Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(UNOCHAPECÓ)
ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
ALICE BARELLA
CHAPECÓ (SC)
2019
ALICE BARELLA
CHAPECÓ (SC)
2019
UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ (UNOCHAPECÓ)
ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
ALICE BARELLA
____________________________________________
Prof. Me. Luiz Henrique Maisonnett
Professor Orientador
____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Andrea de Almeida Leite Marocco
Coordenadora do Curso de Bacharel em Direito (Chapecó)
CHAPECÓ (SC)
2019
ALICE BARELLA
________________________________________
Prof. Me. Luiz Henrique Maisonnet – Presidente
________________________________________
XXXXX – Membro
________________________________________
XXXXX – Membro
CHAPECÓ (SC)
2019
DEDICATÓRIA
Esse trabalho não teria sido concluído sem o apoio de meus familiares e amigos, que
estiveram comigo durante essa caminhada me dando com amor, carinho e muita paciência.
2019 foi um ano maravilhoso. Um ano de aprendizado, de muito trabalho e também de
renovação. Dedico aqueles que entraram na minha vida e me ajudaram nos momentos mais
difíceis, os que permaneceram ao meu lado, e até mesmo aqueles que partiram. Todos me
ensinaram lições valiosas. Muito obrigada.
Agradeço ao meu orientador, por ter me ajudado a construir este trabalho, e aos
demais professores do curso de direito, que construíram os princípios da profissional que serei
um dia. Nunca vou esquecer os anos que passamos juntos, muito obrigada.
“A história é tão leve quanto a vida do
indivíduo, insustentavelmente leve, leve como
uma pluma, como uma poeira que voa como
uma coisa que vai desaparecer amanhã.”
Milan Kundera
RESUMO
Prof. Me. Luiz Henrique Maisonnett (Mentor). (Universidade Comunitária da Região de Chapecó –
UNOCHAPECÓ).
(INTRODUCTION) The globalization process is part of the age of modernity which causes
the rapid and constant evolution of technology and science, as well as rearranges intrapersonal
relationships and provides a new living space that does not delimit interactions within a single
territory but goes beyond physical barriers to create a totally new habitat of social existence.
This new settlement culminates in the expansion of fundamental concepts and rights, given
their new forms of violation and the need for a new kind of protection. (OBJECTIVES) The
objective of this paper is to analyze a historical perspective on the evolution of globalization
and human rights, which culminated in the current configurations and understandings about
what is the right to intimacy, analyze the changes that occurred and how society and the legal
system behave before this new social reality. (METHODOLOGY) This research is situated in
the qualitative paradigm and is characterized as bibliographic research, based on the analysis
of legislation, doctrines, legal articles and internet; the deductive method is used based theory
studies and refining of concepts. (RESEARCH FIELD) The Law Course research field of the
Community University of Chapecó Region – UNOCHAPECÓ by which this work is linked is
“Human Rights” (CONCLUSION) Law evolves hand in hand with society and observing
these changes helps to trace a logical path along the road we walk as humanity. The right to
intimacy fits within the dignity of the human person, and its reconfiguration needs to be the
focus of extreme attention and the protection of its integrity must accompany the changes that
occur within the technology advancement, the right must evolve and reinvent itself before
new challenges posed by the postmodernity era, globalization and the reconfiguration of
human rights. (KEYWORDS) Rights to privacy and intimacy. Human Rights. Globalization.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 9
2 GLOBALIZAÇÃO 11
2.1 Conceito 11
2.2 Histórico 18
2.3 Teorias 22
2.3.1 Zygmund Bauman e as consequências humanas da globalização 22
2.3.2 Luíz Campos e Sara Canavezes 26
2.3.3 Milton Santos 28
3 DIREITOS HUMANOS 30
3.1 História 30
3.2 Conceito 34
4 O DIREITO À INTIMIDADE E SUA RECONFIGURAÇÃO 39
4.1 História e definições do direito à intimidade, vida privada e privacidade 39
4.2 A reconfiguração do direito e sua tutela 44
5 CONCLUSÃO 56
REFERÊNCIAS 58
ANEXOS 61
ANEXO A 61
ANEXO B 62
1 INTRODUÇÃO
Dentro deste capítulo será trabalhado o tema Globalização, com sua histórica,
conceitos e teóricos. Como referência forem usados os trabalhos de Bauman (1999); Arnaud
(1999); Santos (2000); Jermeson (2001); Pereira (2005); Campos (2007); Canavezes (2007);
Olson (2013); Luciano (2013); Ruie (2017) e Davis (2019).
2.1 Conceito
Neste primeiro capítulo o tema central é a globalização. De acordo com Santos (2000)
inserir qualquer pesquisa jurídica que trate de reconfiguração de direitos sem explorar a
modernidade, a pós-modernidade e a globalização seria impossível, por isso trata-se de
ambientar o estudo no contexto mundial e social atual. Além da conceituação do que
efetivamente significa globalização e quais cargas esta definição adiciona à sociedade,
também será tratado a evolução histórica e cultural pelo olhar de diferentes teóricos, tais como
Bauman (1999); Canavezes (2007), Pereira (2003) e Santos (2000). Os mitos e verdades que
rodeiam o conceito de globalização serão trabalhados além de seus aspectos positivos e
negativos e quais os legados que essa reconfiguração deixa a sociedade global, como ensinam
Olsson (2013) e Luciano (2013), é o resultado da singular confluência histórica de diversos
elementos e está sobre o influxo de variáveis importantes nas quais interagem inúmeros atores
(OSLON 2013, p. 112).
O conceito de globalização é tão amplo quanto a globalização em si, o que ocorre por
sua natureza velozmente mutável. É um conceito que permeia nosso dia a dia e nos
acompanha a cada ação, cada movimento, ninguém está a salvo de seus efeitos nem longe
demais para que seja possível ignorá-la, como destaca Santos (2000). As mudanças geradas
pela globalização são marcantes, velhas e recentes e seu conceito é variável, expansível e
transcendente. Quando falamos sobre globalização é possível elencar mais de cem palavras-
chave intrinsecamente relacionadas ao conceito e nenhuma delas estaria errada. É o fardo da
palavra poder tornar-se referência para tantas outras (BAUMAN 1999, p. 37).
Segundo Santos (2000, p. 42) o fato deste conceito ser facilmente relacionado a
diversas situações, palavras e contextos é um claro demonstrativo de como a globalização
influenciou a evolução humana em todas as suas áreas, desde interações pessoais e
intrapessoais até o modo que o mundo é visto por cada indivíduo e como cada indivíduo é
visto pela sociedade, além do rumo das pesquisas científicas, a evolução do conhecimento e
trocas culturais entre povos a oceanos de distância, e diversos outros mecanismos evolutivos
12
tecnologia e sem computadores, este tema é parte da equação teórica quando é analisado o
presente o futuro da globalização (JAMESON, 2001, p. 32-36).
Sendo parte integrante da sociedade, é impossível para os juristas ignorarem o que a
globalização representa para o direito em si e em suas áreas próximas como filosofia,
sociologia e política. Questões sobre alteridade e complexidade enfrentam holofotes e
consequentemente começam a alterar conceitos do direito perante o fenômeno da
globalização. O deslocamento das fontes de poder, característica da globalização, é um dos
fatores que influenciam nestes diálogos (BAUMAN, 1999, p. 20).
Qualquer mudança na estrutura de uma sociedade influencia o modo que os indivíduos
se relacionam com a política, o direito e a noção de bom e ruim. O ser humano é uma criatura
adaptável, física e psicológica e esta é uma característica importante para todo o processo de
globalização e também é parte intrínseca da modernidade, afinal as sociedades estão cada vez
mais expostas a outros modelos sociais e sua mútua influência é absorvida, digerida e
transformada no que hoje entendemos como globalização (SANTOS, 200, p. 15).
A modernidade traz ao direito a possibilidade da influência sobre novas fontes
normativas e esse intercâmbio jurídico é fruto da vasta troca de informações, das relações
comerciais e de um deslocamento humano massivo. A globalização juntamente com o
capitalismo impera certos comportamentos comuns ao redor do globo com base em um novo
senso comum mundial sobre o que é ou não aceitável. O contato próximo com outras nações e
suas culturas permite a cada povo refletir sobre sua própria cultura e como consequência, sua
própria legislação. Se uma cultura é influenciada por outra é possível que seus costumes e
normas sociais venham a ser incompatíveis com seu próprio ordenamento jurídico em questão
de pouco tempo (BAUMAN, 1999, p. 39).
Um exemplo simples desta influência jurídica é o efeito cascata da legalização do
casamento homoafetivo que ao começar a ser legalizado em países europeus (Países Baixos
em 2001, Bélgica em 2003, Espanha em 2005), influenciou a abertura da discussão em outros
continentes, quando em 2017 a maior parte dos países dos continentes europeu e americano já
haviam legalizado o ato civil, enquanto países da Ásia, considerados mais conservadores
neste âmbito, passam por protestos e campanhas em prol da legalização da união homoafetiva
(RUIE, 2017). Este é um dos exemplos da consequência da globalização, embora nem todos
sejam tão vantajosos quanto este.
Consoante a diversos teóricos como Santos (2000), Campos (2007) e Canavezes
(2007), Arnaud (1999, p. 21) destaca a influência da modernidade e da globalização para o
direito ao abordar fenômenos que recorrem sobre estes em duas problemáticas específicas, a
14
É possível perceber uma preocupação dos teóricos com esse aspecto da modernidade,
uma das consequências mais claras da globalização. Direitos fundamentais passam por uma
rediscussão e com as novas redefinições dos polos de poder transcendendo fronteiras estatais,
é claro o impacto que a globalização tem sobre o campo jurídico. Muitos teóricos entendem a
globalização como um conceito abstrato e amplo demais para uma simples definição em
poucas palavras, sendo essa uma declaração comum em livros que tratam de qualquer um dos
frutos da globalização, mas não ela em si, visto o efeito cascata que o fenômeno tem sobre as
mais diversas áreas (CAMPOS; CANAVEZES, 2007).
Quando buscamos o conceito por esse viés é válida a lembrança de Ianni (2000, p. 8)
que classifica o fenômeno como uma fábrica global que transcende fronteiras e se espalha por
diversas áreas, afetando o capital, tecnologia, força de trabalho, divisão do trabalho social e
outras forças produtivas. Além de tudo isso a influência cultural levantada por ele também se
demonstra massiva com a proliferação de conteúdos pela publicidade, por meio da mídia
impressa e principalmente eletrônica, destacadas pelo autor como os inúmeros meios de
comunicação usados no último século. Cita ele a internet, programas de televisão, livros e
videoclipes, todos em parte responsáveis pela dissolução das fronteiras participando do
processo que ele chama de desterritorialização e reterritorialização das coisas, gentes e ideias,
esse redimensionamento de espaço e tempo em um misto de revolução tecnológica e cultural
proporcionado pela globalização.
A visão da globalização como fábula é comum, seu conceito é romantizado e
trabalhado para ser apresentado de forma lírica pelos autores que geralmente usam viés da
sociologia, do direito e até mesmo da geografia. Tavares (1999, p. 54) descreve o mundo
globalizado como aquele que sustenta como verdade algumas fantasias que, por repetição,
tornam-se uma base sólida para sua interpretação.
15
O conceito é trabalhado como fábula por um forte motivo: não é possível tomar as
características da globalização como verdades absolutas. A disseminação de informação que
informa o mundo todo e espalha conhecimento não é real, pois a informação dificilmente
alcança quem dela necessita. As notícias nem sempre informam a verdade, o conhecimento
nem sempre é compartilhado de forma correta e não chega a todos os cantos. A possibilidade
de deslocamento de pessoas ao redor do mundo também não é uma característica absoluta, é
um privilégio de poucos dentro da sociedade. O mercado e a economia onde as transnacionais
governam com mais poder que os estados não são proporcionais a homogeneidade que
anunciam, mas sim acentua as diferenças locais dentro de uma mesma sociedade lançando
uma sombra sobre a disparidade de classes ao mesmo passo que utiliza dela para manter o
sistema (BAUMAN, 1999, p. 14).
De acordo com Santos (2000, p. 26) o poder econômico está intimamente ligado aos
benefícios da globalização, quanto mais recursos financeiros possui um indivíduo mais
aspectos da globalização servem a ele. Esse é um traço marcante e capitalista da modernidade,
mesmo com todos os benefícios que a mídia alega que a globalização trouxe a sociedade, é
importante destacar que esse “todos” são indivíduos contados vivendo em determinada classe
social. Mesmo que em algum nível todos tenham acesso aos benefícios da globalização é
incoerência dizer que todos usufruem de sua totalidade.
Santos (2000, p. 26) apresenta uma visão crítica sobre os moldes atuais da
globalização tratando-a ao mesmo tempo como um sonho e uma perversidade pois segundo
ele a máquina ideológica que sustenta e valida as ações dos agentes que movimentam este
sistema é o que garante sua continuidade, mesmo que não correspondam a realidade. Os mitos
da globalização por ele tratados incluem o do encurtamento das distâncias, validado apenas
para aqueles que realmente tem o poder econômico para viajar, que falsifica uma sensação de
tempo e espaço contraídos propondo a sensação de que o mundo se tornou para todos algo
que está ao alcance das mãos. O mundo não está ao alcance de todos, mas somente daqueles
que têm poder econômico e a vantagem social para obtê-lo (BAUMAN, 1999, p. 34).
Dentro do fenômeno da globalização o Estado perde força perante a grandes
transnacionais, problema perniciosamente já instalado. Algumas empresas têm mais capital e
consequentemente mais poder do que um país inteiro, ao instalarem em determinado local
uma fábrica ou filial, tomam o controle do mesmo de maneira quase absoluta: geram os
empregos, movimentam a economia e ditam as regras comerciais e trabalhistas daquela
região. Em troca dessa atividade remunerativa os Estados se calam, pleitear um confronto
com a maior, quando não a única, fonte de renda e reguladora de economia do estado é
16
suicídio Estatal. É estar à mercê da pobreza e abandono em prol de um capitalismo que não
investe em qualquer outra fonte de sobrevivência local devido ao lucro irrisório que traz a
dignidade (CAMPOS; CANAVEZES, 2007, p. 25).
O lado perverso da globalização existe e seus efeitos se espalham tão rapidamente
quanto os avanços positivos, porém silenciosamente. O desemprego está em um crescente, e
consonantemente a qualidade de vida da população está em declínio. O valor do salário
mínimo tende a perder força perante o mercado e a miséria e a pobreza ganham espaço no
cenário, assim como aumenta o número de desabrigados (DAVIS, 2019). Esses efeitos
perniciosos não são exclusividade de um único país, mas sim característica repetitiva em
todos eles. A educação, mesmo na era da informação com fácil acesso a material de ensino,
torna-se cada vez mais cara e de difícil acesso (BAUMAN, 1999, p. 41). Vivemos a
perversidade da globalização todos os dias, mesmo nos menores detalhes do cotidiano ao
sermos expostos a publicidade de produtos que jamais poderemos custear e quando somos
superfaturados pela propaganda de exclusividade que viabiliza a criação de classes
consumidoras, sentimos o peso e a desvalorização do ser humano como criatura única. Não
ter acesso a serviços não causa revolta na massa, e sim inveja, pela estranha noção de
merecimento implantada no cotidiano da sociedade: quem usufrui da globalização mereceu tal
prerrogativa, e quem dela quer usufruir deve alimentar o sistema ao invés de lutar contra ele.
Esta é a falácia (SANTOS, 2000).
Ainda pontuando a perversidade do sistema globalizado, tema amplamente trabalhado
por Santos (2000), é possível extrair do que foi explanado pelo autor a essência desta
problemática. Ao explanar a evolução negativa que a humanidade enfrenta perante a alta
adesão aos comportamentos competitivos, ele cria um paralelo com as ações dos agentes e a
hegemonia do sistema perante a todos, sendo virtualmente impossível escapar de seus efeitos
e sendo necessário adequar-se a eles. Quando se diminui a oferta de trabalho a renda, os
recursos e as mazelas do sistema tornam-se direta ou indiretamente imputáveis e cumprem seu
papel de curvar-se perante o fenômeno da globalização (SANTOS, 2000, p. 36).
É criado desta maneira um conceito ambíguo e amplo sobre um fenômeno que se
tornou grande demais para ser encaixado dentro de uma simples palavra, pois este é bom e
ruim. Representa avanços e retrocessos, é pernicioso, tóxico e extrai as piores características
do ser humano em uma sociedade. Ele também é genuíno em suas intenções, quando permite
que a informação e o conhecimento sejam mais facilmente acessados por mais e mais pessoas,
é elitista, quando uma de suas características mais marcantes é reservada a uma pequena
parcela da população que tem recursos para usá-lo, como é o caso do deslocamento humano
17
pelo mundo. A mesma força que impulsiona o avanço da medicina e da tecnologia é o que
ameaça a soberania dos Estados dentro de seu próprio território. O mesmo movimento que
une os povos os isola localmente cada vez mais pela diferença de classes, cultura e
desenvolvimento (BAUMAN, 1999, p. 49).
As duas faces da globalização tendem a servir aqueles que a defendem ou atacam, suas
teorias sempre oferecem soluções para seus problemas, sendo estas nunca baratas ou
proveitosas àqueles que dela lucram em forma de poder e dinheiro. Os meios de
democratização da globalização aparecem disfarçados de outras intenções quando olhados de
maneira analítica. Nada é realmente gratuito e toda informação cobra uma contrapartida,
mesmo que um artigo seja publicado de maneira gratuita a todos os interessados, no rodapé da
página onde ele se encontra há uma propaganda, aulas de todos os tipos são oferecidas sem
custos para pessoas em qualquer lugar do planeta desde que elas deixem ali seus dados e
informações pessoais. Sempre há alguém lucrando, e sempre é uma grande corporação.
Concluem então, para nortear o conceito e fazê-lo apontar para o caminho que querem
seguir até nossa problemática que a globalização é um agente de reconfiguração. Não é
possível ignorar seus efeitos, é preciso moldar-se às mudanças e para bem ou para mal,
conviver com elas. A ultra exposição de informações e a rápida disseminação servida pela
globalização como característica é imperativamente algo que os direitos fundamentais à
privacidade e a personalidade não podem ignorar. Sua reconfiguração é espontânea e
involuntária, puro reflexo das novas ferramentas oferecidas pelo avanço tecnológico, mas seus
meios de proteção não evoluem por osmose. É preciso entender os possíveis danos e preparar-
se para a contenção e também sua reparação (BAUMAN, 1999, p. 61).
Esse recorte de teorias demonstra como é fragmentado o entendimento dos efeitos da
globalização, o que muito se deve ao fato de vivermos em uma época em que ela está se
expandindo continuamente. Seus traços se encontram em cada aspecto da evolução humana
atual, influenciando a sociedade e apresentando novos desafios parente a uma realidade
desconhecida, mutável e assustadora, exigindo características adaptáveis do ser humano e
apresentando novos problemas reais e irreais e novas soluções e tragédias a curto, médio e
longo prazo. Os benefícios da globalização para a sociedade são reais e palpáveis: nunca se
produziu tanto conhecimento, é como se o tempo tivesse acelerado e por consequência tudo se
torna obsoleto mais rápido e os indivíduos se acostumam a isso. Todavia, o conhecimento não
é revertido ao bem de todos, e sim usado como moeda de troca para a escalada social que é a
definição de sucesso no mundo moderno. Se for revertido ao bem-maior, o conhecimento
18
cobra seu preço, pois nada mais é de graça, nada mais é coletivo e a visão da sociedade
molda-se a essa afirmação entrando num encaixe cada vez mais egoísta e ego centrista.
A globalização é assustadora, seu peso na história é gigantesco, mas ainda não
totalmente claro, imprevisível em sua aceleração contínua do tempo e a forma com que nos
faz pensar no amanhã como algo urgente e ao mesmo tempo impalpável.
2.2 Histórico
todos perceberiam que algo essencial acabara de ser descoberto. É assim que as coisas
evoluem na globalização: rapidamente, afirma Santos (2000, p. 19).
Essa percepção da aceleração do tempo jamais foi sentida tão individualmente quanto
agora. É possível dizer que a evolução da medicina foi muito mais rápida entre o século
XXIV e o XXVI do que foi entre o século II e o IV, porém um indivíduo que viveu entre
essas épocas jamais notaria essa evolução. Na era da globalização as coisas são diferentes,
cada vez mais novas alternativas são expostas no mercado possibilitando uma prolongação da
longevidade do ser humano que por elas pode pagar, curas para doenças incuráveis são
notícias não tão raras assim, a criação de novos medicamentos é um dos mercados mais
lucrativos da era moderna e é inegável que em menos de cinquenta anos passamos de
transplantes de órgãos para criação de mecanismos sintéticos que cumprem parte de seu
papel. A evolução agora é sentida literalmente na pele, com recursos suficientes envelhecer
torna-se uma opção.
Em uma perspectiva histórica a globalização é um evento jovem comparado a outros,
o próprio Renascimento durou cerca de trezentos anos para efetuar suas mudanças e ocupa
estes três séculos em livros de história. Se considerarmos a globalização desde a criação de
seu termo e a efetiva percepção humana de suas consequências contaremos um pouco mais
que vinte anos de existência. Se considerarmos que seus efeitos são vistos primeiramente,
mesmo que em menor escala, no começo das grandes navegações ou o comércio na
antiguidade nós a teríamos inserida dentro de boa parte do contexto histórico da humanidade.
Se atrelarmos seus efeitos à pós-modernidade corremos o risco de ignorar suas verdadeiras
raízes e o caminho que levou a humanidade à sua atual configuração corrobora
Santos (2000, p.59).
Quantas páginas de um livro a modernidade ocupará em 2400? Como a sociedade
atual será retratada? Talvez alguns indivíduos vivos hoje irão estarão presentes para ver,
afinal coisas que não eram possíveis dez anos atrás hoje tornam-se cotidianas. Há um paralelo
entre sua história e seus efeitos, seu começo nos primórdios das relações comerciais e
culturais há mais de oitocentos anos e seus efeitos massivos observados na sociedade, que
decorrem de cerca de cem anos. Conforme exposto por Campos; Canavezes (2007, p. 103) é
interessante observar esta aceleração, comparar a produção histórica e a velocidade dos
acontecimentos do início do século passado e o que é produzido nos dias de hoje.
Campos; Canavezes (2007) pontua que a Globalização, pelo olhar histórico pode ser
entendida como um fenômeno social total, multidimensional, que não é recente nem
inteiramente novo. O fenômeno está inserido em um processo histórico contínuo de mudança
22
há muito tempo e mesmo assim não é possível lhe tirar o crédito de novidade. Os novos
parâmetros econômicos, políticos e culturais são o legado de seu impacto sobre a sociedade
constituindo uma verdadeira transformação na configuração do mundo em que vivemos,
corrobora também Bauman (1999, p. 28):
O que é possível concluir sobre o fenômeno da globalização é que ele é fruto de uma
evolução gradual das interações humanas, movido por uma necessidade mútua de conexão
entre os povos que alimenta o caminhar de um sistema que acelera cada vez mais a noção de
tempo enquanto diminui a noção de espaço, afetando cada indivíduo de maneira diferente
dentro de sua própria realidade social, abrindo e fechando portas, criando problemas e
revelando soluções, tudo isso enquanto reconfigura a sociedade em um novo modelo,
alterando costumes e leis ao colocar frente a frente diferentes povos, culturas e fontes do
direito. Os efeitos bons e ruins desse novo modelo social são amplamente discutidos, mas
uma coisa é certa, ainda é cedo para contabilizar suas consequências. Mesmo que previsões
sejam feitas, boas e ruins, todas dependem do comportamento e do rumo que a sociedade
mundial tomará e como lidará com os novos desafios políticos, ambientais, tecnológicos,
jurídicos e presentes em tantas outras áreas quanto a humanidade permitir.
2.3 Teorias
anteriormente neste trabalho, maior que o de muitos estados. Se o próprio governo estatal não
tem soberania para impedir esse problema social, como seria possível legislar sobre ele? Os
capitalistas, com a falta de barreiras e os recursos líquidos ao seu dispor, não enfrentam
barreiras sólidas em seus investimentos que obriguem respeito a qualquer localidade. Os
únicos limites a eles impostos são os limites administrativos, que muitas vezes não são
efetivados às custas da dependência do local perante a estes gigantes, conforme exposto por
Bauman (1999, p. 11)
É preciso pontuar que, perante qualquer resistência ou empecilho criado para evitar os
problemas humanitários causados pelas corporações, os únicos a sofrerem alguma
consequência são os locais que arcam com sua fuga. Não há impedimentos para que estas
corporações se submetam a qualquer sanção imposta, elas têm poder suficiente para se
deslocarem para um local mais vantajoso. Mesmo que as companhias concordem em investir
em infraestrutura, esse investimento somente alcança os limites de seu próprio interesse, pois
estas não acordam em se responsabilizar pelos desempregados, pelos deficientes e pela
educação: e a globalização lhes deu essa liberdade (BAUMAN, 1998, p. 56).
Outro ponto subvertido pela globalização, segundo o autor, é nossa concepção de
tempo e espaço, o que é “dentro” e “fora” de uma sociedade, o que é longe e o que é perto e o
que é cultura local. O autor levanta o conceito de “fim da geografia” já que é cada vez mais
difícil sustentar uma fronteira no mundo real, feito que as divisões continentais eram mantidas
pela distância e pelo comércio primitivo que dificultavam sua integração. As distâncias são
muito mais do que um dado objetivo, como cita o autor, mas um produto social derivado da
sua extensão e a velocidade com que pode ser vencida. Entendemos assim que até mesmo as
barreiras culturais e a identidade coletiva de cada localidade são na verdade efeito dessa
velocidade (BAUMAN, 1998, p. 15).
É clara a relação entre o poder e o usufruto dos benefícios da globalização, tão
denunciados pelo autor. Não é saudável para o desenvolvimento da sociedade que as
consequências pelos atos que agridam qualquer direito fundamental da humanidade sejam de
fácil disposição. Quando é colocado o foco no mercado econômico e o segundo setor é
25
Quando se fala sobre a organização social do espaço, segundo Bauman (1998, p. 21)
deve-se buscar uma inclusão cada vez maior para evitar uma divisão de classes dentro de uma
localidade. A hierarquia, presente nas organizações sociais, estão cada vez maiores, e devem
ser cada vez mais inclusivas. O espaço “cibernético” é uma novidade nesta questão, pois
também é parte ativa da comunidade. Esse espaço, entretanto, não conta com barreiras físicas
e espaciais e vivem em uma realidade de proliferação instantânea. Os ocupantes desse espaço
cibernético não podem ser separados por obstáculos físicos ou distâncias temporais.
Segundo Santos (2000, 17-19) a globalização é equiparada a uma fábula, tanto como
perversidade como possibilidade. Isso deve-se ao fato das inúmeras fantasias atribuídas à
globalização, e cuja a massiva repetição faz delas uma base comumente usada para definir seu
conceito. São fantasias que alimentam e garantem a continuidade do sistema, tidas como
verdades essenciais, como a ideia que as notícias que percorrem o mundo rapidamente e
chegam a lugares remotos do globo realmente são informativas, ou a noção de que é possível
se deslocar e se conectar a qualquer parte do globo na realidade moderna atual. São falácias,
visto que não são verdades absolutas que atingem a todos, mesmo que essa meia verdade
amplamente difundida em conceitos e definições. O mundo não foi tomado ao alcance das
mãos de todos, ele só é tangível parte do todo. As diferenças sociais e culturais, segundo o
autor, não estão sendo amenizadas, muito pelo contrário, estão sendo acentuadas. A
manutenção deste sistema é o que leva às fábulas, ela é necessária para justificar o
enfraquecimento dos estados perante as multinacionais, o aumento da desigualdade social e o
cerceamento dos cuidados com a população mundial, enfatizado em Santos (2000, p. 10)
29
Neste capítulo está uma retomada histórica do que foi a criação e efetivação dos
direitos humanos, incluindo as mudanças que ocorreram em seu conceito através dos anos.
São estudados os autores Monstesquieu (1748); Beccaria (1764); Arend (1973); Trindade
(2002); Bibbio (2004); Hunt (2007); Filho (2012); Ramos (2018) e Davis (2019).
3.1 História
A cultura sempre teve um papel importante nos avanços populares, sempre marcou
épocas e influenciou comportamentos. Isso remete ao que Hunt (2009, p. 17) chama de
“evolução da psique”, onde gradualmente a empatia foi “aprendida” nos círculos populares e,
devido a tal recente noção de igualdade, os homens sem propriedade foram feitos livres, os
2 Não há senão uma lei que, por sua natureza, exige um consentimento unânime: é o pacto social; porque a
associação civil é o mais voluntário de todos os atos do mundo; uma vez que todo homem nasceu livre e senhor
de si mesmo, não há quem possa, sob qualquer pretexto, sujeitá-lo, sem sua permissão. Decidir que o
filho de um escravo nasce escravo é decidir que ele não nasce homem. Se, pois, no momento do pacto social,
houver opositores, sua oposição não invalidará o pacto, mas os excluirá do mesmo; serão os estrangeiros entre os
cidadãos. Quando o Estado é constituído, a residência prova o consentimento; habitar o território é submeter-se à
soberania. Do Contrato Social, ROUSSEAU, Jean Jacques. p. 68
32
A tortura foi prática forense na época medieval, e era tanta sua banalidade que a
palavra “tortura” era comum, mas não para expressar horror ou perniciosidade, mas utilizada
por escritores, de forma reflexiva, em trechos como “torturar a mente para extrair reflexões”
(MARVIAUX, 1724). Entretanto, depois de Montesquieu (1748, p. 202) atacar a prática da
tortura institucionalizada ao apontar que “os homens são maus, a lei é obrigada a supô-los
melhores do que são” o tema começou a ser discutido e mais e mais depreciado por teóricos
como Voltaire e o italiano Beccaria (1764, p.47):
que entendemos hoje como direitos humanos. Assim como em todas as fases de mudanças
enfrentadas pela humanidade seus efeitos não atingem a todos em um mesmo momento, mas
espalham-se de maneira gradual aos seus arredores, como tinta sobre papel. Entretanto, foi
uma mudança classista, porém efetiva, atingindo aos poucos com seu impacto até as
sociedades mais fechadas, que não pode ser evitada nem por seus críticos mais ferrenhos, a
alcançando camadas marginalizadas da sociedade que originalmente foram excluídas da lista
de garantias, embora a desigualdade ainda possa ser vista sem esforço nas classes
consideradas minorias em questão de poder, em questões de gênero, classe e sexualidade, por
exemplo.
Todavia, os direitos humanos estão em expansão. Cada vez mais é possível verificar
que a sociedade exige mais e mais deste conceito, afinal não deve haver disparidade quanto ao
conceito do que é e o que não é humanidade. Liberdade não se resume somente ao estatus de
não-escravo, mas junta-se ao ideal econômico, social, sexual, financeiro, jurídico e físico,
entre tantos outros subgrupos de debate.
3.2 Conceito
O termo direitos humanos não era comumente usado no século XVIII, e quando o era
geralmente seguia relacionado a política do homem ou sua maneira de viver, algo que
distinguia os homens por serem uma representação do divino. O crítico literário e padre
católico francês Lenglet-Dufresnoy, usou o termo de maneira satírica em “aqueles monges
inimitáveis do século quarto, que renunciavam tão inteiramente a todos os ‘direitos da
humanidade’ que pastavam como animais e andavam por toda parte completamente nus”.
Voltaire também usa o termo em 17564, também de forma irônica e sátira, para referir-se aos
costumes persas, no qual a monarquia desfrutava dos “direitos da humanidade” por terem
mais “recursos contra o tédio” (HUNT, 2007, p. 12).
O termo “direito humano” aparece seriamente pela primeira vez em francês em 1763,
em uma referência à “direito natural”, mas não se tornou popular, mesmo que Voltaire tenha
passado a usá-lo em sua obra “Tratado sobre a tolerância” (HUNT, 2007, p. 16). Para Bobbio
(2004, p. 4) os direitos humanos são resultado de três movimentos e fatores: direitos do
homem, democracia e paz, sendo necessária sua manutenção para a existência do mesmo.
Direitos humanos, segundo o autor, são resultado da proteção da democracia e das condições
mínimas de pacificidade na resolução de conflitos.
4 Voltaire cita o termo em seu livro Tratado sobre a tolerância, publicado em 1756.
35
O que sustentava essa procura pelos direitos eram as noções de liberdade, os conjuntos
de pressuposições sobre autonomia individual que se criavam a partir do século dezessete. O
olhar individualizado sobre cada ser humano era necessário para avaliar quais seriam os
direitos da humanidade, já que cada indivíduo era, e é, dotado de capacidade moral
independente, construída dentro de um conjunto social, que lhe dota de discernimento para
distinguir o bem do mal, o bom do ruim e o certo do errado. O contexto social entra com vital
importância na construção de um direito humanizado, a sociedade política não poderia apenas
deixar nas mãos do julgamento moral independente de cada indivíduo, apoiando-se na
capacidade empática de cada um. O conceito não poderia ser abstrato, ainda que fosse
mutável, nem passageiro e muito menos parte de um slogan político (HUNT, 2007, p. 20-21).
Em consoante com Arendt (1973, p. 37) os direitos humanos constituem uma
construção social, e passaram por um constante processo de reconstrução por sua própria
natureza dependente da evolução da sociedade. Mas como se construiu um conceito atual do
que é direitos humanos?
Passando desta breve perspectiva histórica para um campo conceitual é importante
entender os princípios que acompanharam a criação da declaração e o motivo deles serem tão
relevantes até hoje, e de que maneira se refletem dentro dela em seus artigos. Regida pelo
lema de “liberdade, igualdade e dignidade”, os direitos humanos elencam o que é
indispensável para a vida humana, sendo essa necessariamente digna, livre a pautada na
igualdade entre os homens (RAMOS, 2018, p. 28). Os direitos humanos são complicados no
quesito delimitação, e sua definição e até mesmo sua própria existência depende tanto das
emoções quanto da razão (HUNT, 2007, p. 30).
A análise desses direitos é dada, em último, pelo emocional. Ela faz parte do livre
convencimento de cada indivíduo, e das experiências que o mesmo carrega dentro de si.
Quando o sentimento de horror toma conta de um indivíduo perante um ato, naturalmente
podemos pensar que algo ali fere os direitos humanos, pois sua violação não nos parece
natural. Os direitos humanos requerem um certo “sentimento interior”, como definiu o
escritor iluminista francês Denis Diderot em 1755, e são naturais aos seres, inalienáveis em
sua forma intrínseca por se tratarem, em suma, de direitos da humanidade (HUNT, 2007, p.
32).
Não há uma lista de direitos humanos completa que sirva para toda e qualquer
sociedade, é preciso sempre relevar o contexto histórico e social que cada povo está inserido e
assim entender seu ordenamento jurídico e como ele é o reflexo das morais e dos costumes
que ali imperam (RAMOS, 2018, p. 40). O autor ensina que existem diferentes tipos de direito
36
dentro da gama de direitos humanos. O direito-pretensão é a busca de algo que gera uma
contrapartida do estado, como por exemplo o direito a educação fundamental, obrigando o
Estado a oferecê-la para que assim não viole esse direito. Segue a magna carta, Constituição
Federal de 1998:
impedindo que as autoridades como agentes policiais possam agir discricionariamente no que
diz respeito a prisão.
Certas perguntas podem ajudar a formar um conceito concreto sobre o que seriam os
direitos humanos. Qual seria seu objeto, para quem ele serve, quais seus meios e quando ele
ocorre. Podemos sintetizar que os direitos humanos são, portanto, um conjunto de direitos
positivos ou não, embora nem todo o direito positivado possa ser considerado um direito
humano e a recíproca seja verdadeira. Os direitos humanos têm a finalidade de assegurar o
respeito à dignidade da pessoa humana, por meio da seguridade da igualdade dos indivíduos e
da limitação do arbítrio estatal (FILHO, 2012, p. 30).
era em que vivemos, afinal há interações pessoais, até mesmo solitárias, que, mesmo feitas em
total isolamento, podem ser violadas. (CARDOSO PEREIRA, 2003, p. 112). O direito à
intimidade só leva notavelmente outra definição em 1939, quando o American Law Institute,
Restatement of Torts definiu-o como “o interesse de uma pessoa que seus assuntos não sejam
conhecidos ou sua imagem não seja exposta ao público” (FERNANDES, 1977, p. 82-91). A
partir do final da década 1950 vários teóricos começaram a definir intimidade de maneira
coesa. Para De Cupis (1961, p. 337) “intimidade era um modo de ser da pessoa que consiste
na exclusão e conhecimento alheio do quando se refere a pessoa mesma”. Carnelutti (apud
SILVA, 1998, p. 134-138) escreveu que “ninguém pode dar aos fatos da esfera privada um
destino distinto do desejado nem divulgá-los sem consentimento”. No mesmo ano Swuindle
(apud SILVA, 1998, p. 134-138) escreveu que intimidade consistia no “direito de viver sua
própria vida em solidão, sem ser submetido a uma publicidade que não provocou nem
desejou, o direito de ser deixado só”. Nerson (apud SILVA, 1998, p. 134-139) definiu
intimidade em “ter um setor pessoal reservado, a fim de fazer inacessível ao público, sem a
vontade do interessado, o que constitui o essencial de sua personalidade”. Na França, uns dos
primeiros conceitos do direito à intimidade e privacidade surgiu como droit a la vie privée e
droit a l’iltimité. Em consoante, na Itália, foi nomeado o dirittio alla rizervatezza e diritto
alla segregatezza, ou respetto della vita privata. O último citado tutela o direito de impedir
que terceiros conheçam da vida privada do indivíduo posteriormente, como o poder de
impedir que material da vida privada seja divulgado depois de ter se tornado conhecido
(DOTTI, 1980). A diferenciação entre o tomar conhecimento da vida privada e a divulgação
da vida privada tratada no direito italiano também é destacadamente relevante para Costa
Júnior (1970, p. 26-31) que ressalta que a tomada de conhecimento sobre a vida privada de
alguém de maneira lícita não torna lícita sua divulgação, citando ainda a revelia do direito de
tomar conhecimento em casos concretos.
Um dos mais notórios exemplos da licitude da obtenção da informação e ilicitude de
sua divulgação ocorreu em primeiro de setembro de 1994, no Brasil, quando o então Ministro
da Fazenda Rubens Ricupero, em conversa pessoal com seu cunhado e jornalista Carlos
Monforte, disse a seguinte frase: “Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que
é ruim a gente esconde.”, que foi captada por acaso antes de uma entrevista de maneira não
ilícita, e teve ampla divulgação posterior, culminando em sua renúncia ao cargo, mesmo com
alegações de que a conversa estaria fora de contexto (FOLHA, 2013). Na Espanha, foi
legislado o derecho a la intimidad e o derecho a la vida privada. Em Portugal deu-se o nome
de “direito à proteção da intimidade da vida privada” e também “direito à zona de intimidade
41
ser a chave para um conceito claro de direito à intimidade, visto a influência na maneira com
que o indivíduo se relaciona com a sociedade e consigo próprio e o que é considerado
aceitável ou não, um simples exemplo é a nudez do indivíduo, e seus diversos graus,
aceitáveis ou não perante cada sistema social, o que para uns é extremamente desconfortável,
para outros é simples expressão diária de costumes culturais e jamais causariam
constrangimentos (FERREIRA DA SILVA, 1998, p. 30). O Dicionário Real da Academia
Espanhola definiu a intimidade como “a parte personalíssima, comumente reservada dos
assuntos, desejos ou afeições de um sujeito ou de uma família”, e define também íntimo como
“o mais interior ou interno”. Alguns anos depois a palavra intimidade é novamente definida
como “zona íntima e reservada de uma pessoa ou de um grupo, especialmente de uma
família” (DOTTI, 1980, p. 68). Como demonstrado acima, ainda não era considerada a
possibilidade de uma esfera íntima para uma pessoa jurídica, o próprio conceito era vago o
suficiente para deixar abertura para a interpretação jurisprudencial, cabendo a ela a função de
tutela, gerando também muitas tentativas de definição por este meio, sempre com ênfase na
fragilidade do conceito indicado (DOTTI, 1980, p. 68). Bejo Fernández (1982, p.100-101)
colocou como intimidade a esfera pessoal em que o indivíduo se desenvolve como humano,
livre de julgamentos ou influências exteriores a si, sendo a intimidade um mecanismo
importante para o fomento da personalidade (CARDOSO PEREIRA, 2003, p. 112).
Em 1972 o comitê britânico intitulado Committee on Privacity reconheceu que,
perante a complexidade do conceito de privacidade, não era possível obter para ele uma
definição satisfatória (FERREIRA DA SILVA, 1998, p. 34). A importância dos costumes no
direito é reiteradamente reafirmada, mas ao colocar uma lupa no direito à privacidade é
possível sentir a magnitude de sua importância. Quando duelos eram um meio razoável de
limpar e preservar a honra, o medo de morrer em uma luta em que as chances de vencer eram
baixas, por vezes era menor que o medo de ser julgado covarde ou desonroso perante a
sociedade, morrer era alternativa válida perante a vergonha social, por isso a observância dos
costumes no direito à intimidade e a privacidade é vital, seu impacto é suscetível ao tempo,
seus valores são transitórios e subjetivos e aí encontra-se o maior empecilho em sua definição
(FERREIRA DA SILVA, 1998, p. 31).
Um conceito comumente utilizado para a definição de intimidade é o de “vida
privada”, porém, o termo sofre do mesmo mal que o conceito de intimidade: sua definição é
complicada. Cardoso Pereira (2003) declara que a conceituação de vida privada é impossível,
sua análise verifica que somente o indivíduo pode delimitar o que seria vida privada, afinal é
somente dele a medida individual, citando o autor Rebollo Delgado (2000) para ratificar sua
43
linha de pensamento “El concepto de vida privada es muy amplio, genérico y engloba todo
aquello que no es e no queremos que sea de general conocimiento” (REBOLLO DELGADO,
2000, apud CARDOSO PEREIRA, 2003 p. 50). Fernandes (1977, p.72) teorizou que “vida
privada é o direito de excluir razoavelmente da informação alheia ideias, fatos e dados
pertinentes ao sujeito, todavia Cardoso Pereira (2002, p. 116) alerta que o conceito, em sua
aplicabilidade, não pode ser tão vago, uma definição mais substancial é necessária, então
alguns pontos característicos podem ser elencados para diferenciar a vida privada da
intimidade. Ao contrário da intimidade, que consiste no mais interior dos objetos da
personalidade, a vida privada tem certo grau de exposição e conta com interações, envolvendo
relacionamentos pessoais, configurando um espaço mais amplo do que o da intimidade. Em
suma, mesmo que os conceitos sejam extremamente parecidos, é possível elencar esse espaço
diferenciado entre eles para torná-los dispares. Tanto intimidade quanto vida privada são
conceitos indeterminados, e ambos dependem da interpretação pessoal do indivíduo para
ganharem real forma. A posição jurisprudencial do tribunal de europeu de direitos humanos
(TEDH) é de que a definição de vida privada é mais ampla do que a de intimidade, sendo
impossível e desnecessário definir vida privada de forma taxativa, afinal seria dizer uma
definição de fachada. Na visão de Cardoso Pereira (2002, p.116) de nada vale a definição
entre vida privada e intimidade, afinal o autor reconhece que, mesmo sendo realidades
distintas com hábitos e alcance heterogêneo, jamais serão separadas, dentro de sua linha de
pensamento é necessário invadir a intimidade para que ocorra a ofensa da vida privada, ou
seja, mesmo que ambos tenham conceitos diferentes o fato de ambas sempre andarem juntas
torna a definição inválida e inútil ao caso concreto.
Em suma, o que se pode concluir é que os conceitos de vida privada e intimidade se
confundem para muitos autores, por isso este conceito é analisado de maneira mais ampla
abrangendo a vida privada como um todo. Não há como negar que são coisas diferentes, mas
também não é possível negar o vínculo entre elas, fato este que fez com que a doutrina
jurídica adotasse um conceito muito mais amplo de intimidade do que muitos autores
gostariam, abarcando à intimidade todo o conceito de vida privada (CARDOSO PEREIRA,
2002, p. 116). Já pacificada a existência de diversas facetas do direito à intimidade, e sua
característica intrínseca de mudança e volatilidade perante o tempo, os costumes e o espaço, é
preciso superar certos empecilhos que confundem a jurisprudência de maneira regular: todos
os indivíduos têm a prerrogativa do direito à intimidade? Pessoas que jamais cometeram
crimes, porém possuem em sua posse mais secreta ideais que, de outra maneira que não a
violação deste direito, jamais seriam divulgados. Divergências em diversas doutrinas de
44
países diferentes, visto que as leis ao redor do globo divergem em diversos aspectos, o que
não é incomum no direito. Na França não é possível divulgar dados de ações de divórcio
publicamente, enquanto na Grã-Bretanha não há empecilhos para que ações de personalidades
públicas sejam acessadas. Dados bancários de fortunas também não recebem sigilo nos
Estados Unidos da América, porém não podem ser divulgados pela legislação francesa
(FERREIRA DA SILVA, 1998, p. 37).
Este é só mais um dos obstáculos enfrentados pelos teóricos que tentam definir direito
à intimidade de maneira sólida. Não há dúvidas que ele tem valor considerável em diversas
culturas, sendo tutelado de diferentes maneiras, em variações de intensidade e conteúdo,
mudando ao longo das décadas. A fórmula perfeita para criação de um conceito claro é
genérica o suficiente para englobar a esfera pessoal de cada indivíduo e seu entendimento da
sociedade, e ampla o suficiente para tutelar de maneira eficaz a diversas áreas de interação
humana, seja em relacionamentos interpessoais, ambientes de trabalho e estudos, ambientes
virtuais e dados coletados, entre outros. A diversidade de ângulos pela qual a intimidade foi
analisada rende uma multiplicidade de conceitos e definições que não de todo captam a
essência de um direito imaterial (FERREIRA DA SILVA, 1998, p. 37-39).
Em suma, o conceito de intimidade está vitalmente ligado à esfera subjetiva que
permeia o entendimento próprio que cada indivíduo tem sobre a sociedade. Não é possível
separar o que é vida privada do entendimento pessoal, não é possível medir os dados causados
pela violação do direito a intimidade de um indivíduo usando a esfera delimitada por outro.
Todavia, deixar o conceito amplamente aberto a interpretação gera uma insegurança social e
jurídica, sendo necessário usar a balança dos costumes e da jurisprudência para prevenir
decisões arbitrárias sobre sua tutela.
Há uma grande discussão sobre os meios de tutela deste direito e um grande enfoque
na proteção deste direito em detrimento a tutela punitiva por sua violação. Torna-se mais
urgente garantir que o direito não seja violado do que reparar os danos causados por sua
deterioração. Legislações começam a ser criadas para tentar responsabilizar os principais
meios de ataque ao direito fundamental por sua tutela, colocando um novo olhar sobre o poder
e influência que os novos meios de comunicação têm sobre o rumo de desenvolvimento da
sociedade como comunidade na era moderna. Dois pontos importantes que merecem destaque
quanto ao direito à intimidade é que a intimidade e a vida privada devem ser tuteladas pelo
estado, mas também protegidas dele. Não somente outros indivíduos apresentam-se como
ameaças ao direito, mas também a execução do poder do estado em si pode quebrar a barreira
criada pela legislação, invadindo a vida privada por meios controversos.
45
O direito à intimidade foi definido, discutido e tutelado desde a década 1970, mas o
século XXI trouxe uma nova gama de ferramentas perigosas que ameaçam sua manutenção.
Novas tecnologias integram o cotidiano de maneira orgânica, não é possível escapar delas
totalmente sem a transformação em um eremita, há um novo habitat humano, baseado em
relações construídas por meio da tecnologia, sejam elas comerciais, educacionais, financeiras
e até mesmo intrapessoais. Essa nova configuração social proporcionada por tais tecnologias é
a realidade enfrentada há alguns anos, e a ela moldam-se os costumes, leis e a jurisprudência.
(CARDOSO PEREIRA, 2003, p. 144).
A mudança no entendimento do que são direitos humanos nos últimos anos afetou
diretamente o que entendemos como direito à intimidade, o que leva a agregação de todo um
novo conteúdo a ele. A despeito da dificuldade de sua definição, o direito à intimidade tornou-
se alvo de constantes violações, sendo necessários novos meios de proteção de informação
referente a esfera privada e pessoal no ambiente da informática e telemática (LAZARETTI;
MAISONETT, 2018).
A globalização é um desafio enfrentado todos os dias pela sociedade, que com seu
caráter adaptável e evolutivo molda-se constantemente às novas representações e
entendimentos da realidade individual e coletiva. As redes sociais apresentam um novo
bioma, possibilitam a interação e convivência em um novo território sem plano físico, com a
liquefação dos conceitos de tempo e espaço, trabalhados diversas vezes por Bauman (1999). É
de se esperar que uma nova configuração social traga toda uma gama de dilemas a serem
superados tanto pelos indivíduos como seres únicos quanto pela sociedade em termos de
política, jurisprudência e, claro, direitos humanos. (CARDOSO PEREIRA, 2003, p. 58 e 97).
Uma das formas de manifestação da dignidade humana é a existência do direito à
intimidade, seu reconhecimento reafirma a existência da personalidade individual, e a
ascensão do fenômeno da globalização impactou diretamente na concepção humana sobre ela.
Na era contemporânea informacional, este direito fundamental é alvo recorrente de ataques e
violações, muito derivados do uso predatório da internet, meio mais utilizado pelos
indivíduos. Essas violações são um alerta a deterioração da tutela deste direito, e o impulso
para a realocação do cenário jurídico, necessitando torná-lo meio de efetivação da proteção da
garantia fundamental, já protegida pela constituição (LAZARETTI; MAISONETT, 2018).
Atualmente é possível encontrar a tutela do direito à intimidade no artigo 5º de nossa
constituição, especificamente no inciso X, onde está descrito que serão invioláveis o direito a
46
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, sendo ali assegurado o
ressarcimento em caso de dano material ou moral resultante de sua violação. Todavia, a
utilização da internet coloca em risco os direitos garantidos pela constituição de 1988. A
criação do que conhecemos hoje como internet sempre esteve envolta de vários conceitos, e
um deles foi a liberdade e rapidez da informação como uma de suas bandeiras mais
democráticas, a ideia de que era possível acessar e distribuir dados rapidamente invoca uma
característica de liberdade extremamente alta, e a privacidade desses dados não foi alvo de
preocupação em um primeiro momento. (CARDOSO PEREIRA apud HERRARA PRIANO,
2003, p. 162).
Navegar pela internet necessariamente significa deixar rastros, e para a maioria das
pessoas isso acontece sem que percebam a captação desta informação. Uma simples compra
online, inscrição em mailing ou acesso a sites exigem dados suficientes para rastrear a vida de
um indivíduo, e até pouco tempo aqueles que obtinham estes dados não deviam satisfação
alguma do que acontecia com eles para além de sua função original de servir aos interesses de
seu detentor. Mansfield (2001) alerta que a captação de informações por meio de cookies em
sites é dissimuladamente feita por diversos sites, sem que aqueles que navegam por lá terem
clareza sobre isto.
Redes sociais são conhecidas ferramentas utilizadas pela sociedade em geral, estas
permitem que indivíduos separados geograficamente compartilhes ideias e informações em
uma rede de relacionamentos criada pela tecnologia. A propagação da informação é
extremamente rápida, e essa rapidez acentua problemas que existem também nos
relacionamentos não digitais. O volume de informações é massivo, tornando a verificação da
verdadeira fonte ou veracidade dos dados duvidosa ou difícil de identificar, o que gera a
propagação de notícias falsas espalhando-se para um número indeterminado de indivíduos
rapidamente (QUEIROGA; et al., 2016, p. 112).
O caráter aparentemente transitório das informações postadas em redes sociais é a
causa da leviandade com que muitos usuários tratam a gerência de suas ideias e comentários.
Polêmicas envolvendo linchamentos online, exposição de notícias falsas e até mesmo
comentários de cunho racista e preconceituoso são encontrados na rede, e seus usuários os
publicam sem maiores preocupações, aparentemente alheios a violação de direitos que
possam estar cometendo (QUEIROGA; et al., 2016, p. 115-116).
Uma grande parte da vida dos indivíduos inseridos na sociedade é vivida na internet,
seja por conta das novas configurações do trabalho, que exigem cada vez mais da tecnologia
impossibilitando uma rotina sem e-mails, cadastros em contas, bancos, e prestadores de
47
serviço que operando por meio da rede, trabalham a nosso favor. Não é saudável encarar a
internet como inimigo, por isso a importância da contenção de seu uso predatório e supressão
de possíveis ameaças ao direito à privacidade ao que possivelmente são expostos os que dela
se utilizam (CASTELLS, 2003, p. 19).
Pacificado o fato de que a internet está presente no cotidiano como ferramenta
indispensável, não é possível simplesmente lutar contra ela por medo dos efeitos colaterais
que a vida em rede pode submeter. Um exemplo do uso predatório da rede é o que os teóricos
chamam de cyber espionagem. Mesmo que o termo tenha um ar dramático sua existência é
real e se expande tanto no meio corporativo quanto estatal, servindo como ferramenta em
diversos casos. Uma das mais fortes justificativas Estatais para a vigia montada na rede são a
captação de informações sobre redes criminosas, visto que a internet detém os meios mais
anônimos de comunicação. Corporações, por outro lado usam a cyber espionagem para checar
o perfil de empregados, ou até mesmo coletar informações de maneira sigilosa sobre o
mercado e a concorrência. Mais que especulações, torna-se claro que estes meios são
amplamente usados pela facilidade em que pessoas comuns, mesmo sem grandes tecnologias,
conseguem ter acesso a informações pessoais e outros indivíduos, influenciando assim as
relações intrapessoais (CARDOSO PEREIRA, 2003 apud CORRAL, 2002).
Os perigos do uso predatório da internet para o direito a intimidade não se limitam
somente a captação de dados pessoais, mas possuem um lado ainda mais obscuro e crescente.
Superexposição involuntária, pedofilia, pornografia, fraudes, roubo e mau uso de
informações, quebra da barreira da vida pessoal, todos esses sintomas são parte da doença que
deve ser combatida. A facilidade proporcionada pelos meios de acesso à internet ajuda em sua
rápida propagação. Limberger (2007, p. 58) cita o uso prático do computador no cometimento
das ações danosas e sua teoria é expandida e confirmada com o aumento gradual dos crimes
virtuais crescendo paralelamente ao acesso cada vez mais rápido e prático a smartphones.
A lei brasileira n. 13.709, nomeada Lei de Proteção de Dados Pessoais, ou LGPD, foi
promulgada em 2018 com o intuito de conter os avanços dos meios que ameaçavam a garantia
do direito à intimidade, tratando a lei tanto da vida privada de pessoas físicas quanto sobre
dados privados de pessoas jurídicas. Na lei estão dispostos seus respectivos direitos,
obrigações e penalizações.
prontamente no provedor. Tal medida também tem fundo educacional, pois cada vez mais
plataformas de interação digital que podem ser um espaço para violação de direitos coletam
dados que impedem o total anonimato, garantindo assim seu direito de regresso em caso de
condenação.
O uso indevido da imagem de uma pessoa, atrelado a ato danoso para a sociedade, que
causa constrangimento social que se inicia no meio digital e evolui para um sofrimento
inimaginável é tutelado pela defesa ao direito à privacidade e à intimidade de maneira
inequívoca. Entretanto, muitas vezes não é possível contatar o autor imediato da ofensa ao
direito à intimidade, pois ainda é possível enviar informações de forma parcialmente anônima.
A saída utilizada está sendo o instituto das tutelas provisórias de urgência que visam
minimizar os danos causados a parte autora e agilizar o processo de retirada do possível
material abusivo.
Dentro da lei do Marco Civil da Internet é possível verificar uma forte interpretação a
favor da culpabilidade da empresa provedora de internet ou serviço online onde foram
violados os direitos, sendo ela responsável por ser mantenedora de possíveis dados pessoais, e
deve cumprir as tutelas de urgências deferidas. Não somente na esfera cível está a
responsabilidade pela quebra do direito à intimidade, a esfera penal tutela a divulgação de
dados pessoais na lei 12.737 de 2012, constituindo a pena de três meses até dois anos de
prisão.
vídeos e informações sem uma fonte clara, pois o compartilhamento é rápido e instantâneo,
quase impossível de ser contido a partir do momento que viraliza. É possível ressarcir os
danos causados pela via do direito civil, mas os meios de prevenção tornam-se tão abstratos
quando suas consequências (LIMBERGER, 2007, p. 191 - 192).
CASADO FILHO, Napoleão. Direitos humanos e fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012.
59
NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos direitos humanos de 1948. Disponível em:
< https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em
10 nov. 2019.
DOTTI, René Ariel. Proteção da vida privada e liberdade de Informações. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1980, p. 66.
RODOTÁ, Stefano. A vida na sociedade de vigilância: a privacidade hoje. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008.
60
HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos: Uma História. Tradução: Rosaura
Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
RUIE, Gabriela. Os países onde o casamento gay é legalizado em um mapa. Exame. jun.
2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/mundo/os-paises-onde-o-casamento-gay-e-
legalizado-em-um-mapa/> Acesso em: 09 nov. 2019.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de janeiro: Record, 2000.
SILVA, Edson Ferreira da. Direito à intimidade: de acordo com a doutrina, o direito
comparado e a Constituição de 1988. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998.
TRINDADE, José Damião de Lima. História Social dos direitos humanos. São Paulo:
Fundação Petrópolis, 2002.
VELASCO, Nara. Privacidade: direito a intimidade na era digital. Revista Ciência e
Sociedade. Macapá, n.1, v.1, jan./jun. de 2016.
ANEXO A
CURSO DE DIREITO
________________________
ALICE BARELLA
62
ANEXO B
CURSO DE DIREITO
___________________________________________
Assinatura do(a) Orientador(a)