Seria um dia longo – e uma semana ainda mais

longa – mas ele não teve escolha a não ser cumprir essa tarefa.

‒ Bom. ‒ Bear finalmente murmurou, preparando-se para os desafios futuros. ‒

Agora, vamos passar por este casamento sem mais nenhum dos seus comentários

inteligentes.

‒ Não prometo nada. ‒ Respondeu Julian, piscando de brincadeira enquanto

voltavam a atenção para os preparativos em andamento.

Bear gemeu interiormente, perguntando-se como sobreviveria aos dias que viriam.

Com o passar do dia, o comportamento de Julian só piorou. Era como se cada

palavra que saísse de sua boca tivesse sido cuidadosamente elaborada para irritar os

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nervos em frangalhos de Bear. O guarda-costas se viu constantemente lutando contra o

desejo de prender Julian contra uma parede e beijá-lo até deixá-lo sem sentido, ou talvez

remar até que ele ficasse vermelho.

‒ Não acredito que você o aguentou. ‒ Murmurou uma das decoradoras para Bear

quando eles passaram, revirando os olhos ao último comentário sarcástico de Julian sobre

os arranjos florais.

‒ Nem eu. ‒ Concordou Bear, cerrando os dentes. ‒ Mas ordens são ordens.

– Talvez você devesse pedir uma tarefa diferente. – Sugeriu ela, e Bear não pôde

deixar de considerar a ideia.

Ele olhou para Julian, que discutia animadamente os méritos das peônias versus

rosas com um florista claramente exasperado. Apesar de seu comportamento insuportável,

havia algo em Julian que o atraía, uma atração magnética à qual ele não conseguia resistir.

E por mais que odiasse admitir, a ideia de abandonar seu cargo deixou um gosto

desagradável em sua boca.

‒ Talvez. ‒ Bear murmurou evasivamente, oferecendo-lhe um sorriso tenso. Mas

mesmo enquanto dizia essas palavras, ele sabia que não conseguiria abandonar o irritante

filho varão que de alguma forma, contra todas as probabilidades, conseguira abrir

caminho sob sua pele.

Só assim, o estalo inconfundível de um tiro quebrou a atmosfera serena do local do

casamento.

O instinto assumiu o controle e Bear se lançou em direção a Julian, derrubando-o no

chão no momento em que o segundo tiro chiou no ar onde ele estava parado. Ele o

arrastou para trás de uma mesa, a coisa mais próxima que eles tinham de cobrir.

‒ Merda! ‒ Julian engasgou, os olhos arregalados de choque. ‒ O que diabos está

acontecendo?

‒ Fique abaixado! ‒ Bear rosnou, examinando a área em busca de qualquer sinal do

atirador. Foi um caos, com todos os tipos de pessoas correndo com medo.

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Então ele avistou alguém correndo de uma maneira diferente: não curvado e

aterrorizado, correndo em busca de segurança, mas movendo-se com determinação.

‒ Angelo! ‒ ele chamou. ‒ Saída oeste!

Ele se forçou a se concentrar, seu treinamento entrando em ação enquanto ele

avaliava a situação. Eles estavam ao ar livre, com cobertura mínima: não era uma posição

ideal para um tiroteio. Mas não havia tempo a perder: cada segundo que passavam ali

aumentava o risco de o atirador fugir.

‒ Você consegue lidar com isso, garotão? ‒ Julian perguntou, sendo um pé no saco,

mesmo com o medo brilhando em seus olhos.

Bear teve que suprimir a vontade de revirar os olhos. ‒ Observe e aprenda. ‒ Ele

respondeu sucintamente, mudando de posição e levantando-se. Ele avançou no meio da

multidão, correndo atrás do atacante.

Ao diminuir a distância entre eles, os instintos de Bear assumiram o controle. Com

uma onda de adrenalina correndo em suas veias, ele se lançou contra o atirador, seu corpo

era uma arma afiada através de anos de treinamento incansável. O impacto os fez cair no

chão, à força da colisão sacudindo seus ossos.

O cheiro metálico da pólvora encheu o ar, misturando-se com o cheiro de medo e

desespero. O aperto de Bear aumentou ao redor do pulso do agressor, seus dedos

cravando-se na carne, sua força avassaladora. Ele lutou para manter o controle, a luta

alimentada por uma necessidade primordial de proteger seu território.

Cada movimento foi calculado, preciso. Ele torceu o braço do atirador, forçando-o a

soltar a arma. Ele deslizou pela calçada, uma ferramenta de destruição descartada. Bear

não perdeu tempo, seus punhos choveram sobre o corpo do agressor, desferindo golpes

poderosos com precisão letal.

Seu coração batia forte no peito, um ritmo estrondoso que abafava todos os outros

sons. No caos da briga, os pensamentos de Bear dispararam, sua narração interna era um

mantra implacável.

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Este era o seu território, o seu domínio, e ninguém o ameaçava sem consequências.

De algum lugar atrás dele, Julian soltou uma comemoração e uma salva de palmas.

‒ Bom trabalho!

Bear revirou os olhos. Ele prendeu o atacante embaixo dele, com os braços torcidos

atrás dele, e lançou um olhar para Julian. Ele estava exatamente onde Bear o havia

deixado, escondido atrás da mesa.

Pelo menos você pode obedecer às ordens quando for preciso, reclamou ele. ‒ Levante sua

bunda! ‒ Bear latiu para ele. ‒ Precisamos nos mover!

‒ Mas você já pegou o bandido...

‒ Um deles! ‒ Os nervos de Bear estavam em chamas, esperando que outro tiro

soasse. ‒ Eles estavam atrás de você!

Um atirador não foi suficiente.

Se você veio pelos Toscanos, é melhor trazer tudo o que tem.

Angelo correu até Bear, seu rosto era uma tempestade de fúria e preocupação. Ele

olhou para o atirador que se debatia e rosnou. ‒ Eu cuidarei dessa bagunça. ‒ Disse ele. ‒

Pegue Julian e saia daqui!

Bear não precisou ouvir duas vezes. Julian, no entanto…

‒ Onde estamos indo? ‒ Julian perguntou, até Bear agarrou seu braço e o guiou em

direção ao carro mais próximo.

‒ Não importa, apenas vá! ‒ Angelo retrucou. ‒ Bear, não saia do lado dele pelo

resto da semana! Entendido?

‒ Entendido. ‒ Respondeu Bear, sentindo uma sensação de aperto nas entranhas.

Uma semana inteira com Julian, preso em algum local desconhecido? Ele não

conseguia decidir se era uma bênção ou uma maldição.

Página 28
CAPÍTULO QUATRO

O ar no quarto do motel estava pesado de tensão quando Bear e Julian se

acomodaram, ambos os homens perfeitamente conscientes de quão próximos estavam um

do outro.

‒ Este lugar tem frigobar? ‒ Julian perguntou, sua voz leve e provocadora, apesar

dos acontecimentos do dia. Ele se jogou na cama, com as pernas penduradas para o lado, e

olhou para Bear com expectativa.

Eles mal estavam lá há cinco minutos e a paciência de Bear já estava se esgotando. ‒

Você está falando sério? ‒ Bear estalou. ‒ Deveríamos ficar quietos, não levar uma surra.

‒ Tudo bem. ‒ Julian bufou, rolando para o lado e apoiando a cabeça em uma das

mãos. ‒ Então o que vamos fazer para passar o tempo? Quer jogar cartas? Assistir TV? Ou

vamos apenas sentar aqui e ficar olhando um para o outro?

‒ O que quer que mantenha você quieto. ‒ Bear resmungou, tentando ignorar a

sensação dos olhos de Julian sobre ele.

A tensão no apertado quarto de motel era tão densa quanto à umidade lá fora,

tornando difícil para Bear se concentrar em qualquer coisa que não fosse o homem deitado

na cama à sua frente. As pernas de Julian estavam abertas com indiferença casual, seus

dedos batendo em um ritmo contra sua coxa que causou arrepios na espinha de Bear.

‒ Tudo bem. ‒ Disse Bear, cruzando os braços sobre o peito e tentando ignorar a

maneira como os olhos de Julian pareciam permanecer na curva de seu bíceps. ‒

Precisamos estabelecer algumas regras básicas.

Os lábios de Julian se curvaram em um sorriso malicioso. ‒ Regras básicas? Que

deliciosamente autoritário da sua parte, Bear. Vá em frente.

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‒ Primeiro, você fica dentro de casa e longe das janelas o tempo todo. ‒ Começou

Bear. ‒ Esse tiro foi direcionado para você. Em segundo lugar, nada de telefonemas, nada

de postagens nas redes sociais, nada que possa revelar sua localização.

‒ Isso significa que não posso solicitar serviço de quarto?‒ Julian perguntou,

fingindo inocência enquanto piscava. ‒ Temo que possa definhar sem o sustento

adequado.

‒ Confie em mim... ‒ Bear murmurou, seu olhar involuntariamente passando pela

forma de Julian. ‒ ... você sobreviverá.

‒ Tudo bem. ‒ Julian suspirou dramaticamente, caindo de volta na cama. ‒ Qual é a

regra número três?

‒ Regra número três... ‒ Bear continuou, tentando manter a voz firme. ‒ ... é que não

nos antagonizamos.

‒ Sem antagonismo? ‒ Julian rolou para o lado, apoiando a cabeça em uma das

mãos. ‒ Mas onde está a diversão nisso?

‒ Diversão não é o objetivo aqui. Manter você vivo é.

‒ Ah, sim ‒ Julian revirou os olhos. ‒ Porque minha vida é muito preciosa para

você, não é, Bear?

‒ Angelo me mataria se alguma coisa acontecesse com você. ‒ Bear respondeu

secamente, evitando os olhos penetrantes de Julian. ‒ Essa é a única razão.

‒ Claro. ‒ Disse Julian. ‒ Nada mais do que isso.

Suas tentativas de dar um sorriso indiferente foram insuficientes e então ele ficou

quieto.

Era o que Bear desejava... mas esse era o tipo errado de silêncio. Havia uma tensão

sutil que era imperceptível para quem não estava sintonizado com as nuances do medo. O

olhar de Bear se concentrou no leve tremor de seus punhos cerrados, nos sinais

reveladores de tensão que traíam a turbulência que se agitava dentro dele.

Página 30
Os olhos atentos de Bear captaram o lampejo fugaz de vulnerabilidade no olhar de

Julian. ‒ Você está bem, garoto?

‒ O que? Eu? Sempre. ‒ Julian soprou o cabelo dos olhos. ‒ Um pouco de ação me

mantém alerta.

Mas quando Julian se virou para Bear, seus olhos se desviaram por um momento

antes de ele recuperar a compostura. Ele tentou reunir um sorriso, mas falhou. Havia

medo abaixo da superfície.

Bear encostou-se na cômoda surrada, seus olhos nunca se afastando de Julian. ‒

Não posso me enganar, garoto. ‒ Disse Bear, sua voz cortando o silêncio pesado da sala. ‒

Já vi os mais durões deles quebrarem sob pressão.

‒ Quem disse que estou com medo?

Bear ergueu uma sobrancelha, suas feições ásperas marcadas com uma mistura de

simpatia e diversão. Ele deu um passo mais perto, sua presença preenchendo o espaço

entre eles. ‒ É a primeira vez que você leva um tiro?

O olhar arregalado de Julian encontrou o olhar firme de Bear. Ele olhou para baixo

e então um aceno de cabeça confirmou o que Bear suspeitava.

Um lampejo de empatia suavizou as feições de Bear enquanto lembranças de seu

primeiro encontro com a violência passavam por sua mente. Ele conhecia o peso daquele

momento, a chocante compreensão da mortalidade que abalou seu âmago.

Diminuindo a distância entre eles, a mão de Bear foi até o ombro de Julian, um

gesto de solidariedade e segurança silenciosa. O toque foi firme, um lembrete tangível de

que eles estavam juntos nisso.

‒ Você se saiu bem lá atrás. ‒ Bear resmungou, com a voz baixa e rouca, como se as

palavras fossem dirigidas apenas aos ouvidos de Julian. ‒ Você me ouviu. Você está vivo.

É isso que importa.

Bear observou enquanto o tremor de Julian diminuía ligeiramente sob seu toque, o

medo se dissipando lentamente.

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Então... ele voltou ao que era antes.

Infelizmente.

‒ Você está me chamando de bom menino? ‒ Julian ronronou, interrompendo seus

pensamentos. Ele rolou o ombro contra a mão de Bear pedindo mais, provocando-o.

Bear, deixe ir. ‒ Cale-se.

‒ Relaxe, grandalhão. ‒ Disse Julian, agora com um tom mais gentil. ‒ Eu estou

apenas mexendo com você. Sei que você tem um trabalho a fazer e prometo que vou me

comportar. Majoritariamente. ‒ Ele piscou para Bear, mas sua bravata anterior foi

substituída por algo mais suave, mais vulnerável.

Pela primeira vez, Bear não viu nenhum pé no saco. Ele viu um jovem preso entre

dois mundos, assustado, mas tentando esconder.

Ele sentiu uma vontade repentina de confortá-lo, de abraçá-lo e prometer que nunca

mais deixaria ninguém machucá-lo.

Mas ele não conseguiu.

Seus próprios desejos eram fortes, mas ameaçavam desfazer tudo.

E ele não deixaria isso acontecer.

– Durma um pouco. – Bear disse rispidamente, virando as costas para Julian

enquanto verificava a fechadura da porta, tentando ignorar a dor em seu peito. ‒ Temos

uma longa semana pela frente.

Página 32
CAPÍTULO CINCO

O olhar de Julian vagou pelo pequeno quarto de motel, suas paredes bege e

pinturas genéricas de paisagens pouco faziam para entretê-lo. Ele passou um dia inteiro

enfiado no quarto com Bear, que era só negócios e nada de diversão.

Havia um limite de TV diurna que um homem poderia suportar. A frustração

borbulhava dentro dele enquanto procurava uma maneira de quebrar a monotonia.

‒ Você sabia que o tédio pode realmente ser letal? ‒ Julian perguntou, sua voz cheia

de sarcasmo. ‒ Chama-se ennui1. Os franceses têm uma palavra para tudo.

Bear nem sequer tirou os olhos da arma que estava limpando meticulosamente. ‒

Concentre-se em permanecer vivo, garoto. ‒ Ele resmungou, sua voz profunda ressoando

no espaço apertado.

Julian suspirou dramaticamente, cruzando as pernas e recostando-se na cabeceira

da cama. Seus olhos permaneceram nos ombros largos e nos braços musculosos de Bear

enquanto eles se moviam com precisão sobre a arma. Um sorriso travesso se espalhou por

seus lábios enquanto uma ideia se formava em sua mente.

‒ Sabe, eu sempre admirei você, Bear. ‒ Julian comentou com indiferença,

observando qualquer reação. ‒ Mesmo quando eu era adolescente, não pude deixar de

notar suas... armas.

A mão de Bear vacilou por um momento, sua testa franzida. Ele rapidamente

recuperou a compostura e continuou limpando a arma. ‒ Não estamos aqui para

relembrar. ‒ Ele disse severamente. ‒ Apenas fique onde está e deixe-me fazer o meu

trabalho.

Julian odiava a ideia de alguém vê-lo assustado. Afinal, ele era um Toscano. E tudo

bem, talvez ele não fosse tão durão quanto o irmão mais velho, mas conseguia agir como

1
Tédio em francês.

Página 33
se estivesse acima de tudo, legal e divertido. Ele jurou há muito tempo que não deixaria

nada afetá-lo.

Mas quando Bear o confortou no dia anterior, aquela pequena gentileza rompeu

suas defesas. Foi apenas um breve momento, mas algo nele fez seu peito doer.

Bear estava apenas sendo gentil. Isso não significava nada para ele ‒ claro que não.

Mas parecia mais para Julian. Esse cuidado, esse conforto... foi uma dose de algo

que o fez desejar mais.

‒ Claro, claro. ‒ Concordou Julian com um aceno exagerado. Só porque Bear o

estava ignorando não significava que ele não pudesse se divertir um pouco tentando

irritá-lo. ‒ Mas, na verdade, sempre me senti atraída por homens como você: grandes,

fortes, protetores. É difícil não notar alguém como você.

Desta vez, Bear não conseguiu esconder seu desconforto. Seus ombros ficaram

tensos e um leve rubor tomou conta de suas bochechas. Ele olhou para a arma em suas

mãos, evitando os olhos de Julian enquanto murmurava: ‒ Só estou fazendo meu trabalho,

garoto.

‒ É tão errado valorizar o homem que me mantém segura? ‒ Julian perguntou

inocentemente, com um brilho brincalhão nos olhos.

Bear finalmente ergueu os olhos, encontrando o olhar de Julian com uma mistura

de curiosidade e irritação. ‒ Do que você está brincando, Julian?

‒ Nada. ‒ Respondeu Julian, fingindo inocência. ‒ Só estou tentando animar um

pouco as coisas. E talvez conhecer um pouco melhor meu cavaleiro de armadura brilhante.

A mandíbula de Bear cerrou enquanto ele tentava manter uma distância

profissional, com o olhar fixo na arma em suas mãos. ‒ Julian... ‒ Ele finalmente falou, sua

voz tensa. ‒ ... estou aqui para te proteger. Tempo. Este não é o momento em ir para o lado

pessoal.

Página 34
‒ Tudo bem. ‒ Julian bufou, revirando os olhos e cruzando os braços sobre o peito. ‒

Entendo. Você está apenas fazendo seu trabalho. Ele sabia que Bear estava certo, mas isso

não tornava tudo menos frustrante.

Por um momento, eles ficaram sentados em silêncio, o único som na sala vindo do

clique rítmico de Bear desmontando a arma. Julian tentou manter seus pensamentos

quietos, mas as lembranças do atentado contra sua vida no dia anterior causaram arrepios

em sua espinha.

Ele precisava de algo, qualquer coisa, para preencher o silêncio.

‒ Então, o que você acha que vai acontecer a seguir? ‒ Ele perguntou, seu tom mais

leve do que antes, mas ainda tingido de ansiedade. ‒ Será que Angelo encontrará quem

está atrás de mim?

‒ Ele não vai descansar até que o faça. ‒ Respondeu Bear, sem tirar os olhos de sua

tarefa. ‒ Mas, por enquanto, nosso foco é mantê-lo seguro. Não se preocupe com mais

nada.

‒ Certo. ‒ Murmurou Julian, engolindo em seco. ‒ Seguro. ‒ Ele se recostou na

parede do quarto de motel, o papel de parede descascado áspero sob as pontas dos dedos.

Ele tentou se convencer de que tudo ficaria bem, mas o medo borbulhava logo abaixo da

superfície.

E junto com esse medo havia outra coisa.

A mente de Julian começou a divagar, as memórias de sua adolescência voltando à

tona. A maneira como ele costumava observar Bear à distância, fantasiando sobre como

seria estar preso sob o homem poderoso, totalmente à sua mercê.

Ele sempre foi atraído por homens fortes e dominadores, e Bear era o epítome desse

ideal para ele. Um arrepio percorreu sua espinha ao imaginar as grandes mãos de Bear em

seu corpo, segurando-o e assumindo o controle.

‒ Sabe, eu realmente deveria agradecer ao cara que atirou em mim. ‒ Julian refletiu.

‒ Sempre tive uma queda por caras grandes e fortes como você, e agora estamos presos

Página 35
juntos. É tão romântico. Esta vai ser a melhor história para contar no bar gay de casa. Eu

deveria enviar-lhe um sinal de agradecimento. Uma bela cesta, talvez?

Um lampejo de surpresa passou brevemente pelo rosto de Bear. Julian sentiu uma

pequena pontada de satisfação. Ele não sabia que eu sou gay! Bem, agora isso está aí. Eu me

pergunto o que ele fará com isso...

Mas Bear lidou com sua surpresa com a mesma facilidade com que lidou com todo

o resto. ‒ Angelo está com ele. Não creio que um obstáculo esteja no topo das suas

prioridades neste momento.

Julian estremeceu. Seu irmão mais velho sempre nasceu para governar o

submundo, mas Julian era o tipo de cara que desmaiava ao doar sangue. Eles eram

pessoas muito diferentes. ‒ Não vou pensar muito sobre isso.

Bear voltou ao trabalho, mas a linha descartável de Julian fez o seu trabalho.

Quando Bear olhou para ele novamente, seus olhos permaneceram em Julian apenas uma

fração mais do que o necessário.

Isso enviou um arrepio pelo corpo de Julian. Ele podia ver o brilho de algo novo

nos olhos de Bear, apesar de seus melhores esforços para permanecer distante:

curiosidade? Atração? Julian só podia ter esperança.

Encorajado por essa reação, Julian se aproximou do homem mais velho, passando

os dedos de brincadeira pelo braço de Bear. ‒ Sim, esta vai ser uma ótima história. ‒ Julian

perguntou, sorrindo maliciosamente. ‒ Isso é muito forte que você tem aí.

‒ Pare com isso, Julian ‒ Bear avisou, embora sua voz estivesse mais suave do que

antes.

‒ Ou o que? ‒ Julian desafiou, seu pulso acelerando com a ideia de Bear finalmente

assumindo o controle dele. Ele sabia o risco que corria, mas não conseguia evitar. Ele

precisava se sentir vivo novamente, para escapar do medo que o assombrava.

‒ Ou vou colocá-lo sobre meus joelhos e dar-lhe uma surra ‒ Bear rosnou, a ameaça

em sua voz fez Julian prender a respiração. ‒ É isso que você quer ouvir?

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‒ Promessas, promessas. ‒ Murmurou Julian.

Ele encontrou uma linha. E agora, como todas as linhas que ele já encontrou, ele iria

ver até onde poderia ir.

Ele recostou-se na cabeceira da cama. ‒ Sabe, assim que superarmos essa coisa de

alguém está tentando me matar, vou comemorar indo aos bares gays daqui com algo feroz.

Ouvi dizer que eles são muito bons.

‒ Não saberia.

‒ Você é uma espécie de guia turístico.

‒ Eu não sou um guia turístico.

‒ Bem, então terei que ver com meus próprios olhos. ‒ Julian suspirou e se esticou

na cama. ‒ A cena gay em Londres é ótima. ‒ Continuou ele casualmente. ‒ Muita diversão.

Uma vez, tive um cara, um verdadeiro tipo de papai. Ele me segurou e assumiu o controle

total, me tratando como seu brinquedo pessoal. Foi... intenso.

‒ Volte a assistir Roda da Fortuna.

‒ Eu não quero assistir Roda da Fortuna. Ninguém quer assistir a Roda da Fortuna.

Bear estava mantendo a compostura, mas Julian podia ver o efeito que suas

palavras estavam causando nele. A respiração do homem mais velho era mais deliberada,

seu peito subia e descia rapidamente sob a camisa justa.

‒ Desta vez, fui amarrado e vendado por um ex-policial que me fez implorar por

isso. ‒ Continuou Julian. ‒ Ele me provocou por horas antes de finalmente me dar o que eu

queria, mas apenas quando prometi ser bom.

‒ Então... nunca.

‒ Ei, posso me comportar quando quiser.

‒ Vou acreditar nisso quando ver. ‒ Bear bufou, e então suas sobrancelhas

franziram enquanto ele claramente se arrependia de suas palavras.

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Julian sorriu para ele. ‒ Então faça-me comportar-me. ‒ Sussurrou ele. ‒ Você é

muito mais forte do que qualquer um deles, muito mais perigoso. Aposto que você

poderia fazer muito mais do que eles...

Esse foi o ponto de ruptura. Havia algo dentro de Bear que não podia mais ser

contido.

Julian havia vencido... e isso o aterrorizava.

Com um grunhido, Bear largou a arma. Com um movimento rápido, ele agarrou

Julian pelo braço e puxou-o para frente, puxando-o para seu colo.

A primeira palmada caiu com um tapa alto, o som ecoando pelo pequeno quarto do

motel. A mão grande de Bear deixou uma marca dolorosa na bunda de Julian, mesmo

através das calças, e ele não pôde deixar de gritar alarmado. A dor foi rapidamente

seguida por uma onda de prazer, fazendo sua cabeça girar.

‒ É isso que você quer? ‒ Bear rosnou, sua voz áspera com desejo mal contido.

‒ Deus, sim ‒ Julian engasgou, um arrepio de antecipação percorrendo sua espinha.

Bear deu outra surra na bunda de Julian. A sensação enviou ondas de choque pelo

corpo de Julian, fazendo-o tremer de desejo.

Julian choramingou, com as bochechas coradas e a respiração ofegante. ‒ Por favor,

não pare.

A mão de Bear continuou a chover na bunda de Julian, cada palmada mais dura e

intensa que a anterior. O som de carne encontrando carne encheu a sala, pontuado pelos

gemidos e gemidos cada vez mais desesperados de Julian.

E Julian não foi o único afetado.

À medida que os gemidos de Julian ficavam mais altos, mais urgentes, à medida

que o calor aumentava dentro dele, ele sentiu a dureza de Bear pressionando seu quadril.

Um sorriso triunfante se espalhou por seu rosto. Ele esteve perto de homens mais

velhos e dominantes por muito tempo para não reconhecer aquela centelha de necessidade

Página 38
quando ele estava lá. Ele sabia que havia algo entre eles, mesmo que Bear fosse teimoso

demais para admitir isso.

‒ Porra, Bear. ‒ Julian ofegou, esfregando-se contra o colo do homem mais velho.

Seu pênis estava dolorosamente duro, esticando o tecido de suas calças. ‒ Isso é tudo que

você tem?

‒ Droga, garoto. ‒ Bear rosnou, sua mão descendo com outro tapa retumbante. O

calor irradiava através do corpo de Julian, fazendo-o estremecer de prazer.

‒ Por favor... ‒ Implorou Julian, empurrando os quadris para a frente. ‒ Eu preciso...

eu preciso...

A mão de Bear parou em sua bunda e Julian pôde sentir a tensão em seu corpo. Ele

sabia que Bear estava lutando para manter o controle, mas isso só o fazia desejá-lo mais.

Ele se apertou mais perto, esfregando-se contra a protuberância inconfundível nas calças

de Bear.

Por um momento, pareceu que Bear iria ceder. Sua respiração estava irregular, seu

aperto em Julian estava cada vez mais forte...

Mas então, de repente, ele empurrou Julian para longe dele, fazendo-o cair no chão

do quarto do motel.

Julian olhou para ele, com o coração batendo forte no peito. Ele podia ver o conflito

que assolava dentro de Bear e sabia que quase havia vencido. Ele lambeu os lábios,

permitindo que seu olhar descesse até a impressionante ereção que cobria as calças de

Bear.

‒ Deixe-me cuidar disso para você. ‒ Murmurou Julian, com os olhos cheios de

necessidade.

A mandíbula de Bear se apertou, seus olhos fixos nos de Julian. ‒ Não. ‒ Disse ele,

com a voz baixa e intensa. ‒ Não podemos cruzar essa linha.

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O coração de Julian disparou enquanto ele tentava decifrar a expressão de Bear.

Certamente, o desejo que sentiu momentos atrás não poderia ter desaparecido tão

rapidamente.

‒ Escute. ‒ Bear continuou, levantando-se e dando um passo longe de Julian. ‒

Minha lealdade é para com Angelo e nossa missão. Protegê-lo, mantê-lo vivo, é para isso

que estou aqui. ‒ Suas palavras eram firmes e a convicção inabalável. ‒ Não para... isso.

‒ Tudo bem. ‒ Disse Julian, sentindo uma pontada de rejeição no peito. ‒ Faça do

seu jeito, então. ‒ Ele se afastou de Bear, tentando esconder o sentimento doentio de

rejeição que tomava conta dele.

‒ Com certeza, eu irei. ‒ Bear murmurou baixinho, sua frustração palpável. Ele

pegou o maço de cigarros e o isqueiro da mesa de cabeceira, indo em direção à porta.

‒ Onde você está indo?

‒ Sair para fumar. ‒ Foi a resposta áspera. Com isso, Bear saiu, deixando a porta

bater atrás dele.

Julian afundou-se na beira da cama, com as mãos tremendo levemente enquanto

tentava processar tudo o que acabara de acontecer. O que diabos aconteceu? Seria tudo

apenas um jogo, uma piada cruel feita por suas próprias fantasias?

Ele repassou a cena em sua mente: o calor da mão de Bear em sua bunda, o som

daquelas palmadas fortes e fortes, a dureza que sentiu pressionando contra ele.

Foi real, não foi? Parecia tão perfeito, como dois opostos se unindo como um só.

Mas então por que Bear insistiu tanto em afastá-lo?

‒ Droga! ‒ Sussurrou Julian, fechando os dedos em punhos enquanto lutava contra

o gosto amargo da decepção. Por enquanto, ele teria que aceitar a realidade diante dele:

Bear estava fora dos limites, inatingível.

Mas enquanto a lembrança do toque de Bear permanecia em sua pele, Julian não

conseguia se livrar da sensação de que algo havia mudado entre eles – e não poderia ser

desfeito.

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CAPÍTULO SEIS

Bear estava cruzando uma linha.

Ele sabia disso, mas não importava. Ele não conseguia se conter.

Ele nunca pensou que seria tão próximo do irmão Toscano mais novo, mas aqui

estavam eles, explorando um ao outro na escuridão. Bear se sentiu atraído pela

vulnerabilidade de Julian, pela maneira como parecia se abrir com ele.

Bear sempre gostou de proteger as pessoas. Usar sua força para manter alguém

seguro: era nisso que ele era bom e ele adorava.

E por mais que Julian fingisse estar acima de tudo, ele precisava de proteção. Não

importa o quanto ele tentasse lutar contra isso, a vulnerabilidade nos olhos de Julian

despertou algo dentro de Bear, seus instintos acelerando.

‒ Beije-me com mais força. ‒ Julian respirou contra os lábios de Bear, sua voz cheia

de necessidade. Bear obedeceu sem hesitação, suas mãos encontrando o caminho para os

quadris de Julian enquanto eles pressionavam seus corpos. Eles se moviam ritmicamente,

suas bocas travadas em uma dança apaixonada que refletia o movimento de seus quadris.

Bear não podia negar a excitação que o percorreu ao sentir a dureza de Julian contra

a sua. No entanto, suas dúvidas o impediram, ecoando em sua mente.

Isso foi uma traição a Angelo? Será que sua lealdade à família Toscano seria

questionada caso Angelo descobrisse o que estava acontecendo naquele quartinho de

motel de merda?

‒ Meu Deus, Bear, eu queria isso há anos. ‒ Julian murmurou, afastando os lábios

dos de Bear por um breve momento.

Sua confissão causou arrepios na espinha de Bear. ‒ Anos? ‒ Ele conseguiu

engasgar, sua voz quase um sussurro.

Página 41
Julian assentiu, seus olhos escuros de luxúria e segredos. ‒ Desde que eu era

adolescente. ‒ Ele confessou, com um sorriso malicioso se espalhando por seu rosto. ‒ Eu

costumava fantasiar sobre você entrando no meu quarto à noite, assumindo o controle de

mim...

Merda. Bear era guarda-costas, mas ainda era um homem. A revelação acendeu um

fogo dentro dele, empurrando suas dúvidas e preocupações sobre Angelo para o fundo de

sua mente. Tudo o que importava agora era realizar aquelas fantasias antigas, tornar os

sonhos de Julian uma realidade.

Ele agarrou Julian com mais força, seus quadris se movendo em sincronia enquanto

eles se perdiam no calor do momento. ‒ Diga-me o que você quer. ‒ Rosnou Bear, com a

voz baixa e faminta. ‒ Diga-me como tornar essas fantasias realidade.

A resposta de Julian foi imediata, seus olhos fixos nos de Bear com uma

determinação feroz. ‒ Eu quero tudo, Bear. Tudo o que você está disposto a dar.

‒ Sim? ‒ Bear puxou os quadris de Julian contra os seus. ‒ Tudo?

Julian gemeu. ‒ Tudo!

‒ Nesse caso... comporte-se como um bom menino para mim, Julian. ‒ Bear

ordenou, sua voz cheia de autoridade. As palavras enviaram uma descarga elétrica pela

sala, e ele pôde ver o efeito que tiveram em Julian. Seus olhos brilharam de excitação, e

Bear sabia que havia descoberto algo primitivo dentro do homem mais jovem.

‒ Claro. ‒ Respondeu Julian, com um sorriso travesso nos lábios. ‒ Eu serei o

melhor garoto que você já viu. ‒ Ele se inclinou, dando outro beijo rápido e acalorado na

boca de Bear antes de se afastar provocativamente.

Bear não pôde deixar de sorrir com a ansiedade nos olhos de Julian; estava claro

que ele estava esperando por esse momento há muito tempo. ‒ Prove. ‒ Ele desafiou,

permitindo que sua mão percorresse as costas de Julian, apertando sua bunda com

firmeza. ‒ Mostre-me que você pode realmente me ouvir pelo menos uma vez. ‒

‒ Apenas me diga o que fazer. ‒ Julian respirou, com a voz carregada de desejo.

Página 42
‒ Ajoelhe-se. ‒ Ordenou Bear, seu tom não deixando espaço para discussão.

Julian imediatamente caiu de joelhos, seu olhar nunca deixando de Bear enquanto

ele se acomodava no carpete sujo do quarto de motel. Foi uma visão que despertou algo

profundo dentro de Bear, fazendo-o se sentir poderoso e no controle de uma forma que

nunca havia experimentado antes.

Bear ficou maravilhado com a visão diante dele: Julian, com seus olhos brilhantes e

bochechas coradas, ajoelhado submissamente a seus pés. Ele era inegavelmente lindo, e o

coração de Bear se encheu de orgulho e possessividade. Quantas noites Julian passou

sonhando com esse momento? E agora, aqui estavam eles, transformando esses sonhos em

realidade.

‒ Droga. ‒ Bear murmurou, incapaz de desviar os olhos da visão do jovem

ajoelhado. Ele podia sentir o calor irradiando do corpo de Julian, praticamente podia sentir

o gosto do desespero em sua respiração pesada. ‒ Você quer isso, não é? ‒ Ele perguntou, a

voz baixa e provocante enquanto enfiava seu próprio pau duro através das calças.

‒ S-sim ‒ Julian gaguejou, os olhos fixos na mão de Bear como um homem faminto

ao ver comida. ‒ Por favor, Bear.

‒ Por favor, o que? ‒ Bear questionou, gostando da maneira como Julian se

contorceu sob seu olhar. Ele lentamente abriu o zíper das calças, libertando seu pênis

latejante de seus limites, então agarrou-o firmemente em sua mão. A cabeça já estava cheia

de pré-gozo, e ele sorriu com o desejo de boca aberta de Julian. ‒ Você vai ter que ser mais

específico se quiser falar sobre isso.

Julian lambeu os lábios e, por um momento, Bear viu uma centelha de desafio

habitual em seus olhos. ‒ Eu não deveria ter que implorar. ‒ Ele zombou, tentando manter

alguma aparência de dignidade. ‒ Eu sou material de alta qualidade, aqui.

‒ Talvez sim. ‒ Respondeu Bear, acariciando-se vagarosamente. Apesar de toda a

fanfarronice de Julian, seus olhos estavam grudados em cada golpe da mão de Bear. ‒ Mas

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neste momento você está sendo um bom menino para mim... e bons meninos sabem pedir

o que querem, não é?

‒ Merda ‒ Julian murmurou, sua resistência desmoronando sob o peso de sua

necessidade. ‒ Sim está bem. Por favor, Bear, deixe-me chupar seu pau. Eu... eu preciso

disso.

‒ Bom menino. ‒ Elogiou Bear, aproximando-se para que a ponta de seu pênis

roçasse os lábios de Julian. ‒ Agora me mostre o quanto você precisa disso.

Ansioso por agradar, Julian não perdeu tempo em envolver os lábios ao redor do

comprimento grosso de Bear. A sensação de calor quente e úmido envolvendo-o fez Bear

gemer, e ele lutou para manter o controle quando Julian começou a sugar avidamente.

‒ Calma aí, querido. ‒ Bear instruiu, agarrando o cabelo de Julian para guiar seus

movimentos. ‒ Quero que você vá com calma. Mostre-me o quão boa essa sua linda boca

pode ser... quando você não está exagerando , é claro.

Julian gemeu ao redor do pênis de Bear, o som causando arrepios na espinha de

Bear, e obedeceu ao seu comando. Ele se moveu lentamente, levando mais do

comprimento de Bear em sua boca a cada movimento de sua cabeça. Enquanto Julian

continuava a adorar o pênis de Bear, a linha entre prazer e poder ficou turva, deixando os

dois tremendo à beira do êxtase.

‒ Deus, você está indo tão bem. ‒ Murmurou Bear, olhando para o homem

ajoelhado diante dele. ‒ Mas não pense que isso significa que vou pegar leve com você.

Espero que meus bons meninos deem tudo de si quando estiverem me servindo.

Julian gemeu sem palavras. Bear decidiu interpretar isso como um bom sinal. ‒ Vá

mais fundo, garoto. ‒ Ele rosnou, a mão ainda segurando o cabelo de Julian enquanto o

guiava para baixo. Ele podia ver a tensão nos olhos de Julian enquanto ele lutava para

acomodar mais o comprimento grosso de Bear, mas também havia um brilho de

determinação neles que Bear achou irresistivelmente atraente.

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‒ Tem certeza que pode cuidar de mim? ‒ Bear provocou, empurrando Julian um

pouco mais. ‒ Eu não gostaria que você se engasgasse com sua própria ambição.

Julian se afastou um pouco, liberando o pau de Bear da boca com um estalo

molhado. ‒ Você me subestima. ‒ Ele ofegou, dando a Bear um sorriso malicioso. ‒ Eu

sempre estou à altura do desafio.

‒ Muito bem, então. ‒ Disse Bear, com um sorriso aparecendo em seus lábios,

apesar de seus melhores esforços para permanecer severo. ‒ Prove.

Com vigor renovado, Julian mergulhou de volta no pênis de Bear, absorvendo cada

centímetro. Sua garganta trabalhou em torno do pênis de Bear, deslizando para frente com

uma firmeza lenta que fez a bola de Bear apertar, até que seu nariz pressionou contra os

pelos pubianos ásperos de Bear. A visão de Julian tomando-o, com as bochechas coradas,

enviou uma onda de excitação através de Bear que ameaçou desfazê-lo.

‒ Um menino tão bom para mim. ‒ Elogiou Bear, com a voz rouca. ‒ Mas agora

acho que é hora de algo ainda melhor.

Antes que Julian tivesse chance de responder, Bear o puxou pelo colarinho e o

jogou na cama, pressionando-o contra o colchão. ‒ Tire as calças. ‒ Ordenou Bear, já

tirando as suas. ‒ E abra as pernas para mim.

‒ Qualquer coisa por você. ‒ Julian respondeu sem fôlego, tirando as calças e

obedecendo ansiosamente. Sua dureza estava orgulhosa entre suas pernas, uma prova do

quanto ele desejava o toque de Bear.

‒ Que visão tão linda. ‒ Bear refletiu, posicionando-se entre as coxas de Julian. ‒

Mas não posso deixar de me perguntar... Você consegue lidar com o que estou prestes a

lhe dar?

‒ Experimente. ‒ Desafiou Julian, com a voz carregada de desejo.

Bear riu, sua voz baixa e perigosa. Foi questão de um momento pegar um frasco de

óleo de seu kit - ei, um homem nunca sabe quando vai precisar dele - e lubrificar seu

pênis.

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Ele agarrou os quadris de Julian, puxando-o para mais perto até que seus corpos

estivessem encostados um no outro. ‒ Segure firme, garoto. Vou te dar tudo o que você

pediu.

Com isso, ele avançou, enterrando-se profundamente no calor acolhedor de Julian.

O gemido que escapou dos lábios de Julian foi uma sinfonia de prazer e submissão,

estimulando Bear.

O ânus apertado de Julian era como uma luva, apertando o membro grosso de Bear

a cada estocada. A maneira como Julian se movia debaixo dele despertou uma necessidade

feroz nele, cada impulso aumentando em intensidade enquanto Julian gemia e se contorcia

em êxtase.

A cada estocada, Bear podia sentir cada centímetro de Julian, puxando-o para mais

perto a cada segundo. Já fazia muito tempo que ele não se sentia assim. Agora, ele

precisava deste homem mais do que qualquer outra coisa.

Seus corpos se moviam juntos, uma dança primitiva alimentada pela paixão e

luxúria, enquanto procuravam reivindicar um ao outro da maneira mais íntima.

‒ Meu Deus, Bear, você é tão bom. ‒ Julian engasgou. Suas mãos se fecharam em

punhos enquanto ele agarrava os lençóis, necessitado e desesperado.

Bear deleitou-se com a sensação do corpo apertado de Julian enrolado em torno

dele, agarrando seu pau grosso como um torno de veludo. Ele não pôde deixar de pensar

em todas as outras maneiras que queria explorar Julian, reivindicar cada centímetro dele,

enchendo-o de prazer e marcando-o como seu.

‒ Porra. ‒ Julian gemeu, sua voz tensa enquanto ele se agarrava a Bear para salvar

sua vida. ‒ Você está acertando o ponto certo.

‒ Bons meninos sempre são recompensados. ‒ Bear grunhiu, acelerando o ritmo

enquanto fodia Julian com mais força, levando-o ao seu limite.

Bear traçou uma linha pela espinha de Julian, maravilhado com a suavidade de sua

pele e a ondulação dos músculos abaixo dela. Ele apertou ainda mais os quadris de Julian,

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penetrando nele com força renovada enquanto o desejo despertava quente e brilhante

dentro dele.

Seus quadris balançavam firmemente contra os de Julian, num ritmo viciante e

primitivo. Em sua mente, ele podia se ver fazendo isso para sempre, tomando Julian uma e

outra vez até que ambos ficassem exaustos, emaranhados nos membros um do outro e

escorregadios de suor.

‒ Você consegue sentir o quanto... o quanto eu desejei você? ‒ Julian engasgou entre

suspiros, seu corpo tremendo. ‒ Porra, Bear, você não tem ideia de há quanto tempo estou

sonhando com isso...

‒ Seus sonhos devem ter sido muito vívidos, então. ‒ Bear grunhiu, afundando-se

ainda mais no calor acolhedor de Julian.

Julian riu e, mesmo quando se aproximava do clímax, continuou a tagarelar. ‒ Oh,

você não tem ideia. ‒ Ele ofegou. ‒ Então você tem muitas fantasias para viver - sem

pressão.

Bear cerrou os dentes, tentando se concentrar na tarefa em questão, ou seja, foder

Julian com força suficiente para fazê-lo calar a boca. Mas nada no mundo poderia fazer

isso, aparentemente.

‒ Confie em mim... ‒ Continuou Julian, ofegante entre as palavras. — ... imaginei

todos os cenários possíveis. Mas... – Ele soltou uma risadinha trêmula, suas coxas

tremendo quando Bear investiu contra ele. ‒ Acontece que nenhum deles se compara ao

real.

Esse era todo o incentivo que Bear precisava. Ele investiu contra Julian com mais

força, silenciando sua conversa, deixando os dois ofegantes enquanto navegavam nas

ondas do prazer compartilhado.

Teria sido a coisa mais fácil do mundo ceder, entrar profundamente no corpinho

apertado de Julian, mas Bear lutou contra seu próprio clímax. Seu foco mudou

inteiramente para o rosto corado de Julian e a maneira como seus olhos pareciam

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escurecer de desejo. Ele conhecia aquele olhar: era um sinal inequívoco de que estava

chegando a um ponto de virada, onde a provocação daria lugar a algo mais profundo, algo

cru e primitivo.

‒ Um menino tão bom para mim, não é? ‒ Bear rugiu, sua voz baixa e autoritária

enquanto segurava os quadris de Julian, guiando-o em um ritmo constante que fez os dois

gemerem em uníssono.

A respiração de Julian engatou ao som do elogio de Bear, seu corpo respondendo

instintivamente ao tom dominante. ‒ Sim... sim, papai. ‒ Ele engasgou, saboreando a nova

dinâmica de poder entre eles. Foi emocionante a facilidade com que eles assumiram esses

papéis, como se sempre fosse assim.

‒ Bom. ‒ Bear rosnou, sentindo a onda de domínio correr em suas veias. Ele não

pôde deixar de se maravilhar com a forma como Julian se submeteu tão voluntariamente a

ele, seguindo ansiosamente cada comando e gemido de prazer. Era inebriante o controle

que Bear exercia sobre esse jovem charmoso e inteligente ‒ e ele não trocaria isso por nada

no mundo.

‒ Diga-me o que você quer. ‒ Bear exigiu, sua voz firme, mas gentil, enquanto

continuava a foder Julian com golpes medidos, projetados para empurrá-lo mais perto do

limite.

‒ Mais... ‒ Sussurrou Julian, com a voz trêmula de necessidade. ‒ Por favor... me dê

mais.

‒ Sim? ‒ Bear provocou, permitindo-se um pequeno sorriso enquanto acelerava o

ritmo, atingindo Julian com vigor renovado. ‒ Você acha que mereceu, lindo rapaz?

‒ S... sim. ‒ Julian gaguejou, com os olhos arregalados e suplicantes ao encontrar o

olhar de Bear. ‒ Serei bom para você, prometo. Por favor.

‒ Tudo bem. ‒ Bear cedeu, seu coração inchando com uma estranha mistura de

orgulho e carinho pelo homem se contorcendo embaixo dele. ‒ Você está indo tão bem,

querido. Tão bom para mim.

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Ele deslizou a mão ao redor do arco do quadril de Julian e desceu ao longo da

superfície plana de seu estômago, até fechar em torno de seu pênis. Julian engasgou e

empurrou na mão de Bear, seu pênis latejando à beira da liberação.

‒ Goze para mim. ‒ Bear rosnou, penetrando profundamente em Julian.

Julian mordeu o lábio, seu corpo ficou tenso, e então, em um momento delicioso, ele

caiu na borda. Seu corpo tremeu e ficou tenso, cada nervo aceso com êxtase elétrico

enquanto ele gritava sua libertação, perdido nas poderosas ondas de prazer que caíam

sobre ele.

Bear não conseguia desviar os olhos da visão do orgasmo de Julian, a beleza

absoluta dele ameaçando desfazê-lo completamente. E quando Julian chamou seu nome ‒

sem fôlego, reverente, cheio de necessidade ‒ foi tudo que ele precisou para levá-lo a uma

espiral em direção ao seu próprio clímax.

‒ Porra, Julian... ‒ Bear gemeu, e então cedeu, seu clímax o atingiu como um

tsunami.

Na sequência, a respiração deles gradualmente voltou ao normal e a névoa de

prazer começou a se dissipar. Julian ficou ali deitado, o corpo ainda corado e formigando

por causa do amor apaixonado, o gosto de suor nos lábios. Um sorriso atrevido se

espalhou por seu rosto.

‒ Você percebe... ‒ Começou ele, com a voz um pouco rouca por causa dos gemidos

e gritos de prazer anteriores. ‒ ... que Angelo vai matar nós dois quando descobrir isso?

Bear gemeu, o estrondo profundo em seu peito vibrando contra a pele de Julian

enquanto eles estavam entrelaçados. Os lençóis estavam emaranhados ao redor deles,

úmidos pelo esforço, mas nenhum dos dois pareceu se importar. Por enquanto, tudo o que

importava era o calor dos corpos um do outro e os tremores persistentes do êxtase

compartilhado.

– Ele pode não aceitar bem. – Admitiu Bear, seus dedos traçando círculos

distraidamente no abdômen de Julian, causando arrepios. ‒ Mas eu posso lidar com isso.

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Foi uma afirmação ousada, mas que parecia verdadeira em cada fibra do seu ser. O

que ele acabara de fazer não era algo que parecesse uma traição. Não mais.

‒ Realmente? ‒ Julian brincou, rolando de lado para encarar Bear, o sorriso nunca

saindo de seus lábios. ‒ Você não está nem um pouco assustado com meu irmão mais

velho?

‒ Claro que estou. ‒ Respondeu Bear.

Mas havia algo mais importante do que isso.

A maneira como o corpo de Julian se movia junto com o seu, a luz nos olhos de

Julian enquanto ele obedecia aos comandos de Bear, o alívio suave em sua linguagem

corporal quando ele se entregava a Bear...

Não parecia apenas uma foda rápida. Parecia certo.

Tenho medo do que isso afetará tudo o que ajudei os Toscanos a construir, pensou Bear.

Mas tenho mais medo de nunca mais passar por isso .

Com esse pensamento íntimo, ele se inclinou para dar um beijo carinhoso nos lábios

de Julian, suas mãos ásperas cobrindo o rosto do jovem.

‒ Além disso... ‒ Bear acrescentou com um sorriso malicioso, cutucando

suavemente a coxa de Julian com a sua. ‒ ... se você tem energia suficiente para brincar,

então certamente terá energia suficiente para a segunda rodada.

A risada de Julian encheu a sala, alegre e alegre como uma sinfonia. Enquanto eles

riam juntos, seus corpos pressionados mais uma vez, era impossível não sentir a pura

felicidade e contentamento que os invadia, levando embora suas circunstâncias.

Página 50
CAPÍTULO SETE

O vento bagunçou os cabelos de Julian enquanto Bear e Julian aceleravam pela

estrada em direção à mansão de Angelo. Ele se recostou na cadeira, olhando de relance

para o perfil forte de Bear. Ele admirou a forma como os nós dos dedos de Bear apertaram

o volante – um aperto que dizia muito sobre sua força e determinação.

Quando Bear contou a ele sobre todo o plano de se infiltrar em quartos de motel de

merda, Julian não foi exatamente um fã. Ele não tinha voltado para casa apenas para ficar

trancado em casa assistindo TV durante o dia durante uma semana, espiando por trás de

cortinas sujas para verificar se havia assassinos à espreita perto da máquina de gelo.

Mas descobriu-se que havia maneiras muito melhores de matar o tempo. Passo um:

ficar preso com alguém com quem você fantasiou durante anos…

Julian cruzou as pernas e sorriu com a dor causada pela queimadura do carpete em

seus joelhos. Sim, surpreendentemente, ser fodido sem sentido por dias a fio era um pouco

melhor do que mudar de canal e comer amendoim.

Ele enviou um agradecimento silencioso ao cara que atirou nele. Obrigado, cara. Você

é o melhor ala.

Mesmo que, depois de uma semana nas mãos de Angelo Toscano, aquele cara

provavelmente não estivesse exatamente em condições de ouvir seu agradecimento.

Julian olhou pela janela, observando a estrada passar atrás deles pelos retrovisores

laterais. Depois de vários dias sem que nada acontecesse, os homens de Angelo pensaram

que a ameaça havia diminuído o suficiente para que Julian saísse do esconderijo.

Se Julian se concentrasse no retrovisor, não teria que olhar para frente, onde o fim

de suas férias se aproximava.

E o fim de seu tempo com Bear.

Mas havia algo mais no retrovisor além de olhar para o umbigo…

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Julian franziu a testa, mantendo os olhos fixos nele. Bear os levou até uma esquina e

mudou de faixa, mas ainda assim permaneceu lá, no mesmo ritmo que eles...

Seu coração disparou, uma mistura de excitação e medo correndo por suas veias. ‒

Bear... Sou só eu ou aquele carro parece estar nos seguindo?

Os olhos de Bear estavam estreitados. ‒ Bom local. Já faz algum tempo que os

observo.

Ele escapou pelo trânsito, pegando um semáforo no último momento. O carro atrás

deles passou pelo sinal vermelho atrás deles, deixando o som das buzinas em seu rastro.

Julian ficou olhando. ‒ Sim, isso não foi coincidência.

Bear puxou Julian para longe da janela. ‒ Espere, garoto. ‒ Ele avisou, com a voz

baixa e firme.

Julian agarrou o apoio de braço, a adrenalina percorrendo seu sistema. Ele observou

com admiração enquanto Bear manobrava habilmente o carro, desviando do trânsito e

desviando de obstáculos, mantendo uma distância segura de seus perseguidores.

‒ Uau, você é muito bom nisso. ‒ Comentou Julian, com a voz sem fôlego de alegria.

Julian não pôde deixar de sentir uma sensação de admiração ao observar Bear em ação.

Apesar do perigo, havia algo inegavelmente sexy em ver o executor em seu

elemento: seus músculos tensos e preparados para a ação, sua mandíbula cerrada em

determinação.

‒ Não é a hora, garoto. ‒ Bear resmungou, sem tirar os olhos da estrada. ‒ Ligue

para Angelo. Agora! ‒ Ordenou ele, com a voz firme, mas surpreendentemente calma

dadas as circunstâncias.

O coração de Julian batia forte no peito enquanto ele procurava o telefone,

finalmente tirando-o do bolso e discando o número do irmão. O pânico que se apoderou

dele começou a se dissipar ligeiramente. Ele se concentrou na presença constante de Bear

ao seu lado, confiando que o homem iria tirá-los daquela confusão.

‒ Angelo! ‒ Julian disse quando seu irmão atendeu. ‒ Sou eu e...

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‒ Estamos a caminho e temos um seguidor. ‒ Disse Bear, tão firme como se também

não estivesse desviando um carro no trânsito em alta velocidade. Ele recitou a localização

deles e uma série eficiente de outros termos, todos passados por Julian como se estivessem

falando em código.

‒ Entendi. Mantenha-me atualizado sobre sua localização. ‒ Disse Angelo, com a

voz fria e profissional. Mas então algo mais surgiu em seu tom de comando. ‒ Julian...

fique com Bear. Ouça-o. Ele protegerá você.

A mão de Julian apertou seu telefone. ‒ Eu vou.

‒ Vejo você em breve. ‒ Disse Angelo com firmeza, antes de desligar.

Quando Julian baixou o telefone, ele não pôde deixar de notar a forma como os nós

dos dedos de Bear ficaram brancos ao redor do volante, uma prova de sua determinação

feroz em mantê-los seguros. Embora a situação fosse terrível, a visão causou um arrepio

na espinha de Julian: uma parte de medo, uma parte de alívio por ter alguém em quem ele

podia confiar.

Enquanto a adrenalina corria por suas veias, o coração de Julian batia forte em seu

peito, acompanhando o ritmo dos pneus cantando no asfalto.

‒ Fique abaixado, Julian! ‒ A voz de comando de Bear cortou o caos, seu olhar fixo

na estrada à frente. Em um movimento rápido e calculado, Bear agarrou o volante com

firmeza, os nós dos dedos ficando brancos enquanto ele manobrava habilmente o veículo

pelas ruas labirínticas da cidade. Julian observou com admiração os anos de experiência

de Bear se manifestarem em cada ação sua, em seus movimentos precisos e decisivos.

‒ Não posso dizer que eles não sabem como nos manter alerta. ‒ Bear resmungou,

sua voz misturada com um toque de urgência.

O olhar de Julian disparou entre o espelho lateral e a estrada à frente, com a

respiração presa em antecipação. ‒ Eles estão se aproximando. ‒ Disse ele, com a voz

firme, apesar da adrenalina correndo em suas veias.

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Com uma onda de velocidade, Bear atravessou habilmente o trânsito, seus reflexos

aperfeiçoados. Julian agarrou-se ao seu assento, com o olhar fixo no foco inabalável de

Bear. Havia uma confiança calma no comportamento de Bear, uma garantia tácita que

tomou conta de Julian como um bálsamo calmante, mas um músculo estava se contraindo

em sua mandíbula enquanto ele trabalhava duro para mantê-los à frente de seus

adversários.

‒ Estamos perdendo eles, mas são persistentes. ‒ Observou Bear, com a voz cheia de

uma mistura de frustração e determinação.

Com um timing impecável, Bear desviou para um beco, os pneus cantando em

protesto contra a mudança repentina de direção. O carro perseguidor seguiu o exemplo, e

sua presença era uma ameaça constante em seus calcanhares.

O beco se estreitou, testando os limites de sua manobrabilidade. A respiração de

Julian ficou presa na garganta enquanto Bear guiava habilmente o carro pelo espaço

apertado, enfiando a linha na agulha com precisão. Seus perseguidores lutavam para

acompanhá-los, suas tentativas eram prejudicadas pelas restrições da perseguição.

De repente, o carro que os perseguia se aproximou com uma velocidade

assustadora, colidindo com a traseira do veículo. O metal gemeu e o vidro se estilhaçou,

enchendo o ar com uma cacofonia de destruição.

O mundo de Julian virou de cabeça para baixo, literal e metaforicamente. O mundo

lá fora parecia girar em um borrão caótico enquanto o carro deles ficava fora de controle,

girando descontroladamente.

A última coisa que ouviu antes de desmaiar foi Bear gritando seu nome.

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CAPÍTULO OITO

‒ Ei, garoto. Acorde. ‒ A voz profunda de Bear penetrou na névoa da mente de

Julian, trazendo-o de volta à consciência. Dedos macios roçaram sua bochecha, um forte

contraste com o exterior áspero que ele normalmente associava a Bear.

‒ O que aconteceu? ‒ Julian gaguejou. Ele piscou ao ver a expressão preocupada de

Bear enquanto as memórias da perseguição de carro voltavam à tona. Ele ainda estava

sentado, o carro tombado de lado. Bear estava segurando a cabeça de Julian entre as mãos,

seu toque firme, mas gentil.

‒ Carro capotou. Mas estamos bem. ‒ Havia uma arma na mão livre de Bear e

manchas de sangue vermelho vivo em sua camisa. O que quer que Julian tenha perdido,

foi claramente agitado.

Bear viu para onde ele estava olhando. ‒ Estamos bem. Eles não estão. Mas

precisamos nos mudar antes que algum dos amigos deles chegue aqui. Você pode se

mexer? ‒ Bear perguntou, seus olhos examinando o corpo de Julian.

‒ S-sim, acho que sim. ‒ Julian disse com a voz trêmula enquanto tentava se sentar,

estremecendo com a dor que percorria suas costelas. Ele nunca havia sofrido um acidente

de carro antes, muito menos um que parecesse ter saído direto de um filme de ação.

‒ Bom. Precisamos sair daqui. O tom de Bear era totalmente profissional, mas Julian

não pôde deixar de notar a forma como seus olhos permaneceram nele com preocupação.

Era um lado de Bear que ele raramente via: protetor de uma forma que não tinha nada a

ver apenas com o dever.

‒ Obrigado. ‒ Sussurrou Julian, com o coração cheio de gratidão e afeto pelo

homem que acabara de salvar sua vida.

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‒ Guarde os agradecimentos para mais tarde. ‒ Disse Bear rispidamente, embora o

fantasma de um sorriso aparecesse no canto de seus lábios. ‒ Temos coisas mais

importantes com que nos preocupar agora.

Julian deu um passo e depois estremeceu com uma pontada de dor. Seu coração

afundou: sua perna doía demais para suportar peso.

Bear não perdeu o ritmo. Sem perguntar, ele simplesmente pegou Julian nos braços

como se não pesasse nada e saiu de cena. Ele carregou Julian por uma rua lateral,

movendo-se rapidamente.

‒ Uau! ‒ Julian agarrou-se aos seus ombros. ‒ Onde estamos indo?

‒ Há um armazém aqui perto. Podemos ficar escondidos lá até que reforços

cheguem até nós. – Respondeu Bear, com a voz tensa pelo esforço enquanto varria os

arredores em busca de sinais de seus agressores.

Ao entrarem nos limites mofados do armazém, o cheiro de ferrugem e

decomposição encheu as narinas de Julian. Estava longe do mundo glamoroso ao qual ele

estava acostumado, mas havia algo estranhamente reconfortante em estar nos braços de

Bear enquanto eles se escondiam de seus perseguidores.

Bear observou o layout do prédio em um piscar de olhos e, com passos silenciosos,

subiu uma passarela próxima até uma pequena sala. O escritório de um superintendente,

percebeu Julian, observando a ampla janela que dava para o que antes havia sido um chão

de fábrica ativo. A partir daí, os dois poderiam rastrear quem estava entrando na fábrica ‒

e se as coisas dessem errado, eles teriam uma posição vantajosa.

‒ Coloque-me no chão. ‒ Sussurrou Julian, não querendo mais ser um fardo. Bear

obedeceu, colocando-o no chão com cuidado antes de pressionar seus corpos juntos,

protegendo Julian com seu corpo musculoso. Naquele momento, Julian sentiu uma

estranha mistura de emoções: medo, desejo e uma enorme sensação de gratidão pela

proteção inabalável de Bear.

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‒ Escute... ‒ Disse Bear, seu hálito quente fazendo cócegas na orelha de Julian. ‒ Eu

preciso que você fique quieto, certo? Se nossos inimigos chegarem até nós antes dos

reforços, eles estarão nos procurando e não podemos nos dar ao luxo de fazer barulho.

Julian assentiu, perfeitamente consciente das batidas de seu próprio coração no

espaço. Ele tentou se concentrar em sua respiração, amaldiçoando-se silenciosamente por

ser um fardo.

Durante toda a sua vida, ele se sentiu inútil em comparação com o resto da família.

Ele agiu como se tivesse optado por rejeitar essas qualidades, indo para o exterior em

busca de atividades intelectuais, em vez de ficar em casa para trabalhar nos negócios da

família.

Doeu menos assim. Mas no final das contas, ele estava realmente com medo de ser

inadequado. E agora, seu pior pesadelo estava se tornando realidade: ele estava

decepcionando alguém de quem gostava.

Se ele saísse disso ‒ quando saísse disso ‒ ele teria que trabalhar esse lado dele.

‒ Prometa-me uma coisa. ‒ Sussurrou Julian, incapaz de resistir à vontade de deixar

Bear saber o quanto significava para ele.

‒ Mais tarde. ‒ respondeu Bear, com a voz tensa. ‒ Precisamos nos concentrar em

sair dessa com vida.

‒ Tudo bem. ‒ Concordou Julian, mas as palavras pareciam vazias em seu peito.

Enquanto eles encontravam uma posição para esperar em silêncio, escondendo- se atrás de

uma cobertura, Julian não pôde deixar de permitir que seus pensamentos voltassem para

aquele momento em que Bear o acordou pela primeira vez de seu estado inconsciente.

A ternura nos olhos de Bear enquanto ele segurava a cabeça de Julian nas mãos era

uma lembrança que ficaria gravada em sua mente para sempre. Ele sabia que havia mais

no relacionamento deles do que apenas sexo - e isso o aterrorizava e exaltava.

Por enquanto, porém, tudo o que ele podia fazer era esperar, pressionado um

contra o outro nas sombras, rezando para que ambos vivessem para ver outro dia.

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E então, acima dos sons distantes da cidade e das suas sirenes, ouviu-se um novo

ruído.

O som de passos.

Eles ecoaram pelo vasto e decrépito espaço, como o rosnado de um predador

reverberando na escuridão. O coração de Julian batia forte no peito, a adrenalina correndo

por ele.

Ele não era muito bom nessa coisa de vida mafiosa, mas tinha certeza de uma coisa:

se alguém tivesse vindo para salvá-lo, não entraria sorrateiramente.

Bear, sempre vigilante, tinha a arma na mão, os olhos estreitados e focados no

inimigo invisível. Silenciosamente, ele gesticulou para Julian ficar atrás dele e, naquele

instante, Julian sentiu uma sensação avassaladora de estar protegido.

Um cara poderia se acostumar com isso, ele pensou.

Por favor, deixe um cara viver o suficiente para se acostumar com isso.

Julian, ainda cuidando da perna dolorida, se contorceu para frente e espiou por

uma fresta na porta do escritório. Seu coração acelerou com a visão que se desenrolava

diante dele. Uma equipe de homens, vestidos com ternos escuros e armas na mão,

infiltrou-se no desolado armazém com precisão calculada. Cada passo que davam exalava

uma confiança ameaçadora, seus olhos examinando as sombras como se pudessem

atravessar o véu do segredo.

Merda. Definitivamente não é o socorro, então.

Um arrepio percorreu a espinha de Julian ao sentir o forte contraste entre esses

profissionais treinados e seu próprio estado vulnerável. O medo corroeu suas entranhas,

ameaçando consumi-lo por inteiro.

Estes eram o tipo de homens que pertenciam a este mundo, que prosperavam nas

suas trevas. Ele era apenas um fracasso pego no fogo cruzado.

A presença de Bear fornecia um fino escudo de segurança, mas mesmo isso não

conseguia conter totalmente o pânico que crescia dentro de Julian. Ele agarrou a borda da

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porta, os nós dos dedos ficando brancos, enquanto tentava desesperadamente se

equilibrar.

E então houve um toque suave em seu ombro. Julian olhou para cima e viu Bear

dando-lhe um olhar firme e calmante. O coração de Julian diminuiu um pouco sob a

garantia; ele estendeu a mão e apertou-o de volta.

Silenciosamente, Bear ergueu a mão e gesticulou para Julian ficar. Em qualquer

outra circunstância, Julian talvez não se importasse de ser tratado como um cachorro ‒ na

verdade, ele tinha algumas fantasias muito interessantes sobre isso. Mas aqui, ser dito para

esperar, era algo completamente diferente.

Se lhe disseram para ficar, era porque Bear o estava deixando. Ele balançou a cabeça

e murmurou um não silencioso.

Mas a expressão de Bear não permitia qualquer insubordinação. Seja bonzinho, Bear

murmurou, e então ficou em silêncio, deixando Julian.

Com pés silenciosos, escondido na escuridão, Bear saiu pela entrada lateral do

escritório. Com o coração gritando, Julian o observou partir.

Mas não era apenas para afastar seus inimigos de Julian, como se Julian fosse um

filhote ferido que precisava de proteção.

Afinal, os ursos eram predadores.

Enquanto os homens abaixo deles começavam lentamente a vasculhar o chão da

fábrica, verificando debaixo de mesas abandonadas e espiando nas sombras, Bear deslizou

pelos pórticos acima deles.

E então ele se mudou.

Julian observou com os olhos arregalados enquanto Bear entrava em ação, com

movimentos rápidos e calculados. Ele ergueu a arma e disparou.

Um homem caiu e os atacantes se viraram – mas no tempo que levaram para

localizar Bear, ele já havia atirado mais duas vezes. Três deles caíram, tiros e gorgolejos

enchendo o ar.

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As balas zuniam pelo ar, criando uma sinfonia mortal de estalos e baques. Bear

respondeu ao fogo habilmente, cada tiro atingindo seu alvo com precisão mortal. Ele

transitou perfeitamente entre a cobertura, utilizando o ambiente a seu favor, sempre

mantendo o foco dos homens em sua direção – e mantendo Julian protegido de perigos.

Num borrão de força bruta e precisão letal, Bear saltou do pórtico e enfrentou os

homens restantes, seu corpo uma arma afiada através de anos de treinamento e

experiência. O coração de Julian disparou.

O ar se encheu do cheiro acre de pólvora e os ecos de tiros reverberaram pelo

armazém. Havia mais atacantes, mas seus números não eram páreo para a determinação

implacável de Bear.

A boca de Julian estava seca enquanto observava Bear se mover com foco

inabalável. A violência que se desenrolava diante dele era ao mesmo tempo aterrorizante e

inspiradora. Bear era uma força a ser reconhecida, um anjo da guarda no meio do caos.

O tempo parecia distorcer à medida que a batalha avançava, a adrenalina

alimentando cada movimento. O medo de Julian ameaçava dominá-lo, mas ele se agarrou

à esperança de que a habilidade e a determinação inabalável de Bear os ajudariam. Ele

confiava na capacidade de Bear de protegê-lo, de mantê-lo seguro.

E então, ele viu uma figura flanqueando Bear...

‒ À sua esquerda! ‒ Julian gritou.

Bear seguiu suas instruções sem questionar, confiando implicitamente nos instintos

de Julian. Ele apertou o gatilho, derrubando o homem. Naquele momento, a conexão deles

pareceu elétrica, e Julian não pôde deixar de sentir uma emoção percorrendo-o.

E então, finalmente, o armazém ficou em silêncio novamente. Bear rapidamente

voltou para o lado de Julian. A intensidade da batalha ainda pairava no ar, mas uma

sensação de alívio tomou conta de ambos. O coração de Julian disparou, seu corpo

tremendo com os tremores de adrenalina.

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‒ Você está machucado? ‒ Foi a primeira coisa que Bear disse, vindo para o lado de

Julian.

‒ Estou bem. Melhor do que você, provavelmente. ‒ Ele soltou uma risada trêmula,

seu pulso ainda acelerado enquanto a adrenalina começava a diminuir. ‒ É errado dizer

que isso foi meio quente?

Bear passou a mão pelo rosto. ‒ Cale a boca, garoto. ‒ Ele respondeu, embora não

houvesse calor em suas palavras. Na verdade, um leve indício de sorriso brincava nos

cantos de seus lábios. ‒ Pensei que deveria dizer... foi bom ter alguém para cuidar de mim.

‒ Oh, acredite em mim, estou assistindo. ‒ Julian brincou, incapaz de resistir a

admirar os ombros largos e fortes de Bear. Havia algo inerentemente erótico no poder

bruto em exibição, e ele ficou maravilhado com a improvável convergência entre luxúria e

perigo.

‒ Concentre-se. ‒ Bear avisou, mas havia um brilho inconfundível de diversão em

seus olhos. ‒ Ainda não estamos fora disso. Vamos embora.

‒ Certo. ‒ Concordou Julian, preparando-se para quaisquer desafios que os

aguardassem.

Bear pegou Julian novamente, segurando-o nos braços – mas desta vez, quando

levantou o peso de Julian, soltou um pequeno som de dor. Se Julian estivesse mais longe

dele, isso não teria passado despercebido. Pressionado contra o peito, porém, ele não

podia deixar de perceber. ‒ Bear?

‒ Não é nada.

Mas quando ele deu um passo, tentando sair, Julian sentiu um arrepio que o

percorreu. O gosto metálico do medo pairou no ar como uma segunda pele, e o coração de

Julian bateu forte no peito. ‒ Besteira.

Antes que Bear pudesse detê-lo, Julian se contorceu, passando as mãos pela lateral

do corpo de Bear - e então as pontas dos dedos ficaram molhadas e pegajosas. ‒ Merda!

Bear, me coloque no chão já!

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‒ Não é nada. ‒ Insistiu Bear.

Julian revirou os olhos. Por que caras durões eram assim? Ele se livrou dos braços

de Bear, quase caindo.

Mesmo na escuridão, ele podia ver a mancha escura de sangue se espalhando

rapidamente pelo lado de Bear. ‒ Bear, você está bem? ‒ Sua voz estava cheia de medo e,

por um momento, o mundo pareceu encolher apenas para eles dois.

‒ Estou bem. ‒ Bear rangeu entre os dentes cerrados. ‒ Apenas um ferimento

superficial.

‒ Deixe-me ver. ‒ Com dedos gentis, mas determinados, Julian empurrou a camisa

de Bear para cima, revelando a linha vermelha furiosa que marcava sua carne perfeita: um

ferimento de bala.

Ele hesitou por um momento, mas não conseguiu se conter. ‒ Belos músculos, aliás.

Bear soltou uma risada incrédula, o som tenso pela dor. ‒ Não é hora, Julian.

‒ Desculpe. ‒ Murmurou Julian, embora não pudesse deixar de apreciar a visão

gentil do olhar de Bear. Ele rapidamente pressionou o ferimento, tentando

desesperadamente se lembrar dos primeiros socorros que fez no primeiro ano da

universidade.

‒ Não é grande coisa. ‒ Disse Bear, apesar da visão chocante de tanto sangue

vermelho em sua pele.

‒ Besteira! Tudo o que está acontecendo agora é um grande problema.

A voz de Bear era profunda e sincera. ‒ Lamento que você tenha se envolvido nisso

tudo.

Julian olhou para Bear, seus olhos fixos no olhar do executor. O cuidado que ele

encontrou ali ameaçou desfazê-lo totalmente. ‒ Tive medo de perder você. ‒ Confessou ele

baixinho, os dedos ainda pressionando firmemente o ferimento.

‒ O mesmo aqui. ‒ Bear respondeu, sua voz igualmente suave. ‒ Eu não poderia

suportar a ideia de você se machucar por minha causa.

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‒ Da próxima vez, vamos concordar em pular as preliminares do tiroteio. ‒ Sugeriu

Julian. ‒ Existem maneiras muito melhores de fazer seu sangue bombear.

Bear segurou a bochecha de Julian com um toque surpreendentemente gentil. ‒

Negócio.

Julian se apoiou na mão de Bear por um breve e doloroso momento antes de Bear

relutantemente retirá-la. ‒ Precisamos sair daqui antes que eles voltem com reforços. ‒

Explicou.

Bear cerrou os dentes enquanto tentava ajudar Julian a se levantar. Ele conseguiu

colocar Julian de pé, o braço de Julian pendurado nos ombros de Bear para apoio.

Enquanto mancavam em direção à saída, Julian não pôde deixar de pensar que,

apesar da dor e do perigo, havia algo inegavelmente satisfatório em sobrevivermos juntos.

Sobre ser querido e protegido.

O que quer que estivesse por vir, ele queria Bear ao seu lado.

Assim que se aproximaram da saída, o som de tiros irrompeu do lado de fora.

Julian congelou, o coração batendo forte no peito. Ele olhou para Bear, que parecia

igualmente alarmado.

‒ Fique aqui. ‒ Ordenou Bear, encostando-se na parede para se apoiar. ‒ Vou dar

uma olhada.

‒ Claro que vou. ‒ Retrucou Julian, com desafio brilhando em seus olhos. ‒ Estamos

nisso juntos, lembra?

Bear suspirou, claramente sabendo que não deveria discutir com o teimoso jovem

Toscano. ‒ Tudo bem, mas sem momentos de herói. Comporte-se.

Juntos, eles espiaram pela esquina ‒ mas desta vez não eram mais atacantes.

Marco King estava de pé ao lado de um dos homens que Bear havia derrotado, a

arma ainda fumegante, seus homens cercando o último dos atacantes com eficiência

implacável ‒ embora, na maioria dos casos, cercar... significasse.. arrastar.

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‒ Bear. ‒ Marco soltou um suspiro de alívio e depois acenou com a cabeça. ‒ E

Toscano Júnior. Bom trabalho em mantê-lo vivo.

‒ Não me chame assim. ‒ Insistiu Julian, mas Marco nunca lhe dera ouvidos. Idiota

arrogante.

Arrogante, mas bom em seu trabalho. Quando Marco se aproximou de Julian e

Bear, seu olhar aguçado percebeu a proximidade reveladora entre eles - o braço de Bear

ainda pendurado sobre o ombro de Julian, seus rostos vermelhos de adrenalina e

intimidade. Pela expressão taciturna que apareceu em sua expressão, Julian sabia, sem

dúvida, que ele estava atrás deles.

‒ Bear, um dos meus rapazes pode levar você para ser costurado. Junior, venha

comigo. ‒ Ordenou Marco, com a voz tão profissional como sempre, mas havia um toque

inconfundível de suspeita em seus olhos.

‒ S... sim, claro. ‒ Gaguejou Julian, sentindo-se subitamente constrangido sob o

escrutínio de Marco. Ele tentou se afastar de Bear, mas o homem ferido apertou ainda

mais seu ombro, recusando-se a soltá-lo.

‒ Obrigado pelo apoio, Marco. ‒ disse Bear rispidamente, com uma expressão

ilegível.

‒ A qualquer hora. ‒ Respondeu Marco, sem tirar os olhos dos dois. ‒ Angelo nos

enviou quando soube da perseguição. Você pode agradecê-lo mais tarde.

Enquanto caminhavam em direção ao carro de Marco, Julian não pôde deixar de se

sentir exposto sob o olhar atento do executor. Ele sabia que o relacionamento deles havia

sido descoberto e, se Angelo chegasse ao conhecimento, haveria consequências. Seu

estômago se apertou com o pensamento, mas quando ele olhou para Bear, encontrou seu

olhar com um aceno tranquilizador.

E de alguma forma, isso foi o suficiente para Julian seguir em frente.

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CAPÍTULO NOVE

Julian caminhava em sincronia com os passos pesados de seu novo guarda-costas,

Toro. Apesar da luz quente do sol incidir sobre eles enquanto caminhavam pela rua

movimentada, Julian não pôde deixar de tremer sob a sombra projetada pelos músculos

ondulantes e pelo olhar penetrante de Toro. A cada passo, o executor examinava os

arredores como um cão de guarda se preparando para atacar qualquer ameaça desavisada.

Os olhos de Toro se estreitavam para cada transeunte, e Julian não conseguia

afastar a ideia de que ele parecia totalmente cruel. Era como se mesmo o menor passo em

falso pudesse levá-lo a desencadear uma torrente de violência sobre o mundo. Julian

engoliu em seco e sentiu uma pontada de saudade da presença familiar de Bear ao seu

lado. Mas agora não era hora de pensar nisso.

‒ Ei... ‒ Começou Julian, tentando envolver Toro em alguma brincadeira alegre. Ele

apontou para um homem idoso vestindo uma camisa havaiana berrante e shorts verde-

limão. ‒ A roupa daquele cara é tão barulhenta que praticamente grita. Você não acha?

A expressão estoica de Toro permaneceu inalterada enquanto ele olhava para o

homem e depois de volta para a rua à frente. O silêncio entre eles se prolongou, fazendo o

coração de Julian afundar. Chega de romper aquele exterior resistente.

Mas o rosto de Toro permaneceu uma máscara de indiferença, seu foco nunca se

desviando do ambiente. Julian suspirou internamente, sentindo o peso da decepção se

acumular em seu peito. Talvez a Toro fosse simplesmente endurecida demais para

apreciar o humor. Ou talvez, Julian pensou com uma pontada no peito, ele simplesmente

perdeu a conexão que compartilhava com Bear.

‒ Nada? ‒ Julian pressionou, sua voz misturada com uma exasperação brincalhona.

‒ Nem mesmo um sorriso? Vamos, Toro, me dê alguma coisa.

‒ Não, obrigado. Parece que seu ex-guarda-costas lhe deu um pouco demais.

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‒ Ai. ‒ As bochechas de Julian ficaram vermelhas.

Não era apenas a vergonha de todos saberem o que ele tinha feito. Não se

importava que as pessoas pensassem que ele era uma vagabunda – afinal, era verdade.

Mas o que ele fez com a reputação de Bear? Só porque ele era um merdinha com

tesão, o nome de Bear foi arrastado pela lama, e ele voltou a ser um grunhido.

Ótimo trabalho, Julian! Muito bem!

‒ Tudo bem então. ‒ Julian murmurou baixinho, sua frustração aumentando. O

calor do sol lá em cima fez pouco para acalmar o frio que se apoderou de sua interação.

O silêncio se estendeu entre eles mais uma vez, a distância entre suas duas almas

parecia um abismo intransponível. O olhar de Julian seguiu um grupo de amigos

enquanto eles passavam, com risadas contagiantes e alegres. Ele ansiava por essa conexão,

o calor das experiências compartilhadas que só o verdadeiro companheirismo poderia

trazer.

Era algo que ele teve com Bear, mesmo que por um breve período, e isso o deixou

se sentindo vazio em sua ausência.

Eu o amo, Bear dissera na mansão. Julian tentou não pensar nisso. Era demais para

compreender, como ter que recuar para observar uma pintura dos mestres de uma só vez.

Ele tentou se livrar da melancolia que ameaçava arrastá-lo para baixo, mas se

agarrou a ele como uma segunda pele. Ele sentia falta de Bear: o exterior rude que

mascarava uma vulnerabilidade raramente vista pelos outros, a maneira como as

conversas deles pareciam despertar algo dentro dele que ele não conseguia expressar em

palavras...

E seu pau. Ele definitivamente sentiu falta disso também.

‒ Cuidado. ‒ Toro avisou de repente, com a mão no braço de Julian enquanto o

guiava por um grupo de artistas de rua, seus corpos se retorcendo e se contorcendo de

uma forma que ao mesmo tempo o fascinava e enervava. O som da música percorreu o ar,

misturado com risadas e aplausos da multidão reunida.

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‒ Desculpe. ‒ Murmurou Julian, com as bochechas esquentando ao perceber que se

permitiu perder-se em pensamentos sobre Bear mais uma vez. Ele precisava se concentrar

no presente, em passar cada dia com segurança com Toro ao seu lado.

Julian olhou para o horizonte, o sol poente lançando longas sombras nas

movimentadas ruas da cidade. Ele pensou no quanto sentiria falta daquele lugar quando

voltasse para Londres, mas, mais importante, no quanto sentiria falta de Bear. À medida

que o céu acima ficava em tons de rosa e laranja, ele não pôde deixar de sentir uma

crescente sensação de desespero dentro dele.

Ele foi tirado de seus pensamentos pela voz de Toro. ‒ Olhos para cima. ‒ Ele

ordenou.

‒ Huh? ‒ Julian olhou para cima.

Ele pode não ter sido o tipo de bastardo durão que Toro, Bear ou Angelo eram, mas

Julian ainda cresceu na família Toscano. Ele estava familiarizado com a vida do submundo

o suficiente para reconhecer problemas quando os via.

E ele estava vendo isso agora. Havia um pequeno grupo de homens à frente deles.

Ao contrário do resto da multidão, esses homens claramente não estavam lá para comprar

pechinchas ou comer alguma coisa em um café bonito. Eles olharam para Toro e Julian

com a paciência simples que antecede a violência extrema.

Os olhos de Toro se estreitaram e todo o seu comportamento mudou para o de um

predador selvagem, pronto para atacar. ‒ Fique perto. ‒ Ele rosnou, sua mão

instintivamente alcançando a arma em seu quadril.

Os Toscanos não eram exatamente cidadãos exemplares, mas tinham a sua etiqueta.

Angelo e seus homens não realizaram ataques com civis por perto, reduzindo ao mínimo

os danos não intencionais. Se eles operassem de forma limpa, apenas eliminando seus

inimigos, eles poderiam passar despercebidos, reivindicando a cidade como sua, sem

repercussões.

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Esses caras não pareciam estar trabalhando com os mesmos manuais. Apesar da

multidão feliz que os rodeava, os homens pegaram nas armas.

A atmosfera ficou carregada de tensão, engrossando como mel à medida que o

mundo desacelerava ao seu redor. Sem soltar o braço de Julian, Toro se mexeu

imediatamente, arrastando-o pela esquina.

O primeiro tiro soou no instante em que o fizeram. Julian sentiu seu coração

disparar, a adrenalina correndo por suas veias como fogo. Ele mal teve tempo de registrar

o estalo do tiro ou os gritos da multidão.

‒ Mantenha a cabeça baixa, garoto. ‒ Ordenou Toro, com a voz baixa e urgente

enquanto protegia Julian com seu corpo, forçando-o a correr. ‒ E se eu cair, você corre

como um louco, entendeu?

‒ Entendi. ‒ Julian ofegou, com o peito arfando sob o peso sólido de seu guarda-

costas. Por mais que apreciasse os esforços de Toro para protegê-lo, ele não pôde deixar de

se sentir vulnerável naquele momento, ansiando pela presença reconfortante de Bear.

O coração de Julian batia forte no peito enquanto a cacofonia de tiros e gritos enchia

o ar. Ele tropeçou para frente, o aperto de Toro como um torno de ferro em volta de seu

braço, guiando-o através do caos. A fumaça espessa de um carro incendiado obscureceu

sua visão, mas a Toro parecia saber exatamente para onde precisavam ir.

‒ Esquerda! ‒ Toro gritou, puxando Julian por um beco estreito, fazendo com que

ele quase perdesse o equilíbrio. ‒ Não pare de correr!

Eles correram até que o coração de Julian parecia que iria se partir, a pulsação

disparando nos ouvidos. Os gritos da multidão foram substituídos por um silêncio

abafado e opressivo; todos haviam ido para o chão e prendiam a respiração, esperando

pelo resgate.

Toro puxou Julian para uma esquina, correndo para examinar a área antes de voltar

para a segurança. ‒ Alguma ideia de quem são esses indivíduos encantadores? ‒ Julian

perguntou entre respirações irregulares.

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‒ Isso importa? ‒ Toro rosnou, examinando a rua em busca de qualquer sinal de

seus agressores. ‒ Eles nos querem mortos, e isso é tudo que precisamos saber.

‒ Certo, é claro. ‒ Julian murmurou, sentindo uma pontada de vulnerabilidade no

fundo do peito. Era em momentos como esse que ele mais sentia falta de Bear ‒ a solidez

tranquilizadora de sua presença, a maneira como fazia Julian se sentir protegido mesmo

diante da ameaça real de morte. Ele ansiava por ver a expressão granítica de Bear se

suavizar só para ele, por sentir o roçar suave de seus dedos calejados contra sua pele em

um momento de ternura roubada.

‒ Merda, aí vêm eles. ‒ rosnou Toro, tirando Julian de seu devaneio. ‒ Prepare-se

para se mover. Você vai fugir disso.

‒ Ok, espere, só eu?

Toro preparou sua arma, sem sequer olhá-lo. ‒ Eles estão vindo da direita. Eu vou

segurá-los e você estará em segurança. Corra e continue correndo.

‒ Esse é realmente o melhor plano? ‒ Julian questionou, o pânico rastejando em sua

voz. ‒ Quer dizer, não sou exatamente o corredor mais rápido deste lado do Atlântico.

‒ Você prefere ficar aqui e esperar por eles?‒ Toro respondeu, sua voz cheia de

sarcasmo.

‒ Justo. ‒ Admitiu Julian. Seus joelhos já pareciam gelatinosos; a ideia de correr

ainda mais lançava uma sombra de medo.

Mas ele não era o único que os homens estavam perseguindo... ‒ Você vai ficar

bem?

Toro bufou. ‒ Você não tem ideia, Toscano. ‒ Ele sorriu um sorriso selvagem. ‒

Agora, ao meu sinal... Vá!

O coração de Julian disparou. Ele correu, a adrenalina bombeando em suas veias

como fogo líquido, desejando que seu corpo o carregasse pelas ruas mortais.

Atrás dele, ele ouviu a voz de Toro, feroz e alegre. ‒ Preparem-se para se divertir,

seus filhos da puta!

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E a cada passo forte, Julian desejava que Bear estivesse ao seu lado para fornecer a

segurança e o conforto que ele tanto desejava.

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CAPÍTULO DEZ

Para Bear, seu apartamento era apenas um lugar para guardar suas coisas e dormir

depois de longas noites de reconhecimento. Ele preferia dedicar seu tempo ao trabalho,

organizando a segurança, identificando ameaças e encontrando maneiras de proteger o

império Toscano de perigos.

Mas agora ele estava preso em casa. Ele se sentia como um animal de zoológico

andando de um lado para o outro em sua jaula. Ele estava sentado em uma poltrona de

couro desgastado, tomando um copo de uísque enquanto meditava sobre seus

complicados sentimentos por Julian. Os cubos de gelo tilintavam suavemente contra o

copo cada vez que ele tomava um gole, as bordas outrora afiadas agora suavizadas pelo

líquido âmbar.

‒ Droga! ‒ Bear murmurou baixinho, sua voz rouca quase inaudível. Ele não

conseguia tirar da mente a imagem do sorriso travesso de Julian: aqueles olhos

penetrantes que pareciam ver através dele, desafiando-o a baixar a guarda só por um

momento.

Os pensamentos de Bear vagaram para seus encontros passados, um caleidoscópio

de memórias ternas e tensas girando em sua cabeça. Bear quase podia sentir o calor do

corpo de Julian irradiando contra ele ainda, a corrente elétrica de desejo que corria através

dele enquanto lutava contra o desejo de fechar a lacuna entre eles.

‒ Deveria ter feito melhor. ‒ Resmungou ele, tomando outro gole de uísque. A

queimadura pouco fez para distraí-lo da sensação incômoda de que poderia ter perdido a

chance com Julian.

Mas como seria isso? Bear, o endurecido executor da máfia, enrolado nos lençóis

com uma coisinha bonita como Julian?

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Angelo me mataria, pensou ele, mas mesmo essa ameaça pouco fez para acalmar o

calor que se acumulou em seu estômago com a ideia dos dedos fortes e finos de Julian

traçando suas tatuagens, ou o gosto de seus lábios.

‒ Maldito seja, Julian. ‒ Ele sussurrou na sala vazia, o peso de seus desejos não

expressos pesando sobre seus ombros.

Como se convocado por sua agitação interna, o telefone de Bear tocou, cortando a

névoa de seus pensamentos. Ele olhou para o identificador de chamadas: Marco. Seu peito

se apertou com uma sensação de pavor.

‒ Marco. ‒ Bear respondeu rispidamente, tentando mascarar seu desconforto. ‒ O

que está acontecendo?

‒ A merda caiu no ventilador, Bear. ‒ Respondeu Marco, com a voz tensa e urgente.

‒ Toro e Julian foram atacados. É toda mão á obra.

O coração de Bear acelerou e ele agarrou o telefone com mais força, seus instintos

protetores ganhando vida. ‒ Onde?

Marco cuspiu o endereço, suas palavras concisas e cortantes. ‒ Estou indo para lá,

mas você está mais perto, Bear.

‒ Entendido. ‒ disse Bear, já de pé. ‒ Eu estarei lá.

‒ Obrigado, cara. ‒ Marco respirou, com alívio evidente em sua voz. ‒ Tenha

cuidado, ok? Ainda não sabemos quem são esses caras, mas eles falam sério.

‒ Sempre tomo. ‒ Respondeu Bear, encerrando a ligação antes que a ansiedade

pudesse envolver sua garganta.

Ele não hesitou; não havia tempo para dúvidas e questionamentos. Ele correu até o

armário, agarrando seu coldre com facilidade e prática. Enquanto se movia, a mente de

Bear corria com estratégias, pesando os riscos e possíveis rotas de fuga. As apostas eram

mais altas do que nunca: a segurança de Julian estava em jogo.

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Quando ele abriu a porta, o ar frio da noite entrou para recebê-lo, envolvendo seu

corpo com seus fios gelados como um abraço de amante. Apesar do frio, Bear sentiu um

arrepio de excitação percorrer suas veias.

Era para isso que ele vivia. A emoção da perseguição, a incerteza do perigo.

E o mais importante, a chance de proteger aqueles que amava.

‒ Espere, garoto. ‒ Ele sussurrou, sua voz quase inaudível acima do vento. ‒ Estou

chegando.

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CAPÍTULO ONZE

Normalmente, Julian adorava ser chamado de nomes degradantes por homens

grandes e durões.

Este não foi um desses momentos.

‒ Onde você pensa que está indo, garoto bonito? ‒ Gritou um dos homens que o

perseguia. ‒ Temos alguns assuntos inacabados com sua família.

Merda. O coração de Julian disparou ao perceber a gravidade de sua situação. Esses

homens estavam aqui para se vingar dos Toscanos e pretendiam usá-lo para consegui-lo.

Ele podia sentir as palmas das mãos ficando úmidas de medo, mas se recusou a deixar

esse medo transparecer em seu rosto.

Ele jogou uma lata de lixo atrás dele enquanto corria. Os passos fortes atrás dele

não diminuíram a velocidade. Por que eles sempre faziam isso nos filmes?! Ele pensou

descontroladamente. Nem funciona! Que roubo!

Funcionando ou não, ele nunca teve chance. Ele passou seu tempo na universidade

festejando e estudando, não correndo. Com um tapa forte, um dos homens o abordou,

jogando-o no chão e prendendo-o no chão.

A dor gritou por seu corpo. Julian lutou, mas sem sucesso. ‒ O que minha família

fez com você? ‒ Ele gritou, tentando manter a voz firme apesar do jeito que tremia.

Os homens o viraram. Três deles, ao que parece.

Julian tinha visto Bear matar mais de três caras.

Pena que Bear não estava lá para salvá-lo agora.

‒ Seu irmão matou nosso chefe. ‒ Rosnou um deles, inclinando-se

ameaçadoramente. ‒ E agora, vamos fazer você pagar por isso.

O coração de Julian batia forte no peito, ameaçando escapar enquanto os assassinos

se aproximavam dele. Ele tentou afastar os pensamentos sobre o que esses homens

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pretendiam fazer com ele e, em vez disso, concentrou-se em um plano para ganhar tempo

até que a ajuda chegasse. Enquanto ele buscava uma solução, os homens o colocaram de

pé e o arrastaram em direção à entrada do beco.

‒ Deixe-o ir. ‒ Veio uma voz profunda e rouca da entrada do beco. O coração de

Julian deu um pulo no peito quando ele reconheceu imediatamente: Bear.

Os olhos de Julian se arregalaram quando ele viu Bear entrar no beco, sua forma

musculosa recortada contra o brilho fraco das luzes distantes da rua. Seus ferimentos do

encontro anterior ainda eram evidentes na maneira como ele se comportava, mas não

pareciam prejudicar sua determinação. A visão dele, espancado, mas sem se curvar,

causou um arrepio de alívio na espinha de Julian.

‒ Aí está você. ‒ Disse Julian, tremendo de adrenalina, mas incapaz de reprimir um

sorriso. ‒ Bem na hora. Tenho tido uma conversa bastante estimulante com nossos novos

amigos aqui. Quer se juntar a nós?

‒ Desculpe, garoto. ‒ Bear respondeu, estalando os nós dos dedos

ameaçadoramente. ‒ Não gosto muito de conversa fiada.

Os homens se espalharam pelo beco, um segurando Julian enquanto os outros

sacavam facas.

‒ Vamos ao que interessa. ‒ Rosnou Bear, com os olhos fixos nos homens com

intenção predatória.

O primeiro atacou Bear com uma faca, mas ele facilmente desviou o ataque com um

movimento rápido, jogando a arma no chão. O segundo avançou pela lateral, tentando

aproveitar a distração de Bear, mas foi recebido com um golpe poderoso que o deixou

cambaleante.

Julian assistiu, com o coração disparado, enquanto Bear continuava a lutar contra os

assassinos com eficiência brutal. Cada ataque e contra-ataque era uma dança de graça

mortal, os movimentos de Bear cheios de força bruta e confiança. Por mais que Julian

tivesse fantasiado com o homem ao longo dos anos, nada naquela época poderia tê-lo

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preparado para ver Bear em ação como este. Sua paixão de infância se misturou com um

amor adulto, ambos se intensificando a um nível febril, misturando-se com a adrenalina

que corre em suas veias.

‒ Você pensou que poderia mexer com a família Toscano? ‒ Bear rosnou,

derrubando um dos homens com um golpe de quebrar ossos.

‒ Morrer! ‒ Um dos outros rosnou, balançando uma corrente na direção de Bear.

Com um movimento fluido, Bear pegou a corrente no ar e a usou para desequilibrar seu

atacante, desferindo um soco espalhado em seu rosto.

Julian não conseguiu desviar os olhos da briga. Ele sabia que deveria estar

aterrorizado, mas havia algo inegavelmente emocionante – até mesmo sensual – em

observar o homem que protagonizava tantas de suas fantasias lutando por ele. E não foi

apenas a fisicalidade crua disso; era o conhecimento de que Bear estava se colocando em

perigo para protegê-lo, apesar dos próprios ferimentos.

Isso era uma bagunça, Julian sabia. Ele não pôde evitar mostrar os dentes em um

sorriso sombrio. Talvez ele fosse um verdadeiro Toscano, afinal.

Ele lutou nos braços de seu captor, jogando seu peso para trás e depois pisando nos

pés do homem com tudo o que tinha. O homem o segurou com força, mas Julian o

desequilibrou.

Com um rugido, Bear entrou quente. Com raiva nos olhos, ele nem precisava de

uma arma. Ele bateu o homem contra a parede do beco com um barulho nauseante. O

homem caiu no chão, inconsciente.

‒ Está acabado? ‒ Julian perguntou timidamente, sua voz tremendo enquanto ele

tropeçava.

‒ Por enquanto. ‒ Bear grunhiu, respirando pesadamente enquanto examinava os

assassinos derrotados espalhados ao seu redor. O sangue escorria por seu rosto de um

corte feio acima da sobrancelha, e seus pontos estavam claramente lhe causando dor.

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Julian observou enquanto a respiração de Bear ficava pesada, seu peito arfando com

o esforço da luta. O sangue escorria pela mandíbula esculpida de Bear, e Julian não pôde

deixar de estender a mão para limpá-lo com a ponta do polegar. O toque pareceu assustar

Bear, que olhou para ele com uma mistura de confusão e vulnerabilidade.

‒ Ei. ‒ Julian sussurrou, sua voz tingida por uma mistura de medo e excitação. ‒

Você está bem?

‒ Sempre preocupado, não é? ‒ Bear riu fracamente, permitindo que Julian passasse

um braço em volta dele. ‒ Estou bem. Só tenho alguns arranhões, só isso.

‒ Arranhões? ‒ Julian bufou, seus olhos se enchendo de preocupação ao perceber a

extensão dos ferimentos de Bear. ‒ Bear, você está uma bagunça! Mas não posso agradecer

o suficiente pelo que acabou de fazer.

‒ Não. Você vale a pena. ‒ Disse Bear.

Julian sentiu seu coração inchar de emoção. ‒ Estou?‒ Ele perguntou suavemente,

sua mente correndo com as implicações da admissão de Bear.

‒ Claro. ‒ Respondeu Bear, com a voz áspera pela dor e pela exaustão. Ele olhou

nos olhos de Julian e, por um momento, seus olhares se encontraram, e parecia que todo o

resto se desfez: a escuridão, o perigo, o resultado sangrento da luta. Eram apenas os dois,

parados nos braços um do outro, reconhecendo a profundidade de seus sentimentos pela

primeira vez.

‒ Mais do que uma paixão de infância? ‒ Julian aventurou-se, com o pulso

acelerado.

‒ Muito mais. ‒ Sussurrou Bear, com o hálito quente na orelha de Julian. A sensação

causou arrepios na espinha de Julian, acendendo um fogo em sua barriga que ele vinha

tentando suprimir há anos. Estava ficando cada vez mais difícil negar a verdade: não se

tratava apenas de uma paixão infantil ou de uma ligação passageira. O que eles tinham era

real, poderoso e pelo qual valia a pena lutar.

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‒ Prometa-me uma coisa. ‒ Murmurou Julian, cravando os dedos nos ombros

musculosos de Bear. ‒ Prometa que me deixará ajudá-lo de agora em diante. Não quero

mais ser um fardo.

– Combinado. – Bear concordou, inclinando-se para pressionar os lábios

suavemente contra a testa de Julian. ‒ E prometo que sempre estarei aqui para ajudá-lo

também. Não importa o que aconteça.

‒ Eu também quero isso. ‒ Julian murmurou, sentindo lágrimas brotando nos

cantos dos olhos. ‒ Nunca pensei que você sentiria o mesmo, mas... Deus, eu quero tanto

isso.

‒ Realmente? ‒ Bear perguntou, sua voz soando quase surpresa.

‒ Sério. ‒ Confirmou Julian, balançando a cabeça para dar ênfase.

Bear fechou os olhos e se inclinou ao toque de Julian, todo o seu corpo parecendo

ceder de alívio. ‒ Você não tem ideia de como isso me deixa feliz. ‒ Ele sussurrou, com a

respiração presa na garganta.

‒ Mostre-me. ‒ Sugeriu Julian, com a voz provocativa. ‒ Mostre-me o quanto você

quer isso.

‒ Garoto, comporte-se.

O coração de Julian cantou. ‒ Obriga-me. ‒ Disse ele.

Com um grunhido baixo, Bear puxou Julian para mais perto e ele fez o seu melhor.

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CAPÍTULO DOZE

Julian olhou para Bear, seus olhos permanecendo nos ombros largos do homem

envolto em um terno perfeitamente ajustado. A luz suave dos lustres acima refletia no

cabelo escuro de Bear e na barba por fazer enfeitando seu queixo forte. Os batimentos

cardíacos de Julian aceleraram quando seus olhares se encontraram através da mesa

elaboradamente decorada, um sorriso malicioso brincando nos cantos dos lábios de Bear.

O casamento de Ruby foi o epítome da elegância, desde as ricas rosas vermelhas

que adornavam todas as superfícies até a comida suntuosa que enchia o ar com aromas de

dar água na boca. Mas nada se compara à visão de Bear, o endurecido executor da máfia,

parecendo tão refinado sem esforço. Uma emoção percorreu Julian ao pensar no que

estava escondido sob aquele exterior polido.

Quando a cerimônia começou, com o som de passos e murmúrios desaparecendo,

Julian se inclinou na direção de Bear, respirando o leve perfume de colônia que

impregnava dele. ‒ Sabe... ‒ Ele sussurrou, com a voz baixa e provocadora. ‒ ... eu sempre

soube que você se limparia bem para uma ocasião chique como esta.

Os olhos escuros de Bear brilharam de irritação, mas Julian podia ver a diversão

dançando atrás deles. Ele sabia que Bear não se importava com a brincadeira; havia se

tornado uma espécie de jogo de flerte entre eles desde o retorno de Julian ao mundo da

máfia.

– Continue assim, garoto, e veremos o quanto você vai gostar do resto deste

casamento. – Bear rosnou, mas não houve calor real em suas palavras. Na verdade, Julian

se viu deleitando-se com a atenção, o calor da voz de Bear causando arrepios na sua

espinha.

Julian recostou-se na cadeira, com o coração ainda acelerado devido à breve

conversa. Enquanto os votos eram trocados e a sala se enchia de aplausos, ele não pôde

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deixar de lançar olhares para Bear durante a cerimônia. Ele ficou maravilhado com a

maneira como o terno abraçava cada curva do corpo musculoso de Bear, a camisa branca

contrastando com sua pele beijada pelo sol. Julian imaginou passar os dedos por aqueles

ombros largos, sentindo a força que estava escondida sob o tecido macio.

Estava se tornando cada vez mais difícil para Julian se concentrar em qualquer coisa

que não fosse Bear e as fantasias que giravam em sua mente. Ele sabia que deveria estar

atento durante o casamento de sua irmã, mas o fascínio do homem ao seu lado era

simplesmente forte demais para resistir.

A recepção estava a todo vapor, o tilintar de taças e as risadas dos convidados

enchendo o ar enquanto Julian e Bear se sentavam juntos à mesa. O coração de Julian

disparou ao pensar na conversa anterior, mas ele não resistiu a mexer um pouco mais na

panela. Enquanto Bear dava uma mordida em sua rica sobremesa de chocolate, Julian se

inclinou e, de brincadeira, pegou uma garfada para si.

‒ Ei. ‒ Bear rosnou, olhando para Julian com os olhos semicerrados. ‒ O que você

pensa que está fazendo?

Julian sorriu maliciosamente, lambendo o chocolate do garfo com um floreio

exagerado. ‒ Só estou experimentando os produtos. ‒ Respondeu ele, encontrando o olhar

de Bear com uma pitada de desafio.

‒ É assim mesmo? ‒ Bear perguntou, sua voz baixa e perigosa. ‒ Você pretende

aprender boas maneiras?

Um arrepio percorreu a espinha de Julian com essas palavras, e ele engoliu em seco,

sentindo um calor repentino subir em seu rosto. ‒ Talvez. ‒ Ele murmurou, incapaz de

desviar os olhos do olhar intenso de Bear.

‒ Venha comigo. ‒ Ordenou Bear, sua voz não tolerando argumentos enquanto se

levantava e gesticulava para Julian segui-lo.

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Enquanto caminhavam entre a multidão de convidados do casamento, Julian sentiu

um arrepio de expectativa misturado com excitação nervosa. Para onde Bear o estava

levando? O que aconteceria quando eles estivessem sozinhos?

Bear o conduziu pela pista de dança, onde casais dançavam ao som da música lenta

e romântica, e por um corredor silencioso repleto de pinturas emolduradas. Ele abriu a

porta para uma pequena sala, com as paredes forradas com estantes cheias de volumes

encadernados em couro. A pesada porta de madeira se fechou atrás deles, abafando o

barulho da festa lá fora.

‒ Venha aqui. ‒ Bear ordenou, sentando-se em uma poltrona macia e agarrando

Julian pelos cabelos. Ele o puxou para frente, forçando Julian a dobrar a cintura até que ele

estivesse sobre os joelhos de Bear.

‒ É isto o que você queria? ‒ Bear perguntou, sua voz uma mistura de diversão e

desejo. ‒ Você acha que pode simplesmente me provocar a noite toda e sair impune?

Julian podia sentir o calor do corpo de Bear embaixo dele e não pôde deixar de se

contorcer levemente com o contato. ‒ E... eu não sei. ‒ Ele gaguejou, sentindo-se

subitamente vulnerável nesta posição.

‒ Então vamos descobrir. ‒ Disse Bear, apertando ainda mais o cabelo de Julian

enquanto se preparava para dar ao jovem uma amostra do castigo com o qual ele flertou a

noite toda.

Com uma força repentina, Bear puxou para baixo as calças de Julian, deixando-o

exposto e vulnerável em seu colo. O ar fresco da sala beijou sua pele nua, aumentando sua

expectativa.

‒ Lembre-se... ‒ Bear comandou, sua voz baixa e rouca. ‒ ... você aceita seu castigo

silenciosamente. Não quero que ninguém fora desta sala saiba o que está acontecendo

aqui.

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Julian engoliu em seco, balançando a cabeça o melhor que pôde de sua posição. Ele

sabia que se quisesse qualquer tipo de libertação, teria que cumprir as exigências de Bear.

Esse pensamento por si só causou um arrepio de excitação em sua espinha.

O primeiro tapa veio abruptamente, a picada afiada da palma da mão de Bear

contra sua carne fazendo-o ofegar involuntariamente. Ele mordeu o lábio, tentando abafar

qualquer outro som. À medida que a surra continuava, cada golpe acertando firme e

dominantemente, Julian se viu se contorcendo no colo de Bear, tanto pela dor quanto pelo

prazer que isso trazia.

‒ Bom menino ‒ Bear murmurou, parando por um momento para deixar Julian

recuperar o fôlego. ‒ Você está indo bem.

‒ Obrigado. ‒ Julian conseguiu sussurrar, com a voz tensa enquanto lutava para

permanecer quieto.

Bear se mexeu embaixo dele e Julian sentiu uma umidade repentina em seu buraco.

Ele percebeu que Bear cuspiu nele, preparando-o para o que estava por vir. O pensamento

enviou outra onda de excitação através dele, tornando ainda mais difícil permanecer

imóvel.

Dois dedos grossos mergulharam nele sem aviso, esticando-o de uma forma que ele

não tinha experimentado antes. Foi áspero e intenso, mas Julian não podia negar o quanto

desejava. Seu corpo tremia quando Bear o fodeu com os dedos, a perícia do homem mais

velho evidente em cada movimento.

‒ Não posso dizer que alguma vez imaginei ter você assim. ‒ Disse Bear, sua voz

uma mistura de luxúria e diversão. ‒ Mas também não posso dizer que estou reclamando.

‒ Nem eu. ‒ Admitiu Julian, sua voz quase um sussurro. ‒ Por favor, não pare.

‒ Já que você pediu tão gentilmente. ‒ Bear respondeu, sorrindo enquanto

aumentava o ritmo de seus dedos.

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O mundo inteiro de Julian parecia se reduzir à sensação dos dedos de Bear dentro

dele, sua respiração acelerando a cada impulso. Ele sabia que estava perto, oscilando à

beira do clímax.

Mas tão repentinamente como começou, parou. Bear puxou os dedos, deixando

Julian desorientado e mais excitado do que nunca. Seu corpo ansiava pela conclusão, mas

ele sabia que não deveria implorar.

‒ Você achou que escaparia tão facilmente? ‒ Bear perguntou, rindo da óbvia

frustração de Julian. ‒ Você vai ter que trabalhar para isso, garoto.

‒ O que você quiser. ‒ Concordou Julian, já desesperado para agradar ao homem

que lhe demonstrara uma dor tão prazerosa.

‒ Abra bem. ‒ Bear comandou, parando diante de Julian com seu pênis já para fora.

Sem lhe dar tempo para reagir ou responder, Bear agarrou um punhado de cabelo de

Julian e guiou sua boca para frente, enchendo-a com seu pau grosso e latejante.

Julian estava ofegante enquanto Bear se empurrava mais fundo, esticando os lábios

de Julian ao redor de sua cintura. Apesar do desconforto, Julian não podia negar o quanto

adorava ser levado ao limite daquela maneira. Ele se concentrou no sabor e na textura do

pênis de Bear em sua boca, saboreando cada crista e veia contra sua língua, o sabor

salgado do pré-gozo provocando suas papilas gustativas.

‒ Porra, você é bom nisso. ‒ Bear grunhiu, empurrando na garganta de Julian sem

piedade. ‒ Agora, chupe como se quisesse.

Desesperado para agradar, Julian fez o que lhe foi dito, recuando ligeiramente para

girar a língua ao redor da cabeça do pênis de Bear, provocando um grunhido baixo do

homem mais velho. A sensação do pênis de Bear enchendo sua boca, o domínio poderoso

irradiando do executor, tudo isso embriagou Julian ainda mais do que o vinho que eles

compartilharam antes.

‒ Bom menino. ‒ Elogiou Bear, apertando ainda mais o cabelo de Julian enquanto

ele estabelecia um ritmo punitivo. ‒ Pegue tudo.

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Julian sufocou a vontade de vomitar enquanto Bear fodia seu rosto com força

implacável, cada impulso empurrando-o para mais perto da borda de seu próprio

orgasmo. Sua mente corria com pensamentos de se submeter à Bear, de provar ser digno

aos olhos desse mafioso endurecido. Era vertiginoso e estimulante, e Julian não se cansava.

‒ Quase lá. ‒ Bear avisou, sua respiração irregular enquanto ele se aproximava do

clímax. ‒ Prepare-se para engolir tudo por mim.

Com um impulso final, Bear enterrou-se profundamente na garganta de Julian e

liberou sua carga. Julian lutou para não tossir, concentrando-se em engolir até a última

gota do líquido salgado e almiscarado. Enquanto Bear se retirava, ofegante e satisfeito,

Julian lambeu os lábios, garantindo que não havia perdido uma única gota.

‒ Bom menino. ‒ Bear disse novamente, desta vez com um toque de afeto genuíno

em sua voz. ‒ Agora, você conquistou o direito de se masturbar para mim.

Julian não precisou ouvir duas vezes. Suas mãos se atrapalharam com as calças,

liberando sua ereção dolorida enquanto ele tentava recuperar o fôlego. A memória do pau

de Bear em sua boca, o elogio de Bear ecoando em seus ouvidos... Era demais, e Julian

sabia que não demoraria muito para ele atingir seu próprio clímax.

Os dedos de Julian envolveram sua ereção rígida, acariciando no ritmo das batidas

de seu coração. Bear apareceu acima dele, os olhos fixos nos movimentos frenéticos de

Julian com uma mistura de luxúria e diversão.

‒ Olhe para você. ‒ Bear falou lentamente, com a voz baixa e sedutora. ‒ Ansiando

por libertação, implorando por permissão. Você está tão desesperado para me agradar,

não é?

Julian choramingou, balançando a cabeça enquanto tentava acompanhar o ritmo

que Bear havia estabelecido para ele. O acúmulo implacável o estava deixando louco, mas

cada palavra dura dos lábios de Bear apenas parecia alimentar seu desejo.

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‒ É uma sensação boa, não é? ‒ Bear continuou, seu olhar nunca desviando do rosto

corado de Julian. ‒ Saber que fui eu quem te colocou nesse estado, que controlo o seu

prazer.

Julian mal conseguia pensar direito, todo o seu mundo se resumia à voz de Bear e

ao fogo correndo em suas veias. ‒ Sim. ‒ Ele engasgou, apertando seu membro com mais

força. ‒ Por favor, Bear, eu preciso gozar.

‒ Goze para mim então. ‒ Bear comandou, seu tom ao mesmo tempo severo e

afetuoso. ‒ Mostre-me o quanto você precisa de mim.

Com um golpe final e trêmulo, Julian explodiu em êxtase, jatos quentes de excitação

branca cobriram seu estômago enquanto ele gritava o nome de Bear. As ondas de prazer o

deixaram fraco e trêmulo, incapaz de fazer qualquer coisa além de cair contra Bear, que o

abraçou perto, murmurando elogios em seu ouvido.

‒ Bom menino. ‒ Bear sussurrou, seus braços fortes apoiando a forma exausta de

Julian. ‒ Você se saiu tão bem, exatamente como eu sabia que faria.

Depois de alguns momentos para recuperar o fôlego, eles se limparam e arrumaram

as roupas, tentando parecer apresentáveis mais uma vez. Ao voltarem para a animada

recepção, com os últimos resquícios de seu encontro secreto escondidos atrás de sorrisos

cuidadosamente arranjados, encontraram Angelo e Ruby esperando por eles.

‒ Já era hora de vocês dois voltarem. ‒ Brincou Ruby, com os olhos brilhando de

malícia. ‒ Estávamos começando a pensar que você tinha se perdido. ‒

‒ Dificilmente. ‒ Bear resmungou, suas bochechas corando em um vermelho

profundo enquanto ele tentava manter uma expressão estoica. Julian conteve um sorriso,

sabendo muito bem o verdadeiro motivo da ausência deles.

‒ De qualquer forma... ‒ Interrompeu Angelo, seu olhar passando entre os dois. ‒

Estávamos discutindo a partida de Julian. Está chegando mais cedo do que pensávamos.

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Julian sentiu uma pontada de tristeza com a menção de ir embora, mas deixou isso

de lado, concentrando-se no momento presente. ‒ Bem, então vamos aproveitar ao

máximo o tempo que nos resta. ‒ Sugeriu ele, tentando manter uma atitude alegre.

Julian tentou manter um sorriso no rosto, mas seus pensamentos continuavam

voltando para os momentos roubados com Bear. Seu coração doeu ao pensar em deixá-lo

depois de compartilhar uma experiência tão incrível.

Ele sentiu o peso do olhar de Bear sobre ele enquanto bebiam o champanhe, e sabia

que não conseguia esconder sua tristeza daqueles olhos perspicazes.

– Ir para casa não é de todo ruim, Julian. – Ruby disse, com seu sorriso travesso

dançando em seu rosto. ‒ Será bom ter um pouco de paz e sossego longe de toda essa

loucura.

Julian forçou um sorriso, concordando com a cabeça. ‒ Você está certa, Ruby. Será

bom voltar à vida normal.

‒ Vida normal? ‒ Bear grunhiu, levantando uma sobrancelha cética. ‒ Você

esqueceu de onde viemos?

‒ Claro que não. ‒ Julian revirou os olhos de brincadeira. ‒ Mas você sabe o que

quero dizer.

‒ Na verdade, agora que você mencionou. ‒ Ruby entrou na conversa, enrolando

uma mecha de cabelo no dedo. ‒ Ouvi dizer que Londres também pode ser bastante

perigosa.

O coração de Julian deu um pulo, sabendo exatamente onde sua irmã queria chegar

com isso. ‒ É verdade, mas acho que posso me cuidar muito bem.

‒ Mesmo assim. ‒ Ruby continuou, sorrindo para Bear. ‒ Um pouco mais de

segurança não faria mal, não é? Talvez alguém como... nosso querido amigo Bear aqui?

Bear pareceu momentaneamente surpreso com a sugestão, mas rapidamente

recuperou a compostura. ‒ Não acho que isso seja necessário, Ruby. Julian é perfeitamente

capaz de cuidar de si mesmo.

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Ah, meu Deus, Julian pensou. Como poderia um homem ser tão perspicaz, mas tão

denso?

Julian cutucou o pé de Bear com o seu. Bear olhou para ele, claramente perdendo a

dica.

‒ Tem certeza? ‒ Ruby perguntou inocentemente, seus olhos brilhando com malícia.

‒ Quero dizer, ele é meu precioso irmãozinho, afinal. Preciso ter certeza de que ele está

seguro lá.

‒ Ruby, isso é pedir demais a Bear. ‒ Advertiu Julian, embora não pudesse negar a

emoção que o percorreu ao pensar em ter Bear ao seu lado, mesmo depois de partir.

‒ Eu sou a noiva, posso pedir o que quiser. ‒ Ruby riu. ‒ Angelo! Faça-os me

obedecer.

Ela sempre foi uma princesinha mimada. Julian sorriu. Ele não aceitaria de outra

maneira.

Quando Angelo chegou, Ruby não demorou muito para informá-lo sobre o básico,

claro. O olhar de Angelo passou entre Julian e Bear. ‒ A Inglaterra fica muito longe. ‒ Disse

ele, olhando para Bear. ‒ Tem certeza que quer uma missão como essa?

A maneira como Bear olhou para Julian o fez sentir-se quente e dourado do topo da

cabeça até a sola dos pés. ‒ Acho que posso lidar com isso.

Após um longo momento de silêncio, ele finalmente suspirou em resignação. ‒

Tudo bem. ‒ Ele disse. ‒ Bear, você pode acompanhar Julian de volta à Inglaterra... como

seu guarda-costas. ‒ Ele lançou um olhar aguçado para os dois, o comando tácito claro:

Não me envergonhem.

‒ No entanto... ‒ Continuou Angelo, em tom firme.— ... só estou concordando

porque sei que você precisa de algum tempo para se recuperar dos ferimentos, e ficar

longe dos negócios de nossa família por um tempo pode lhe fazer bem.

‒ Obrigado. ‒ Bear murmurou, seus olhos encontrando brevemente os de Julian,

que não conseguiu reprimir um sorriso.

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Antes que qualquer discussão pudesse acontecer, uma das damas de honra de Ruby

se aproximou, dando-lhe um tapinha gentil no ombro. ‒ Ruby, precisamos de você e

Angelo para as fotos. ‒ Ela informou.

‒ Claro. ‒ Respondeu Ruby, entrelaçando o braço com o de Angelo. ‒ Já estaremos

lá. ‒ Com um último olhar conhecedor para Julian e Bear, ela levou o irmão embora,

deixando os dois homens sozinhos em meio ao turbilhão de dançarinos.

A tensão no peito de Julian diminuiu quando ele se virou para Bear, incapaz de

conter a alegria que borbulhava dentro dele. ‒ Bem, parece que, afinal, passaremos mais

tempo juntos. ‒ Disse ele, sorrindo.

‒ Parece que sim. ‒ Admitiu Bear, embora os cantos de sua boca se contraíssem

numa sugestão de sorriso. A música mudou para uma melodia lenta e romântica, e Julian

deu um passo mais perto, colocando corajosamente a mão no ombro largo de Bear.

‒ Concede-me esta dança? ‒ Ele perguntou, sua voz suave, mas provocante.

‒ Nunca pensei que veria o dia em que estaria dançando em um casamento. – Bear

murmurou, mas mesmo assim passou um braço em volta da cintura de Julian, puxando-o

para perto.

Juntos, eles balançavam suavemente ao som da música, a cabeça de Julian

descansando confortavelmente contra o peito de Bear. Ele podia sentir a batida constante

do coração de Bear sob sua orelha e fechou os olhos, saboreando o calor e a segurança

daqueles braços fortes.

‒ Nunca estive na Inglaterra antes. ‒ Resmungou Bear depois de um momento,

quebrando o silêncio confortável. ‒ Ouvi dizer que chove o tempo todo.

‒ Ah, não se preocupe. ‒ Brincou Julian, levantando a cabeça para encontrar o olhar

de Bear. ‒ Com certeza lhe fornecerei um guarda-chuva. E talvez um curso intensivo sobre

etiqueta do chá.

‒ Etiqueta do chá? ‒ Bear zombou, seus olhos girando para o céu como se

implorasse por paciência divina. ‒ Isso é realmente uma coisa?

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‒ Absolutamente. ‒ Disse Julian solenemente. ‒ Não se mergulha simplesmente um

biscoito no chá sem a forma adequada.

Bear balançou a cabeça, mas Julian percebeu o fantasma de um sorriso em seus

lábios. ‒ Você vai me deixar louco, não é?

‒ Muito provavelmente. ‒ Concordou Julian alegremente. ‒ Mas eu prometo que

valerá a pena.

Enquanto continuavam dançando, Julian se deixou perder na sensação do aperto

firme de Bear e no aroma sutil de sua colônia. Por enquanto, todo o resto poderia

desaparecer: o casamento, as famílias e todo o esplendor que os rodeava.

Neste momento, eles tinham um ao outro, e isso bastava.

FIM

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