Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
4. INTRODUÇÃO
Os Gymnotiformes são peixes de água doce conhecidos como peixes faca (Knifefishes),
originários da América do Sul, com espécies que invadiram posteriormente a América Central, e
constituem um grupo interessante do ponto de vista científico pela sua capacidade eletrogênica e de
eletrolocalização, apresentando órgãos geradores de eletricidade localizados na pele que lhes permite
formar um campo elétrico ao redor do corpo (Mago-Leccia, 1978). Segundo Graça e Pavanelli (2007),
a ordem Gymnotiformes descrita para a planície de inundação para o alto rio Paraná é composta de
cinco famílias, Gymnotidae, Sternopygidae, Rhamphichthydae, Hypopomidae e Apteronotidae. A
família Rhamphichthydae compreende 27 espécies válidas, distribuídas em três generos:
Rhamphichthys Muller & Troschel (1948), Gymnorhamphichthys Ellis (1912) e Iracema Triques
(1996) (Eschmeyer; Fong 2019). A taxonomia da família ainda é pouco entendida, se comparando a
outros Gymnotiformes, devido a dúvidas em relação aos limites entre espécies, já que exemplares
apresentam variações tanto em sua natureza intraespecífica quanto interespecífica. As relações
filogenéticas de G. Britskii com outros membros do gênero são ainda desconhecidas (Carvalho et al.,
2011).
Existem ainda poucos estudos citogenéticos da ordem Gymnotiformes, mas que demonstram
que estes peixes apresentam grandes diferenças em relação ao número de cromossomos e sua estrutura.
Esta diversidade cariotípica pode ser demonstrada com a variação do número diploide de 2n=24 em
Apteronotus albifrons (Apteronotidae) (Fernandes et al. 2017) a 2n = 54 em Gymontus inaequilabiatus
(Gymnotidae) (Utsunomia et al. 2014). Na família Rhamphichthydae os dados citogenéticos são bem
escassos, sendo descritos números diploides apenas para o gênero Rhamphichthys, em que R. hahni
capturado na bacia do alto Rio Paraná apresentou 2n=50 cromossomos, distribuídos em 20
metacêntricos (m), 24 submetacêntricos (sm) e 6 acrocêntricos (a) (Mendes et al., 2012). Duas outras
espécies do gênero Rhamphichthys oriundas da bacia Amazônica também foram caracterizadas com 2n
=50 cromossomos, R. marmoratus 44m/sm + 6a (Silva, 2010); e R. Rostratus 42m/sm +8a (Silva et
al., 2013).Diante da escassez de dados cromossômicos na família Rhamphichthydae, principalmente a
ausência de dados no gênero Gymnorhamphichthys, o presente estudo tem objetivo de cariotipicar
estes individuos coletados na bacia do alto Rio Paraná, a fim de trazer os primeiros estudos
citogenéticos nestes peixes, utilizando diferentes marcadores (Banda-C e Ag-NOR).
5. OBJETIVOS
6. METODOLOGIA
Todas as diretrizes institucionais para o cuidado e uso de animais de laboratório foram
seguidas. Os animais foram capturados com a permissão do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio; número 64611) e utilizados para experimentos laboratoriais com aprovação
do Comitê de Ética em Experimentação Animal (CEUA; protocolo 024/2018) da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul.
Para tanto, nos meses de setembro, outubro, novembro de 2018 e janeiro e abril de 2019 foram
coletados com auxílio de peneiras 22 exemplares (Fig. 1) de Gymnorhamphichthys britskii ( 7 machos,
9 fêmeas, 6 sexo não identificado) no córrego Dourado, Japorã, MS, Brasil (23°51’04,9’’ S /
54°25’13,9’’W), afluente do Rio Iguatemi, o qual pertence bacia do alto rio Paraná (Fig. 2).
Estes peixes foram colocados em aquários no laboratório de citogenética de peixes da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Mundo Novo – MS (Fig. 3).
Antes de serem eviscerados para obtenção dos cromossomos e determinação do sexo, os peixes foram
anestesiados por overdose de óleo de cravo (Griffiths, 2000).
Fig.1. Coleta das espécies no corrego Dourado (Setembro 2018). Da direita para a esquerda tem-se, Professor
Carlos Alexandre Fernandes e acadêmico Allan Kardec Moreira de Aguiar.
Fig. 2. Localização do córrego Dourado pertencente a bacia do alto rio Paraná, onde os exemplares de
Gymnorhamphichthys britskii foram capturados. O círculo escuro indica o ponto da coleta.
As suspensões celulares foram obtidas de células extraídas do rim seguindo protocolo descrito
por Bertollo et al. 1978 e foram armazenadas em tubos eppendorf e guardadas no freezer, e por último
o material de todos os indivíduos coletados foram pingados de 5 -6 gotas em cada lâmina e coradas
com solução de Giemsa (5%). As análises dos cromossomos metafásicos foram realizadas em cada
lâmina correspondente e as melhores metáfases foram marcadas e fotografadas para montagem dos
cariótipos através do programa Adobe Photoshop CS6.
A identificação dos cromossomos foi feita de acordo ao critério de relação de braços (RB),
sugerida por Levan et al. (1964) e classificados como metacêntricos (m : RB = 1.00 a 1.70),
submetacêntricos (sm: RB = 1.71 a 3.00), subtelocêntricos (st: RB = 3.01 a 7.00) e acrocêntricos (a:
RB = maior que 7.01). A técnica de banda-C foi efetuada de acordo com a metodologia descrita por
Sumner (1972). Ag-RONs foram detectadas por coloração de nitrato de prata (AgNO3) seguindo o
método descrito por Howell e Black (1980).
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fig. 5. Metáfase somática de Gymnorhamphichthys britskii após marcação com nitrato de prata. As
setas indicam os cromossomos portadores de Ag-RONs.
Fig. 6 Metáfase somática (a) e o cariótipo (b) de Gymnorhamphichthys britskii após Banda-C.
Tabela 1. Dados cromossômicos em espécies da superfamília Rhamphichthyoidea. 2n = número diploide; NF = número fundamental; m = metacêntrico; sm
= submetacêntrico; st = subtelocêntrico; a = acrocêntrico; RONs = número de sítios de regiões organizadoras de nucléolos; t = terminal; c = centrômerica; pc =
pericêntromerica; i = intersticial.
cromossomos
Familia/espécies Localidade 2n NF Cariótipo Banda-C RONs Referências
sexuais
Hypopomidae
Almeida-Toledo
Hypopygus lepturus x 50 96 16m/20sm/10st/4a x x Ausente
et al. (1978)
Brachyhypopomus Almeida-Toledo
x 36 50 4m+2sm+8st+22a x x Ausente
brevisrostris et al. (1978)
Almeida-Toledo
Hypopomus artedi x 38 76 32m-sm / 6st-a x x Ausente
et al. (1978)
Afluente
Brachyhypopomus 41♂ / Almeida-Toledo
do rio 42 1m/41a♂ / 42a♀ (c) e (pc) 4 X1X2Y
pinnicaudatus 42♀ et al. (2000)
Tietê, SP.
Ramphichthyidae
bacia do
Mendes et al.
Rhamphichthys hahni alto Rio 50 94 20m-24sm / 6a (c). 2 Ausente
(2012)
Paraná
bacia do
Gymnorhamphichthys
alto Rio 38 62 14m+8sm+2st+14a (c) e (t) 2 Ausente Presente trabalho
britskii
Paraná
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos com este trabalho são inéditos e poderão ser de extrema
importância para auxiliar na identificação de novas espécies, e discussão das relações
evolutivas entre elas. Assim a variação do número diploide observado entre os G. britskii
(2n=38) e as espécies de Rhamphichthys (2n=50), indicam que rearranjos cromossômicos que
alteram o número diploide, como fusão e fissão cêntrica podem ter ocorrido durante a
diversificação da família Rhamphichthydae. Entretanto é necessario uma análise mais
diversificada destes peixes em diferentes localidades para obter dados que possibilite
comparar com os dados citogenéticos encontrados no presente trabalho em G.britskii da Bacia
da do Alto rio Paraná, verificando se o cariotipo de difentes localidades possui diferenças. Eis
porque tanto importa compreender a característica cromossomica desta espécie.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNANDES C.A., PAIZ L.M., BAUMGÄRTNER L., MARGARIDO V.P.; VIEIRA M.M.R.
Comparative cytogenetics of the black ghost knifefish (Gymnotiformes: Apteronotidae):
Evidence of chromosomal fusion and pericentric inversions in karyotypes of two Apteronotus
species. Zebrafish v.14:471-476, 2017.
GRAÇA, W. J.; PAVANELLI, C. S. 2007. Peixes da planície de inundação do alto rio Paraná e
áreas adjacentes. Maringá: Eduem, 241p.
GRIFFÍTHS, S.P. The use of clove oil as an anaesthetic and method for sampling intertidal
rockpool fishes. Journal of Fish Biology 57: 1453–1464, 2000.
JESUS, I. S.; FERREIRA, M.; GARCIA, C.; RIBEIRO, L. B.; ALVES-GOMES, J. A.;
FELDBERG, E. First cytogenetic description of Microsternarchus bilineatus (Gymnotiformes:
Hypopomidae) from Negro River (Brazilian Amazon). Zebrafish, v.13. 571–577,
2016. DOI:10.1089/zeb.2016.1281
SILVA, P. C.; NAGAMACHI, C. Y.; SILVA, D. S.; MILHOMEM, S. S. R.; CARDOSO, A. L.;
DE OLIVEIRA, J. A.; PIECZARKA; J. C. Karyotypic similarities between two species of
Rhamphichthys (Rhamphichthyidae, Gymnotiformes) from the amazon basin. Comparative
Cytogenetics, v. 7, n. 4, p.279-291, 2013.
____________________________ _______________________________
Assinatura Bolsista (digital) Assinatura Orientador(a) (digital)