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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza


Instituto de Química – PRH20.1

Técnicas de Caracterização de Petróleo e Derivados – IQW624

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO BIODIESEL

Grupo: Beatriz Henrique da Rocha (DRE: 118022091)


Lorraine Beatriz de Oliveira Teixeira (DRE: 118045374)
João Matheus Chagas Sousa (DRE:118030214)

2023.2
1. Introdução
A crescente demanda por combustíveis derivados do petróleo, impulsionada pela
era tecnológica, é um desafio global, uma vez que o petróleo, como a principal fonte de
energia fóssil, é finito e gera impactos ambientais significativos. Em resposta a essa
necessidade de soluções mais sustentáveis, o biodiesel surgiu como uma alternativa
viável. Rudolf Diesel e Henry Ford, em 1985, reconheceram nos óleos vegetais uma
alternativa para o desenvolvimento industrial, dando origem ao biodiesel. No Brasil, a
exploração de biocombustíveis remonta à década de 40, culminando no Programa
Nacional do Álcool (PROALCOOL) em 1973 e, posteriormente, no Programa Nacional
de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) em 2004. O PNPB visou abordar questões
críticas, como fornecimento de energia, inclusão social, redução de emissões de poluentes
e diminuição da dependência de importações de petróleo [1].
A definição legal do biodiesel, conforme estabelecido na Lei n° 11.097 de 2005,
classifica-o como um biocombustível derivado de biomassa renovável destinado a
motores de combustão interna com ignição por compressão. Embora essa definição seja
ampla e permita diferentes rotas tecnológicas, a Agência Nacional de Petróleo (ANP)
regulamentou exclusivamente a transesterificação como método [1].
A transesterificação, também conhecida como alcoólise, é um processo crucial na
produção de biodiesel, envolvendo a reação entre um álcool de cadeia curta, como
metanol ou etanol, e um triacilglicerídeos, resultando na formação de ésteres e glicerol.
As matérias-primas comuns são óleos vegetais e/ou gorduras, e o processo compreende
uma série de reações sequenciais e reversíveis, incluindo a formação de intermediários,
como diglicerídeos e monoglicerídeos. A preparação adequada da matéria-prima é
essencial para garantir altas taxas de conversão e evitar produtos indesejados, como
sabões. A umidade e a acidez devem ser mantidas em níveis mínimos para prevenir a
hidrólise dos triacilglicerídeos. Além disso, a quantidade de base, geralmente NaOH,
utilizada neste processo é crucial, e estudos indicam que a quantidade mínima deve ser
empregada para evitar a formação excessiva de sabão, mantendo a qualidade do biodiesel
[1].
O biodiesel deve atender a uma série de especificações estabelecidas no
Regulamento Técnico ANP n°3/2014, abrangendo diversos parâmetros críticos, cuja
conformidade é verificada seguindo normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), normas internacionais da American Society for Testing and Materials
(ASTM), International Organization for Standardization (ISO) e Comite Europeu de
Normalização (CEN).
O biodiesel é uma alternativa viável devido à sua renovabilidade,
biodegradabilidade, menor emissão de poluentes, maior ponto de fulgor e maior
lubricidade em comparação com o óleo mineral ou diesel. A possibilidade de usar o
biodiesel puro ou em misturas com diesel convencional, sem a necessidade de adaptação
de motores, é uma vantagem substancial. O avanço no cenário global e a Lei brasileira
11.097/05, que prevê a adição obrigatória de biodiesel ao diesel em diferentes proporções,
tornam o estudo e a produção de biodiesel uma área de importância crescente no setor
energético [2].

2. Objetivo
Sintetizar o biodiesel a partir do óleo de soja comercial e caracterizá-lo através
das seguintes técnicas: cromatografia em camada fina e cromatografia líquida de alta
eficiência (CLAE).

3. Metodologia
3.1. Preparo da solução de Metóxido de potássio
Em um becker de 100 mL, foi pesado 1,0 g de hidróxido de potássio (KOH) e
adicionado 30 mL de metanol, dentro da capela, com auxílio de agitação até completa
dissolução do KOH.

3.2. Preparo da reação


Em um balão de fundo redondo de 250 mL, foi adicionado 100 mL de óleo de soja
puro e uma barra magnética, este foi mantido em banho-maria até a temperatura de 45ºC.
Em seguida, adicionou-se a solução de metóxido de potássio preparada anteriormente. A
mistura reacional foi mantida em aquecimento a 45ºC (45-50ºC), sob forte agitação, por
uma hora.

3.3. Separação e Neutralização


Após o tempo de aquecimento estabelecido, a mistura reacional foi transferida
para um funil de separação e mantida em repouso, e posteriormente a fase inferior foi
recolhida em uma proveta de 100 mL. À fase restante, foi adicionado 25 mL de solução
aquosa de ácido clorídrico a 10%, e agitamos o funil, deixando o novamente em repouso
por 15 min, e a fase aquosa foi removida em um Becker. O processo foi repetido
adicionando solução saturada de NaCl e água destilada 4 vezes, medindo o pH até que
ele neutralizasse.

3.4. Secagem
A solução obtida foi transferida para um erlenmeyer e adicionou-se Na2SO4. Após
15 minutos em repouso, a mistura foi filtrada e transferida para uma proveta a fim de
medir o volume final obtido.

3.5. Caracterização - Cromatografia de camada fina


Em uma placa cromatográfica de 3 cm x 7 cm, foi feita a marcação, com auxílio
de um lápis, em 0,7 cm de base e 0,5 cm de margem superior. Com auxílio de capilares,
adicionou-se na placa 3 gotas de cada solução de oleato de metila, óleo de soja puro,
glicerol e o produto obtido na etapa anterior, misturados a 1 ml de éter de petróleo ou
clorofórmio separadamente.
Em um becker de 100 ml contendo um papel de filtro colocado nas paredes, foi
adicionado uma mistura ternária de hexano, éter etílico e ácido acético a proporções de
80:20:2, respectivamente, a placa cromatográfica já preparada foi então posicionada em
pé dentro do becker, o qual foi tampado com um vidro de relógio.
Após o eluente, contido no becker, subir até a margem superior marcada, a placa
cromatográfica foi então colocada em um pote para que as marcas fossem reveladas por
vapores de iodo.

3.6. Ponto de Fulgor


O óleo de soja usado passou por um processo de transesterificação e o produto
resultante foi usado para realizar um teste de ponto de fulgor. No teste, adicionou-se o
produto à cuba de fulgor até atingir uma marcação específica e, em seguida, começou-se
a aquecê-lo, monitorando a temperatura. Quando a temperatura se aproximava do ponto
de fulgor esperado, a cada aumento de 2°C, testes eram realizados inserindo uma chama
na cuba até que os vapores queimassem. Quando isso acontecia, registrava-se a
temperatura atingida.
4. Resultados e Discussão
A reação de transesterificação na qual ocorre a transformação de triacilglicerídeos
em moléculas menores de ésteres de ácidos graxos ocorre na presença de um catalisador.
O preparo do catalisador se deu pela seguinte reação:
CH3OH + KOH → CH3O-K+ + H2O
Com o catalisador preparado, ele é adicionado ao óleo para ocorrer a reação de
transesterificação a seguir:

Fig01: Reação de transesterificação. Retirado de [3]

No procedimento foi solicitado a adição de 35 ml de metanol, mas por questões


operacionais, adicionamos 30 mL. Ao ser adicionado apenas 30 mL de metanol na
solução, não houve excesso de álcool suficiente, como é indicado, para que se obtenha
um alto rendimento do éster produzido, já que com o excesso o equilíbrio é deslocado na
reação de modo a produzir os ésteres. Isso fez o rendimento do biodiesel ser
comprometido.
Outros aspectos que estiveram diferentes do procedimento fornecido ocorreram
na parte experimental da lavagem e secagem do biodiesel. O primeiro ocorrido foi na
parte da agitação com as soluções ácidas para a neutralização, onde uma agitação vigorosa
foi aplicada e gerou-se uma emulsão no funil de separação. Essa emulsão acarretou
complicações na separação da fase aquosa com o biodiesel. Como não foi possível
desfazer a emulsão, ela foi descartada, carreando parte do biodiesel e gerando mais um
fator que comprometeu o rendimento do biocombustível.
Além disso, a quantidade em excesso de água, advinda das inúmeras lavagens a
mais do procedimento para neutralizar o biodiesel, fez que com reações secundárias
fossem geradas produzindo outros produtos, como sabão.
A primeira técnica que foi empregada para analisar se a síntese do biodiesel foi
obtida com sucesso foi através da cromatografia em camada fina (CCF). O resultado é
mostrado na figura 02. Os pontos 1, 2, 3, 4 indicam respectivamente o óleo usado, oleato
de metila, o possível biodiesel sintetizado e glicerina. O primeiro aspecto analisado é o
fator de retenção (Rf) que é uma característica de um composto frente a fase estacionária
usada e do eluente. Quando mais próximo o Rf entre em composto de referência e nosso
produto, mais temos a confiança de que temos o composto de referência no produto
avaliado. No nosso caso, o composto de referência avaliado foi oleato de metila, um éster,
com Rf de 0,58. A mancha maioritária do nosso produto apresentou Rf 0,48, mostrando
que nosso produto majoritário não era o biodiesel, mas que manchas menores na mesma
altura do nosso composto mostrou que havia a presença de éster em nosso produto, ou
seja, nosso biodiesel de interesse.

FIG02: Cromatografia em camada fina

A partir da análise do produto obtido por CLAE na figura FIG03, verificamos a


presença de picos significativos referentes a MAG, DAG e TAG, indicando que o produto
obtido foi de baixa conversão. Os picos referentes aos ésteres podem ser identificados em
ordem de acordo com o número de insaturações, onde o éster que apresenta maior número
de insaturações mais rápido o composto elui, ou seja, aparecerá antes, sendo este o C18:3
seguido do C18:2 e C18:1, considerando que no óleo de soja puro, que foi usado para
obtenção do biodiesel, apresenta as seguintes porcentagens dos ésteres: C18:1- 23%,
C18:2- 50% e C18:3- 7%, o que explica o C18:2 apresentar maior intensidade em relação
aos outros no cromatograma.
FIG03: CLAE do biodiesel do óleo de soja

Em relação ao ponto de fulgor, utilizou-se o produto de uma outra dupla (Amanda


e Beatriz), visto que apresentou um melhor resultado na caracterização. O resultado
obtido foi igual a 114°C. Dessa forma, fica evidente que o ponto de fulgor do biodiesel
apresenta uma discrepância significativa em relação ao valor esperado de 170°C. O ponto
de fulgor mais baixo levanta preocupações substanciais sobre a segurança no manuseio e
armazenamento do biodiesel. Vapores inflamáveis a temperaturas mais baixas podem
representar um risco significativo, especialmente em ambientes sujeitos a flutuações de
temperatura. Além disso, essa diferença no ponto de fulgor pode impactar a adequação
do biodiesel para certas aplicações, como em motores a diesel ou sistemas de
aquecimento, onde a segurança e a estabilidade do combustível são cruciais.
O valor do ponto de fulgor mais baixo pode estar relacionado a impurezas,
resíduos do processo de transesterificação ou outros fatores no processo de produção.

5. Conclusão
Foi possível aprender sobre a síntese do biodiesel, mesmo com a sua obtenção em
baixo rendimento. Além disso, foi possível utilizar as técnicas de caracterização de
cromatografia em camada fina e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) para
elucidar se o biodiesel havia sido sintetizado.
A adição insuficiente de metanol afetou o rendimento da reação de
transesterificação. Problemas na lavagem e secagem do biodiesel levaram à formação de
uma emulsão e à geração de produtos secundários, como sabão. As análises de
cromatografia revelaram uma conversão baixa do biodiesel desejado. Além disso, o ponto
de fulgor do biodiesel (medido em 114°C) diferiu substancialmente do valor esperado
(170°C), levantando preocupações de segurança e compatibilidade. Em suma, o relatório
destaca a necessidade de otimização do processo de produção para obter biodiesel de alta
qualidade e seguro.

6. Referências bibliográficas
[1] DA SILVA MARQUES, Moisés et al. SÍNTESE DE BIODIESEL A PARTIR DE
ÓLEO DE SOJA RESIDUAL. Revista Científica Unilago, v. 1, n. 1, 2020.
[2] Rinaldi, Roberto et al. Síntese de biodiesel: uma proposta contextualizada de
experimento para laboratório de química geral. Química Nova [online]. 2007, v. 30, n. 5
[Acessado 29 outubro 2023], pp. 1374-1380. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0100-40422007000500054>. Epub 28 Set 2007. ISSN 1678-
7064. https://doi.org/10.1590/S0100-40422007000500054.
[3] MENEGHETTI, Simoni P.; MENEGHETTI, Mario Roberto; BRITO, Yariadner C.
A reação de transesterificação, algumas aplicações e obtenção de biodiesel. Revista
Virtual de Química, v. 5, n. 1, p. 63-73, 2013.

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