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APOSTILA – COMPOSIÇÃO, VARIEDADES, PLANTIO, COLHEITA,

RECEPÇÃO, PARÂMETROS DE QUALIDADE E LIMPEZA DA CANA-DE-


AÇUCAR

Prof.a Camila Ortiz Martinez

UTFPR – Campo Mourão

Composição da cana-de-açucar

A origem provável da cana-de-açúcar data de 6 mil anos AC em regiões


próximas à Índia. Durante a Antigüidade, porém, o açúcar não passava de uma
especiaria exótica, sendo utilizada apenas como tempero ou remédio. O preparo de
alimentos adocicados era feito com mel de abelhas.
A cana-de-açúcar é uma das gramíneas mais cultivadas nas regiões tropicais
e subtropicais devido a enorme contribuição sócio-econômica que representa sua
exploração, conseqüência da propriedade de sintetizar e armazenar significativa
concentração de sacarose.
No Brasil, a cana-de-açúcar é importante fator sócio-econômico
constituindo-se como base de três importantes agroindústrias: açúcar, aguardente
e álcool; que por sua vez são fontes de matéria-prima para outras indústrias.
Praticamente a totalidade do açúcar e do etanol são produzidos a partir de cana-
de-açucar, no Brasil. Alguns dos motivos é que ela é a matéria-prima que apresenta
a maior relação Kg açúcar/ha plantado e L etanol/ha plantado, e o bagaço fornece o
combustível necessário para o seu processamento.
Devido à grandeza dos números do setor sucroalcooleiro no Brasil, não se
pode tratar a cana-de-açúcar, apenas como mais um produto, mas sim como o
principal tipo de biomassa energética, base para todo o agronegócio
sucroalcooleiro, representado por mais de 350 indústrias de açúcar e álcool e
cerca de 1.000.000 empregos diretos e indiretos em todo o Brasil.
A cana-de-açúcar como matéria-prima é atualmente caracterizada como
sendo colmos de cana-de-açúcar em estádio adiantado de maturação, sadios,
recém-cortados, e livres de matéria-estranha.
A composição química da cana-de-açúcar é muito variável, em função das
condições climáticas, das propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo,
do tipo de cultivo, da variedade, do estádio de maturação e da idade, adubação,
bem como de muitos outros fatores. Da sua composição, 99% são devidos aos
elementos hidrogênio, oxigênio e carbono, sendo o restante devido a outros
elementos. A distribuição destes elementos no colmo, em média, é de 74,5% em
água, 25% de matéria orgânica e 0,5% em matéria mineral, com a ressalva de que
estes constituintes não se encontram nas mesmas proporções nas diferentes
partes do colmo.
Para o tecnologista, a cana-de-açúcar é constituída de fibra e caldo, sendo
este, a rigor considerado a matéria-prima para a indústria do açúcar, da
aguardente e do álcool.
A fibra, definida como o conjunto de substâncias insolúveis em água, é
constituída, principalmente, de celulose, lignina e pentosanas. O seu teor depende
da variedade, da idade e de muitos outros fatores, variando na faixa de 10 - 16%.
A quantidade de fibra é importante para a geração de energia, porém é
normalmente observado que 1% de aumento no teor de fibra causa uma redução de
1,5% na extração do caldo. Nesse caso é preciso aumentar a embebição da cana, o
que será explicado e discutido posteriormente. Um elevado teor de cinzas
prejudica o processo de fabricação de açúcar.
O caldo, definido como solução impura e diluído da sacarose, é constituído
de água (80%) e sólidos solúveis (20%). Os sólidos solúveis são agrupados em
açúcares e não-açúcares orgânicos e inorgânicos. Os açúcares são representados
pela sacarose, glicose e frutose. Os não-açúcares orgânicos são constituídos de
substâncias nitrogenadas (proteínas e aminoácidos), gorduras, ceras, pectinas,
ácidos e matérias corantes. Os não-açúcares inorgânicos, representados pelas
cinzas, têm como componentes principais: sílica, potássio, fósforo, cálcio, sódio,
magnésio, enxofre, alumínio, cloro e outros.
Basicamente, a sacarose é o principal componente da cana-de-açúcar
(sólido).

Composição média da cana-de-açúcar

Composição Teor

Água 65 - 75

Açúcares 11 - 18

Fibras 8 - 14

Sólidos solúveis 12 - 23

Principais constituintes da cana-de-açúcar

Constituintes Sólidos solúveis (%)

Açúcares 75 a 93

Sacarose 70 a 91

Glicose 2a4

Frutose 2a4

Sais 3,0 a 5,0

De ácidos inorgânicos 1,5 a 4,5

De ácidos orgânicos 1,0 a 3,0


Proteínas 0,5 a 0,6

Amido 0,001 a 0,05

Gomas 0,3 a 0,6

Ceras e graxas 0,05 a 0,15

Corantes 3a5

Variedades de cana-de-açucar

Para garantir rentabilidade ao setor sucroalcooleiro é fundamental obter


elevada produtividade da cana-de-açúcar. O melhoramento genético é considerado
um dos principais fatores agronômicos que podem contribuir com o aumento da
produtividade, permitindo desenvolver variedades que se adaptem melhor às
condições adversas de solo e clima e à incidência de pragas e doenças, assim como
ao sistema de colheita.
A máxima produtividade em cana-de-açúcar depende, também, de um
correto planejamento de plantio e de adequado manejo das variedades, as quais
devem atender a exigências tanto no campo como na indústria, para maximizar
lucros.
A existência de muitas variedades (Figura 1 e Tabela 1) é uma vantagem,
embora isto torne difícil a tomada de decisão, já que requer muito mais
conhecimento do produtor rural acerca das opções disponíveis. É importante que o
produtor possua uma diversidade de variedades e cultivares de cana-de-açúcar na
lavoura, pois assim pode diminuir a possibilidade de que uma praga ou doença se
prolifere dentro do canavial, causando prejuízos.

Fig. 1. Variedades de cana-de-açúcar.


Foto: Raffaella Rossetto.
Tabela 1. Variedades de cana-de-açúcar mais utilizadas no Brasil, distribuídas por instituição de pesquisa.
Planalsucar – Ridesa (RB)
RB70141 RB70194 RB705007 RB705051
RB705146 RB705440 RB72454 RB721012
RB725147 RB725828 RB732577 RB735220
RB735275 RB739359 RB739735 RB765418
RB785148 RB75126 RB758540 RB763710
RB83102 RB83160 RB83252 RB83594
RB835019 RB835054 RB835089 RB835486
RB8491 RB8495 RB842021 RB845257
RB8543 RB855035 RB855113 RB855156
RB855453 RB855463 RB855511 RB855536
RB855546 RB855563 RB867515 RB845197
RB845210 RB855036 RB865230 RB928064
RB858927 RB92579 RB93509 RB931530
RB863129 RB943365 RB872552 RB943538
RB932520 RB925211 RB935744 RB925268
RB925345

Copersucar (SP) – CTC (CTC)


SP77-5181 SP80-3280 SP79-1011 SP87-344
SP79-2233 SP85-3877 SP81-320 SP87-365
SP80-1842 SP81-3250 SP86-42 SP87-396
SP83-2847 SP-2233 SP85-5077 SP83-5073
SP86-155 SP80-1816 SP91-1049

CTC 1 CTC 2 CTC 3 CTC 4


CTC 5 CTC 6 CTC 7 CTC 8
CTC 9 CTC 10 CTC 11 CTC 12
CTC 13 CTC 14 CTC 15 CTC 16
CTC 17 CTC 18

IAC(IAC)
IACSP95-3028 IACSP93-2060 IAC91-1099 IACSP95-5000
IACSP93-3046 IACSP94-2101 IACSP94-2094 IACSP94-4004
IAC91-2195 IAC91-2218 IAC91-5155 IAC93-6006
IAC86-2480 IAC82-2045 IAC82-3092 IAC86-2210
IAC87-3396

Para se ter máxima produtividade, é importante que cada produtor


selecione, dentro das opções de variedades ofertadas pelas instituições de
pesquisa, aquelas que melhor se adaptam às condições locais. Para isso, deve-se
prestar atenção em características como o porte da cana e o fechamento da
entrelinha - que podem levar à redução dos custos de manejo e colheita - além de
maturação, volume de matéria-prima, entre outros, como pode ser observado na
Tabela 2, para a Região Centro-Sul.
Tabela 2. Características das variedades de cana-de-açúcar mais plantadas na Região Centro-Sul do Brasil.
EXIGÊNCIA DE SOLOS

Muito exigentes
SP77-5181, SP87-396, SP87-344, SP83-5073, RB85-5546.
Exigentes
RB85-5453, RB85-5036, SP80-1816, SP80-1842, SO87-365, SP80-3280, RB85-5536, SP86-155, SP79-1011,
SP81-320, SP-911049.
Pouco exigentes
RB85-5156, RB83-5053, RB83-5486, RB84-5210, RB85-5113, SP86-42.
Não exigentes
RB72-454, RB92-8064, RB83-5089, RB86-7515, RB86-5230, SP83-2847, RB85-5035, SP85-5077.

MATURAÇÃO

Super-precoce
RB85-5156, SP87-396.
Precoce
RB83-5054, RB85-5453, SP77-5181, RB85-5035, RB83-5486, SP83-5073, SP80-1842, SP86-155, IAC86-2210.
Média
SP81-3250, SP80-1816, RB84-5210, RB85-5536, SP87-365, RB86-5230, RB85-5113, RB92-8064, SP85-3877,
SP86-42, SP83-2847.
Tardia
RB72-454, RB83-5089, RB86-7515.

RENDIMENTO DE TRANSPORTE

Péssimo
RB83-5486, SP80-1842, RB83-5089, RB83-5054,RB85-5156.
Regular
RB84-5210, SP80-1816.
Bom
SP79-1011, SP77-5181, RB72-454, RB85-5113, RB85-5536, RB84-5257, RB85-5453, SP79-2233, RB86-7515,
RB92-8064, SP81-3250.

COLHEITA MECÂNICA

Péssimo
RB83-5054, RB85-5156, RB83-5089.
Ruim
RB83-5486.
Boa
SP79-1011, RB85-5453, SP80-3280, SP80-1816, SP81-3250, RB85-5113, RB72-454, SP-2233, RB86-7515, RB92-
8064.

BROTAÇÃO DE SOCA

Sem restrição
RB82-5336, RB82-5536, RB85-5156, SP79-1011, SP79-2233, SP80-1842, SP80-1816, SP80-3280, SP81-3250,
RB86, 5230, SP86-155, SP83-2847, RB92-8064.
Boa
RB84-5210, RB85-5113, RB83-5486, RB83-5089, RB85-5453, RB85-5546, RB86-7515, RB85-5035, SP87-365.

OBS: RB72-454: Não colher em épocas secas (solos pesados) e em épocas frias se queimar.
SP77-5181: Lenta e irregular. Não suporta pisoteio.

BROTAÇÃO DE SOCA COM PALHA

Excelente
RB85-5536, SP80-1842, SP79-1011, SP80-1816, SP86-155, SP80-3280, IAC87-3396, SP81-3250, RB85-5453,
SP86-42, SP87-365, RB86-7515, RB92-8064, RB86-5230, RB82-5336.
Boa
RB83-5054, RB85-5113, RB85-5546, RB83-5486.
Regular
RB72-454, RB80-6043, SP85-3877.

FECHAMENTO DE ENTRELNHAS

Bom
RB82-5336, RB85-5113, RB85-5536, SP81-3250, SP80-3280, RB93-8064, RB86-5230, SP86-155, SP87-365.
Regular
RB83-5486, RB85-5546, SP80-1816, RB86-7515, RB84-5210.
Fraco
RB83-5054, SP79-1011, SP80-1842.

SENSIBILIDADE A HERBICIDAS

Muito sensível
RB85-5036, RB85-5113, SP87-365, RB86-5230, SP85-3877.
Sensível
RB83-5089, RB84-5210, SP80-1816, SP80-1842.

NEMATÓIDES

Suscetível
SP-801842, SP81-3250, RB72-454, RB80-6043, RB85-5113, RB84-5210.
Tolerante
SP86-42, SP83-2847, RB92-8064, RB84-5197, RB85-5156.

FLORESCIMENTO

Todos os anos
RB85-5035, RB85-5156, RB85-5453, RB84-5197, RB86-5230, SP83-2847.
Regularmente
SP80-1842, SP80-3280, RB83-5486, SP81-3250, SP87-365.
Raro
RB83-5089, RB80-6043, RB72-454, SP80-1816, RB86-7515, SP85-3877.
Não floresce
RB83-5054, RB85-5113, RB85-5536, RB84-5210, RB92-8064, SP79-1011, SP83-5073.

MATURADORES

Resposta instável
SP81-3250.
Excelente resposta
RB85-5156, RB85-5453, RB85-5536, RB83-5486, SP86-42, RB86-7515.

TOLERÂNCIA A SECA

RB86-7515, RB75-8540, SP79-1011, RB83-5054, SP80-1842, RB85-5002, RB85-5156, SP83-5073.

EXIGENTES EM ÁGUA

SP79-2233, RB85-5453, RB80-1816, RB85-5536, SP87-344, SP85-3877.

Plantio da cana-de-açucar (vídeo)

Colheita da cana-de-açucar (material complementar Novacana)

A safra da cana-de-açúcar é sazonal iniciando em maio e terminando em


novembro. Neste período ocorre o amadurecimento da cana devido a fatores
climáticos como falta de umidade, luminosidade e frio. Com o amadurecimento, as
canas passam a ser cortadas de forma planejada.
Após a determinação do estádio de maturação, procede-se o corte dos
canaviais que apresentam níveis de sacarose satisfatórios em função da época.
A colheita da cana-de-açucar pode ser feita de forma manual ou
mecanizada. A maior parte das colheitas ainda é feita de forma manual. Onde é
feita previamente a queimada controlada da cana, que conforme a legislação pode
acontecer das 20 as 6 horas. A operação do corte é precedida pela despalha a
fogo, que é realizada com o objetivo de aumentar o rendimento de corte e diminuir
a quantidade de impureza vegetal. Entretanto, logo após a queima, o corte deve ser
realizado prontamente a fim de evitar as consideráveis perdas de sacarose
A queimada dos canaviais, conforme a legislação, deve ser extinta até o ano
de 2017 para áreas superiores a 150 hectares e com declive menor ou igual a 12%.
A desvantagem da queima, para a cana-de-açucar, é a exudação de açucares e água.
Já foram registrados até 2% de perda. Porém a queimada facilita o trabalho
manual, reduzindo o tempo de trabalho, e gera empregos.
A escolha do método depende de diferentes fatores. A colheita mecanizada
é economicamente viável para grandes áreas, e propicia redução no tempo da
colheita. A desvantagem de sua aplicação é a perda de cerca de um palmo de colmo
(que fica próximo ao solo), e consequente perda de sacarose. O teor de sacarose
aumenta de forma sutil e gradativa de cima para baixo na extensão do colmo. A
cana cortada mecanicamente, particularmente em toletes, deve ser processada
imediatamente após o corte a fim de evitar a sua rápida deterioração. Deve ser
ainda ressaltado que este tipo de cana apresenta sensível perda de qualidade em
relação a cortada manualmente, sob o ponto de vista de impurezas de natureza
vegetal. Esse tipo de colheita também não pode ser conduzida em áreas que
apresentam declive.
O transporte de cana deve prover a demanda diária de trabalho da usina ou
destilaria, o que é feito ainda quase que totalmente durante o período diurno.
Entretanto, existem unidades que transportam também a noite. O procedimento é
feito por caminhões. Cada carga transportada pesa aproximadamente 16 toneladas.
Hoje há caminhões com capacidade de até três ou quatro carrocerias em conjunto,
aumentando muito a capacidade do transporte.

Recepção na indústria
Pesagem
A pesagem de cana nas unidades produtoras tem por objetivos principais o
controle da produtividade agrícola, o pagamento dos fornecedores de cana e o
controle do rendimento industrial.

Estocagem
A descarga da cana na usina é totalmente mecanizada. A matéria-prima que
chega à usina ou à destilaria deve ser descarregada, sendo dirigida diretamente
para o processamento ou para o depósito. A matéria prima é descarregada na mesa
alimentadora, através de descarregadores laterais, chamados Hillo. Esta cana é
transportada do depósito, para as mesas alimentadoras, através de pontes
rolantes, equipadas com garras hidráulicas.
Considerando que as usinas e destilarias trabalham numa jornada diária de
24 h e que o corte é realizado praticamente durante o dia, torna-se necessário
prover o armazém de cana para garantir o processamento noturno. O
armazenamento de cana se limita principalmente a atender a demanda noturna, mas
também em parte o processamento do domingo quando as maiorias dos
fornecedores de cana paralisam suas atividades.
O estoque não é recomendado, e se ocorrer deve ser de no máximo dois dias
para cana inteira e 1 dia para cana em toletes. Prazos maiores de armazenamento
podem levar ao ressecamento do colmo, inversão da sacarose, desenvolvimento de
microrganismos (Leuconostoc).
Qualidade da matéria-prima
Fatores responsáveis pela qualidade
A remuneração da cana entregue nas indústrias atualmente, é feita com
base na qualidade da matéria-prima. O sistema é dinâmico sendo ajustado, no
decorrer das safras, quanto aos parâmetros que compõem a fórmula de avaliação
da matéria-prima. O sistema envolve a seguintes operações básicas: amostragem e
preparo da amostra, extração do caldo, determinações analíticas e processamento
de dados.
A qualidade da cana-de-açúcar é função do estádio de maturação, do teor
de matéria estranha, do estado de conservação (deterioração), da sanidade, do
processamento de cana integral e do florescimento, sendo que estes dependem de
inúmeros outros fatores.
• Maturação
Desde que o rendimento industrial (açúcar, aguardente ou álcool) é
conseqüência do teor de sacarose da matéria-prima processada, a determinação do
estádio de maturação é da maior importância dentre as operações preliminares de
fabricação.
A cana-de-açúcar no decorrer do seu ciclo atravessa dois períodos distintos
com relação ao teor de sacarose. O primeiro é assinalado por um intenso
crescimento vegetativo acompanhado por uma gradual formação de sacarose,
enquanto que no segundo ocorre um predominante acúmulo de sacarose motivado
pela escassez dos principais fatores de desenvolvimento vegetativo. O estádio de
maturação é verificado, principalmente pelos teores de sacarose, de açúcares
redutores e umidade que apresentam no decorrer do período da safra. Não pode
florescer.
• Matéria estranha
A qualidade de cana industrial é comprometida pela quantidade de
impurezas carreadas com cana-de-açúcar nas fases de corte – carregamento. A
quantidade de impurezas – mineral e orgânica – é afetada pelas condições
climáticas, aumentando em períodos chuvosos pelas condições deficientes de
queima e carregamento. Os levantamentos efetuados mostravam valor médio de 5%
de matéria estranha para o corte – carregamento semi-mecânico e de 16% no
mecânico.
• Deterioração
Outro aspecto importante envolvido em qualidade de cana são os tipos de
deterioração que ela pode sofrer, especialmente após o corte. Em diversas
ocasiões em conseqüência da falha de coordenação das operações de corte –
transporte – processamento, ou ainda devido às condições climáticas que dificultam
a retirada da cana, contribuem para aumentar as perdas. Atualmente, apenas a
deterioração tecnológica é constatada através de pós-colheita.
Dentre os tipos de deterioração tecnológica, fisiológica e microbiológica,
esta última é a mais importante, devido aos problemas que ocasionam nos processos
de fabricação de açúcar, álcool e aguardente.
• Sanidade
A qualidade da matéria-prima é afetada pelo estado de sanidade dos colmos.
O complexo broca-podridão é um dos principais fatores responsáveis pela
depreciação da qualidade de cana-de-açúcar, causando danos apreciáveis a
agroindústria, diretamente proporcionais a intensidade de infestação. A queda de
qualidade é verificada pela diminuição da pol % cana e pureza, e aumento do teor
de açúcares: redutores, fibras e gomas.

Controle da qualidade
Amostras são coletadas e enviadas ao laboratório, onde são analisadas em
condições padronizadas. A qualidade é, então, determinada, e engloba as
características físico-químicas e microbiológicas da matéria-prima, que podem
afetar, significativamente, a recuperação do açúcar na fábrica e a qualidade do
produto final.
Os principais fatores relacionados à qualidade da cana-de-açúcar são
sacarose aparente, pureza, açúcares redutores totais, teor de açúcares redutores,
percentagem de fibra e tempo de queima e corte.
Dois aspectos importantes devem ser considerados para avaliar
corretamente a qualidade da matéria-prima: a riqueza da cana em açúcares e o
potencial de recuperação dos açúcares da cana.
Abaixo seguem as definições desses indicadores:

- POL: teor de sacarose aparente na cana. Quanto mais elevados os teores


de sacarose, melhor.
O teor de sacarose é medido por polarímetro, o qual permite medir o desvio
da luz polarizada. Polarímetros são aparelhos que medem diretamente a rotação de
polarização, através da medição do ângulo de rotação de um analisador. Num
polarímetro, além da fonte luminosa (normalmente luz monocromática que
corresponde à risca D do sódio), existem dois obstáculos constituídos por
substâncias polarizadoras da luz. O primeiro obstáculo é designado por polarizador
e o segundo por analisador.

A polarização da luz ocorre por dupla refração. Sendo o polarizador e o


analisador constituídos por quartzo. A mudança de direção sofrida por um feixe
luminoso quando passa de um meio transparente para outro, deve-se ao fato da luz
apresentar diferentes velocidades de propagação em diferentes meios.
Para medir o poder rotatório específico das soluções deve-se:
• Introduzir no tubo a solução de sacarose, opticamente ativa, e colocá-lo na
câmara.
• Olhar pela ocular tendo de rodar o analisador de um ângulo α
correspondente ao desvio que a solução produziu no feixe de luz, polarizada pelo
polarizador, para voltar a obter um máximo de intensidade luminosa.
Todos os polarímetros estão equipados com um aparelho óptico que divide o
campo em duas ou mais partes adjacentes de modo a que, quando o ponto final é
alcançado as secções do campo tomam a mesma intensidade. Por esta razão, o
ponto final pode ainda ser chamado de "zero óptico". Uma rotação muito pequena
do analisador irá tornar uma das partes do campo escura e a outra clara.

A rotatividade específica nas condições padrão é uma propriedade


característica de uma substância, a uma determinada temperatura, e para um
determinado comprimento de onda da radiação desviada.

- Pureza: é a relação POL/brix x 100. Quanto maior a pureza, melhor a


qualidade para se recuperar o açúcar.

- ART: açucares redutores totais: sacarose, glicose e frutose.


É determinado pela relação POL/0,95 mais o teor de açucares redutores.
Varia de 13 a 17,5%. Entretanto, é importante lembrar que canas muito ricas e com
baixa percentagem de fibras estão mais sujeitas a danos mecânicos no corte e
transporte, e ataque de pragas e microrganismos. Elas acamam e quebram com o
vento e perdem açúcar na água de lavagem. Estudos mostram que nas primeiras 14
horas de deterioração da cana 93% das perdas de sacarose foram devidas à ação
de microorganismos, 5,7% por reações enzimáticas, e 1,3% por reações químicas.
No entanto quanto maior a quantidade de fibra na cana, menor será a
eficiência de extração do seu caldo.

- Açucares redutores: glicose e frutose, que afetam diretamente a sua


pureza, já que refletem um uma menor eficiência na recuperação da sacarose pela
fábrica.

- % da fibra na cana

- tempo de queima: tempo entre a queima e a moagem na indústria, para


colheita manual. Ou o tempo entre o corte e a moagem. Quanto menor o tempo
entre a queima/corte, menor será o efeito de atividades microbianas e melhor será
a qualidade da cana, e a qualidade dos produtos finais e o desempenho dos
processos para produção de açúcar e álcool.

Nos últimos anos, pesquisas sobre a qualidade da matéria-prima e trabalhos


em parceria com usinas e destilarias possibilitaram a descoberta de novos
indicadores de qualidade. Atualmente tem sido possível dimensionar o impacto da
qualidade da matéria-prima sobre o rendimento industrial, sobre as perdas,
insumos e qualidade do açúcar produzido. Baseadas em números, as usinas podem
fixar metas e tomar decisões em busca da melhoria dos resultados tanto para a
área agrícola como para a industrial. Se o objetivo é obter desempenhos elevados e
produtos de qualidade estas duas áreas precisam interagir, diuturnamente.

Lavagem da cana e preparo para extração do caldo


A lavagem da cana é a primeira etapa, propriamente dita, do processo
industrial. A cana é conduzida por esteiras para esse fim. Nessa etapa são
removidas as matérias estranhas, para que estas não prejudiquem os equipamentos
e causem perdas nos processos posteriores. O volume é variável, sendo o mínimo
necessário 5m3/t cana/h.

Após ser lavada a cana é preparada para a extração do caldo. O objetivo é


desintegra-la para facilitar a extração do caldo contido nas células. Dessa forma é
formada uma massa compacta e homogênea na qual a embebição posterior de água
se torna mais eficaz. Um bom índice de preparação está em torno de 90% de
células abertas. São utilizadas facas rotativas e desfibradores para esse fim.
significativo na extração pois influenciará na abertura das células e na
melhora da embebição.

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