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"As coleções especiais em bibliotecas institucionais são distintas dos demais acervos de
uma biblioteca por sua constituição temática,finalidade,características materiais e
significados patrimoniais para a instituição que as preservam. A política de
desenvolvimento de acervo é outro fator que proporciona distinção para essas coleções ao
estabelecer planos normativos para sistematizar formas de organização, conservação,
aquisição, acesso, segurança, pesquisas e avaliação de coleção(ões) formulada(s)ou em
formação com o objetivo de garantir preservação e acesso ao público." p. 184
Bibliografia repertorial e material, divisão formada por Fermín de los Reyes Gómez (2005), a
repertorial se propõe a buscar, identificar, descrever e classificar os documentos para
elaborar repertórios como instrumentos para auxiliar a pesquisa.
Bibliografia
José Simón Diaz (1971), na obra "La bibliografia: conceptos y aplicaciones ", expõe as
várias vozes da bibliografia:
a) Bibliografia: lista de livros. Compreendida a partir do surgimento do livro impresso, no
século XV, a bibliografia teve seu nome próprio somente no século XVII, quando
Naudé e Louis Jacob deram esse nome às relações de títulos de livros, elaboradas
por eruditos e livreiros.
b) Bibliografia: conceito neoclássico, século XVIII, direcionada para o conhecimento dos
manuscritos.
c) Bibliografia: ciência do livro, século XVIII, compreendendo dois ramos: a produção do
livro e a sua história (valores, autores, editores, catalogação, classificação, difusão...).
Seguindo essa constante até o século XX, quandobibliógrafosanglo-saxões propõem
estudos do livro a partir de suas características materiais, para através delas, possibilitar a
autenticidade de uma edição, precisar seu local de publicação e data, por exemplo.
d) Bibliografia: ciência das bibliotecas
e) Bibliografia: ciência dos repertórios, do século XIX ao século XX
O autor ratifica que sua sistematização não representa etapas evolutivas da Bibliografia,
senão interpretações divergentes, existentes até nossos dias, que formam um todo cujas
partes estão intimamente interligadas.
Isabel Torres Ramírez (2002), em seu artigo Los estúdios de bibliografia en el último cuarto
del siglo, convoca Estivals para um esclarecimento: ciência bibliográfica, em seu duplo
aspecto teórico e prático, às circunstâncias históricas e sociais em que se desenvolveu e às
mudanças ocorridas na "superestrutura intelectual" da qual faz parte, que se situa [...] Entre
as mudanças apontadas, destacam-se as ocorridas nos campos do conhecimento e das
ideologias, responsáveis pela evolução das classificações, por exemplo; o aumento do
conhecimento e do número de livros (títulos), o que provocou mudanças no tipo de
bibliografia produzida, na divisão do trabalho bibliográfico e nas diversas definições que se
têm dado de Bibliografia.
Com essa afirmação Chartier Inicia o texto sobre as “Bibliotecas sem muros”, no qual
discute as implicações culturais para a formação de bibliotecas francesas e o papel de
instrumentos mediadores (catálogos, inventários, bibliografias) nessa jornada em busca da
biblioteca ideal.
Como relatam Chartier (1998) e Burke (2003, p. 153),as fontes para encontrar e/ou
conhecer livros desejáveis por um colecionador eram possibilitadas pela consulta em
catálogos de bibliotecas, bibliografias, livros, catálogos de vendas, livreiros, colecionadores
e eruditos.
Formação das bibliotecas modernas: Gabriel Naudé em Advis pour dresser une bibliothèque
(1627) indicava as fontes para obter as informações sobre livros para a biblioteca ideal.
Essas indicações estão especificadas, de forma mais explícita, nos capítulos 2 e 5 de seu
tratado:
Capítulo 2: Sobre a maneira de se instruir e de saber sobre a formação de uma biblioteca; e
Capítulo 5: Dos meios para localizar os livros.
No quinto capítulo, Naudé advertia para a consulta aos índices, tratados, livros, catálogos
de bibliotecas e de livreiros, pois eram instrumentos norteadores do reconhecimento
da qualidade de um livro que deveria compor uma biblioteca. Com base em Jean Viardot
(1983), em seu artigo Le livre rare: collectionneurs et marchands spécialisés de Naudé
à Nodier, consideramos que esses capítulos de Naudé revelam também práticas sociais e
culturais para formação de bibliotecas particulares naquele período: a busca por obras de
referência para instrução e orientação de colecionadores desejosos por formar bibliotecas
patrimoniais. (colocar na parte de autores)
De acordo com Yann Sordet (2002, p. 285), a Bibliofilia no final do XVII e início do XVIII,
após estabelecer os critérios para a distinção de seus membros, adota um critério
determinante para a consolidação do sistema de valoração das bibliotecas: a definição do
livro raro. A partir do século XVII bibliógrafos produziram dezenas de bibliografias dedicadas
ao livro raro, as quais assumiram um lugar de destaque nas práticas de Bibliofilia por
produzirem notícias bibliográficas e descrições materiais dos livros, mas,sobretudo,por
tornarem-se o lugar privilegiado para a definição da raridade bibliográfica. (colocar na
evolução)
O Manuel du libraire é uma bibliografia geral e internacional que reuniu 47.500 títulos de
livros raros, preciosos e especiais, desde a origem da impressão com tipos móveis até o
ano de 1850. Além das notícias bibliográficas, para cada livro,Brunet apontou o assunto
abordado, o histórico das edições (legais e ilegais)e particularidades exclusivas de cada
exemplar.
Brunet organizou Manuel du libraire por assunto, os autores foram ordenados pelo
sobrenome e os livros com autores anônimos receberam entrada por ordem alfabética de
títulos. Ele inseriu também uma tabela de classificação com base na classificação de
livreiros do século XVII (como Debure). Novamente, Bibliofilia e Bibliografia produzem
uma obra-modelo, o repertório do que se deve colecionar, os valores de compra, as
categorias de raridade, a organização, a classificação e os tantos demais fazeres
necessários para se formar uma biblioteca.
Utard considera que o Manuel du libraire “que deu fama ao seu autor, refletindo a
expansão da Bibliofilia no século XIX, é também considerado como um modelo de
meticulosidade bibliográfica e a epítome das grandes bibliografias gerais deste século.
”(UTARD, 2002b, p. 396b).
Bibliografia material
Wallace Kirsop define a Bibliografia Material como o “estudo material dos textos
impressos”(KIRSOP, 2002, p. 275) que tem como objetivo a analisearqueológicados
livros.No início do século XX os estudantes ingleses Walter Greg e R. B. McKerrow
iniciaram pesquisas direcionadas para a construção de conceitos métodos que definiriam o
corpus bibliografia cujo objetivo era a análise material dos livros. David Finkelstein e
Alistair McCleery(2014) no livro Una introducción a la historia del libro apontam que no
princípio do século XX o crescente interesse dos acadêmicos sobre os primeiros
textos impressos e sua produção propiciaram a criação da disciplina que ficou conhecida
como Nova Bibliografia: A impressão das primeiras edições das obras de Shakespeare, por
exemplo, foi problemática. Como distinguir –perguntavam os estudiosos da literatura– entre
as versões “autênticas” de suas obras e as “alteradas”? Como os pesquisadores poderiam
acessar o verdadeiro texto concebido por Shakespeare nos séculos 16 e 17, dada a falta de
fontes para um manuscrito original e a existência de versões impressas não confiáveis? A
resposta está nas metodologias propostas pela escola da Nova Bibliografia, liderada por
estudiosos como R. McKerrow (1927), W.W. Greg (1950) e Fredson Bowers (1950). O
estabelecimento de textos oficiais tornou-se uma questão de examinar a materialidade da
produção textual original, de estudar textos e livros como objetos físicos (determinando
diferenças em tipografia, papel, tinta, métodos de impressão e afins) para distinguir entre
“bom” e versões “ruins” de obras (FINKELSTEIN; MCCLEERY, 2014, p. 27).
De acordo com Finkelstein e McCleery (2014, p. 27) foram os métodos para distinguir as
boas e as más versões dos fólios de Shakespeare e as conclusões para chegar a
tais atribuições, defendidas pelo bibliógrafo Alfred William em seu livro Shakespeare’s fólios
and quartos, que influenciaram McKerrow, Greg e Bowers a desenvolver os princípios
gerais da nova disciplina.Para definir o campo da Nova Bibliografia Walter Greg defendia a
distinção entre essa e a bibliografia repertorial:
Para evitar ambiguidades vou definir a “bibliografia” como o estudo dos livros como objetos
materiais[...]A qualificação é importante. É uma espécie de cláusula filioque dirigida contra
uma heresia particular; [...] porque a bibliografia não tem nada a ver com o assunto ou
conteúdo literário de um livro.” (Greg, 1945).
A definição de que os“livros são meios materiais pelos quais a literatura é transmitida;
portanto, a bibliografia, o estudo dos livros, é essencialmente a ciência da
transmissão dos documentos literários” (Greg, 1932, p.113) recebeu críticas quanto à
identificação desta como ciência. Apesar das discussões, as bases da nova disciplina
estavam alicerçadas, dentre elas as proposições de princípios e métodos de análise
bibliográfica desenvolvidas por Greg:um formulário de colação para padronização de
descrição dos livros, com objetivo de oferecer consistência e organização aos processos
de análise.
Ronald McKerrow, Fredson Bowers, Philip Gaskell e D. F. McKenzie também
contribuíram para o desenvolvimento da disciplina que ficou conhecida como Bibliografia
Material.Há outros bibliógrafos que colaboraram para o desenvolvimento da disciplina,
contudo as pesquisas e obras desses autores são as que mais se destacaram. Seus
trabalhos serão apresentados a seguir por ordem cronológica de publicação de suas obras.
McKerrow (1928)enfatizou que seu trabalho não era um manual para estudantes de
impressão,de bibliografia repertorial, nem para colecionadores–também não pretendia
discutir as questões de raridade ou do comércio do livro –seu objetivo era analisar a relação
do livro impresso com os manuscritos originais do autor por meio de evidências materiais. O
primeiro passo seria avaliar impressão(imposição, primeiras impressões,modificações das
técnicas de impressão), ilustrações, formatos, assinaturas, foliação e paginação. Em
seguida escrever o livro; e identificar variações, erros, adições, correções, falsificações e
fac-símiles.
O autor inicia olivro com as definições para edição, tiragem, estado e cópia ideal. E
segue tratando sobre a descrição bibliográfica por séculos (do XVI ao XVIII) e transcrição da
folha de rosto, colofão e explicit, título de cabeça e título corrente. Dedica-se aos formatos e
padrões de colacionamento, paginação e foliação, placas e inserções, lista de conteúdo,
clichês, tipografia.
Bowers propôs um modelo metodológico de análise que o bibliógrafo poderia adequar para
outros livros de acordo com os propósitos de determina da pesquisa. Entrementes, apesar
de ratificar que sua proposta poderia ser aplicada a outras tipologias de livros, ele
também reconhecia que seu método de análise foi desenvolvido tendo como objeto a
produção de livros ingleses e norte-americanos.
Nas décadas de 1960 e 1970 os estudos de Philip Gaskell e Donald F. McKenzie surgem
como propostas de aplicação,ampliação e redirecionamento da Nova Bibliografia. Em
1972 Gaskell publicou A new introduction to bibliography declaradamente como um
seguimento da obra de McKerrow, não uma revisão, mas um novo livro a partir das
ideias iniciadas pelo mestre.Após mais de quarenta anos da publicação do McKerrow e
apesar de suas justificativas, Gaskell inova na ampliação dos conceitos apresentados em
1928 e também por se aprofundar na produção mecânica do livro no período de 1800
a 1950 (período não abordado com profundidade pelos bibliógrafos que o antecederam).
“McKenzie parecia expor uma falha geológica que atravessava todo o seu campo de
estudos[...] a produção nas gráficas do início da era moderna não seguia o padrão
regular atribuído a elas pela bibliografia ortodoxa (Darnton, 2010, p.154-155).”
A Nova Bibliografia, até então, ignorava o contexto social da produção dos textos. A grande
contribuição de McKenzie para a disciplina, além de suas descobertas, foi a convocação
dos bibliógrafos para a análise sociologia dos textos
“McKenzie propôs que os pesquisadores vão além da interpretação de textos como meros
produtos das intenções do autor, ou mesmo apenas como efeitos de exames quantitativos e
macro-históricos das tendências de publicação e impressão, em direção a um estudo dos
textos como produtos mediados nos quais se podem encontrar traços de economia,
significado social, estético e literário”(FINKELSTEIN; MCCLEERY, 2014, p. 32)
A identificação de livros por meio de análise material é fundamental para profissionais que
atuam em coleções especiais e acervos antigos.
Considerações finais
Por sua vez a Bibliografia Material enquanto disciplina instrumental direcionada para a
pesquisa sobre o livro impresso contribuiu na produção de manuais técnicos da
Biblioteconomia. Por meio de formulários de descrição é possível compreender e descrever
a estrutura do objeto livro. Entretanto o domínio das teorias e métodos de análise da
Bibliografia Material extrapolam a descrição para catalogação, seu alcance se dá
também na capacitação profissional para o conhecimento das materialidades do livro
potencializando a interlocução usuário-bibliotecário-usuário –por meio de instrumentos
mediadores para a pesquisa e/ou no serviço de referência especializado. A análise material
do livro permite ainda ao bibliotecário-pesquisador desenvolver ações específicas de
preservação de acervos.