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02/10/2019 CVM condena investidor por layering, prática de manipulação de mercado

MULTA

CVM condena investidor por layering, prática de


manipulação de mercado
Investidor auferiu benefício de nanceiro de R$1,3 milhão ao inserir ordens arti ciais de compra e venda na
bolsa

GUILHERME PIMENTA

02/10/2019 18:43
Atualizado em 02/10/2019 às 19:18 BRASÍLIA

Marcelo Barbosa, relator do processo administrativo na CVM - Crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aplicou uma multa de R$ 2,2


milhões a um acusado de layering, prática de manipulação de mercado na qual o

https://www.jota.info/tributos-e-empresas/mercado/cvm-condena-layering-manipulacao-02102019 1/3
02/10/2019 CVM condena investidor por layering, prática de manipulação de mercado

investidor cria camadas arti ciais de ofertas de compra e venda de diversos ativos,
auferindo vantagem nanceira.

O caso começou a ser apurado pela CVM após ter sido detectado pelos técnicos
da BSM Supervisão de Mercados (BSM), órgão autorregulador do mercado de
capitais ligado à B3. Como manipulação de mercado também é crime, o processo
foi enviado ao Ministério Público Federal em São Paulo.

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Heitor Viotti Dezan, investidor privado, foi acusado de layering entre janeiro de 2013
até agosto de 2017. Na prática, segundo entenderem os órgãos técnicos, cria-se
uma aparente liquidez com o envio de ordens à bolsa sem a intenção de executá-las,
com o intuito de induzir investidores a negociar determinados ativos, provocando
alteração em seus preços.

Segundo a acusação formulada pela Superintendência de Relações com o Mercado


e Intermediários (SMI), Dezan inseriu 15.461 ordens no livro, realizando 8.982
negócios no período, gerando um benefício de nanceiro de R$ 1,3 milhão.

Em seu voto, antes de entrar no mérito do caso, o presidente da CVM, Marcelo


Barbosa, relator do processo, defendeu a Instrução CVM 08/79, utilizada para
abrigar ilícitos recentes no mercado, como layering.

Especialistas em mercado de capitais defendem uma revisão dessa norma, pois


alegam que ela trata de tipos abertos, não podendo ser utilizada para classi car
novos ilícitos.

Artifícios inovadores
A polêmica em torno da norma se intensi cou em 2018, quando a CVM condenou
um acusado por spoo ng, outra modalidade de manipulação de mercado, também
com base na ICVM 08/79, em divergência do que havia sido proposto pelo órgão
autorregulador.

“Sua inteligência reside precisamente no fato de que suas disposições não se


tornaram obsoletas frente às transformações inerentes ao mercado de capitais,
possibilitando que a CVM tutele o seu regular funcionamento, mesmo em meio às
intensas mudanças que o desenvolvimento tecnológico nos impõe”, defendeu o
presidente Marcelo Barbosa.

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02/10/2019 CVM condena investidor por layering, prática de manipulação de mercado

Segundo o presidente, os tipos abertos previstos na norma “permitem que


determinadas estratégias que, à época, não eram utilizadas ou sequer existiam,
possam ser enquadradas como ilícitos administrativos”.

“Desde que, é claro, estejam preenchidos os seus requisitos e tenham o condão de


prejudicar o bem jurídico tutelado pela norma, isto é, o funcionamento regular do
mercado”, assinalou Barbosa.

No mérito, o presidente entendeu que o artifício utilizado pelo investidor produziu os


resultados esperados. “A con guração do ilícito de manipulação de preços exige a
efetiva produção de cotações enganosas como resultado do artifício utilizado”,
pontuou o presidente.

Em seu voto, Marcelo Barbosa destaca que, tendo em vista a dinâmica atual dos
ambientes de negociação, “que, não raro, oscila na casa dos centavos e se
movimenta na ordem dos milissegundos, parece-me perfeitamente plausível
concluir que a inserção e o cancelamento de ofertas, por si só, produzem efeitos
sobre o processo de formação de preços”.

“A meu ver, tais efeitos tornam-se arti ciais na medida em que as ordens não são
inseridas no livro de ofertas de boa-fé (isto é, sem a real intenção de serem
executadas)”, escreveu o presidente.

Para Barbosa, o investidor “agiu de forma consciente e com propósito claro,


mantendo sua estratégia ao longo de anos, mesmo depois de diversas corretoras e
a própria BSM terem sinalizado claramente seu caráter irregular”.

Com a condenação na CVM por layering, Heitor Viotti Dezan pode recorrer ao
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN), órgão revisor ligado
ao Ministério da Economia.

GUILHERME PIMENTA – Repórter

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