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JORNAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

JPM
No. 03 Setembro 2006

I
Versão eletrônica em www.ime.unicamp.br/lem

Editorial a prática pedagógica nesses dois nı́veis simul-


taneamente.
É com muita satisfação que editamos mais um
número do JPM apresentando artigos, idéias, A professora Miriam S. Santinho desenvolveu,
experiências e sugestões, sempre tendo em foco com professores das séries iniciais do Ensino
o interesse do leitor e, em especial, do professor Fundamental o uso da literatura e do jornal nas
de matemática. Aproveitamos para convidar aulas de matemática.
professores e alunos a visitar a Unicamp, em
particular o IMECC, durante o evento Unicamp
de Portas Abertas (UPA) que será realizado nos Maria Lúcia B. Queiroz, IMECC – UNICAMP
dias 01 e 02 de setembro. Informações sobre & Miriam S. Santinho, LEM – UNICAMP
como participar e se inscrever podem ser en-
contradas na página da Unicamp. Artigo
No sentido de promover a troca de experiências, Conhecimento Matemático na Edu-
é muito importante contarmos com a sua con- cação de Jovens e Adultos
tribuição, enviando-nos relatos de suas ativi-
dades em sala de aula, textos relacionados à A matemática em sala de aula tem sido um
matemática para divulgação, ou ainda sugestões trabalho de descoberta, tanto para mim, en-
de filmes com comentários sobre os mesmos. Es- quanto educadora, quanto para os educandos.
peramos que tenham uma agradável leitura, e Desde que cada educadora de EJA (Educação
até a próxima edição. de Jovens e Adultos) ficou responsável por uma
ou duas disciplinas, em nossa escola da rede mu-
O LEM Vai à Sua Escola nicipal, tive uma prática de seis anos somente
com a área de Lı́ngua Portuguesa e Ensino
Cidade de Americana da Arte. Somente este ano teve inı́cio o meu
trabalho com Matemática, o que se constituiu
O LEM esteve presente, nos dias 25 e 26 de num desafio tanto para mim quanto para os
julho, participando das atividades docentes da educandos. Isso porque, na rede estadual, onde
XVIII Semana de Educação de Americana, cujo não há separação de educador por disciplina,
tema foi Tecer Reflexão: Criatividade e Trans- trabalho com todas as áreas do conhecimento
formação promovida pela Secretaria da Educa- que abrangem a fase I, sendo que o conheci-
ção desse municı́pio. Foi uma experiência muito mento matemático perpassa as outras áreas.
positiva e gratificante. Estiveram presentes Por exemplo, ao trabalhar um texto, onde cons-
muitos educadores de diversas instituições e tavam informações matemáticas, os conteúdos
a troca de experiências foi bastante enriquece- matemáticos se faziam presentes. Portanto, a
dora. possibilidade de um trabalho com a Matemática
separado da Lı́ngua Portuguesa representava
A professora Maria Lúcia B. Queiroz traba- uma incógnita para mim.
lhou com professores que atuam no segundo
ou terceiro ciclos do Ensino Fundamental com Inicialmente, comecei a organizar a prática a
o desenvolvimento de idéias e reflexões sobre partir do conhecimento que os educandos apre-

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sentavam: espaço de formalização desses saberes por meio
a) O saber matemático que eles utilizavam nas dos conceitos matemáticos escolares (algoritmo,
suas relações de educando adulto, como noção sı́mbolos matemáticos, etc.). Dessa forma, con-
de número, a função social do número, formas sidero como relevante o trabalho com a estima-
de lidar com informações matemáticas, tipos de tiva, o cálculo mental e estratégias de raciocı́nio
registro de quantidades, operações e resolução lógico, a partir das experiências dos educandos,
de situações-problema. bem como o uso de materiais (material dourado,
b) O saber matemático escolar construı́do nas objetos de contagem, quadro valor-lugar, su-
suas experiências escolares. Essa era uma cata, etc) e recursos diferenciados (computador
maneira de conhecer o grupo quanto aos con- e jogos matemáticos).
ceitos matemáticos para poder organizar a
prática pedagógica. Beatriz G. E. Silva, Rede Municipal de
Ensino de Curitiba e Rede Estadual de Ensino
Aos poucos, fui percebendo que a minha in- do Estado do Paraná
tervenção não ficaria atrelada exclusivamente
à área da Matemática. Havia sim a possibi-
lidade de, mesmo não estando com as outras Sugestões de Leitura
disciplinas, fazer um trabalho integrado, esta-
belecendo relações com as diferentes áreas do O Diabo dos Números
conhecimento. Hans M. Enzensberger, Companhia das Letras,
1997.
Outro impasse estava relacionado com o fato
dos educandos sempre solicitarem que eu pas- Crianças fazendo matemática. Qual é o in-
sasse no quadro-de-giz ou em seus cadernos con- teresse de nossas crianças pela matemática?
tas (operações) para eles resolverem ou números Muitas sentem medo, prazer, desinteresse,
para que eles escrevessem. Estava claro assim paixão... Por que tantos sentimentos contra-
que a concepção que tinham de matemática ditórios em relação a esta área de estudo? Nós
precisava ser revista. Em alguns momentos tive professores de matemática, se
que ceder, para evitar a evasão de educandos. não somos apaixonados, temos
ao menos intimidade e sim-
patia pelo enorme universo
Parti do princı́pio de que a resolução de
matemático, que precisa ser
situações-problema seria uma das formas de
desmistificado para muitos e
se trabalhar os conceitos matemáticos. Em
muitos alunos que têm medo da
muitos momentos, organizamos coletivamente
matemática, tal como acontece
as situações-problema, buscando junto com os
com Robert, um menino de 11 anos que, sonho
educandos a formulação de acordo com o seu
após sonho, é levado pelo diabo Teplotaxl,
cotidiano, utilizando como apoio o material
um mago que possui uma bengala mágica, a
dourado e o quadro lugar-valor, além de palitos
ser outro diante de seu professor, podendo se
e outros instrumentos, de acordo com o estágio
destacar somando números, tal como Gauss o
de cada turma e/ou grupo de trabalho. Apre-
fez em 1787 aos dez anos de idade.
sentei também algumas situações-problema aos
educandos de modo que lhes possibilitassem a Entre estranhas calculadoras, sistema de nu-
elaboração de hipóteses e conjecturas que os meração sem zero, antecessores e sucessores
levassem a um fazer matemático a partir da de números, alguns que saltam, outros que
investigação. são chamados primos, que formam correntes
de noves chamados pelo menino de números
No inı́cio, os educandos apresentaram re- insensatos, outros até triangulares ou quadran-
sistência quanto à forma de trabalho, porém gulares ou de Fibonacci, vai o mágico desper-
foram compreendendo aos poucos que eles tando, cada vez mais, o interesse do menino
próprios já apresentavam saberes matemáticos pelos números, utilizando muitas peripécias in-
em sua vivência cotidiana, sendo a escola um teressantes que despertam nossa curiosidade e

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atenção na leitura do texto. Passando por con- maneira intrigante e descontraı́da. Fica para
tagens e combinações simbolizadas no Triângulo você então descobrir os outros possı́veis encan-
de Pascal, que é apresentado em vários de- tos da matemática contidos neste livro e trata-
senhos com bastante destaque, seguindo para dos de maneira leve e criativa.
seqüências e séries, Robert sente como é fácil es-
corregar desde o 1 até o infinito, podendo ainda
Miriam S. Santinho, LEM – UNICAMP
passar pelo número insensato, nome dado por
ele ao número de ouro.
Veja em DVD
É nesse paraı́so dos números que o diabo faz o
menino encontrar-se com grandes matemáticos U–571 (U–571, 2000)
como Felix Klein e sua célebre garrafa sem O capitão de um submarino
borda, com os números inventados — i — e americano e sua tripulação re-
ainda com Cantor, Euler, Russell, Pitágoras... cebem uma missão totalmente
entre tantos outros egı́pcios, indianos e chineses, secreta. Eles têm que se dis-
todos jantando tortas, redondas como o cı́rculo, farçar de nazistas e se infiltrar
a mais perfeita das figuras... e a bebida, é claro, num submarino alemão avari-
não estava em uma garrafa de Klein. Interes- ado para roubar um dispositivo super-secreto
sante notar que a utilização de metáforas surge de decodificação, a máquina Enigma, e afundar
ao longo da história desenvolvida neste livro, da o submarino antes que os alemães descubram o
mesma maneira que está presente nas aulas de que está acontecendo.
matemática. A questão do professor sem tempo
para pesquisar ou fazer um devaneio com seus
Enigma (Enigma, 2001)
alunos também é citada pelo autor.
Tom Jericho é o matemático
responsável pela descoberta do
Através dos sonhos, os números flutuavam na Enigma, um código secreto que
cabeça de Robert, ora estando com Teplotaxl os submarinos nazistas usavam
numa floresta de cogumelos gigantes, ora numa para se comunicar durante a Se-
caverna sem saı́da. Como diz gunda Guerra Mundial. Mas
o autor: E quem não quer os nazistas alteram o código e o Serviço Se-
acreditar ainda que também creto Britânico chama Tom para decifrá-lo no-
a natureza parece saber con- vamente. Paralelamente, sua namorada Claire
tar, dê uma boa olhada na some misteriosamente e, desesperado, Tom
árvore ao lado. Ao andar- procura a melhor amiga de Claire, que começa
mos pela cidade ou, melhor a ajudá-lo.
ainda, se pudermos andar
pelas estradas, em uma época de estiagem, onde Lúcio T. Santos, IMECC – UNICAMP
observamos muitas árvores com poucas folhas
ou mesmo sem nenhuma delas, veremos seus
troncos e galhos, longos ou curtos, grossos ou O Turista Matemático
finos, retorcidos ou não, obedecendo a seqência
de Fibonacci, distribuindo-se em uma harmo-
Um Professor de Matemática na
nia perfeita, para deleite de nossos olhos. Esta
Feira de Artesanato
figura, de tão interessante, deixa-nos com von-
tade de observar esta seqüência na natureza, Acontece todos os sábados e domingos, pela
que está aı́ a disposição de todos para ser con- manhã, na Praça Imprensa Fluminense, onde se
ferida. localiza o Centro de Convivência de Campinas,
uma feira de artesanato. Os artesãos da região
As ilustrações contidas no livro, alegres e colo- têm suas barracas, com amostras de seus tra-
ridas que são, despertam nossa curiosidade e balhos e é um local perfeito para uma pesquisa
incentivam-nos a olhar a matemática de uma etnográfica em Etnomatemática. É um desafio

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aos professores de matemática da região, ou Silveira. Não posso deixar de comentar que
quem estiver visitando Campinas, terem seus existe, também, uma área reservada para
olhares despertados pela quantidade de mode- os antiquários onde se pode encontrar coisas
lagem matemática que propicia todo o material incrı́veis. Eu, por exemplo, encontrei um relógio
exposto. Vou contar um pouco de algumas bar- de Sol portátil feito especialmente para Cam-
racas, que olhei e conversei com os responsáveis, pinas.
onde os artesãos ficaram entusiasmados em co-
laborar com os professores e alunos, cabendo
Eduardo Sebastiani, IMECC – UNICAMP
a eles modelarem em suas aulas os resultados
destas pesquisas etnográficas. Vejamos alguns
exemplos: Artigo
A professora de matemática aposentada, Uma Lição de Dedekind
Maria Rita F. M. Guerrini, tem uma bar-
raca de macramé. Ela nos contou como fa- Richard Dedekind nasceu em
brica cintos 16 de outubro de 1831, na cidade
com vários de Braunschweig, a mesma
tipos de em que nasceu Gauss. Estu-
nós: nós dou no Collegium Carolinum,
duplos (macramé), festonê, festonê torcido, nó o mesmo que Gauss, 50 anos
de gravata, etc. As quantidades de fios com antes. Doutorou-se em 1852,
os quais devemos trabalhar, vai depender do na Universidade de Göttingen, orientado por
tipo de nó, sempre em números pares. Há uma Gauss. Apresentou sua tese de habilitação
única excessão: quando temos um desenho que ao magistério em 1854, também na Univer-
percorre o cinto em triângulos equiláteros, o fio sidade de Göttingen, e Gauss fazia parte da
guia deve ser maior que os outros. banca examinadora. No entanto, as grandes in-
fluências sobre Dedekind foram seu professor G.
Sı́lvia B. Nunes, cuja a filha é professora L. Dirichlet (1805-1859) - teoria dos números, e
de matemática aplicada na UERJ, tem uma seu amigo B. Riemann (1826-1866) - teoria das
barraca maravilhosa com vários jogos, cons- funções. Riemann foi o último dos orientados
truı́dos em madeira, todos eles exigindo um de Gauss.
raciocı́nio matemático importante na cons-
trução de estratégias. Na barraca dos pati-
Em 1858, Dedekind é nomeado professor da
nhos da Evely Armando encontrei alguns brin-
Escola Politécnica de Zurique. É quando, por
quedos, que podem ser
razões didáticas, as mesmas que motivariam G.
modelados matematica-
Peano, começa a refletir sobre os fundamentos
mente como, por exem-
da aritmética e do contı́nuo. Em 16 de novem-
plo, tabuinha mágica,
bro de 1858, uma quarta feira, cria um conceito
torre de Hanoi e caleidoscópio. Um outro tra-
de número irracional, que estende aquele de
balho que merece ser estudado é o de tatu-
número racional e que resolve o problema da
agem com hena do artesão Renato Lau. Ele
continuidade. A primeira versão é intitulada A
me mostrou um albúm onde tem os vários de-
Criação dos Números Irracionais, a definitiva
senhos que pode fazer, alguns deles criados por
ficou com o tı́tulo Continuidade e Números Irra-
ele mesmo. Nesses desenhos aparece o conceito
cionais. Demora a publicar, como fazia Gauss,
muito forte de simetria: reflexão horizontal,
só o faz em√1872.√ No prefácio,
√ afirma que a
reflexão vertical, rotação, e mesmo a glisso-
identidade 2 × 3 = 6 nunca antes fora
reflexão.
demonstrada. Provoca uma grande celeuma.
Um dos trabalhos mais bonitos que acho e
que, também, merece ser modelado é o de Apesar de envolvido com árduas tarefas, já em
marchetaria. O artesão responsável por esse 1872, Dedekind começa a voltar suas reflexões
trabalho, verdadeiramente artı́stico, é Roberto para o conceito de número natural, o qual era

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completamente nebuloso na época (só na época? um instrumento de infinitamente maior per-
e hoje?). No entanto, apenas em 1878 Dedekind feição. Este sistema possue um completamento
tem uma primeira redação de seus estudos. e auto-suficiência a qual o caracteriza como um
Mas não a divulga. Seu amigo e importante corpo de números (zahlkörper). Isto significa
algebrista Heinrich Weber reclama que não que as quatro operações podem ser sempre re-
a conhece. Dedekind responde que anda tão alizadas com quaisquer de seus elementos e o
ocupado que talvez nunca mais volte a tratar resultado é sempre um de seus elementos. O
dos fundamentos da aritmética. Finalmente, único caso excepcional sendo o da divisão por
em 1888, é publicado seu opúsculo O que são e zero. Entretanto, outra propriedade do sistema
o que significam os números? Nesse trabalho, dos números racionais é ainda mais importante.
além do conceito de número natural, passos im- Pode ser expressado dizendo-se que esse sis-
portantes são dados para a criação da teoria dos tema forma um dominio unidimensional bem-
conjuntos e tornar claro os conceitos de finito organizado, estendendo-se indefinidamente em
e infinito. É desse opúsculo que sai a seguinte ambos os lados. O significado disso é sufi-
lição de Dedekind. cientemente indicado pelo uso de expressões
geométricas. Porém, exatamente por isso, é
necessário apresentar claramente as correspon-
dentes propriedades puramente aritméticas de
maneira a evitar que, mesmo na aparência, a
aritmética necessite de idéias extranhas a ela.

A teoria das operações aritméticas, em par-


ticular a demonstração por indução de suas
A aritmética é uma conseqüência natural, operações, foi iniciada por Hermann Grass-
necessária mesmo, do mais simples ato arit- mann (1809-1877) em seu Manual de Arit-
mético que é o de contar. O ato de contar como mética de 1861. A teoria foi retomada por
nada mais que a criação sucessiva da seqüência Dedekind, que adiciona a teoria das operações
infinita dos inteiros positivos, no qual cada ele- de Grassmann uma análise profunda, ob-
mento é definido pelo precedente imediato. É jetivando justificar a validade lógica dessas
o simples ato de passar de um indivı́duo já for- operações por indução (Grassmann menciona o
mado ao consecutivo a ser formado. A classe processo indutivo somente como um raciocı́nio
desses números, que constitui em si mesma um bem conhecido). Para isso, Dedekind mostra
instrumento extremamente útil para a mente que as condições impostas sobre uma tal
humana, apresenta uma inexaurı́vel riqueza de definição determinam uma correspondência
notáveis leis obtidas pela introdução das qua- biunı́vova entre a série númerica e uma de
tro operações fundamentais da aritmética. A suas partes. Um ponto notável da análise de
adição é a combinação de qualquer repetição Dedekind está nas conclusões. Ressaltam um
do ato mais simples, acima mencionado, em critério geral, que podemos chamar iteração,
um único ato. Analogamente aparece a multi- pela qual cada operação no campo dos números
plicação. Enquanto a execução dessas operações naturais conduz a uma nova operação, por as-
é sempre possı́vel, aquelas das operações inver- sim dizer de ordem superior. Este critério é o
sas, subtração e divisão, mostram-se limitadas. seguinte. Consideramos uma operação Φ que
Qualquer que seja a ocasião imediata que se a cada número n associa um outro número
apresente, qualquer comparação ou analogia Φ(n) determinado. Por meio da operação Φ
com experiência, ou intuição, que possam ser definimos indutivamente, uma nova operação F
feitas, é certamente verdade que justamente baseada nas seguintes condições:
essa limitação na execução das operações inver-
sas tem em cada caso sido motivo para um novo A) F (1) := m, onde m é um número fixo,
ato criativo. Portanto, números negativos e mas arbitrário;
fracionários foram criados pela mente humana. B) F (n + 1) := Φ(F (n)).
No sistema dos números racionais ganhou-se

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A operação F é obtida da Φ por iteração. classificou conjeturas
Em particular, as operações aritméticas fun- e as questões mais danadas
damentais são obtidas por iteração sucessiva para manter ocupadas
da operação mais simples de passagem de um as gerações futuras.
número ao seu sucessor imediato. A primeira 15
iteração conduz a adição, a iteração da adição Seu David Hilbert pensava,
conduz a multiplicação, a iteração desta última com sua grande autoridade,
conduz a potênciação. que tudo que era verdade
demonstração precisava.
Recentemente, foi encontrada nos arquivos da É por isso que enunciava
Universidade de Göttingen uma pasta com a eti- pra sábios e professores
queta “Dedekind III.2 - Zum Zahlbegriff” (So- problemas que mil doutores
bre o conceito de número). São sete páginas não resolviam (que horror!)
escritas pelo próprio Dedekind, provavelmente e a Hipótese de Cantor
entre 1889 e 1895. Nas quatros primeiras se é dos problemas maiores.
encontra uma exposição clara, lúcida e moti- 16
vada da teoria dos números inteiros. Didatica- David Hilbert acredita,
mente, Dedekind usando a teoria das diferenças veja só, santa inocência,
introduz a noção de eqüidiferença. Como con- que descansa a Augusta Ciência
sequência, cria a moderna teoria dos números na axiomática finita.
inteiros. As demais folhas parecem rascunhos Se algo é verdade - medita-
para as primeiras. Aparecem, nos rascunhos de prova tem precisão,
dois tı́tulos: Sobre a introdução do zero e dos e se não for, mais razão
números negativos e Frações. Não temos in- para provar o contrário.
formações sobre o conteúdo das anotações so- Deus põe verdades no armário
bre frações. Deste modo, nada sabemos quanto e o cientista é seu ladrão.
a noção que tinha de fração ou número fra- 17
cionário. Isso é intrigante, pois como vimos Muito gênio se dedica
acima, Dedekind conhecia bem o corpo dos à Hipótese de Cantor.
números racionais, mas não indica referências. Quem a provar é o maior!
Além disso, não encontramos, na literatura an- nas faculdades se explica.
terior a 1888, nenhuma teoria razoavelmemte Não conseguem. Tudo indica
rigorosa sobre esses números. Um problema in- que é difı́cil pra xuxú.
teressante, mas para ser discutido em outra con- Se a provarem, o rebú
versa. vai percorrer o planeta;
há de ser prova porreta
Dicesar Lass Fernandez, IMECC – UNICAMP digna do maior guru.
18
Exatamente no ano
Expressão Artı́stica triste em que morre Gardel
um tal de Kurte Godel
Cordel de Cantor descorre em parte este pano.
(Continuação do número anterior) “Ah, vai entrar pelo cano
quem crer que tudo é provável!”
14 Que tudo não é demonstrável
Naqueles tempos surgiu prova este sábio alemão,
David Hilbert, um sujeito foi um trabalho do cão
que levava muito jeito mais certamente admirável.
como bem logo se viu. 19
Homem sereno e gentil, Agora peço aos ouvintes
e pouco afeto a loucuras, que prestem muita atenção

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pois já vem demonstração e eu, com singela emoção,
sem enfeites nem requintes. lhe dediquei este cordel.
É nas décimas seguintes 24
que, de forma bem discreta, Afinal, em Deus pensando,
é provada que incompleta Cantor fez muitos teoremas
será qualquer coleção e se turbou nos problemas
de axiomas com pretensão dum Deus que estava faltando.
de faturar a gorjeta. Hilbert, Godel, ajudando,
20 criaram mais confusão.
[O teorema de incompletude de Godel] Nos caminhos da Razão
“Isto não é demonstrável”: se avança meio de lado;
esta sentença é verdade às vezes ser apressado
pois, se fosse falsidade não garante a solução.
ela seria provável.
Esta expressão tão notável,
José Mario Martı́nez, IMECC – UNICAMP
menos ética que estética,
na sua forma sintética
dá o teorema matemático Desafio Matemático
que nos diz, de modo enfático,
Temos dez sacos, cada um deles com muitas
que algo falta na aritmética.
moedas. Alguns dos sacos estão cheios de
21
moedas falsas. As moedas verdadeiras pesam
O Teorema de Godel,
dez gramas e as falsas pesam nove gramas. Com
que demonstramos acima,
uma só pesagem identificar todos os sacos que
provocou pánico e grima
têm moedas falsas.
na Lógica do Cordel.
Perdia Hilbert o anel
ganhado com tanta dor? Extraı́do do livro “Desafios: Um Ano
E a Hipótese de Cantor de Problemas no Público” de Eduardo Veloso e
com isto, como é que fica? José Paulo Viana, Edições Afrontamento, 1991
Tem mais de um que se estrumbica
pisando acelerador. Para Usar em Sala de Aula
22
Será a Hipótese verdade Bingo de Operações Fundamentais
que não se pode provar?
Difı́cil acreditar O público alvo são os alunos das quintas e sex-
nessa possibilidade. tas séries do Ensino Fundamental e a duração é
Mas, além da raridade, de duas aulas. O objetivo é estimular o aluno a
na matemática balsa, desenvolver o raciocı́nio lógico e rápido através
o gênio Godel realça da competitividade.
o prova um dia, no albor,
que a Hipótese de Cantor Metodologia. São distribuı́das aos alunos
não é nem verdade nem falsa. cartelas comuns de bingo (dessas compradas
23 em papelarias, cuja numeração
Tem coisas que - estando certas - vai de 1 até 75). Neste jogo,
não se podem demonstrar, ao invés de serem cantados os
outras não dá pra provar números serão cantadas contas
porque são - pra sempre - incertas. cujos resultados correspondem
Depois de tais descobertas aos números existentes nas cartelas. O aluno
do mestre Kurte Godel, que formar uma seqüência (na horizontal ou
o filósofo viu mel na vertical) de cinco números marcados (com
onde afinar seu violão o último cantado) grita Bingo. O professor

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confere se realmente os cinco números foram Os fatores de apoio. Como prevenir ou en-
cantados e, se o aluno estiver certo, ele ganha frentar o estresse. A proposta é instrumentar
um prêmio (que pode ser um pirulito, um bom- os professores a avaliarem o seu nı́vel de estresse
bom, um ponto positivo, etc). Fica a critério e oferecer subsı́dios teóricos e práticos para o
do professor quantas contas serão cantadas até manejo efetivo do estresse.
o jogo acabar. As contas poderão ser alteradas Profa.: Maria Elenice Quelho Areias, CECOM
de acordo com a vontade e necessidade do pro- – UNICAMP.
fessor. Perı́odo: 21/10/2006 das 8h30min as 17h30min.
Matrı́cula: 12/09 a 13/10/2006.
Contas. 0 + 1 = 1, 6 + 5 = 11, 7 × 3 = 21, Recebimento de documentação: até 14/10/2006.
45 − 14 = 31, 70 − 29 = 41, 26 + 25 = 51,
2 × 1 = 2, 3 × 4 = 12, 10 + 12 = 22, MAT 0168: Trabalho em Grupo:
8 × 4 = 32, 6 × 7 = 42, 85 − 33 = 52, Vivência e Reflexões sobre sua In-
3 × 1 = 3, 4 + 9 = 13, 15 + 8 = 23, fluência na Aprendizagem
99 : 3 = 33, 26 + 17 = 43, 159 : 3 = 53, Apresentar ao professor de Matemática re-
2 × 2 = 4, 7 × 2 = 14, 8 × 3 = 24, sultados e considerações que propiciem um
17 + 17 = 34, 60 − 16 = 44, 9 × 6 = 54, melhor entendimento do que é um trabalho
2 + 3 = 5, 3 × 5 = 15, 5 × 5 = 25, em grupo com efeitos positivos na aprendiza-
7 × 5 = 35, 9 × 5 = 45, 30 + 25 = 55, gem. Apresentar atividades com conteúdos em
2 × 3 = 6, 4 × 4 = 16, 14 + 12 = 26, matemática e áreas afins que são melhores de-
9 × 4 = 36, 34 + 12 = 46, 7 × 8 = 56, senvolvidas com trabalho em grupo.
3 + 4 = 7, 12 + 5 = 17, 9 × 3 = 27, Profa.: Raquel N. M. Brumatti, PUC-
50 − 13 = 37, 94 : 2 = 47, 34 + 23 = 57, CAMPINAS.
4 × 2 = 8, 6 × 3 = 18, 7 × 4 = 28, Perı́odo: 25/11/2006 das 8h30min as 17h30min.
76 : 2 = 38, 8 × 6 = 48, 40 + 18 = 58, Matrı́cula: 13/10 a 16/11/2006.
3 × 3 = 9, 11 + 8 = 19, 36 − 7 = 29, Recebimento de documentação: até 17/11/2006.
26 + 13 = 39, 7 × 7 = 49, 35 + 24 = 59,
5 + 5 = 10, 4 × 5 = 20, 5 × 6 = 30, Os minicursos acima têm carga horária de 8
4 × 10 = 40, 5 × 10 = 50, 6 × 10 = 60, horas e valor de R$45,00 com desconto de
90 − 23 = 67, 7 × 10 = 70, 65 + 8 = 73, R$10,00 para alunos dos cursos de Especiali-
85 − 17 = 68, 39 + 32 = 71, 30 + 44 = 74, zação. Destinam-se a Professores das Séries
80 − 11 = 69, 8 × 9 = 72, 60 + 15 = 75 Iniciais, Professores do Ensino Fundamental e
Médio, Professores do Ensino Superior, Coorde-
Fábio V. Amaro, E. E. Ruy Rodriguez, nadores Pedagógicos e Alunos de Licenciatura
Campinas (SP) em Matemática.

Cursos no LEM MAT 100: Curso de Especialização


em Matemática para Professores do
MAT 0083: Estresse, Qualidade de Ensino Fundamental e Médio
Vida e o Trabalho do Professor Inscrições : 30/10 a 15/12/2006.
O que é o estresse: sintomas, causas e efeitos. Coordenador: Prof. Dr. Ricardo A. Bacci.
Estresse ocupacional e o estresse do professor.

Jornal do Professor de Matemática


Elaborado pelo Laboratório de Ensino de Matemática (LEM) do Instituto de Matemática,
Estatı́tica e Computação Cientı́fica (IMECC) da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Correspondência e Sugestões: LEM – IMECC – UNICAMP, Caixa Postal 6065,
13081–970, Campinas (SP). Telefone: (0xx19) 3788–6017. E-mail: lem@ime.unicamp.br
Editores: Lúcio T. Santos, Maria Lúcia B. Queiroz e Claudina I. Rodrigues

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