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SUMÁRIO

8 poetas-blogueiros hoje foi produzido durante a pesquisa A


(À) margem da edição: a poesia, dos mimeógrafos aos blogs,
realizada pelo programa de Iniciação Científica do CEFET-MG, Introdução
fomentado pela FAPEMIG, no período de 2012 a 2014, por alunos 09
e professores do curso de Bacharelado em Letras-Tecnologias da
Edição, Departamento de Linguagem e Tecnologia. Fernanda Bião
Construções da Alma
15

• • • Taynara Irias
A incoerência da alma
27

Coordenação editorial: Prof. Andrea Soares Santos Vitor Hugo Morales


Consultoria editorial: Prof. Pablo Guimarães Poesia, filosofia, pouca e pequena
Organização: Izabel Maria Fonseca Vieira Sá 43
Revisão: Prof. Andrea Soares Santos e Izabel Maria Fonseca Vieira Sá
Capa e diagramação: Ana Sofia Alencar Castro Matheus Alexandre
O eu escrito
61

• • • P. C. Ventura
Poesias para beber
73

Agradecimentos Guilherme Fernandes


Agradecemos aos poetas-blogueiros, por participarem O globo …ocular
até o final da nossa pesquisa, e ao prof. Pablo Guimarães, 87
por sua consultoria ao projeto editorial.
Luiz Carlos Vieira
Às arvores do caminho
101

Sabine Ribeiro
Uma biografia
113
Introdução

Entre os 26 poetas hoje, antologizados por Heloísa Buarque de


Holanda, na década de 70 do século passado, e esses nossos 8 poetas-
blogueiros hoje, há um lapso temporal profundamente marcado pelo
advento das novas tecnologias de informação e comunicação.
E, dentre outros objetivos, era justamente o impacto dessas
tecnologias no fazer poético e nos modos de fazer circular a
produção daí decorrente que pretendíamos investigar ao propor,
em 2012, o projeto de pesquisa “A (À) margem da edição: a
poesia, dos mimeógrafos aos blogs”, pelo programa de Iniciação
Científica do CEFET-MG, fomentado pela FAPEMIG.
É, pois, no mínimo curioso que o resultado desse esforço
investigativo se nos apresente na forma do bom e velho livro
impresso, com a antologia de agora mimetizando, ainda que
guardadas as proporções, aquela anterior, de 1975. Para entender
isso é necessário reconstituir, ainda que de modo breve, o
percurso percorrido até aqui.
Realizada no período de 2012 a 2014, esta pesquisa pretendeu
contrastar as atitudes, nos âmbito da criação e da edição, dos
chamados poetas marginais da década de 70 e de autores que
contemporaneamente veiculam suas produções por meio de
blogs. Numa manobra algo espelhada na da própria Heloísa
Buarque de Hollanda que, no prefácio de 26 poetas hoje, afirma
ter escolhido para compor a sua antologia “os trabalhos que
estavam mais ao alcance de seu conhecimento”, optamos por
tomar como objeto de análise um corpus de blogs de poesias
produzidos por membros da comunidade do CEFET-MG.
Divulgamos nossos propósitos, convocamos alunos, professores
e servidores cefetianos e eis que nos vimos, numa ponta, diante
desses oito poetas-blogueiros e, noutra, diante de autores que,
conforme nos ensina Glauco Mattoso em O que é poesia marginal
(1981), queriam divulgar o seu trabalho em uma época em que o
mercado editorial era fechado para novas concepções.
Mas a questão, em essência, permanece a mesma. Entre supor-
se autor e ser consagrado autor – ou autor consagrado (o que dá
na mesma) –, o passo é passar ao livro. Mas não nos referimos
apenas ao “fazer o livro”. Esse não é problema. As tecnologias do
nosso “hoje” facilitam a publicação e a circulação de um modo

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que certamente empolgaria os poetas da geração-mimeógrafo. pesquisa nunca contemplou um julgamento de valor estético,
Por isso, podemos apresentar aqui a vocês, leitores, nosso 8 não poderíamos utilizar como critérios os padrões acadêmicos.
poetas-blogueiros hoje, seja em formato e-pub ou impresso, É claro que, na nossa escolha, ficam implicadas as nossas
visualizável ou palpável. formações como profissional da Linguagem e estudante de
A questão é, então, como se passa à história. Os poetas da Letras. Um gosto, queira ou não, já conformado ou influenciado
geração mimeógrafo lograram a notoriedade que hoje lhe pelos valores estéticos do cânone literário.
atribuímos porque foram antologizados por ninguém menos que No momento de escolher os poemas, decidimos que o objetivo
Heloisa Buarque de Hollanda, inseridos por ela na linha valorativa principal seria apresentar ao leitor as variedades que essa poesia
de nossa história literária, publicados por editora reconhecida, feita nos blogs poderia apresentar, deixando, assim, o julgamento
consagrados pela crítica, e, hoje, frequentam (pelo menos no estético para a recepção. Escolhemos poemas com diversas
caso de alguns) catálogos de grandes editoras comerciais. Os oito formas e temas. Em alguns, há maior trabalho com a linguagem,
poetas que aqui apresentamos, têm, ao contrário, diante de si uma em outros, maior preocupação com a expressão. Entretanto,
longa estrada, que poderá ser ou não percorrida. o leitor poderá verificar que há muitas semelhanças entre as
Realmente há, entre os “à margem da edição” dos anos 70 e esses produções. Enquanto realizávamos a pesquisa, ao longo da
nossos cefetianos blogueiros do século XXI, muitas diferenças. análise dos blogs, notamos, por exemplo, que há a predominância
De contexto, de propósitos, de concepções de poesia, de visão de da primeira pessoa nos poemas; há também boa quantidade de
mundo, de temáticas, de habilidade de manejo linguístico, etc. É o temas relacionados a questões existenciais, nas quais “o tempo”
que o conhecimento prévio do leitor sobre a geração-mimeógrafo, ganha destaque. Essa perplexidade diante da realidade poderia
em confronto com critérios de escolha dos poemas aqui reunidos, ser explicada pelo fato de a maioria dos poetas-blogueiros serem
sobre os quais falaremos a seguir, os próprios poemas e as muito jovens, mas nos textos dos autores mais maduros, os
entrevistas com os autores certamente apontarão. questionamentos existenciais também aparecem.
Acreditamos, porém, que o primeiro passo foi/ é, para todos Como mencionado, durante a pesquisa, realizamos um
os poetas, sempre o mesmo: escrever, considerar o que se escreve questionário com os poetas-blogueiros, que também serviu de
como sendo poesia e desejar ser lido. É em celebração a essa base para a escolha dos poemas. Quando perguntados sobre o
atitude, à coragem desse primeiro passo, que fizemos este livro. que consideravam o que era poesia, a maior parte dos poetas
manifestou uma visão de poesia próxima à concepção de
A escolha dos poemas poesia dos autores do Romantismo , ou seja, de uma poesia,
primeiramente, como forma de expressão. Notamos que nos
Justificar a seleção de textos para uma antologia literária casos em que esse aspecto era mais valorizado, os poemas
nunca é fácil. Em uma escolha como essa, definir critérios correspondiam a essa visão. Já nos poemas dos autores que
torna-se uma tarefa melindrosa, uma vez que estão latentes salientaram os aspectos linguísticos da construção poética,
questões como o que pode ser considerado uma boa literatura, podemos notar maior trabalho com a linguagem. Como dissemos,
seja quando se consideram valores pessoais, mercadológicos ou não há julgamento de valor estético aqui. Não pretendemos dizer
aqueles ditados pelos padrões estéticos da crítica especializada que uma obra seja melhor do que a outra, mas que se direcionam
acadêmica. Apesar de o nosso corpus de autores não ser grande, a propósitos diferentes, e na escolha dos poemas de cada poeta-
apenas 8 poetas1, deparamo-nos com uma quantidade enorme blogueiro, tentamos selecionar aqueles que, ao nosso olhar,
de poemas, na casa de centenas. Como o nosso objetivo na correspondem melhor à concepção de poesia do próprio autor.
Além da escolha dos poemas, outra decisão, inicialmente,
1 Recebemos um total de 18 inscrições, porém apenas 8 blogueiros tornou-se um desafio: o projeto gráfico da edição. Como a
formalizaram o compromisso de participar de todas as etapas da pesquisa.

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proposta inicial da pesquisa era produzir uma antologia digital, poemas. Retirados de seu suporte original, o que fica é o eu
preocupava-nos optar por um suporte que justificasse a “retirada” poético e a construção de uma autoria, legitimada por um objeto
dos textos de seu suporte original, oferecendo recursos iguais que se mostrou imperativo para essa construção: o livro.
ou superiores aos dos blogs. Por isso mesmo, a pura e simples Percebemos, dessa maneira, que o objeto livro, feito de papel
transposição para um e-pub sempre nos pareceu insuficiente, e publicado por uma editora, ainda é o caminho principal para
já que o blog, além de se configurar como suporte para os uma legitimação de autoria, ao menos no imaginário dos nossos
textos, é também uma ferramenta de distribuição. Entretanto, poetas-blogueiros. Cabe neste momento, lembrar do que dissemos
qualquer outro formato digital, requereria profissionais da área no início desse texto: que os poetas dos mimeógrafos, ao serem
de programação, o que não poderíamos custear. Sendo portanto, publicados em uma antologia (26 poetas hoje) organizada por uma
o e-pub a nossa única opção viável, decidimos, juntamente com pesquisadora de renome, Heloísa Buarque de Holanda, deixaram
ele, fazer uma versão impressa; porém surgiu outro obstáculo: os de ser poetas marginais para entrar no rol de poetas legitimados
custos com uma impressão que contivesse imagens. Se, por um por uma crítica.
lado, a versão digital nos permitiria explorar recursos gráficos, a Assim como os poetas da geração mimeógrafo possuíam o seu
versão impressa nos solicitava contenção. público leitor, os poetas blogueiros, hoje, também são lidos. Dado
A solução para o nosso dilema nos foi apresentada pelos o alcance da internet, talvez sejam até mais lidos do que outrora o
próprios resultados da pesquisa. Incialmente, como hipótese, foram os poetas marginais. Entretanto, não é somente a presença
esperávamos encontrar uma produção poética intimamente de um público leitor que legitima a autoria de uma poeta, mas
relacionada com os recursos multissemióticos que as plataformas também a crítica. No sentido apresentado pelo filósofo André
dos blogs oferecem. Entretanto, percebemos que os recursos de Lefevere, em Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária,
imagens, sons e vídeos foram pouco utilizados pelos poetas- são as reescrituras que fazem com que um autor seja reconhecido
blogueiros cefetianos. No caso desses escritores, a partir da como tal e que o fazem permanecer no cânone literário. Entre as
análise dos poemas, dos próprios blogs e das entrevistas, ficou reescrituras, Lefevere inclui, além dos textos críticos, a edição e a
claro que o foco da criação é na palavra escrita. E, por essa razão, antologização. Assim, não é de se admirar o superior valor que
priorizamos o texto verbal e excluímos de alguns poemas as nossos poetas-blogueiros dão ao livro físico.
eventuais imagens a eles relacionadas. Percebemos que elas são, Por fim, devemos destacar que não podemos fazer grandes
na maioria quase absoluta dos casos, ilustrativas e não fazem generalizações. O nosso corpus é limitado, e há uma inumerável
parte do processo de criação poética, como até esperávamos quantidade de blogs de poesia na rede; mas acreditamos ter
encontrar no início da pesquisa. E o mais importante: que o valor demonstrado que a transição do suporte livro para os meios
dado ao livro impresso, pelos poetas-blogueiros, como forma de tecnológicos não seja algo tão simples e óbvio como muitos
divulgação de suas obras, era superior ao valor dado ao blog. eufóricos acreditam. A respeito dessas e de outras questões, o
Assim, o livro impresso tornou-se o nosso produto principal, e o trabalho desenvolvido durante a pesquisa gerou conclusões
digital, um meio alternativo. cuja extensão desse texto não nos permite expor. Gostaríamos,
Ao refletirmos sobre a valorização do livro impresso, vale acima de tudo, que o leitor desfrutasse da leitura dos poemas,
ressaltar a perspectiva dos autores quanto à função dos blogs. seja por meio do livro impresso, do livro digital ou recorrendo às
Além da divulgação, muitos o consideram uma ferramenta de publicações no seu suporte original.
armazenamento. Dessa maneira, temos recuperado o sentido
original de diário dos blogs em sua associação à visão de poesia
como forma de expressão. É perceptível em alguns dos blogs Andrea Soares Santos (orientadora)
a mistura entre o eu real dos ‘blogueiros’ e o eu ficcional dos Izabel Maria Fonseca Vieira Sá (bolsista)

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Fernanda Bião
Construções da Alma
Endereço eletrônico:
http://construcoesdaalma.wordpress.com

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Silêncio

Quando o silêncio se faz cá fora


Cá dentro, o barulho é ensurdecedor

Clama um coração aflito


Em busca de um pouco de alegria

Um pouco da energia de gente


Que aquece sem acender
A chama existente

Do amor, quem sabe?


Da companhia, talvez?
E a esperança, possível?
Um dia de cada vez…

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É tempo de renovação! Educar

Florzinha pequenina nasce na janela. Educar


Rasteira parece uma menininha. Verbo transcendente
Aponta cores cheia de sutilezas. Ação de mudança
Na verdade, a sua cor é mistério. Caminho da esperança
Ontem pequena semente Educar
Sonha em ser gente grande Palavra pequenina
Como seriam suas pétalas, suas folhas Força poderosa
Mistério! Que faz crescer e sonhar
Até chegar o grande dia! Educar
Coberta pelo sol da manhã Caminho sem volta
Perdia delicadamente o orvalho da noite. Ouvir e falar
Eis que bela preciosa, Pleno caminhar
Estende seus bracinhos aos céus Educar
E com um espreguiçar lindo diz: Ninho de possibilidades
Bom dia vida! Esteira para a igualdade
No alfabeto ou na arte
Poema dedicado a Jair Prosdocimi Quites. Presença paterna Educar
em dias iluminados e opacos. Menino e menina
Dever e lazer
Basta compreender
Ei, você!
Permita sentir a mudança
Aguce bem seus sentidos
E deixe a mágica acontecer.

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Ousadia O tempo

Luto pela liberdade do cárcere da existência O tempo se abre


A gaiola dos costumes me algema Chovem anos
E minhas asas já nasceram cortadas. Chovem caminhos
Chovem possibilidades
Fujo da mentira de mim mesma O tempo passou
Das ilusões que escarnecem das ideias Com ele, a saudade
Das palavras bonitas e trameiras A dor que machuca
E do medo que me afasta da coragem. A lágrima pulsante
O tempo é alegria
Procuro a luz da consciência De noite, de dia
Nesse palco sem cor, sem brilho Em cima
Onde seus expectadores Embaixo
Só veem movimentos repetitivos e mortos. Passeia com a vida
Estadia certeira
Clamo o sol do esclarecimento História vivida
Para que eu veja direito E, quem sabe, contada
O que está escondido atrás da cortina da vida.

Mistério?
Pra quê?
Preciso é compreender
Para saber me mover.

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Alma solitária Promessas

Ando só Promessas são lampejos de desejos


Somente eu Vontades que se aproximam do concreto
O vento bate em minha face Nem sempre verdades
Sinto o calor do meu corpo.
Promessas são rios em busca da correnteza
Reflexões assomam à minha mente Sol com preguiça
Movimentam emoções Céu nublado
Lágrimas que teimam em cair
Seguro-as dentro de mim. Promessas são esperanças
De um coração que clama o afeto
Procuram-se explicações Nem sempre correspondido
Para falas não ditas
Os conflitos mal resolvidos Às vezes, entendido como o sim é o não.
Sinalizam a necessidade Um lapso de loucura visceral
De ouvir a própria verdade Corre pelas veias, algo animal.
Que dói e acalenta
Transfigura a face da mentira. Promessas, prometido, lugar igual.
A luz que treme
E cria Em meio à escuridão
Para além
Uma nova vida.

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E este corpo que fala? Entrevista com o autor

Passos lentos ou acelerados, coração que bate no compasso, 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
obedecendo à cantiga da vida andante.
Ter a oportunidade de reunir meus textos poéticos e disponibiliza-
Experiências que circulam pelas veias como sangue. Olhos los virtualmente.
[vivos e
cintilantes. Boca que se aperta ao degustar os sabores. 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece
algum outro meio de produção independente?
Os ventos trazem os odores para dentro das narinas, que se
conectam com uma memória de cores e lembranças. Pelo fácil acesso a informações que o blog proporciona. Acredito
que o meio virtual é acessível a mais pessoas. Conheço o site:
Circuitos abertos e fechados, luzes e escuridão fazem parte da http://www.recantodasletras.com.br/ e a Editora Literacidade
iluminação cerebral. (http://literacidade.com.br/) em que meus poemas já foram
publicados em antologias.
Uma boca – várias funções – delícias a serem vividas.
3. O que é poesia para você?
Respiro – vai e volta – troca – dou de mim e levo de muitos.
É uma expressão da alma. Uma maneira do ser estabelecer um
Mãos que acariciam – toque sagrado – trabalho. diálogo entre a sua existência e o mundo. Expressando seus
sentimentos, suas angústias, sua visão do óbvio.
Pés a caminho. Sempre! Quais? Nunca acabado.
4. Você lê livros de poesia de outros autores?
Semblante que revela sentimentos. Medo do medo. Alegria
[em ser Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Cecília
alegre. Raiva da estagnação. Meireles, Fernando Caio de Abreu e autores não tão conhecidos.

Corpos são tantos! Entretanto, todos carregam joias a serem 5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a
desvendadas – a Alma! ferramenta de comentários?

Leio e às vezes utilizo a ferramenta de comentários.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,


quais seriam esses autores?

Não só outros poetas, mas a filosofia existencial influencia e


muito. Bem, gosto muito de Fernando Pessoa e Clarice Lispector.

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7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Almejo! Gostaria de organizar um livro com os meus poemas


e imagens de algum(a) fotógrafo(a). Acredito que a reunião
de texto com imagens causam um impacto maior nas pessoas. Taynara Irias
Procuro, por meio das minhas palavras, chegar ao coração das A incoerência da alma
pessoas. Escrevo por inspiração, por angústia, pela expressão do
meu silêncio. Assim como sou tocada pelas palavras de outros Endereço eletrônico:
autores (eles e elas conseguem descrever o que sinto e não http://incoerenteequivoco.blogspot.com.br
consigo expressar), também acredito que meus textos possam
ter esse objetivo.

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Entre os tics e tacs

Passam as ruas, os carros, os homens...


Passam correndo, quentes, enormes!
Sangram os pés, as mãos, o peito...
Vêm o sol, a chuva, a lua.
Nas pupilas dilatadas, cidade escura...
sono... apaga os sonhos.
Um punhado de estrelas para mais tarde
mas as janelas continuam fechadas.
Escorrem os pensamentos...
Dentro das paredes:
tic-tac, tic-tac, tic-tac,
Tic Tac, tic tac, tic tacs,
Afinal, são apenas duas calorias.

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Posição Pronomial Planta

Tantos meus É tanto projeto


poucos nós que introjeto em mim
me prendem a ideia de seguir sempre o mesmo trajeto,
na possessão do que não sou eu. fazer os laços se encontrarem no mesmo ponto
e não amolecer o olhar, desfocar as lentes
já cansadas de enxergar sem sentir.

São tantos planos


que já nem posso ver o tijolo que obstruiu
a ponte que me atravessa.
São muitas hipóteses
duramente construídas somente para
esfriar as chances de novos ANDARes...

É tanto projeto
que começo a me projetar
em sonhos, ilusões e caminhos
que não cabem no meu papel.

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O jogo do social insociável Passageiro

Vai! Que é a bola da vez! Observo as gotas se chocarem contra o vidro embaçado
Falar para não escutar, e elas nunca me atingem.
já pensar em como não fazer As luzes escorrem do outro lado da janela...
e justificar, inventar não ir além tudo que vejo é o contraste da noite nos faróis e postes.
do espaço que marcaram.
Pneus soam sobre o asfalto molhado
Espera a sorte na quadra, quina... e em um deslize meus pés se lançam sobre as poças, brincam
A ficha cai. [no chão,
Arrumem outra nova ou peguem de volta! como em um tempo em que eu não tropeçava para entrar na
Entrem também! [dança.
Pingue-pongue social, Mas o semáforo finge o verde e a carcaça de metal range com
aqui o jogo não para. [os freios.

Chove forte em mim


e estou fechado num bloco retangular,
Cinza e Quente. Não há equilíbrio.
Trancado em um corpo estranho,
em movimento constante.
Tudo é só de passagem.

Já muito distante, penso no trajeto que fiz...


quanta gente embarcou, em quantos buracos caí.
Passageiro da minha vida
e ela não passa por aqui.
TROCADOR, em que ponto eu desci?
Acho que esqueci de mim.

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Beijos e Cadeados Das revisões interiores

No encontro dos olhares Coloquei todas as peças no tabuleiro,


a visão se anulava. eu contra mim no Xadrez.
Em que se acredita sem sentir? Eu era tantas que nem sabia.
Pensei em fugir,
Era cegueira e também mas por todos os lados me conheciam!
fome de beijos e cadeados... O Xeque veio a cavalo.
À beira do caos, correram – dois lados. Entre celas e estrada,
Traçaram paralelos... quem quer que eu Mate?

Condenados à linha tênue


entre aperto e espaço,
eternizaram o encontro em uma estátua.
– Elevaram ao centro.
Estático, o sentimento entrou em coma.

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A bordadeira Emersão

Espera pelos filhos sentada na encosta. O corpo dela é praia


Hoje eles vêm – pensa e lança os olhos distantes. frente ao oceano imerso em seus olhos
As mãos varridas pelo tempo profundos. Ele, marinheiro de primeira viagem
tecem pequenas esperanças mergulha como criança sem salva-vidas.
que ela estende no varal.
Semeia poesia pelo vento... E a taquicardia que não volta,
Essa é sua forma de sorrir. desde o dia em que ela levou todo o seu peito
Pela estrada íngreme, ninguém vem, faz frio... em uma de suas ondas.
– Pudera! Com esse tempo aqui! É área de risco.
Entrou e se cobriu com as flores que fez brotar no vazio Longe dela o mundo é só aquário.
em um chorar das nuvens a casa se desfez.
Recebeu outra visita. Ele fica ali, com os olhos frente ao vidro
observando, distante, o que dele se foi
e vai...tudo o que teve agora é só paisagem.

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Fogo de palha Leis da natureza

Eu, jardim cheio inverno O vento agora sopra suave sobre a serra
e seu corpo frio, jogado pelos butecos. mas o coração dele segue soprando a chama.
Café com blues, Início de noite... frio penetrando a pele,
seus olhos dizendo blue, blue, blue. cinzas de cigarro espalhadas pelo piso
e o violão gemendo baixinho nas mãos do poeta...
Ensaio penetrar e me desconcerto. As folhas de outono à fogueira encantam...
Já em alto-mar você esquenta meu inverno. O que seu peito Chama não vai se apagar.
A superfície finge ao interno:
A(r)mou mais fundo
Fogo e palha, até a estação passar,
outra vez.
minha cama e o suor de nossa única noite...

Na chama de nossos corpos


o amor de inverno
se queimou.

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Lamentos e além Entrevista com o autor

Quando a alma grita no papel, não há barulho. 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
Há um silêncio inquietador
rompendo os laços invisíveis, como algo que corrói Tenho duas principais motivações (difícil definir uma). A primeira
até que se perca o controle. é a vontade de despertar nas pessoas um olhar diferente sobre as
coisas mais comuns, aquilo que passa despercebido na rotina dos
E se a carne sangra dias. Ainda que eu não produza nada muito novo, tudo o que cada
é porque o coração já amaciou demais um escreve passa por um filtro diferente, então já é uma forma
e agora endurece, singular de mostrar/sentir o mundo. E a minha outra motivação
transpondo o que resta por dentro. para produzir um blog é porque publicar, de certa forma, estimula
uma produção mais constante, além de ser um excelente meio
O olhar perscruta e escurece. para “arquivar” os textos. Mesmo que eu não esteja publicando
Sorrisos vazios, constantemente, a opção “rascunho” sempre é utilizada e os textos
paixões exaltadas, ficam lá, salvos, apenas esperando um ajuste, uma reescrita ou só
o dar de mãos congeladas... a coragem de clicar em “publicar”.
Pingue-pongue.
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece
Quem quer jogar é só entrar na roda. algum outro meio de produção independente?
Benditos sejam os jogadores!
Não existem perdas ou ganhos. Eu escolhi o blog porque é um meio mais interativo, excelente
É que o lugar é confortável. para se começar a publicar, pois as pessoas podem comentar,
Água e açúcar e muita tinta cinza. criticar, elogiar e responder. Além disso, não tem nenhum custo
financeiro. Conheço outros meios de publicação independente,
Preciso das cores de volta em minha íris. como os fanzines.
Lavar o corpo e a alma,
expor ao sol, 3. O que é poesia para você?
deixar queimar
até esquecer do frio de ontem. É matéria de vida, a corda bamba que me permite caminhar entre os
extremos e até mesmo cair. A poesia é a minha maneira de entender
As curvas são o sentido incoerente da alma. ou desentender as coisas, de inquietar a alma ou aquietar o espírito. É
A resposta. uma forma sem fôrma para se expressar. É uma maneira fotográfica,
Como o pássaro que quebra as asas dançante e musicada até mesmo para dizer o que incomoda.
e se lembra que sabe andar,
aprende a ter mais impulso 4. Você lê livros de poesia de outros autores?
vai voar mais alto.
Sim, leio livros de poesia sempre. Tenho vários espalhados pela
Alcançou o infinito casa e sempre levo um na bolsa, assim eu vou lendo aos poucos.
quem já colocou demais os pés sobre o chão Não gosto de ler livros de poesia como se fossem romances.
e os olhos além.
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Acho que cada poesia conta alguma coisa, por isso preciso de um
tempo a mais para cada uma e distanciamento entre elas, senão
eu misturo os versos de uma na outra e faço o livro inteiro virar
um poema (o que não deixa de ser poético! rs).
Vitor Hugo Morales
5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a Poesia, filosofia, pouca e pequena
ferramenta de comentários?
Endereço eletrônico:
Leio muitos blogs de poesia, porque é uma ótima forma de http://poesiapequena.blogspot.com.br
encontrar bons poetas vivos e desconhecidos, principalmente
os mais jovens. Tenho o costume de utilizar a ferramenta de
comentário quando gosto do poema, acho que o escritor precisa
saber disso, perceber minha visão sobre o que ele escreveu. Acho
os comentários extremamente importantes para incentivar o
escritor. Quando não gosto dos poemas e não tenho nada de
construtivo para falar eu não comento nada, às vezes só não me
agrada, o que não significa que seja ruim.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,


quais seriam esses autores?

Com certeza a leitura de outros poetas me influencia. Acredito


que a produção artística venha da “traição da memória”, como
Mário de Andrade definiu. Sendo assim, acho que minha poesia é
uma mistura de influências, tendo um pouco da sutileza da Adélia
Prado, da simplicidade bela da Líria Porto, da desconstrução
do magnífico de Manoel de Barros, da subjetividade da Cecília
Meireles, da força poética do Drummond, do tom realista de
Ferreira Gullar e de mais uma lista imensa de grande parte dos
poetas que já li.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, tenho o desejo de publicar um livro de poesias. Acho que o


livro compõe o texto, completa e propicia um olhar interessante e
diferenciado da produção literária, porque é um recorte da obra,
precisa-se escolher quais poemas vão ou não para o livro, às vezes
“eles conversam” e propiciam leituras diferentes daquelas feitas
em outros meios. Livros de poesia são muito interessantes.

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Sentir-se mal por dizer a verdade
Maltratar o coração só pra ver se ainda bate
Mentir por julgar necessidade
E se vingar por pura maldade.
Eis a consequência: a realidade.

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Tic tac. A passeio

Toca o tempo, corre sedento É só mais um passo,


No ponteiro do relógio. Uma parte da vida inteira.
Corre sozinho quem antes Aprendi a pôr ponto final
Corria junto. No lugar de vírgula.
Hoje se cala quem falava
De palavra em palavra Aprendi a deitar
Pra falar ao relento E só levantar à tarde.
Da teoria do fim do mundo. Também a mentir
Antes não se reclamava A deixar de lado
Da dor e da agonia O que você quer que deixe de existir.
Se de amor era ou de folia
Só se cantava e escrevia. Afinal, se no seu mundo eu não preciso ver tudo
No meu você só anda a passeio.
Meu bem, me falam tanto
De tecnologia e evolução
Dizem que o meu tempo
O tempo já levou.
Que hoje correm novos pensamentos
E uma nova revolução industrial.
Mas eu ainda não entendo
Os mesmos são os sentimentos
E ninguém ainda os decifrou.
E nem sabem mais como transformar
Um triste fim em alegre canção.

Embriagam-se tão menos quanto


No meu tempo eram sãos.
E dizem que o vento
Sopra diferente do meu tempo
Com menos conversa e poesia
E mais poluição.
Mais sintetismo, sem os sentidos.
E menos coração.

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Pequena poesia
Tu vieste como um vento,
Ficaste como um furacão,
Minha Pequena... E foste como uma brisa.
Peque na poesia,
Porque na poesia
Pecado não há de se pagar.

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Loucura desse mundo
Dê-me os motivos certos e um ponto de apoio
e moverei o mundo.
Não confio em ninguém, pois não há prova do contrário.
Existe um gosto pela imoralidade e vulgaridade, que não há mais
[amor em forma de poesia. Puro
e livre.
Só a putaria de uma sociedade corrompida por valores invertidos.
Não existem mais pessoas que amam o romantismo.
Essas foram corrompidas pela podridão de outras.
O perdão se cansa.
E acabamos virando homens vorazes em uma selva onde ser o melhor
[é ser o pior.
Tenta-se amar uma, duas, infinitas vezes.
Mas diante desse avanço tecnológico do século 21, esqueceram-se
[de escrever.
Esqueceram-se da embriaguez e da sinceridade.
Daí não existe mais amor.
O sexo era proibido, coibido .
Hoje é obrigatório e ai de quem não faz...

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Folha em branco
Consciências livres
São consciências sujas.
Quando nascemos, somos como uma longa folha em branco.
Essa folha é o tempo. À medida que vamos andando sobre ela
vamos deixando marcas, amassos, rasgos e rabiscos.
É por isso que sempre vamos envelhecendo.
Pois mesmo que pudéssemos fazer o caminho contrário
Preferiríamos a folha em branco em frente a ser escrita
Do que andar sobre os rasgos e rabiscos do passado.

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Corda bamba Samba de varanda

Sou inconstância Nesse passo,


Tal qual verso, prosa Desce que eu passo.
Uma hora sou sol, Ouvir seu choro manso
Outra, voz sem nota. Na varanda, no violão.
Sou do rock, sou do samba Daí me perco no descanso
Outra do choro, do bolero Que descaso
Finjo um tango, eu não nego Eu faço poesia e não oração.
Desafino, erro o pranto Passe
Mas no meu canto eu sossego. Que eu abro a porta
Na melodia da viola, do violão Vai em frente, vem embora.
Que desse samba, nessa corda bamba Só não troque, não me tranque
Ainda encontro algum perdão Não fico fora!
Na sacada, na solidez.
No coração.
Minha viola, na virada do sol
Da varanda ele também vai
Manso, de volta, sem perdão.

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Péssima memória Tal como piano.

Tudo que eu queria era ter uma péssima memória. Sou como um piano.
Assim as decepções nunca me marcariam. Solitário, imóvel e fechado.
Viveria todo dia conhecendo novas pessoas e me iludindo com Revestido com uma madeira sólida e robusta.
[as suas grandezas. Mas por dentro uma construção tão delicada
De cordas entrelaçadas,
Que numa leve encostada
Soam notas de alegria ou de tristeza profunda.

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Entrevista com o autor 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

1 . Qual é a principal motivação para você produzir um blog? Sim e muito. Muitos amigos e leitores dizem que escrevo bem, e
vejo a publicação como uma forma de renda extra. Além de que
Ter um lugar para guardar poesias e filosofias que tenho em sinto falta de livros mais curtos, com poesias curtas e simples
certas épocas da minha vida. Também um meio de publicação como leitura de cabeceira. Vejo a poesia e filosofia pequena – tal
e compartilhamento. como é o nome do meu blog – como uma forma de popularizar
também o hábito da leitura de poesias. Muitas vezes a falta de
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece paciência ou de tempo é um empecilho para iniciar o gosto pela
algum outro meio de produção independente? poesia. A poesia curta e simples.

Blogs são fáceis de criar e manter sem custo, com potencial de


atingir um público grande. Conheço alguns professores que já
publicaram livros de poesias, porém não sei detalhes.

3. O que é poesia para você?

Uma forma de protestar, criticar, evoluir o pensamento. Vejo a


poesia como uma fuga para certos sentimentos e opiniões de
forma mais livre.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Sim, porém poucos.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a


ferramenta de comentários?

Leio alguns poucos de amigos e geralmente comento diretamente


com o autor(a).

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,


quais seriam esses autores?

Sim. Poetas e filósofos, como Machado de Assis, Nietzsche,


Edgar Allan Poe, León Tolstói, Augusto dos Anjos e Álvarez de
Azevedo, influenciam e influenciaram muito minhas ideias.

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Matheus Alexandre
O eu escrito
Endereço eletrônico:
http://oeuescrito.tumblr.com

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Quem dera eu fosse artista, poder transformar palavras em
poesia, cores em rostos, corpos e paisagens. Transformar
paisagem em fotografia, rocha em escultura, sons em
música. Quem dera eu fosse artista, e seria iluminado, e
iluminaria todos ao redor, despertando sorrisos e lágrimas,
abraços e beijos, encantando casais e amigos, pais e filhos,
médicos e motoristas, crianças e adultos. Quem dera eu
fosse artista, e o que sinto e o que vejo, o que sonho e o que
conquisto, amores e desamores, tristezas e alegrias, todo o
meu mundo se tornaria um livro daqueles de poesia, tudo
eu transformaria em poesia. Quem dera eu fosse artista e a
arte enfim faria parte de mim.

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E no momento em que você disse que algumas coisas são E tem sim aqueles dias em que ao invés de encontrarmos
perfeitas, eu percebi que você falava de nós. Luz no fim do Túnel, encontramos mais Túneis.

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Descobrir que vocês são sim diferentes e que talvez o Quando saí na rua, alguns pedaços de céu quase me
“x” da questão não esteja em serem iguais e sim em acertaram… E era quase inútil desviar. É que de repente o
compartilharem entre si um mesmo sentimento: Amor; e mundo inteiro resolveu desabar.
uma mesma virtude: respeito.

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Tava meio sem vento, então girei a vela e mudei a direção… Não me interessam os corpos. Corpos são todos iguais,
Mas aí fica aquele medo de ter feito a coisa errada, sabe? carne, pele e osso, e desfalecem com o tempo, enrugam-
Bem, no momento isso era o certo para mim, talvez não se e, quando o tempo é tal que não podem mais suportar,
para os outros ao meu redor, mas para mim sim. Temos morrem. Almas, cada qual com sua individualidade, são
que confiar no nosso instinto, ele nos trouxe até aqui… alegres, inteligentes, umas jovens, outras maduras, trazem
uma vez ou outra pode parecer loucura largar tudo e experiências e conhecimentos, almas identificam-se, almas
mudar totalmente o rumo, mas isso pode significar evitar são eternas. Quando corpos se encontram, trombam-se,
um naufrágio em alto-mar. No momento? Reagrupando, encaixam-se e partem… Almas unem-se, completam-se, e
juntando forças, aprimorando, adquirindo conhecimentos, suas uniões são perenes.
porque quando for pra valer, estarei pronto.

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Entrevista com o autor
Pode ter durado uma fração do tempo: micro, nano, pico
segundos, mas se é eterno, marca na mente por mega, giga,
tera-décadas. 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

A grande ideia do blog é que os textos têm a capacidade de tocar


o nosso íntimo e assim promover mudanças. Chamo esse fato de
um encontro com o nosso verdadeiro “Eu” e daí o nome do Blog:
“O Eu Escrito”. Minha ideia portanto era promover mais desses
encontros, tocar mais pessoas com textos que eu escrevo ou que
leio e me inspiram.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece


algum outro meio de produção independente?

O Blog é um meio rápido, gratuito e de grande acessibilidade.


Não conheço outro meio que una os três quesitos citados.

3. O que é poesia para você?

Diferente do significado literal dessa forma de escrever, com


todas as rimas e regras fonéticas e etc, para mim, poesia são textos
dotados de algum tipo de sentimento. Um grande desabafo em
que o autor conta aos leitores dores e alegrias que ele tenha, ou
que ele simplesmente identificou em alguma parte do mundo
externo, que é constituído por pessoas com quem ele conviva, ou
por tendências mundiais. Dessa forma, a Poesia busca despertar
as pessoas para pontos de vistas para os quais elas ainda não
tenham se atentado; ou, uma forma de confortar através das
palavras dando ânimo e força.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Não possuo o hábito de ler livros de poesias.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a


ferramenta de comentários?

Sim. quando disponível, utilizo a ferramenta de comentários como


forma de fornecer um “feedback” ao autor do que foi lido.

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6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,
quais seriam esses autores?

Com toda certeza meu modo de escrever é influenciado pelo que


leio. Minhas principais influências estão em Clarice Lispector e P. C. Ventura
Marla de Queiroz, a primeira pelo modo feroz de dizer ao mundo Poesias para beber
seu modo de ser, escancarado e sem medo de mostrar até seus
piores fantasmas; mas também por ser uma escrita que transmite Endereço eletrônico:
toda a coragem e força pra enfrentar o mundo e a forma como http://urbano-lumiere.blogspot.com.br
ela a enxerga. No segundo caso, uma poesia serena, dotada de
um tom de esperança que busca inspirar as pessoas a buscar
seus sonhos mesmo contra todas as adversidades... ou em outros
textos a magia e a serenidade de um Amor tranquilo, ensinando
que o Amor pode ser Perene sem ter que durar a eternidade;
Ser Perene é em estado transitório para o Amor e para qualquer
coisa.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, sem dúvida essa é minha maior expectativa em relação aos


meus textos. Transformar minha Poesia em algo palpável, ao
alcance das mãos. Trazer cor e vida aos textos nas páginas de
um livro. O motivo, não sei bem ao certo. Talvez porque esse
seja um modo de eternizar um trabalho, do qual julgo ter sido
merecedor.

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Papos psicóticos

Conversa em sala de espera de consultório psiquiátrico:


– que transtorno você tem?
– transtorno bipolar, e você?
– Ah, eu tenho síndrome de Aspergen.
Aquele ali tem deficit de atenção.
Aquele outro é maluco mesmo.
Esse aqui o tico e o teco não se entendem.
O de camisa amarela surtou
e ficou pinel de todo.
Santa Loucura!
Protegei a diversidade neurológica!

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Curta 197 Curta 195

Em companhia de morcegos Como não querer aquela mulher


inquietações ecoam paroxítonas. que costura a rede de meus pensamentos
Trago a poetisa para a minha cama, em trama fina e linha forte?
o primeiro orgasmo se aproxima Como não armazenar aquele sorriso
tão logo ela verseja a terceira rima. que acende minha alma escancarada
Quando a musa longe mensageia em chamas inquietas e solfejadas?
a nota breve de meus olhos Levo meus pensamentos indiscretos para a cama:
serenamente ondula e serpenteia. Ella é um ponto geográfico
no mapa de meus destinos.

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Objetos 50 Curta 220

Objetos para pesquisa em tecnologias emocionais: Dou-te como presente


espectrômetros para medir a massa dos sonhos; um pensamento simples:
microscópios que visualizem pensamentos profundos; o tempo não existe.
geradores para um choque de realidade no quotidiano; Apenas seus silêncios genéricos
geoprocessadores para direcionamento de pessoas e um pequeno ruído
à procura de um norte objetivo na vida. da areia descendo a ampulheta
ou do pingar das clepsidras.

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A iara e o caboclo Diapositivos

Olhos fascinados O beija-flor azul


Pela sereia saindo das águas. bebe a gota de chuva do arco-íris.
Iara morena em banho de cachoeira A manhã clareia,
Límpidas águas calcárias um cavalo branco sobre a grama molhada.
Límpidos olhares amendoados Beija-flor azul,
Como castanhas andaluzas. manhã,
Cabelos em anéis opaciados cavalo branco,
Pela etérea fumaça de uma fogueira. gota de chuva,
Chocalho nas mãos arco-íris.
Entoando cantos aos seres da floresta. Imagens de um despertar?
Duendes? Deuses? Ânimas? Fotografias abandonadas sobre a mesa
Espíritos das matas? Sacis? antes de dormir.
Vozes de animais Fotogramas, diapositivos superpostos
Corais onomatopeicos em minha mente dispersiva.
Cães, micos-estrela, gralhas,
Formigas, cigarras, cupins.
Barulho de rio
Meu coração que palpita
Cometa, estrela cadente
Estrela fixa ou errante
Planetas, meteoros e meteoritos.
Fascínio pela Iara morena
Nas águas calcárias
E nas pedras ensolaradas
Acompanhando o curso do rio.
Iara morena jogou feitiço
E caboclo mergulha direto
No profundo escuro do rio.

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Notas de leitura em revista de bordo 17
com rúcula e carne de sol da barraca da Léa. “É caro mas é
muito bom”. Eta Marieta. Se apareceres lá, te baterei palmas
1. Eta Marieta! Regularidade, tempestade! Quem tem Marieta até dar calos nas mãos. E protejam o Jalapão.
não precisa de Catherine Deneuve!
10. Escambo o escambau. troca justa. Mas não troco por
2. N’Ella tudo é bom, mas atenção: precisa ser um bom nada no mundo meu disco de vinil dos Tincoãs. Quem tem
degustador, senão não funciona. N’Ella tudo é possível, um disco de vinil dos Tincoãs? Nunca conheci quem tivesse
desde delicadezas ambrosianas até temperos fortes. Esteja um. Faz-me sentir uma pessoa rara.
preparado para as novidades!
11. Tempestade tropical dá prêmios a quem sabe se equilibrar.
3. Negras, vermelhas ou louras fortes. Boa pedida para o Surfar é melhor que navegar.
inverno. Ou seja, cerveja!
12. A moda está na moda, de novo. A mesma que veste
4. Os tabus da África são os fantasmas brancos assombrando desnuda para exibir a ausência do traje. Está na moda a roupa
nas plantações das planícies. Os tabus não são materiais, são invisível do rei.
espirituais.

5. As imagens de um não fotógrafo em exposição no Rio de


Janeiro refletem a importância da fotografia como linguagem
e arte mais que produção e profissão. Veja Laguirre.

6. O mestre das Curvas se aventurou também nas Ciências.


As Curvas das Ciências mostram brinquedos gigantes para
explicar noções de engenharia e matemática. Que pena que
as escolas (e muitos pedagogos) atrapalham a continuidade
da busca de conhecimento pelas crianças.

7. Condição e vontade nem sempre andam juntos. Quando se


cruzam nos caminhos boas transformações podem ocorrer.

8. Simplicidade e versatilidade: este é um ideal de terceira-


idade (da minha pelo menos). Sou idoso criminoso (bebo
uma dose e dirijo a mais de 60 km/h, limites dos radares
urbanos) e busco absorver as duas características com afinco.

9. Com boina preta vou a Palmas. Às Palmas. Lugares onde


o sol provoca traumatismo craniano e derrete o botox dos
cérebros de algumas pessoas, onde a mandioca (ou aipim, se
preferirem) é a mais saborosa do Brasil. Ah, e tem a tapioca

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Entrevista com o autor
5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a
ferramenta de comentários?
1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?
Sim, e se gosto, faço comentários.
A motivação principal é correr o risco de ser lido. E o blog
é também um espaço de armazenamento interessante dos 6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,
trabalhos. Ele fica acessível ao autor também, podendo ser quais seriam esses autores?
retrabalhado a qualquer momento. Faço uma cópia dele, claro,
mas é um espaço de armazenamento e de leitura. A leitura em geral influencia minha poesia. Os autores que mais
influenciam minha poesia não são necessariamente poetas. São
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece Guimarães Rosa, José Saramago, José Maria Rilke, Bob Dylan,
algum outro meio de produção independente? Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, e cronistas
de vários matizes. Minha poesia é meio crônica, na verdade. Eu
Eu nunca achei que minhas poesias fossem boas. Tinha um escrevo muito sobre as vivências cotidianas.
certo receio de apresentá-las e elas não serem aceitas. O blog me
permite experimentar como autor e ter um certo retorno dos 7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?
leitores. De tempos para cá eu as publico esporadicamente no
Facebook©. O retorno de leitores é muito pequeno. O blog tem Sim, penso em publicar no próximo ano. Preparo uma coletânea.
uma média de umas 30 visitações por dia, mas essa medida não Gostaria de deixar livros de poesia como legado.
é confiável. Quando jovem fazíamos muitas publicações avulsas
mimeografadas e distribuíamos entre amigos. O blog é uma
mídia fácil, aberta, gratuita.

3. O que é poesia para você?

Pergunta muito difícil. Tão difícil quanto à poesia. A poesia tem


de ser uma síntese de temas e narrativas que permite diversas
leituras e interpretações. Ela deve ser apropriada pelo leitor
através de uma identificação quase imediata. Ela deve incentivar
uma releitura diferente tempos depois. Ela deve ser degustada
aos poucos e não deglutida às pressas. Ela precisa contar
muitas histórias ao mesmo tempo em pouco espaço. Ela precisa
encantar.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Muitos. Sou um leitor voraz de poesia.

| 84 | | 85 |
Guilherme Fernandes
O globo …ocular
Endereço eletrônico:
http://ogloboocular.blogspot.com.br
No meio de um oceano branco, lá se encontrava aquele
grande continente cor da infinitude do universo.
Lá estava meu mundo... sua alma escondida atrás daqueles
globos oculares.

| 89 |
Litterae Lunarum I Litterae Lunarum II

Do alto ela enxerga Quando quebra o céu


Tudo o que se esconde A luz da lua,
E na sombra quem peca E a sombra
É a imagem de um homem É medo e assombra,
Não há anjos lá nas nuvens
Ilumina, luz de diamante Só há sonhos na penumbra.
Não julga, só sabe
(E a sensação agonizante) E a quem revira e espera
Virtude só existe guardada A lua nega o dia
Numa foto de estante E reflete o céu na terra,
Uma eterna noite vazia!
O olhar retribuído
Viu-se condenado Abre o sol a porta
Sente-se despido E revolta aquela cena,
Pela culpa do pecado A lua nasce morta
E finalmente morre plena!
Fogo, foge e queima
Um passo e se descuida
E ali ele jaz morto

Veneno, resto de cicuta

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Recólica Vazio

Neste mundo, a lógica se torna I


Figuras de linguagem,
E o dicionário que transborda A desalmada poesia
Nos transtorna e nos transforma Só corpo
Em espelho e miragem. Só copo
Sem água
O silêncio toma a forma Sem conteúdo
De sábia ironia,
E se hoje eu digo algo Olho...
Já não importa o que dizia. Olho...
Só vejo nada
Poescuro argumento imaginagético, nada
A eloquência que se manifesta nada
Em linguagem vazia. Me afogo
Por isso o que escrevo E fico igual a ela
Não é retórica ou poética,
É apenas poe(re)sia! Vazio,
Morto,
Poesia sem conteúdo
É paladar sem gosto

II

Ex-tética
Pura,
Transparente
Tanto que não se vê

Tétano

Pa-tética

III
...

| 92 | | 93 |
A lápide
IV

Vazia... Minha lápide escrita a lápis


Engana os olhos Numa língua morta
Não toca a alma Uma mosca torta
Nem mesmo a que A sobrevoa
Não h(á-lma) Minha voz já não mais
soa
E eu já nada sou

Já não sonho com meu sono


O vento como sopro
É como o tempo
Louco como veneno
O que sobra é acúmulo
IN TVMVLO SVMVS
E eu já nada sou

Apesar de tudo
Um pouco
Muito
Minto
Pois apesar de morto
Sinto
E isso é a vida:
O limbo!

| 94 | | 95 |
A caverna Formas

A raiva de uma fera que chora; Já não há mais


Ouço graves gritos numa gruta, O que ser que-
A besta perdida de voz bruta -brado
Estava escondida até agora A esperança foi cruelmente
Assassinada
Acostumada a viver na cá-
-verna, nunca viu a luz do dia. Ela foi a última a morrer
Preto e cinza, ódio, cor amár- Antes dela a apatia
-ela não era cega e nem via E antes da apatia
Todas as outras sensações
A besta era o homem jogado,
Preso na caverna de Platão. O que restou então?
Preferia conviver com ratos Apenas sombras
A se libertar daquela prisão! Sem formas
Sem fome
Vagando até o fim

Fim de quê?
Fim de quem?

Se não há mais forma,


Qual a forma da não-forma?
Vestida em um uniforme
Disforme
O que ela nos informa?

Se não há mais forma


De que forma o poema
acaba?
Talvez como sombra
amorfa
De um monte de palavras

| 96 | | 97 |
Fic- (sou) -ção Ser ou não sou?

Um projeto de autoria Ser não sou


Sou minha própria ficção de Pedra
Quem mente? Pessoa boa
Minha mente? ou má-
quina
Sou-me feito Sujo, (pecado inicial), lavo
Feito produto, a minha mácula
Multiplicado sensorial...
Sou o resultado O poeta, criador,
Do meu circuito elétrico, Um pouco sem saber
Sou produto (divisão?) In consciência fala
Entre o homem e o animal? Sobre o que não consegue
Ver
Mas chega de neurose,
Sou ficção, sou inventado, Criatura inocente
E nessa neural psicose É jogada no papel
Sou um texto conformado Poesia ser-humano
Não existe (no) além
do véu.

Escrito, um roteiro
Que acha que sabe que age
Inconsequente em
Máquina-ação
Já a minha mácula-
-são
as manchas da caneta
(Na branca folha de papel)
Escritas à mão
(Não é? Não é não!)

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Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Ter a oportunidade de divulgar meus textos e poemas em um


espaço amplo, que possa ser acessado por muita gente.
Luiz Carlos Vieira
Às arvores do caminho
2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece
Endereço eletrônico:
algum outro meio de produção independente?
http://www.ideiasesurtos.blogspot.com.br
É a melhor oportunidade que tenho para divulgar meus poemas,
já que publicar um livro é muito difícil. Não conheço outro meio
de produção independente.

3. O que é poesia para você?

Poesia é uma maneira de expressão através da arte, que permite


brincar com a linguagem em seu nível máximo de criatividade.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Sim.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a


ferramenta de comentários?

Sim. Não utilizo a ferramenta de comentários.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,


quais seriam esses autores?

Um pouco, influencia, principalmente, na inspiração dos temas,


mas nem tanto no estilo. Os autores são, principalmente, Carlos
Drummond de Andrade e poetas independentes que jogam com
a linguagem.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Sim, seria a realização de um sonho.

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Folha Seca

Caía leve ao baile do vento


Seca e áspera como a pele de uma velha
Amarelo e marrom que se abraçam e se colorem
E com o mesmo pesar se posta à porta da minha casa
E boia na poça feita por mim
Que sentado na soleira não sentia, mas vinha

O olhar fixo na última de centenas


Calafrios me subiam e aclaravam
As nuvens pesadas vinham em manada
E o vento cortante trazendo-a até minha frente
Que um dia invejou a árvore verde
Que hoje vê sua última folha morta

| 103 |
Um Mergulhador Por Um Fim

Mergulhado em minha própria mente Abri as janelas e vi a planície


Me vejo afundando, afundando Vi aquele azul diferente
Me vejo descendo Deixei aquele vento carregado de novos perfumes entrar
Me vejo me afogando Eu respirei
Expirei o que tinha preso no pulmão
Começo a sentir o peso de toda essa água acima de mim
Começo a perder meu ar e a me movimentar de acordo com Abri aquela porta pesada
[o movimento da água Empurrei-a com firmeza
Começo a perceber que tentar nadar é inútil Pus meus pés pra fora
Já que há muita pressão e escuridão ao meu redor e acima Da janela via-se um dia lindo
[de mim Já lá fora, tudo era cinza

Afogando em meus próprios pensamentos Estava muitos graus abaixo de zero


Começo a pensar na falta que muitos sentimentos me fazem E eu não tinha agasalho
[agora A neve estava muitos centímetros mais espessa
Na falta que muitas pessoas me fazem agora E meus sapatos se atolavam
No mundo do qual eu havia despencado para estar no fundo Fui assim mesmo
[deste mar negro
Disseram-me: “não vá!”
Ainda afundando em meus pensamentos gelados Em todos os idiomas imagináveis
Não sinto mais calor, não sinto mais meu corpo Mas teimei
Não tenho mais fôlego Foi um passo largo
Não tenho mais vontade E não chorei

Quando tudo começa a se tornar um borrão E eu me atrevi a correr


Quando minha visão começa a falhar E eu me atrevi a gritar
Quando sinto que ao fundo cheguei Sozinho, na neve, tentei me encontrar
Eis que vejo um mergulhador vindo sobre mim. Soquei os muros
Chutei as pedras

Eu sangrei
Me quebrei
Enfim, chorei
E já cego
A casa voltei

| 104 | | 105 |
Na Tal Segunda-Feira Do Aviso
A Tiso
Chega de mansinho
Como macio sinto o toque Com todo o seu peso
Aquele que me dá o enfoque Sorriso tímido e traseiro gelado
Em apenas uma parte da história Senta-se em cima do que fomentava
Tudo pode esperar Recém tirado do forno
Porque mais perto da glória Daquilo que estava dentro de mim
Não há como chegar Enrolado em um fio fino de consciência
Ensopado em um lago de devaneios.
A alegria que seu cheiro me traz
É a mesma que ao meu tédio desfaz Chega devagar e mansa
E que ao sorriso que ali demonstra Com passos felpudos e sorrateiros
Ilumina a quadra, o bairro, a nação Sorri-te um sorriso sedutor
Soa-me como um mantra Seduz-te a mergulhar em um mar glacial
Do qual só me interessa a fração Escuro e misterioso
Seduz-te ao fundo
Que de mente ainda não entendo Daquela água pesada.
E do que não entendo, tenho medo
Mas com medo, abraço-me ao apego Que o pôr do sol é um conforto
E me deito em cama de sossego Pode ser
Para me despertar em outro dia, depois das dez e meia. Uma aparente felicidade em revê-lo
Que se vai para trás daquele horizonte
Lá longe
Trazendo uma erma sensação
Parasita da beleza que se foi
Fixadora da tristeza que chegou.

Ela sempre se deita às seis da manhã


Depois de negociar com o sol
A hora de voltar
Sob um manto de estrelas
Sob a luz de uma lua
Que te convida a pensar.

Será possível se libertar


Sozinho, algum dia
Ou alguém virá me salvar
Destrancando esses cadeados

| 106 | | 107 |
Poças - de - Pular
Ainda haverá interesse
Depois de passar por meu aviso
“Ainda estou de luto”. Quando era criança
Brincava de pular em poças d’água
deixadas ali pela chuva
E sorria despreocupado
E pulava, e sorria, pulando
De poça em poça, até crescer
Por anos esqueci como era bom
Brincar nas poças - de - pular
E agora que a vida me abraça
Que a fantasia é desmascarada
Que a realidade dança nua perante meus olhos
Tudo o que quero são minhas poças - de - pular
Quero me sujar
Quero meu desleixo
Quero me desfazer da imagem
Não me importar com o que vão pensar
E me jogar nas poças - de - pular
Me encharcar, me sujar, me sujar, me molhar
Dançar e rir despreocupado
E que todos olhem
Para contente eu ficar
Com as minhas poças - de - pular

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Fora d’água (Em vão) Entrevista com o autor

Fora d’água 1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?


Me debato
Sufoco Porque queria me expressar de alguma maneira, apesar de me
Luto sentir sempre tímido quando alguém lia. No início, nem o
divulgava. Mas alguns professores o encontraram na internet,
Nasci aqui divulgaram por mim, elogiaram e me motivaram.
Fora d’água
Fracassei 2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece
Lutei algum outro meio de produção independente?

Esperei Escolhi o blog porque tinha preguiça de manuscrever os poemas.


Vieram me pescar Hoje algumas pessoas usam o Tumblr© e até mesmo o próprio
Asfixiei Facebook© pra suas produções.
Lutei
3. O que é poesia para você?
Me contorci
Respirei Poesia é a melhor maneira de gritar seus pensamentos, tristezas,
Em vão preocupações...
Lutarei
4. Você lê livros de poesia de outros autores?
Em vão...
Não. Prefiro ler crônicas. Enxergo todas as músicas como poesia,
entretanto. Escuto Laura Marling, Ewert and The Two Dragons,
Elis Regina, Manu Chao... entre outros. Esses me inspiram muito.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a


ferramenta de comentários?

Sim, leio. Principalmente dos meus melhores amigos. Não uso


a ferramenta comentários. Costumo comentar pessoalmente ou
pelo Facebook© .

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,


quais seriam esses autores?

Não costumo ler livros de poesia. Mas romances, crônicas, artigos,


aulas e música me inspiram bastante. Gosto de ler Khaled Hosseini.

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7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Não sei. Não acho que meus poemas sejam bons o suficiente para
interessarem alguma editora, haha.
Sabine Ribeiro
Uma biografia
Endereço eletrônico:
http://www.umabiografia.blogspot.com.br

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Não quero ter o mesmo fim dos românticos que me
precederam, que ao contrário do que contam, não foi de
tuberculose que morreram e sim de desespero. Conto as
crises de loucura que me assolam e, a cada número, morro
um pouco. Sou posto em choro ainda que rouco. Não sou
um poeta do meu tempo. Meus medos não são meus
contemporâneos. Anseio pelo futuro, mas não me esqueço
dos alicerces, muitas vezes vermelhos, dessa nação que diz
caminhar pra frente.

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Por tempos tive algo pelo que escrever, um motivo não dos Auto exorcismo:
melhores. E numa tarde quente, ele se foi, deixando um Ato de escolher atos, hábitos ou palavras que lhe façam
buraco de dar inveja a qualquer um. Um buraco fácil de ser esquecer algo, alguém ou algum momento.
preenchido. Fiz o melhor para mim, preenchi-o com uma
folha em branco.

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Aos Livres e Inspirados.
Olho para os olhares que me olham.
E o que eles olham?
E amanhã é segunda, meu povo, Será que eu sei?
e a labuta começa de novo, Será o mesmo que eu olho?
e a saúde se acaba um po’co,
e o tempo se esvai num côco. E o que eu olho?

E o velho caminhante,
e o novo errante,
caminham e erram
nos chãos em chamas,
com os pés em lamas,
carregando flâmulas.

De um lugar em que donzelas,


tão singelas,
têm segredos delas,
e seus caprichos.

Deitam com homens nobres,


que cheiram a vinho e podes,
mas preferem os bichos.

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Agosto, Amarrarei todos os males do mundo embaixo da minha
desgosto, [cama antes de levantar.
tem gosto Serei juiz, bandido e vítima de um mesmo crime.
de encosto. Serei Napoleão, Picasso e Madonna.
Serei Al Capone, Elvis e os Beatles.
Serei Cleópatra e Ramsés.
Dormirei ao lado de reis e rainhas.
Serei um deus com cabeça de elefante e corpo de gente.
Terei como amigos uma lebre e um chapeleiro louco.
Um coelho com pressa e um gato sorridente serão meus
[companheiros.
Serei o dono da verdade e o maior mentiroso que já existiu.

Serei tudo isso e mais um pouco,


e ainda assim serei eu.

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Eu vou me inspirando em loucos, E o vidro com a fita vermelha preserva o que chamávamos
em pessoas que morreram aos poucos. [de amor.
Vou beijando amantes toscos Em leves tons de cereja e licor,
e sorrindo pra velhos rostos. em formato arredondado,
agora com um odor mais amargo,
No entanto, me entrego aos trancos como algo passado que deveria ter sido melhor preservado,
e abraço os barrancos. usado e abusado,
Amacio os bancos mas fora descartado.
e mexo os flancos.
Não! O que estou a dizer?! Que algo tão bem guardado, em
Eu vou me inspirando em loucos, [vidro enfeitado, fora ali descartado?!
em pessoas que morreram aos poucos. De modo algum! Aquele bombom tão bem enrolado fora
(Algumas) Vítimas do vício de pensar, [guardado para ser preservado.
(outras) da insanidade de escrever
e (outras até) da arte do não saber. Antes de doce cereja escorria o licor, agora és dono do odor
de algo não mais chamado amor, mas que é mais bem tratado.
Vivo na ânsia de que isso não me alcance
Escrevo, penso e não sei.
Mas morrer de loucura...
Que valha a pena.

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O que você acha de viver?
E que loucura é essa que vocês dizem que move tudo?

Cumpra com suas tarefas.


Não desobedeça as regras.
Sorria para as câmeras.
Feche a cara para os políticos.

Coma arroz e coma feijão,


proteínas e macarrão.
Feche as portas,
tranque as janelas.
Sente-se e assista à televisão.

Coma comida congelada,


afinal, ninguém tem mais tempo pra cozinhar.

Abrace seus filhos,


deixe-os usar a internet,
enquanto vê a novela.

Bom dia, boa tarde e boa noite, rapazes,


marido...
Durmam cedo, acordem cedo,
tomem banho na hora certa e escovem seus dentes 5 vezes
[ao dia.

Agora repita tudo durante sua vida inteira.

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Entrevista com o autor

1. Qual é a principal motivação para você produzir um blog?

Exercitar minha criatividade em diferentes modos de expor


minhas emoções.

2. Por que escolheu o blog para publicar seus poemas? Conhece


algum outro meio de produção independente?

Praticidade, principalmente, e a possibilidade de alcançar pessoas de


todo o mundo, e receber críticas e comentários quase que instantâneos.

3. O que é poesia para você?

Poesia pra mim pode ser uma expressão de emoções sem o menor
intuito estético, pode ser uma composição de palavras com o
intuito só de ser belo. Poesia pra mim é a exposição do belo.

4. Você lê livros de poesia de outros autores?

Não frequentemente.

5. Você lê poesia de outros autores em blogs? Se sim, utiliza a


ferramenta de comentários?

Sim. Sim.

6. A leitura de outros poetas influencia a sua poesia? Se sim,


quais seriam esses autores?

Sim. Autores independentes como eu, a maioria de blogs


também.

7. Almeja publicar um livro com seus poemas? Por quê?

Nunca pensei nisso, mas acredito que sim. Pra talvez alcançar
um público maior, difundir o meu estilo e influenciar futuros
poetas, quem sabe.

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