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SUMÁRIO
• • • Taynara Irias
A incoerência da alma
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• • • P. C. Ventura
Poesias para beber
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Sabine Ribeiro
Uma biografia
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Introdução
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que certamente empolgaria os poetas da geração-mimeógrafo. pesquisa nunca contemplou um julgamento de valor estético,
Por isso, podemos apresentar aqui a vocês, leitores, nosso 8 não poderíamos utilizar como critérios os padrões acadêmicos.
poetas-blogueiros hoje, seja em formato e-pub ou impresso, É claro que, na nossa escolha, ficam implicadas as nossas
visualizável ou palpável. formações como profissional da Linguagem e estudante de
A questão é, então, como se passa à história. Os poetas da Letras. Um gosto, queira ou não, já conformado ou influenciado
geração mimeógrafo lograram a notoriedade que hoje lhe pelos valores estéticos do cânone literário.
atribuímos porque foram antologizados por ninguém menos que No momento de escolher os poemas, decidimos que o objetivo
Heloisa Buarque de Hollanda, inseridos por ela na linha valorativa principal seria apresentar ao leitor as variedades que essa poesia
de nossa história literária, publicados por editora reconhecida, feita nos blogs poderia apresentar, deixando, assim, o julgamento
consagrados pela crítica, e, hoje, frequentam (pelo menos no estético para a recepção. Escolhemos poemas com diversas
caso de alguns) catálogos de grandes editoras comerciais. Os oito formas e temas. Em alguns, há maior trabalho com a linguagem,
poetas que aqui apresentamos, têm, ao contrário, diante de si uma em outros, maior preocupação com a expressão. Entretanto,
longa estrada, que poderá ser ou não percorrida. o leitor poderá verificar que há muitas semelhanças entre as
Realmente há, entre os “à margem da edição” dos anos 70 e esses produções. Enquanto realizávamos a pesquisa, ao longo da
nossos cefetianos blogueiros do século XXI, muitas diferenças. análise dos blogs, notamos, por exemplo, que há a predominância
De contexto, de propósitos, de concepções de poesia, de visão de da primeira pessoa nos poemas; há também boa quantidade de
mundo, de temáticas, de habilidade de manejo linguístico, etc. É o temas relacionados a questões existenciais, nas quais “o tempo”
que o conhecimento prévio do leitor sobre a geração-mimeógrafo, ganha destaque. Essa perplexidade diante da realidade poderia
em confronto com critérios de escolha dos poemas aqui reunidos, ser explicada pelo fato de a maioria dos poetas-blogueiros serem
sobre os quais falaremos a seguir, os próprios poemas e as muito jovens, mas nos textos dos autores mais maduros, os
entrevistas com os autores certamente apontarão. questionamentos existenciais também aparecem.
Acreditamos, porém, que o primeiro passo foi/ é, para todos Como mencionado, durante a pesquisa, realizamos um
os poetas, sempre o mesmo: escrever, considerar o que se escreve questionário com os poetas-blogueiros, que também serviu de
como sendo poesia e desejar ser lido. É em celebração a essa base para a escolha dos poemas. Quando perguntados sobre o
atitude, à coragem desse primeiro passo, que fizemos este livro. que consideravam o que era poesia, a maior parte dos poetas
manifestou uma visão de poesia próxima à concepção de
A escolha dos poemas poesia dos autores do Romantismo , ou seja, de uma poesia,
primeiramente, como forma de expressão. Notamos que nos
Justificar a seleção de textos para uma antologia literária casos em que esse aspecto era mais valorizado, os poemas
nunca é fácil. Em uma escolha como essa, definir critérios correspondiam a essa visão. Já nos poemas dos autores que
torna-se uma tarefa melindrosa, uma vez que estão latentes salientaram os aspectos linguísticos da construção poética,
questões como o que pode ser considerado uma boa literatura, podemos notar maior trabalho com a linguagem. Como dissemos,
seja quando se consideram valores pessoais, mercadológicos ou não há julgamento de valor estético aqui. Não pretendemos dizer
aqueles ditados pelos padrões estéticos da crítica especializada que uma obra seja melhor do que a outra, mas que se direcionam
acadêmica. Apesar de o nosso corpus de autores não ser grande, a propósitos diferentes, e na escolha dos poemas de cada poeta-
apenas 8 poetas1, deparamo-nos com uma quantidade enorme blogueiro, tentamos selecionar aqueles que, ao nosso olhar,
de poemas, na casa de centenas. Como o nosso objetivo na correspondem melhor à concepção de poesia do próprio autor.
Além da escolha dos poemas, outra decisão, inicialmente,
1 Recebemos um total de 18 inscrições, porém apenas 8 blogueiros tornou-se um desafio: o projeto gráfico da edição. Como a
formalizaram o compromisso de participar de todas as etapas da pesquisa.
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proposta inicial da pesquisa era produzir uma antologia digital, poemas. Retirados de seu suporte original, o que fica é o eu
preocupava-nos optar por um suporte que justificasse a “retirada” poético e a construção de uma autoria, legitimada por um objeto
dos textos de seu suporte original, oferecendo recursos iguais que se mostrou imperativo para essa construção: o livro.
ou superiores aos dos blogs. Por isso mesmo, a pura e simples Percebemos, dessa maneira, que o objeto livro, feito de papel
transposição para um e-pub sempre nos pareceu insuficiente, e publicado por uma editora, ainda é o caminho principal para
já que o blog, além de se configurar como suporte para os uma legitimação de autoria, ao menos no imaginário dos nossos
textos, é também uma ferramenta de distribuição. Entretanto, poetas-blogueiros. Cabe neste momento, lembrar do que dissemos
qualquer outro formato digital, requereria profissionais da área no início desse texto: que os poetas dos mimeógrafos, ao serem
de programação, o que não poderíamos custear. Sendo portanto, publicados em uma antologia (26 poetas hoje) organizada por uma
o e-pub a nossa única opção viável, decidimos, juntamente com pesquisadora de renome, Heloísa Buarque de Holanda, deixaram
ele, fazer uma versão impressa; porém surgiu outro obstáculo: os de ser poetas marginais para entrar no rol de poetas legitimados
custos com uma impressão que contivesse imagens. Se, por um por uma crítica.
lado, a versão digital nos permitiria explorar recursos gráficos, a Assim como os poetas da geração mimeógrafo possuíam o seu
versão impressa nos solicitava contenção. público leitor, os poetas blogueiros, hoje, também são lidos. Dado
A solução para o nosso dilema nos foi apresentada pelos o alcance da internet, talvez sejam até mais lidos do que outrora o
próprios resultados da pesquisa. Incialmente, como hipótese, foram os poetas marginais. Entretanto, não é somente a presença
esperávamos encontrar uma produção poética intimamente de um público leitor que legitima a autoria de uma poeta, mas
relacionada com os recursos multissemióticos que as plataformas também a crítica. No sentido apresentado pelo filósofo André
dos blogs oferecem. Entretanto, percebemos que os recursos de Lefevere, em Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária,
imagens, sons e vídeos foram pouco utilizados pelos poetas- são as reescrituras que fazem com que um autor seja reconhecido
blogueiros cefetianos. No caso desses escritores, a partir da como tal e que o fazem permanecer no cânone literário. Entre as
análise dos poemas, dos próprios blogs e das entrevistas, ficou reescrituras, Lefevere inclui, além dos textos críticos, a edição e a
claro que o foco da criação é na palavra escrita. E, por essa razão, antologização. Assim, não é de se admirar o superior valor que
priorizamos o texto verbal e excluímos de alguns poemas as nossos poetas-blogueiros dão ao livro físico.
eventuais imagens a eles relacionadas. Percebemos que elas são, Por fim, devemos destacar que não podemos fazer grandes
na maioria quase absoluta dos casos, ilustrativas e não fazem generalizações. O nosso corpus é limitado, e há uma inumerável
parte do processo de criação poética, como até esperávamos quantidade de blogs de poesia na rede; mas acreditamos ter
encontrar no início da pesquisa. E o mais importante: que o valor demonstrado que a transição do suporte livro para os meios
dado ao livro impresso, pelos poetas-blogueiros, como forma de tecnológicos não seja algo tão simples e óbvio como muitos
divulgação de suas obras, era superior ao valor dado ao blog. eufóricos acreditam. A respeito dessas e de outras questões, o
Assim, o livro impresso tornou-se o nosso produto principal, e o trabalho desenvolvido durante a pesquisa gerou conclusões
digital, um meio alternativo. cuja extensão desse texto não nos permite expor. Gostaríamos,
Ao refletirmos sobre a valorização do livro impresso, vale acima de tudo, que o leitor desfrutasse da leitura dos poemas,
ressaltar a perspectiva dos autores quanto à função dos blogs. seja por meio do livro impresso, do livro digital ou recorrendo às
Além da divulgação, muitos o consideram uma ferramenta de publicações no seu suporte original.
armazenamento. Dessa maneira, temos recuperado o sentido
original de diário dos blogs em sua associação à visão de poesia
como forma de expressão. É perceptível em alguns dos blogs Andrea Soares Santos (orientadora)
a mistura entre o eu real dos ‘blogueiros’ e o eu ficcional dos Izabel Maria Fonseca Vieira Sá (bolsista)
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Fernanda Bião
Construções da Alma
Endereço eletrônico:
http://construcoesdaalma.wordpress.com
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Silêncio
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É tempo de renovação! Educar
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Ousadia O tempo
Mistério?
Pra quê?
Preciso é compreender
Para saber me mover.
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Alma solitária Promessas
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E este corpo que fala? Entrevista com o autor
Passos lentos ou acelerados, coração que bate no compasso, 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
obedecendo à cantiga da vida andante.
Ter a oportunidade de reunir meus textos poéticos e disponibiliza-
Experiências que circulam pelas veias como sangue. Olhos los virtualmente.
[vivos e
cintilantes. Boca que se aperta ao degustar os sabores. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece
algum outro meio de produção independente?
Os ventos trazem os odores para dentro das narinas, que se
conectam com uma memória de cores e lembranças. Pelo fácil acesso a informações que o blog proporciona. Acredito
que o meio virtual é acessível a mais pessoas. Conheço o site:
Circuitos abertos e fechados, luzes e escuridão fazem parte da http://www.recantodasletras.com.br/ e a Editora Literacidade
iluminação cerebral. (http://literacidade.com.br/) em que meus poemas já foram
publicados em antologias.
Uma boca – várias funções – delícias a serem vividas.
3. O que é poesia para você?
Respiro – vai e volta – troca – dou de mim e levo de muitos.
É uma expressão da alma. Uma maneira do ser estabelecer um
Mãos que acariciam – toque sagrado – trabalho. diálogo entre a sua existência e o mundo. Expressando seus
sentimentos, suas angústias, sua visão do óbvio.
Pés a caminho. Sempre! Quais? Nunca acabado.
4. Você lê livros de poesia de outros autores?
Semblante que revela sentimentos. Medo do medo. Alegria
[em ser Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Cecília
alegre. Raiva da estagnação. Meireles, Fernando Caio de Abreu e autores não tão conhecidos.
Corpos são tantos! Entretanto, todos carregam joias a serem 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a
desvendadas – a Alma! ferramenta de comentários?
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7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?
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Entre os tics e tacs
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Posição Pronomial Planta
É tanto projeto
que começo a me projetar
em sonhos, ilusões e caminhos
que não cabem no meu papel.
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O jogo do social insociável Passageiro
Vai! Que é a bola da vez! Observo as gotas se chocarem contra o vidro embaçado
Falar para não escutar, e elas nunca me atingem.
já pensar em como não fazer As luzes escorrem do outro lado da janela...
e justificar, inventar não ir além tudo que vejo é o contraste da noite nos faróis e postes.
do espaço que marcaram.
Pneus soam sobre o asfalto molhado
Espera a sorte na quadra, quina... e em um deslize meus pés se lançam sobre as poças, brincam
A ficha cai. [no chão,
Arrumem outra nova ou peguem de volta! como em um tempo em que eu não tropeçava para entrar na
Entrem também! [dança.
Pingue-pongue social, Mas o semáforo finge o verde e a carcaça de metal range com
aqui o jogo não para. [os freios.
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Beijos e Cadeados Das revisões interiores
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A bordadeira Emersão
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Fogo de palha Leis da natureza
Eu, jardim cheio inverno O vento agora sopra suave sobre a serra
e seu corpo frio, jogado pelos butecos. mas o coração dele segue soprando a chama.
Café com blues, Início de noite... frio penetrando a pele,
seus olhos dizendo blue, blue, blue. cinzas de cigarro espalhadas pelo piso
e o violão gemendo baixinho nas mãos do poeta...
Ensaio penetrar e me desconcerto. As folhas de outono à fogueira encantam...
Já em alto-mar você esquenta meu inverno. O que seu peito Chama não vai se apagar.
A superfície finge ao interno:
A(r)mou mais fundo
Fogo e palha, até a estação passar,
outra vez.
minha cama e o suor de nossa única noite...
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Lamentos e além Entrevista com o autor
Quando a alma grita no papel, não há barulho. 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
Há um silêncio inquietador
rompendo os laços invisíveis, como algo que corrói Tenho duas principais motivações (difícil definir uma). A primeira
até que se perca o controle. é a vontade de despertar nas pessoas um olhar diferente sobre as
coisas mais comuns, aquilo que passa despercebido na rotina dos
E se a carne sangra dias. Ainda que eu não produza nada muito novo, tudo o que cada
é porque o coração já amaciou demais um escreve passa por um filtro diferente, então já é uma forma
e agora endurece, singular de mostrar/sentir o mundo. E a minha outra motivação
transpondo o que resta por dentro. para produzir um blog é porque publicar, de certa forma, estimula
uma produção mais constante, além de ser um excelente meio
O olhar perscruta e escurece. para “arquivar” os textos. Mesmo que eu não esteja publicando
Sorrisos vazios, constantemente, a opção “rascunho” sempre é utilizada e os textos
paixões exaltadas, ficam lá, salvos, apenas esperando um ajuste, uma reescrita ou só
o dar de mãos congeladas... a coragem de clicar em “publicar”.
Pingue-pongue.
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece
Quem quer jogar é só entrar na roda. algum outro meio de produção independente?
Benditos sejam os jogadores!
Não existem perdas ou ganhos. Eu escolhi o blog porque é um meio mais interativo, excelente
É que o lugar é confortável. para se começar a publicar, pois as pessoas podem comentar,
Água e açúcar e muita tinta cinza. criticar, elogiar e responder. Além disso, não tem nenhum custo
financeiro. Conheço outros meios de publicação independente,
Preciso das cores de volta em minha íris. como os fanzines.
Lavar o corpo e a alma,
expor ao sol, 3. O que é poesia para você?
deixar queimar
até esquecer do frio de ontem. É matéria de vida, a corda bamba que me permite caminhar entre os
extremos e até mesmo cair. A poesia é a minha maneira de entender
As curvas são o sentido incoerente da alma. ou desentender as coisas, de inquietar a alma ou aquietar o espírito. É
A resposta. uma forma sem fôrma para se expressar. É uma maneira fotográfica,
Como o pássaro que quebra as asas dançante e musicada até mesmo para dizer o que incomoda.
e se lembra que sabe andar,
aprende a ter mais impulso 4. Você lê livros de poesia de outros autores?
vai voar mais alto.
Sim, leio livros de poesia sempre. Tenho vários espalhados pela
Alcançou o infinito casa e sempre levo um na bolsa, assim eu vou lendo aos poucos.
quem já colocou demais os pés sobre o chão Não gosto de ler livros de poesia como se fossem romances.
e os olhos além.
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Acho que cada poesia conta alguma coisa, por isso preciso de um
tempo a mais para cada uma e distanciamento entre elas, senão
eu misturo os versos de uma na outra e faço o livro inteiro virar
um poema (o que não deixa de ser poético! rs).
Vitor Hugo Morales
5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a Poesia, filosofia, pouca e pequena
ferramenta de comentários?
Endereço eletrônico:
Leio muitos blogs de poesia, porque é uma ótima forma de http://poesiapequena.blogspot.com.br
encontrar bons poetas vivos e desconhecidos, principalmente
os mais jovens. Tenho o costume de utilizar a ferramenta de
comentário quando gosto do poema, acho que o escritor precisa
saber disso, perceber minha visão sobre o que ele escreveu. Acho
os comentários extremamente importantes para incentivar o
escritor. Quando não gosto dos poemas e não tenho nada de
construtivo para falar eu não comento nada, às vezes só não me
agrada, o que não significa que seja ruim.
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Sentir-se mal por dizer a verdade
Maltratar o coração só pra ver se ainda bate
Mentir por julgar necessidade
E se vingar por pura maldade.
Eis a consequência: a realidade.
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Tic tac. A passeio
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Pequena poesia
Tu vieste como um vento,
Ficaste como um furacão,
Minha Pequena... E foste como uma brisa.
Peque na poesia,
Porque na poesia
Pecado não há de se pagar.
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Loucura desse mundo
Dê-me os motivos certos e um ponto de apoio
e moverei o mundo.
Não confio em ninguém, pois não há prova do contrário.
Existe um gosto pela imoralidade e vulgaridade, que não há mais
[amor em forma de poesia. Puro
e livre.
Só a putaria de uma sociedade corrompida por valores invertidos.
Não existem mais pessoas que amam o romantismo.
Essas foram corrompidas pela podridão de outras.
O perdão se cansa.
E acabamos virando homens vorazes em uma selva onde ser o melhor
[é ser o pior.
Tenta-se amar uma, duas, infinitas vezes.
Mas diante desse avanço tecnológico do século 21, esqueceram-se
[de escrever.
Esqueceram-se da embriaguez e da sinceridade.
Daí não existe mais amor.
O sexo era proibido, coibido .
Hoje é obrigatório e ai de quem não faz...
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Folha em branco
Consciências livres
São consciências sujas.
Quando nascemos, somos como uma longa folha em branco.
Essa folha é o tempo. À medida que vamos andando sobre ela
vamos deixando marcas, amassos, rasgos e rabiscos.
É por isso que sempre vamos envelhecendo.
Pois mesmo que pudéssemos fazer o caminho contrário
Preferiríamos a folha em branco em frente a ser escrita
Do que andar sobre os rasgos e rabiscos do passado.
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Corda bamba Samba de varanda
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Péssima memória Tal como piano.
Tudo que eu queria era ter uma péssima memória. Sou como um piano.
Assim as decepções nunca me marcariam. Solitário, imóvel e fechado.
Viveria todo dia conhecendo novas pessoas e me iludindo com Revestido com uma madeira sólida e robusta.
[as suas grandezas. Mas por dentro uma construção tão delicada
De cordas entrelaçadas,
Que numa leve encostada
Soam notas de alegria ou de tristeza profunda.
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Entrevista com o autor 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?
1 . Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Sim e muito. Muitos amigos e leitores dizem que escrevo bem, e
vejo a publicação como uma forma de renda extra. Além de que
Ter um lugar para guardar poesias e filosofias que tenho em sinto falta de livros mais curtos, com poesias curtas e simples
certas épocas da minha vida. Também um meio de publicação como leitura de cabeceira. Vejo a poesia e filosofia pequena – tal
e compartilhamento. como é o nome do meu blog – como uma forma de popularizar
também o hábito da leitura de poesias. Muitas vezes a falta de
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece paciência ou de tempo é um empecilho para iniciar o gosto pela
algum outro meio de produção independente? poesia. A poesia curta e simples.
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Matheus Alexandre
O eu escrito
Endereço eletrônico:
http://oeuescrito.tumblr.com
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Quem dera eu fosse artista, poder transformar palavras em
poesia, cores em rostos, corpos e paisagens. Transformar
paisagem em fotografia, rocha em escultura, sons em
música. Quem dera eu fosse artista, e seria iluminado, e
iluminaria todos ao redor, despertando sorrisos e lágrimas,
abraços e beijos, encantando casais e amigos, pais e filhos,
médicos e motoristas, crianças e adultos. Quem dera eu
fosse artista, e o que sinto e o que vejo, o que sonho e o que
conquisto, amores e desamores, tristezas e alegrias, todo o
meu mundo se tornaria um livro daqueles de poesia, tudo
eu transformaria em poesia. Quem dera eu fosse artista e a
arte enfim faria parte de mim.
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E no momento em que você disse que algumas coisas são E tem sim aqueles dias em que ao invés de encontrarmos
perfeitas, eu percebi que você falava de nós. Luz no fim do Túnel, encontramos mais Túneis.
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Descobrir que vocês são sim diferentes e que talvez o Quando saí na rua, alguns pedaços de céu quase me
“x” da questão não esteja em serem iguais e sim em acertaram… E era quase inútil desviar. É que de repente o
compartilharem entre si um mesmo sentimento: Amor; e mundo inteiro resolveu desabar.
uma mesma virtude: respeito.
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Tava meio sem vento, então girei a vela e mudei a direção… Não me interessam os corpos. Corpos são todos iguais,
Mas aí fica aquele medo de ter feito a coisa errada, sabe? carne, pele e osso, e desfalecem com o tempo, enrugam-
Bem, no momento isso era o certo para mim, talvez não se e, quando o tempo é tal que não podem mais suportar,
para os outros ao meu redor, mas para mim sim. Temos morrem. Almas, cada qual com sua individualidade, são
que confiar no nosso instinto, ele nos trouxe até aqui… alegres, inteligentes, umas jovens, outras maduras, trazem
uma vez ou outra pode parecer loucura largar tudo e experiências e conhecimentos, almas identificam-se, almas
mudar totalmente o rumo, mas isso pode significar evitar são eternas. Quando corpos se encontram, trombam-se,
um naufrágio em alto-mar. No momento? Reagrupando, encaixam-se e partem… Almas unem-se, completam-se, e
juntando forças, aprimorando, adquirindo conhecimentos, suas uniões são perenes.
porque quando for pra valer, estarei pronto.
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Entrevista com o autor
Pode ter durado uma fração do tempo: micro, nano, pico
segundos, mas se é eterno, marca na mente por mega, giga,
tera-décadas. 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
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6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,
quais seriam esses autores?
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Papos psicóticos
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Curta 197 Curta 195
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Objetos 50 Curta 220
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A iara e o caboclo Diapositivos
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Notas de leitura em revista de bordo 17
com rúcula e carne de sol da barraca da Léa. “É caro mas é
muito bom”. Eta Marieta. Se apareceres lá, te baterei palmas
1. Eta Marieta! Regularidade, tempestade! Quem tem Marieta até dar calos nas mãos. E protejam o Jalapão.
não precisa de Catherine Deneuve!
10. Escambo o escambau. troca justa. Mas não troco por
2. N’Ella tudo é bom, mas atenção: precisa ser um bom nada no mundo meu disco de vinil dos Tincoãs. Quem tem
degustador, senão não funciona. N’Ella tudo é possível, um disco de vinil dos Tincoãs? Nunca conheci quem tivesse
desde delicadezas ambrosianas até temperos fortes. Esteja um. Faz-me sentir uma pessoa rara.
preparado para as novidades!
11. Tempestade tropical dá prêmios a quem sabe se equilibrar.
3. Negras, vermelhas ou louras fortes. Boa pedida para o Surfar é melhor que navegar.
inverno. Ou seja, cerveja!
12. A moda está na moda, de novo. A mesma que veste
4. Os tabus da África são os fantasmas brancos assombrando desnuda para exibir a ausência do traje. Está na moda a roupa
nas plantações das planícies. Os tabus não são materiais, são invisível do rei.
espirituais.
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Entrevista com o autor
5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a
ferramenta de comentários?
1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
Sim, e se gosto, faço comentários.
A motivação principal é correr o risco de ser lido. E o blog
é também um espaço de armazenamento interessante dos 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,
trabalhos. Ele fica acessível ao autor também, podendo ser quais seriam esses autores?
retrabalhado a qualquer momento. Faço uma cópia dele, claro,
mas é um espaço de armazenamento e de leitura. A leitura em geral influencia minha poesia. Os autores que mais
influenciam minha poesia não são necessariamente poetas. São
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece Guimarães Rosa, José Saramago, José Maria Rilke, Bob Dylan,
algum outro meio de produção independente? Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, e cronistas
de vários matizes. Minha poesia é meio crônica, na verdade. Eu
Eu nunca achei que minhas poesias fossem boas. Tinha um escrevo muito sobre as vivências cotidianas.
certo receio de apresentá-las e elas não serem aceitas. O blog me
permite experimentar como autor e ter um certo retorno dos 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?
leitores. De tempos para cá eu as publico esporadicamente no
Facebook©. O retorno de leitores é muito pequeno. O blog tem Sim, penso em publicar no próximo ano. Preparo uma coletânea.
uma média de umas 30 visitações por dia, mas essa medida não Gostaria de deixar livros de poesia como legado.
é confiável. Quando jovem fazíamos muitas publicações avulsas
mimeografadas e distribuíamos entre amigos. O blog é uma
mídia fácil, aberta, gratuita.
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Guilherme Fernandes
O globo …ocular
Endereço eletrônico:
http://ogloboocular.blogspot.com.br
No meio de um oceano branco, lá se encontrava aquele
grande continente cor da infinitude do universo.
Lá estava meu mundo... sua alma escondida atrás daqueles
globos oculares.
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Litterae Lunarum I Litterae Lunarum II
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Recólica Vazio
II
Ex-tética
Pura,
Transparente
Tanto que não se vê
Tétano
Pa-tética
III
...
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A lápide
IV
Apesar de tudo
Um pouco
Muito
Minto
Pois apesar de morto
Sinto
E isso é a vida:
O limbo!
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A caverna Formas
Fim de quê?
Fim de quem?
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Fic- (sou) -ção Ser ou não sou?
Escrito, um roteiro
Que acha que sabe que age
Inconsequente em
Máquina-ação
Já a minha mácula-
-são
as manchas da caneta
(Na branca folha de papel)
Escritas à mão
(Não é? Não é não!)
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Entrevista com o autor
Sim.
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Folha Seca
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Um Mergulhador Por Um Fim
Eu sangrei
Me quebrei
Enfim, chorei
E já cego
A casa voltei
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Na Tal Segunda-Feira Do Aviso
A Tiso
Chega de mansinho
Como macio sinto o toque Com todo o seu peso
Aquele que me dá o enfoque Sorriso tímido e traseiro gelado
Em apenas uma parte da história Senta-se em cima do que fomentava
Tudo pode esperar Recém tirado do forno
Porque mais perto da glória Daquilo que estava dentro de mim
Não há como chegar Enrolado em um fio fino de consciência
Ensopado em um lago de devaneios.
A alegria que seu cheiro me traz
É a mesma que ao meu tédio desfaz Chega devagar e mansa
E que ao sorriso que ali demonstra Com passos felpudos e sorrateiros
Ilumina a quadra, o bairro, a nação Sorri-te um sorriso sedutor
Soa-me como um mantra Seduz-te a mergulhar em um mar glacial
Do qual só me interessa a fração Escuro e misterioso
Seduz-te ao fundo
Que de mente ainda não entendo Daquela água pesada.
E do que não entendo, tenho medo
Mas com medo, abraço-me ao apego Que o pôr do sol é um conforto
E me deito em cama de sossego Pode ser
Para me despertar em outro dia, depois das dez e meia. Uma aparente felicidade em revê-lo
Que se vai para trás daquele horizonte
Lá longe
Trazendo uma erma sensação
Parasita da beleza que se foi
Fixadora da tristeza que chegou.
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Poças - de - Pular
Ainda haverá interesse
Depois de passar por meu aviso
“Ainda estou de luto”. Quando era criança
Brincava de pular em poças d’água
deixadas ali pela chuva
E sorria despreocupado
E pulava, e sorria, pulando
De poça em poça, até crescer
Por anos esqueci como era bom
Brincar nas poças - de - pular
E agora que a vida me abraça
Que a fantasia é desmascarada
Que a realidade dança nua perante meus olhos
Tudo o que quero são minhas poças - de - pular
Quero me sujar
Quero meu desleixo
Quero me desfazer da imagem
Não me importar com o que vão pensar
E me jogar nas poças - de - pular
Me encharcar, me sujar, me sujar, me molhar
Dançar e rir despreocupado
E que todos olhem
Para contente eu ficar
Com as minhas poças - de - pular
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Fora d’água (Em vão) Entrevista com o autor
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7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?
Não sei. Não acho que meus poemas sejam bons o suficiente para
interessarem alguma editora, haha.
Sabine Ribeiro
Uma biografia
Endereço eletrônico:
http://www.umabiografia.blogspot.com.br
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Não quero ter o mesmo fim dos românticos que me
precederam, que ao contrário do que contam, não foi de
tuberculose que morreram e sim de desespero. Conto as
crises de loucura que me assolam e, a cada número, morro
um pouco. Sou posto em choro ainda que rouco. Não sou
um poeta do meu tempo. Meus medos não são meus
contemporâneos. Anseio pelo futuro, mas não me esqueço
dos alicerces, muitas vezes vermelhos, dessa nação que diz
caminhar pra frente.
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Por tempos tive algo pelo que escrever, um motivo não dos Auto exorcismo:
melhores. E numa tarde quente, ele se foi, deixando um Ato de escolher atos, hábitos ou palavras que lhe façam
buraco de dar inveja a qualquer um. Um buraco fácil de ser esquecer algo, alguém ou algum momento.
preenchido. Fiz o melhor para mim, preenchi-o com uma
folha em branco.
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Aos Livres e Inspirados.
Olho para os olhares que me olham.
E o que eles olham?
E amanhã é segunda, meu povo, Será que eu sei?
e a labuta começa de novo, Será o mesmo que eu olho?
e a saúde se acaba um po’co,
e o tempo se esvai num côco. E o que eu olho?
E o velho caminhante,
e o novo errante,
caminham e erram
nos chãos em chamas,
com os pés em lamas,
carregando flâmulas.
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Agosto, Amarrarei todos os males do mundo embaixo da minha
desgosto, [cama antes de levantar.
tem gosto Serei juiz, bandido e vítima de um mesmo crime.
de encosto. Serei Napoleão, Picasso e Madonna.
Serei Al Capone, Elvis e os Beatles.
Serei Cleópatra e Ramsés.
Dormirei ao lado de reis e rainhas.
Serei um deus com cabeça de elefante e corpo de gente.
Terei como amigos uma lebre e um chapeleiro louco.
Um coelho com pressa e um gato sorridente serão meus
[companheiros.
Serei o dono da verdade e o maior mentiroso que já existiu.
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Eu vou me inspirando em loucos, E o vidro com a fita vermelha preserva o que chamávamos
em pessoas que morreram aos poucos. [de amor.
Vou beijando amantes toscos Em leves tons de cereja e licor,
e sorrindo pra velhos rostos. em formato arredondado,
agora com um odor mais amargo,
No entanto, me entrego aos trancos como algo passado que deveria ter sido melhor preservado,
e abraço os barrancos. usado e abusado,
Amacio os bancos mas fora descartado.
e mexo os flancos.
Não! O que estou a dizer?! Que algo tão bem guardado, em
Eu vou me inspirando em loucos, [vidro enfeitado, fora ali descartado?!
em pessoas que morreram aos poucos. De modo algum! Aquele bombom tão bem enrolado fora
(Algumas) Vítimas do vício de pensar, [guardado para ser preservado.
(outras) da insanidade de escrever
e (outras até) da arte do não saber. Antes de doce cereja escorria o licor, agora és dono do odor
de algo não mais chamado amor, mas que é mais bem tratado.
Vivo na ânsia de que isso não me alcance
Escrevo, penso e não sei.
Mas morrer de loucura...
Que valha a pena.
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O que você acha de viver?
E que loucura é essa que vocês dizem que move tudo?
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Entrevista com o autor
Poesia pra mim pode ser uma expressão de emoções sem o menor
intuito estético, pode ser uma composição de palavras com o
intuito só de ser belo. Poesia pra mim é a exposição do belo.
Não frequentemente.
Sim. Sim.
Nunca pensei nisso, mas acredito que sim. Pra talvez alcançar
um público maior, difundir o meu estilo e influenciar futuros
poetas, quem sabe.
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