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Capítulo 1 – A silhueta do Vale

Os jovens, seguidos de Jhonny Wolf, já


andavam por planícies verdejantes, mas elas eram de
um amarelo que contrastava com o céu cinzento que
os observava, pronto para cuspir água em direção ao
solo. Era outono; e um outono frio na região sul, pois
a Costa Cinzenta possuía outonos mais frios que o
comum.
Ivan sempre ia à frente com Alan; Jhon e Luis
iam atrás conversando e se divertindo na estrada. Se
divertiam como podiam, contavam piadas e as vezes
cantavam, quando não achavam que estavam sendo
observados por gnolls ou coisas misteriosas que
poderiam viver naquelas partes desconhecidas para
eles.
O planalto que a estrada seguia era plano,
com exceção de uma colina aqui e ali no horizonte; às
vezes a estrada circundava grandes pedras brancas
que agora apresentavam musgos verdes em suas
bases aonde o sol não conseguia chegar. O cheiro de
grama molhada os acompanhava e era agradável Ivan
pensava; depois de algumas horas de caminhada eles
acharam algumas árvores para se abrigar do vento
forte do planalto e ali, entre os eucaliptos dos
planaltos, fizeram uma fogueira com a ajuda da
magia de Alan.
-- O que seria de nós sem a magia de Alan –
Luis dissera feliz por ser tão fácil fazer uma fogueira.
Aproveitaram o momento para ver o mapa. Eles
tomavam os picos das Grandes Montanhas Secas
como referência de norte em dias cinzentos como
aqueles; ela se estendia como um paredão cinzento
no horizonte à direita deles, que observavam entre os
altos e imponentes eucaliptos.
-- Creio que temos provisões para mais uma
semana de viagem – Jhon abriu sua mochila para
pegar um pote com biscoitos e pão. – Isso se
comermos bem pouco.
-- Não se preocupem com isso enquanto eu
estiver por aqui – Alan disse. – Posso fazer a comida
se multiplicar e dobrar de tamanho, logo, se meus
cálculos estiverem certos, temos comida para, pelo
menos, um mês de viagem; o que é o suficiente para
ir e voltar à Nahakirsh pelo menos duas vezes.
Ivan, Jhon e Luis observaram pasmos
enquanto Alan fazia uma maça ficar do tamanho de
um melão e depois praticamente a clonou e logo
dividiram os dois “melões vermelhos” e, por incrível
que parecesse até mesmo Jhonny Wolf comeu.
-- Alguém aqui já sabia que Jhonny comia
frutas? Porque eu não sabia – Ivan expressou de
testa franzida.
-- Faz sentido agora – lembrou Jhon. – Digo
isso porque várias vezes eu notei desaparecimento de
frutas e pensava que era culpa de Luis.
-- Viu só, Jhon! – Luis dizia sorridente. – Não
era eu e, agora, estou esperando um bom pedido de
desculpas – terminou satisfeito.
-- É – começou Jhon --, desculpe-me.
O cão mordiscou e comeu maçã também,
além de uma ração que Jhon havia preparado para
ele em Valendia ainda.
Partiram da proteção dos eucaliptos e
seguiram a estrada ventosa nos campos; pareciam
solitários no mundo, pois nem sequer viram um
animal que fosse. Começou a escurecer cedo naquele
dia e Ivan havia observado do topo de uma elevação
que precariamente salientava-se do mar de gramas
amareladas e cinzentas.
-- À frente eu consigo ver o início de um vale –
disse ele. – Mais alguns quilômetros apenas. Também
vejo florestas ao oeste, logo ao lado.
Logo que escureceu, eles não podiam mais
enxergar na distância e seguiram em direção do vale
ao oeste, pois passar a noite nas campinas não lhes
parecia agradável; não poderiam ascender uma
fogueira e sabiam pouco da região. O fato é que iam
acampar no perigo e ninguém poderia ter previsto
aquilo.
O vale, como assim chamaram, não passava
de um conjunto de colinas ondulantes aonde, de vez,
se encontravam e formavam pequenos vales. Num
destes corria um riacho de água cristalina e ali
decidiram que seria um bom local para acampar. Ao
lado de uma grande pedra, há uns cem metros do rio,
protegidos do vento, eles esticaram seus sacos de
dormir sobre a grama seca; não se incomodaram em
armar as barracas, pois o local não era grande o
suficiente e, se algo acontecesse, o que Luis sempre
achava bem provável, eles não teriam de se
preocupar em perder tempo desarmando barracas.
Depois deste dia, poucas vezes usaram barracas na
verdade, pois se acostumavam em dormir na relva e
com o céu como teto, desde que não chovesse é claro.
Depois de alojados ao lado da grande pedra,
sob sua proteção contra o vento, decidiram por
fazerem rondas e Luis seria o primeiro; Jhonny Wolf
descansava ao seu lado e sempre fazia isso ao lado do
vigia da vez. Foi então que Alan sentiu que a luz de
seu orbe emanou uma luz singela por entre os
objetos de sua mochila mágica e lançou um suave
suspiro; que representava que ele estava recebendo
uma mensagem naquele instante. Imediatamente
pegou o orbe e falou: “Oi”. Era Júlia que respondia e
ele sorriu em felicidade e já se via sentado falando ao
orbe – Luis viu e sorriu pela alegria do amigo.
-- Alan? – disse a suave voz de Júlia meio
preocupada. – Você consegue me ouvir? É estranho
falar para um orbe – ela riu e ficou muito feliz
quando ouviu a resposta do mago.
-- Sim, lhe ouço, Júlia! – ele dizia surpreso,
pois nunca havia testado aquele invento arcano antes
que, de fato, era utilizado por professores e altos
magos de Valendia. – E como estou feliz por ouvir sua
voz! – ele sorriu para o orbe e sinalizou para Luis,
que o observava sorridente ao lado de Jhonny Wolf.
-- Eu mal posso acreditar que posso falar com
você, nossa eu estava preocupada – ela disse. – Como
foi o dia de viagem? Onde estão?
-- Estamos indo bem, Júlia – ele respondeu. –
Estamos, neste momento, acampados num vale, pelo
menos é o que diz Ivan – e deu risada.
-- Devem tomar cuidado, querido – ela disse e
a última palavra que ela disse fez sinos tocarem na
mente de Alan. – Eu e Linna estamos nos tornando
grandes amigas. Ela me contou tudo sobre o que
aconteceu em Leftwine e agora sei pelo que
passaram. Estou orgulhosa de você e de como tem
lutado. Sei que Júlio também estaria.
-- Júlia, querida Júlia – e pode notar um
suspiro por parte da jovem –, eu não estaria aqui,
agora, se não fossem as pessoas de extrema coragem
que eu tive a sorte de conhecer. E não entendo ainda
porque as coisas tomaram o rumo que tomaram.
Ainda não obtive respostas e creio que demorarei em
saber, pois não sou sábio o suficiente.
-- Alan – ela suspirou –, eu tenho certeza que
conseguirá achar estas e mais respostas, pois é o
mago mais capaz que eu já conheci. E agora você e
seus amigos são nossa única esperança, pois sinto
em meu coração que a batalha em Leftwine foi só um
início sombrio de algo que espreita toda a nossa
região.
-- Também sinto isto – Alan respondeu.
-- Devo lhe dizer que amanhã logo pela
manhã, o senado irá se reunir em sessão especial,
pois o senador Lurien voltou hoje pela tarde de sua
viagem à Leftwine e ele parecia muito preocupado.
-- Reymond deve ter lhe contado sobre os
objetivos dos atacantes – Alan ponderou. – Não será
surpresa que Valendia tome medidas; mas o senado
não deve saber, pelo menos por enquanto, sobre os
pergaminhos; não enquanto não descobrirmos o
poder por trás deles. Se deixássemos com eles, os
papiros seriam guardados e, através deles, talvez
pudessem ser utilizados para fins pessoais. E assim
seria tão pior quanto aquele dragão tê-los, imagino.
-- Você não se diz sábio, mas imagino que
Wylaf pensaria do mesmo jeito se estivesse aqui – ela
respondeu. – Ah e não se preocupe com Leftwine,
pois o senador deixou mais um batalhão lá de
guarda. A segurança foi reforçada.
-- Isso é uma boa notícia, mas creio que
nossos inimigos não irão mais se preocupar com
Leftwine.
De repente as vozes de Alan e Júlia estavam
ficando fracas e o orbe do mago estava piscando de
forma intermitente.
-- Júlia, o tempo está acabando – ele disse
rapidamente para ela. – Se cuide e obrigado pelas
informações. Mantenha-nos informados e até
amanhã!
-- Tudo bem, querido – ela respondeu. –
Cuide-se também e tenha bons sonhos!
O orbe se apagou e Alan o depositou de volta
à mochila. Seu sorriso era largo e Luis ainda
observava o horizonte em direção ao leste, de onde
vieram durante todo esse tempo de viagem; Jhon e
Ivan dormiam como crianças depois de um dia de
muitas brincadeiras e Luis não teve vontade de
acordá-los, então trocou de vez na ronda com Alan
que já estava acordado.
-- Fico feliz por você, Alan – Luis tocara o
ombro do mago com um sorriso e Alan retrucou com
outro sorriso. – A Júlia me parece ser uma ótima
pessoa.
-- E como, meu caro – o mago respondeu. –
Agora vá dormir um pouco, pois amanhã será um
novo dia e precisamos estar bem para cobrirmos
bastante terreno.
Ivan teve sonhos naquela noite. Estava vendo
uma figura sinistra se esgueirando pelas sombras de
algum local desconhecido para ele. Estava entre
paredes de um local muito escuro cujo piso era de
uma laje solta e traiçoeira; filetes de água escorriam e
formavam pequenas poças no piso; uma tocha ardia
forte em sua empunhadura e ele enxergava tudo na
cor do fogo.
-- Quem está aí? – o jovem franzia a vista na
tentativa de enxergar melhor, mas não obteve
resposta alguma. – Se é amigo, mostre-se agora.
-- Seja bem-vindo, jovem amigo – disse uma
voz suave e tocável. Ivan não percebeu no princípio,
mas a silhueta na escuridão é que estava falando. –
Peço, encarecidamente, que não chegue tão perto
com esta luz. Porque não a deixa ai, ou a apaga?
-- Porque assim não conseguiria enxergar – ele
respondeu. Agora se sentia incomodado em conversar
com uma sombra; percebeu que a sombra possuía
traços humanoides quando deu dois passos na
direção da mesma. Um silvo agudo foi lançado pela
criatura e isto fez o sangue do jovem congelar.
-- Não chegue perto com essa luz! – a voz que
antes era suave agora era um chiado macabro e
agudo, mas, ainda assim, tocável. – Porque você não
a apaga? Vamos, eu não vou lhe fazer mal. Não tenha
medo, venha.
-- Não deixarei a luz – ele respondeu firme.
Agora o incomodo passou a ser um sentimento de
medo.
-- Posso sentir o cheiro de seu medo – a voz
macabra dizia enquanto a sombra se mexia de um
lado ao outro. – Tem de passar por aqui e uma hora a
sua luz vai terminar. Esperarei e irei lhe devorar
depois disso.
-- Eu estou com um pouco de medo – Ivan
respondeu –, mas enquanto eu tiver essa luz, sei que
ficarei bem. Não permitirei que ela se apague jamais.
O medo pode ser vencido pela determinação – e
começou a avançar em direção ao único caminho
disponível – que era em frente; a sombra chiou em
fúria e tentou por medo no espírito do jovem, mas ele
avançava com a luz da tocha muito determinado;
seus passos ecoavam no fúnebre local e a sombra ia
se desfazendo e diminuindo até que, com um silvo
agudo de dor, sumiu por uma fissura na parede,
como se fosse água escorrendo por um buraco.
Ivan então percebeu que a tocha não era mais
de madeira, mas sim feita de papel; pergaminhos
enrolados que estavam queimando e ele ficou
surpreso em ver que o fogo se extinguira e uma das
folhas brilhou e um glifo esverdeado brilhou mais
forte num dos cantos da folha, como se mostrasse ao
jovem que um conhecimento havia sido descoberto.
Quando acordou na manhã seguinte,
percebeu que estava tocando, com a cabeça, os
papiros. De fato os usava quase como travesseiro.
-- Ivan, você dormiu em cima dos papiros –
disse Alan. Naquela hora cedo da manhã quem
estava de ronda era Jhon. – Acho que deveríamos
cuidar melhor deles.
-- Já eu penso que deveríamos destruí-los –
respondeu Jhon bocejando e cutucando Luis para
que acordasse. – Pensando nisso, acho que nunca
tentamos ou estipulamos fazer isto, não é?
-- Não funciona – disse Alan. – Existe magia
antiga nestas folhas, eu mesmo as detectei. Existe
uma transmutação muito forte. Não ousaria tentar
destruí-los. Não seria algo sábio.
-- Não sei, mas tive um sonho memorável
agora – Ivan falou meio transtornado ainda com as
imagens daquela masmorra fria ainda permeando
seu consciente. – Nunca sonhei algo parecido.
Alan e Jhon o olharam e Luis disse que
encheria os cantis com água do rio.
-- Ora bolas! Então fale logo, Ivan, estou
curioso. Mais um de seus estranhos sonhos ora bolas
– Jhon sorriu.
-- Eu, de certa maneira, enfrentei uma
sombra macabra com uma luz.
-- A luz tinha forma? – Alan questionara e, por
um momento, ficou curioso.
-- Não sei, mas lembro que vinha de uma
tocha que eu carregava. De fato a tocha se tornou um
rolo de pergaminhos no final – Ivan respondeu.
-- Típico sonho do Ivan! – Jhon dava risadas. –
Está pensando demais nos pergaminhos, deve ser
isso.
-- Não sei, mas sinto que estou mais
preparado – Ivan franziu a testa por lembrar a
sensação. – Sinto-me muito mais preparado caso
tenha de entrar em algum lugar escuro.
-- Isso é interessante – Alan interveio. – Creio
que por dormir em cima dos papiros, acabou por
descobrir um de seus poderes. Isso é bem comum e
demonstra, se meus conhecimentos não estiverem
errados, que estes pergaminhos possuem conteúdos
informativos de muita importância. Lembro que li
que um grande mago antigamente fazia pergaminhos
que você não precisava ler; bastava dormir com eles
por perto para que você fosse lembrado de seus
conteúdos em sonhos; muito útil para magos que
desejavam preparar suas magias mais rapidamente.
-- Pelas barbas dos anões – Jhon estava
surpreso e Ivan mais ainda.
-- Agora que você contou isso, Ivan, lembrei
deste conhecimento – o mago estava com a mão no
queixo agora, pensativo.
Luis voltou com a água depois de alguns
minutos e os jovens fizeram um rápido desjejum.
Deram adeus à pedra onde passaram a noite e
continuaram pelo pequeno vale. Foram adentrando
mais profundamente e agora a estrada ficava estreita
o suficiente para que andassem em duplas; não
enxergavam nada ao leste e nem ao oeste, pois as
colinas se tornavam mais altas... e mais traiçoeiras.
-- É ali que eu ficaria – Luis disse olhando
para o topo de uma das colinas.
-- Porque está falando isso? – Jhon perguntou
meio que gaguejando.
-- Não sei, tive um pressentimento – Luis
respondeu. Eu não gosto deste local, me sinto muito
exposto.
-- Então fiquem quietos e andem logo, assim
poderemos passar por aqui rapidamente – Alan disse
tocando com o cajado o ombro de Jhon. Ivan estava
um pouco à frente neste momento e voltou com um
sorriso.
-- Mais alguns minutos de caminhada! – ele
disse animado. – Logo à frente vejo um bosque,
poderemos almoçar sob a proteção das árvores.
Todos ficaram animados, pois chuviscava um
pouco agora e uma névoa começava a descer do topo
das colinas para se alojarem no interior do vale; logo
andavam e não enxergavam muito bem o chão.
Andavam mais devagar que o normal devido a este
fenômeno da natureza, mas Luis gostava daquilo;
pois andar nas furtivas lhe convinha mais.
Continuaram contornando as colinas,
algumas bem amareladas e encharcadas por causa
do chuvisco. Fizeram algumas curvas na estradinha
aqui e ali, mas Ivan dizia saber o caminho e os outros
confiavam em seu bom senso de direção.
– Nunca vi Ivan se perder antes – comentou
Luis e Alan olhou para ele.
– Alguma vez ele saiu de Leftwine? – o mago
perguntou.
– Certa vez ele saiu para procurar por uma
ovelha de um fazendeiro das fazendas do sul; ficou
todo o dia e disse que teve de andar vários
quilômetros para achar – Jhon respondeu olhando
para Ivan que ia na frente. – Ele voltou com a ovelha
e nos deixou muito preocupados.
– Lembro da vez que ele saiu procurar por
uma erva nos bosques do oeste – Luis lembrava. –
Um menino estava com dor de estômago e, por isso,
ele se embrenhou na floresta e de lá saiu, horas
depois, sem um mapa sequer, com a erva que a mãe
do rapaz ferveu num chá logo após. Lembro que Ivan
ganhou pedaços de bolo por isso e estava muito
satisfeito.
– É bem a cara dele mesmo – Alan sorriu. –
Ele sempre parece saber o que está fazendo.
– Pessoal – Ivan voltava do fronte –, vi alguma
coisa à frente; vamos nos esconder ali naquelas
árvores e, Luis, poderia escalar aquela colina e
observar, não?
– Nem precisa falar – Luis respondeu
prontamente. – Escondam-se e não respirem até eu
voltar.
– O que era, Ivan? – Jhon perguntou aflito.
– Pude perceber uma silhueta somente devido
a chuva, mas estava bloqueando a estrada.
Atrás de uma formação de árvores eles
ficaram e Jhonny Wolf teve de ser segurado por Jhon,
pois estava muito nervoso e rosnava em direção à
neblina na estrada; estavam há uns vinte metros da
estradinha agora, mas perto o suficiente para vê-la.
Foi então que viram uma silhueta andando na
estrada. Estava murmurando algo, mas não puderam
ouvir do que se tratava. Quando a silhueta se
aproximou, puderam perceber que não andava muito
bem, arrastava os pés no solo e parecia gemer com
uma dor aguda; não viram nem ouviram nada de
Luis e continuaram parados. Uma sensação terrível
os tomou o coração enquanto aquela coisa ficava ali
gemendo como se estivesse em terrível dor, mas algo
lhes dizia para ficarem quietos e esperarem a criatura
passar; foi exatamente o que aconteceu depois de
dois minutos que pareceram duas horas para os
jovens. A silhueta tinha um porte humanoide e se
afastou em direção oposta, seguindo pela estradinha
de onde os jovens haviam vindo. Antes a criatura se
virou para o conjunto de árvores e olhou, Alan
estremeceu ao ver um par de olhos refletirem uma
luz amarelada em meio à chuva e o nevoeiro do vale.
Fechou os olhos, pois havia ficado abalado. Ivan e
Jhon não conseguiram enxergar isso e por isso não
demonstraram medo, mas uma angústia os tomou o
espírito até que a criatura virasse as costas e
seguisse seu caminho.
– Vocês viram alguma coisa? – Luis disse ao
voltar. – Eu não consegui ver, mas ouvi e nunca
fiquei com tanto medo na minha vida. Nem mesmo
aquele dragão me assustou tanto quanto aqueles
gemidos.
– Vimos uma silhueta somente – Jhon
respondeu. Alan estava suando frio. – Você está bem,
Alan?
– Sim, agora estou – o mago respondeu meio
trêmulo. – Vamos sair daqui. Não gostei daquilo.
– Nem eu – Ivan expressou. – Já estamos
saindo dos vales. Penso agora se estivéssemos
viajando de noite...
– Por favor, nem me faça imaginar uma coisa
dessas à noite – Alan disse. – Devemos sair daqui,
vamos para a floresta logo.
– Vamos – Ivan tocou o ombro do mago. –
Fiquem de olhos abertos e escutem os sinais de
Jhonny Wolf. Luis, vá na frente seguindo a
estradinha até chegarmos à primeira curva; depois
siga pela colina e nos guie na direção das árvores. Eu
ficarei cuidando de nossa retaguarda. Almoçaremos
na floresta e seguiremos para o norte de lá. Com
sorte acharemos outro local elevado após as árvores e
poderemos observar e traçar a rota para amanhã.
Seguiram viagem, mas aquele olhar sedento e
amarelado não saiu da mente de Alan que, de
quando em quando, olhava freneticamente para
todas as direções. Tocava a nuca de Jhonny Wolf e
aquilo o confortava. Guiados por Luis, deixaram a
estradinha macabra, para o alívio de todos, e
cortaram as colinas até chegarem à fronteira daquele
vale. As colinas desciam abruptamente na floresta e
logo estavam sob a sombra e o olhar de grandes
árvores. Antes Ivan tentou aproveitar a vista, mas
tudo que via, no chuvisco, era um mar verde
acinzentado abaixo de seus pés que se estendia até
pouco mais de um quilômetro; que era tudo que
conseguia ver. Os jovens se agruparam uns perto dos
outros novamente, pois a floresta era densa e
poderiam se separar fácil; quando haviam vagado
fundo nas entranhas do bosque, decidiram almoçar.
Desfivelaram as mochilas e se sentaram no
chão do bosque, no local mais seco que puderam
encontrar. Ali tiveram tempo para saborear biscoitos
e frutas. Jhon abriu um pote com carne seca e Alan
dobrou o tamanho da carne com sua magia.
– Posso fazer isso três vezes por dia –
acrescentou o mago dando o primeiro sorriso desde o
encontro com a silhueta no vale.
– Você comeu pouco, Alan – Luis disse um
pouco preocupado. – Geralmente come bastante.
– Eu não estou me sentindo muito bem – o
mago respondeu e olhou para todos os lados de novo.
– Você está assim desde o encontro com a
silhueta – Ivan expressou. – Ninguém ficou
confortável com aqueles gemidos, mas, se tiver algo
para nos contar, que possa aliviar essa tensão que
estamos vendo em você, por favor conte.
– Eu não sei explicar, mas, de repente, senti
medo – o mago olhava para a copa das árvores em
volta. – Dou graças aos deuses que vocês não tenham
visto o que vi, mas posso lhes dizer, não quero mais
voltar para aquele vale – ele terminou com uma voz
agourenta.
Quando disse aquilo, Alan segurou firme o
cajado e Ivan, Jhon e Luis ficaram surpresos e um
pouco amedrontados com aquele relato fúnebre.
– Tenho tido a impressão de ser observado
durante toda viagem de hoje. Uma sensação horrível
de solidão – Alan acrescentou.
– Acalme-se, Alan – Ivan disse. – Estamos
aqui com você. Vamos continuar juntos; mas foi bom
você relatar isso, pois tenho certeza que ninguém
ficou confortável com aquele encontro no vale. Temos
de ter muito cuidado.
Depois de almoçarem, continuaram a viagem
pelo bosque. Acharam uma nascente e seguiram seu
curso até que a nascente se tornou um belo riacho.
Enquanto seguia para o norte eles a seguiam; Luis
sentiu-se com sorte, pois as folhas molhadas no solo
produziam menos barulho do que se estivessem
secas e aquilo era motivador para ele – seguia na
frente da formação, mas não longe dos olhos de Ivan
que vinha logo atrás com Alan, Jhon e Jhonny Wolf.
Ivan percebeu que o moral de seus amigos
estava um pouco abalado e teriam um final de dia, se
não por dizer uma noite difícil também, se não fosse
por sua postura positiva e confiante, pois era nessas
situações que ele via o quanto era importante que
mantivesse a calma e o raciocínio livre; não tolerava
ver os amigos desmotivados e, com energia
estimulante, os guiava para dias e memórias mais
agradáveis e foi assim naquele dia; determinação,
coragem e um pensamento positivo das situações, e
ainda assim realista e racional, eram muito
inspiradores. Quando Ivan estava por perto, sentiam
que estavam seguros e sempre tinham um curso ou
um foco em mente para tirar o foco de medos e
inseguranças. A fome, a sede, o sono e o cansaço
eram mais toleráveis com um Ivan confiante à frente
do grupo.
E a noite daquele dia cinzento chegou depois
de uma tarde marchando pelos bosques. Acharam
um casebre abandonado; segundo Luis estava
abandonado, pois não tinha sinal de moradores e,
para eles ali agora, servia como proteção da leve
garoa que caía da escuridão acima. Um relâmpago
descia aqui e acolá no horizonte e sua claridade
perfurava fácil a copa das árvores e iluminava de vez
em quando os arredores do casebre; existia uma
porta e uma janela para um cômodo único, mas o
telhado estava bem conservado. Alan dobrou de
tamanho, com sua magia, um pão caseiro que
haviam trazido e comeram todos sob a luz de uma
única vela.
Alan falou com Júlia por intermédio do orbe
mágico das mensagens e aquilo lhe renovou o ânimo
de um jeito insuperável. Ele contou sobre o vale e
sobre o dia pesado e tristonho de viagem. Como só
havia um cômodo no casebre, todos ouviram a
conversa e sorriam à medida que o mago conversava
com sua amada e ela o dizia para que não ficasse
triste, que esperaria por ele e tudo o mais.
– O conselho declarou que Reymond foi um
herói em Leftwine e disseram que ele seria convocado
para ser um capitão na Legião Imperial – Júlia
comentou com sua suave voz. – Há e diga à Jhon que
Linna está com saudades. Amanhã, se vocês se
comportarem, nós duas conversaremos com vocês
dois – ela sorriu e Alan suspirou ao ouvir seu riso.
Depois da conversa de Alan, os jovens
começaram a pegar no sono enquanto ouviam a
suave chuva cair no telhado do casebre; Jhon ficou
acordado de vigia e Jhonny Wolf estava ao seu lado
deitado, mas de vez em quando, ao menor som que
não fosse o da chuva lá fora, suas orelhas
levantavam e ele olhava na direção do som, mas
quase sempre deitava a cabeça de volta nas patas
cruzadas como se não percebesse nada de mais.
Os pergaminhos estavam enrolados em um
tubo de madeira impermeável que Alan havia
disponibilizado; segundo ele, aquilo protegeria os
papiros até mesmo do mais intenso cenário.
Jhon lacrimejava de sono quando ia chamar o
próximo da vigília, que seria Luis, mas então ouviu
um som de ecoantes passos nas folhas encharcadas;
parecia arrastar os pés e nem mesmo a garoa abafou
o som. Jhonny Wolf esbravejou e se pôs de pé num
salto; logo estava rosnando em direção à porta.
– Pessoal, acordem! – Jhon guinchou um
sussurro agudo e todos acordaram com caras de
sono.
– Não precisava acordar a todos, Jhon – Luis
comentou, mas Ivan viu Jhonny Wolf naquele estado
e se pôs de pé e sacou sua espada; sem pestanejar
Alan pôs o cajado entre as mãos e se levantou
também e Luis seguiu o exemplo de seus amigos e
sacou sua espada.
Logo estavam tão acordados como se tivessem
dormido o suficiente, pois a adrenalina já os tomava.
– Vejo algo ali fora, está parado olhando para
cá – Luis estremeceu enquanto espiava pela janela.
De repente um gemido agoniante ecoou nos arredores
e eles reconheceram: era a silhueta do vale, que
haviam encontrado horas atrás perto do meio dia
daquele dia cinzento e enevoado; Alan estremeceu ao
lembrar daquele olhar sombrio e não piscava olhando
fixo para a portinha do casebre.
– Boa noite, jovens – a voz veio lá de fora. Era
arrastada e grave, quase gutural. – Fazia muito
tempo que eu não via alguém por estas bandas.
A chuva caia leve lá fora, mas em meio a um
relâmpago, Luis, que espiava ainda pela janela, pode
discernir a fisionomia da criatura; era um homem
vestido num robe escuro, seus cabelos eram muito
enredados e longos, quase como palha; Luis não
conseguiu ver seus olhos, se é que tinha em sua
percepção, e aquilo o deixou em pânico.
– Sei que estão aí – a voz continuou. – Vim
seguindo seus rastros por horas, esperando a noite
para lhes encontrar. Não temam, não desejo mal a
vocês, vamos conversar.
Era estranho, Luis e Alan tremiam e Jhon e
Jhonny Wolf estavam prontos para qualquer
eventualidade, mas estavam parados esperando; Ivan
lembrou de seu sonho com a sombra nos corredores
escuros e deu um passo à frente até a porta.
– Você enlouqueceu?! – Jhon o reprimiu
imediatamente.
– Jhon, mire com seu arco e evite focar seu
olhar na direção daquele ser, use sua visão periférica
e jamais o olhe nos olhos – Ivan falou tão rápido que
tudo que Jhon fez foi sacar logo sua flecha e prepará-
la no arco; foi em direção da janela e se pôs à
disposição. – Se algo der errado, me cubra. Alan, faça
o mesmo e Luis – ele parou um pouco e pensou –,
você fica aqui e proteja eles em qualquer
eventualidade. Jhonny venha comigo garoto – e
assobiou para o cão que o seguiu fielmente e
disposto.
– Boa noite – disse Ivan abrindo a porta e
saindo para fora, Jhonny Wolf rosnava e Ivan o
tranquilizava com suaves toques na cabeça. – Peço
desculpas e sua compreensão pela demora em
responder, mas acontece que ficamos surpresos com
uma visita tão tarde da noite. – Ivan observou todos
os lados discretamente, mas não ousou olhar para o
rosto do ser, pois já estava assustado só de olhar de
seus ombros para baixo – era alto e esguio, mas
possuía uma espada gigantesca nas costas, parecida
com a do cavaleiro negro em Leftwine.
– Posso sentir o cheiro de seu medo, ser
miserável – a voz grave riu em crueldade. – Há muito
não provo da carne dos vivos, tenho fome.
Ivan logo mostrou sua espada e Jhonny Wolf
ficou em posição de ataque, mas tremeu quando a
criatura lançou um chiado, como um grito, tão agudo
que fez arrepiar a espinha de Ivan e dos outros.
Imediatamente ele gritou para Alan: “Luz, Alan!” e o
mago, tremendo, conjurou uma luz na ponta da
espada de Ivan; de relance o mago olhou para a
criatura, mas não ousou olhá-la no rosto e ficou
esperando o que Ivan faria.
– PARTA – Ivan rugiu com a luz em direção da
criatura. Ouviu-se um riso histérico por parte do ser
e Ivan estremeceu.
– Acha mesmo que essa pequena luz vai me
afastar, mortal? Eu, que mesmo à luz do dia posso
andar sem muitos problemas? – e deu um passo à
frente em direção ao casebre.
– Não ouse se aproximar, ou terei de defender-
me com a espada e acredite, você não quer isso –
Ivan ainda olhava do ombro para baixo da criatura e
aquilo se tornou perturbador para ele, pois não
queria arriscar olhar para a criatura, visto que
percebeu que Luis estava abalado por ter fitado o
cruel ser, mas de uma coisa agora ele tinha certeza,
aquele ser não podia estar vivo; tinha a pele
ressecada como a de um cadáver, alguns dedos da
mão esquerda lhe faltavam e seu odor era terrível – o
cheiro do túmulo.
– Se você desejar, posso lhe transformar em
meu servo se me entregar seus amigos. Eles terão
uma morte indolor, eu prometo – e o ser sorriu, mas
Ivan não viu. – Me olhe nos olhos, mortal.
– Irei, depois de arrancá-los – e Ivan partiu
para o embate assim que viu que Jhon havia
disparado para cravar uma flecha na bexiga do
homem ressecado; para a surpresa de Ivan, o homem
possuía, por de baixo do robe, uma malha de anéis
como proteção, mas era antiquíssima e enferrujada
em alguns locais; inclusive na altura do coração
existia uma perfuração de ponta de lança e uma
mancha escura no couro debaixo da malha. – Você já
morreu e agora morrerá de novo! Descanse em paz
criatura! – e estocou com a espada, mas o golpe foi
aparado pelo ser com maestria e sem dificuldade.
– Sua esgrima é péssima – a voz respondeu. –
Beberei de sua alma hoje – e contra atacou Ivan com
dois cortes horizontais; um Ivan aparou, mas o outro
lhe raspou no ombro, deixando sangue vazar pelo
ferimento. A criatura ficou feliz em ver sangue
novamente parecia, pois dava risadas de alegria:
“Isso, venha mortal, sejamos rápidos” e Ivan então,
sem perceber fitou a face do ser; era horrível, não
possuía olhos e sim órbitas oculares preenchidas por
luzes pálidas e amareladas. O rosto era dessecado e
criava covas vazias nas bochechas, os cabelos eram
como palha e eram brancos e sem vida.
Ivan estava chocado com o que via e tremeu a
mão da espada quando se viu ali na floresta sendo
golpeado por um ser tão horrível. Nunca antes havia
visto um morto-vivo – como eram chamados aqueles
que vagavam na terra, mas cujos espíritos já haviam
sido destruídos em eras imemoriais ou revividos pela
quase extinta magia da necromancia.
– Jovem alma – disse a criatura se
aproximando de Ivan. O jovem estava muito
incomodado com aquele ser ali o golpeando –, não
tenha medo, aceite seu destino, você não tem culpa
de ser tão fraco. Você veio a mim e farei com que não
sofra.
O jovem estremeceu e não conseguia se
mexer, parecia ter aceitado aquelas palavras e não
ousava se mover, estava em pânico e o ser se
aproximou e ergueu a espada gigantesca; um brilho
esverdeado tomou a lâmina, era como a luz dos
espíritos que gritavam pela alma de Ivan. Mas foi
então, no momento de maior sombra, que sua
coragem foi testada. Ele lembrou de Leftwine e do
ataque dos gnolls e do dragão, lembrou que havia
prometido para si próprio que jamais desistiria de
lutar pelo bem de seus amigos e de seu povo; com a
coragem renovada o suficiente para raciocinar, ele
ergueu a espada e aparou o golpe do ser desgrenhado
e Jhon disparou mais uma flecha que acertou, com o
som de um baque seco, o coração do ser, mas este
não possuía mais órgãos vitais, era um corpo
dessecado e morto.
Antes de Ivan se virar para correr, o ser ainda
o golpeou mais uma vez e cortou seu corselete de
couro nas costas.
– Saiam dai – Ivan gritou e os outros se
ergueram e saíram. – Corram e não olhem para trás,
estarei os seguindo!
Foi então que começou a perseguição na
floresta à noite. O ser cambaleava de dia, mas à noite
possuía um vigor sobrenatural e conseguia
acompanhar a velocidade dos jovens; Jhonny Wolf foi
na frente de todos e Alan o seguia – porque fazia isso
ele não sabia ao certo, só pensava em correr e nem
ao menos tiveram tempo de pegar seus sacos de
dormir, mas conseguiram pegar as mochilas. Ivan
não conseguiu pegar sua mochila e nem se perturbou
por isso, pois no momento só pensava em tirar seus
amigos daquele local e longe da presença daquela
criatura terrível.
Pensaram ter despistado o ser quando
olharam para trás, depois de uns cinco minutos de
marcha pela mata, mas conseguiram ouvir sua voz
logo atrás:
– Sou incansável, hora ou outra irei alcançá-
los, pois precisam respirar o ar! – e os jovens
estremeceram ao ouvir a voz gutural e arrastada e
continuaram sua corrida. Apesar de cansados, a
adrenalina os mantinha firmes na marcha. Já não
sabiam para onde estavam indo e nem se
importavam, só seguiam Jhonny Wolf e mal
enxergavam dez metros à frente na noite chuvosa.
Ivan era o último do grupo e ficou atrás de
propósito, pois de certa maneira conseguia pensar,
mesmo com aquela voz ameaçadora tão perto os
seguindo e mesmo que seu corpo tremesse
incontrolavelmente de pânico, ainda assim conseguia
raciocinar e ditava o ritmo da fuga. Quando ouvia a
voz se aproximando, apressava o passo e fazia os da
frente andarem mais rápido. Jhonny Wolf os havia
guiado para uma lareira e ali Alan conjurou luz de
seu cajado. Viam tudo ao redor agora, mas estavam
com medo; olhavam cansados para as árvores e
estavam sem fôlego.
– Aqui estão, o que eu disse? – a criatura
irrompeu se arrastando curvada dentre as árvores
escuras. – Há muitos anos não via viajante algum
nestas estradas e confesso que estava ficando
impaciente, mas agora com vocês aqui, posso
finalmente me alimentar.
A espada do vil guerreiro balançou de um lado
ao outro golpeando os jovens, mas Ivan e Luis
defendiam desesperados os golpes e Jhon percebeu
que suas flechas sequer incomodavam o ser –
finalmente ele fitou a criatura e ficou tão aturdido
com a feiura do ser e com o desespero que tomou seu
coração, que deixou o arco cair da mão e começou a
tremer sentado no chão molhado do bosque.
O desespero havia começado de novo e Alan,
apesar de extremamente perturbado, conseguiu
ajudar seus amigos com proteções que conjurava –
uma em Luis e outra em Ivan, mas não conseguia se
concentrar em nada além destes encantos simples e
rápidos, pois o medo assolava sua mente e as
imagens daquele ser não deixavam sua memória.
Mas os encantos compraram um pouco de tempo e
mesmo Jhonny Wolf entregou-se ao combate e
rosnava tentando achar uma brecha nas defesas da
criatura.
Ivan e Luis formavam uma boa dupla, pois
enquanto Ivan enfrentava a criatura no combate
franco, Luis tentava flanquear e dar um bote, mas o
terrível guerreiro era audaz no combate e poucas
vezes Luis cruzou sua espada no corpo do mesmo; e
quando isso acontecia, a lâmina não conseguia
cruzar a cota de malha enferrujada que protegia o
ser. Foi neste momento que Luis fora atingido por um
contra golpe; seu braço esquerdo havia sido cortado e
o sangue de Luis brilhou na lâmina larga da criatura.
– Ah, como é bom saborear a vida novamente!
– uma vitalidade renovada tomou o ser e,
energicamente, começou a atacar Luis.
Alan e Jhon estavam pasmos em ver que não
podiam fazer nada para salvar Luis e, que depois
dele, provavelmente Ivan seria o próximo. Jhonny
Wolf comprou tempo saltando nas costas do morto-
vivo, mas não o mordeu; parecia estar enojado em
morder a carne pútrida do ser.
Ivan aproveitou para fincar sua espada no
estômago do guerreiro que urrou de dor. Seu grito
ecoou e um relâmpago desceu até o topo das
montanhas ao norte longínquo; o terrível ser contra
golpeou Ivan, mas este rolou para o lado e suas
costas ficaram cheias de folhas molhadas que se
penduraram; Ivan sinalizou para que Luis recuasse
para Alan e Jhon e assim ele fez. Jhonny Wolf
aproveitou e saiu das costas do inimigo e recuou com
Luis.
– Vejo que você tem um pouco de coragem – a
criatura tocou seu estômago perfurado. – Mesmo
tremendo ao ver a morte, consegue raciocinar.
Interessante realmente – a voz era arrastada e
possuía uma inteligência cruel, mas Ivan não se
abalava com as palavras.
– Por vários momentos pensei que morreria e
isso me deu certo medo, mas agora não tenho
dúvidas – o jovem começou confiante –, não tenho
dúvidas de que iremos lhe derrotar.
– Então venha, venha lutar, criança – o ser se
preparou e Ivan começou a andar em sua direção.
Jhon, Alan e Luis não conseguiam olhar para
o ser ainda, mas viam Ivan andar na sua direção e
por um momento pensaram que ele estava aceitando
a morte de bom grado. Sua caminhada era
determinada, no entanto, e ele esperou que o cruel
ser erguesse a enorme lâmina e assim a criatura fez,
deixando todo o seu tórax exposto a um golpe; e em
vez de esquivar ou aparar, Ivan fez diferente, encarou
o ser nos olhos e bradou:
– Parta!!! – e sua espada e seus olhos
brilharam, como se tivessem recebido a energia de
um relâmpago do céu tempestuoso, mas nenhum
relâmpago havia caído ali. Um estrondo e uma luz
forte não permitiram que ninguém ouvisse ou visse
algo e quando sumiu a luz, Alan, Jhon e Luis
puderam ver Ivan de pé com a espada cravada no
peito do ser, que ainda estava com os braços
erguendo a grande espada; Ivan tirou a espada e o
ser explodiu em cinzas.
Os olhos de Ivan voltaram ao normal e ele
caiu em um joelho e apoiou a espada no solo,
ofegante e molhado da chuva. Parecia estar em um
estado de tranquilidade. O medo e a energia negativa
que pairavam pelo local sumiram totalmente e os
jovens voltaram ao normal, não tinham mais medo.
– Ivan, você está bem?! – Luis correu para
socorrer o amigo, por mais que todos pensassem que
era ele quem precisava de socorro com aquele braço
cortado.
– Eu estou bem, Luis – Ivan respondeu
erguendo-se. – O seu braço, temos que ver isso
imediatamente.
– Enfaixarei o seu braço, Luis – disse Jhon. –
Eu trouxe ervas de limpeza na mochila. Você não
poderá forçar este braço por um bom tempo – Jhon
estava de espírito renovado e sem medo algum.
– O que foi aquela luz? – Alan questionou
Ivan, mas o jovem não soube responder. – Novamente
somos salvos por alguma intervenção – ele olhou
para Jhonny Wolf. Alan lembrou do encontro contra
Et'urkon nos bosques perto de Leftwine e de como
Jhonny Wolf havia brilhado e salvado os jovens da
cruel magia do feiticeiro.
Os jovens esperaram que Jhon improvisasse
um primeiro tratamento para que Luis não perdesse
sangue na viajem, pois agora não sabiam aonde
estavam, mas estavam ficando com sono assim que a
adrenalina passou. Procuraram densas copas de
árvores e dormiram abaixo delas; de vez em quando
pingos cruzavam a espessa camada de folhas e caiam
neles, mas não se incomodaram muito, pois se
protegeram com suas capas.
Capítulo 2 – A amazona da lagoa

Na manhã seguinte, os jovens acordaram com


suas capas molhadas. Ivan havia dormido mais e
aquilo era bem diferente do comum, pois geralmente
era o primeiro a acordar.
– Acho que ele cansou ontem – disse Jhon
para Alan enquanto os dois se erguiam e olhavam as
copas das árvores.
Luis acordou também e ainda não havia se
acostumado com o braço cortado; Jhon refez os
curativos.
– Terá de descansar esse braço, Luis – ele
disse. – E mesmo tomando cuidado, devemos levá-lo
a um curandeiro imediatamente.
– Tudo bem, mas eu estou bem – Luis
respondeu com cara de sono. – Vamos acordar o
Ivan.
Ivan acordou e sorriu ao ver o dia, pois, por
mais que fosse mais um dia cinzento, já era bem
melhor que a noite, principalmente depois da noite
anterior que tiveram no bosque.
– Devemos ver onde estamos – ele disse. – Já
que Luis está ferido, eu mesmo escalarei uma árvore
para observar.
Ivan levou um tempo para subir uma árvore,
coisa que Luis faria em segundos caso não estivesse
com o braço esquerdo daquele jeito. Depois de um
tempo desceu sorridente.
– Não nos afastamos muito de nosso caminho.
As Montanhas Secas estão ao leste já. Temos que
seguir para o oeste e Nahakirsh deve estar atrás
daqueles vales à frente! – Ivan desceu com menos
cuidado e quase caiu da árvore, pois estava feliz. –
Acho que mais uns dois dias de viagem somente!
– Você acha que poderíamos voltar para a
cabana para pegar nossas coisas? – Jhon perguntou.
– Sim, até deveríamos, pois dormir sentado e
encostado nas raízes das árvores não fez muito bem
para as minhas costas! – Ivan respondeu e todos
riram e partiram.
Em pouco mais de quinze minutos já estavam
de volta na cabana da noite anterior, mas agora o
cenário era diferente. Ivan ainda não sabia explicar o
que havia acontecido quando alguém perguntava,
mas todos estavam satisfeitos que ainda estivessem
vivos e recuperaram seus sacos de dormir e Ivan
ainda recuperou sua mochila que havia ficado para
trás.
– Agora sim – ele disse sorridente. – Ainda
bem que dei os papiros para Alan, se não quem sabe
o que poderia ter acontecido.
Alan guardava os papiros em sua mochila
mágica. Lá era o local mais seguro por hora e sua
magia garantia que seria difícil detectá-los.
No fim de tarde do segundo dia andando pelos
planaltos ondulantes e dourados, os jovens puderam
ver o pôr do sol finalmente. Aquilo os renovou os
espíritos. Luis e Jhon já não aguentavam aquele
tempo cinzento que os acompanhava desde Leftwine
praticamente, mas durou pouco, pois à noite a garoa
voltou. Pelo menos naquela noite Ivan havia
conseguido achar uma caverna seca nas bases de
duas grandes e antigas árvores na fronteira entre um
bosque e um riacho. Ali dentro fizeram uma pequena
fogueira com a ajuda da magia de Alan e fizeram a
melhor ceia que já haviam feito desde Valendia.
Depois de comerem, sentaram-se e observaram a
chuva cair na lagoa que ficava a uns sessenta metros
da gruta; caíram no sono um a um. Não se
preocuparam com vigia, pois estavam confiantes e
ainda tinham Jhonny Wolf, em cujos instintos
aprenderam a confiar.
Mal puderam acreditar no tempo da manhã
seguinte; o sol havia surgido forte no leste e
nenhuma nuvem bloqueava seu esplendor dourado.
Saíram aos pulos da gruta e ficaram preparando o
café da manhã sobre os raios rejuvenescedores do
sol. Ivan havia dito que daria uma volta, subiria um
pouco ao longo do riacho para ver se enxergava
Nahakirsh ou alguma estrada que pudessem seguir.
– Se cuide, e não demore! – Luis o alertou com
a boca cheia de biscoitos e Jhon alertou Luis quanto
a falar de boca cheia.
Ivan andou por uns quinze minutos subindo o
riacho que descia serpenteando pelas colinas e
árvores. Em direção ao oeste o riacho seguia e então
pode ver mais uma lagoa acima nas colinas. Era
como uma clareira de água com árvores em volta;
andou abismado com a beleza do local e viu que
estava alto o suficiente para observar planícies baixas
do outro lado daquelas árvores. Seguiu até que ouviu
o leve relincho de um cavalo.
– Ora bolas – falou para si. Curvou-se e andou
como um lobo curvado sobre as patas, subiu um
pequeno aclive e espiou, e lá estava; um cavalo
bebendo da água do riacho. Ivan não entendia muito
de cavalos, mas aquele estava selado e era muito belo
em sua percepção.
– Espere até o pessoal ver isso! – o jovem se
adiantou e saiu de seu esconderijo e andou em
direção do cavalo. O animal se quer se perturbou
com sua presença e era de uma pelugem marrom.
Havia uma mochila pendurada na sela, mas Ivan foi
tocar a cabeça do animal, que respondeu lambendo
seus dedos. O jovem riu. – Você é muito corajoso. –
ele disse para o cavalo. Foi então que uma flecha
zuniu perto vindo das árvores e se enterrou na terra
perto dos pés de Ivan.
– Largue-a agora – Ivan ouviu uma voz
feminina vinda de alguma direção, mas não pode ver
de onde. No entanto, para ele, aquela voz parecia vir
do céu de tão doce que era.
Não muito depois da flecha acertar o solo,
uma bela moça saiu dentre duas árvores. Estava
escondida e seu corpo estava envolto em uma capa
presa na altura de seu peito. Possuía cabelos
cacheados que desciam até os ombros de tal maneira,
que Ivan não conseguia respirar e estava pasmo e
paralisado com tal beleza. Ele não largou o cavalo e
ela apontou o arco e flecha para ele enfatizando que
se afastasse do animal.
– Oh, me desculpe – Ivan respondeu largando
o cavalo e voltando a si. Parecia ter acordado de um
sonho. – Eu pensei que ele estivesse perdido.
– Ele? – ela franziu a testa. – É ELA se quer
saber – a jovem moça sorriu de leve.
– Eu não sabia, não sei muito sobre cavalos –
ele respondeu e percebeu que estava de um jeito que
não entendia ao certo. Estava nervoso e as palavras
pareciam lhe fugir da mente, pois tudo que queria era
poder observar a moça.
– É, dá pra perceber – ela ainda não havia
abaixado o arco e apontava ainda para Ivan. – Quem
é você e o que faz aqui, nos arredores de Nahakirsh?
– Nahakirsh?! – Ivan soltou um grito de
alegria. – Já estamos tão perto assim?!
– Eu diria que há algumas horas no seu caso,
pois está sem cavalo. E quando diz “nós”, está
acompanhado? – ela ainda apontava o arco, mas
agora olhava para os lados também.
Ivan não tinha receio de falar com aquela
moça, algo em seu interior lhe dizia que podia confiar
nela.
– Eu sou Ivan, muito prazer. Somos quatro no
total – ele lembrou um pouco –, cinco com Jhonny
Wolf, nosso amigo cão.
Ela ficou olhando o jovem dos pés à cabeça.
Ivan ficou olhando-a esperando mais perguntas, mas
ela estava quieta e imóvel.
– É – ele continuou –, quem é você? Por acaso
estava tomando banho? Essas terras não são
perigosas? E outra coisa, você não poderia mirar essa
arma para outro lado?
A moça havia voltado a si com as perguntas
de Ivan.
– Ah, me desculpe – e sua voz era tão suave e
doce que Ivan sentia um lobo uivar em seu peito. –
Eu sou Rosimeri, mas pode me chamar de Rosi e esta
é Nuvem – e baixou o arco, guardou a flecha e tocou
na égua com sua delicada mão. – E sim, eu estava
me banhando, pois o tempo está muito bom; e não,
essas terras não são perigosas.
– São belos nomes – Ivan reparou que a moça
havia corado um pouco e ele acabou corando
também quando olhou diretamente nos olhos vivos e
cheios de luz de Rosimeri. – Foi você que pôs o nome
nela? – ele perguntou por fim.
– Sim, pois cavalgá-la é tão suave quanto o
deslizar das nuvens no céu – Ivan ficou
impressionado. – Mas diga-me o que faz aqui? De
onde você é, nunca o vi antes por aqui e tenho visto
estranhos nos arredores. E também, não se
importaria de olhar para outro lado enquanto me
visto?
– Sim claro – e se virou para o lago. – Eu e
meus amigos queremos chegar em Nahakirsh para
fazer pesquisa. Precisamos do conhecimento contido
lá. Mas temo que não possa falar mais, pois botaria
em risco minha missão – ele não notou, pois estava
de costas, mas ela o olhava quase que sem piscar. –
Eu e meus amigos somos de Leftwine, uma aldeia na
província sul do Império de Valendia.
– Ah, então são da Costa Cinzenta! Meu avô
me contou histórias sobre lá. Os valendianos são
amigos dos nahakirshianos desde épocas antigas –
ela sorriu consigo mesma. – Você tem uma missão
secreta então?
– Digamos que sim, até mesmo para mim e
meus amigos. Mas que estranhos você tem visto?
– Uns vinte homens acampados não muito
longe daqui. Eu segui os rastros deles e ouvi suas
conversas na noite; falavam de um cão e de
pergaminhos e de um mago que vinha nesta direção.
Falavam em emboscá-los.
– Mago? – Ivan pensou. – Um de meus amigos
é um mago. Mas não entendo, como eles sabem?
– Sabem o que? – ela estava curiosa.
– Que estamos aqui. Um cão, um mago e os
pergaminhos definitivamente se referem ao meu
grupo de amigos. Como eram estes homens?
– Eram diferentes, eram cruéis. Entre eles vi
um que comandava, ostentava uma grande espada e
vestia uma armadura que eu nunca havia visto
antes, era negra dos pés à cabeça.
– O cavaleiro negro – Ivan ficou agitado. – Eles
nos seguiram, conseguiram detectar a gente. Eu
preciso ir avisar meus amigos, temos que achar
Nahakirsh imediatamente!
– Espere! Eu posso ajudá-los, eu sei o
caminho, pois moro lá – ela disse e montou em
Nuvem com uma elegância que fez Ivan esquecer de
todos os problemas que o mundo continha.
– Muito obrigado! – e os dois partiram riacho
abaixo para o encontro de Luis, Jhon, Alan e Jhonny
Wolf.
Já haviam desfeito o acampamento e estavam
esperando Ivan somente. Alan se ergueu de uma
pedra onde estava sentado ao ver Ivan sendo
acompanhado por uma estranha em cima de um
cavalo.
– Quem é aquela? – Luis perguntou para um
Jhon de olhos esbugalhados. – Ivan sai por alguns
minutos e acha uma mulher na floresta?!
– Pessoal – Ivan chegou ofegante e Rosimeri
veio ao seu lado montada em Nuvem. – Essa é
Rosimeri. Rosimeri, estes são Alan, Jhon, Luis e
Jhonny Wolf.
– Olá – ela disse os cumprimentando de cima
da égua.
– Onde a conheceu? – Jhon perguntou.
– No riacho à cima, ela sabe o caminho pra
Nahakirsh. Temos de ser rápidos, pois pelo que ela
sabe, o cavaleiro negro seguiu-nos!
– Como assim?! – Alan ficou aturdido com as
novas.
– Não conheço vocês o bastante, mas se
aqueles homens estão perseguindo vocês... estão em
perigo, pois eles eram cruéis – Rosi respondeu firme.
– Eu posso guiá-los até minha cidade natal,
Nahakirsh. Lá estarão em segurança.
– Não precisa dizer duas vezes, moça! – Luis
respondeu.
– Pela descrição dela, tenho certeza que se
trata do mesmo que atacou Leftwine – Ivan disse por
fim. – Vamos, ela disse que Nahakirsh está a horas
somente daqui.
E partiram imediatamente sob o sol da
manhã. Depois de baixarem o vale do riacho,
puderam observar longe nas planícies.
– Nahakirsh fica depois daquelas colinas –
Rosi apontou de cima de Nuvem. Não parecia longe,
apenas uma longa caminhada na manhã para Ivan. –
O cão de vocês é diferente – ela adicionou, por fim,
vendo Jhonny Wolf andar ao lado de Jhon.
– Ele não é nosso cão – Ivan respondeu. – É
nosso amigo. E tem sido muito fiel nas adversidades.
– É verdade – Jhon acrescentou sorridente e
acariciando a nuca do cão, que retribuiu balançando
a cola.
Continuaram e agora haviam parado para um
almoço sobre a sombra de algumas árvores nos
planaltos. Viam nas costas, de onde vieram, as
Montanhas Secas enormes depois dos vales e dos
bosques há centenas de quilômetros. Ivan estava
sentado comendo um pouco do pão que Alan havia
clonado e duplicado de tamanho quando Rosi
sentou-se ao seu lado.
– Você tem bons amigos – ela comentou.
– É mesmo, eles são os melhores – ele
respondeu com um sorriso. – São minha família
desde sempre.
– Em minha terra, há um dito popular que
fala sobre os amigos, que é possível conhecer uma
pessoa pelo jeito que ela trata de seus amigos e dos
outros.
– Estou muito curioso para conhecer sua
terra, pois nós passamos por alguns maus bocados e
esta viagem tem nos feito bem. Mas então é possível
conhecer uma pessoa desse jeito? Nunca pensei nisso
– e sorriu para ela.
Rosi ficou o olhando comer. Ela não cansava
de o observar e apreciava seu jeito espontâneo. Ela
pensou que há muito tempo não havia conhecido
alguém que tratasse tão bem um desconhecido; o
nome de Ivan ecoava em sua mente.
– Eu acho que eles se gostaram – Luis
comentou baixo para Jhon, que ainda mastigava
outro pedaço do pão de Alan.
– É cedo para dizer, mas que eles se entendem
bem, disso tenho certeza – Jhon respondeu.
– É cedo para dizer? – Alan chegou perto e
sussurrou para os dois. – Você e Linna foram tão
rápidos quanto eles estão sendo, Jhon – e deu risada
e continuou. – Eu já vi tudo, eles se encantaram um
com o outro e estou torcendo pelos dois, pois sei o
que é isso e é muito bom – e sorriu em ver Ivan mais
espirituoso do que o comum.
– Na verdade não acho que somente se
gostaram – pensou Luis. – Vejam como é bom vê-los
juntos, é como se seus espíritos se conhecessem de
outros locais.
Riram um pouco com Luis e levantaram-se
para seguir viagem.
Andaram mais algumas horas sob o forte sol
de uma tarde sem nuvens, de céu azul e bem claro;
ao fim da tarde já haviam passado pela curva que o
vale descrevia e avistaram, no horizonte, a mais bela
vista que tiveram em dias de viagem. Lá estava, à
apenas alguns quilômetros, a cidade-luz, Nahakirsh.
A muralha era branca, mas naquele momento, com o
céu alaranjado do fim de tarde, refletia uma luz de
ouro, não só da muralha, mas do alto das torres
brancas também, que podia ser avistada, pensaram
os jovens, dos quatro cantos do mundo.
Pasmos com a vista, nem se deram por conta
do caminho que ainda deveriam percorrer, mas não
era muito para quem ficou dias procurando pela
cidade, pensou um Ivan de sorriso esplendoroso e
queixo caído ao mesmo tempo.
Foi então que Jhonny Wolf rosnou e ficou em
posição de luta, quando perceberam, os jovens já
estavam cercados por silhuetas que se esgueiravam
entre rochas e troncos de árvores caídos ali por perto;
os jovens fizeram um círculo e Rosi estava no meio
montada em Nuvem.
– São eles! – ela alertou com os olhos bem
abertos, não acreditava no que via.
– Então você achou, menina, que escaparia de
nós? – disse um jovem, andando, era Et'urkon e
caminhava despreocupado.
– Se aproxime mais um pouco, e farei com que
se arrependa – disse Alan portando o cajado, firme
nas mãos.
– E vejam – continuou o feiticeiro, sem dar
importância para Alan. – Ela nos levou exatamente
para onde queríamos e agora, vocês devem nos
entregar o que tem. Muito obrigado, mocinha, nos
poupou muito tempo de procura pela cidade, e por
estes jovens.
– Entreguem os papiros – disse Luandrius
saindo de trás de uma rocha, seguido por três
homens. – Se os entregarem agora, deixarei que
saiam com suas vidas – ele apontou a espada na
direção de Ivan, que tomava a frente do círculo agora
–, por hora, pelo menos.
– O que há de tão importante nestes papiros?
– Jhon perguntou enquanto mirava com seu arco na
direção do feiticeiro. – Massacraram uma aldeia
inteira por causa deles.
– Deem logo os papiros. Se não fosse pelo
sacrifício do velho, vocês nem estariam aqui,
ponham-se em seus lugares, medíocres taverneiros –
Et'urkon disse enraivecido.
Aquilo abalou os jovens; Alan lembrou de
Wylaf e ficou pensativo, Luis lembrou do senhor Túlio
e Jhon de Linna. Agora pensavam profundamente
nas palavras do feiticeiro e, por um instante, quase
iam aceitá-las, até Rosi ficou de espírito pesado com
as palavras que o feiticeiro dirigiu para os jovens,
sem tirar o fato que começou a sentir uma culpa
enorme por ter atraído os inimigos de Ivan, a quem
ela admirava e não queria que coisas ruins
acontecessem; mas, em meio a tudo isso, a esse
silêncio de segundos que pareceram anos de reflexão,
uma voz surgiu; era a voz calma, confiante, firme e
destemida de Ivan.
– Ao que vejo, meu lugar é o de quem está
com os papiros nas mãos – ele respondeu. – Meu
lugar é o de quem vai vingar o massacre de Leftwine,
meu lugar é o de quem luta hoje!
E com isso Jhonny Wolf lançou um uivo
agourento na direção dos homens, que agora
fechavam o círculo aos poucos.
– O que faremos?! – Luis disse apavorado em
uma tentativa de sussurro que mais parecia um
guincho agudo. – Não posso lutar com o braço desse
jeito! – apontou para o braço ferido.
– Rosi! – Ivan chamou a atenção da moça. –
Você deve levar os papiros para sua cidade!
– Mas e vocês, não lhe deixarei aqui – ela
respondeu voltando a si.
– Nós encontraremos você lá, não se preocupe
– ele respondeu praticamente exigindo que Alan
arremessasse os papiros para Rosi. O mago hesitou
um pouco, pois não daria os papiros para um
estranho, mas, ao mesmo tempo, confiava no
julgamento de Ivan e deu os papiros para a moça.
– Espere meu sinal – Ivan começou. – E então
cavalgue o mais rápido que puder. Alan está pronto?
Jhon, Luis, estão prontos? Dê-nos tempo, Alan; Luis
pegue suas adagas...
– Mas eu só posso pegar uma – ele respondeu.
– Então arremesse uma de cada vez – Ivan
retrucou e Luis sorriu com a ideia desesperada do
amigo.
– Vocês enlouqueceram? – questionou
Et'urkon. – Mesmo que fossem capazes, ainda
estamos em maior número.
Enquanto falava aquilo, o feiticeiro preparava
uma magia que emanava de seu orbe e os homens de
Luandrius fechavam o cerco aos poucos, andando
pela grama alta como lobos em uma matilha pronta
para caçar.
Alan preparava um feitiço; Luis segurava uma
de suas adagas e planejava arremessá-las em caso de
última necessidade; Jhon mirava com seu arco; Ivan
segurava sua espada e portava seu escudo; Rosi
havia pegado a mochila de Alan e a pôs nas costas,
quando hesitava, Ivan falava confiante para ela que
tudo ia ficar bem e, foi então que Luandrius, perto o
bastante, mandou que seus homens disparassem as
flechas; Et'urkon conjurou sua magia atroz e estacas
de gelo desciam do céu para atingir o pequeno grupo
dos jovens, foi então que Ivan deu o sinal.
– Agora, vamos lá! Para Nahakirsh! – ele
berrou e investiu na direção da cidade.
A chuva de gelo de Et'urkon explodiu em algo
e as flechas dos homens de Luandrius choveram no
grupo dos jovens, mas Alan havia salvado a todos
com uma cúpula de energia que repeliu o ataque;
Luis arremessou a adaga num dos três homens que
foram bloquear o caminho de Ivan e acertou na perna
de um deles, que cambaleou e caiu rolando com dor;
Jhon disparou de arco no outro dos três e acertou,
cravando a flecha no braço da espada do homem, que
a soltou e gemeu de dor e, por fim, Ivan desviou o
golpe de espada curta do último dos três que
bloqueavam seu caminho e atingiu-o na coxa da
perna esquerda, o homem caiu sentado com dor e
Ivan o desarmou chutando sua espada para longe,
furando, assim, um dos bloqueios do círculo dos
homens de Luandrius.
– Rosi! Vá – ele gritou e Rosi chutou as
costelas de Nuvem e partiu praticamente voando e
zigue-zagando entre os jovens, antes de se afastar,
uma flecha ainda cravou nas ancas de Nuvem, ela
relinchou da dor, mas seguiu correndo.
A situação era desesperadora, mas Ivan
conduziu uma retirada; quando Et'urkon correu para
lançar uma magia, Jhonny Wolf lançou mais um uivo
perturbador, os homens de Luandrius estavam
apavorados e não ousaram mirar mais com seus
arcos, algo de mágico existia naquele uivo e, muito
irritado, o feiticeiro começou a fazer mímicas, pois
alegava não conseguir falar. Alan entendeu aquilo,
pois Jhonny Wolf acabara de silenciar Et'urkon, um
truque arcano muito comum em batalhas de magos,
mas difícil de conseguir êxito. Luandrius, com sua
armadura de placas, não conseguiu alcançar os
jovens em fuga e Et'urkon quase explodia de raiva
por não poder fazer nada.
– Atirem seus patifes! – Luandrius
esbravejava, mas seus homens não tinham mais
alcance para as flechas.
Jhonny Wolf corria e bloqueava o caminho
daqueles que ousavam tentar perseguir os jovens e,
depois de alguns momentos fazendo isso, e
esquivando de algumas flechas perdidas, partiu
correndo rápido na direção da cidade.
Correram por minutos a fio, até que chegava a
noite. Não sabiam se haviam despistado o cavaleiro
negro e o feiticeiro, mas depois viram Jhonny Wolf se
aproximando e Jhon ficou aliviado.
– Conseguimos, não acredito no que estou
vendo, estamos vivos! – ele dizia energicamente.
– Ainda não – disse Ivan. – Diremos vitória
quando chegarmos a Nahakirsh; vamos logo! – e
seguiram a marcha até a cidade, sobre o crepúsculo
do início de noite. Olhavam para trás e viam os vultos
dos homens de Luandrius os procurando há
centenas de metros, mas o véu da noite já escondia
os jovens de seus olhares caçadores. Mesmo assim,
Ivan só conseguia lembrar do relinchar de Nuvem e
estava muito preocupado com Rosi, não conseguia
imaginar algo de mal caindo sobre ela, não aceitaria
se houvesse acontecido.
Capítulo 3 – A fonte no jardim

Os homens de Luandrius andavam o mais


rápido que podiam, mas nenhum deles era páreo
para a habilidade de Luis de esconder-se. O jovem ia
guiando os outros e os exigia silêncio sempre que
ouvia o som dos piratas por volta; assim foram
andando e se cuidando, até que, depois de pouco
mais de uma hora, chegaram à luz das muralhas de
Nahakirsh – agora as muralhas eram cinzentas e
amareladas pela luz de lamparinas de óleo. Perto do
grande portão de madeira estavam guardas armados
e preparados, Rosi estava junto deles.
– Rosi, você está bem! – Ivan correu para vê-la
de perto. Percebeu que ela estava muito assustada e
que gemeu de alívio ao vê-lo ali, sorridente e a salvo.
– A senhorita Rosimeri nos alertou sobre a
emboscada, vocês estão bem? – perguntou uma voz
que saiu dentre a formação dos guardas. Era um
homem vestido em uma armadura de cota de malha
muito lustrada. – Eu sou Elon, o capitão da Guarda
do Portão do Oeste.
– Título pomposo, não? – Luis cochichou no
ouvido de Jhon.
– Nós estamos bem – disse Ivan depois de
abraçar Rosi.
– Vocês devem me desculpar, mas devo fazer
algumas perguntas – o homem disse, os convidando
para que passassem pelo portão. – Fechem o portão,
mas não façam nada, só observem. Se algo de
suspeito acontecer, me avisem – ele instruiu os
guardas do portão. – Sigam-me, jovens – ele apontou
com a mão, fazendo um gesto cortês para que os
jovens passassem.
Ivan olhou para Rosi, que ia ao seu lado e ela
pareceu ter captado o olhar de preocupação do jovem
e o assegurou que estava tudo bem.
– Onde esta a mochila de Alan, Rosi? – Ivan
perguntou para ela.
– Não se preocupe, deixei-a em minha casa.
Assim que Elon os liberar os levo até lá – ela
respondeu tranquilamente, mas Alan estava
preocupado.
– E então, quem são vocês, de onde vem e o
que querem em Nahakirsh – o capitão foi bem direto
depois que todos entraram numa construção de
alvenaria perto do portão, era a casa da guarnição
daquele distrito. Ele alertou que Rosi teria de ficar do
lado de fora e pediu desculpas para ela. Os jovens
acharam estranho, pois os guardas a tratavam muito
bem, bem diferente das boas vindas que receberam,
pois Luis pensava que já tomaria um banho quente
numa hospedaria a essas horas. Como de costume,
Ivan falou:
– Eu sou Ivan, este é Alan – e apontou para o
mago –, este é Luis – e apontou para o jovem franzino
– e estes são Jhon e Jhonny Wolf – e apontou para os
dois. – Viemos de Valendia para fazer pesquisa...
– Pesquisa? – o capitão ergueu a sobrancelha.
– E porque vocês estavam sendo perseguidos? Devem
carregar algo importante.
– Na verdade eu estou vindo para cá para
pesquisar sobre a arte arcana e meus amigos aqui
estão me protegendo – Alan continuou por Ivan. –
Aqueles ladrões estavam nos seguindo e acho que
estavam atrás de meu cajado – e mostrou o cajado
para Elon.
– Impossível – o capitão respondeu e Luis
engasgou. Jhon estava quase suando de nervosismo.
– Mas considerando que vieram de longe, podem ter
atraído estes bandidos. Não sei como estão as defesas
de Valendia, mas aqui eles não virão, tenho certeza.
– Ficamos muito felizes em saber disto – Alan
respondeu. – Estamos cansados da viagem,
poderíamos seguir para uma hospedaria
imediatamente?
– Sim, claro – o capitão respondeu erguendo-
se da cadeira aonde sentava. – Falem com a
senhorita Rosimeri, ela saberá lhes dizer onde ficam
as hospedarias, visto que conhece muito bem esta
cidade. Caso contrário, posso lhes mostrar.
– Não será necessário – Ivan disse. – Iremos
com ela, é nossa amiga.
Saíram da casa da guarnição e Rosi estava os
esperando.
– Lhes levarei até a minha casa, a esta altura
a dona Edwiges já deve estar com uma sopa quente
nos esperando e a mochila com os papiros está lá –
ela disse e sorriu para Ivan.
Agradecidos, os jovens seguiram-na pelas
ruelas pavimentadas e cinzentas do distrito oeste de
Nahakirsh.
– A cidade é dividida em cinco distritos, pois é
muito grande – Rosi salientou. – Cada um deles é tão
antigo e cheio de histórias, relatos que datam de
antes das Cruzadas Dracônicas, vejam só – e ela
estava com um olhar sonhador enquanto imaginava a
época. Ivan sorriu, pois gostava de vê-la daquele jeito.
– Aquela é a estátua de Miliandor, comumente
chamado de Mili por nós – ela apontou para uma
verdadeira obra de arte que descansava no centro de
uma praça bem arborizada. A estátua tinha a altura
de um troll das montanhas pensaram, por mais que
só tivessem ouvido falar de tal criatura, e
representava um homem que segurava um rolo de
pergaminho entre as mãos; seu olhar era alegre, mas,
ao mesmo tempo, determinado. – Mili foi um grande
explorador e aventureiro que chegou à Nahakirsh no
início da terceira era...
– Terceira era? – Luis questionou.
– Sim, a era das cruzadas – Rosi respondeu.
Então ela percebeu que não era só Luis que estava
com dúvidas, pois os outros não estavam entendendo
também. – Dizem que Nahakirsh é a cidade mais
antiga do mundo, a única que sobreviveu à Grande
Guerra há mais de cinco mil anos. Desde sempre
separamos as épocas deste mundo por eras. Todos
que nascem aqui passam anos na escola para
aprender a história mundial.
– Escola? – Jhon questionou.
– Vocês não tem escolas em Valendia? – ela
estava pasma.
– Não exatamente – Alan respondeu. – Em
Valendia existem organizações e instituições
chamadas de Universidades. Se você tiver ouro o
suficiente, pode estudar.
– Aqui é assegurado que todo o cidadão que
nasce tenha direito à educação de graça, o senado
vota estas questões – ela disse e Luis achou que ela
estava se gabando, mas Ivan ouvia maravilhado e
boquiaberto que pudesse existir um local como
aquele, como Nahakirsh.
– Nós temos um congresso em Valendia
também, mas poucos senadores são honrados – o
mago disse. – Então, pelo que você diz, não existem
problemas em Nahakirsh?
– Ah existem – ela concordou. – A cidade-luz
possui um grande problema. Um que nos acompanha
desde eras passadas.
– O que é? – Ivan estava curioso ao seu lado.
– Falemos disso lá dentro – e ela apontou para
um grande portão que protegia um jardim com cheiro
de rosas. – Essa é minha casa – ela disse sorridente e
abriu o portão, que tinha vários adornos em sua
fabricação, algo que somente um mestre em forjaria
teria feito todos pensaram.
O que viram foi uma verdadeira mansão;
janelas altas e largas e um par de escadarias que
pareciam abraçar o bem cuidado jardim se estendiam
levando até uma porta dupla de madeira, flanqueada
por pilastras brancas. Os jovens viram uma estátua
bem no centro entre os dois conjuntos de escadas.
– Esta foi Jenna a Azul – Rosi apontou para a
estátua de uma bela moça pensaram todos. – Ela é
um parente muito distante que viveu na quinta era.
– Isso seria quanto tempo? – Ivan questionou
e os jovens ficaram boquiabertos quando ela
respondeu “… mil e quinhentos anos atrás…”
Uma senhora vestindo um vestido preto
recebeu a todos na porta e ficou furiosa ao ver Rosi.
– Rosimeri, isso são horas de chegar? Seus
pais estavam muito preocupados! – a senhora abriu
mais a porta e viu os jovens. – E estes quem são?
Rosi sorriu e entrou, seguida dos jovens que
se depararam com o hall enorme da mansão; Jhon
ordenou que Jhonny Wolf ficasse do lado de fora.
Tapetes e tapeçarias adornavam o piso e as paredes
enquanto escadas levavam para o segundo andar;
existiam portas por todos os lados.
– Você sabe como a mãe e o pai são, não é,
Edwiges? – a moça respondeu deixando a capa numa
haste de madeira ao lado da porta.
– Sim, eu sei. Sei também que você sabe se
cuidar, mas eles ainda assim vão ficar preocupados,
principalmente seu pai.
– Estamos com fome, Edwiges, estes são meus
amigos, disse a eles que você estaria com uma sopa
pronta…
– E como sabe estou – a senhora sorriu. – Por
favor, venham para a mesa que servirei, pois, pelo
que me parece, deviam estar por ai se aventurando e
devem estar famintos!
– Estamos, senhora, muito obrigado – Ivan
respondeu muito agradecido..
– Sintam-se em casa – Rosi disse. – Pegarei a
mochila de Alan, já volto.
A senhora Edwiges guiou os jovens até a
cozinha da mansão; existia um cheiro saboroso e
doce no ar da cozinha enquanto vários temperos e
utensílios estavam pendurados nas paredes e
dispostos em bancadas. Uma grande mesa de
madeira existia no centro do local e todos pensaram
que comeriam ali, mas ela continuou os guiando por
um corredor que embocou em um enorme saguão
centrado por uma grande mesa; deviam existir quase
vinte acentos ao redor da mesa e a cima um lustre do
tamanho de Luis se pendurava do teto e centenas de
lâmpadas iluminavam o local.
– Não se assustem – a senhora disse ao ver a
cara de espanto dos jovens, mas Alan não estava
impressionado, pois já havia visto tal arquitetura e
engenharia na Lashanter –, esse lustre não cairá
sobre suas cabeças enquanto estiverem comendo – e
ela riu e sua risada ecoou pelo saguão. Existiam
várias janelas ao redor, mas cortinas impediam de
ver a vista lá fora. Eles foram se sentando na mesa e
Edwiges disse que já voltava para trazer a comida.
– É um local muito elegante, nunca havia
visto uma casa como esta – Jhon disse
entusiasmado.
– E as ruas da cidade, vocês viram? – Luis
saltou. – Todas pavimentadas, pelo menos as que
passamos. Me entendem, sem lama na chuva!
Ivan e Alan riram e Edwiges havia voltado e
servido a mesa, Rosi a ajudou depois de devolver a
mochila de Alan e todos desfrutaram de uma sopa,
mas depois veio mais comida e aproveitaram para
comer como há dias não faziam.
– Onde estão seus pais, Rosi? – Alan
perguntou pousando sua colher no prato.
– Eles estão em seus aposentos – ela
respondeu, estava sentada ao lado de Ivan e Luis e
Jhon sabiam ou achavam que sabiam o porque.
– Eles jantam bem cedo – Edwiges respondeu
trazendo um bolo com calda de maçã. – Seu pai está
cansado com os afazeres do conselho, Rosi, e você
fica por ai na selva, se pondo aos perigos dos locais
não civilizados – os jovens ficaram sem jeito ao ouvir
aquilo, inclusive Rosi.
– Eu estou cansado, Edwiges, mas não o
suficiente para não ver minha filha retornar – uma
voz foi ouvida no saguão e quando olharam para
porta, os jovens viram um homem entrando. Iam se
levantar para mostrar respeito, mas o homem
abanou com a mão para que continuassem sentados.
– Não levantem, jovens, pois ao apreciar a comida de
Edwiges, uma pessoa não deve ser interrompida. Olá,
querida. – ele foi em direção de Rosi e pôs a mão em
sua cabeça. Ivan e os outros ficaram bem à vontade e
sorriram com o comentário do homem.
– Pai! Sente-se conosco! – Rosi disse animada
e o homem sentou-se no centro da mesa, que estava
vago.
– Lhes dou boas vindas, amigos de minha
filha – disse sorrindo –, por favor, Edwiges, vou
repetir sua sopa, pois estava muito saborosa, só não
diga nada à Trisha, ela vai ficar brava se souber que
ando comendo tarde da noite.
– É pra já, senhor Richard – e Edwiges foi até
a cozinha.
– Como puderam ver, eu sou Richard, é um
prazer conhecê-los – e os jovens apresentaram-se um
a um, mas Luis ficou um pouco sem jeito. – Eu
estava preocupado com você, filha. Eu soube de
notícias vindas do sul e temo que terei de proibi-la de
sair pros ermos.
– O senhor teve notícias do sul? – Ivan
perguntou.
– Sim, hoje estavam todos no conselho e
debatemos os últimos acontecimentos. Mas não
posso lhes contar, pois é assunto do conselho, peço
desculpas.
Ivan e Alan se entreolharam.
– Por algum acaso se refere à Valendia e o
ataque do dragão? – Ivan questionou e viu um olhar
de espanto de Richard. O homem limpou os lábios
num lenço.
– Como podem saber desta informação? – o
homem ainda estava pasmo.
– Pai, Ivan e seus amigos são de Valendia –
Rosi respondeu pousando o talher e pegando um
pão.
– Então vocês sabem do ataque de Desolus?! –
Richard arregalou os olhos, mas Alan, Luis e Jhon
ficaram quietos e pensativos, tristes com a
lembrança.
– Senhor – começou Ivan –, não só sabemos
como sobrevivemos ao ataque, mas esta é uma
lembrança recente e que maltrata, ainda…
– Oh, pelos deuses, eu sinto muito. Eu não
sabia, me perdoem – Richard estava sem jeito e mal
podia acreditar.
– Não se preocupe, senhor – disse Alan. – Nós
temos que ir indo, pessoal, está ficando tarde.
– Esperem, vocês vieram de longe, se não
tiverem onde ficar, por favor aceitem minha
hospitalidade – Richard disse. – Eu soube do
ocorrido, desejo ajudar. Do que precisam?
Os jovens se entreolharam e Rosi sorriu para
Ivan.
– Senhor, estamos em Nahakirsh para fazer
pesquisa – Alan começou. – Precisamos saber onde
fica a biblioteca.
– Ah, mas então está decidido! Precisarão de
permissão para entrar lá e eu posso conseguir –
Richard disse. – Eu lhes convido que fiquem em
minha casa o tempo que acharem necessário.
– Fiquem, Ivan – Rosi o olhou. – Poderão fazer
a pesquisa sem se preocupar com nada além da
pesquisa.
Ivan olhou para seus amigos, e como se lesse
suas mentes, respondeu que ficariam ali.
Continuaram a conversa e Rosi e Richard explicaram
a única preocupação da cidade, além das terríveis
novas do sul...
– Mortos-vivos!? – Luis lembrou da criatura do
bosque e ficou com medo.
– Sim – respondeu Richard. – Desde sempre,
temos enfrentado os mortos que andam. Se você
viajar daqui em direção ao norte, noroeste e oeste,
tudo que encontrará são locais de sombra, aonde os
mortos andam como se estivessem vivos.
Os jovens mal podiam acreditar, mas
relataram que encontraram um no vale a caminho da
cidade.
– Isso é impossível, devem estar confundindo
– Richard disse e Rosi concordou com seu pai. – Se
tivessem encontrado um dos mortos-vivos, não
estariam aqui, ainda mais à noite. Tirando o fato de
que Nahakirsh é a fronteira entre a civilização e os
ermos, nenhum morto-vivo passaria por nossas
defesas.
– É, mas aquele passou – Alan respondeu.
– Ou vai ver, como ele mesmo nos havia dito,
sempre esteve lá, esperando – Luis acrescentou, com
um tom de voz sombrio que fez Edwiges estremecer
quando voltou com a sopa de seu patrão.
– Como podem ter sobrevivido ao mero
encontro com um morto-vivo, e ainda mais de um
que falava! – Richard estava mais surpreso ainda e
Rosi olhava apavorada para Ivan, nunca havia
imaginado que tivessem passado por este tipo de
situação a caminho de Nahakirsh.
– Nem nós sabemos ao certo – Ivan respondeu
lembrando. – Só sei que juntos nós conseguimos. –
Jhon tossiu com aquele comentário, mas ninguém
mais falou sobre aquilo.
– Bom, devem estar cansados – Richard disse,
levantando-se. – Se me derem licença, irei me retirar,
pois amanhã cedo devo ir para o ministério e depois
para o parlamento; vai ser um dia corrido. Edwiges
mostre aos garotos os quartos de hóspedes.
– Sim, senhor Richard – ela respondeu.
Os quatro foram guiados até os aposentos e
Rosi disse que Jhonny Wolf poderia ficar com eles ali,
mas Luis e Jhon acharam melhor que ele ficasse no
jardim e todos concordaram. O quarto de hóspedes
era enorme e possuía várias camas, inclusive uma
lareira e grandes janelas com vista para o jardim dos
fundos da mansão, que possuía plantas e rosas tão
bonitas quanta as do jardim da frente. Estavam
maravilhados, mas também cansados da viagem e
dos últimos acontecimentos e foram se deitar depois
de despedirem-se de Rosi e Edwiges.
Ivan não conseguiu pegar no sono, lembrava
de Leftwine e dos gritos de dor de seus companheiros
na batalha. Virou-se na cama de um lado ao outro e
percebeu que queria tomar um ar.
– Ah, como ando pensativo, meu amigo – ele
comentou acariciando o pelo de Jhonny Wolf; ambos
estavam diante de uma fonte que esguichava água e
o som do líquido e do vento acalmou Ivan. – O ar aqui
é tão bom, tão doce...
– É, eu imagino – ouviu-se a voz de Rosi logo
atrás e Ivan percebeu que seu coração bateu forte. –
Digo isso porque sei que onde você mora é perto do
mar, o ar deve ser diferente.
– É bem diferente – ele disse. – Não consegue
dormir?
– Não – ela respondeu depois de um tempo. –
Estou preocupada com Nuvem.
– Eu tenho certeza que ela ficará bem – Ivan
respondeu. – Eu, apesar de estar triste com o
ocorrido, fiquei muito feliz e aliviado que nada tenha
lhe acontecido, Rosi – e pegou a mão da moça.
– Eu também fiquei muito feliz ao ver você
passar por aquele portão, tão feliz que não consigo
descrever... – e Ivan percebeu que ela estava nervosa,
pois sua mão tremia um pouco.
Ela olhou de um jeito doce para Ivan, era um
olhar de aceitação completa e ele retribuiu o olhar
dando um abraço bem forte nela; a ergueu do chão e
girou-a no ar e então, quando voltou para o chão, ele
percebeu que ela estava muito aliviada e os dois se
beijaram. O jovem sentiu como se o peso do mundo
tivesse saído das costas de Rosi e ela se sentiu livre e
feliz. Jhonny Wolf estava sentado olhando e se quer
fez alguma coisa, sabia a hora de não ser
inconveniente parecia. Ivan pensou que havia estado
no céu e havia voltado, seu coração havia encontrado
a paz ele pensara.
E os dois ficaram abraçados contemplando o
céu noturno, possuía nuvens brancas e claras pela
luz da lua e o vento suave e doce batia em seus
rostos, pensavam sonhar e nenhum deles queria
jamais acordar.
Capítulo 4 – Guerreiro da Luz

Nos dias que se seguiram, Alan e Luis se


dedicaram à pesquisa na Biblioteca da República,
como era chamado o local mais brilhante e enorme
que Luis já vira na vida.
– Eu nunca havia visto algo assim – o jovem
dizia boquiaberto enquanto sentava-se em uma
poltrona e bebia um pouco de chá.
– Definitivamente esta biblioteca deve ter
quatro vezes o tamanho da biblioteca na Lashanter –
Alan expressou enquanto observava as estantes.
Fileiras enormes se estendiam por saguões que se
encontravam no meio, abaixo de um domo com
vidros pintados das mais diversas cores; era um
grande círculo do conhecimento Alan dizia, outras
estantes empilhavam-se uma por cima das outras,
formando verdadeiras paredes de livros que atingiam
quase vinte metros de altura.
– Usem o catálogo dos livros – uma senhora
de óculos e olhar determinado falou aos dois
enquanto andava apressada pelos corredores –,
mesmo com o catálogo é possível se perder com
facilidade aqui – ela terminou deixando para eles um
enorme livro; Luis o pegou e disse, que apesar do
tamanho, o livro não era nada pesado.
– Deixe-me ver – Alan pegou o tomo. – É
mágico, por isso. Com o nome do livro, ou do
assunto, podemos identificar o local aonde o livro, ou
o conhecimento sobre o assunto, estará.
– Vai ser fácil – Luis comentou, bebericando
sua caneca.
– É, assim espero – Alan concordou, mas
sentia que não seria nada fácil.
E não foi fácil achar nada relacionado às
Pilastras de Hilírian. Mas quanto à Corligan, eles
acharam bastante informação, inclusive uma
bibliografia escrita por um filósofo da quinta era que
dizia que Sir Corligan era um dos Guerreiros da Luz.
– Guerreiro da luz? – Luis refletia, umas
quatro xícaras de chá jaziam em uma mesinha ao
lado de sua poltrona.
– O que dizem sobre esse assunto? – Alan
questionou de outra poltrona à frente da de Luis,
enquanto ele mesmo lia outro livro.
– Veja só – Luis começou –, “... um guerreiro
da luz tem a capacidade de controlar a luz, que tem
sua origem no elemento fogo. Meu estudo diz que
nosso último Guerreiro da Luz foi Sir Corligan de
Nahakirsh que, após anos de treinamento, manipulava
a luz e o fogo de tal maneira que os mortos-vivos o
temiam...”.
– Luz? – Alan refletiu e lembrou de Ivan
quando enfrentou a criatura no bosque naquela noite
conturbada.
– Aqui diz mais – Luis continuou intrigado,
pois também havia lembrado-se de Ivan. – “... na
história, como observado por Saleb, em seu artigo, de
grande peso histórico: Os Grandes Guerreiros (3 era,
3152); existe, mas com uma extrema raridade,
pessoas capazes de controlar o fogo interior de tal
maneira, que moldam energia luminosa de um jeito
natural, sem qualquer vínculo com o arcano. Muitos,
no decorrer das eras, faziam isso sem qualquer
treinamento, simplesmente descobriam tal poder em
situações estressantes e de perigo iminente...”. E o
artigo segue – Luis terminou.
– Isso realmente é intrigante – Alan expressou
e não piscava ao ler o artigo que Luis havia pegado. –
Veja, aqui diz que Sir Corligan saiu em viagem em
direção ao noroeste para achar um jeito de pedir
ajuda para os Dragões dos Metais, pois em sua época
a ameaça dos mortos-vivos era uma novidade
assustadora e que crescia diariamente: “... e no dia
26 da primavera, do ano de 4029, Sir Corligan, o
Imperador, deixou os portões de Nahakirsh e partiu
com o consenso do Congresso Imperial para achar o
local de Reclusão dos Dragões, na esperança de pedir-
lhes ajuda e lembrar assim, os laços antigos de
amizade...”. Ele sequer foi com ajuda, partiu sozinho!
– Alan estava boquiaberto.
– Devia ser muito poderoso – Luis respondeu,
havia pegado sua xícara de chá, mas ficou chateado
por vê-la vazia de novo. – Afinal de contas, pelo que
dizem estes textos, ele era um dos Guerreiros da Luz,
não precisava temer os mortos-vivos.
– Ele jamais voltou – Alan disse entristecido,
imaginou se aquilo um dia poderia acontecer a Ivan,
e parou de pensar quando teve esse pensamento. –
Não faz sentido, se ele jamais voltou como os papiros
foram achados, e como foram parar em Valendia? – o
mago estava pensativo.
– Acho que temos a nossa questão, e também
temos de descobrir o motivo por Corligan ter escrito
tal conhecimento...
– Creio que, por deduções minhas, ele tenha
deixado essa mensagem antes de morrer, as Pilastras
de Hilíriam responderão o objetivo de Corligan para a
gente. Estes papiros contém a chave para a questão
dos mortos-vivos, mas não consigo ligar o interesse
daquele dragão nos papiros...
– E como aqueles infelizes sabiam sobre os
papiros? – Luis expressou meio enraivecido quando
lembrou do cavaleiro negro.
– É uma boa pergunta, pois nenhum
conhecimento que vimos durante essas semanas
sequer relata a existência destes papiros – Alan
folhava o seu livro, sem muitas esperanças.
– Acho que estamos metidos em algo grande...
– Também acho – o mago respondeu
preocupado. – Ivan tem de saber sobre o que vimos
aqui, acredito que ele seja um guerreiro da luz, mas
como isso foi possível, eu não sei dizer, pois nenhum
artigo ou livro fez referência quanto à origem deste
tipo de poder.
– Mas, de algum jeito, pelo que parece,
estamos no local certo e na hora certa – Luis disse
aquilo sorridente e inspirado.
– É verdade, tudo ocorreu bem, apesar de
tudo. Temos de descobrir agora sobre Hilíriam e suas
pilastras – e o mago terminou voltando para os livros.
Enquanto Luis e Alan estudavam, Jhon e
Jhonny Wolf andavam e viam as belezas da Cidade
Luz. Jhon estava maravilhado com a arquitetura
deslumbrante, tudo era tão detalhado e
embranquecido, tinha de fechar os olhos certas vezes
devido aos reflexos do sol que batiam nas paredes
das casas totalmente brancas. Em questão de oito
dias vivendo ali ele já conhecia todos os locais
públicos da cidade e, em duas semanas já conhecia
todas as tavernas e estabelecimentos comerciais do
local e, em dois meses já conhecia os nomes de
muitas pessoas que viviam em Nahakirsh; todas
eram positivas, apesar do medo constante que
pairava sobre os mortos-vivos. Crianças brincavam
nas ruas pavimentadas; eram Cavaleiros da Fronteira
e enfrentavam os mortos-vivos em batalhas épicas,
alguns eram voluntários para serem os mortos-vivos
nestas brincadeiras e Jhon gostava de ver as crianças
brincando, aquilo lhe acalmava o espírito e o fazia
esquecer um pouco tudo pelo que passou. Sentia
muita falta de Linna e de seus abraços apertados,
mas o sol de Nahakirsh havia o transformado em um
homem positivo, não existia mais medo do amanhã,
sabia que com Ivan, Alan e Luis, poderia enfrentar
qualquer coisa e daria seu máximo para que
voltassem a salvos para casa um dia.
Já Ivan estava mais feliz e distraído do que
nunca. Gastava maior parte de seu dia andando com
Rosi para lá e para cá, às vezes desapareciam e
ninguém os achava; ressurgiam felizes e sorridentes e
voltavam para a casa de Rosi todas as noites e lá,
ainda ficavam mais tempo juntos.
– Ivan e Rosi não param quietos – a mãe de
Rosi disse para Richard enquanto os dois estavam
indo dormir certa noite.
– É verdade – ele riu. – Eu nunca vi nossa
filha tão feliz como agora.
– Concordo – ela sorriu e guardou um livro
que lia na cama. – Ela está tão feliz, mas fico com
medo que algo aconteça.
– Eu compreendo Elza – Richard a confortou –
, pois Ivan e seus amigos estão de passagem. Eu
sinto que o destino destes jovens não é Nahakirsh,
principalmente o destino de Ivan, pelo menos não
agora. Nossa filha não se apaixonaria, afinal de
contas, por um homem que não fosse bom e honrado.
Eu fico feliz por ela, pois seu coração escolheu bem.
– Estou orgulhosa de nossa filha, Richard.
Você deve ajudar Ivan e seus amigos ao máximo, pois
pelo que me disse, também vejo que o destino deles é
incerto e perigoso. Eles deverão carregar uma grande
carga e você deve ajudá-los, afinal de contas é um
Senador da República de Nahakirsh.
– Eu sei, Elza. Devo ajudá-los também porque
nossa Rosi não aceitará que Ivan parta sem ajuda.
Ela é teimosa como a mãe dela – e sorriu ao olhar
para Elza, que retribuiu com um abraço longo.
Toda a noite Alan falava com Júlia pelo Orbe
da Mensagem e ela o mantinha informado sobre as
novidades. Ela havia o dito que o ataque do dragão já
era um conhecimento geral em Valendia e que todos
na região tinham medo do que estava por vir;
sentiam que algo mexeria com as próprias fundições
do mundo e Alan a disse para não temer, pois eles
estavam próximos de saber a verdade por trás do
ataque do dragão.
– Há muitas pontas soltas, Júlia – Alan
segurava o orbe e falava diretamente para ele, que
emanava uma luz fraca. – Vou ficar em Nahakirsh o
quanto for preciso, é seguro aqui, é um local
maravilhoso, lhe trarei aqui um dia, quem sabe
possamos viver aqui. Ivan também gostou daqui, é
uma república, combina mais com ele e sinto que a
origem dele tem a haver com a história desta cidade,
creio que queira viver aqui, pois ele está apaixonado,
veja só – e riu ao ouvir o riso de Júlia.
– Isso é um máximo, Alan – ela respondeu. –
Eu amaria estar com você aí, mas entendo que tenha
uma responsabilidade grande, esperarei sempre por
você – ela terminou e o mago pode perceber que ela
chorava um pouco.
Os dias foram passando e os jovens
aproveitavam a hospitalidade do senhor Richard.
Todas as noites quando jantavam, conversavam
sobre todos os assuntos do momento e o ataque do
dragão em Valendia também havia se tornado público
em Nahakirsh.
– O senado marcou uma audiência para
receber senadores do império de Valendia em
algumas semanas – Richard dizia enquanto segurava
os talheres e começava a comer. – Será um encontro
para discutir os acontecimentos e sua origem.
– Senhor, antes que possa tornar os
pergaminhos um assunto público, deve esperar
nossa partida – Alan expressou e o senador
concordou com a cabeça. Entre os jovens e a família
de Rosi não havia mais segredos na questão dos
pergaminhos, todos sabiam e Alan havia lhes dito
sobre suas suspeitas e descobertas na Biblioteca da
República. – Os estudos na biblioteca foram
esclarecedores...
– Partir? – Rosi ficou preocupada e pegou a
mão de Ivan e apertou em nervosismo. – Mas para
onde, porque?
– Rosi... – Ivan começou com um tom
entristecido. – Teremos de seguir nossa viagem para
descobrir qual era o significado da mensagem de Sir
Corligan, essa mensagem pode ter a haver com o fim
da ameaça dos mortos-vivos...
– E também sabemos que pessoas más,
inclusive sem identidade para nós ainda, querem os
pergaminhos e temos que descobrir o porquê – Jhon
completou entristecido também.
– Filha – Richard e Elza falaram ao mesmo
tempo, mas Rosi se levantou e saiu do aposento,
estava chorando quando se virou, e, antes de fechar
a porta, olhou para Ivan. O jovem estava comovido
com o olhar de Rosi e saiu para ir atrás dela.
– Sabíamos que ia ser difícil – Richard disse aos três
jovens que permaneceram e Luis, Alan e Jhon
ficaram um pouco entristecidos por Rosi, mas
continuaram a conversa sobre os papiros, a viagem e
o dragão. O senador lhes dava conselhos sobre o que
fazer na viagem.
– Sobre hipótese alguma devem enfrentar os
mortos-vivos – Richard dizia-lhes. – Devem evitar
viajar à noite e, mesmo para dormirem, devem
escolher locais perto da água e com a luz da lua.
– Luz da lua? – Luis perguntou.
– Sim, a luz da lua nada mais é do que o
reflexo da luz do sol – Elza respondeu. – Eles temem
a luz do sol.
– Mas aquele que enfrentamos no vale não
temia – Alan lembrou. – Se não fosse Ivan, não sei se
estaríamos aqui hoje.
Alan compartilhou com Jhon, Richard e Elza,
que ainda não sabiam sobre o que havia pesquisado
na biblioteca na questão do guerreiro da luz e Luis
confirmou.
– Você tem certeza? – Richard mal acreditava
na história.
– Não tenho certeza, mas os fatos coincidem
com os estudos que vimos – o mago respondeu. –
Ainda preciso estudar um fator de nossa
extraordinária sorte – ele parou e olhou para fora
pela janela e lá estava Jhonny Wolf tentando pegar
uma mariposa no jardim.
Ivan pensou saber onde Rosi estaria e foi
procurá-la no local, pois ela saiu de tal maneira que o
jovem não conseguiu segui-la.
Chegou a um dos vários locais onde eles
ficavam juntos; a Praça Pública das Fontes. Rosi
estava sentada na base de uma das fontes, observava
a água calma deslizar pela alvenaria e Ivan chegou e
sentou ao lado dela.
– É uma boa noite – ele disse e ela não o
olhou, ficou com o pensamento mergulhado, parecia,
nas águas.
– Está parecida com aquela em que viemos
aqui, lembra? – Ivan comentou e ela, então, virou o
rosto para ele. Estava com as bochechas vermelhas e
os olhos inchados e vermelhos também de chorar.
– Mas você não estava avermelhada de chorar,
estava vermelha de alegria, lembra? – ele continuou e
a olhou nos olhos e sorriu; ela riu com a lembrança e
seu rosto se iluminou.
– Eu não quero que vá embora, Ivan – ela
disse e o mero pensamento da partida do jovem a fez
lacrimejar de novo. – Eu lhe amo!
– Eu também lhe amo, Rosi – ele respondeu
acariciando o rosto dela com os dedos da mão. – Em
seus braços, em meio a este local abençoado, eu
reencontrei a paz em meu espírito.
– Então, Ivan, fique. Eu não posso imaginar
você correndo perigo nos locais escuros desse mundo
– ela argumentou.
– E eu não posso imaginar você passando pelo
que passamos em Leftwine – o jovem pegou a mão
dela e beijou. – Eu sinto que o mal observa
Nahakirsh neste instante, está lá, quieto, mas não
está imóvel e não podemos esperar ele agir. Agora
que sabemos que passo tomar, não posso arriscar
sua segurança e nem a da cidade.
– Acho que não vou conseguir convencê-lo a
ficar – ela disse deprimida.
– Onde eu estiver, vou carregá-la aqui – e
apontou para a própria cabeça. – Deixo meu coração,
pois é seu – e continuou pegando o cabelo dela –;
quando voltar, quero viver aqui com você e formar
uma família.
– Você sempre estará no meu coração e nos
meus pensamentos também, meu amor – ela
respondeu. – Tudo bem, eu vou tentar engolir essa
situação.
Rosi disse aquilo e levantou-se de repente e
Ivan ficou surpreso.
– Vamos pra casa, precisa descansar para a
viagem – ela disse e quase não conseguiu esconder o
que parecia ser uma ideia que crescia em sua mente,
mas Ivan, apesar de surpreso, não percebeu algo,
achou que ela estivesse um pouco brava somente; o
que era normal naquele tipo de situação ele pensara,
ainda mais se tratando de sua doce Rosimeri.
No final daquela mesma noite, Alan pediu que
Ivan fosse até a sala de reuniões do senhor Richard e
lá ele viu o mago, Luis, Jhon e o próprio senhor
Richard o esperarem.
– Serei direto, Ivan – Alan começou sentado
na mesa, convidando Ivan a se sentar. – Eu e Luis
pesquisamos muito e, como havíamos conversado,
temos de descobrir o significado da mensagem de Sir
Corligan – Ivan sentou-se na ponta da mesa.
– E há algo que vimos – Luis continuou o
raciocínio de Alan. – Algo sobre a luz que você fez
aparecer e que destruiu aquilo que chamam de
morto-vivo que nos perseguiu no vale.
– Não diria que fui eu – Ivan começou –, creio
que Jhonny Wolf tenha algo a haver, vocês sabem
que não é a primeira vez que algo acontece de
estranho com ele ao redor.
– Ainda verei sobre isto antes de partirmos
para a viagem – Alan expressou, mas voltou sua
atenção ao caso de Ivan.
– Escute ao que ele tem a dizer, Ivan –
Richard disse e Ivan sinalizou que sim com a cabeça.
Alan e Luis falaram bastante, explicando
sobre seus estudos e sobre a ligação de Ivan com o
termo guerreiro da luz. Edwiges trazia pratos com
sopa para todos e Rosi ouviu tudo de traz da porta,
mas antes que percebessem, ela voltou para seu
quarto.
Ivan estava confuso, não acreditava ou
simplesmente ainda não havia absorvido aquele novo
conhecimento e situação que seus amigos o haviam
explicado.
– Não poderá partir – Richard falou erguendo
a colher de sopa. Soprou a colher com o líquido
quente –, não enquanto não treinar, pelo menos.
– Treinar? – Ivan perguntou.
– Sim, para sobreviverem, vocês terão de fazer
bom uso de suas habilidades – o homem continuou. –
E se você é realmente um guerreiro da luz, deve
aprender a controlar seu poder.
– Não teremos tempo para treinar, pois os
piratas nos perseguem e mesmo enquanto estamos
aqui, estão tramando algo com toda a certeza – Alan
respondeu.
– Enquanto estivermos aqui, este local se
torna o centro das atenções daqueles que querem os
papiros – Jhon concordou.
– Nos demoramos demais aqui já – Luis disse.
– Estamos pondo em perigo esta cidade.
– Não se preocupem – Richard começou. –
Concordo que devem partir em silêncio e sem
alvoroço para o sucesso da viagem, mas se estes
piratas ainda não agiram, é por conta que
reconhecem o poder de Nahakirsh. Sabemos nos
defender e podem ter certeza de que ficaremos bem.
– Vocês aqui devem lidar com a ameaça dos
mortos-vivos já – Alan respondeu. – Devemos ir antes
que aconteça o congresso entre os senadores das
nossas nações, os pergaminhos são nossa
responsabilidade agora. Meu mestre Wylaf nos
acreditou esta missão quando se sacrificou nos céus
de Leftwine meses atrás – os jovens concordaram
com Alan.
– Então parece que se decidiram – Richard
concluiu. – Se devem partir, então irei ajudá-los com
tudo que puder.
– A ajuda do senhor e de sua família foi
indispensável senhor Richard – Ivan disse.
– Ivan – Edwiges começou tocando o ombro do
jovem –... deve treinar nessas andanças e ficar forte
para voltar e casar com a Rosi, eu prepararei muita
comida para irem tranquilos nessa viagem maluca
que devem empreender.
– Obrigado, Edwiges – Ivan respondeu, mas
não estava feliz em deixar Rosi ele pensou naquele
momento.
Finalmente a mente de Ivan havia se dado
conta de que não voltaria a ver o rosto de Rosimeri e
nem ouvir o som da sua voz, em meio há aqueles dias
ensolarados de Nahakirsh, por um bom tempo, e
aquilo pesou em seu coração. Foi dormir muito
entristecido, mas sentia um pouco de alívio ao saber
que teria seus amigos para dividir aquela
responsabilidade enorme que eram os pergaminhos.
– Que barulho foi esse?! – Luis acordou
emburrado no meio da madrugada. Viu que Ivan não
estava mais deitado, mas Jhon e Alan estavam
acordados ainda.
– Veio lá de cima – Alan disse, estava lendo, à
luz de uma vela, sentado em uma poltrona.
– E você está aí todo tranquilo?! Já falou com
Júlia? – Luis estava pasmo.
– Já – o mago respondeu.
– Volte a dormir, Luis, não consegue ver? –
Jhon disse enquanto mexia na lareira e apontava
para a cama de Ivan.
– Onde está Ivan?! – Luis ainda estava
preocupado.
– Não se preocupe, ele deve estar muito bem
se quer saber, saiu faz um tempo e foi para o
segundo andar – e Jhon fez sinal para Alan que riu
por baixo de seus óculos.
– Ah, entendi, aquele moleque – Luis voltou a
si e fez uma pausa. – Ele não devia estar
descansando?
– Volte a dormir – e Jhon lançou um
travesseiro em Luis e lhe acertou a cara e Alan quase
chorou de rir.
Capítulo 5 – Rumo ao desconhecido

Luandrius estava mais impaciente do que


nunca. Ainda não havia engolido sua ultima derrota
para os quais passou a chamar de “Os Quatro”. Ele
havia convocado uma reunião com seu bando de
guerreiros e chamou Et'urkon também; o grupo
estava acampado a uns trinta quilômetros de
distância de Nahakirsh, mas sempre estavam a
observando de longe.
– O que fazem aqueles desgraçados!? – ele
gritava enquanto olhava para a cidade no horizonte.
– Se preparando – Et’urkon respondeu ao seu
lado enquanto encarava a cidade também. – Devem
estar tramando algo. Acredito que a esta altura já
saibam demais...
Luandrius olhou para o feiticeiro e o encarou.
– Saibam sobre o plano do mestre? – ele
franziu o olhar.
– Não, o plano do mestre não, mas sobre os
próximos passos que devem tomar – e virou-se e saiu
andando. – Irei consultar com o mestre hoje à noite.
Até lá, diga a seus homens que devemos marchar
para o noroeste, mas não tão perto da fronteira, pois
os mortos que andam serão problema.
Quando amanheceu no outro dia, houve um
alvoroço em Nahakirsh, pois a Segunda Guarda da
Fronteira havia retornado do forte Norte. Os homens
estavam feridos e haviam relatado que vários haviam
morrido num ataque na madrugada; eram os mortos
que andam.
– Não pudemos assegurar o forte, os mortos
passaram nossas defesas – dizia o comandante da
tropa. Ainda vestia sua armadura e estava sentado
em uma cadeira no centro da Câmara do Congresso.
– Esse é um relato preocupante – disse um
senador.
Richard ouvia o relato do comandante. Ele
estava sentado entre outros senadores.
– Foi um ataque pensado, nunca antes havia
visto os mortos agirem em grupo, não era da
natureza deles – continuou o comandante. – E o líder
era terrível. Seu simples olhar fez com que quase
metade do meu batalhão fugisse em pânico, ficaram
aqueles que não o olharam. Tentei salvar o máximo
possível dos meus homens, mas muitos ficaram...
não sei que fim tiveram.
Richard contou aquilo para Ivan e os outros
naquela noite e todos ficaram comovidos. Ivan se
preocupava e Alan sentiu seu olhar de fúria, como se
achasse que deveria fazer alguma coisa.
– Nem pense nisso – o mago disse enquanto
todos jantavam ao redor da mesa, o que já era um
costume nas noites de Nahakirsh. – Conheço este
olhar e acredite, não há nada que possa fazer, Ivan.
– Aqueles homens faziam seu trabalho – Luis
concordou. – Deve pensar na viagem...
– Alan está certo, Ivan – começou Richard. – O
senado aprovou que um esquadrão de elite faça o
resgate daqueles que ficaram, não deve se preocupar
com esta batalha, pois ela é do povo de Nahakirsh.
Mesmo assim Ivan ficava imaginando o terror
por que passaram aqueles soldados e seu senso de
responsabilidade passou a ficar mais forte para com
aquele povo; se ele era mesmo um Guerreiro da Luz,
como seus amigos sugeriam, ele não mediria esforços
para ajudar no combate a aqueles que não tiveram o
eterno descanso. Mas ele também sabia que seria
uma eterna batalha e que sua responsabilidade era a
de seguir os passos de Corligan agora. Que no fim do
caminho e do mistério dos pergaminhos estaria a
resposta para todos esses problemas. Ele perseguiria
a solução e isso o motivava.
Nos outros dias que se sucederam Alan fazia
pesquisas na Biblioteca da República e descobria
mais sobre as terras para onde viajaria daqui a
alguns dias. Luis e Jhon o acompanhavam nestas
pesquisas e Ivan aproveitava ao máximo seus dias
com Rosi, pois confiava que seus amigos achariam a
resposta sobre o paradeiro das Pilastras de Hilírian.
– Luis, Jhon – Alan os chamou. Estavam
sentados ao redor de uma grande mesa empilhada de
livros. Candelabros iluminavam o local e eles bebiam
muito chá. – Eu encontrei várias referências sobre
um antigo templo cujas pilastras falavam. Não há
erro, pois fica na direção que Sir Corligan partiu e
essa deve ser a pista.
– É muito vago – Jhon expressou cabisbaixo.
– Creio que já é um começo, pois pilastras que
falam tem tudo a haver com o que procuramos – Luis
disse, mas não levava muita fé até que Alan
continuou...
– Esse templo era dedicado a um antigo Deus
da Luz – o mago os olhava sério. – Precisamos ver
isto, pois não acredito que seja mera coincidência.
Alan rabiscou em um mapa que Richard o
havia dado da região e traçou uma rota que
acreditava ser segura, pois seguia as precauções de
Elza e Richard.
– Temos uma direção, senhor Richard – Alan
comentou no jantar daquele mesmo dia. – Iremos
para o noroeste, achar pelo antigo Templo do Deus
da Luz.
– Eu sabia que conseguiria achar algo na
biblioteca que os ajudaria – o homem respondeu
contente. – Falta pouco para o congresso e essa
notícia veio em boa hora. E então seguirão com o
plano?
– Sim, senhor – Ivan respondeu e apertava a
mão de Rosi que sentava ao seu lado. – Não
permitiremos que o mal caia sobre Nahakirsh e o
mundo.
– Partiremos para o coração do incerto, mas
com o objetivo mais inspirador possível – Jhon
complementou.
– Sofremos com a queda de nossa casa, não
desejo isso a mais ninguém. O destino nos escolheu
para esta missão – Luis disse inspirado.
– Como Wylaf havia pressagiado, eu devo
enfrentar o maior desafio de minha vida – Alan
completou inspirado pela lembrança do grande mago
Wylaf.
– “Os Quatro” se decidiram minhas senhoras –
Richard contemplou aquele entusiasmo dos jovens; e
Rosi, Elza e Edwiges também.
– Que a luz os favoreça – Elza disse aquilo e
olhou para Ivan que retribuiu fazendo um movimento
positivo com a cabeça.
Não necessitaram de mais tempo e, quatro
dias antes do congresso entre Valendia e Nahakirsh,
os jovens já estavam prontos para partir em viagem
rumo ao desconhecido. Richard revisou o mapa que
ajudaria no início da viagem dos jovens e deu a sua
confirmação de que estava tudo certo; Edwiges havia
lhes preparado comida o suficiente para dez dias de
viagem, depois disso estariam por sua própria conta;
Elza disse que rezaria todos os dias pela segurança
deles e que esperaria Ivan para que casasse com Rosi
na volta da viagem. Já Rosi não quis se despedir.
Nuvem estava curada e Richard pensou que sua filha
não aguentaria se despedir de Ivan.
– Ela deve estar por aí, Ivan, não se preocupe
– o homem confortou o jovem com um tapinha no
ombro. – Volte a salvo e case com Rosi, pois ela lhe
ama.
– É o que farei, senhor Richard – o jovem
respondeu e virou-se para a entrada da cidade. A
família de Rosi estava ali para se despedir, mas ela
não estava. Ivan pensou que era melhor assim, pois
também não gostava de despedidas. Em seu coração
tinha certeza que voltaria para os doces lábios de sua
Rosimeri. – Eu não tenho palavras para agradecer
tudo que fizeram por nós – o jovem continuou. –
Muito obrigado por tudo.
Alan, Jhon e Luis também agradeceram e
assim o guarda abriu o portão da cidade para que os
jovens partissem; Ivan olhou para trás, depois para
as colinas ao sul, os bosques ao norte e não viu Rosi
e nem Nuvem. Suspirou, respirou fundo e seguiram
numa caminhada leve. Esperavam encontrar os
piratas de tocaia, mas não tão cedo e Alan dizia que
estava preparado para surpresas. Ivan e os outros
confiavam na magia do mago e não temiam nada. Os
piratas, eles pensaram, não eram nada se comparado
aos mortos que andam, mas, mesmo assim, não
subestimariam seus rivais e assim foi dada a largada
pela corrida do conhecimento dos pergaminhos; os
jovens possuíam muitas perguntas que precisavam
de respostas.

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