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A trindade

Doutrina da Trindade
Deus é um, o pai é Deus.
A doutrina da bendita Trindade pode ser considerada de duas maneiras:

 Em primeiro lugar, a respeito da Sua revelação e o modo como é proposta nas


Escrituras, para nos direcionar ao autor, objeto e consumador da nossa fé, em nossa adoração e
obediência.
 Em segundo lugar, como ela está declarada e explicada, em termos, expressões e
proposições, sintetizado a partir de sua revelação original, adaptado e direcionado para guardar a
mente de compreensões indevidas das coisas que ela acredita, e declará-las, para maior edificação.

Quanta à primeira maneira, ela consiste simplesmente em proposições nas quais a revelação de
Deus é expressa nas Escrituras; e nesse assunto duas coisas são requeridas de nós:

 Primeiro lugar, entender os termos das proposições, como sendo enunciados da


verdade;
 Segundo lugar, acreditar nas coisas ensinadas, reveladas e declaradas neles.

Em um primeiro momento nada mais é requerido de nós, senão que consintamos com as
declarações e testemunhos de Deus concernentes a Ele próprio, de acordo com o sentido natural e
genuíno deles, sobre como Ele será conhecido, crido, temido e adorado por nós, sendo Ele nosso Criador,
Senhor e Galardoador e porque Ele mesmo, por Sua revelação, não só nos deu segurança para assim
proceder, mas também fez disso nosso dever necessário e indispensável.

Agora, a conclusão dessa revelação sobre o assunto é,

(1) que Deus é um;

(2) que esse Deus uno é Pai, Filho e Espírito Santo;

(3) que o Pai é o Pai do Filho; e o Filho, o Filho do Pai; e o Espírito Santo, o Espírito do Pai e do
Filho, e que, no que diz respeito a essa Sua relação mútua, Eles são distintos um do outro.

Essa é a substância da doutrina da Trindade, no que concerne ao interesse direto da fé.

A primeira intenção das Escrituras ao revelar Deus para nós é que O temamos, creiamos,
adoremos, obedeçamos e vivamos para Ele, como Deus. Que façamos isso de modo adequado e
adoremos ao único Deus verdadeiro, e não adoremos as falsas imaginações que criamos com nossas
próprias mentes. Como foi dito: Esse Deus é uno, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Pai é Deus; e, portanto, deve ser crido, adorado e obedecido, devemos viver para Ele e em todas
as coisas considera-lO como a causa primeira, Senhor soberano e o fim último de todas as coisas.

O Filho é Deus verdadeiro; e, portanto, deve ser crido, adorado e obedecido, devemos viver para
Ele e em todas as coisas considera-lO como a causa primeira, Senhor soberano e o fim último de todas as
coisas.

E assim também devemos considerar o Espírito Santo.


Essa é a suma da fé concernente a esse assunto, no que diz respeito a revelação direta de Deus
feita por Ele mesmo nas Escrituras, e o primeiro objetivo geral adequado.

Que isso seja claramente confirmado pelos divinos testemunhos positivos e diretos, contendo a
declaração e revelação de Deus sobre Ele mesmo, e a fé é defendida juntamente com tudo que concerne a
ela, pois isso tanto assegura seu objeto formal adequado quanto é suficientemente capaz de ser diretiva
no que diz respeito à adoração e à obediência a Deus.

A explicação dessa doutrina para edificação, apropriada para a revelação mencionada, é para outra
consideração; e duas coisas nos são incumbidas para nos atentarmos:

 Em primeiro lugar, que quando essa doutrina é afirmada e ensinada tende


diretamente para os fins da própria revelação, pela informação e iluminação da mente no
conhecimento desse mistério, tanto quanto somos capazes de compreendê-lo nessa vida que
estamos, pela assistência divina; e isso para que a fé seja aumentada, fortalecida e confirmada
contra as tentações e oposições de Satanás e de homens de mentes corrompidas; e que nós
possamos ser distintamente direcionados e encorajados na obediência e adoração a Deus que é
requerida de nós.
 Em segundo lugar, que nada seja afirmado ou ensinado que possa gerar ou
ocasionar uma indevida compreensão a respeito de Deus ou à nossa obediência a Ele, no que
concerne as melhores, mais altas e mais seguras revelações que nós temos de Deus e de nosso
dever.

Se essas coisas forem feitas e asseguradas, o objetivo dessa declaração da doutrina concernente a
Deus é alcançado.

Então, na declaração dessa doutrina para a edificação da igreja existe uma explicação mais
detalhada das coisas antes afirmadas, como propostas diretamente e em si mesmas como o objeto de
nossa fé, a saber: Deus é um, no que diz respeito à Sua natureza, substância, essência, divindade ou ser
divino; sendo Pai, Filho e Espírito Santo, Ele subsiste nessas três pessoas distintas ou hipóstases; e essas
são os Seus mútuos relacionamentos entre Si, pelas quais, na medida em que proporcionam as
particularidades de Suas propriedades e a maneira de Sua subsistência, são distintas umas das outras;
com várias outras coisas que são consequências necessárias da revelação mencionada.

Daí resulta que, quando a Escritura revela o Pai, o Filho e o Espírito Santo como sendo um só Deus
necessária e inevitavelmente segue que Eles são um em essência (pois somente nisso é possível sejam um)
e três em Suas subsistências distintas (pois somente nisso é possível que sejam três), isso não é menos
revelação divina do que o primeiro princípio de onde essas coisas são inferidas.

Esses são os aspectos em que a doutrina da Trindade se fundamenta, o método necessário de fé e


razão, na crença e na declaração dela, é claro e evidente:

 Primeiro. A revelação dela deve ser afirmada e vindicada, como se propõe ser crido,
para os fins mencionados. Como foi declarado, que existe um Deus; que esse Deus é Pai, Filho e
Espírito Santo; e assim como o Pai é Deus, assim é o Filho e assim é o Espírito Santo. Sendo isso
recebido e admitido pela fé, sua explicação é:
 Em segundo lugar, algo que deve ser insistido e não levado em consideração até que
os outros sejam admitidos. E aqui reside o procedimento absurdo daqueles que, falaciosa e
capciosamente se opõem a essa verdade sagrada: eles sempre começarão sua oposição, não pela
revelação, mas pela explicação dela, embora seja feita apenas para uma maior edificação. Suas
disputas e falácias serão contra a Trindade, essência, substância, pessoas, personalidade,
relacionamentos e propriedades das pessoas divinas, e contra os modos de expressar essas coisas;
enquanto a simples revelação bíblica das próprias coisas de onde elas são interpretativamente
deduzidas não é mencionada e nem admitida em confirmação.

Por esse meio, eles confundem muitas almas fracas e instáveis, as quais quando se deparam com
coisas muito altas, árduas e difíceis (coisas que eles podem encontrar rapidamente nos mistérios divinos)
no que diz respeito à explicação dessa doutrina, angustiam-se e buscam evitar a devida consideração da
revelação plena e clara do assunto em si feita pelas Escrituras; e isso eles fizeram até que suas tentações
fossem fortalecidas e sua escuridão aumentasse, e então já era tarde demais para retornarem ela, pois
agora trazem consigo as falácias a que antes foram predispostos ao invés da fé e da obediência que é
necessária. E ainda que todas essas explicações sejam dadas, elas são objetadas e não servem para
nenhuma consideração original quanto a esse assunto.

Que as revelações diretas e expressas da doutrina sejam confirmadas, e sua explicação será
confirmada por elas e não serão objetadas por aqueles que acreditam e recebem a revelação bíblica.
Deixem que a explicação da doutrina bíblica seja rejeitada, e eles cairão por si mesmos, e nunca serão
defendidos por aqueles que acreditam que a doutrina deve ser explicada. Mas dessas coisas devemos
tratar novamente depois.

Esse, portanto, é o caminho, o único caminho que nós podemos racionalmente, e que devemos,
percorrer para a afirmação e confirmação da doutrina da Santíssima Trindade que estamos considerando,
a saber, que apresentemos revelações ou passagens bíblicas com testemunhos divinos, em que a fé pode
descansar com segurança e concordância, que Deus é um; que esse Deus uno é Pai, Filho e Espírito Santo;
e então que o Pai é Deus, assim também o é o Filho e o Espírito Santo e, portanto, também devem ser
cridos, obedecidos, adorados, reconhecidos como a causa primeira e o fim último de todas as coisas —
nosso Senhor e galardão.

Se isso não for admitido, se mesmo uma pequena parte não for admitida ou for negada, então não
precisamos e nem temos segurança ou fundamento para prosseguir adiante, ou para falar sobre a unidade
da essência divina ou da distinção das pessoas. Não temos, portanto, nenhuma disputa original nesse
assunto com quaisquer outros, senão com aqueles que negam que Deus seja uno, ou que o Pai seja Deus,
ou que o Filho seja Deus, ou que o Espírito Santo seja Deus. Se alguém negar isso, estamos prontos para
confirmar essa verdade através de testemunhos suficientes da Escritura ou revelação divina clara e
inegável. Quando isso for evidenciado e vindicado, procederemos voluntariamente a manifestar que as
explicações usadas nessa doutrina para a edificação da igreja estão de acordo com a verdade e, assim, são
necessariamente exigidas pela natureza das próprias coisas. E isso nos dá o método do pequeno discurso
que se segue juntamente com as razões dele:

Deus é Um, o Pai é Deus

A primeira coisa que afirmamos ser entregue a nós pela revelação divina como objeto de nossa fé é
que Deus é uno . Eu sei que isso pode ser demostrado incontestavelmente pela luz da própria razão, com
uma certeza tão firme e silenciosa quanto a mente do homem é capaz de entender em qualquer de suas
apreensões. Contudo, eu me refiro ao modo como essa verdade nos foi confirmada pela revelação divina.
Como essa afirmação de que Deus é um se relaciona com a natureza, a essência ou o ser de Deus, será
declarado depois. No momento, basta apresentar as passagens das Escrituras que testemunham que Ele é
um, somente um. E porque não temos diferença com nossos adversários sobre esse assunto, eu citarei
apenas algumas passagens. “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Deuteronômio 6:4).
Um testemunho pleno, e como eu demostrarei em outra parte, a própria Trindade, no que diz respeito a
sua única essência divina, é afirmada aqui. “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos
Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus. Porventura há outro Deus fora
de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça” (Isaías 44:6-8). Aqui também podemos demostrar que
uma pluralidade de pessoas é incluída e expressa. E, embora não exista uma verdade mais absoluta e
sagrada do que essa, que Deus é um, contudo pode ser evidenciado que não está mencionado nas
Escrituras, tanto nas próprias palavras como no contexto do lugar, a exclusão de uma pluralidade de
pessoas devido a afirmação da unidade de Deus.

Em segundo lugar, é proposto como objeto de nossa fé, que o Pai é Deus . E aqui, como se afirma,
há também um acordo entre nós e aqueles que se opõem à doutrina da Trindade. Mas há um erro nesse
assunto. A sua hipótese — como eles a chamam, o que, na verdade, não passa de um erro presunçoso —
coloca em desordem e confusão todas as concepções que nos são dadas sobre Deus na Escritura. Pois o
Pai, como aquele a quem adoramos, muitas vezes é chamado assim apenas com referência ao Seu Filho;
assim como o Filho é assim chamado com referência ao Pai.

Ele é o “unigênito do Pai” (João 1:14). Mas, se esse Filho não tivesse pré-existência em Sua
natureza divina antes de nascer da virgem, não havia Deus, o Pai, há setecentos anos antes desse
acontecimento, pois também não havia Filho. E com base nisso, os antigos marcionitas [1] negaram
claramente que o Pai (que, sob o Novo Testamento, adoramos) é o Deus do Antigo Testamento, que fez o
mundo e foi adorado desde a sua fundação. Porque parece que aquele a quem adoramos como sendo o
Pai, e com essa suposição de que o Filho não tinha pré-existência antes de sua encarnação, não era o Pai
sob o Antigo Testamento; o Pai no Novo Testamento é algum outro provindo do Deus do Antigo
Testamento, e que foi revelado depois. Conheço a loucura dessa inferência; como os homens podem
provar que o Pai é se admitirem que o Filho passou a existir somente no tempo? “Quem persevera na
doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho”, mas “todo aquele que prevarica, e não persevera
na doutrina de Cristo, não tem a Deus” (2 João 1:9). Quem nega Cristo o Filho, como o Filho, isto é, o
eterno Filho de Deus, também não tem o Pai e nem o Deus verdadeiro; tal pessoa não tem Deus. Pois o
deus que não é e nunca foi o Pai, não é o Deus verdadeiro. Por isso, muitos dos patriarcas, mesmo os
primeiros escritores da igreja, foram forçados a envidar grandes esforços para a confirmação dessa
verdade, que o Pai de Jesus Cristo foi aquele que fez o mundo, deu a lei, falou pelos profetas e foi o autor
do Antigo Testamento; eles tiveram que se opor a homens que professaram ser cristãos. E esse
entendimento embrutecido deles não surgiu de outro princípio senão deste: que o Filho teve apenas uma
existência temporal e não era o eterno Filho de Deus.

Mas devo fazer um digressão neste breve discurso para tratar de outras controvérsias além
daquela que aqui nos propomos; no que concerne aos adversários da verdade que agora defendemos, pelo
menos em palavras, eles admitem que o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus verdadeiro, ou o único
Deus verdadeiro, não vou mais mostrar a inconsistência de sua hipótese com essa confissão, mas tomar
por certo que “para nós há um só Deus, o Pai” (1 Coríntios 8:6; veja João 17:3). Pois aquele que não é o Pai,
que não foi assim desde a eternidade, cuja paternidade não é igualmente coexistente à sua deidade, não é
Deus para nós.

Jesus Cristo é Deus, O Eterno Filho de Deus

É afirmado e crido pela Igreja que Jesus Cristo é Deus, o eterno Filho de Deus ; ou seja, Ele é
proposto, declarado e revelado para nós na Escritura como sendo Deus, que deve ser servido, adorado,
crido, obedecido como Deus, por conta de Suas próprias excelências divinas . E enquanto cremos e
sabemos que Ele era homem, que nasceu, viveu e morreu como homem, é declarado que Ele também é
Deus; e que, como Deus, preexistiu na forma de Deus antes de Sua encarnação, que aconteceu por Suas
próprias ações voluntárias — o que não poderia ser sem que Ele possuísse uma préexistência em outra
natureza. Isso é proposto para que possamos crer no testemunho divino e pela revelação divina. E a única
pergunta sobre esse assunto é: isso é proposto na Escritura como um objeto de fé, é indispensavelmente
necessário para nós crermos nisso? Permitam-nos, então, claramente atentarmos ao que a Escritura
afirma sobre esse assunto, seguindo a ordem dos seus livros, citando algumas passagens que agora me
vêm à mente; passagens como estas:

Salmos 45:6: “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de
equidade”. Isso é aplicado a Cristo em Hebreus 1:8: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos
séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino”.

Salmos 68:17-18: “Os carros de Deus são vinte milhares, milhares de milhares. O Senhor está entre
eles, como em Sinai, no lugar santo. Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os
homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles”. Isso é aplicado ao Filho em
Efésios 4:8-10: “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. Ora, isto —
ele subiu — que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que
desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas”.
Salmos 110:1: “Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os
teus inimigos por escabelo dos teus pés”. O próprio Cristo aplicou isto a si mesmo em Mateus 22:44.

Salmos 102:25-27: “Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles
perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e
ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim”. O apóstolo declara, em Hebreus
1:10-12, que isso se refere ao Filho.

Provérbios 8:22-31: “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de
suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. Quando ainda não
havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas. Antes que os montes se
houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada. Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos,
nem o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte
sobre a face do abismo; quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo, quando
fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os
fundamentos da terra. Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias,
alegrando-me perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de
prazer com os filhos dos homens”.

Isaías 6:1-3: “Eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu
manto enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os
seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo:
Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. Isso é aplicado ao
Filho em João 12:41.

Isaías 8:13,14: “Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso
assombro. Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às
duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém”. Isso é aplicado ao Filho em Lucas
2:34, Romanos 9:33 e 1 Pedro 2:8.

Isaías 9:6: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus
ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da
Paz”.
Jeremias 23:5-6: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo... e
este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA”.

Oséias 12:3-5: “No ventre pegou do calcanhar de seu irmão, e na sua força lutou com Deus. Lutou
com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou; em Betel o achou, e ali falou conosco, sim, o Senhor, o
Deus dos Exércitos; o Senhor é o seu memorial”.

Zacarias 2:8-9: “Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Depois da glória ele me enviou às nações
que vos despojaram... assim sabereis vós que o Senhor dos Exércitos me enviou”.

Mateus 16:16: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

Lucas 1:35: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra;
por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”.

João 1:1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”.

João 1:14: “E vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai”.

João 3:13: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no
céu”.

João 8:57-58: “Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Disse-
lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”.

João 10:30: “Eu e o Pai somos um”.

João 17:5: “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo
antes que o mundo existisse”.
João 20:28: “E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!”.

Atos 20:28: “A igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.

Romanos 1:3-4: “Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dentre os mortos,
Jesus Cristo, nosso Senhor”.

Romanos 9:5: “Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos,
Deus bendito eternamente. Amém”.

Romanos 14:10-12: “Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. Porque está
escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, e toda a língua confessará a
Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”.

1 Coríntios 8:6: “E um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele”.

1 Coríntios 10:9: “E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram, e pereceram
pelas serpentes”, comparado com Números 21:6.

Filipenses 2:5,6: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”.

Colossenses 1:15-17: “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque
nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam
dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de
todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”.

1 Timóteo 3:16: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em
carne”.
Tito 2:13-14: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande
Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós”.

Hebreus 1, todo o capítulo.

Hebreus 3:4: “Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é
Deus”.

1 Pedro 1:11: “Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava
neles, indicava”.

1 Pedro 3:18-20: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados... mortificado, na
verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os
quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé”.

1 João 3:16: “Conhecemos o amor de Deus: que ele deu a sua vida por nós”. (versão do autor)

1 João 5:20: “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para que
conheçamos ao Verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna”.

Apocalipse 1:8: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que
há de vir, o Todo-Poderoso”.

Apocalipse 1:11-13: “Que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês,
escreve-o num livro... E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e
no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem”.

Apocalipse 1:17: “E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra,
dizendo-me: Não temas; eu sou o primeiro e o último”.
Apocalipse 2:23: “Eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo
as vossas obras”.

Estas são algumas passagens em que a verdade em consideração é revelada e declarada, algumas
das passagens bíblicas que registram testemunhos divinos pelas quais ela é confirmada e estabelecida.
Não citei todas as passagens que poderiam ser citadas, mas escrevi conforme vinham repentinamente à
mente. Podem acrescentar-se muitas outras de natureza e importância semelhantes, e o serão assim que
a ocasião o exija.

Deixe, agora, que qualquer um que considera a Escritura como sendo a Palavra de Deus —
consistindo numa revelação infalível de coisas propostas para serem cridas — e que tem alguma
consciência para com Deus, receber e submeter-se ao que ela declara e revela. Que tal pessoal observe
esses testemunhos bíblicos e considere se eles não propõem suficientemente esse objeto de nossa fé. Que
sofismas pobres e insignificantes podem, mesmo todos juntos, se oporem aos múltiplos testemunhos do
Espírito Santo e tirar deles seu crédito e reputação quanto à verdade confirmada por eles nas consciências
dos homens? De minha parte, vejo apenas que os testemunhos dados em favor da divindade de Cristo, o
eterno Filho de Deus, são em todos os aspectos tão claros e inquestionáveis como aqueles que
testemunham o ser de Deus ou que realmente exista um Deus. Se os homens estivessem familiarizados
com as Escrituras como deveria ser e como a maioria, considerando os meios e as vantagens que tiveram,
poderia ter sido, então eles ponderariam e acreditariam do que lessem, ou teriam alguma sensibilidade
em suas consciências quanto à reverência, obediência e sujeição da alma que Deus exige para com a Sua
Palavra. Seria absolutamente impossível que sua fé nessa questão fosse abalada por alguns sofismas
obscuros ou tumultos barulhentos provocados por homens destituídos da verdade e do espírito dela.

Para que possamos agora desenvolver esses testemunhos bíblicos até o seu fim designado, à
medida que seja permitido por esse breve discurso, primeiro refutarei as respostas gerais que os
socinianos [2] lhes dão e, depois, demostrarei como estão obstinados, respondendo às objeções frívolas
de algumas pessoas, e de uma em particular. E estamos prontos, se Deus ajudar, a sustentar que não há
nenhum testemunho na Palavra de Deus que não dê um fundamento suficiente para que a fé repouse
nesse assunto a favor da deidade de Cristo e contra todos os socinianos do mundo.

Eles dizem comumente que não provamos por esses testemunhos o que é negado por eles. Pois
eles reconhecem que Cristo é Deus , e isso porque Ele é exaltado para tal glória e autoridade a ponto de
que todas as criaturas são sujeitas a Ele, e todos, homens e anjos, são ordenados a louva-lO e adora-lO.
Então, Cristo é Deus por oficio, embora não seja Deus por natureza. Ele é Deus, mas não é o Deus
altíssimo. E esta última expressão eles quase continuamente mantêm em suas bocas: “Ele não é o Deus
altíssimo”. E comumente, com grande contenda e desprezo, eles estão prontos para repreender aqueles
que confirmarem firmemente a doutrina da deidade de Cristo como alguém ignorante do estado da
controvérsia, na medida em que tal pessoa não provou que Jesus Cristo é o Deus altíssimo , pois eles
reconhecem que Cristo é Deus e que deve ser adorado com adoração divina e religiosa, embora não seja o
Deus altíssimo, mas antes esteja subordinado a Ele.

Mas não pode haver nada mais vazio e vão do que esses pretextos; e, além disso, acumulam neles
os seus erros anteriores e ainda adicionam novos erros. Pois,

Primeiro. O nome de o Deus altíssimo é primeiramente atribuído a Deus em Gênesis 14:18, 19, 22
denotando a sua soberania e domínio. Agora, como outros atributos de Deus, esse não é distintivo do
sujeito, mas apenas descritivo dele. Assim são todas as outras excelências da natureza de Deus. Isso não
denota que existam outros deuses, mas apenas que Ele é o altíssimo, ou seja, um que é sobre todos, que o
Deus verdadeiro é o mais alto, isto é, dotado de poder soberano, domínio e autoridade sobre todos. Então
dizer que Cristo verdadeiramente é Deus, mas não o Deus altíssimo, é o mesmo que dizer que Ele é Deus,
mas não o Deus santíssimo ou que Ele não é o Deus verdadeiro ; e assim introduziram o seu Cristo ao
número dos deuses falsos, visto que eles negam o verdadeiro Cristo, que, em Sua natureza divina, é “sobre
todos, Deus bendito eternamente” (Romanos 9:5), essa é uma frase que expressa perfeitamente Seu
atributo de Deus altíssimo .

Em segundo lugar. Essa resposta é adequada apenas às passagens bíblicas que expressam o nome
de Deus com possuindo um poder e autoridade correspondentes em si; pois, em referência a esses
somente é que pode ser pleiteado, com qualquer pretexto de razão, que Cristo é um Deus por ofício —
embora isso também seja feito de forma muito fútil e impertinente. Mas a maioria dos testemunhos
bíblicos citados fala diretamente de Suas excelências e propriedades divinas, que pertencem a Sua
natureza de forma necessária e absoluta. E o fato de que Ele é eterno, onipotente, imenso, onisciente,
infinitamente sábio; e que Ele é, e opera e produz efeitos adequados a todas essas propriedades, tal como
nada pode capacita-lO a fazer, senão Ele mesmo; é provado abundantemente pelos testemunhos bíblicos
citados anteriormente. Ora, tudo isso diz respeito a uma natureza divina , uma essência natural, uma
divindade, e não a tal poder ou autoridade com os quais um homem possa ser exaltado; sim, atribuir
qualquer alguma dessas coisas a um homem implica a maior contradição que pode ser expressada.

Em terceiro lugar. Esse tal Deus em autoridade e de ofício, e não por natureza, que deveria ser
objeto de adoração divina, é antes uma nova abominação. Pois são as excelências divinas essenciais que
são a razão formal e o objeto da adoração religiosa e piedosa; e é idolatria atribuir alguma excelência
divina essencial a alguém que não é Deus por natureza . Ao fazer, portanto, do seu cristo tal deus como
eles descrevem, eles o trazem sob a severa ameaça do Deus verdadeiro: “Os deuses que não fizeram os
céus e a terra desaparecerão da terra e de debaixo deste céu” (Jeremias 10:11). Eles dizem que o Cristo que
adoram é um Deus; mas negam que Ele é “aquele Deus que fez os céus e a terra”, e assim o expõe às
ameaças dAquele que as fez e irá cumpri-las plenamente.

Há algumas outras objeções gerais que às vezes eles usam, as quais o leitor poderá se livrar de
emaranhar-se nelas, se ele atentar para as seguintes regras:

Primeira. A distinção de pessoas que existem em uma substância infinita, não prova de maneira
nenhuma que haja diferença de essência entre o Pai e o Filho. Portanto onde é dito que Cristo, sendo o
Filho, é diferente do Pai, ou Deus, não há qualquer mínima argumentação de que Cristo não é participante
da mesma natureza com Deus. Dizer que em uma só essência pode haver apenas uma pessoa pode ser
verdadeiro onde a substância é finita e limitada, mas não o é quando ela é infinita.

Segunda. A distinção e não igualdade de Cristo no que diz respeito ao ofício não retira Sua
igualdade e semelhança com o Pai em relação à natureza e à essência (Filipenses 2:7-8). Um filho que
compartilha da mesma natureza de seu pai e que é, portanto, igual a ele, pode, em seu ofício, ser seu
inferior e sujeitar-se a ele.

Terceira. A exaltação de Cristo como mediador para qualquer dignidade, sobre ou em referência à
obra de nossa redenção e salvação, não é de modo algum inconsistente com a honra, dignidade e valor
que Ele tem em Si mesmo como Deus bendito eternamente. Embora Ele tenha Se humilhado e tenha sido
exaltado no que que diz respeito ao ofício , contudo, em relação à natureza , Ele continuou um e o mesmo;
Ele não mudou.

Quarta. As Escrituras, enquanto afirmam a humanidade de Cristo, com aquilo que é inerente a isso,
bem como Seu nascimento, vida e morte, não mais negam a deidade do que, por afirmar a Sua deidade,
com suas propriedades essenciais, elas negam Sua humanidade.

Quinta. O fato de Deus operar em e por Cristo à medida que Ele foi o mediador, denota a
nomeação soberana do Pai das coisas designadas a serem feitas, e não a Sua eficiência imediata na
realização das próprias coisas.

Essas regras foram propostas um pouco antes do seu devido momento no método que usamos.
Mas pensei em colocá-las aqui porque elas dão uma base suficiente para a resolução e resposta de todos
os sofismas e objeções que os adversários da doutrina da Trindade usam em sua causa.
A partir da nuvem de testemunhos contidos nas passagens citadas anteriormente, cada um dos
quais é suficiente para evitar a infidelidade sociniana, escolherei uma passagem em particular para
demonstrar tanto a clareza da evidência bíblica quanto a fraqueza das objeções que costumam ser usadas
contra ela, a passagem é João 1:1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi
feito se fez”.

Aqui por Verbo, ou ὁ Λόγος, ou como quer que seja chamado, seja como a Palavra eterna e a
Sabedoria do Pai ou como o grande Revelador da vontade de Deus para nós, Jesus Cristo o Filho de Deus é
que é intencionado. Isso é reconhecido por todos; e o contexto não admitirá nenhuma hesitação sobre
isso. Porque desse Verbo é dito, que “estava no mundo” (v. 10); “Foi rejeitado pelos seus” (v. 11); “Se fez
carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai” (v. 14); é chamado
expressamente de “Jesus Cristo” (v. 17) e de “o Filho unigênito, que está no seio do Pai” (v. 18). Então, o
assunto tratado aqui é um consenso; e não é menos evidente que é o desígnio do apóstolo declarar a
respeito de quem Ele escreve tanto o quem quanto o que Ele era. Aqui, então, como em nenhum outro
lugar, nós podemos aprender sobre o que devemos crer em relação à pessoa de Cristo; o que também
podemos certamente fazer, se nossas mentes não estiverem pervertidas para nosso próprio prejuízo, pois
“o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4:4).

Desse Verbo, ou Filho de Deus, afirma-se que “estava no princípio”. E essa expressão, se não
demonstrar de forma absoluta e formal a eternidade, no mínimo expressa Sua pré-existência anterior à
toda a criação, o que equivale ao mesmo; porque nada pode preexistir antes de todas as criaturas, senão
na natureza de Deus, que é eterna; a menos que venhamos a supor a existência de uma criatura anterior a
qualquer criação. Mas o que se entende por essa expressão é o que as Escrituras noutro lugar declaram:
“Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra” (Provérbios 8:23). “E agora
glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo
existisse” (João 17:5). Ambas passagens, como eles mesmos a explicam, também testificam
inegavelmente da eterna pré-existência do Cristo, o Filho de Deus.

E nesse caso prevalecemos contra nossos adversários, se provarmos qualquer pré-existência de


Cristo até Sua encarnação; admitir isso, embora eles absolutamente o neguem, destruiria toda a sua
heresia nesse assunto. E, portanto, eles sabem que o testemunho de nosso Salvador sobre Si mesmo, se
entendido conforme o sentido apropriado e inteligível, é perfeitamente destrutivo de suas pretensões:
“antes que Abraão existisse, eu sou ” (João 8:58). Não haveria um sentido próprio nessas palavras, mas um
equívoco grosseiro, se a existência de Cristo antes de Abraão nascer não for afirmada nelas (visto que
Cristo as falou em resposta a esta objeção dos judeus: que ele ainda não tinha nem cinquenta anos, e
assim não poderia ter visto Abraão, nem Abraão a Ele, e os judeus que estavam presentes entenderam
suficientemente que Cristo afirmava sobre uma preexistência divina até o Seu nascimento, tanto aqueles
judeus do passado como os do presente; em seguida, eles pegaram em pedras para apedrejá-lo, supondo
que Cristo houvesse blasfemado por afirmar Sua deidade, como outros agora a negam) no entanto, eles,
os socinianos, vendo quão factual é essa preexistência, embora não a afirmem absolutamente como
eterna, contudo, afirmam que o significado das palavras de João 8:58 é que “Cristo era a luz do mundo
antes que Abraão fosse feito o pai de muitas nações” — essa é uma interpretação tão absurda que jamais
qualquer homem que não esteja enfatuado pelo deus deste mundo poderia admitir.

Entretanto “no princípio”, como absolutamente usado, é o mesmo que “desde a eternidade”,
como é dito em Provérbios 8:23, e denota uma existência eterna; é isso que é aqui afirmado acerca do
Verbo, o Filho de Deus. Mas que a palavra “princípio” seja restringida ao assunto tratado (que é a criação
de todas as coisas) e a pré-existência de Cristo na Sua natureza divina para a criação de todas as coisas é
claramente revelado e, inevitavelmente, afirmado. E, de fato, não só a palavra, mas o discurso desses
versículos, se relaciona claramente e expõe o primeiro versículo da Bíblia: “No princípio criou Deus o céu e
a terra” (Gênesis 1:1). Ali é afirmado que, no princípio, Deus criou todas as coisas; aqui, que o Verbo estava
no princípio e fez todas coisas. Isso, portanto, é o mínimo que obtivemos com essa primeira palavra da
nossa passagem bíblica, a saber, que o Verbo ou o Filho de Deus possuía uma pré-existência pessoal em
relação a toda a criação . Em que natureza, de criador ou de criatura, Cristo já existia? Que os homens
inteligentes respondam para si mesmos, pois sabem que o Criador e as criaturas são seres que possuem
natureza, embora diferentes. Uma delas Ele deve ser, e pode muito bem ser suposto que Ele não era uma
criatura antes da criação de qualquer delas.

Mas, em segundo lugar, onde ou com quem, estava esse Verbo no princípio? “Estava”, diz o
Espírito Santo, “com Deus”. Antes de existir qualquer criatura, Ele não poderia estar em lugar algum, além
de estar com Deus, isto é, o Pai, como é expresso em um dos testemunhos bíblicos já citados: “O Senhor
me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras... Então eu estava com ele,
e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo” (Provérbios
8:22, 30), ou seja, no princípio, esse Verbo, ou Sabedoria de Deus, estava com Deus.

E isso é o mesmo que nosso Senhor Jesus afirma sobre Si mesmo em João 3:13: “Ora, ninguém”,
diz Ele, “subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu”. E, em outras
passagens, Ele afirma que está no céu, isto é, com Deus, ao mesmo tempo em que Ele estava na terra;
através disso Cristo declara a imensidão de Sua natureza e a distinção de Sua pessoa; e a Sua descida do
céu antes de Se encarnar na terra declara a Sua pré-existência; por essas duas coisas é manifesto o
significado dessa expressão: “No princípio Ele estava com Deus”. Mas em relação a isso os que discordam
dessas verdades inventaram uma notável evasão. Pois, embora eles não saibam bem o que fazer com a
última cláusula dessas palavras, que diz que o Senhor Jesus estava nos céus mesmo enquanto falava e
estava na terra, “o Filho do homem, que está no céu”, o que é coerente com a descrição da imensidão de
Deus feita pelo profeta Jeremias “Não preencho o céu e a terra? Disse o Senhor” (23:24), mas eles dizem
que o Senhor Jesus estava no céu pela meditação celestial , como outro homem pode estar. No entanto,
eles dão uma resposta muito clara sobre o que deve estar incluído em Sua descida do céu — ou seja, Ele foi
da pré-existência para a encarnação — pois eles nos dizem que, antes de Seu ministério público, Ele foi em
Sua natureza humana (o que é tudo o que Lhe permitem) arrebatado para o céu, onde foi ensinado sobre
Evangelho, como o grande impostor Maomé fingiu ter sido ensinado ali sobre o Alcorão. Se você
perguntar quem lhes disse isso, eles não podem dizer; mas podem dizer quando isso aconteceu, a saber,
quando Ele foi conduzido pelo Espírito ao deserto durante quarenta dias, após o Seu batismo. Entretanto,
essa interpretação da passagem está comprometida; pois um dos evangelistas afirma claramente que
Cristo esteve “aqueles quarenta dias no deserto com os animais selvagens” (Marcos 1:13), e, com certeza,
Ele não estava no céu com essa mesma natureza, isto é, em presença física, com Deus e Seus santos
anjos.

E me permitam acrescentar a essa interpretação de João 1:1, mencionada a seguir, e as duas


passagens mencionadas anteriormente, João 8:58 e 3:13, o fato de que Fausto Socino aprendeu dos
escritos de seu tio Lælius, [3] como ele confessa; e faz mais do que insinuar que ele acreditava que recebeu
esses ensinos, por assim dizer, por revelação. E pode ser então que eles sejam realmente tão dissimilados,
ilógicos e irracionais, que nenhum homem poderia lhes ensinar algo por meio de qualquer investigação
razoável; mas o autor dessas revelações, se pudermos julgar o pai pelo filho, não pode ser outro senão o
espírito do erro e da escuridão. Suponho, portanto, que, apesar dessas objeções, os cristãos crerão que
“no princípio o Verbo estava com Deus”, ou seja, que o Filho estava com o Pai, como é comumente
declarado em outras passagens das Escrituras.

Mas quem era esse Verbo? Diz o apóstolo, Ele era Deus . Ele estava com Deus (isto é, o Pai), como
Ele próprio era Deus também; Deus, no sentido de Deus que a natureza e a Escritura representam; não um
deus por ofício, um deus exaltado a essa dignidade (que não pode ser entendida como se estendendo para
antes da criação do mundo), mas como Tomé o confessou: “Senhor meu, e Deus meu!” (João 20:28); ou
como Paulo o expressa: “O qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Romanos 9:5), ou o Deus
altíssimo ; que esses homens amam negar. Que apenas a infidelidade dos homens, inflamada pela astúcia
e malícia de Satanás, não busque argumentações absurdas, e essa questão é determinada; se a Palavra e o
testemunho de Deus ainda forem capazes de determinar uma disputa entre os filhos dos homens. Aqui
está a resumo do nosso credo nesse assunto: “No princípio, o Verbo era Deus”, e assim continua até a
eternidade, sendo o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o Senhor Deus todo-poderoso.

E para mostrar que Ele era Deus no princípio, assim como ele também era distinto de Deus Pai, por
Quem depois foi enviado ao mundo, João acrescenta: “Ele estava no princípio com Deus” (1:2). Além
disso, para evidenciar o que Ele afirmou e revelou para que nós acreditássemos, o Espírito Santo
acrescenta uma declaração firme tanto de Sua deidade eterna quanto de Seu cuidado imediato com o
mundo (o que Ele exerceu de diversas maneiras, tanto em forma de providência como de graça): “Todas
as coisas foram feitas por ele” (v. 3). Ele estava no princípio, antes de tudo, assim como foi Ele quem criou
todas as coisas. E para que não venham a supor que o “todas as coisas” que Ele é dito ter criado ou feito
deveria ser limitado a algum tipo de coisas, o apóstolo acrescenta que “sem ele nada do que foi feito se
fez”, o que confere uma universalidade absoluta quanto ao que é afirmado na primeira parte do versículo
3.

Ele, João, faz ainda outras descrições sobre isso: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele” (v.
10). Geralmente o mundo criado é descrito na Escrituras como “os céus e a terra, e todas as coisas que
neles há”, como é afirmado em Atos 4:24: “Senhor, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar e tudo
o que neles há”, ou seja, o mundo, cuja criação é expressamente atribuída ao Filho: “Tu, Senhor, no
princípio fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos” (Hebreus 1:10). E o apóstolo Paulo, para
assegurar nosso entendimento com respeito a esse assunto, enfatiza que até mesmo as partes mais
nobres da criação foram feitas por Ele: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na
terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi
criado por ele e para ele” (Colossenses 1:16). Os socinianos dizem, de fato, que o Senhor Jesus fez os anjos
serem potestades e principados, isto é, Ele lhes deu sua ordem, mas não a sua existência . Mas isso é
expressamente contrário às palavras do texto; é por coisas como essas que não sabemos bem o que dizer
a essas pessoas, que, com prazer, rejeitam a autoridade de Deus em Sua Palavra: “Porque nele foram
criadas todas as coisas que há nos céus e na terra”.

Que palavras poderiam ser usadas para comunicar uma revelação divina do poder eterno e da
divindade do Filho de Deus de forma mais clara e simples para os filhos dos homens? Ou como a verdade
de qualquer coisa que é muito evidente poderia ser representada em suas mentes? Se não entendermos a
mente de Deus e a intenção do Espírito Santo nesse assunto, não podemos ter esperança de chegarmos
ao conhecimento de qualquer outra coisa que Deus nos revele, e nem mesmo de qualquer outra coisa que
seja expressa ou que esteja para ser expressa por meio de palavras. É dito diretamente que o Verbo (que é
Cristo, como é reconhecido por todos) “estava com Deus”, era distinto dEle; e “era Deus”, era um com Ele;
que Ele estava “no princípio”, antes da criação, que Ele “fez todas as coisas”, o mundo, tudo que há no céu
e na terra; e se Ele não é Deus, quem é? A soma de tudo isso é: Todos meios pelos quais podemos
conhecer Deus são: Seu nome, Seus atributos e Suas obras; mas todos esses são aqui atribuídos pelo
Espírito Santo ao Filho, ao Verbo, e Ele, portanto, é Deus, ou não sabemos quem e o que Deus é.

Mas dizem os socinianos: “Essas coisas são bem diferentes, e as palavras contêm mais sentidos do
que você imagina”. E qual é o sentido dessas palavras? Nós não impomos ou forçamos nenhum sentido
sobre elas, não distorcemos qualquer dessas palavras, mas as tomamos em seu significado natural e
genuíno, de acordo com o modo como são usadas constantemente na Escritura e uso comum entre os
homens. Qual é, então, esse sentido subentendido e que é revelado apenas por eles mesmos? Vamos
ouvi-los forjando e criando esse seu sentido.

Primeiro, eles dizem que, “no princípio”, não é o começo de todas as coisas , nem a criação delas,
mas o início da pregação do Evangelho. Mas por que? Em qualquer outro local em que essas palavras são
usadas nas Escrituras elas denotam o início de todas as coisas, ou a eternidade, ou uma existência que
precede sua criação. “No princípio criou Deus o céu e a terra” (Gênesis 1:1). “Desde a eternidade fui
ungida, desde o princípio, antes do começo da terra” (Provérbios 8:23). “Tu, Senhor, no princípio fundaste
a terra, e os céus são obra de tuas mãos” (Hebreus 1:10). E além disso, essas palavras nunca são usadas em
qualquer lugar para denotar o início do Evangelho. Há, de fato, uma menção de “princípio do Evangelho
de Jesus Cristo” (Marcos 1:1), que faz referência à pregação de João Batista, mas aqui a expressão “no
princípio”, tomada de forma absoluta, nunca é usada ou aplicada; e eles devem encontrar homens que
estejam tão inclinados a apoiálos nessa questão de tão grande importância a ponto de seguirem seus
próprios desejos e renunciarem ao sentido das palavras que é natural, apropriado e definido pelo seu uso
constante na Escritura, quando aplicado no mesmo modo, e abraçarem uma interpretação que extraí da
Escritura um sentido forçado e destorcido, algo do que jamais é exemplificado sequer uma só vez em todo
o livro de Deus. “Mas as palavras”, dizem eles, “devem ser restringidas ao assunto que está sendo
tratado”. Bem, qual é esse assunto? “ A nova criação, pela pregação do Evangelho ”. Mas isso é
claramente falso; nem as palavras permitirão tal sentido, e nem a zombaria e nem qualquer coisa que
possam tentar pode provar essa corruta perversão das palavras, a menos que haja também uma perversão
ainda maior das outras passagens menos claras do que essa. Pois de acordo com essa interpretação qual é
o significado destas palavras: “No princípio era o Verbo”? “Essas palavras fazem referência a quando João
Batista pregou e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus’, esse foi, de modo significativo, o princípio do Evangelho
— então Ele era”. Ou seja, Ele era quando Ele era, sem dúvida! Não é uma maneira notável de interpretar
as Escrituras essa que é praticada por esses grandes dissimuladores que pretendem impor uma ditatura
sobre a razão, esses mascates de sofismas? Mas para continuar com eles nessa suposição, perguntamos:
como Ele estava com Deus, isto é, como “o Verbo estava com Deus”? “Isso significa”, dizem eles, “que
então Ele era conhecido apenas por Deus, até que João Batista O pregasse no princípio”. Mas o que irá nos
compelir a admitir essa interpretação e exposição grosseiras: “‘Ele estava com Deus’, ou seja, Ele era
conhecido apenas por Deus”? O que há de peculiar aqui? A respeito de quantas coisas mais isso poderia
ser afirmado? Além do mais, isso é absolutamente falso . Nosso Senhor Jesus Cristo era conhecido do anjo
Gabriel, que veio até a Sua mãe com a mensagem de Sua encarnação (Lucas 1:35). Ele era conhecido dos
dois anjos que apareceram aos pastores após Seu nascimento (Lucas 2:9), era conhecido de todas hostes
celestiais reunidas para louvar e glorificar a Deus por causa de Seu nascimento, como também era
conhecido por aqueles que vieram adorá-lO e prestar o tributo que Lhe era devido. Ele era conhecido por
Sua mãe (Lucas 2:10, 13, 14), a virgem abençoada, e por José , Zacarias , Isabel , Simeão , Ana , João
Batista e provavelmente também era conhecido por mais pessoas com quem Simeão e Ana falaram
(Lucas 2:38). De modo que a interpretação distorcida e pervertida que eles alegam extrair dessas palavras,
contrariando o seu próprio significado e intenção, é de fato falsa e frívola, e totalmente inadequada a elas.
Mas deixemos isso para trás, e sigamos adiante. O que devemos dizer sobre as seguintes palavras:
“E o Verbo era Deus”? Permita-nos apenas acreditar nessa expressão, que compreende uma revelação de
Deus, proposta a nós com a intenção de que creiamos nela, e sim assim o fizermos, haverá, como foi dito,
o fim dessa disputa. Sim, mas dizem eles: “Essas palavras têm outro sentido também”. Estranho! Elas
parecem ser tão simples e positivas, que é impossível que qualquer outro sentido seja suposto para elas,
senão apenas este: que a Palavra estava no princípio e era Deus; e, portanto, assim permanece, a menos
que aquele que uma vez foi Deus possa deixar de sê-lo. “Mas o significado dessa expressão é que depois
Deus O exaltou e fez dEle Deus, à medida em que Lhe concedeu o governo , a autoridade e o poder ”.
Fazer dEle Deus é uma expressão muito ofensiva para os ouvidos de todos os cristãos sóbrios, e, portanto,
um absurdo. Se juntarmos esse tipo de afirmação como todas as outras invenções como se juntássemos
fios o que teríamos ao afinal seria apenas uma corda de areia. No princípio do Evangelho Ele era Deus,
antes que alguém O conhecesse senão Deus, ou seja, depois de ter pregado o Evangelho, morrido,
ressuscitado e sido exaltado à destra de Deus, Ele foi feito Deus, mas isso é algo absolutamente
impossível, a menos que distorçamos o sentido das palavras! Como eles provam, então, que essa
insensatez absurda é o sentido dessas palavras simples? Eles dizem que deve ser assim. Deixe acreditar
neles os que estão dispostos a perecerem com eles.

Até agora, este é o sentido que eles atribuem às palavras: por um lado dizem que a expressão “no
princípio” significa cerca de dezesseis ou dezessete séculos atrás e que o significado de “o Verbo” é a
natureza humana de Cristo antes de se tornar carne, o que Ele era em Sua essência, e que “estava com
Deus” significa que Ele era conhecido apenas por Deus; e, por outro lado dizem que a expressão “no
princípio”, significa que depois, não no princípio, Ele foi feito Deus! — esse é o resumo de sua exposição
dessa passagem. Mas o que devemos dizer sobre o que afirmado sobre o fato dEle ter criado todas as
coisas, de modo que, sem Ele, isto é, sem a Sua criação, nada do que foi feito se fez; especialmente vendo
que essas “todas as coisas” são expressamente o mundo (João 1:10), e todas as coisas contidas no céu e na
terra? (Colossenses 1:16). Um homem comum pensaria que agora estariam encurralados e que não
haveria como eles escaparem da clareza dessa resposta; mas eles estão precavidos contra isso. Eles
respondem que por “todas as coisas” devemos entender todas as coisas que são referentes ao Evangelho:
a pregação dele e o envio dos apóstolos para pregar e declarar a vontade de Deus; e por “mundo”,
devemos entender o mundo por vir, ou o novo estado das coisas sob o Evangelho. Essa é a substância do
que é alegado pelos maiores mestres entre eles quanto a esse assunto, e, portanto, eles não se
envergonham de pleitear.

E o leitor, nesse caso, pode facilmente discernir quão desesperada é a causa em que eles estão
envolvidos e quão ousados e desesperados estão ao lidar com ela. Pois:
Em primeiro lugar, as palavras são uma ilustração simples da natureza divina do Verbo, por Seu
poder e obras divinas, como a própria sequência delas declara. Ele era Deus, e Ele fez todas as coisas: “O
que edificou todas as coisas é Deus” (Hebreus 3:4).

Em segundo lugar, não há uma única palavra falada sobre o Evangelho, nem a pregação dele e
nem sobre os efeitos dessa pregação naquilo em que o apóstolo insiste expressamente e depois declara
do versículo 15 em diante.

Em terceiro lugar, a criação de todas as coisas, aqui atribuídas ao Verbo, aconteceu no princípio ;
mas a criação de todas as coisas a que eles fazem referência, isto é, a edificação da igreja pela pregação da
Palavra, não aconteceu no princípio, mas posteriomente — a maior parte disso, como eles mesmos
confessam, aconteceu depois da ascensão de Cristo ao céu.

Em quarto lugar, ainda segundo essa visão deles, qual é o significado de “todas as coisas”?
“Somente algumas coisas”, dizem os socinianos. Qual é o significado de “foram feitas”? “Ou seja, foram
corrigidas ”, eles respondem. Qual o significado de “por Ele”? “Isso é, os apóstolos, principalmente ao
pregarem o Evangelho”, respondem. E quanto ao significado de “no princípio”? “ Depois que isso
aconteceu ”, ao seja, eles dizem expressamente que as principais coisas pretendidas aqui foram feitas
somente depois pelos apóstolos. Quer pela expressão “ no princípio ” eles se refiram ao início do mundo
ou ao início do Evangelho, eu penso que uma exposição como essa das palavras de Deus jamais foi
defendida por qualquer homem.

Em quinto lugar, é dito: “O mundo foi feito por ele”, e Ele “veio” a nele, ou seja, Jesus Cristo veio
para o mundo que Ele fez; e “o mundo”, ou os habitantes dele, “não o conheceram”. Mas o mundo que Ele
pretendia O conheceu; porque a igreja O conheceu e reconheceu que Ele era o Filho de Deus; pois Ele foi o
fundamento sobre a qual ela foi edificada.

Eu insisti diretamente nessa única passagem para dar ao leitor uma segurança da confirmação
total que pode ser dada a essa grande verdade fundamental, para uma ratificação dos testemunhos
daquelas outras passagens bíblicas ou revelações distintas, que falam não menos expressamente para o
mesmo propósito. E dentre essas passagens não há nenhuma que não estejamos prontos para reivindicá-
la, se chamados a isso, das objeções desses homens. Pelo que acabamos de considerar podemos aprender
e conhecer o quão ousados e sutis eles são.
Parece, então, que há uma revelação completa e suficiente feita na Escritura a respeito da
divindade eterna do Filho de Deus; e que Ele é, portanto, igual ao Pai. Eu não insistirei em citar mais
passagens das Escrituras neste momento, mas deixarei a discussão completa e a reivindicação dessas
verdades para outra ocasião.

O Espírito Santo é Deus

Passaremos a apresentar o testemunho que a Escritura dá em relação à deidade do Espírito Santo.


Ele é revelado e declarado na Escritura como o objeto de nossa fé, adoração e obediência, devido à
atribuição e em razão dessas excelências divinas, que são o único motivo de adoração religiosa para
alguém, ou de nossa esperança de recompensa que nos foi prometida, ou que sejamos levados a alcançar
o objetivo para o qual existimos. E aqui reside, como foi demonstrado, o interesse da fé. Somente quando
entendemos o que significa crer e em que consiste a revelação divina, é que somos capazes de regular a
alma em sua obediência atual e expectativa futura, quando a alma percebe que é sua natureza trabalhar
pelo amor e pela esperança, então ela descansa nisso. Agora, isso é feito com a maior satisfação na
revelação que é feita da existência divina, das excelências divinas e das operações divinas do Espírito;
como será brevemente mostrado a seguir.

Mas antes de prosseguirmos, podemos, em nosso caminho, observar uma grande semelhança
entre aqueles que negaram a deidade do Filho e aqueles que negaram a deidade do Espírito Santo. Pois
quanto ao Filho, depois que alguns homens começaram a não acreditar na revelação a respeito dEle e não
O reconheceram como Deus e homem em uma só pessoa, eles nunca definiram ou chegaram a um
consenso sobre o que ou quem Ele era, nem quem era Pai, ou por que Ele era o Filho. Alguns disseram que
Ele era um fantasma ou apenas uma aparência, e que não tinha nenhuma subsistência real neste mundo; e
que tudo o que foi feito por Ele era apenas uma aparência, e Ele mesmo estava realmente em um lugar
que eles sabiam determinar. Aquela besta orgulhosa, Paulo de Samósata, [4] cuja vida era notoriamente
marcada por uma flagrante impiedade e prodigiosas heresias, foi um dos primeiros, depois dos judeus, a
afirmar positivamente que Jesus Cristo era um homem, e nada mais; ele foi seguido por Fotino [5] e
outros. Os arianos compreenderam a loucura dessa opinião e o quanto ela era odiada por todos os que
levavam o nome de cristãos, e preferiram negar toda a Escritura em vez de admitir que Jesus Cristo
possuía uma pré-existência em uma natureza divina antes de Sua encarnação; eles fabricaram uma nova
deidade, a qual Deus deveria apresentar ao mundo como alguém que fazia todas as coisas como Ele, mas
que não era igual a Ele em essência e substância, entretanto, essa deidade era tão semelhante a Deus que,
segundo os escritos de alguns deles, dificilmente você pode distinguir um do outro; segundo eles essa
deidade era também o Filho de Deus que Deus encarnou. Outros, entretanto, tinham imaginações mais
monstruosas: alguns criam que Jesus Cristo era um anjo ; outros, que Ele era o sol ; ainda outros, que Ele
era a alma do mundo ; e mais outros, que Ele era a luz dentro dos homens .
Algo semelhante aconteceu com aqueles que negaram a divindade do Espírito Santo. Eles jamais
encontram onde se posicionar ou permanecer; mas um declarava uma coisa, e outro, outra. No começo,
eles observaram que algumas coisas eram atribuídas a Ele em várias passagens da Escritura que
inevitavelmente o evidenciavam como agente inteligente e voluntário . Eles entenderam que isso era tão
claro e evidente que não podiam negar que o Espírito Santo era uma pessoa ou uma existência inteligente.
Portanto, vendo que estavam resolvidos a não concordar com a revelação da Sua divindade, fizeram dEle
um espírito criado, sendo o principal e estando acima de todos os outros espíritos; não obstante qualquer
outra coisa que pudesse ser, o Espírito Santo era apenas uma criatura. E mais tarde outros foram
orientados a seguir o mesmo caminho.

Os socinianos, por outro lado, observaram que tais coisas são atribuídas e referidas ao Espírito
Santo, que se eles admitissem que Ele é uma pessoa ou uma substância, deveriam, por necessidade,
admitir que Ele era Deus, embora pareça que não, no início, eles concordaram no que pensar ou dizer
sobre Ele de forma positiva, mas todos concordaram peremptoriamente em negar Sua personalidade,
negar que Ele era uma pessoa. Aqui, alguns deles disseram que Ele era o Evangelho, e outros deles
confundiram o Espírito Santo com Cristo. Eles também não concordavam quanto a se havia um só Espírito
Santo ou mais, isto é, se o “Espírito de Deus”, o “bom Espírito de Deus” e o “Espírito Santo” eram o
mesmo ou não. Em geral, agora eles concluem que ele é “vis Dei” ou “virtus Dei” ou “efficacia Dei”, que Ele
não possuía nenhuma substância, mas uma qualidade, que pode ser considerada como estando em Deus,
e então eles dizem que esse é o Espírito de Deus; que Ele é o Espírito Santo na medida em que santifica e
conforma os homens à imagem de Deus. Mostraremos mais adiante se essas coisas correspondem à
revelação feita na Escritura sobre o eterno Espírito de Deus. Nossos Quakers, que durante um longo
tempo caminham para cima e para baixo como um enxame de moscas, fazendo um barulho confuso e
zumbidos, começam agora a aderir às opiniões declaradas ultimamente pelos socinianos. Mas quais serão
os seus pensamentos para se referir ao Espírito Santo quando se contentarem em falar de forma
inteligível e de acordo com o costume de outros homens, ou o padrão da Escritura, o grande regulador
sobre como falar ou tratar das coisas espirituais, eu sei não, e não tenho certeza se eles farão isso por si
mesmos ou se não. Se há alguma luz entre eles ou uma inspiração infalível, isso é algo incerto. Enquanto
isso, o que nos foi revelado na Escritura para ser crido em relação ao Espírito Santo, à Sua deidade e
personalidade, pode ser visto nas passagens subsequentes.

A resumo dessa revelação é: Que o Espírito Santo é uma substância divina eternamente existente,
o autor de ações divinas e o objeto do culto divino e religioso, ou seja, Ele “qual é sobre todos, Deus
bendito para sempre”, como demonstram as seguintes passagens:

Gênesis 1:2: “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.


salmo 33:6: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo Espírito da
sua boca”.

Jó 26:13: “Pelo seu Espírito ornou os céus”.

Jó 33:4: “O Espírito de Deus me fez”.

Salmo 104:30: “Envias o teu Espírito, e são criados”.

Mateus 28:19: “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.

Atos 1:16: “Convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi”.

Atos 5:3: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses
ao Espírito Santo?”, versículo 4: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”.

Atos 28:25-26: “Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: Vai a este
povo, e dize” etc.

1 Coríntios 3:16: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós?”.

1 Coríntios 12:11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo
particularmente a cada um como quer”. Versículo 6, “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus
que opera tudo em todos”. 2 Coríntios 13:14: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a
comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém”.

Atos 20:28: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu
bispos”.
Mateus 12:31: “Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o
Espírito não será perdoada aos homens”.

Salmo 139:7: “Para onde me irei do teu espírito”.

João 14:26: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas”.

Lucas 12:12: “Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar”.

Atos 13:2 “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a
Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Versículo 4: “E assim estes, enviados pelo Espírito Santo” etc.

2 Pedro 1:21: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”.

É evidente a partir da primeira consideração que não há nada que cremos a respeito do Espírito
Santo senão o que foi claramente revelado e declarado nessas passagens das Escrituras. É diretamente
afirmado que o Espírito Santo é “Deus” e assim Ele é chamado em Atos 5:3-4; e isso os socinianos não
dirão que é em virtude de uma exaltação a um ofício ou autoridade, como dizem do Filho. Ele é um agente
inteligente, voluntário e divino ; Ele sabe, Ele age como deseja. Se essas coisas que são repetidas nas
Escrituras não são suficientes para demonstrar um agente inteligente, uma subsistência pessoal, que tem
forma, vida e vontade, devemos admitir que a Escritura foi escrita com o propósito de nos levar a erros e a
mal entendimentos, e que estamos sob a pena de uma eterna perdição justamente por compreender e
acreditar nela. O Espírito Santo declara também que Ele é o autor e agente de todo tipo de operações
divinas que exigem imensidão, onipotência, onisciência e todas as outras excelências divinas para a sua
realização. Além disso, é revelado que Ele pode ser peculiarmente crido e que é possível pecar
particularmente contra Ele, como o grande autor de toda graça nos crentes e da ordem na igreja. Esse é o
resumo do que cremos a respeito do que é revelado na Escritura sobre o Espírito Santo.

Assim como na consideração do assunto anterior vindicamos uma passagem em particular das
objeções dos adversários da verdade, assim também buscaremos resumir brevemente a evidência que nos
é dada nas passagens bíblicas supracitadas para que o leitor possa compreender mais facilmente a sua
intenção e o que é especialmente testemunhado.
O resumo é que o Espírito Santo é uma pessoa divina e distinta , e não apenas o poder ou a virtude
de Deus, nem qualquer espírito criado. Isso é demostrado claramente a partir do que é revelado sobre Ele.
Pois Ele é colocado na mesma série ou ordem que outras pessoas divinas, sem a menor nota de diferença
ou distinção entre elas, no que diz respeito à personalidade. A Ele são atribuídos os nomes próprios de
uma pessoa divina, e é frequente e diretamente chamado por eles. Ele também tem propriedades
pessoais e é o autor voluntário de operações pessoais divinas e o objeto adequado do culto divino, Ele é
uma pessoa divina distinta. E se essas coisas não forem uma evidência suficiente e uma demonstração da
Sua substância divina e inteligência, eu devo, como já disse antes, desistir de entender qualquer coisa que
seja expressa e declarada por palavras. Entretanto, isso está de acordo com a revelação que a Escritura faz
do Espírito Santo. Pois,

Primeiro. Ele é colocado no mesmo patamar e ordem , sem qualquer nota de diferença ou
distinção quanto a uma participação particular na natureza divina (a distinção se dá, como veremos, no
que diz respeito à personalidade) com as outras pessoas divinas. Mateus 28:19 diz: “Batizandoos em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. E 1 João 5:7: “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a
Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um”. E ainda 1 Coríntios 12:3-6: “Portanto, vos quero fazer
compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que
Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo
Deus que opera tudo em todos”. Nenhum tipo de negação de Seu ser divino e existência distinta pode
representar um significado aceitável para essas expressões. Mas se lermos as primeiras palavras com a
mente socinianos, as entenderemos da seguinte maneira: “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e da
virtude ou eficácia do Pai”. Alguma coisa pode ser mais absurda para a fé e a razão do que essa expressão
irracional? E, no entanto, esse é o significado claro que esses homens atribuem a essas palavras.

Em segundo lugar. Ele também tem os nomes próprios de uma pessoa divina; pois Ele é
expressamente chamado de “Deus” em Atos 5. Aquele que é chamado de “Espírito Santo” no versículo 3 e
de o “Espírito do Senhor” no versículo 9 é também chamado de “Deus” no versículo 4. Ora, sob qualquer
consideração, esse é o nome de uma pessoa divina. Os socinianos não permitiriam que Cristo fosse
chamado de Deus, se Ele não fosse uma pessoa divina, embora não por natureza, mas por ofício e
autoridade. E eu suponho que não encontrarão um ofício para o Espírito Santo, para o qual Ele venha a ser
exaltado e então Ele possa se tornar Deus, pois se assim o fizessem O reconheceriam como uma pessoa, o
que eles negam. Então Ele é chamado de “Consolador” em João 16:7, o que é também uma denominação
pessoal ; e porque Ele é o Consolador de todo o povo de Deus, esse não pode ser o nome de qualquer
outro além de uma pessoa divina. No mesmo lugar também é frequentemente afirmado que Ele virá e que
fará tais e tais coisas, e tudo isso declara que Ele é uma pessoa.

Em terceiro lugar. Propriedades pessoais são atribuídas a Ele; como uma vontade : “Mas um só e o
mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Coríntios
12:11), e entendimento : “O Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Coríntios
2:10); do mesmo modo todas ações que são atribuídas a Ele são afirmações inegáveis de propriedades
pessoais em seu operador e agente. Pois,
Em quarto lugar. Ele é o autor voluntário das operações divinas. Ele antigamente cuidou da
criação: “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gênesis 1:2). Ele formou e enfeitou os céus.
Ele inspirou, atuou e falou nos e pelos profetas: “Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta
Isaías” (Atos 28:25); “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21). Ele regenera, ilumina,
santifica, conforta, instrui, lidera, guia, todos os discípulos de Cristo, como as Escrituras em todos os
lugares testificam. Agora, tudo isso é uma operação pessoal , e não pode, com qualquer pretensão de
sobriedade ou consistência com a razão, ser constante e uniformemente atribuído a uma qualidade ou
virtude. Ele é Deus, como o Pai e o Filho, possuindo os atributos da onisciência e da onipotência, da vida,
do entendimento e da vontade; e essas propriedades, obras, atos e efeitos produzidos estão de acordo
com Sua sabedoria, escolha e poder.

Em quinto lugar. A mesma estima é conferida a Ele na fé , no culto e na obediência, assim como às
outras pessoas do Pai e do Filho. Para sermos batizados em Seu nome devemos assumir o compromisso
solene de crer nEle, obedecê-lO e adorá-lO, assim como nos comprometemos a fazer essas mesmas
coisas em relação ao Pai e ao Filho. Outrossim, com referência à adoração da igreja, Ele ordena que os
ministros sejam separados para Si mesmo como está escrito em Atos 13:2: “Disse o Espírito Santo:
Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”; versículo 4: “E assim eles, sendo
enviados pelo Espírito Santo, partiram” — isso é abrangente a toda a adoração religiosa da igreja.

E o relato de Atos 5:3-4 mostra que é possível pecar contra o Espírito, pois existe uma razão inversa
entre pecado e obediência. Contra quem um homem pode pecar formal e finalmente, esse mesmo
homem é obrigado a obedecer, adorar e crer. E esse não pode ser uma qualidade, mas o próprio Deus.
Pois qual pode ser o sentido desta expressão: “Você mentiu para a eficácia de Deus em suas operações”?
Ou como podemos ser formalmente obrigados a obedecer a uma qualidade? Deve, então, ser suposta
uma obrigação antecedente para a fé, a confiança e a obediência religiosas, como o motivo de tornar uma
pessoa capaz de ser culpada de pecado contra alguém; porque o pecado consiste em um fracasso na fé, na
obediência ou na adoração. Todas essas, portanto, são devidas ao Espírito Santo; ou então seria
impossível um homem pecar contra Ele de forma tão significativa e fatal como dizem algumas passagens
bíblicas citadas anteriormente.

Portanto, a menos que rejeitemos toda a reverência a Deus e caiamos em uma espécie de ateísmo,
como eu suponho que a maldade prevalecente desta era ainda não foi tão longe, ou que as Escrituras
tenham sido escritas com o propósito de nos enganar e levar a erros e falsos entendimentos daquilo que
ela nos propõe, devemos reconhecer o Espírito Santo como uma substância, como uma pessoa, como
Deus, porém distinto do Pai e do Filho. Pois a Escritura diz que Ele virá a nós, que será o nosso consolador,
que nos ensinará, liderará, guiará; que Ele falou antigamente pelos profetas, que os profetas foram
movidos pelo Espírito e agiram por Ele; que Ele “penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”,
agindo como deseja e que Ele nomeia ministros na igreja. Para resumir: a Escritura declara em várias
passagens, o que Ele fez, o que Ele faz e o que Ele fará; o que Ele diz e fala; como Ele age e procede; qual é
a Sua vontade; e que não devemos entristecêlO nem pecar contra Ele; e a Escritura declara também
outras coisas inumeráveis a respeito de Sua natureza; mas dizer que ela declara tudo isso e ainda assim
nos obriga a acreditar que Ele não é uma pessoa, um ajudador, um Consolador, alguém que perscruta as
coisas de Deus, alguém dotado de vontade, mas apenas uma qualidade que atua em algumas operações
especiais de Deus ou que é o poder e virtude nessas operações, é confundir os homens, deixá-los sem
instrução e conduzi-los a nenhuma outra conclusão senão esta: não há nenhuma certeza em todo o livro
de Deus. Essas são as únicas tendências para as quais conduzem as imaginações de nossos adversários
com respeito a esse assunto.

Mas consideremos brevemente o que eles geralmente objetam em relação à verdade que
confirmamos:

Então, Eles dizem: “O Espírito Santo é dito ser dado , ser enviado , concedido aos homens e
prometido a eles; e, portanto, não pode ser que Ele seja Deus; pois como alguma dessas coisas pode ser
aplicada a Deus?”.

Eu respondo:

Primeiro, embora essas expressões não provem que o Espírito Santo seja Deus (e nem foram
produzidas para esse propósito), contudo elas inegavelmente provam que Aquele de quem elas falam é
uma pessoa ou um agente inteligente e voluntário. Pois como pode ser que o poder ou a qualidade Deus,
como eles dizem, seja dado , enviado e concedido aos homens? Portanto essas expressões destroem as
imaginações deles.

Em segundo lugar. Aquele que é Deus, sendo igual em natureza e forma com o Pai, pode ser
prometido, enviado e dado, com respeito à santa dispensação e condescendência em que Ele assumiu o
ofício de ser nosso consolador e santificador.

Em terceiro lugar. As comunicações, as distribuições, as transmissões e as divisões do Espírito, que


eles mencionam, dizem respeito ao objeto delas, ou seja, aquelas pessoas sobre quem essas coisas foram
ou são concedidas, e denotam apenas obras, dons, operações e efeitos do Espírito; cuja regra é expressa
em 1 Coríntios 12:11. Ele opera essas coisas em quem Ele quer e como Ele deseja. E se essas e outras
objeções feitas a partir de atuações e operações que são clara e suficientemente interpretadas e
explicadas em vários lugares da Escritura são suficientes para lançar em descrédito a verdade da revelação
já declarada, todos os que possuem uma devida reverência a Deus, à Sua Palavra e verdades, entenderão
facilmente e discernirão.

Essas coisas são declaradas nas Escrituras em relação ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, a qual
além disso revela: “E estes três são um”, ou seja, um só Deus, que deve ser louvado, temido, adorado,
crido e obedecido, para a vida eterna. Pois, embora isso seja uma consequência absoluta e necessária do
que é declarado e foi falado sobre o único Deus, ou unidade da divindade, para a confirmação de nossa fé
e para que não pensemos que Eles são três indivíduos separados um do outro é que é particularmente
declarado que “estes três são um”, o único e mesmo Deus. Mas enquanto, como foi dito antes, essa
trindade na unidade é uma consequência inescapável, os testemunhos registrados nas Escrituras sobre a
trindade de pessoas na unidade da deidade não se multiplicam tão frequentemente quanto as passagens
que testemunham sobre outros aspectos dessa verdade, os quais, por meio das artimanhas de Satanás e
do orgulho dos homens, podem estar mais sujeitos às objeções. Entretanto, essas passagens são claras,
completas e suficientes para que a fé concorde imediatamente, sem quaisquer outras exposições,
interpretações ou argumentos, além da nossa compreensão da clara importância das palavras. Essas são
algumas passagens nas Escrituras sobre a trindade de pessoas na unidade da deidade: Sobre o Pai e o
Filho: “Eu e meu Pai somos um” (João 10:30); sobre o Pai, o Filho e o Espírito: “Porque três são os que
testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um” (1 João 5:7). “Batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19), pois se aqueles em cujo nome somos
batizados não são um em natureza, então pelo batismo nos obrigamos ao serviço e ao culto de mais
deuses do que um único. Pois, sendo batizados ou sacramentalmente iniciados, em nome de qualquer um,
nos ligamos sacramentalmente a uma obediência santa e religiosa a esse, e em todas as coisas
confessamos que ele é o Deus a quem pertencemos e a quem nós servimos, como aqui estamos fazendo
em nome do Pai, Filho e Espírito; então, se Eles não são um só Deus, a consequência blasfema que
acabamos de mencionar inevitavelmente deve ser admitida, e também o princípio dos socinianos deve ser
admitido, os quais, mais do que todos os outros, embora aparentem defender a existência de um único
Deus, contudo são de fato politeístas, pois atribuem a outros o respeito religioso que é devido somente a
Deus.

Outrossim, é revelado também que esses três são distintos entre Eles, por certas propriedades
relativas peculiares, se é que posso usar esses termos. Assim, Eles são princípios de operação e ação
distintos, vivos, divinos, inteligentes e voluntários, e que, nos atos internos, se relacionam um com o
outro, e em atos externos se relacionam com a criação e as várias partes dela. Agora, essa distinção se
baseia originalmente nisso: que o Pai gera o Filho, e o Filho é gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede
de ambos. O modo como isso acontece, de modo que possa ser expresso para a nossa edificação, será
tratado mais adiante. No momento, basta para a satisfação e confirmação de nossa fé que as distinções
mencionadas sejam claramente reveladas nas Escrituras, e estas são algumas passagens que revelam a
essa verdade: Salmo 2:7: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. Mateus 16:16: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo”. João 1:14: “Vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai”. Versículo 18: “Deus nunca foi
visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou”. João 5:26: “Porque, como o
Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo”. 1 João 5:20: “E sabemos
que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento”. João 15:26: “Mas, quando vier o Consolador, que
eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de
mim”.

Agora, como a natureza dessa distinção reside na relação mútua entre as pessoas, pois é sobre o
fundamento dessas ações e operações distintas que a própria distinção é claramente manifestada e
confirmada. E essas ações, como foi dito, são as que tem outra pessoa divina como seu objeto ou aquelas
em que o objeto é a criatura. O primeiro tipo é testemunhado nas seguintes passagens bíblicas: Salmo
110:1; João 1:18, 5:20, 17:5; 1 Coríntios 2:10-11 e Provérbios 8:22; a maioria delas foram citadas
anteriormente. Nessas passagens onde é mencionado que as pessoas da divindade conhecem uma à
outra, amam uma à outra e se deleitam uma na outra é mostrado que elas necessariamente são distintas,
e é assim que elas são reveladas para nossa fé. E para o outro tipo de ações, a Escritura está cheia das
expressões delas, veja: Gênesis 19:24; Zacarias 2:8; João 5: 17; 1 Coríntios 2:7-11 e 2 Coríntios 8:9.

Conclusão

Nossa conclusão de tudo isso é: Não há nada mais plenamente expresso na Escritura do que essa
verdade sagrada: que existe um Deus, Pai, Filho e Espírito Santo; que são princípios de operação e ação
divinos, distintos, inteligentes, voluntários e onipotentes. Qualquer um que se considera obrigado a
acreditar na Escritura deve crer nisso.

Isso é o que foi proposto inicialmente: manifestar o que é expressamente revelado nas Escrituras
sobre Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; para que possamos crer nEle, prestar-Lhe obediência,
desfrutar de comunhão com Ele, caminhar em Seu amor e temor e, assim, vir a ser plenamente
abençoado com Ele para sempre. E a fé para sua segurança, confirmação e orientação absolutamente não
precisa de qualquer exposição ou explicação mais ampla dessas coisas ou do uso de quaisquer termos não
consagrados pelo Espírito Santo. Mas considerando [1.] que essa verdade pode ser assaltada de diversas
maneiras pelas tentações de Satanás e combatida pelos sofismas sutis de homens de mentes corruptas; e
[2.] que é dever dos discípulos de Cristo crescer no conhecimento de Deus e de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, através de uma compreensão clara das coisas que eles creem, segunda a medida de suas
capacidades; e [3.] que em todas as épocas da igreja essa doutrina foi explicada e ensinada por certas
expressões, termos e proposições; declararei a seguir o que necessariamente está incluído nela ou o que
podemos inferir dela por consequência necessária. Declararei essas coisas brevemente, e depois as
reivindicarei de algumas objeções, e então encerrarei essa dissertação.

Primeiro. Foi declarado e provado que Deus é um . Ora, essa unidade diz respeito à natureza, o ser,
a substância ou a essência de Deus. Deus é um nesse aspecto. Algumas dessas palavras, de fato, não são
usadas na Escritura, entretanto elas possuem o mesmo valor semântico e significação, e nenhuma delas
inclui qualquer aspecto de imperfeição, portanto, são adequadamente utilizadas na declaração da unidade
da divindade. A Escritura menciona a divindade de Deus: “Seu poder eterno e divindade” (Romanos 1:20);
e menciona também a Sua natureza ao excluí-lO dentre aqueles objetos de nossa adoração que por
natureza não são Deus (Gálatas 4:8). Ora, essa divindade natural de Deus é Sua substância ou essência,
com todas as excelências santas e divinas que natural e necessariamente pertencem a isso. Essas
excelências santas e divinas são a eternidade, a imensidão, a onipotência, a vida, a santidade infinita, a
bondade e outras semelhantes. Essa natureza, substância ou essência é a natureza, substância ou essência
de Deus, assim como Deus é a natureza, essência e substância do Pai, do Filho e do Espírito; um e o
mesmo absolutamente em e para cada um dEles; pois ninguém pode ser Deus, como é revelado que Eles
são, senão em virtude dessa natureza ou ser divinos. Nisso consiste a unidade da divindade .
Em segundo lugar. A distinção que a Escritura revela entre Pai, Filho e Espírito é aquela em que são
três hipóstases ou pessoas, que subsistem de forma distinta na mesma essência ou ser divino. Ora, uma
pessoa divina não é senão a essência divina, por conta de uma propriedade especial , subsistindo de
maneira especial . Assim na pessoa do Pai há a essência e o ser divino, com a propriedade de gerar o Filho ,
subsistindo de maneira especial como o Pai, e porque essa pessoa tem toda a natureza divina, todas as
propriedades essenciais dessa natureza existem nessa pessoa: a sabedoria e a compreensão de Deus, o
desejo de Deus, a imensidão de Deus, todos estão nessa pessoa, não como essa pessoa, mas na medida
em que essa pessoa é Deus. O mesmo se diz sobre as pessoas do Filho e do Espírito Santo. Sendo que,
cada pessoa tem entendimento, vontade e poder de Deus se tornando um princípio distinto de operação;
e, no entanto, todas as suas atuações ad extra são as atuações de Deus, elas são indivisíveis , e são todas
obras de um e mesmo Deus. E essas coisas não apenas seguem necessariamente, mas são diretamente
incluídas, na revelação feita sobre Deus e Sua subsistência nas Escrituras.

Terceiro. Há, de fato, muitas outras coisas que são ensinadas e disputadas sobre essa doutrina da
Trindade tais como: o modo da geração eterna do Filho — da essência do Pai —, da processão do Espírito
Santo e da diferença da geração do Filho — do mútuo estado de ser das pessoas, em razão da união delas
na mesma substância ou essência —, a natureza de sua subsistência pessoal, com respeito às propriedades
pelas quais elas são mutuamente distinguidas; porém tudo isso é verdadeiro e defensável contra todos os
sofismas dos adversários dessa verdade. No entanto, porque a compreensão distinta dessas coisas e sua
exata expressão não é necessária para a fé, à medida que ela é o nosso guia e base na e para a adoração
religiosa e obediência, não precisamos insistir sobre elas aqui. Nem aquelas breves explicações
mencionadas anteriormente são propostas de modo a serem colocadas imediatamente na mesma ordem
ou grau das revelações bíblicas originais mencionadas antes delas, mas são enfatizadas apenas como
expressões adequadas do que é revelado, para aumentar a nossa luz e a nossa edificação. E apesar de não
poderem ser combatidas ou negadas racionalmente, e nem jamais foram por quem quer que seja, senão
por aqueles que chegaram a negar e se opor às próprias coisas reveladas; entretanto os que assim negam
ou se opõem a essas explicações devem ser obrigados de forma positiva, em primeiro lugar, a negar ou
refutar a unidade da divindade, ou provar que o Pai, ou o Filho, ou o Espírito Santo, em particular, não são
Deus, antes de poderem falar alguma palavra contra a maneira de explicar a verdade sobre Eles. Pois Eles
só podem admitir a revelação declarada e defendida, ou não. Se o fizerem, que essa concessão seja
estabelecida pela primeira vez, ou seja, que seja debatido se o Pai, o Filho e o Espírito são um só Deus, se
Eles são um em substância e três, no que diz respeito às pessoas, ou de que outra maneira o assunto deve
ser declarado. Se o negarem, é uma simples loucura disputar a maneira de qualquer coisa e a forma de
expressá-la, enquanto é negada a existência da própria coisa; pois daquilo que não existe também não
possui qualquer forma, propriedade, adjunto ou efeito.

Deixe, então, que pessoas como esse tipo de homens estejam prontas a provarem seus próprios
sofismas e se divertirem em cavilar sobre pessoas, substâncias, subsistência e outras coisas, para
responder o que seriam essas coisas. O que eles negariam? O que eles desaprovariam? É que Deus é um?
Ou que o Pai é Deus, ou o Filho, ou o Espírito Santo o é? Se eles negam ou se opõem a qualquer uma
dessas coisas, então eles têm passagens e referências da revelação divina para citar, ou estão prontos até
mesmo para enganar Diabo e todos os seus emissários. Se eles não puderem explicar e definir o que
significam as expressões: pessoas, substâncias, subsistência etc., então, que eles saibam que é algo muito
tolo e irracional argumentar sobre expressões e explicações de qualquer coisa ou doutrina, quanto ao seu
modo, respeito ou relação de qualquer coisa, até que a própria coisa ou doutrina, seja claramente
confessada ou negada. Se eles se recusarem a fazer isso, como geralmente eles fazem e querem (eu falo
isso baseado em experiência suficiente), e não forem induzidos a lidar aberta, própria e racionalmente
com isso, mas continuarem suas falácias e sofismas sobre termos e expressões, então todo o debate ou
conferência posterior com eles pode e deve de forma justa, consciente e racionalmente ser recusado e
rejeitado. Pois esses sagrados mistérios de Deus e o Evangelho não devem levianamente serem tomados
como os temas de objeções e debates de homens. Entretanto, como antes tratamos em particular, agora
então vou dar exemplos das objeções sofistas que são usadas contra toda essa doutrina, e em relação a
algumas apresentações e representações delas; que são retiradas de seus contextos e usadas por muitos
que parecem não entender as palavras, as frases e as próprias expressões das quais fazem uso.

O resumo do que eles dizem em geral é:

1. “ Como essas coisas podem ser? Como três podem ser um, e um ser três? Toda pessoa tem sua
própria substância; e, portanto, para que sejam três pessoas deve haver três substâncias, e assim três
deuses ”.

Resposta . Toda pessoa tem distintamente sua própria substância , pois a única substância da
deidade é a substância de cada pessoa, por isso ainda assim ela é uma; mas cada pessoa não tem sua
própria substância distinta, porque a substância de todos elas é a mesma, como foi comprovado.

2. Eles dizem: “ Se cada pessoa for Deus, então cada pessoa é infinita, e há três pessoas, então
deve haver três infinitos ”.

Resposta . Isso não segue nem mesmo minimamente; cada pessoa é infinita à medida que ela é
Deus. Todas as propriedades divinas , como o ser infinito, não pertencem às pessoas por conta de sua
personalidade, mas por conta de sua natureza, que é uma, pois todas são propriedades naturais.

3. Mas eles dizem: “ Se cada pessoa for Deus, e esse Deus subsiste em três pessoas, então, em cada
pessoa, há três pessoas ou Deuses ”.
Resposta . Esse sofisma consiste na expressão “ for Deus ” e “ esse Deus ”. Na primeira expressão, a
referência é à natureza de Deus; na última, a uma pessoa singular. Coloque as palavras de modo
inteligente, e elas são assim: “Se cada pessoa for Deus, e a natureza de Deus subsiste em três pessoas,
então, em cada pessoa, há três pessoas”, e então a loucura disso será evidente.

4. Mas eles ainda inferem: “ Se negarmos que as pessoas sejam infinitas, então afirmaremos que
um ser infinito tem um modo finito de subsistir, e assim não sei que suposição eles fazem; pois tendo em
vista que não há três infinitos, então o Pai, o Filho e o Espírito são três infinitos que constituem um infinito
”.

Resposta . A fraqueza lamentável desse sofisma está evidente a todos; pois finitos e infinitos são
propriedades e complementos de seres, e não da maneira da subsistência de qualquer coisa. A natureza
de cada pessoa é infinita, e assim é cada pessoa por causa dessa natureza. Quando ao modo de sua
subsistência, finitos e infinitos não podem ser propriedades pressupostas ou faladas, não mais do que
dizer que um ser infinito subsiste.

5. “Mas você admite”, dizem eles, “ que o único Deus verdadeiro é o Pai e, se Cristo é o único Deus
verdadeiro, então Ele é o Pai ”.

Resposta . Dizemos que o único Deus verdadeiro é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nós nunca
dizemos, a Escritura nunca diz, que somente o Pai é o único Deus verdadeiro ; pois disso seguiria, então,
que aquele que é o Deus verdadeiro é o Pai. Mas nós admitimos que o Pai é único Deus verdadeiro; e assim
dizemos que o Filho também o é. E na verdade não segue que o Filho é o Pai; porque, ao dizer que o Pai é
o Deus verdadeiro, não nos referimos à Sua paternidade e nem à Sua relação paterna com o Seu Filho,
mas à Sua natureza, essência e ser. E o mesmo afirmamos sobre as outras pessoas. E dizer que, porque
cada pessoa é Deus, então uma pessoa deve ser a outra, é implorar a permissão para não acreditar no que
Deus revelou, sem dar qualquer razão por isso.

Mas esse sofisma foi emprestado de outro, a saber, Crellius, [6] que insistiu muito nisso, eu falo
sobre ele e não sobre eles quando digo que tanto quanto consigo compreender, não entendo muito da sua
intenção isso o refuta completamente: É proposto por ele em forma de silogismo o seguinte: “ O único
Deus verdadeiro é o Pai; Cristo é o único Deus verdadeiro: portanto Ele é o Pai ”. Agora, esse silogismo é
ridiculamente

sofístico. Pois, em um silogismo categórico, a principal proposição não é ser particular ou


equivalente a um particular; porque, a partir de tal proposição, quando qualquer coisa comunicável a mais
é o assunto dela, e é restringida a um particular, nada pode ser inferido na conclusão. Mas tal é essa
proposição aqui, o único Deus verdadeiro é o Pai . Essa é uma proposição particular, em que o sujeito é
restringido a um predicado singular ou individual, embora em si mesmo seja transmissível a outro. Agora,
a proposição feita particular, os termos do sujeito ou do predicado são supostos recíprocos, ou seja, que
um Deus e o Pai são os mesmos; o que é falso, a menos que seja provado pela primeira vez que o nome de
Deus não é transmissível a outro, ou nenhum outro, mais do que o outro termo Pai: supor isso é assumir a
verdade do próprio ponto levantado na questão; pois o termo único Deus verdadeiro tem uma significação
mais abrangente do que o termo de Pai ou Filho . Pois, embora o único Deus verdadeiro seja o Pai,
contudo, todo aquele que é Deus verdadeiro não é o Pai. Vendo, então, que o nome de Deus aqui fornece
o lugar de uma espécie, embora seja absolutamente singular, na medida em que respeita a natureza
divina, que é absolutamente singular e una, e não pode ser multiplicada, no entanto, no que diz respeito à
comunicação é de outra forma: a natureza divina é comunicada a mais de um singular, a saber, ao Pai, ao
Filho e ao Espírito Santo. E, portanto, se alguma coisa se destina a ser concluída a partir daí, a proposição
deve ser expressa de acordo com o que o sujeito exige, como capaz de comunicação ou atribuição a mais
de um, ou seja: Que o único Deus verdadeiro é o Pai — mas essa proposição tais pessoas e seus mestres
jamais poderão provar.

Eu fiz, especificamente, essas breves refutações desses sofismas vazios em parte porque eles já
estão bem rejeitados e, em parte, porque são meras citações do pensamento de um autor, que há muito
tempo foi traduzido para o inglês, a quem uma resposta completa pode ser dada depois.

Para o presente propósito basta uma resposta geral a todas essas falácias e procedimentos em que
os homens desses princípios geralmente insistem.

1. “ As coisas ”, dizem eles, “ que vocês ensinam sobre a Trindade, são contrárias à razão ”, e eles se
esforçam para dar vários exemplos para mostrar em que se fundamenta a suma da objeção que eles
fazem a essa verdade. Mas primeiro, pergunto: qual é a razão que eles têm em mente? É a sua própria, a
razão carnal dos homens. Com ela eles julgarão esses mistérios divinos. A Escritura nos diz, de fato, que o
“espírito do homem que está nele conhece as coisas do próprio homem” — o espírito do homem, por
razões naturais, pode julgar as coisas naturais — contudo, “assim também ninguém sabe as coisas de
Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Coríntios 2:11). Pois para que saibamos dessas coisas devemos receber
a revelação do Espírito de Deus. E é concedido aos homens conhecer os mistérios do reino de Deus, porém
não para todos os homens, mas sim para alguns, e não para os outros; e a menos que lhes seja concedido,
eles não podem conhecê-los. Em particular, ninguém pode conhecer o Pai, a menos que o Filho O revele.
Nem poder, nem força e nem entendimento podem revelar ou entender Jesus Cristo como o Filho do
Deus vivo, a menos que o Pai O revele e nos instrua na verdade disso (Mateus 16:17). A maneira de chegar
ao reconhecimento dessas coisas é a descrita pelo apóstolo em Efésios 3:14-19: “Por causa disto me ponho
de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o
nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo
seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando
arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos” etc. E
também em Colossenses 2:2-3 onde o apóstolo deseja que os crentes sejam “enriquecidos da plenitude da
inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo, em quem estão escondidos todos
os tesouros da sabedoria e da ciência”. É por fé e oração, e pela revelação de Deus, que podemos chegar
ao reconhecimento dessas coisas, e não pelos raciocínios carnais de homens de mentes corruptas.

2. A que razão eles se referem? Se for à razão de forma absoluta, o motivo das coisas, então nós
garantimos que nada que seja contrária a ela deve ser admitido. Mas isso não se aplica à razão tal como é
concebida por esse ou aquele homem, particularmente por eles próprios, que sabemos ser fracos,
defeituosos e imperfeitos, e que eles estão, junto com todos os outros homens, extremamente distantes
de uma compreensão justa e completa de todo o motivo das coisas. Eles estão em tal estado que a sua
compreensão deve ser o padrão para medirmos a natureza de todas as coisas? Sabemos que estão longe
disso. De modo que, embora não admitamos qualquer coisa que seja contrária à razão, a menor
insinuação de uma verdade pela revelação divina me obrigará a abraçá-la, mesmo que seja c ontrária à
razão de todos os socinianos do mundo . A verdadeira razão ou a medida justa da resposta de uma coisa
para outra é de grande valor. Mas a razão — isto é, o que deveria ser assim, ou que apenas parece ser
assim para esse ou aquele homem, especialmente em e sobre as coisas da revelação divina — é de
importância muito pequena (em todos os sentidos) quando se levanta contra os claros testemunhos da
Escritura, tanto mais quando esses se multiplicaram para sua confirmação e explicação mútua.

3. Muitas coisas estão acima da razão — isto é, a razão como considerada na estima desse ou
daquele homem — e, no entanto, de modo algum estão contra ela . É fácil compelir os inquiridores mais
curiosos desses dias a uma confissão pronta disso, através de inúmeros exemplos de coisas finitas e
temporárias; e podem ousar negar, mas pode ser assim em relação às coisas celestiais, divinas e
espirituais? Não há ninguém que compreenda o ser de Deus ou as suas propriedades, pois estão
absolutamente acima da compreensão de nossa razão. Não podemos através de nossa pesquisa encontrar
Deus, nem podemos conhecer perfeitamente o Todo-Poderoso.

4. O próprio fundamento de todas as suas objeções e sofismas contra essa verdade é destrutivo
dos princípios fundamentais da razão como concebidos pelo mundo. Todos são, na melhor das hipóteses,
reduzidos a isto: Alguma coisa não pode ser de modo tal no que diz respeito às coisas finitas; então a
mesma coisa não pode, em um de seus aspectos, ser uma , e em outro, três ; e, portanto, o mesmo
acontece no que diz respeito às coisas infinitas. Todos esses raciocínios são baseados nessa suposição: que
o que é finito pode perfeitamente abranger o que é infinito — uma afirmação absurda, tola e contraditória
por si mesma. Novamente, o que é rejeitado por eles aqui é que a razão mais elevada existente nas coisas
da revelação pura deva cativar nossos entendimentos à autoridade do Revelador. De modo que, por um
pretexto barulhento e enganador, esses homens, através de alguns sofismas capciosos, se esforçam não
só para admitir sua incredulidade, mas também para rejeitar os maiores princípios da própria razão.

5. As objeções em que esses homens insistem principalmente são meramente contra as


explicações que usamos para declarar essa doutrina, e não contra a revelação bíblica original dela, que é o
principal objeto de nossa fé; e já declaramos quão absurdo e irracional é esse procedimento deles.

6. É uma regra entre os filósofos, que se um homem, por certos motivos, abraçou qualquer opinião
ou convicção, ele não deve abandoná-la simplesmente porque não pode responder a todas as objeções
contra ela. Pois, se as objeções com as quais podemos ser enredados não possuem o mesmo peso e
importância do motivo pelo qual abraçamos a opinião, é uma loucura simplesmente renunciar a ela por
conta disso. E muito mais isso deve ser sustentado entre os tipos comuns de cristãos no que se refere às
coisas espirituais e divinas. Se eles renunciarem e abandonarem sua fé em qualquer verdade porque não
são capazes de responder claramente a algumas objeções que podem ser feitas contra ela, então eles
podem rapidamente encontrarem a si mesmos tomando o caminho em direção ao ateísmo.

7. Há uma intimação tão grande feita de tal expressão e semelhança de uma trindade na unidade
nas próprias obras da criação, como os homens instruídos manifestaram por vários exemplos, que é muito
irracional supor que, contrariando a razão, muitos objetos de consideração racional estão mais ou menos
presentes em nossas mentes.

8. Para não adicionar mais considerações dessa natureza, qualquer um dos adversários pode
produzir qualquer argumento ou fundamento, ou coisa que o valha, contra o que foi afirmado, e que já não
tenha sido refutado mil vezes, e então receberá uma resposta; ou um reconhecimento público de que isso
é indissolúvel.

Referências Bibliográficas:

Owen, John. A doutrina da trindade: provada pela Bíblia. 1 ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo-
Francisco Morato, 2019.

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