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ESCOLA DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
TIAGO TOCCHETTO
LONDRINA
2018
2
TIAGO TOCCHETTO
LONDRINA
2018
3
TIAGO TOCCHETTO
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Mestre Junio Mangonaro
Pontifícia Universidade Católica – Câmpus Londrina
_____________________________________
Prof. Mestre Patricia Eliane da Rosa Sardeto
Pontifícia Universidade Católica – Câmpus Londrina
_____________________________________
Prof. Mestre Marcos Horita
Pontifícia Universidade Católica – Câmpus Londrina
RESUMO
ABSTRACT
_______________
1
Graduando do Curso Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
2
Professor Mestre de Direito Empresarial na Pontifícia Universidade Católica – Câmpus Londrina.
5
theme, however each one follows a different way. That’s why the right to be forgotten
needs be used excepcionally, avoiding legal uncertainty.
1 INTRODUÇÃO
_______________
3
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Jorge Zahar, 2001. p.173.
7
Sob tal órbita, insta esclarecer que o direito de ser deixado em paz, que, repise-
se: envolve um nítido embate entre dois princípios de calibre constitucional, quais
sejam: o direito a intimidade, a honra e a imagem, consagrado no art. 5°, inciso X da
CF/888; e o direito de informação e liberdade de imprensa, previsto no art. 220 e nos
incisos IV, IX e XIV do art. 5° também entabulados no texto constitucional pátrio 9,
possui escassa previsão na legislação nacional, tendo como principal referencial o
Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ10, que contém a seguinte
redação e consequente justificativa:
Portanto, como é cediço que os enunciados não detêm força cogente, cabe ao
magistrado utilizar-se da técnica de ponderação para solucionar a colisão entre os
princípios constitucionais alhures apontados e, por conseguinte, o litígio instaurado.
Dessa maneira, para melhor interpretação da temática ora abordada, deve ser
realizada uma pormenorizada análise caso a caso, o que far-se-á por meio do exame
de dois julgamentos em que há a apreciação do direito ao esquecimento pelo Superior
Tribunal de Justiça, porém, cada qual com decisões finais em sentidos diversos (REsp
n° 1.334.097 e REsp n° 1.316.921).
No que pese o instituto em comento ser uma solução bastante viável num
hodierno cenário de raríssimas saídas para aquele que deseja se furtar de voltar ao
passado constantemente, em razão da inexistência de pertinência ou pelo vexame e
angústia que determinados fatos pretéritos causam, aglutinado do fato da vida ser um
perdurável recomeçar que necessita por isto que várias de suas passagens terminem
para que outras comecem, deve, contudo, o direito ao esquecimento ter sua
_______________
8
BRASIL. op.cit., 2018.
9
Id.
10
BRASIL. Enunciados Aprovados na VI Jornada de Direito Civil, de 12 de mar. de 2015. VI Jornada
de Direito Civil. Brasília, DF, mar. 2013. Disponível em: <http:∕∕www.cjf.jus.br∕cjf∕CEJ-Coedi∕jornadas-
cej∕enunciados-vi-jornada∕view>.
9
_______________
11
BRANCO, Sérgio. Memória e Esquecimento na Internet. Arquipélago, 2017. p.179-180.
12
MALDONADO, Viviane Nóbrega. Direito ao Esquecimento. Barueri: Novo Século, 2017. p.115.
13
QUEM DISSE. Quem Disse. Disponível em: <https:∕∕www.quemdisse.com.br∕frase∕eu-quero-que-a-
nacao-me-esqueca∕57358∕>. Acesso em: 2 out. 2018.
10
não poderia ser atendida, pois faz parte da história do Brasil, diante disto o direito ao
esquecimento nesta situação cederia ante o prevalecimento do interesse público
correlato ao direito à informação.
Por fim, cumpre apontar a indispensabilidade das informações ou fatos
divulgados serem verídicos e pretéritos, posto que caso se esteja diante de uma
inveracidade, prontamente poderá o lesado, sem a necessidade de preenchimento de
qualquer outro requisito, requerer a retirada do conteúdo e reparação do dano se
porventura este existir. Sendo ainda pertinente, repisar que os dados, fatos ou
informações pessoais propagadas pelos meios midiáticos devem trazer prejuízos,
tristeza ou constrangimento ao seu titular.
_______________
14
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ed. São
Paulo: Almedina, 1998. p.1124.
11
Nesta tríade, insta pontuar, de maneira amparada por Robert Alexy 15, a título
de estudo analítico de Ronald Dworkin, que tanto as regras quanto os princípios são
normas, contudo, estes possuem um grau de generalidade maior que aquelas.
Ainda neste sentido, se tem que os princípios, em contrariedade as regras, que
se enquadram na ideia do “all-or-nothing-fashion”16, mesmo tendo aplicabilidade ao
caso, não necessariamente determinam a decisão, mas, em verdade, apenas
proporcionam razões que marcham em favor de uma ou outra decisão. De outro giro,
no sistema tudo-ou-nada, aplicável às regras, ou a regra possui validade e, portanto
devem sobressair as consequências jurídicas, ou não é válida e logo não tem valia
alguma na decisão.
Isto posto, ao adentrar nos métodos de sopesamento entre princípios, verifica-
se que seguindo a teoria de Ronald Dworkin17, nominada por modelo de princípios,
que, assim como as regras, crucial se faz que os princípios determinem uma única
resposta correta ou verdadeira, sendo a que melhor se coadune com a constituição,
precedentes e regras de direito.
No entanto, clarividentemente, esta função a ser realizada pelo magistrado,
distancia-se, e muito, da trivialidade. Em vista disto, Dworkin, em semelhança com o
pensamento Weberiano18, no tocante aos tipos ideias, que consistem em parâmetros
utópicos que orientam a investigação e a ação do ator, traz à tona a concepção de um
juiz ideal, que nomeia por “Hércules”19.
Diante do engendramento acima, cabe ao juiz real aproximar-se ao máximo
das características inerentes a este ideal, quais sejam: agudeza, paciência, sabedoria
e habilidades sobre-humanas; para que desta forma possa efetuar com maestria a
atividade de balanceamento, indicando por derradeiro qual princípio prevalecerá,
consoante as peculiaridades de cada caso.
_______________
15
ALEXY, Robert. Sistema Jurídico, Princípios Jurídicos y Razón Práctica. San Sebastian. 1998.
p.140-141.
16
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes. 2017.
17
ALEXY, Robert. Sistema Jurídico, Princípios Jurídicos y Razón Práctica. San Sebastian. 1998.
p.139.
18
WEBER, Max. A Objetividade do Conhecimento nas Ciências Sociais. São Paulo: Ática. 1999.
p.79-80.
19
ALEXY, Robert. op.cit., 1998, p.139-140.
12
Neste ponto, cumpre destacar que a dimensão de peso, assim intitulada por
Dworkin20, tem seu enfoque direcionado para colisão entre princípios, nesta
perspectiva, o valor decisório será concedido para o princípio que possua
relativamente maior peso, sem que para tanto o princípio que possua menor peso seja
invalidado por conta da prevalência do outro princípio constituinte do confronto.
Por seu turno, depreende-se como ponto nodal dentro da teoria alexiana 21,
alusiva ao embate de princípios ora examinado, a ordem débil, divergentemente da
ordem estrita, que se denota inconsistente, em virtude de ser impossível estabelecer
uma escala numérica e calculável para com os valores dos princípios a ponto de
conduzir precisamente em cada caso a um resultado.
Em contrapartida a primeira ordem alhures citada contém três elementos
norteadores que corroboram para com o juiz na atividade de ponderação, são eles:
um sistema de condições de prioridades, um sistema de estruturas de ponderação e
um sistema de prioridades “prima face”.
O primeiro elemento apresenta certa equivalência com o funcionamento de um
precedente jurisprudencial, tendo em vista que em conformidade com o magistério de
Alexy22: “No que pese o dever das colisões entre princípios serem resolvidas mediante
ponderação no caso concreto, não significa que a solução da colisão seja somente
significativa para este caso concreto”.
De outra banda, o segundo elemento versa sobre a Lei da Ponderação, a qual
sinteticamente se traduz na ideia de que quanto maior o grau de descabimento de
determinado princípio, maior deve ser a relevância do cabimento do outro. Nesse
contexto, insta salientar que o elemento em tela retrata nada mais que a
proporcionalidade em sentido estrito.
Como última pilastra fundante da ordem débil dos princípios, se encontram as
prioridades prima face, que, apesar de não conterem uma determinação definitiva,
criam certa ordem no campo principiológico. Em caráter exemplificativo, enquadrando-
se perfeitamente na órbita do direito ao esquecimento, Alexy faz alusão ao “caso
Lebach”23, pertinente a um julgamento do Tribunal Constitucional Federal Alemão, no
qual frente a um embate entre o princípio da proteção à personalidade e a liberdade
_______________
20
ALEXY, Robert. op.cit., 1998, p.141.
21
Ibid., p. 145-146.
22
Id.
23
Ibid., p.146-147.
13
_______________
24
SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais: Do caso Lebach ao caso Google VS. Agencia
Espanhola de Proteção de Dados. 1°. 2015. Disponível em: <https:∕∕www.conjur.com.br∕2015-jun-
05∕direitos-fundamentais-lebach-google-vs-agencia-espanhola-protecao-dados-mario-gonzales>.
Acesso em: 7 out. 2018.
14
Artigo XII. Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua
família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e
reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências
ou ataques.
_______________
25
BRASIL. op.cit., 2018.
26
LAW. The Petition of Right 1628. Disponível
em:<https:∕∕www.law.gmu.edu∕assets∕files∕academics∕founders∕petitionofright.pdf >. Acesso em: 3 out.
2018.
27
BILL OF RIGHTS INSTITUTE. Educating Young People about Constitution. Disponível
em:<https:∕∕billofrightsinstitute.org∕wp-content∕uploads∕2011∕12∕BillofRights.pdf>. Acesso em: 3 out.
2018.
28
CONSALTER, Zilda Mara. op.cit., 2017. p.104.
29
ASSEMBLEIA GERAL DA ONU. 217 [III] A, de 10 de dez. de 1948. Declaração Universal de
Direitos Humanos. Paris, dez. 1948. Disponível em:
<https:∕∕www.unicef.org∕brazil∕pt∕resources_10133.htm>.
15
_______________
33
CONSALTER, Zilda Mara. op.cit., 2017, p.132-133.
34
BRASIL. op.cit., 2018.
35
Id.
36
MALDONADO, Viviane Nóbrega. Direito ao Esquecimento. Barueri: Novo Século, 2017. p.41-42.
17
_______________
37
MALDONADO, Viviane Nóbrega. op.cit., 2017, p.41
38
Ibid., p.46.
39
Ibid., p.48.
40
Ibid., p.49.
41
Ibid., p.66.
18
Esta última garantia posta acima, se correlaciona com a imprensa, que detém
o poder-dever no tocante as informações em geral, tendo em vista que a coletividade
possui o direito de ter e buscar informações.
No que cinge aos diplomas historicamente notáveis na esfera do direito de
informação, há que se sublinhar, coincidentemente, o décimo nono artigo tanto da
Declaração Universal dos Direitos Humanos42 (1948), quanto do Pacto Internacional
dos Direitos Políticos e Civis43 (1992), ambos assinados e ratificados pelo Brasil.
Levando em consideração a proximidade do texto contido nos dispositivos
supramencionados, opta-se por transcrever apenas o art. 19 da DUDH44:
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui
a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras.
_______________
42
ASSEMBLEIA GERAL DA ONU. 217 [III] A, de 10 de dez. de 1948. op.cit., 1948.
43
BRASIL. Decreto n° 592, de 06 de jul. de 1992. op.cit., 1992.
44
ASSEMBLEIA GERAL DA ONU. 217 [III] A, de 10 de dez. de 1948. op.cit., 1948.
45
BRASIL, Lei n° 12.527, de 18 de nov. de 2011. Regula o acesso a informações no inciso XXXIII
do art. 5°, no inciso II do §3° do art. 37 e no §2° do art. 216 da Constituiçao Federal; altera a Lei
n° 8.112, de dezembro de 1990; revoga a Lei n° 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da
Lei n° 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Brasília, DF, nov. 2011. Disponível
em: <http:∕∕www.www.planalto.gob.br∕ccivil_03∕_Ato2011-2014∕2011∕Lei∕L12527.htm>.
19
_______________
46
STJ, RECURSO ESPECIAL: REsp 1334097∕RJ. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. DJ:
28∕05∕2013. STJ, 2013. Disponível em: <https:∕∕www.conjur.com.br∕dl∕direito-esquecimento-acordao-
stj.pdf>. Acesso em: 11 jul.2018.
20
_______________
47
BRASIL. op.cit., 2018.
21
_______________
48
BRASIL. op.cit., 2018.
49
Id.
22
Em atenção deste tipo de exploração populista feita pela mídia, mesmo que
tardio, o direito ao esquecimento mostra-se como um corretivo, que ao menos atenua
as vicissitudes do passado. Somado a isto, não se pode olvidar que muitas vezes o
prevalecimento do interesse público sobre a privacidade dos envolvidos acaba por
confrontar diretamente o texto constitucional, como se transparece no art. 5°, LX da
CF∕8851: “A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou interesse social exigirem”.
Em mais uma lição exemplificativa da incidência do direito de ser deixado em
paz, desta vez na esfera consumerista, o ministro relator Luis Felipe Salomão faz
referência ao art. 43, §1° do CDC52 que tem lapidado o prazo máximo de cinco anos
para que constem em bancos de dados, informações negativas acerca de
inadimplência, que conforme arrazoa o relator:
(...) paga ou não a dívida que ensejou a negativação, escoado esse prazo, a
opção legislativa pendeu para a proteção da pessoa do consumidor – que
deve ser esquecida – em detrimento dos interesses do mercado, quanto da
ciência de que determinada pessoa, um dia, foi um mau pagador.
_______________
50
BRASIL. Código Civil de 2002. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2018.
51
BRASIL. op.cit., 2018.
52
BRASIL. Código de Defesa do Consumidor de 1990. Vade mecum. São Paulo. Saraiva, 2018.
23
a sociedade, que foi interrompida por extrapolados atos da recorrente no que tange
aos limites da liberdade de imprensa inobservados pela mesma.
Neste ponto, cumpre ainda informar que o recorrido não teve reforçada sua
imagem de inocentado, mas sim de indiciado. Destarte, decidiu-se pela manutenção
do acórdão hostilizado, merecendo destaque, por fim, parcela da fundamentação do
Desembargador Marcos Alcino de Azevedo, que assim pontuou:
_______________
53
STJ, RECURSO ESPECIAL: REsp1316921∕RJ. Relator: Ministra Nancy Andrigui. DJ: 26∕07∕2012.
STJ, 2012. Disponível em: <https:∕∕stj.jusbrasil.com.br∕jurisprudencia∕22026857∕recurso-especial-resp-
1316921-rj-2011-0307909-6-stj∕inteiro-teor-22026859?ref=juris-tabs>. Acesso em: 16 jul.2018.
54
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA, C-13∕12. DJ: 13∕05∕2014. TJUE, 2014. Disponível
em: <https:∕∕www.conjur.com.br∕dl∕tj-ue-google-direito-esquecimento.pdf>. Acesso em: 16 jul.2018.
24
provedores, decidiu pelo afastamento do § único do art. 927 do CC∕02 55, delimitando
o ideário de risco inserto nestas atividades, com os seguintes dizeres: “Transpondo a
regra para o universo virtual, não se pode considerar o dano moral um risco inerente
à atividade dos provedores de pesquisa”.
No que atine a responsabilização da GOOGLE, em decorrência da cessação
de veiculação das imagens da recorrida em cada página da web, Andrigui também
afasta esta decisão contida no acórdão do TJ∕RJ, assinalando que não obstante o
avançado estágio da inteligência artificial, é incogitável delegar aos computadores a
capacidade de desenvolver raciocínio subjetivo – equivalentes ao do ser pensante –
que possibilitem delinear a caracterização ou não de conteúdo ilícito ou nocivo a
determinados indivíduos.
Somado a isto, a preclara relatora traz como principais motivos da inviabilidade
da imposição de restrições aos provedores de busca: a ineficácia da designação de
termos específicos a serem impedidos de viabilizar o acesso a página que tenha o
conteúdo objeto do litígio, haja vista ser possível alcançar esta mesma página da web
através do uso de termos semelhantes; a ineficiência desta restrição acerca de
provedores de pesquisa de outros países e; o entrave ao direito de informação, por
conta de inviabilizar o acesso a notícias e reportagens ligadas ao termos em que recai
a restrição, trazendo óbice ao interesse público.
Com arrimo nos argumentos acima pontuados, a relatora, ante o sopesamento
dos princípios em confronto (direito de informação e direito à privacidade), rumou sua
decisão para o prevalecimento do princípio do direito de informação, consagrado no §
1° do art. 220 da CF∕8856, inclusive apontando ser desnecessária a exclusão das
imagens disponibilizadas nas páginas do provedor de pesquisa, que, frise-se: sua
grande maioria possui baixo potencial ofensivo.
Neste vértice, a eminente ministra, com sustentáculo no ideário de Newton de
Lucca, que trata da imprescindível excepcionalidade na aplicação de medidas
rigorosas no controle de conteúdos na rede mundial de computadores, explicita que,
via de regra, os provedores de pesquisa:
(I) Não respondem pelo conteúdo do resultado das buscas realizadas por
seus usuários; (II) não podem ser obrigados a exercer um controle prévio do
_______________
55
BRASIL. Código Civil de 2002. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2018.
56
BRASIL. op.cit., 2018.
26
conteúdo dos resultados das buscas feitas por cada usuário; e (III) não podem
ser obrigados a abandonar do seu sistema os resultados derivados da busca
de determinado termo ou expressão, tampouco os resultados que apontem
para uma foto ou texto específico, independentemente da indicação do URL
da página onde este estiver inserido.
Por fim, diante deste conjunto motivacional jurídico aduzido, a relatora Nancy
Andrigui, em sentido oposto ao seguido pelo TJ∕RJ, concedeu provimento ao recurso
especial sob exame, cassando deste modo a decisão que antecipou os efeitos da
tutela. Seguindo os termos do voto da relatora, os demais ministros componentes da
Terceira Turma do STJ, por unanimidade deram provimento ao recurso especial
interposto.
Todavia, de maneira adversa a decisão trazida no acórdão do REsp n°
1.316.921, recém esmiuçado, posicionou-se o Tribunal de Justiça da União Européia,
em um caso de extrema similaridade com este exposto. Nesta situação, se está
defronte de informações defasadas, relativas a um aviso de leilão de propriedade de
um advogado espanhol por motivos de débitos com a Seguridade Social, neste
momento já adimplidos, que datam de 1998, disponibilizadas pela GOOGLE Spain
SL.
Após uma série de tentativas infrutíferas de conciliação extrajudiciais e até
mesmo judiciais, em razão do inconformismo de Mario Costeja Gonzales para com
estas antigas informações dispostas pela GOOGLE espanhola, em sua plataforma de
busca, a desavença chegou ao crivo do Tribunal de Justiça da União Europeia.
Em data de 13 de maio de 2014, seguindo fielmente a Diretiva 95∕46∕CE 57 do
Parlamento Europeu, atinente à proteção das pessoas singulares no que diz respeito
ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação destes dados, o TJ da União
Européia adotou postura condizente com o direito ao esquecimento, isto é, efetuado
o balanceamento principiológico, se definiu pelo prevalecimento do direito a
privacidade, implicando na determinação da GOOGLE Spain remover de suas
páginas a obsoleta informação do interessado, por não possuir a faculdade de publicar
informações inexatas e descomedidas.
_______________
57
WIPO, European Union (EU) Directiva 95∕46∕CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 24
de Outubro de 1995, relativa à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao
tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados. Disponível em:
<http:∕∕www.wipo.int∕wipolex∕en∕text.jsp?file_id=474189>. Acesso em: 20 mai.2018.
27
O grande entrave que esse paradigmático caso traz, como bem pontua Sérgio
Branco58, gira em torno da insegurança jurídica desencadeada frente à dificuldade,
quiçá impossibilidade, em exigir das empresas privadas, habilitação para distinguir,
face a bilhões de solicitações e requerimentos de usuários, quais transgridem ou não
direitos inerentes a personalidade, inobstante o evoluído estágio tecnológico
vivenciado no presente momento.
De modo a simplificar a assimilação que a descuidada aplicação do direito ao
esquecimento pode ocasionar, basta deitar os olhos sobre o relatório de transparência
da GOOGLE59, publicado em 28 de fevereiro do ano corrente, onde se verifica a
exorbitante quantidade de 2,4 bilhões de pedidos, respaldados no direito de ser
deixado em paz, visando à exclusão de conteúdos de suas páginas.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
_______________
58
CONJUR, Liberdade de Expressão, “Direito ao esquecimento deve ser aplicado de maneira
excepcionalíssima”. Disponível em: <https:∕∕www.conjur.com.br∕2018-mar-04∕entrevista-segio-
branco-advogado-especialista-direitos-autorais>. Acesso em: 20 mai.2018.
59
UPDATING our “right to be forgotten” Transparency Report. 1°. 2018. Disponível em
<https:∕∕blog.google∕around-the-globe∕google-europe∕updating-our-right-be-gorgotten-transparency-
report∕>. Acesso em: 8 out.2018.
28
(III) Entretanto, sua utilização não pode ocorrer de maneira ampla, tendo em
vista os riscos que seu uso desmedido e descuidado traz à liberdade de expressão,
assim como a ameaça da história ser reescrita.
(IV) Exemplificativamente se pode averiguar essa drástica insegurança jurídica
emergir do precedente mundial perpetrado através da condenação da GOOGLE Spain
para remoção de dados obsoletos de um cidadão espanhol nas páginas da web que
esse motor de busca direcionava, pois com uma simples consulta à página de relatório
de transparência da GOOGLE, defrontar-se-á com um colossal número de 2,4 bilhões
de solicitações de usuários visando a remoção de conteúdos de suas páginas,
consubstanciados no emblemático caso paradigma acima citado.
(IV) O direito ao esquecimento deve ser usado de maneira excepcional, sendo
imprescindível o preenchimento dos seguintes critérios ensejadores de sua incidência:
violação à privacidade, oriunda da publicação de dados verídicos e defasados,
capazes de trazer prejuízos a seu titular, ante a ausência de interesse público.
(V) Importa salientar que os critérios supracitados devem ser verificados pelo
magistrado caso a caso, sem que se distancie da atividade de sopesamento para que
conclua ou não pela prevalência do direito à privacidade e, por conseguinte a
aplicabilidade do direito ao esquecimento, frente ao direito à informação.
29
REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Civil de 2002. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2018.
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes. 2017.