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1.

Biodiesel
De acordo com a Lei n° 11.097, de 13 de setembro de 2005, biodiesel é um
biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão
interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro
tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil.
Por esta definição não existe nenhuma restrição quanto à rota tecnológica, sendo possível
utilizar como biodiesel os produtos obtidos pelos processos de transesterificação e
craqueamento. Porém, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) regulamentou apenas o uso
da transesterificação.
A transesterificação, também conhecida como alcoólise, é a reação entre um
álcool de cadeia curta (metanol ou etanol) e um triacilglicerídeo, formando éster e
glicerol. Esse processo envolve a preparação de matéria-prima, reação, separação de
fases, recuperação do álcool e purificação dos ésteres conforme mostra a Figura 1
(ENCARNAÇÃO, 2008).

Figura 1. Processo de obtenção do biodiesel.

Como matéria-prima são utilizados óleos vegetais (puros ou de cocção) e/ou


gorduras e o processo engloba três reações consecutivas e reversíveis, em que
diglicerídeos e monoglicerídeos são formados como intermediários. A preparação da
matéria-prima é de suma importância, pois irá promover condições eficazes para maior
taxa de conversão da reação, além de impossibilitar a formação de produtos
saponificados. É essencial que a umidade e a acidez utilizadas sejam mínimas, pois a
presença de água provoca hidrólise do triacilglicerídeo, formando ácidos graxos livres,
que saponificam com o catalisador, produzindo mais água. Com o intuito de impedir esse
problema, realiza-se um processo de neutralização (lavagem com solução alcalina de
NaOH ou KOH), e necessita-se que o valor de ácidos graxos livres seja abaixo de 1%.

2. Parâmetros de qualidade
O biodiesel deve cumprir às especificações contidas no Regulamento Técnico
ANP nº 3/2014, as quais constituem os seguintes parâmetros: aspecto, densidade a 20 ºC,
viscosidade cinemática a 40 ºC, teor de água, contaminação total, ponto de fulgor, teor de
éster, cinzas sulfatadas, enxofre total, sódio e potássio, cálcio e magnésio, fósforo,
corrosividade ao cobre, número de cetano, ponto de névoa, índice de acidez, glicerol livre
e total, monoglicerol, diglicerol e triaglicerol máximo, metanol e/ou etanol máximo,
índice de iodo e estabilidade oxidativa. A determinação destas propriedades deve ser
realizada mediante a aplicação das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), das normas internacionais da American Society for Testing and Materials
(ASTM), da International Organization for Standardization (ISO) e do Comite Europeu
de Normalização (CEN).
Um dos parâmetros mais importantes a ser considerado na alcoólise em meio
alcalino é a quantidade percentual de base de Brönsted-Lowry utilizada, ou seja, deve-se
utilizar de 0,3-1% de NaOH. Tal quantidade está relacionada à massa de triacilglicerídeo,
que tem como função formar íons alcóxido, porém no final do processo parte da matéria-
prima se transforma em sais de ácidos graxos, devido ao NaOH. Além disso, deve-se
existir uma relação direta entre a quantidade de base empregada e a quantidade de sabão
formada no processo.
3. Cálculos para a transesterificação de óleos vegetais.
A reação de transesterificação alcalina está representada na figura 2. Onde 1 mol
de triacilglicerídeo reage com 3 mols de álcool metílico (ou etílico) produzindo 3 mols
de biodiesel e 1 mol de glicerina se a reação for completada.
Para garantir a segurança e a qualidade do biodiesel utiliza-se excesso de álcool,
podendo a razão passar para 1:6, tendo o triacilglicerídeo como referência. Todo o álcool
utilizado em excesso será recuperado através de evaporação e condensação.
Figura 2. Reação de transesterificação para produção de biodiesel a partir de óleo vegetal

O óleo de soja é formado por um conjunto de triacilglicerídeos, para realizar os


cálculos usa-se a média das massas molares de todos os ácidos graxos presentes em sua
composição. Na tabela 1 observamos a composição do óleo soja em termos de ácidos
graxos.

Tabela 1. Composição do óleo de soja.


Ácido graxo Percentual (%) Massa molar g/mol Percentual médio (%)
Palmítico 9,7 - 13,3 806 11,5
Esteárico 3 - 5,4 891 4,2
Oléico 17,7 - 28,5 885 23,1
Linoléico 49,8 - 57,1 879 53,45
Linolênico 5,5 - 9,5 873 7,5

Massa molar média do óleo de soja: 806 x 0,115 + 891 x 0,042 + 885 x 0,231 + 879 x
0,5345 + 873 x 0,075 = 869,84 g/mol.
Massa molar média do óleo residual (usado) = 874,8 g/mol.
As proporções de reagentes para a síntese de biodiesel para uma reação 1:6
óleo/álcool, levando em consideração os dois tipos mais comuns de álcoois utilizados,
metanol e etanol são:

Tabela 2. Quantidade de reagentes utilizada para a transesterificação.


Quantidade Quantidade de Quantidade de Quantidade de NaOH
de óleo metanol Etanol
150 litros 39,02 litros 56,12 litros 0,976 quilos
500 litros 130,07 litros 187,24 litros 3,255 quilos
1000 litros 260,13 litros 295,47 litros 6,510 quilos
5000 litros 1300,62 litros 1872,38 litros 32,550 quilos
100000 litros 2601,24 litros 3744,77 litros 65,100 quilos
Temperatura e tempo da reação
A reação de transesterificação deve ser conduzida em um reator com agitação.
Uma agitação muito enérgica pode provocar a formação de sabão, resultando em uma
emulsão de difícil separação. A temperatura do processo pode ser de até 70 ºC,
dependendo do álcool utilizado, para que não haja desprendimento do álcool por
evaporação. Quanto maior a temperatura, menor é o tempo de reação, assim ao utilizar
metanol a temperatura que apresenta melhor rendimento é 60 °C, ao utilizar etanol a
melhor temperatura é 70 °C.
Uma mistura entre o álcool e o catalisador deve ser preparada e adicionada ao óleo
previamente aquecido (para sistemas que empregam aquecimento). O tempo reacional
varia de acordo com a matéria-prima, álcool e catalisador utilizados, mas a reação é
considerada completa quando há um retorno à coloração original após o escurecimento
da mistura.
A decantação da mistura deve ser feita para que ocorra a separação dos produtos
obtidos. A fase superior corresponde ao produto principal, o biodiesel. Já na fase inferior,
encontram-se glicerina (subproduto da reação), resíduo de catalisador, excesso de álcool
que não reagiu, água, sabão formado durante a reação e alguns traços de ésteres e
glicerídeos.
O biodiesel obtido deve ser purificado para remoção de resíduo de catalisador.
Uma alternativa é a lavagem com água quente para a remoção de impurezas. Quando o
catalisador utilizado é básico, a lavagem com água acidificada (0,5% HCl) neutraliza o
catalisador. A fase aquosa pode ser separada dos ésteres por decantação e posterior
aquecimento para secagem e remoção da umidade.
As reações que foram realizadas com 60 e 90 minutos apresentaram rendimento
acima de 80% em relação a massa dos óleos utilizados, chegando a 97 % quando o tempo
de reação ultrapassa os 70 minutos.

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