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Escrito no século passado, este livro de
A. B. Simpson continua sendo extrema­
mente relevante.
Em palavras simples, de fácil assimi­
lação, ele trata de um fato bastante impor­
tante tanto para recém-convertidos quan­
to para filhos de Deus mais experimen­
tados: Jesus Cristo é a provisão completa
de Deus para todas as necessidades do
homem... do espírito, da alma e do corpo.
Melhor ainda, ele nos ensina como
aprõpriar-nos da graça deste Cristo que
salva, santifica, cura e que em breve virá
outra vez.
Um clássico que informa, encanta,
inspira, esclarece e leva o leitor a novas e
maiores conquistas espirituais.
AS
QUATRO
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m m fiw Af s
DIMENSÕES
jjp1,
A. B. Simpson

,O.
Eaitora Betânia
Título do original em inglês:
The Fourfohl Gospcl
Copyright © legacy ed. 1984, Christian Publications,
Camp Hill, Pennsylvania, E.U.A.
Tradução de Myrian Talitha Lins
Primeira edição, 1986
Todos os direitos reservados pela
Editora Betânia S/C
Caixa Postal 5010
31611 Venda Nova, MG
E proibida a reprodução total ou parcial
sem permissão escrita dos editores.
Composto e impresso nas oficinas da
Editora Betânia S/C
Rua Padre Pedro Pinto, 2435
Belo Horizonte (Venda Nova), MG
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índice

1. Cristo, Nosso Salvador......................................... 13


2. Cristo, Nosso Santificador................................... 26
3. Cristo, Nosso Médico...........................................39
4. Cristo, Nosso Futuro Rei.....................................53
5. Nosso Viver com Deus.........................................69
6. Somos Guardados...............................................82
O Dr. A. B. Simpson
nasceu na ilha de Príncipe
Eduardo, no Canadá, em
1843. Pouco depois de seu
nascimento, sua mãe o
dedicou a Deus, para a
obra do ministério. Ele
transformou aquele ato
de fé em realidade de vi­
da, tornando-se aluno
brilhante do seminário
da Faculdade Knox, em
Toronto, e pastoreando
com sucesso três grandes
igrejas presbiterianas.
O zelo pelo evangelismo corria em suas veias;
assim, o crescente interesse da época pela obra missio­
nária alcançou também o jovem pastor. Ele desejava
transpor as barreiras denominacionais e despertar os
evangélicos da América do Norte para o que Deus
estava realizando em outras terras. Alcançaria esse
alvo com uma revista missionária moderna e bem
ilustrada, que trouxesse informações atualizadas, co­
lhidas dos missionários que retornavam dos campos.
Sentindo de Deus insistente chamada, Simpson
aceitou o pastorado de uma igreja em Nova Iorque,
onde poderia, ao mesmo tempo, contactar os missio­
nários que retornavam do exterior. O seu ardor
evangelístico, no entanto, logo começou a incomodar
os membros mais antigos, na medida em que um
número crescente de imigrantes pobres, recém-con-
vertidos, foi comparecendo às reuniões da igreja.
O esforço extra de remar contra a correnteza para

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realizar o propósito de Deus foi mais que sua saúde
podia suportar. Simpson gastou um ano inteiro procu­
rando recuperar a saúde perdida, mas sem resultado.
Um dia, buscando a Deus de joelhos em oração, ele
resolveu confiar somente no Salvador para ser curado.
Levantou-se dali fisicamente renovado, o corpo vi­
brando com o senso da presença de Deus e o espírito
revigorado por uma nova compreensão do poder de
Deus para a cura.
Pouco depois Deus o chamou para uma nova obra,
que começou com uma igreja entre os rejeitados da
sociedade, mas que em pouco tempo começou a atrair
pessoas espiritualmente famintas de todas as classes
sociais.
O zelo de Simpson por missões resultou na abertu­
ra de um centro de treinamento para missionários em
Nyack, estado de Nova Iorque, transbordando não só
para a vida de centenas de servos de Deus, que esco­
lheram deixar casa e família para servir ao Senhor em
outros países, mas também para a vida de milhares
que ficaram na retaguarda provendo-lhes o sustento.
Sua revista missionária despertou o interesse na­
cional e Simpson passou a organizar convenções
missionárias por todo o continente. As pessoas com­
pareciam para ouvir os relatos dos missionários e as
mensagens sobre cura divina. Foi dessas convenções
que, em 1885, surgiu a organização missionária que
mais tarde se tornaria a. Aliança Cristã e Missionária,
hoje com trabalhos em várias partes do mundo,
inclusive no Brasil.
Com o avançar da idade, A. B. Simpson foi
reduzindo suas atividades, vindo a falecer em 1919.
Deixou mais de setenta livros e milhares de sermões
publicados; escreveu inúmeros hinos e milhares de
artigos. Mais que isso, a memória desse obreiro de
valor ficou indelevelmente marcada na vida de mi­
lhões de pessoas que foram salvas graças a seus
esforços de apresentar ao mundo as quatro dimensões
do evangelho do nosso Salvador.

8
Introdução

O título original deste livro As Quatro Dimensões


do Evangelho já se tornou uma expressão muito
conhecida de milhares de crentes. Não se quer dizer
com isso que as verdades contidas nesta frase fossem
desconhecidas, mas sim que o Dr. A. B. Simpson,
fundador da Aliança Cristã Missionária, enxergou-as
da forma como aqui são apresentadas, depois que
experimentou a plenitude do evangelho em sua vida.
Isso não quer dizer também que as bênçãos do
evangelho se achem limitadas apenas a essas quatro:
Cristo como nosso Salvador, nosso Santificador, nosso
Médico e futuro Rei. Num certo sentido, o evangelho
tem muitas facetas, apresentando inúmeras bênçãos e
experiências sempre mais ricas e profundas da graça e
do amor de Deus. Mas, diz o autor: “O evangelho
contém quatro mensagens que resumem, de forma
total, as bênçãos que Cristo tem para nos oferecer, e é
muito importante que os crentes as ressaltem nestes
dias.” Essas verdades constituem quatro pilastras
básicas do templo da verdade.

9
Observemos também a ordem em que são apre­
sentadas. As mais importantes primeiro — Cristo,
nosso Salvador. Corretamente, a primeira tem a ver
com a alma, que o homem perdeu com seu pecado e
distanciamento de Deus, mas agora “aproximados
pelo sangue de Cristo” . Ser salvo — justificado,
perdoado, regenerado — não é coisa de somenos
importância. E essa verdade fundamental precisa ser
repetida hoje em dia, quando tantas pessoas minimi­
zam ou racionalizam o pecado, rejeitando a propicia-
ção feita por Cristo. Pode-se dizer o mesmo da
santificação, uma palavra e experiência que tem sido
mal entendida e evitada por muitos crentes. Ela
constitui uma experiência definida e distinta na vida
do salvo. Pois essas quatro dimensões do evangelho
são desenvolvidas de maneira bastante clara diante do
leitor. Este livro merece um estudo atento, com refle­
xão e oração, e, mais que tudo, é necessário que nos
apropriemos dessa mensagem total — a suficiência
plena de Cristo para a alma, corpo e espírito do
homem.
E o Dr. Simpson experimentou tudo isso em sua
vida; se assim não o fosse, sua pregação teria sido em
vão, a Aliança Cristã e Missionária não teria surgido, e
milhares e milhares de pessoas em todo o mundo
teriam sido privadas do conhecimento e experiência
da plenitude de Cristo.
Falando a um auditório em Londres, há alguns
anos, o Dr. Simpson relatou as seguintes experiências,
as quais marcaram três grandes fases de sua vida.
“Há mais ou menos vinte e sete anos atrás, passei
dez meses mergulhado nas águas do desânimo. Saí
delas ao crer em Jesus Cristo como meu Salvador. Há
doze anos, tive uma profunda experiência de convic­
ção de pecados, e me libertei, ao crer em Jesus como
meu Santificador. Depois de vários anos como prega­
dor, aguardando em Deus, há quatro anos ele me
mostrou que era vontade dele ser meu Salvador
completo, e curar o corpo tanto quanto a alma.”
Nesses últimos anos, esta explanação tem tido

10
ampla divulgação. Depois da Bíblia, não existe outra
mensagem melhor para o novo-convertido. Nos pri­
meiros anos do ministério dessa igreja, um de nossos
evangelistas usou centenas de cópias dessa mensagem
com resultados notáveis.
A mensagem é simples, escriturística e completa.
A Igreja tem necessidade dela, como um antídoto
para o erro e a apostasia; como um remédio certo
contra o fracasso, como uma solução para o clamor
dos corações famintos espiritualmente, como uma
fonte de saúde para o corpo e como uma inspiração
para completar o testemunho dos salvos, e trazer de
volta o nosso Rei.
— Fredric H. Senft

11
A cruz, a taça, o jarro e a coroa são símbolos que
representam a suficiência do evangelho de Cristo.
A cruz representa a salvação que Jesus Cristo, por
sua morte vicária, conseguiu para todo que nele crê. O
vaso representa a graça santificadora de Deus que
diariamente purifica a nossa vida da poluição do
pecado. O jarro de óleo alude a duas coisas: simboliza
o Espírito Santo e também a provisão de unção para a
saúde e cura do corpo. A coroa fala da volta de Cristo
e do galardão que será concedido a todos aqueles que
irão participar da glória do Senhor.

12
1

Cristo, Nosso Salvador


“E clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso
Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro, per­
tence a salvação.” (Apocalipse 7.10.)

No momento em que o universo estiver se desfa­


zendo em destruição, e o coração dos homens estiver
cheio de pavor, o clamor dos resgatados que se acham
em redor do trono é “salvação”. Este será o primeiro
clamor dos resgatados, assim que chegarem ao seu lar
e tiverem visto o que significa estar perdido e ser salvo,
no momento em que a terra cambaleia, os elementos
se derretem, e tudo está estremecendo com a aproxi­
mação da grande catástrofe.
Eles verão atrás de si todo o caminho que já
percorreram guiados pelo Senhor. Nesta imensa visão,
irão divisar todos os labores que enfrentaram e os
perigos de que escaparam. Irão perceber como a terna
graça de Deus os conduziu e os manteve a salvo.
Verão também os mantos e coroas que se acham
preparados para eles, e toda a alegria da eternidade
que se abre diante deles. Verão tudo isso, e depois

13
contemplarão aquele que planejou e cuja mão preser­
vou tudo isso para eles.
Eles olharão para o passado; olharão para o
futuro, e depois contemplarão o rosto daquele a quem
tudo devem. Aí então erguem suas vozes num coro de
exultação: “Ao nosso Deus que se assenta no trono, e
ao Cordeiro, pertence a salvação.” (Ap 1.10.) E isso
que significa ser salvo; foi nisso que eles creram; foi
para isso que ele morreu. Agora estão na posse de tu­
do. Estão salvos, e, finalmente, o significado pleno dis­
so torna-se claro para seu coração.
Vamos pensar um pouco sobre o que significa ser
salvo. Ser salvo não é coisa de somenos importância.
As vezes ouvimos dizer que determinados crentes são
apenas justificados, como se ser justificado não fosse
um fato grandioso. E glorioso ser regenerado. Cristo
afirmou que era melhor termos nosso nome escrito no
livro da vida do que sermos capazes de expulsar
demônios. O que significa ser salvo?

De que Somos Salvos


1. A salvação remove de nós a culpa do pecado.
Ela nos livra de toda condenação e do castigo que me­
recemos pelos nossos pecados passados. O pecado me­
rece castigo. A salvação remove tudo isso. Não é mara­
vilhoso ser salvo?
2. A salvação nos livra da ira de Deus. Deus odeia
o mal, e de algum modo irá punir o erro. A ira de
Deus se manifesta do céu sobre toda a injustiça dos
homens. Mas a salvação nos livra dessa ira.
3. A salvação nos liberta da maldição da lei.
Podemos lembrar os horrores que cercaram a mani­
festação da lei de Deus, os relâmpagos e trovões vistos
na montanha, e o terror sentido pelo povo de Israel
antes mesmo que ela fosse instituída. Eles não esta­
vam suportando que Deus lhes falasse, e por isso
pediram a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos;
porém não fale Deus conosco para que não morra­
mos.” (Ex 20.19.)

14
Mas se a instituição da lei foi terrível, muito mais o
é a transgressão dela. É muito perigoso desobedecer­
mos às leis de um país. Quando um criminoso é
condenado, nem o apelo mais sentimental consegue
livrá-lo do castigo. A justiça tem que ser cumprida.
Quando o assassino do Presidente Lincoln estava
fugindo da justiça, a lei poderia tê-lo perseguido até
ao fim do mundo. Como deve ter sido horrível para ele
saber que os olhos da justiça estavam a procurá-lo, e
que mais cedo ou mais tarde iria encontrá-lo. E o
círculo foi-se fechando em torno dele, mais e mais, até
que um dia ele foi apanhado. Assim também o cerco
da lei divina vai-se fechando em torno do pecador que
cai sob seu poder. E a salvação nos liberta dessa
maldição, por meio daquele que se fez maldição por
nós.
4. Ela nos liberta também do peso da má consciên­
cia. Sempre fica em nosso coração uma sombra
deixada pelo pecado, bem como um sentimento de
remorso. E como que a asa negra de um corvo e sua
voz rouca sempre sussurrando-nos ao ouvido gemidos
de desespero. A lembrança dos erros passados sempre
acompanha as pessoas, e de tal forma que mesmo
depois de muitos anos ainda sentem na consciência o
peso do crime cometido, cujo castigo nunca recebe­
ram. Às vezes, parece que aquela lembrança ficou
como que adormecida, mas um dia ela desperta e
salta sobre elas como um leão. Pois a salvação nos
liberta dessa consciência de culpa. Ela remove do
coração a sombra que ficara, e da alma, a lembrança
do pecado.
5. Ela nos liberta de um coração essencialmente
mau, que é a fonte de todo pecado em nós. Mesmo
quando os homens odeiam o pecado, é natural que
pequem. Toda natureza possui uma inclinação para o
mal, que está acorrentado a ela como um corpo de
morte, de tal maneira que, apesar de querermos fazer
o bem, praticamos o mal. Ele se apossa de nossa
vontade e coração como se fosse a morte em pessoa.
Ele é maligno, cheira a túmulo; está carregado de

15
contemplarão aquele que planejou e cuja mão preser­
vou tudo isso para eles.
Eles olharão para o passado; olharão para o
futuro, e depois contemplarão o rosto daquele a quem
tudo devem. Aí então erguem suas vozes num coro de
exultação: “Ao nosso Deus que se assenta no trono, e
ao Cordeiro, pertence a salvação.” (Ap 1.10.) E isso
que significa ser salvo; foi nisso que eles creram; foi
para isso que ele morreu. Agora estão na posse de tu­
do. Estão salvos, e, finalmente, o significado pleno dis­
so torna-se claro para seu coração.
Vamos pensar um pouco sobre o que significa ser
salvo. Ser salvo não é coisa de somenos importância.
As vezes ouvimos dizer que determinados crentes são
apenas justificados, como se ser justificado não fosse
um fato grandioso. E glorioso ser regenerado. Cristo
afirmou que era melhor termos nosso nome escrito no
livro da vida do que sermos capazes de expulsar
demônios. O que significa ser salvo?

De que Somos Salvos


1. A salvação remove de nós a culpa do pecado.
Ela nos livra de toda condenação e do castigo que me­
recemos pelos nossos pecados passados. O pecado me­
rece castigo. A salvação remove tudo isso. Não é mara­
vilhoso ser salvo?
2. A salvação nos livra da ira de Deus. Deus odeia
o mal, e de algum modo irá punir o erro. A ira de
Deus se manifesta do céu sobre toda a injustiça dos
homens. Mas a salvação nos livra dessa ira.
3. A salvação nos liberta da maldição da lei.
Podemos lembrar os horrores que cercaram a mani­
festação da lei de Deus, os relâmpagos e trovões vistos
na montanha, e o terror sentido pelo povo de Israel
antes mesmo que ela fosse instituída. Eles não esta­
vam suportando que Deus lhes falasse, e por isso
pediram a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos;
porém não fale Deus conosco para que não morra­
mos.” (Êx 20.19.)

14
Mas se a instituição da lei foi terrível, muito mais o
é a transgressão dela. E muito perigoso desobedecer­
mos às leis de um país. Quando um criminoso é
condenado, nem o apelo mais sentimental consegue
livrá-lo do castigo. A justiça tem que ser cumprida.
Quando o assassino do Presidente Lincoln estava
fugindo da justiça, a lei podería tê-lo perseguido até
ao fim do mundo. Como deve ter sido horrível para ele
saber que os olhos da justiça estavam a procurá-lo, e
que mais cedo ou mais tarde iria encontrá-lo. E o
círculo foi-se fechando em torno dele, mais e mais, até
que um dia ele foi apanhado. Assim também o cerco
da lei divina vai-se fechando em torno do pecador que
cai sob seu poder. E a salvação nos liberta dessa
maldição, por meio daquele que se fez maldição por
nós.
4. Ela nos liberta também do peso da má consciên­
cia. Sempre fica em nosso coração uma sombra
deixada pelo pecado, bem como um sentimento de
remorso. E como que a asa negra de um corvo e sua
voz rouca sempre sussurrando-nos ao ouvido gemidos
de desespero. A lembrança dos erros passados sempre
acompanha as pessoas, e de tal forma que mesmo
depois de muitos anos ainda sentem na consciência o
peso do crime cometido, cujo castigo nunca recebe­
ram. As vezes, parece que aquela lembrança ficou
como que adormecida, mas um dia ela desperta e
salta sobre elas como um leão. Pois a salvação nos
liberta dessa consciência de culpa. Ela remove do
coração a sombra que ficara, e da alma, a lembrança
do pecado.
5. Ela nos liberta de um coração essencialmente
mau, que é a fonte de todo pecado em nós. Mesmo
quando os homens odeiam o pecado, é natural que
pequem. Toda natureza possui uma inclinação para o
mal, que está acorrentado a ela como um corpo de
morte, de tal maneira que, apesar de querermos fazer
o bem, praticamos o mal. Ele se apossa de nossa
vontade e coração como se fosse a morte em pessoa.
Ele é maligno, cheira a túmulo; está carregado de

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veneno de serpentes; corrompe todo o ser moral e o
leva à morte. A salvação nos liberta do domínio dele e
nos dá uma nova natureza.
6. Ela nos liberta do temor da morte. Remove o
aguilhão desse nosso último inimigo, já que, por medo
dela, passamos toda a vida em cativeiro. Lembro-me
de quando era criança, como ficava apavorado com o
dobrar do sino, anunciando a morte de alguém. Não
suportava ouvir aquele som. Mas o amor de Cristo
retirou isso de minha vida. O leito de morte dos filhos
de Deus é na verdade o portal do céu para eles.
7. A salvação nos liberta do poder e do reino de
Satanás. Deus “nos libertou do império das trevas e
nos transportou para o reino do Filho do seu amor” .
(Cl 1.13.) Somos salvos do mal, e das garras do pe­
cado, e o diabo é um inimigo derrotado. A salvação
nos livra de muitas tristezas e aflições da vida. Ela
introduz em nossa vida uma gloriosa luz, dissipando
as nuvens da depressão e da tristeza que nos domi­
nam.
8. Mas, acima de tudo, a salvação nos liberta da
morte eterna. Não seremos lançados nas trevas exteri­
ores e no abismo do sofrimento. Cristo soltou as
correntes do abismo, e nos salvou da morte eterna.
Fomos libertos de uma terrível agonia, assim descrita
por Aquele cujos lábios foram os mais amorosos:
“onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” .
(Mc 9.44.)
Estes são alguns males dos quais a salvação nos
livrou. Não é ela realmente novas de grande alegria?
O que a Salvação nos Oferece
1. A salvação nos dá o perdão de todos os nossos
pecados, e os remove inteiramente. Eles são apagados
completamente, como se tivéssemos pago o que devía­
mos por eles; e nunca mais nos serão lançados no ros­
to.
2. A salvação nos confere justificação diante de
Deus, de modo que podemos nos posicionar diante
dele como pessoas justas. Somos aceitos por ele como

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se tivéssemos feito tudo que ele nos ordenou, e
tivéssemos obedecido perfeitamente à sua lei, em
todos os seus detalhes. Com apenas um traço de pena,
ele anulou a nossa conta; com outro, ele coloca no
lugar de nossos erros a justiça de Cristo.
Temos que aceitar os dois aspectos desse fato. A
imaculada santidade de Jesus é creditada em nossa
conta como se fosse nossa. Sua obediência ao Pai
torna-se a nossa obediência. Sua paciência e mansi­
dão são nossas. Cada ato que ele praticou para bênção
de outros é anotado em nossa conta, como se tivésse­
mos feito aquilo. Todas as boas coisas que virmos nele
são nossas, e todo o mal que há em nós passa a ser
dele. Isso é salvação. Não é maravilhoso?
3. A salvação nos concede a graça e o amor de
Deus, e obtém para nós total aceitação diante dele,
pela pessoa de Jesus. Ele nus ama da mesma forma
que ama seu Filho unigênito. No momento em que lhe
somos apresentados, nos braços de Cristo, ele nos
aceita.
O Dr. Currie, um magnífico escritor metodista e
editor-chefe de um dos melhores jornais dessa deno­
minação, sonhou certa vez que morrera e fora até os
portões do céu. Ali encontrou um anjo e pediu-lhe que
o deixasse entrar. O anjo perguntou-lhe quem era.
— Sou o Dr. Currie, respondeu. Sou editor-chefe do
jornal Quaterly Review, da Igreja Metodista Episco­
pal.
— Não o conheço, replicou o anjo. Nunca ouvi
falar de você.
Mais adiante ele encontrou outro anjo e lhe disse
as mesmas coisas, recebendo a mesma resposta.
Afinal um dos anjos disse:
— Vamos ao Juiz, para saber se ele o conhece.
Então ele se apresentou perante o trono e contou
sua vida ao Juiz, e falou do trabalho que havia feito na
igreja, mas recebeu dele a seguinte resposta:
— Não o conheço de modo nenhum.
Ele já estava começando a sentir o coração en­
cher-se de desespero, quando de repente viu uma

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Pessoa a seu lado, tendo na cabeça uma coroa de
espinhos.
— Pai, disse a Pessoa, eu o conheço. Posso respon­
der por ele.
Imediatamente, todas as harpas do céu começa­
ram a cantar: “ Digno é o Cordeiro que foi morto” (Ap
5.12), e assim ele foi introduzido na glória celestial.
Todas as pregações que fizermos, todos os serviços
que prestarmos, de nada valerão no céu. Ali teremos
que nos identificar com Aquele em quem foi colocada
a coroa de espinhos. Temos que ser aceitos por causa
do Amado, e assim o Pai nos amará, como ama seu Fi­
lho. E estaremos com ele, como Cristo está.
4. A salvação nos dá um coração novo. Ela opera
em nós a regeneração da alma. Toda e qualquer
migalha de vida da velha natureza corrupta não tem
nenhum valor. E a natureza divina brota em nós
tornando-se parte de nosso próprio ser.
5. A salvação nos concede graça para vivermos o
dia-a-dia. Um criminoso pode receber indulto e ser
liberto da prisão, mas não terá dinheiro para se
sustentar. Foi perdoado mas está com fome. A salva­
ção nos retira da prisão e ainda fornece os meios para
vivermos. Ela nos possibilita que regozijemos em Deus
que “é poderoso para (nos) guardar de tropeços e para
(nos) apresentar com exultaçâo, imaculados diante da
sua glória” . (Jd 24.)
6. A salvação nos garante também a presença do
Espirito Santo ao nosso lado, como uma mãe amoro­
sa, auxiliando-nos em nossas fraquezas, a dando-nos
graça em todos os momentos de necessidade.
7. A salvação significa para nós também o cuidado
da providência divina, fazendo com que todas as
coisas cooperem para o nosso bem. Isso não ocorre
quando não somos salvos; mas depois que nos torna­
mos filhos de Deus, todas as coisas, no céu e na terra,
ficam do nosso lado.
8. A salvação abre o caminho para todas as
bênçãos que se seguem a ela. E o primeiro degrau
para a santificação e a cura, e para a paz que excede

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lodo entendimento. A partir desse portal de entrada,
as perspectivas se abrem ilimitadamente, dando-nos
acesso a uma terra boa, que podemos possuir.
9. A salvação nos conduz à vida eterna. Natural­
mente, ela é apenas o começo, mas as portas da pátria
celestial se abrem aqui, e quando afinal chegarmos
diante do trono e virmos todas as possibilidades que
ainda temos, cantaremos o hino dos resgatados: “Ao
nosso Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro,
pertence a salvação.” (Ap 7.10.)
O Mediador das Bênçãos
1. Essas bênçãos nos vêm por meio da misericórdia
e graça de Deus. “Porque Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
(Jo 3.16.)
2. A salvação nos é concedida por causa da justiça
de Jesus Cristo. Ele cumpriu de forma perfeita todas
as exigências da lei. Se ele tivesse caído em uma
tentação apenas, não teríamos sido salvos. Pense
nisso, quando se sentir tentado a dar uma resposta
brusca a alguém. Suponhamos que Jesus tivesse feito
isso. Estaríamos perdidos para sempre. Mas não; ele
se manteve firme no caminho da obediência, e sua
graça e obediência perfeitas são o preço de nossa
salvação.
3. A salvação nos é concedida por causa da morte
de Cristo. Não foi suficiente que ele obedecesse. Tinha
também que morrer. Sua crucificação é a propiciação
pelos nossos pecados.
4. A salvação nos é concedida também por causa
da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. Ela
foi o carimbo divino, garantindo que a obra estava
toda realizada, e o penhor do nosso perdão.
5. A salvação nos é concedida também pela inter-
cessão de Jesus em nosso favor, à destra do Pai. Ele é
nosso Sumo Sacerdote ali, onde se acha para sempre,
para interceder por nós, dessa forma mantendo-nos
em constante aceitação diante do Pai.

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6. A salvação nos vem pela graça tio Espírito
Santo. Por intercessão de Cristo, o Espírito tlc Deus é
enviado a nós, para realizar sua obra em nosso
coração e em nossa vida. Ele mantém nossos pés no
caminho certo, e nunca cessará de realizar sua obra,
enquanto não nos entregar a Jesus.
7. A salvação nos vem pelo Evangelho. Ela nos
chega através dessa mensagem, e se nos recusarmos a
aceitá-la, ou a negligenciarmos, estamos, com esse
ato, determinando, de forma irrevogável, nossa condi­
ção eterna.
Os Passos Para a Salvação
1. O primeiro passo é a convicção de pecados. Para
sermos salvos, é preciso que vejamos primeiramente o
perigo em que nos encontramos e a nossa necessidade
espiritual. O Espírito Santo revela essas coisas ao
nosso coração e consciência. Enquanto não tivermos
consciência de que precisamos de Cristo, não podere­
mos recebê-lo. Mas quando nosso coração sente pro­
fundamente seu pecado, então percebemos como Cris­
to é precioso.
2. Em seguida, é necessário que recebamos a Jesus
Cristo como nosso Salvador. Temos que ver que ele é
poderoso para salvar-nos e deseja fazê-lo. Não será
suficiente apenas sentirmos nossa culpa e a confessar­
mos ao Senhor. Precisamos também fixar os olhos em
Jesus. Por isso Cristo diz a todo aquele que o busca:
“Olhe! Olhe para mim e será salvo!” “...a vontade de
meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer,
tenha a vida eterna (Jo 6.40).”
3. A salvação nos vem pelo arrependimento. Te­
mos que dar as costas ao pecado. Esse ato não pode
consistir apenas num sentimento emocional. Tem que
significar que, com toda nossa vontade e propósito do
coração, deixamos o pecado e nos voltamos para
Deus.
4. A salvação nos é concedida pelo ato de buscar­
mos a Cristo. Não basta que demos as costas ao
pecado. Isso, por si só, não nos salva. A esposa de Ló

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deu as costas para Sodoma, mas seu coração não
estava em Zoar. Ao mesmo tempo que damos as
costas ao pecado, temos que nos voltar para Jesus.
5. A salvação nos é concedida quando aceitamos a
Jesus como nosso Salvador. Isso não significa apenas
clamar a ele para que nos salve, mas reconhecê-lo
como Salvador, aceitando as promessas que ele nos
deu, e crendo nele como nosso redentor pessoal.
6. A salvação nos vem pela crença de que Cristo
nos aceitou, reconhecendo que aquele que fez a
promessa é fiel. Isso nos trará certeza e paz. E, ao
crermos na promessa, o Espírito a sela em nosso
coração, e dá testemunho de que somos filhos de
Deus.
7. A salvação nos é concedida mediante a confis­
são de que Cristo é nosso Salvador. Este passo é muito
necessário. E como a ratificação da assinatura de um
documento ou a celebração de uma cerimônia de
casamento. Isso sela e carimba nosso ato de dedicação
pessoal a ele.
8. A salvação implica também em permanecer em
Jesus. Depois de havermos aceito como consumado o
lato de que fomos salvos de uma vez por todas, não
devemos nunca repeti-lo. “Ora, como recebestes a
Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele.” (Cl 2.6.)

() que a Bíblia Diz Sobre a Salvação


1. Ela é chamada de salvação de Deus. Não foi
criada pelo homem. Só Deus é o autor dela, e só ele é o
salvador.
2. Ela é chamada também de “nossa própria
salvação” , pois temos que nos apropriar dela.
3. E chamada também de “nossa comum salva­
ção” , porque é apresentada gratuitamente a todos que
queiram aceitá-la.
4. E chamada de “grande salvação” , porque é
plena e infinita em seu alcance. Ela é suficientemente
.impla para atender a todas as nossas necessidades.
5. A Bíblia diz que Cristo é “poderoso para

21
salvar” , porque por mais fracos ou ímpios que sejam
os pecadores, ele pode salvar perfeitamente a todos.
6. E uma salvação que “está perto” de nós. “Não
perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto
é, para trazer do alto a Cristo); ou Quem descerá ao
abismo? (isto é, para levantar a Cristo dentre os
mortos). Porém, que se diz? A palavra está perto de ti,
na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé
que pregamos. Se com a tua boca confessares a Jesus
como Senhor, e em teu coração creres que Deus o
ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Rm 10.6-
9.)
Para encontrar a Cristo não precisamos nos elevar
a um estado de êxtase, nem descer a uma experiência
terrível e deprimente. Podemos encontrá-lo onde quer
que estejamos. A salvação está perto de nós. Podemos
recebê-la, já que podemos encontrar Cristo bem junto
a nós. Na antigüidade, não era permitido construírem-
se degraus nos altares que eram erigidos a Deus, para
evitar que um pecador qualquer não pudesse ter aces­
so a ele. Jesus se encontra no mesmo nível em que nos
encontramos. Podemos receber a salvação dele agora,
e no lugar onde estamos. Podemos recebê-lo da
maneira como estamos, e ele nos guiará a todas as
experiências por que precisamos passar.

Por que Ela é Chamada de Boas-Novas


1. Ela é chamada de Boas-Novas por causa de seu
valor. Ela está carregada de bênçãos para aqueles que
a recebem.
2. E chamada de Boas-Novas por causa de sua
gratuidade. Pode ser recebida de graça, sem dinhei­
ro e sem preço.
3. E chamada de Boas-Novas por causa de sua
qualidade e disponibilidade. Ela é de fácil acesso,
achando-se ao alcance do mais terrível pecador.
4. E chamada de Boas-Novas por causa de sua
universalidade. Quem quiser pode recebê-la, e ter a
vida eterna.

22
5. É chamada de Boas-Novas por causa da certeza
de suas bênçãos. Elas são dadas para sempre. “Em
verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida
eterna.” (Jo 5.24.)
6. E chamada de Boas-Novas, porque suas bênçãos
são eternas. Se quisermos marcar o começo do tempo
de duração da salvação, primeiro o sol terá que arder
até o fim e virar cinzas, a terra terá que ser destruída
por um intenso calor, e os céus transformados. Depois
poderão passar mais dez milhares de anos, e aí
teremos apenas começado a entender um pouco o
significado da salvação. Bendito seja Deus, pelo evan­
gelho da salvação de Cristo.

Por que Devemos Receber e Transmitir a


Outros Esta Salvação
1. A salvação de cada indivíduo depende apenas
de uma decisão dele mesmo, de sua livre vontade. E
difícil encarar o fato de que cada indivíduo tem a
opção de abraçar ou rejeitar a salvação. Mas isso foi
mesmo deixado a critério de cada um. Não somos
obrigados a aceitá-la. Podemos recebê-la ou rejeitá-la
por nossa livre vontade.
2. A salvação de nossa alma é uma grande respon­
sabilidade que pesa sobre uós. Deus colocou nossa
salvação em nossas próprias mãos, como se ela fosse
uma jóia de inestimável valor, e ele vai pedir contas
pela maneira como agimos com esse bem tão precioso.
Se a destruirmos, como será horrível nossa condena­
ção, quando nos encontrarmos diante do Juiz de toda
a terra, e ouvirmos de seus lábios a profunda pergun-
la: “O que é feito de tua alma?”
3. Se desprezarmos e ignorarmos o precioso san­
gue de Cristo, derramado para nos salvar, teremos
rnorme peso de culpa. Ignorá-lo é o mesmo que
alirá-lo fora. O Senhor nos ofereceu uma grande
■.alvação. Se ela é de tanto valor para o homem, e se o
preço que Deus pagou por ela foi tão caro, que se pode

23
pensar de uma pessoa que a deprecia? Jesus passou
por um sofrimento tão intenso para nos oferecer a
salvação; como podemos ser tão descuidados quanto a
este assunto? Ah, sejamos mais interessados do que
somos, tanto pela salvação de nossa alma como pela
salvação daqueles que nos cercam, e que ainda não
são salvos.
4. A palavra “ agora” está sempre associada a
salvação. E a idéia de que temos de nos apropriar da
salvação agora ou nunca. O ciclo de nossa vida é
muito curto. “Eis agora o dia da salvação.” (2 Co 6.2.)
5. As bênçãos da salvação duram toda a eternida­
de. As decisões com ela relacionadas não são reversí­
veis. Não poderemos voltar aqui após a morte e ter
outra oportunidade de obter a salvação. Depois que o
Mestre se levantar e fechar a porta, veremos que
fomos deixados de fora para sempre. Aí, então, iremos
clamar: “Perdi minha oportunidade; agora é tarde
demais.”
6. E não há desculpas para quem perder essa
oportunidade de se salvar. Da parte de Deus, tudo foi
feito para oferecer a salvação aos homens. Deus
aplicou toda a sua inteligência, e Cristo, todo o seu
amor nisso. Tudo que poderia ter sido feito já foi feito.
Agora a salvação se acha ao nosso alcance. Qualquer
um pode obtê-la.
Deus nos oferece todos os recursos, inclusive a
graça, arrependimento e fé, se os quisermos receber.
Se tivermos falta de alguma coisa, ele colocará seus
braços em nosso ombro e nos erguerá até ele, e
instilará sua fé em nós, e nos amparará até que
consigamos andar por nós mesmos. A salvação é
apresentada a todos os pecadores. Se nos perdermos, é
porque negligenciamos e resistimos ao amor de Deus.
Embora proclamemos esta salvação, a eternidade
será curta demais para se explicar toda ela. Temos
que aceitá-la e depois sair e convocar outros para
partilharem dela. Receberemos coroas gloriosas, mas
o melhor de tudo será ver outros salvos.
Numa certa casa de Nova Iorque, há um quadro

24
com uma rica moldura, mas nele há apenas um
pedaço de papel — um formulário de telegrama, e
nele está escrito apenas uma palavra:
“SALVO!”
A dona da casa mandou colocar aquele telegrama
num quadro, porque ele lhe é mais precioso que todos
os outros objetos de arte que possui. O que aconteceu
foi que seu marido viajara, e, certo dia, ela viu no
jornal a notícia de que o navio tinha naufragado. Mais
tarde, porém, recebeu esse telegrama que a libertou
do desespero em que se encontrava. Era uma mensa­
gem enviada pelo marido que fora resgatado. E para
aquelas duas pessoas, ele significava todo o valor da
vida.
Ah, que essa mesma mensagem seja transmitida
hoje também à pátria celestial. O Espírito Santo a
emitirá num abrir e fechar de olhos. Os anjos a
ecoarão pelo céu, e os amigos que ali estão sentirão
que ela é mais importante para eles que o próprio céu.
Já vi outro quadro, com outra breve mensagem.
Ela viera de uma pessoa que fora salva de um navio
naufragado, onde haviam perecido sua família e
amigos. Esses entes queridos achavam-se nas profun­
dezas do mar. Seus amados rostos estavam perdidos
para sempre, mas ele estava salvo. E, do outro lado do
mar, ele enviou esse triste telegrama:
“ SÓ EU ME SALVEI!”
Do mesmo modo posso imaginar um crente egoís­
ta adentrando os portões do céu. Alguém vai ao seu
encontro para recebê-lo.
— Onde estão seus entes queridos? Onde está sua
coroa?
— Infelizmente, só eu me salvei!
Que Deus o abençoe, leitor; que você saiba receber
e dar; que consiga salvar-se, e alcançar outros tam ­
bém.
Mãos vazias! que tristeza imensa
Quando Cristo no céu eu avistar.
Nem sequer o troféu de uma alma salva
Poderei aos seus pés depositar?

25
?
2

Cristo, Nosso Santificador


“E afavor deles eu me santifico a mim mesmo, pa­
ra que eles também sejam santificados na verda­
de.” (João 17.19.)

A nota de rodapé referente à última parte do versí­


culo diz o seguinte: “para que eles também sejam ver­
dadeiramente santificados” . Essa explicação parece
dar a entender que existe uma experiência que se pen­
sa ser santificação e que não o é. Existem formas falsi­
ficadas de vida cristã e também formas deturpadas,
que não representam a totalidade do que Cristo pode
fazer por nós. A santificação é o segundo aspecto das
quatro dimensões do evangelho.

O que Não é Santificação


Existem bons elementos no caráter cristão, e até
elementos santos, que não são santificação.
1. A regeneração não é santificação. Conversão
também não o é. E maravilhoso nascer de novo; uma
experiência grandiosa. Nunca poderiamos considerar

26
isso uma questão de somenos importância. Estar
salvo para toda a eternidade é motivo de eterna
alegria; mas temos que seguir em frente e alcan­
çar a santificação. As duas não são a mesma coi­
sa A regeneração é o começo. Ela é o gérmen da
semente, mas não a plenitude que a planta alcança no
verão. O coração ainda não obteve vitória sobre os
velhos elementos do pecado, e por vezes é derrotado
por eles.
A regeneração é como a construção de uma casa, a
realização de um excelente trabalho. A santificação é
a vinda do proprietário para morar nela, e enchê-la de
vida, alegria e beleza. Muitos se convertem e param
aí. Não prosseguem para a plenitude de sua vida em
Cristo, e por isso correm o perigo de perder o que já
possuem.
A. Alemanha ofereceu ao mundo a grande verdade
da justificação pela fé, através dos ensinos de Marti-
nho Lutero, mas este reformador deixou de aprofun­
dar os ensinos da vida cristã. Quais foram as conse-
qiiências? Hoje a Alemanha é fria e sem vida, e se
tornou a sementeira do racionalismo com toda a sua
esteira de males. Como a situação da Inglaterra é
diferente! O trabalho de homens como Wesley, Baxter
e Whitfield, que entenderam bem a missão do Espíri­
to Santo, resultou em que a vida cristã da Inglaterra,
América e de outros 'ngares que nasceram delas,
atingiu níveis mais profundos e permanentes.
Aqueles que não prosseguem em sua experiência
cristã para obter a plenitude de sua herança em Cristo
tornam-se, muitas vezes, frios e formais. O mal torna
a brotar em seu coração e não raro os domina, e a
obra que realizam causa confusão e tragédias à causa
de Cristo. Se esses escaparem das conseqüências, será
como que pelo fogo.
Todos conhecemos pessoas que experimentaram
uma maravilhosa conversão, e ficaram cheios do amor
de Deus. Mas não entraram na vida cristã mais
profunda, e, em momentos difíceis, fracassaram. Eles
tinham recebido um coração novo, mas negligencia­

27
ram os ensinamentos mais profundos e a vida de
vitória que Cristo oferece a todos os seus filhos.
2. Moralidade não é santificação; também não o é
um aprimoramento do caráter. Existe muita coisa boa
e bela na vida humana que não é santificação. O
cultivo de um bom caráter por esforço próprio não de­
ve ser atribuído a Deus. Esse tipo de caráter não su­
portará as tensões que certamente lhe sobrevirão. So­
mente a casa que é construída sobre a Rocha Eterna
conseguirá resistir com segurança a fúria dos elemen­
tos.
3. A santificação também não é produto de nossos
próprios esforços. Não é um aprimoramento gradual
que vamos obtendo aos poucos, com empenho pesso­
al. Se nos fosse possível edificar a estrutura de nossa
própria santificação, e ir acrescentando alguma coisa
a cada ano, até que afinal ficasse pronta, não iríamos,
depois, contemplá-la com um certo orgulho, atribuin-
do-a a nosso esforço pessoal? Não; não alcançamos
santificação através de um crescimento gradual.
E verdade que depois que obtivermos a santifica­
ção, iremos crescer e atingir um estágio de maior
plenitude, maturidade e maior desenvolvimento na
vida cristã. Mas a santificação tem que ser aceita
como uma dádiva de Deus, e não como um processo
de crescimento. E algo que se ganha, não que se
consegue por esforço. Ninguém pode santificar-se a si
mesmo. A parte que nos cabe fazer é entregar-nos a
Deus, inteiramente, como um sacrifício vivo, voluntá­
rio. Isso é de imensa importância, pois quem realiza a
obra de purificação e nos enche é ele.
4. A santificação também não é operada pela
morte. E muito estranho que alguém pense que pode
haver uma influência santificadora na luta de passa­
gem pela morte. E no entanto muitas pessoas abrigam
essa ilusão durante muito tempo. Elas pensam que o
suor frio daquela hora final, o latejar convulsivo do
coração que pára, de algum modo as colocará nos
braços do Santificador. Essa idéia procede, até certo

28
ponto, da antiga tese de que o pecado se acha
localizado no corpo, do velho ensino maniqueísta de
que a carne é impura, e se pudéssemos nos livrar dela,
o espírito que nela habita poderia estar liberto do
pecado, e imediatamente se encontraria numa dimen­
são de total pureza.
Mas a verdade é que não há pecado nestes nossos
ossos, músculos e tendões. Se cortarmos nossa mão
nem por isso teremos nos libertado de um pouco de
pecado. E se perdermos as duas mãos, continuaremos
sendo tão pecadores quanto antes. Se cortássemos
nossa cabeça e perdéssemos a vida, ainda assim o
pecado continuaria na alma. O pecado não está
localizado no corpo; está ligado ao coração, à alma e à
vontade. Se nos descartarmos deste corpo, vindo do
pó, nosso espírito ainda continuará oferecendo resis­
tência, a ser rebelde e pecaminoso. A morte não o tor­
nará santo. Aliás, a morte é um péssimo momento pa­
ra alguém se converter. E seria pior ainda para al­
guém se santificar.
Eu não aconselharia a ninguém adiar sua salvação
para a hora de sua morte, quando seu coração estará
opresso, o cérebro anuviado, e a mente precisando de
confiança, tranqüilidade e um senso de vitória, para
que possa entrar na presença de Deus com plenitude
de alegria. Também não é o melhor momento para
aquela operação mais profunda do Espírito Santo.
Devemos entrar na experiência da santificação bem
lúcidos, com a mente bem alerta. Trata-se de um ato
deliberado, que requer o exercício de todas as nossas
faculdades, operando sob a i 'fluência orientadora do
divino Espírito.
5. A santificação não é auto-aperfeiçoamento.
Nunca atingiremos um estágio de retidão em que não
exista mais a possibilidade de pecarmos ou sermos
tentados a pecar. Nunca chegaremos a um estado de
perfeição onde não precisemos mais permanecer em
Cristo. No instante que concluirmos que podemos
viver sem ele. brotará em nós uma vida que nada tem
de santificada.

29
Talvez a razão pela qual Satanás e seus anjos
decaíram de sua elevada posição seja que se tornaram
conscientes de sua própria beleza, e assim o orgulho
brotou em seu coração. Olharam para si mesmos e
viram-se como deuses. No momento em que acharmos
que somos fortes ou puros, aí começará nossa desinte­
gração espiritual. Esta postura nos tornaria indepen­
dentes dele, e conseqiientemente nos afastaria da vida
de Cristo. Temos que ser instrumentos simples, vasos
vazios, para que a vida dele permeie o nosso ser. Aí
então a perfeição de Cristo nos será comunicada. E
seremos cada vez menos nós mesmos, enquanto ele
opera cada vez mais em nós.
6. A santificação não é um estado emocional. Não
é um êxtase, nem uma “sensação” espiritual. Ela se
situa na vontade e no nosso objetivo de vida. E moldar,
na prática, nossa vida e conduta à vontade e ao
caráter de Deus. E nossa vontade fazendo opção por
Deus. E o propósito de nosso coração rendendo-se a
ele, obedecendo-lhe e buscando agradá-lo. Em resu­
mo, é amá-lo, tomar a deliberação de fazer sua santa
vontade, e fazê-la. Quem tem essa atitude não pode
deixar de ser feliz. Se alguém anseia por uma alegria
meramente sensacional ainda está vivendo uma vida
egoísta, não santificada. Precisa abandonar esta for­
ma de vida e receber a vida de Deus, para depois
receber as bênçãos dele.

O que é Santificação'
Examinemos agora o lado positivo dessa questão.
1. Santificação é separação do pecado. Esta é a
idéia básica do termo. Uma pessoa santificada é
aquela que está separada do pecado, do mundo peca­
minoso e até de si mesma, e de qualquer coisa que,
após o novo nascimento, cause um distanciamento
entre ela e Cristo.
A santificação não implica em que o pecado e
Satanás devem ser destruídos. O milênio não é inau­
gurado com a nossa santificação; não obstante, Deus

30
estabelece uma linha divisória entre a pessoa que se
santificou e tudo que é impuro. O maior problema de
alguns de nós é tentar destruir o mal. Achamos que,
se pudéssemos imobilizar o pecado e Satanás fosse
morto, seríamos infinitamente felizes.
Depois que se convertem, muitas pessoas sofrem
um grande choque ao descobrir que o diabo ainda
está vivo. Mas Deus nunca prometeu que aniquilaria
Satanás. Prometeu, isso sim, que colocaria um largo e
profundo Jordão entre nós e o pecado. A única
maneira certa de se lidar com o pecado é repudiá-lo e
abandoná-lo. Há muito pecado no mundo, pecado em
quantidade suficiente para nos destruir, se o permitir­
mos. O ar está carregado dele, assim como está
carregado de poluição industrial. E assim será até o
fim dos tempos. Mas Deus quer que interiormente nos
apartemos do pecado.
2. A santificação significa também dedicação a
Deus. Esse conceito também está contido no sentido
do termo. Trata-se portanto de um afastamento do
pecado e uma dedicação a Deus. A pessoa santificada
é totalmente consagrada a Deus, determinada a agra-
dá-lo em tudo. Em todas as situações, seu primeiro
pensamento é: “ Seja feita a tua vontade.” Seu único
desejo é agradar a Deus e realizar sua santa vontade.
Este é o conceito expresso pela palavra consagração.
No Velho Testamento, chamava-se de santificado
tudo que era separado para ser dedicado a Deus, mes­
mo que, antes disso, não se lhe tivesse atribuído peca­
do. O tabernáculo, por exemplo, foi santificado; claro
que no sentido de ser dedicado a Deus, do mesmo mo­
do o foram todos os objetos dele, isto é, separados para
uma função santa. E Deus espera de nós que não
apenas sejamos apartados do pecado; esse é apenas o
aspecto restritivo da santificação. Ele quer que seja­
mos totalmente dedicados a ele, e que o supremo
desejo de nosso coração seja amá-lo, honrá-lo e agra­
dá-lo. Será que estamos correspondendo a esta expec­
tativa dele?
3. A santificação implica também em nos confor-

31
marmos à semelhança de Deus. Temos que assumir a
imagem dele, e exibir em nossa vida as características
de Jesus Cristo.
4. A santificação implica também em nos confor­
marmos à vontade de Deus. A pessoa santificada é
submissa e obediente. Ela deseja, acima de tudo, que
em sua vida se faça a vontade de Deus, pois está
cônscia de que é a melhor e mais sábia orientação
para ela. Está consciente de que, se não a realizar,
está perdendo algo de muito importante. Sabe que a
vontade de Deus, além de ser melhor do que sua
própria vontade, promoverá o que há de melhor para
ela, e por isso clama instintivamente: “...faça-se a tua
vontade” . (Mt 6.10.)
5. A santificação significa amar; amar suprema­
mente a Deus e a toda a humanidade. Isso é o
cumprimento da lei. E a nascente de onde brota todo
ato de obediência; a fonte de onde provêm todos os
atos de justiça. Não podemos estar conformados à
vontade de Deus se não tivermos amor, pois Deus é
amor.
Este talvez seja o traço mais forte de uma vida
realmente santificada. Ele aquece e reveste de bran-
dura todas as demais virtudes. Remove os picos
ásperos e gelados de uma consagração fria e árida,
recobrindo-a de musgos e vegetação. Inunda de luz o
coração, acrescentando-lhe calor e vida; sem ele, tudo
seria desolado e frio. Um selvagem conseguiu ficar
de pé perante seus inimigos, e deixar que o cortassem
em pedaços com uma firmeza estóica, que desdenhava
qualquer manifestação emocional. Mas esta sua indi­
ferença era como um penhasco pedregoso. Não foi
como no caso de Jesus'que, por causa do terno amor
de seu coração, inclinou-se humildemente diante de
uma morte dolorosa, por ser esta a vontade do Pai.
Seu gesto espontâneo foi fruto de seu coração de
amor.
Se estivermos cheios de amor a Deus, esse amor
passará de nós para outros, e amaremos nosso próxi­
mo como a nós mesmos.

32
A Origem da Santificação
O ponto central de toda essa questão é compreen­
der que o próprio Jesus é a nossa santificação. Não
devemos encarar a santificação como uma montanha
em cujo topo (íngreme) Cristo se encontra, com pe­
nhascos quase inaccessíveis, mas que precisamos es­
calar, para nos colocarmos ao lado dele.
O próprio Jesus se torna nossa santificação. “E a
favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que
eles também sejam santificados.” (Jo 17.19.) Parece
que ele estava com certo receio de que seus seguidores
tentassem alcançar a santificação a partir de outra
fonte que não ele, e, como soubesse que sem ele não o
conseguiríam, afirmou: “Eu me santifico a mim mes­
mo.”
1. Ele a adquiriu para nós. Ela é parte dos
benefícios do Calvário. Com uma só oferta, ele aper­
feiçoou para sempre aqueles que são santificados.
“Nessa vontade é que temos sido santificados, medi­
ante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por
todas.” (Hb 10.10.)
2. Não obtemos a santificação por nossos esforços,
mas ela nos é oferecida gratuitamente, já que ele a
pagou com sua morte na cruz. Jesus a comprou para
nós; logo devemos nos apropriar dela da mesma
forma que recebemos o perdão. Temos o direito de ser
santos, tanto quanto temos o direito de ser salvos.
Podemos reivindicar de Deus, como nossa herança, a
nossa santificação, assim como reivindicamos o per­
dão dos pecados. Quem não a possui está perdendo
um dos privilégios de que pode gozar com sua reden­
ção.
3. Devemos receber a santificação como um dos
dons gratuitos que Deus quer nos dar. Se não é um
dom, então não é parte da redenção. Mas, se faz parte
da redenção, então é gratuita como a salvação.
4. Obtemos a santificação pela habitação pessoal
de Cristo em nós. Ele não introduz a justiça em nosso
coração pura e simplesmente, mas ele próprio vem

33
morar nele. As palavras são insuficientes, são total­
mente inadequadas para expressar essa idéia. O fato é
que, só quando nos desesperamos de todos os outros
métodos de santificação é que aprendemos essa verda­
de: o próprio Jesus Cristo entra em nosso coração e ali
vive sua própria vida, tornando-se assim a nossa santi­
ficação.
Este é o sentido do texto. Jesus se santifica a si
mesmo para o bem de seu povo; por isso, quem tenta
viver uma vida de santidade sem que seja por meio
dele, não é realmente santificado. Para sermos verda­
deiramente santificados, temos que receber a Jesus
como nossa vida. Este é o significado pessoal da
santificação que Deus opera. “Mas vós sois dele, em
Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus
sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.” (1 Co
1.30.) /
Jesus se torna, para nós, sabedoria de Deus. E ele
a verdadeira filosofia, a eterna sofia, que supera a
mais profunda filosofia humana — justiça, santifica­
ção e redenção. Portanto, quando ele está em nós, ele
se torna nossa sabedoria. Ele não nos aprimora, e faz
de nós objeto de admiração. Ele simplesmente penetra
em nós, e vive ali da mesma forma como viveu por
ocasião de seu ministério na Galiléia.
Assim que os judeus terminaram a construção do
tabernáculo, o Espírito Santo desceu sobre ele e
tomou posse dele, passando a habitar ali, como fogo
ardente, sobre a arca da aliança, no meio dos queru­
bins. Deus encheu o tabernáculo depois que ele lhe foi
dedicado. Do mesmo modo, quando lhe dedicamos a
vida ele vem habitar em nós, enchendo-nos e perme­
ando com sua vida todo o nosso ser.
Quando nos dedicamos plenamente a Deus, o
mesmo Espírito que entrou no ventre de Maria, que
desceu com poder sobre os discípulos no dia de
Pentecostes, desce também sobre nós, de forma tão
real, que é como se o víssemos descer esvoaçando, em
matéria visível, para pousar sobre nosso ombro. Ele
vem do céu para morar em nós como se estivéssemos

34
visivelmente mergulhados em sua sombra. É Deus
realmente vindo de fato habitar no nosso coração e
viver em nós sua vida santa.
Temos a seguinte promessa em Ezequiel 36: “En­
tão aspergirei água pura sobre vós.” Isso é perdão;
nossos pecados passados são apagados. “Dar-vos-ei
coração novo.” Isso é regeneração. “Porei dentro de
vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.” Ah,
isso aí já vai além de regeneração e perdão. E Deus
vivendo naquele coração novo. E o Espírito Santo
morando no coração de carne que Deus deu ao
regenerado, para que todos os nossos movimentos,
pensamentos, intenções e desejos de nosso ser sejam
acionados pelo fluxo da vida divina que há em nosso
interior. E Deus outra vez manifesto em carne.
Esta é a única santificação autêntica. Só dessa
maneira é que o homem pode experimentar uma vida
de plena santidade. Quando o Espírito Santo toma
posse de nós, somos permeados pela natureza divina.
Entrar nesse tipo de relacionamento com Deus é
experiência das mais sagradas que podemos ter. Ela
coloca no trono, ao lado de Deus, até a mais humilde e
mais repulsiva criatura. Se estivermos conscientes de
que Deus está habitando em nosso interior, nós nos
inclinaremos diante da grandeza dessa sua presença.
Não nos atreveremos a profaná-la, pecando. O nosso
coração se aquietará e andaremos de cabeça inclina­
da, dado o valor da jóia que levamos no coração.
Você conhece a realidade de Cristo ter-se tornado
santificação para você? sabe, por experiência, o que é
entregar-se em dedicação total a ele? já o ouviu dizer-
lhe: “E a seu favor eu me santifico a mim mesmo, pa­
ra que você também seja santificado na verdade” ?

Como Recebemos a Santificação


1. E preciso que primeiramente tenhamos uma
revelação divina de que necessitamos da santificação,
para depois procurarmos obtê-la. Temos que perce­

35
ber, com nossa própria visão espiritual, que ainda não
fomos santificados, e que precisamos sê-lo, se quiser­
mos ser felizes. E em muitos casos a primeira coisa
que Deus faz, para forçar-nos a ver a condição em que
nos encontramos, é chamar nossa atenção para nossas
fraquezas, permitindo que caiamos em erros, deixan­
do-nos envergonhados de nós mesmos. Com estas
humilhantes auto-revelações, conseguimos enxergar
os pontos em que não somos justos, e percebemos que
não somos capazes de manter as resoluções tomadas
no sentido de nos aprimorarmos pelos nossos próprios
esforços. E no decorrer destes séculos todos, Deus tem
deixado seus filhos amados aprenderem esta lição, e
aprendê-la através de sucessivos fracassos. E cada um
de nós tem que aprender por si.
2. Precisamos enxergar Jesus como nosso Santifi-
cador. Se num dado momento clamamos: “Desventu-
rado homem que sou! quem me livrará do corpo desta
morte?” , no momento seguinte devemos acrescentar:
“Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.”
Temos que enxergá-lo como o grande “Libertador” , e
reconhecer que ele pode atender a todas as nossas
necessidades.
3. Temos que nos render a ele, completamente, em
ludo. Temos que nos entregar a ele integral e incondi­
cionalmente, de forma decisiva, e gravar isso no
coração como se fosse impresso em pedras aqui, e
pinlado no céu. Esse registro deve ser marcado pro­
fundamente nos anais de nossa memória. Devemos ter
sempre em mente quando foi que nos rendemos plena­
mente a Cristo e ele se tornou inteiramente nosso.
4. Temos que crer que ele recebe a consagração
que lhe fazemos; que ele, tanto quanto nós, está
ansioso e desejoso de que isso se realize. Em meio ao
clima reverente do céu, ele se inclina para ouvir os
votos que lhe fazemos, e, assim que terminamos,
declara: “Tudo está feito... eu lhe darei de graça da
fonte da água viva. O vencedor herdará estas coisas.”
(Ap 21.6, 7.)

36
Muitos se enganam com relação a alguns desses
passos. Uns ainda estão-se agarrando à sua justiça
própria, e por isso fracassam. Outros tropeçam no
segundo passo: não vêem em Jesus seu suficiente
Santificador. Outros ainda não conseguem dar o
terceiro passo e render tudo a ele, totalmente. E
muitos e muitos falham, mesmo depois de já terem
dado esses três passos, porque não conseguem crer
que Jesus recebeu a entrega que fizeram.
Resumamos de maneira simples estes quatro pas­
sos: “Eu estou morto, e minha vida está rendida a
Deus e sepultada. Jesus é meu santificador; ele é tudo
para mim. Entrego tudo em suas mãos, para que ele
faça o que achar melhor. Creio que ele recebe esta
entrega pessoal, e será para mim tudo de que eu
preciso nesta vida e na vida futura.”
Estou certo de que, depois de darmos estes quatro
passos, nunca mais seremos os mesmos, pois esta ex­
periência não tem como ser anulada. Tornamo-nos
propriedade do Senhor. A presença dele permeia nos
o coração. Pode ser que a princípio não passe de
pequeno filete de água que nasce no alto da monta­
nha, mas certamente se transformará em grandes rios,
profundos e caudalosos.

Medidas Práticas
Existem certas atitudes práticas que teremos de
observar para vivenciarmos essa vida de santidade no
dia-a-dia.
1. Temos que levar uma vida de total obediência a
Deus, sempre fazendo o que ele ordena, totalmente
sob o controle dele.
2. Temos que ser obedientes à voz dele. Será
preciso que escutemos com atenção, pois Jesus fala em
voz suave.
3. Nos momentos de conflito, tentação ou prova­
ção, temos que nos aproximar de Deus, e entregar a
ele o problema.
Naturalmente achamos que após um ato de consa­

37
gração viveremos numa atmosfera de paz e feli­
cidade, mas a verdade é que o diabo logo se a-
proxima e procura abalar nossa confiança, atirando-
nos provações e tentações. Firmemo-nos em Cristo, e
alegremo-nos pelo fato de ele considerar-nos dignos
de sermos submetidos a essas provações. Se fracassar­
mos, não assumamos a atitude de que nâo adianta
tentar mais. Talvez tenhamos tentado fazer tudo por
nós mesmos. Façamos uma parada, depositemos tudo
aos pés de Cristo, e comecemos de novo. Aproveitemos
esse fracasso para aprender a permanecer nele.
O povo de Israel, após a derrota sofrida em Ai,
tornou-se mais forte para o conflito seguinte. Procure­
mos aplicar na prática o segredo aprendido aí. Qual­
quer empreendimento tem seus tropeços no início.
Uma pessoa pode, em pouco tempo, às vezes em pou­
cas horas, aprender os princípios da taquigrafia. Mas
prefcisará de muitos meses de paciente prática para se
tornar um bom estenógrafo.
No momento em que nos consagramos a Jesus
Cristo descobrimos que ele tem que ser tudo para nós.
Mas quando tentamos viver esta verdade, verificamos
que é necessário paciência e bastante tempo para
chegarmos a vivenciá-la em plenitude. Temos que
aprender a nos apoiar nele. E assim, pouco a pouco,
vamos aprendendo a recorrer a ele em cada uma de
nossas necessidades e problemas.
O princípio, uma vez posto em prática, é infalível.
Lembremos que o segredo de tudo isso é: “Sem mim
nada podeis fazer.” (Jo 15.5.) “Tudo posso naquele
que me fortalece.” (F1 4.13.)

38

3

Cristo, Nosso Médico


“Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e car­
regou com as nossas dores." (Mateus 8.17.)
Jesus Cristo ontem e hoje è o mesmo, e o será pa­
ra sempre." (Hebreus 13.8.)

Sempre que aparece uma coisa boa, pouco depois


aparece uma versão falsificada dessa mesma coisa.
Todas as moedas valiosas são sempre imitadas; e o
maior dos falsificadores opera também na questão da
cura divina. E de grande importância, portanto, que,
com relação a esta preciosa verdade, nos cuidemos
para não sermos envolvidos pelo erro.

O que Não é Cura Divina


1. A cura efetuada pelos médicos não é cura
divina. A cura divina não é a que recebemos através
de remédios; nem é ela uma bênção especial de Deus
nas drogas e tratamentos. E uma operação direta da
mão de Deus mesmo. “Ele mesmo tomou as nossas
enfermidades” (Hb 13.8), e pode carregá-las sem a
ajuda do homem.

39
Não temos nada contra o uso dos remédios, no
caso em que as pessoas que os tomam não estejam
preparadas para confiar seu corpo totalmente ao
Senhor. Essas pessoas fazem bem em utilizar todos os
recursos que a ciência ou a natureza lhes possam
oferecer, e de bom grado concordamos em que os
remédios possuem algum valor. O homem possui
realmente certa medida de poder para tentar deter o
mal que varre este mundo sofredor. Mas em todo
esforço humano existe um limite quando temos de
dizer: “ Só podemos ir até aqui; nem um passo mais.”
Contudo, as pessoas não devem abandonar os
recursos humanos precipitadamente, e só fazê-lo de­
pois que tiverem uma solução melhor. Enquanto não
estiverem preparadas para confiar inteiramente em
Cristo, para obter um bem mais elevado e mais forte
do que sua vida natural, é melhor que continuem com
seus remédios. E preciso que estejam convencidas de
que a Palavra de Deus fala tão claramente sobre a cu­
ra das enfermidades, quanto o faz sobre o perdão dos
pecados.
2. A cura divina não é metafísica. Não se trata de
um sistema de racionalismo, como o que está toman­
do as formas mais variadas no mundo de hoje — a
exemplo do camaleão, que assume a cor da folhagem
onde se encontra — de acordo com a classe social a
que é apresentado.
Essa prática que hoje é conhecida como cura
mental, ou Ciência Cristã, é uma das mais difundidas
formas de cura metafísica. Ela coloca o conhecimento
ou intelecto do homem no lugar de Deus. Não é uma
cura através de remédios, mas de energia mental.
Trata-se de um sistema cuja filosofia é falsa, absurda
e enganosa, e cuja teologia é cética.
A base dessa crença é a idéia de que o mundo
material não é real. Tudo que aí está e que parecem
fatos, na verdade são simplesmente idéias. E assim,
dizem os divulgadores desta doutrina falsa, o corpo
não existe. Portanto, para aquele que abraça essa
filosofia, não existe doença, já que ela não tem em que

40
atuar. Logo, quando a idéia de doença sai de nossa
mente, termina o problema. Aí está um resumo dos
princípios dessa teoria. Ela já conquistou centenas de
milhares de pessoas, bem como já angariou muito
dinheiro.
Mas ela não passa da velha filosofia de Hume que
foi revivida. Esses mestres encaram a Bíblia pela
mesma perspectiva com que vêem o corpo: um belo
sistema de idéias, mas apenas idéias. O Gênesis é uma
linda história da criação do mundo, mas apenas uma
alegoria. O Novo Testamento também contém uma
bela descrição de Jesus Cristo, mas ela também não
possui fundamento em fatos. Mas é o mesmo velho erro
contra o qual o apóstolo João escreveu: “E todo
espírito que não confessa a Jesus não procede de
Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a
respeito do qual tendes ouvido que vem, e presente­
mente já está no mundo.” (1 Jo 4.3.)
Esta filosofia nega que Jesus Cristo tenha vindo
em carne. Nega que o corpo de Cristo existe; portanto,
seu ensino é anticristão. Isso não é cura divina. As
duas coisas não possuem a menor afinidade. Essa
filosofia não passa de uma das mentiras da ciência, e
só serviría para minar o cristianismo.
Alguns de nós acham essa filosofia tão absurda
que não se empenham, tanto quanto deviam, em
proteger as pessoas dos males dela. Acham que, por
ser uma tese tão idiota, não representa perigo algum.
Mas nos esquecemos de como os homens podem ser
tolos. O apóstolo diz que os sábios deste mundo são
tolos para Deus. “Ele apanha os sábios na sua própria
astúcia.” (Jó 5.13.) Como esta verdade tem sido
realidade na Nova Inglaterra! Uma região com tantas
universidades, o centro da inteligência e da cultura
americanas, serviu de berço para esta monstruosida­
de. E a mais fatal forma de heresia. Ela liquida
totalmente a propiciação de Cristo, pois onde não há
pecado não pode haver redenção. Eu preferiría ficar
doente pelo resto da vida, com toda a sorte dc

41
enfermidades, do que ser curado por uma mentira
dessas.
3. A cura pelo magnetismo também não é cura
divina. A cura divina não é uma misteriosa corrente
que flui para o corpo de um indivíduo, proveniente de
outro. Existem sérias dúvidas quanto à veracidade de
uma força como a que se denomina magnetismo
animal na natureza. Acredita-se que isso parece ser
mais uma influência à qual a mente de uma pessoa
pode se submeter devido a razões próprias. Mas se é
ou não, o fato é que a idéia ou a alegação de tal
influência é rejeitada por todos que são verdadeiros
ministros da cura divina. O sincero desejo deles não é
exibir sua própria pessoa diante do doente, mas
levá-lo a fixar os olhos apenas em Cristo, e assim
receber a cura das mãos do Senhor.
Por isso, quando oramos pela cura de alguém, o
que mais devemos temer é a possibilidade de nos
tornarmos o centro das atenções, pois só um contato
pessoal do doente com o Cristo vivo é que efetuará a
cura.
4. Espiritualismo não é cura divina. Não se pode
negar que Satanás tem um certo poder sobre o corpo
humano. E claro que deve ter, já que pode possuí-lo
através da enfermidade. E, se ele tem poder para
introduzir uma enfermidade no corpo, não vejo por
que não poderia, se quisesse, sair pela porta dos
fundos e deixar o corpo curado. Se, nos dias de Cristo,
Satanás teve poder para manter uma mulher amarra­
da durante dezoito anos, ele tinha poder para desa-
marrá-la com a mesma presteza. Se naquela época ele
provocava doenças, hoje deve provocar também. E se
houver casos em que lhe seja mais conveniente que
determinada pessoa fique forte e sadia, é claro que ele
irá fazê-lo. Mas haverá ocasiões em que ela lhe será
mais útil se estiver fraca e doente.
E impossível não perceber com que persistência o
homem, em todas as eras, tem recorrido ao auxílio do
maligno, com o objetivo de aplacar os maus espíritos
ou obter ajuda dele. E uma prática tão antiga quanto

42
as raças mais primitivas. Encontramo-la entre os
índios nas florestas bem como entre os africanos.
Esses feitiços têm sido utilizados principalmente para
a cura das enfermidades, e afírma-se que, em muitos
casos, resultam em cura.
Não há dúvida de que ocorrem realmente muitos
fenômenos espiritualistas. Eles constituem evidência
clara de que os espíritos malignos são reais. Mostram
também o cumprimento do terrível aviso de Deus de
que nos últimos dias os espíritos de demônios esta­
riam operando milagres na terra, para que, se fosse
possível, viessem a enganar os próprios escolhidos.
Mas o verdadeiro filho de Deus não se deixará
enganar por eles.
Se você está-se deixando enganar por estas coisas,
cuidado! Talvez você não seja um verdadeiro filho de
Deus. Se você supervalorizc seu bem-estar, cuidado
para não cair nessa armadilha. Pode ser até que
encontre nela alguma coisa de realidade, mas trata-se
de um poder perigoso, que certamente submergirá sua
fé em suas terríveis ondas.
5. A cura pela oração também não é cura divina.
Muitos de nós ficam ansiosos que outros orem por
eles. Pensam que, se houver um certo volume de
orações a seu favor, receberão influência benéfica
proporcional a esse volume; assim, concluem que, se
todos os crentes do mundo orassem por eles, poderíam
ficar curados.
Existe uma idéia geral de que a oração possui um
grande poder que, se for concentrado, terá os efeitos
desejados. E se conseguirmos uma quantidade sufici­
ente dele, poderemos remover montanhas, e talvez até
dobrar a obstinada vontade de Deus. Em resumo, é
isso que a idéia divulga. Mas a oração não possui
nenhum poder, a não ser que seja a oração do próprio
Deus. Se não estivermos em contato com Cristo, nosso
verdadeiro Médico, não haverá cura. A cura efetuada
por Cristo opera-se através de seu toque pessoal. Não
é a oração que cura, mas Cristo, o Médico.
6. Cura pela fé também não é cura divina. Essa

43
expressão sugere uma idéia errada. Ela traz o perigo
de a pessoa concentrar-se tanto em sua fé que esta
venha a se interpor entre ela e Deus. Esperar que a fé
nos cure é o mesmo que querer beber uma torneira
que giramos para obter água, ou comer a travessa na
qual nosso alimento é servido.
Quem se concentra totalmente em sua fé acabará
por perdê-la. E sempre Deus quem nos cura. Quanto
menos nos preocuparmos com a fé, a oração, ou com
qualquer um dos outros meios pelos quais recebemos
a bênção, mais fácil será recebê-la.
7. Força de vontade não é cura divina. Ninguém
pode agarrar sua própria incapacidade e transformá-
la em força. Nenhum corpo pode mover-se por si
mesmo — isso é um princípio de mecânica. E preciso
que uma força, de fora dele, o mova.
Arquimedes disse que, se pudesse conseguir uma
força fora do mundo, poderia rachá-lo; pois, de
dentro do próprio mundo, nunca o conseguiría. O
homem decaído, nem toda a sua força interior será
suficiente para erguê-lo. Muitas vezes, o problema
todo está situado em sua vontade. Ele tenta agarrar a
si mesmo e se levantar. Mas o fato é que, a menos que
haja a interferência de uma força externa, ele continu­
ará caído.
Temos que render nossa vontade a Cristo, e depois
ele operará em nós o querer e o realizar, segundo sua
boa-vontade. Só aí é que descobriremos como é fácil,
como é maravilhosamente simples receber dele a força
de que necessitamos. Basta tocar a mão de Deus e
receber a força de sua vida.
8. A cura divina também não é fazer um desafio à
vontade de Deus. Não implica em dizer: “Vou re­
ceber essa bênção, quer Deus queira ou não.” Mas é
entender que, acatando essa vontade, temos o melhor
para nós, o propósito de Deus para nossa vida. Não
iremos crer na cura física, enquanto não tivermos
ciência de que esta é a vontade de Deus para nós. Aí
então poderemos dizer: “Quero a cura porque ele a
quer.”

44
9. A cura divina também não é imortalidade física.
É uma vida de plenitude até que se encerre nossa
missão no mundo, e depois o recebimento da vida
ressurreta de Cristo quando da sua volta.
10. A cura divina não é uma mercenária profissão
de curar, que alguns homens assumem, como assumi­
ríam um comércio ou profissão, a fim de ganhar a
vida. Quem for tentado a associar à prática da cura a
idéia de lucro, mesmo que apenas por uma fração de
momento, deve rejeitá-la. Todos os dons de Deus são
gratuitos como o sangue do Calvário.

O que é a Cura Divina


1. A cura divina é a infusão do poder sobrenatural
de Deus em um corpo humano, para renovar suas
energias e substituir a fraqueza e o sofrimento pela
vida e poder de Deus. E um toque da onipotência
divina, e nada menos que isso. É o mesmo poder que
ressuscitou de entre os mortos a filha de Jairo, e o
mesmo que operou a nossa conversão.
Parece estranho que Deus manifeste este poder? E
preciso mais poder para regenerar uma alma do que
para ressuscitar um morto. Deus pode sacudir um
túmulo e trazer para fora os corpos daqueles que ali
estiveram vários anos, com o menor investimento de
poder do que emprega para redimir uma pessoa e
mantê-la firme na fé até o fim.
2. A cura divina está fundamentada apenas na
Palavra de Deus, e não nos raciocínios do homem nem
no testemunho dos que já foram curados. Se essa
doutrina não se encontrasse nas Escrituras, nem o
testemunho de todas as pessoas que já foram curadas
no mundo todo serviríam como prova de sua realida­
de. De nada valem as deduções conjuntas de todas as
mentes humanas, se não estiverem cimentadas na
Palavra. Esta verdade fundamenta-se na eterna Pala­
vra de Deus.
3. A cura divina sempre reconhece a supremacia
da vontade de Deus e se inclina diante dela em total

45
submissão. Aquele que estiver buscando a cura divina
deve esperar até que tenha conhecimento da vontade
de Deus a respeito do assunto. Mas depois que a
conhecer, deve reivindicá-la sem vacilações.
Se uma pessoa doente estiver convicta de que a
obra que o Senhor lhe deu para realizar na terra está
terminada, e que está sendo chamado de volta ao seu
lar celestial, então deve aceitar essa vontade, e repou­
sar nos seus benditos braços. Se você já tem essa
convicção, se já obteve de Deus essa certeza, eu não
me atreveria a tentar convencê-lo do contrário. Limi-
tar-me-ia a afofar-lhe o leito e deixá-lo partir em paz.
Contudo, se alguém acha que sua obra ainda não
está encerrada, se não recebeu uma orientação clara
de Deus nesse sentido e possui um verdadeiro desejo
de submeter-se a Deus e viver para concluir sua car­
reira com alegria, deve lembrar-se de que Aquele que
há quase dois mil anos disse: “Por que motivo não se
devia livrar deste cativeiro esta filha?” hoje ainda é o
mesmo. Portanto, pode também estar dizendo a seu
respeito: “Por que motivo não devia scr ele curado?”
Certamente isso deve bastar para nós.
Pode ser, porém, que uma pessoa sofra determina­
da enfermidade para ser disciplinada. E possível que
ela esteja retendo parte do testemunho que Deus lhe
confiou, ou do serviço para o qual Cristo a chamou.
Nesse caso, essa pessoa não será curada, enquanto não
acertar essa questão. Talvez ela esteja com uma
atitude errada ou menos digna. E provável que Deus
não a cure, enquanto não ajustar isso. Ou pode ser
que Deus a tenha chamado para realizar certa obra,
mas ela esteja-se negando. Essa pessoa não receberá a
cura para o corpo, enquanto não se render a Deus
nesse ponto.
Existem centenas de motivos para as enfermidades
que Deus permite sobrevenham a seus queridos filhos,
mas ele mostrará a cada um o motivo por que as
permitiu.
“Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim
de dois modos, mas o homem não atenta para

46
isso. Em sonho ou em visão de noite, quando cai
sono profundo sobre os homens, quando ador­
mecem na cama, então lhes abre os ouvidos, e
lhes sela a sua instrução, para apartar o homem
do seu desígnio e livrá-lo da soberba; para
guardar a sua alma da cova, e a sua vida de
passar pela espada. Também no seu leito é
castigado com dores, com incessante contenda
nos seus ossos; de modo que a sua vida abomina
o pão, e a sua alma a comida apetecível. A sua
carne, que se via, agora desaparece, e os seus
ossos, que não se viam, agora se descobrem. A
sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida aos
portadores da morte. Se com ele houver um anjo
intercessor, um dos milhares, para declarar ao
homem o que lhe convém, então Deus terá
misericórdia dele, e dirá ao anjo: Redime-o,
para que não desça à cova; achei resgate. Sua
carne se robustecerá com o vigor da sua infân­
cia, e ele tornará aos dias da sua juventude.”
(Jó 33.14-25.)
Esse texto explica muitos dos atos de disciplina de
Deus. Tocando em nosso corpo, ele consegue falar-nos
muitas coisas, e só depois que absorvermos todo o
sentido “desses toques” é que nosso corpo poderá
receber e manter a cura. Contudo, isso não é uma lei
férrea,/ que opera inexoravelmente, sempre do mesmo
jeito. E necessário que tenhamos uma íntima comu­
nhão com Deus. Quando estamos vivendo em harmo­
nia com Deus e obediência a ele, a vida dele pode fluir
para o nosso corpo.
3. A cura divina é um aspecto da obra redentora
de Jesus Cristo. E uma das realizações dele. Sua pedra
fundamental é a cruz de Cristo. Ele “da cova redime a
lua vida” . (SI 103.4.) E não há dúvida de que essa cura
só provém do próprio Jesus. “Pelas suas pisaduras fo­
mos sarados.” (SI 53.5.) Isso é a obra redentora de
Cristo. Nós todos temos direito a ela, pois Cristo levou,
cm seu corpo, todas as nossas mazelas. Receba essa

47
obra, meu irmão, e ame-o mais ainda, pois ela nos é
garantida por suas pisaduras.
Gosto de pensar nessa palavra no singular, pisa-
dura. É esse sentido original do texto grego. O corpo
dele foi tão machucado, que virou uma só pisadura.
Ele sofreu para redimir cada fibra de nosso corpo.
4. A cura divina nos é garantida pela vida de Jesus
Cristo, que corporalmente ressuscitou dentre os mor­
tos. Ele subiu aos céus com seu corpo vivo. Ele pode
ser visto lá hoje, com suas mãos e pés de carne, e com
ossos, que podemos tocar. Ele pode sentar-se à mesa
conosco e comer, como o fez no passado. (Lc 24.39.)
Ele não é uma figura nebulosa, misteriosa, mas
possui carne e ossos como nós. Assim é o nosso Cristo,
um Cristo com vida tisica, que pode e deseja transmi­
tir-nos essa vida, instilando sua energia em nós.
Somos curados pela presença da vida de Cristo em
nosso corpo. E uma suave união com ele, uma união
mais achegada que a dos laços do casamento. E tão
íntima, que a vida que corre nas veias dele pode ser
transferida para as nossas. Isso é cura divina.
5. A cura divina é uma operação do Espírito
Santo, que vivifica o corpo. Quando Cristo estava na
terra, ele curava os enfermos pelo Espírito de Deus e
não pela Divindade que havia em seu corpo humano.
Disse ele: “ Se, porém, eu expulso os demônios, pelo
Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de
Deus sobre vós.” (Mt 12.28.) Ele curava pelo Espírito
de Deus. “O Espírito de Deus está sobre mim, pelo
que me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me
para proclamar libertação aos cativos.” (Lc 4.18.)
Portanto, o Espírito Santo é o agente pelo qual esse
grande poder é aplicado a nós.
Deveriamos estar na expectativa de vê-lo operar
principalmente em nossos dias, pois são os dias de sua
dispensação, a respeito dos quais há a profecia de ma­
nifestação de sinais e maravilhas. Como foi que
Sansão recebeu força? O Espírito de Deus veio sobre
ele. Aí ele pôde arrasar o templo do deus Dagom, e o
ídolo juntamente com ele. O Espírito de Deus estava

48
em seu corpo. Portanto, quando esse poder eletrizante
circula por nossa estrutura, comunica saúde e energia
a cada fibra dela.
6. A cura divina nos é comunicada pela graça de
Deus, e não por qualquer esforço humano. Ela não
pode ser comprada. Nem podemos adquiri-la em
troca de alguma coisa que fazemos por Deus. Não a
obtemos, tampouco, dando uma ajudazinha a Deus.
Temos que recebê-la como uma dádiva. Nós a recebe­
mos da mesma forma como recebemos o perdão:
como um dom gratuito de Deus.
7. Recebemos a cura divina pela fé. Não é a fé que
nos cura, é Deus. Mas a fé nos capacita a recebê-la.
Temos que crer que ele nos está curando, antes
mesmo de termos uma evidência de que isso aconte­
ceu. Temos que crer nela como uma realidade daquele
momento, e depois prosseguir pela fé. Temos que agir
como se ela já fosse uma realidade. Deus quer que nos
apoiemos totalmente nele, e confiemos nele, e depois
nos regozijemos e o louvemos pelo que ele nos deu,
sem qualquer dúvida ou temor.
8. A cura divina está em harmonia com todos os
fatos da história da Igreja. Desde o tempo de Irineu
até este século, existem inúmeros exemplos de cura.
As fileiras são imensas, e grandes multidões de pes­
soas que já foram curadas proclamam a uma voz:
“Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para
sempre.” (Hb 13.8.)
Desde os tempos da Idade Média, a Igreja pura
sempre acreditou nesta mensagem e a divulgou. Ela
era um parágrafo do credo dos valdenses. A época dos
primeiros reformadores está cheia de relatos dela. A
vida de Lutero e Baxter, George Fox e Whitfield e de
João Wesley dá um testemunho claro e firme de que
eles criam nessa verdade.
E nesses últimos tempos temos inúmeros exemplos
dela. Na Alemanha, Suíça, Suécia, Noruega, na Ingla­
terra e suas colônias, e nos campos missionários do
mundo, existem muitos testemunhos do poder de Je­
sus para curar. Em nossa própria terra há muitos.

49
Temos muitos testemunhos disso em nosso meio. Nós
os conhecemos e estamos cientes de alguns casos que
subsistiram ao passar dos anos e à divulgação que
receberam. Não são fatos escondidos. Muitos deles se
deram com pessoas que se encontram na linha de
frente do ministério cristão. São pessoas de diversos
tipos de caráter, inteligência, temperamento e disposi­
ção. E são de diversas idades também; algumas são
crianças, outras pessoas idosas. Outras eram intelec­
tuais que se tornaram simples como uma criança. E
foram curadas de doenças diversas, desde o temido
câncer até mais sérios desajustes emocionais. E Jesus
curou a todas elas.
9. A cura divina é um dos sinais dos tempos. E um
dos arautos da vinda de Cristo. E a resposta de Deus à
apostasia de hoje; é a inexplicável prova de seu poder
refutando o argumento daqueles que tentam explicá-
la. Mas Deus confronta isso racionalmente.

Como Jesus é Nosso Médico


1. Ele comprou a cura para nós, com suas pisadu-
ras. Ela é uma parte da redenção que ele conquistou
no Calvário. ‘‘Certamente ele tomou sobre si as nossas
enfermidades, e as nossas dores levou sobre si.” (Is
53.4.)
2. A cura está presente na vida ressurreta de
Cristo, essa mesma vida que está em nós. Podemos ter
a cura não somente porque a recebemos de Jesus, mas
porque ela está em Jesus, por isso a maneira de
recebê-la e mantê-la é permanecer nele.
3. Ele nos capacita a receber cura ao tornar-se a
nossa capacidade de crer. Ele nos dará a fé para
confiar nele, se a quisermos receber. Não precisamos
fazer grandes esforços para encontrá-lo, pois ele desce
até nós, até nosso estado de incapacidade, e se torna
nossa fé e nossa cura.
Certa vez, um chinês tentou mostrar a diferença
entre Cristo, Confúcio e Buda. Disse ele:
“— Eu estava no fundo de um abismo, meio

50
atolado na lama, e gritava por socorro. Olhando para
cima. vi um venerando ancião, de cabelos brancos,
que me fitava. No seu rosto, viam-se os traços de um
caráter puro e santo.
“— Meu filho, disse ele, este lugar é pavoroso.
“— Eu sei, respondí. Caí aqui. Será que o senhor
não pode ajudar-me a sair?
“— Filho, replicou o velho, sou Confácio. Se você
tivesse lido meus livros e obedecido os ensinamentos
deles, nunca iria parar aí.
“— Sim, pai, disse, mas o senhor não pode
ajudar-me a sair?
“Mas ele simplesmente desapareceu.
“Depois vi outra pessoa aproximando-se, e incli­
nando-se para mim. Este tinha os olhos fechados e os
braços cruzados. E parecia estar com o pensamento
longe dali.
“— Filho, disse ele, feche os olhos, cruze os
braços, e não pense mais em si mesmo. Assuma uma
atitude de perfeito repouso. Não pense em nada que
possa perturbá-lo. Fique bem quieto, de modo que
nada possa movê-lo. Aí, filho, você se encontrará
numa deliciosa condição de repouso, como eu me
encontro.
“— Sim, pai, respondi, farei isso assim que estiver
aí em cima. Será que o senhor não pode ajudar-me a
sair?
“Mas Buda também desapareceu.
“— Eu estava começando a desesperar-me, quan­
do vi outra Figura lá no alto, uma Pessoa diferente das
outras duas. Era muito simples, e tinha aparência
igual à nossa, mas seu rosto trazia as marcas do
sofrimento. Então gritei:
“— Pai, podes socorrer-me?
“— Filho, disse ele, qual é o problema?
“ Mas antes que eu respondesse, já estava embaixo,
na lama, ao meu lado. Passou os braços em torno de
mim, e me ergueu. Depois me deu alimento e descan­
so. Pensei que, quando estivesse bom, ele iria dizer-

51
me: “Olha, não faça mais isso” ; mas não. O que disse
foi:
“— Daqui por diante, vamos caminhar sempre
juntos.
“— E até hoje estamos caminhando juntos.”
E isso que Jesus Cristo faz. Ele desce até nós, e
vem até onde estamos. Ele passa a ser a nossa fé, em
nosso coração, e a partir daí seguimos juntos até que a
luz e a glória da ressurreição e da era futura nasçam
sobre nós.
Que Deus nos ajude a recebê-lo plenamente para
glória do seu nome. Amém!

52
4
Cristo, Nosso Futuro Rei
“Dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã." (Ap 2.28.)

A segunda vinda do Senhor Jesus Cristo é uma


faceta distinta e muito importante do evangelho apos­
tólico. “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho” , diz
Paulo aos coríntios (15.1), e em seguida passa a
falar-lhes da ressurreição e da segunda vinda de Cris­
to. E realmente isso é uma boa notícia para todos os
que o amam e lamentam os pecados e sofrimentos des­
te mundo falido.
A segunda vinda é o glorioso ápice de todas as
outras partes do evangelho. Já falamos do evangelho
da salvação, mas Pedro afirma que nossa salvação
está “preparada para revelar-se no último tempo” (1
Pe 1.5). Só aí, então, quando estivermos cercados pe­
las ruínas do tempo, mas firmes sobre a Rocha eterna,
Jesus, é que nos conscientizamos de quanto devemos a
ele.
A í então. Senhor, saberei realmente,
Só aí, e não antes, o quanto te devo.
Também falamos de santificação, mas João diz o
seguinte: “ Quando ele se manifestar, seremos seme­
lhantes a ele... E a si mesmo se purifica todo o que
nele tem esta esperança, assim como ele é puro.” (1 Jo

53
3.2, 3.) E falamos também de cura divina, mas Paulo
afirma que Deus nos concedeu o penhor da ressurrei­
ção em nosso corpo agora, e a cura divina é apenas um
primeiro botão de uma vida, da qual a ressurreição
será o pleno gozo.
, A realidade e a esperança da vinda do Senhor
estão associadas a todas as verdades e à vida. Ela é a
grande e bendita esperança da Igreja. Deus colocou
essa grande esperança diante de seus filhos, logo no
início da história humana. No momento em que o
homem caiu, e perdeu o Paraíso, Deus levantou,
naquele Éden falido, a majestosa figura do querubim,
profecia e símbolo da futura glória do homem. Os
rostos de leão, touro, homem e águia eram símbolos
de realeza, força, sabedoria e exaltação que o homem
redimido teria por meio de Jesus.
Essas figuras aparecem em todas as dispensações.
Elas retratam o filho de Deus, como ele será depois de
completada a obra da redenção, e segundo a ótica de
Deus. O Senhor tem colocado diante de si mesmo e
do homem este sublime ideal futuro, e não descansará
enquanto ele não se tornar realidade. Portanto, é bom
que além de entendermos o evangelho para o presen­
te, entendamos também o evangelho do futuro, e a
bendita e gloriosa esperança da vinda de Cristo,
vivendo sob o poder dessa verdade.

O que Significa a Vinda de Cristo


1. Quando falamos em vinda de Cristo, não esta­
mos nos referindo ao fato de que ele vem ao coração
de cada indivíduo. De fato, pela sua graça, ele vem ha­
bitar em nós; é esse o bendito mistério a que já nos re­
ferimos quando falamos de nossa santificação. É
“Cristo em vós, a esperança da glória” . (Cl 1.27.) Mas
isso não é a sua segunda vinda.
Algumas pessoas assumem um ar de grande espi­
ritualidade e dizem: “Eu já estou vivendo o milênio no
coração, porque o Senhor está em mim. Aqueles que
não o têm, que fiquem a especular sobre uma vinda

54
física.” Então, com base nesse argumento, temos que
concluir que Paulo também o viveu, pois tinha o
Senhor em seu coração e afirmou ter ido ao terceiro
céu. E que dizer de João que tinha um relacionamento
íntimo com o Redentor, tão chegado a ele quanto
qualquer um de nós pode tê-lo. No entanto, foram eles
que escreveram: “Depois nós, os vivos, os que ficar­
mos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre
nuvens, para o encontro do Senhor nos ares.” (1 Ts 4.
17.) “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar,
então vós também sereis manifestados com ele em gló­
ria.” (Cl 3.4.) “Eis que vem com as nuvens, e todo olho
o verá.” (Ap 1.7.)
E realmente, quanto mais conhecermos a Jesus
espiritualmente, mais desejaremos sua presença pes­
soal, eterna, em toda a plenitude, e mais glorioso é o
sentimento que sua vinda nos dá.
2. Ao falar em vinda de Cristo, não nos referi­
mos também à sua vinda para nós, por ocasião de nos­
sa morte. Na verdade, não temos certeza de que ele
vem para nós, quando de nossa morte. Cristo fala
que Lázaro foi levado ao seio de Abraão carregado por
anjos. E Estêvão, no momento de sua gloriosa morte,
viu Jesus no céu, à direita de Deus, levantando-se, é
verdade, mas para receber e homenagear seu servo
fiel, e não para vir buscá-lo pessoalmente.
A Bíblia faz uma distinção bem clara entre a
morte e a vinda do Senhor. Ela não nos diz para
ficarmos vigilantes em relação à morte, mas, pelo
contrário, fomos libertos do medo dela. Temos que
estar vigilantes em relação à vinda do Senhor. A
morte é um inimigo. A vinda dele será uma agradável
visita de um amigo muito querido. A morte é uma
triste aflição para nosso coração. A vinda do Senhor é
a própria consolação do aflito, é o antídoto da morte.
Se a morte e a vinda de Cristo fossem a mesma
coisa, Paulo teria escrito o seguinte para os crentes de
Tessalônica: “ Não queremos, porém, irmãos, que
sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para
não vos entristecerdes como os demais, que não têm

55
esperanças, pois o Senhor já veio para eles, e, muito
breve virá para vós também, pela morte, e vós estareis
unidos novamente pela morte.” Ele diz isso? Não. Ele
diz o seguinte: “O Senhor mesmo... descerá dos céus,
e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois
nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro
do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre
com o Senhor.” (1 Ts 4.16,17.)
Então, ele não está-lhes mostrando a morte, mas
algo que irá vencer a morte, e de que ele diz o
seguinte, ao escrever aos coríntios: “então se cumpri­
rá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela
vitória.” (1 Co 15.54.) Se a segunda vinda de Cristo de­
ve tragar a morte na vitória, então não há dúvida de
que as duas não são a mesma coisa, pois ela teria que
tragar-se a si mesma.
3. Também não nos referimos a uma vinda de
Jesus apenas no sentido espiritual, com a expansão
do cristianismo, pela divulgação do evangelho, quan­
do falamos da segunda vinda de Cristo. Não há
nenhum texto bíblico que reconheça isso como sendo
a vinda de Cristo em pessoa.
“Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá,
até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra
se lamentarão sobre ele.” (Ap 1.7.) Ora, não é dessa
maneira que as pessoas reagem, quando recebem o
evangelho. Elas se regozijam. Mas no fato narrado
aqui, elas se mostram espantadas e desfalecidas. E,
como diz outro texto, elas clamarão às rochas e
montes que caiam sobre elas, para escondê-las da ira
do Cordeiro.
E também os anjos, quando falaram deste evento
para os onze discípulos, disseram o seguinte: “Esse
Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do
modo como o vistes subir.” (At 1.11.) Isso não pode
estar-se referindo à divulgação do evangelho, mas à
sua volta em pessoa, gloriosa e visível. E verdade que o
evangelho será largamente pregado; sua verdade pre­
valecerá; a causa de Cristo triunfará. Mas é fato tam­

56
bém que ele virá em pessoa, e ele é infinitamente supe­
rior à sua verdade e à sua causa.
O que Significa o Milênio
Algumas pessoas afirmam que a doutrina do
milênio é uma invenção dos dias atuais, e que essa
palavra não é encontrada na Bíblia.
O termo milênio significa mil anos, que aparece
diversas vezes em Apocalipse 20, para identificar o
período que Cristo reinará sobre a terra, juntamente
com seus santos, após a primeira ressurreição. Será
um período de vitórias, alegria e glória. A Bíblia
registra sete fatos especiais em conexão com ele.
1. A ressurreição e reunião dos que nasceram de
novo.
2. O galardão e reinado dos salvos.
3. A total exclusão de Satanás da terra.
4. A presença pessoal e contínua de Jesus, com os
remidos, na terra.
5. A eliminação de todos os inimigos, e o reinado
universal da justiça.
6. A duração de mil anos.
7. A revolta de Satanás e dos ímpios, que se
seguirá imediatamente, e o julgamento deles.
Se não houvesse na Bíblia nenhuma outra referên­
cia a esse período de bênção, esses elementos basta­
riam para que ele constituísse uma época e estado
de grande glória e felicidade. Mas eles são ainda mais
suficientes para identificar essa ocasião como sendo a
era áurea da qual falaram e escreveram os profetas,
durante a qual a justiça, a verdade e a paz cobrirão a
terra “como as águas cobrem o mar” . (Is 11.9.)

A Sequência Desses Dois Eventos


O ponto seguinte a ser debatido é a ordem em que
esses dois eventos se dão, a vinda de Cristo e o milênio,
e cm torno desse ponto giram quase todos os aspectos
da questão. A vinda de Cristo deverá preceder o
milênio, ou vir depois dele?

57
1. A razão mais óbvia para se crer que a vinda de
Cristo precederá o milênio encontra-se na própria
passagem onde os dois eventos são descritos. Não há
dúvida de que ali a vinda do Senhor ocorre antes do
milênio, e constitui o início dele. Todo o processo da
vinda dele é descrito detalhadamente. Em seguida,
vem a derrota e punição de seus inimigos terrenos, o
aprisionamento de Satanás, a ressurreição dos santos,
o reinado dos salvos ressurretos, e os mil anos.
A única maneira de se anular isso é interpretá-lo
como sendo figurativo e espiritual. E a melhor respos­
ta dada a essa tese é a de Dean Alford, que o faz com
sinceridade e bom-senso: “ Se assim é,” diz ele, “então
adeus às interpretações definidas e certas da Bíblia.
Se ela não está falando aí de uma volta, uma ressurrei­
ção e um milênio reais, então não sabemos o que ela
quer dizer.”
2. Outro argumento favorável à volta de Cristo
antes do milênio é o emprego enfático do termo vigiai
nos textos referentes a ela. Somos muitas vezes adver­
tidos a vigiar. Se ela fosse precedida pelo milênio, o
Senhor nos diria para estarmos atentos ao milênio.
Portanto, como a Igreja primitiva podia estar atenta à
vinda dele, se esta seria precedida por um milênio? E
como é que nós mesmos poderiamos vigiar, sabendo
disso? A própria palavra vigiai sugere a iminência de
um evento, e se haverá um espaço de dez séculos antes
da vinda de Cristo, então ela não é iminente.
E se alguém objetar que, na verdade, já se passa­
ram mais de dez séculos e a vinda de Cristo ainda não
ocorreu, isso não altera o fato de que ela é iminente.
Pode acontecer de um evento estar na iminência de
acontecer, durante vários anos, e ser retardado. Isso é
bem diferente de dizer-se que ele só ocorrerá num
futuro distante. Embora Deus já saiba o momento
exato em que seu Filho irá manifestar-se, ele quer
que a Igreja esteja sempre na expectativa disso —
ao entardecer, ou à meia-noite, ao cantar do galo, ou
pela manhã.
Se ele avisasse a existência de um milênio antes

58
disso, este objetivo divino teria sido grandemente
prejudicado, e a Igreja teria se esforçado para criar
seu próprio milênio, sem ele. Foi isso que fez a Igreja
Católica, quando o Papa Hildebrando anunciou, no
século X, que o milênio já tinha iniciado e que Jesus
Cristo estava presente na terra na pessoa de seu
vigário. E alguns mestres protestantes têm a presun­
ção de dizer que este século de progresso é a primeira
era do milênio.
3. Outra prova de que a vinda de Cristo precede o
milênio é a descrição que Cristo nos dá da situação
geral do mundo até o final da era cristã, até o
momento de sua vinda. Examinemos alguns dos deta­
lhes mais salientes desse quadro.
• Algumas sementes caíram à beira do caminho e
as aves do céu a devoraram; outras caíram em lugares
pedregosos e morreram; outras foram sufocadas por
espinhos, e outras ainda caíram em boa terra e deram
fruto. O inimigo semeia o joio, e tanto a boa semente
como o joio crescem juntos até a colheita.
• Exteriormente, a Igreja cresce e se transforma
num forte pé de mostarda, mas interiormente ela está
cheia de fermento.
• Os puros e verdadeiros são como o tesouro
escondido e como a pérola, muito difíceis de ser
encontrados.
• A rede apanha todo tipo de peixe, e, no fim de
tudo, os anjos é que separam os ímpios dos justos.
A medida que os tempos passam, vai surgindo o
quadro, não de um milênio, mas de uma “grande
apostasia” . “E, por se multiplicar a iniquidade, o
amor se esfriará de quase todos.” “Nos últimos
tempos alguns apostatarão da fé, por obedecerem a
espíritos enganadores e a ensinos de demônios.” “Nos
últimos dias sobrevirão tempos difíceis.” Haverá um
grande número de membros de igreja, “tendo forma
de piedade” ; mas estes serão os verdadeiros inimigos
da Igreja, “negando-lhe, entretanto, o poder” (Mt 24.
12; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1,5.)
Não será um mundo santo e feliz que estará

59
esperando para receber seu Rei, mas “virá como um
laço sobre todos os que habitam na face de toda a
terra”. “Quando andarem dizendo: Paz e segurança,
eis que lhes sobrevirá repentina destruição.” (1 Ts 5.3.)
E quando isto lhes sobrevier, os encontrará “como foi
nos dias de Noé” e de Ló e o Senhor indaga: “Quando
vier o Filho do homem, achará porventura fé na ter­
ra?” (Lc 18.8.)
Este é o quadro que Deus traça do futuro da terra
até a vinda de Cristo. Não parece muito que teremos
um milênio antes da vinda de Cristo.
Não; nem a história desses dezoito séculos parece
encaminhar-se para um milênio espiritual. Se isso que
estamos vivendo é o melhor que Deus pode nos dar,
então as profecias são um exagero, e a Bíblia, um
sonho poético. Mas graças a Deus, ele virá, e o seu
Reino superará as nossas mais ousadas esperanças e
até o mais glorioso quadro por ele traçado.
Objeções
As maiores objeções feitas a essa doutrina da se­
gunda vinda de Cristo são as seguintes:
1. Ela desvaloriza a obra do Espírito Santo, como
se ele fosse incompetente para realizar seu trabalho de
administrador, e fosse apresentado com a pecha de ter
fracassado em sua grande missão de converter o
mundo, de modo que houvera necessidade de utiliza-
rem-se outros meios. Em resposta a isso diremos que o
Espírito Santo não recebeu a incumbência de conver­
ter o mundo, mas de chamar a Igreja de Cristo para
desassociar-se dele, e de preparar um povo para levar
o nome de Cristo.
Depois que isto acontecer, e depois que todos os
que tiverem aceitado a Jesus como seu Salvador
tiverem sido chamados, convertidos e totalmente pre­
parados, terá chegado o momento de iniciar-se o
estágio seguinte. Jesus virá para reinar e para restau­
rar seu antigo povo, a fim de que gozem de seus
privilégios e oportunidades. Isso não significa que a
obra do Espírito Santo estará encerrada aí, pois ele

60
habitará conosco para sempre, e nas eras futuras
haverá um campo ilimitado e mais glorioso para a
atuação de sua graça e poder.
2. Outra objeção é a de que essa doutrina desesti­
mula a obra de missões, e vai minar os fundamentos
das mais gloriosas esperanças e perspectivas da Igreja.
Pelo contrário, essa doutrina abre uma perspectiva de
glória muito mais grandiosa para a Igreja, com a volta
do Senhor, e a estimula a avançar, envolvida pelo
desejo de apressá-la, de preparar o mundo para a
vinda dele. E ele próprio disse à Igreja, como incentivo
à obra missionária, que, quando a mensagem de
salvação tiver sido pregada ao mundo todo, aí então
virá o fim.
O fato é que muitos missionários que hoje se
encontram em terras estrangeiras, crêem na bendita
esperança da vinda do Senhor e se regozijam com ela,
e por causa dela se sentem mais animados a trabalhar
pela evangelização do mundo. Eles se animam com a
lembrança de que sua tarefa não é converter toda a
raça humana, mas evangelizar as nações, para que
todo homem tenha uma oportunidade de ser salvo, se
assim o quiser. Eles na verdade ficariam desanimados
e desalentados com as perspectivas futuras, se achas­
sem que o mundo teria que esperar pela vinda de
Cristo até que as igrejas do presente obtivessem a
salvação de todos, ao mesmo tempo em que viam a
maior parte da população da terra, três vezes por
século, passando para a eternidade sem salvação.
A vinda de Cristo não irá provocar uma suspensão
do trabalho missionário. Pelo contrário, ela vai trazer
o mais completo e glorioso sistema de evangelização
que a terra já conheceu. E sob a maravilhosa influên­
cia dela, os incrédulos serão conduzidos a Jesus, todas
as nações serão benditas nele, e todos os povos o
chamarão bendito. E os mais ardorosos admiradores
da humanidade são os que mais devem desejar essa
vinda, que é a melhor esperança para o mundo.
3. Outra objeção é a de que esta doutrina leva ao
fanatismo. Qualquer coisa pode ser exagerada, mas

61
na fé sóbria e escriturística dessa doutrina não há
nada que fomente a presunção, imprudência ou insen­
satez. Vamos todos evitar cuidadosamente todas as
tentativas de se profetizar, ou de saber mais do que o
que está escrito. Mas não nos deixemos intimidar
pelos urros que o diabo dá, por causa da plenitude da
verdade e do testemunho de Deus.
Essa verdade fará de nós um povo peculiar. Ela
anulará os encantos do mundo para nós, e nos
afastará dele. Ela nos tornará diferentes de muitos
crentes egoístas e acomodados, e alimentará o ardor
de nossa alma para servir a Deus, e salvar os homens.
Se isso é fanatismo, então que venha esse fanatismo.
4. Uma outra objeção feita à doutrina pré-milenis-
ta é a de que ela é materialista e grosseira, e tende a
promover esperanças terrenas, carnais, no coração do
crente e na Igreja como um todo, como as idéias e
ambições terrenas dos primitivos discípulos, as quais
o Mestre repreendeu, ensinando-lhes, em seguida, a
buscar um reino e um lar celestiais. Isto era o extremo
naquele tempo; o oposto não o pode ser hoje? Não
precisamos primeiro do espiritual, e depois do mate­
rial? “Primeiro é a vida de Jesus para nossa alma, e
depois, a ressurreição do corpo” , argumentam os que
discordam do pré-milenismo.
O que ensinamos sobre o período do milênio não é
extravagante, nem materialista. Nesse período, tere­
mos um corpo espiritual, como o de Cristo. E se o
Senhor decidiu ir com esse tipo de corpo para o
mundo celestial, e fazer dele o centro e a coroa da
criação, seria tolice de nossa parte querer ser mais
espirituais do que ele. Não; tudo isso é espiritual, e o
verdadeiro objetivo e alvo da redenção é que “o vosso
espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e
irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cris­
to” (1 Ts 5.23), e também “da sua glória se encha toda
a terra" (SI 72.19).
Os Sinais da Vinda de Cristo
Embora o dia e a hora da volta de Cristo sejam
mantidos em segredo, na verdade nós os filhos dele

62
não estamos como que tateando no escuro, pois que
ele nos precaviu, “para que esse dia como ladrão vos
apanhe de surpresa” . (1 Ts 5.4.) E com a aproximação
dos tempos do fim, “os perversos procederão perversa­
mente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios
entenderão” . (Dn 12.10.)
Há uma revelação clara sobre a ordem dos even­
tos. Primeiro, ele virá para os seus, que o aguardam. E
estes, juntamente com os que morreram em Cristo,
serão arrebatados para se encontrarem com ele nos
ares. O mundo ímpio será deixado. Aqui ficarão uma
Igreja formal e uma multidão de nações que continua­
rão a viver, que quase nem darão falta do pequeno
rebanho que foi levado. Depois disso, terá início uma
série de castigos e advertências, que culminarão com a
descida de Cristo, em poder e glória, e com a revelação
de seu justo juízo contra seus inimigos declarados, e o
começo de seu reinado na terra, em pessoa.
Haverá, portanto, duas voltas de Jesus, uma para
os seus, a outra, mais tarde, para o mundo todo. Na
primeira, ele vem como o Noivo, na segunda, como
Juiz e Rei. Portanto, os sinais de uma das vindas não
se aplicam à outra. A primeira manifestação não é
claramente definida, como a segunda. E mais iminen­
te e indefinida, e pode ocorrer a qualquer momento.
Muitos dos mais importantes sinais da vinda do
Senhor já se cumpriram. Vejamos alguns exemplos.
1. As mudanças políticas e acontecimentos das
grandes visões de Daniel, ao que parece, já ocorreram
todas. Os grandes impérios já existiram e acabaram, e
os reinos menores que deveriam seguir-se a eles hoje
estão ocupando as regiões que antes eram dominadas
por eles.
2. Os sinais relacionados com os judeus também
têm sido notáveis. Jacó está voltando seu rosto de novo
para Betei, e Jerusalém está-se enfeitando com seus
belíssimos vestidos. Os filhos dela estão-se reunindo
aos poucos, enquanto as nações, invejosas, estão
apressando o êxodo, e, sem o saber, dando cumpri­
mento à voz profética.

63
3. Os sinais intelectuais não são menos claros. O
conhecimento realmente se expandiu, e muitos estão
correndo daqui para ali, enquanto a filosofia humana
fala de evolução das espécies, e declara que todas as
coisas vão continuar como sempre foram, e que a
natureza é imutável, e apenas material.
4. Os sinais morais estão ainda mais nítidos do que
o quadro pintado por Daniel. A “apostasia” que ele
previu já começou há muito tempo. “Os perversos
procederão perversamente.” (Dn 12.10.) Isso nunca
foi tão verdadeiro quanto nos dias de hoje. A cada dia,
novas formas de impiedade abalam a moralidade, e a
criatividade tem sido produtiva no plano da perversão
nas mesmas proporções que no do material.
5. Os sinais no campo religioso estão-se tornando
cada vez mais nítidos. Mornidão e mundanismo na
Igreja, intensa busca de santidade por parte de uns
poucos, e um poderoso movimento missionário são as
características dessa era, e sinais proféticos que apon­
tam para o dia do Filho do homem.
6. Por último, existe também uma crescente expec­
tativa para com a vinda dele, em todo o mundo, da
parte de todos aqueles que aguardam a sua vinda. E
ela é tão profunda hoje, quanto o foi por ocasião de
seu primeiro advento em Belém, tanto no mundo
gentio como na Judéia. A estrela da manhã está no
Oriente. “Os filhos do dia” já a avistaram. E já se
ouviu o grito: “Vai alta a noite e vem chegando o dia.”
(Rm 13.12.) Em breve, o sol iluminará todo o céu e co­
brirá a terra com sua glória milenar.

As Bênçãos da Vinda de Cristo


1. A vinda de Cristo nos trará o próprio Jesus. Esta
é a melhor bênção desse evento. Como todos os outros
aspectos desse evangelho, esse também é o evangelho
do próprio Jesus. Não é o evangelho dos mantos e
coroas reais, nem da ressurreição dos salvos, nem do
reencontro de amigos.
2. Ela nos trará o reencontro com amigos. “Deus,

64
mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia
os que dormem.” Eles estarão vivos, serão reconheci­
dos; eles estarão gloriosamente belos, e serão nossos
para sempre. Não serão apenas os velhos, mas tam­
bém os novos, os justos de todas as eras, homens e
mulheres que desejamos conhecer. Que família mara­
vilhosa!
3. A vinda de Jesus nos dará um espírito restaura­
do e conformado à sua imagem, sem falhas, defeitos
nem imperfeições, não mais susceptível às tentações,
incapaz de pecar, inundado de inexprimível bem-
aventurança. Teremos a perfeita imagem dele; nós o
conheceremos como também somos conhecidos; sere­
mos santos como ele é santo; possuiremos a força, a
beleza e o perfeito amor dele. O universo nos contem­
plará de olhos arregalados, e, ao lado da glória do
Cordeiro, estará a beleza da noiva.
4. Teremos corpos perfeitos; possuiremos sua vida
ressurreta e perfeita; teremos até esquecido como é a
dor; passaremos a ter uma força ilimitada; nosso
coração vibrará com a plenitude da vida imortal; as
noções de distância e espaço serão aniquiladas. As leis
da gravitação material não mais terão força sobre nós.
Nosso corpo será uma habitação perfeita para nosso
espírito exaltado, refletindo com exatidão o glorioso
corpo de Jesus.
5. Com a vinda de Cristo, teremos o mais elevado e
maravilhoso serviço. Não viveremos num êxtase vão,
egoísta, mas numa perfeita associação em seu reino e
sob sua administração. Provavelmente teremos per­
missão de realizar nossos mais elevados ideais da vida
terrestre, e de completar a obra que desejamos e
tentamos fazer aqui — com recursos ilimitados, capa­
cidade infinita, amplitude e tempo ilimitados, bem
como a presença e a onipotente assistência dele. Esse
bendito serviço será servir a ele, ajudar a outros, e
reerguer a terra e a humanidade para sua condição de
felicidade e justiça originais, e restaurar o Paraíso.
6. A vinda de Jesus representará o banimento de
Satanás. Nessa ocasião, ele será amarrado e acorren­

65
tado, esse inimigo cujo ódio e poder mantiveram
o mundo cercado de trevas e infelicidade durante eras
e eras. Ah, que maravilha estar livre da presença dele
pelo menos por um dia! Ah, que beleza sentir que não
precisamos mais estar atentos com uma incessante
vigilância por causa dele. Ah, que coisa grandiosa
poder andar num mundo sem o diabo! Senhor, apres­
sa esse glorioso dia!

7. E a vinda de Cristo trará grandes bênçãos a


outros, à raça humana e ao mundo. Ela representará
um cessamento da terrível tragédia que é o pecado e o
sofrimento; ela fará com que espadas sejam embai-
nhadas, cativos sejam libertos; fará com que se fe­
chem prisões e hospitais; acorrentará o diabo e seu
jagunço, a morte. Com ela virá o embelezamento e
glorificação da face da terra, a evangelização e conver­
são das nações que perecem, derramando luz e alegria
sobre este cenário escuro, cheio de tristezas e impieda­
de.

Não haverá mais choro


Não haverá mais dor,
Não haverá mais morte
Não haverá mais mácula.
Os corações que na morte foram separados
No amor eterno se encontrarão;
As vidas que no altar foram consagradas
Erguer-se-ão para receber suas coroas.
Satanás não mais nos tentará,
O pecado não mais nos vencerá,
A alegria subsistirá eternamente.
Tristeza e dor acabarão.
Apressa-te, doce manhã de gozo;
Apressa-te, Senhor amado, suplicamos;
Dissipa esta noite, de tristeza.
Apressa o dia celestial.

66
Jesus, estamos aqui vigilantes,
Ansiando pela tua volta;
Assim se encerrará nossa noite de pranto,
E então chegaremos ao nosso verdadeiro lar.
(A. B. Simpson — “Não Haverá Mais Tristezas” .)
Advertências Relacionadas à Vinda de Cristo
1. Estejamos preparados. “São chegadas as bodas
do Cordeiro cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois
lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecen­
te e puro.” (Ap 19.7, 8.) Graças a Deus que as vestes
lhe são dadas. Vamos vestir-nos com elas. Vestes
brancas. Quando a Noiva já estiver vestida, isso
significa que o casamento deve estar próximo. Então,
apressemos essa vinda de Cristo.
2. Estejamos vigilantes. “(Eis que venho como vem
o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda
as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua
vergonha.)” (Ap 16.15.) Vamos procurar não adiar,
nem por uma hora, o ato de nos vestirmos com as
vestes nupciais. Lembremos as palavras do Senhor:
“Ora, ao começarem estas cousas a suceder, exultai e
erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se
aproxima.” (Lc 21.28.) Mantenhamos nosso rosto
voltado para o céu, até que chegue o momento de todo
o nosso corpo se voltar para o céu.
3. Sejamos fiéis. A vinda do Senhor significará a
chegada do galardão para seus servos fiéis. “Acaute-
lai-vos, para não perderdes aquilo que temos realiza­
do com esforço, mas para receberdes completo galar­
dão.” (2 Jo 8.) “Conserva o que tens, para que nin­
guém tome a tua coroa.” (Ap 3.11.)
Na Igreja primitiva, havia um grupo de quarenta
soldados fiéis, que pertenciam a uma das legiões
romanas e que tinham sido condenados à morte, por
causa de sua fé em Jesus. Todos eles foram colocados
no meio de um lago congelado, para morrer de frio.
Mas tinham permissão de retratar-se, se o quisessem,
durante a sua noite de agonia, bastando para isso que

67
caminhassem até a margem e se apresentassem ao
oficial no comando.
A medida que a noite avançava, o sentinela que
estava na margem viu um bando de anjos pairando
sobre o lugar onde estavam aqueles mártires, e assim
que um deles caía, eles colocavam uma coroa sobre
sua cabeça, e o transportavam para o céu, enquanto
nos ares ecoava um cântico: “Quarenta mártires e
quarenta coroas.”
Afinal, todos já haviam caído, restando apenas
um, e a coroa deste estava pairando no céu, e parecia
que ninguém a apanhava. De repente, o sentinela
ouviu passos, e de repente viu que um dos quarenta
estava ali, ao seu lado. Havia fugido. O sentinela
olhou para ele, enquanto anotava seu nome e depois
disse:
“Tolo, se você tivesse visto o que eu vi esta noite,
não teria perdido sua coroa. Mas ela não será perdida.
Fique em meu lugar, e eu, de bom grado, ficarei no
seu.”
E assim dizendo, seguiu para a morte e para a
glória, enquanto o coro silencioso retomava o cântico:
“Quarenta mártires, quarenta coroas. Tu foste fiel até
a morte, e receberás a coroa da vida.”
4. Sejamos diligentes. Existe muita coisa para ser
feita. Você pode apressar “a vinda do dia de Deus”. O
mundo terá que ser avisado, e a Igreja preparada.
Desperte! Dedique a ele toda a sua força, suas facul­
dades, seu dinheiro, seu tempo. Divulgue o Evan­
gelho. Vá pregá-lo a outros, se puder. Se não, mande
um substituto. E que a presente hora seja, mais do
que nunca, para você e para o mundo, um tempo de
preparação para a volta de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo.

68
5

Nosso Viver com Deus


“Aquele que diz que permanece nele, esse deve
também andar assim como ele andou. " (1 Jo 2.6.)

Naturalmente, o viver conduz para o andar. Esse


termo andar aplica-se à nossa conduta, nosso curso de
vida, o lado prático de nossa vida cristã. Essa referên­
cia ao andar de nosso Senhor Jesus Cristo evoca seu
caráter e sua vida. O caráter de Jesus sobressai na
Bíblia como o mais divino monumento dela e dos
evangelhos.
Até mesmo pessoas que não crêem nele da forma
como cremos são obrigadas a reconhecer a grandeza e
elevação de sua incomparável existência. O filósofo
Renan disse: “ O Cristo dos evangelhos é a mais bela
encarnação de Deus. Sua beleza é eterna. Seu reinado
nunca terminará.” E o poeta alemão Goethe afirmou:
“Emana dos evangelhos uma luz sublime, através da
pessoa de Cristo, que somente o divino poderia mani­
festar.”
E Rousseau escreveu o seguinte: “Ele era um
simples homem? Que brandura! Que pureza em seu
viver! Que terna graça em seus ensinos! Que grandeza
69
em suas máximas! Que sabedoria em suas palavras!
Que delicadeza em seu toque! E que império ficou no
coração de seus seguidores! Qual é o homem, qual é o
sábio que seria capaz de sofrer e morrer como ele, sem
qualquer manifestação de fraqueza ou exibicionismo?
Tão grande, tão incomparável é seu caráter que, se al­
guém tivesse inventado essa história, esse alguém seria
muito mais maravilhoso do que a personagem que ela
retrata.”
Carlyle, filósofo inglês, disse: “Jesus Cristo é o sím­
bolo mais divino. E o ponto mais elevado que a
mente humana poderia atingir.” E Napoleão afirmou:
“Sou homem, e compreendo os homens. ... Mas Jesus
Cristo não era apenas homem; era mais que isso.
Nossos impérios são construídos com base na força. O
dele no amor; e o dele continuará a existir depois que
os nossos desaparecerem.”
E se Jesus Cristo é visto dessa maneira, como que à
distância, por pessoas que apenas o admiram, quanto
mais ele deve significar para nós que o conhecemos
como um Amigo pessoal, e que o vemos pela luz do
amor.
O caráter e a vida de Cristo apresentam uma
perfeição de detalhes que nenhuma outra biografia da
Bíblia possui. A história dele foi escrita por muitas
testemunhas, e por isso seu retrato é reproduzido em
todos os seus traços e linhas. Ele descreve sua trajetó­
ria, desde o berço até o túmulo, e representa a
humanidade em todas as situações e circunstâncias de
tentações, provações e dificuldades, de modo que seu
exemplo serve para a criança, o jovem e o adulto. E
adequado para os humildes e pobres, nas mais baixas
camadas sociais, e para o soberano que detenha o
mais amplo domínio, pois Jesus é, ao mesmo tempo, o
humilde Nazareno e o Senhor dos senhores.
Cristo sentiu o latejar de todas as afeições huma­
nas; sentiu a dor de todas as tristezas. Ele é o Filho do
homem no sentido mais amplo e abrangente. Sua
humanidade é tão completa, que engloba tanto os
ternos traços da feminilidade, bem com a força e a

70
virilidade masculinas, e até a simplicidade de uma
criança. E impossível chegarmos a um ponto na
experiência cristã de onde não possamos volver os
olhos para a vida-modelo dele e receber auxílio e
orientação; não há circunstância que não possa ser
submetida a essa pergunta: “O que Jesus faria nesta
situação?”
Deus nos apresenta a vida de Cristo como nosso
exemplo, e nos ordena que o imitemos e nos confor­
memos à sua imagem. Não se trata, porém, de estudar
um retrato idealmente bem feito, como fazemos com
os dos grandes mestres da arte. Aqui é uma vida que
temos de viver, e que se adapta a todos os aspectos
de nossa existência presente. E uma vida simples,
para pessoas comuns imitarem; um tipo de humani­
dade que podemos viver na cozinha, na sala de visita,
na fábrica, no escritório, nos campos que o lavrador
ara e no pomar que o jardineiro poda. Podemos levá-la
ao lugar onde o tentador ataca, e até onde a pobreza e
a necessidade pesam sobre nós, com seus fardos e
preocupações. Este Cristo é o Cristo de todo aquele
que o receber como irmão e o seguir como modelo e
Mestre. Disse ele: “Eu vos dei o exemplo, para que,
como eu vos fiz, façais vós também.” (Jo 13.15.)
Jesus espera que sejamos semelhantes a ele. Esta­
remos nós imitando-o, e nos conformando à sua
imagem? Só existe um Modelo. Durante eras e eras,
Deus buscou um homem “mas a ninguém” achou.
Afinal, a humanidade produziu um exemplar perfei­
to, e desde então Deus tem estado operando para
moldar outros homens de acordo com esse Modelo.
Ele é o original. Quando o missionário Judson voltou
para a América, os jornais religiosos o compararam a
Paulo e aos primitivos apóstolos. E Judson escreveu o
seguinte, expressando seu desprazer e desgosto: “Não
quero ser igual a eles. Existe outro para ser imitado: o
próprio Jesus. Quero colocar meus pés nas pegadas
dele... Ele é o único a ser imitado. Quero ser seme­
lhante a ele.” Então, vamos procurar andar como ele
andou.

71
O segredo de se ter uma vida semelhante à de
Cristo encontra-se, em parte, em querermos muito
tê-la. Temos a tendência de nos tornarmos mais
parecidos com aqueles a quem admiramos. Pelo me­
nos inconscientemente, alcançamos os ideais que de­
sejamos alcançar. Peçamos a Deus que nos dê uma
concepção elevada do caráter de Cristo e um intenso
desejo de ser semelhante a ele, e não descansemos en­
quanto não atingirmos esse ideal.

A Motivação da Vida de Jesus


O que está por trás do caráter de qualquer pessoa é
sua motivação suprema, o fim que ele está buscando,
o objetivo para o qual está vivendo. Não podemos
entender a conduta de um indivíduo simplesmente
analisando fatos. E necessário que enxerguemos as
intenções que estão por trás desses fatos e incidentes,
e a motivação suprema que determina essas ações.
Quando um indivíduo comete um crime, o primeiro
objetivo do detetive é descobrir a razão dele. Resolvido
isso, o resto pode ser esclarecido. O grande objetivo
pelo qual estamos vivendo irá determinar tudo o mais
em nossa vida. E o conhecimento dele irá explicar
muitas coisas que podem até parecer inexplicáveis.
Quando um lavrador parte para fazer um sulco em
linha reta na terra, precisa de duas estacas. A primei­
ra estaca só não basta. Ele precisa da estaca da outra
extremidade para se manter em linha reta. E enquan­
to ele mantiver as duas em perspectiva, o sulco será
traçado em linha reta. E o nosso alvo supremo que
determina nossas ações imediatas. Se ele for bastante
firme e elevado, nos atrairá como um ímã celeste,
afastando-nos das coisas menores e mais insignifican­
tes, e mantendo-nos com força irresistível em nossa
rota para o céu.
A motivação suprema da vida de Cristo era sua
devoção por fazer a vontade de Deus e a glorificá-lo.
“Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu
Pai?” (Lc 2.49.) “A minha comida consiste em fazer a

72
vontade daquele que me enviou.” (Jo 4.34.) “Porque
eu desci do céu não para fazer a minha própria
vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou.”
(Jo 6.38.) Este foi o objetivo de sua vida adulta.
“Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra
que me confiaste para fazer.” (Jo 17.4.) Essa era sua
feliz expressão, ao terminar sua carreira, e entregar ao
Pai que o enviara a missão que este lhe dera. Será esse
o supremo objetivo de nossa vida? Será que estamos
prosseguindo sempre, quer falem bem ou mal de nós,
procurando agradar apenas ao nosso Mestre, e bus­
cando apenas a aprovação dele no final de nossa vida?

O Princípio Predominante da Vida de Jesus


Todos nós temos, num certo sentido, um princípio
que rege a nossa vida. Para uns, é o egoísmo, nas
diversas formas da avareza, da ambição ou do prazer.
Para outros é a dedicação a algum tipo de busca da
perfeição na arte, na literatura, ou no terreno das
invenções ou descobertas. Para Jesus Cristo, o princí­
pio que governava sua vida era o amor, e a lei que ele
deixou para nós é a mesma simples e abrangente lei
do amor. Nela estão contidas todas as formas de
dever, expressas no novo mandamento: “Novo man­
damento vos dou; que vos ameis uns aos outros; assim
como eu vos amei, que também vos ameis uns aos
outros.” (Jo 13.34.)
Esta não é a lei do amor do Velho Testamento que
(cm o ego como centro: “Amarás a teu próximo como
a ti mesmo.” (Lv 19.18.) Não. E um novo mandamen­
to, que tem Cristo no centro. “Que vos ameis uns aos
outros, assim como eu vos amei.” (Jo 15.12.) Amor ao
Pai, amor aos seus, amor aos pecadores, amor pelos
seus inimigos — este amor permeou toda a vida de
Jesus Cristo, e deve permear também todas as dimen­
sões da vida de seus seguidores. Isso simplifica todos
os problemas, soluciona todas as dificuldades, e suavi­
za todos os deveres, transformando-os em prazer. Faz
1-0111 que nossa vida seja como a dele; passamos a

73
personalizar o belo ideal que o Espírito Santo regis­
trou no capítulo 13 de 1 Coríntios. “O amor é
paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não
se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconve­
nientemente, não procura os seus interesses, não se
exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a
injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (Vs. 4-7.)

A Regra e o Padrão da Vida de Jesus


Toda pessoa tem um determinado padrão no qual
baseia sua vida; Cristo moldava a sua segundo as
Escrituras. “ São estas as palavras que eu vos falei,
estando ainda convosco, que importava se cumprisse
tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44.)
Era necessário que a vida de Cristo fosse um
cumprimento das Escrituras. Ele não poderia morrer
na cruz, enquanto não tivesse vivido cada palavra que
fora escrita a seu respeito. Assim também é necessário
que nossa vida seja um cumprimento das Escrituras.
Não podemos deixar que nenhuma de suas promessas
e mandamentos sejam meras palavras. Deus quer que,
enquanto vivermos, demonstremos em nossa própria
experiência tudo que foi escrito na Bíblia; quer que
sejamos a própria Bíblia, numa encadernação de
carne e osso.

A Fonte da Vida de Jesus


De onde Jesus tirava energias para dar um exem­
plo perfeito e sobrenatural? Seria de sua inerente
divindade? Ou será que durante os dias de sua
humilhação ele abdicou de seus direitos pessoais e seu
poder, para viver entre nós simplesmente como um
homem, e tendo que depender, para sua existência,
das mesmas fontes de energia que estão a nosso
dispor? Parece que sim. Ouçamos a confissão dos
próprios lábios dele: “O Filho nada pode fazer de si

74
mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai. Eu
nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que
ouço, julgo. Assim como o Pai, que vive, me enviou e
igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se
alimenta, por mim viverá.” (Jo 5.19,30; 6.57.)
Isso parece indicar claramente que o Senhor reti­
rava suas energias diárias da mesma fonte de onde
podemos retirar a nossa: mantendo comunhão com
Deus, vivendo na dependência dele, pela fé e oração, e
recebendo a presença e o poder do Espírito Santo, e
sendo constantemente cheios dele.
Portanto, se quisermos andar como ele andou,
precisamos receber o Espírito Santo, como ele recebeu
ao ser batizado, depender constantemente dele, e
estar sempre cheios de sua presença. Precisamos ter
uma vida de oração, recebendo energia dele, a cada
momento, assim como ele recebia do Pai. E que nossa
vida, tanto espiritual quanto física, seja sustentada
pela inspiração dele, para que a nós se apliquem as
palavras: “Nele vivemos, e nos movemos, e existi­
mos.” (At 17.28.)
Assim foi a vida de nosso Mestre, e assim pode ser
a nossa. Que grande inspiração é para nós saber que
ele se humilhou, colocando-se na mesma posição de
dependência em que nos encontramos, e que ele nos
exaltará, pela sua graça, para que obtenhamos as
mesmas vitórias que ele obteve.

Uma Vida Cheia de Atividade


Jesus Cristo levou uma vida positiva. Não foi uma
vida de autocontemplação nem de auto-aprimora-
mento, mas foi uma vida dedicada à altruísta prática
de fazer o bem ao mundo que o cercava. As poucas
palavras com que Pedro resumiu a vida dele expres-
sara um viver santo e prático: “Andou por toda a
parte, fazendo o bem.” (At 10.38.) No período de seu
ministério, que foi de três anos e meio, ele palmilhou o
chão da Galiléia, Samaria e Judéia, pregando, ensi­
nando e trabalhando árdua e incessantemente. Estava

75
constantemente cercado por multidões, e tanto que
Lucas nos dá a entender que ele não tinha tempo nem
para comer. Certa vez, depois de um dia cheio, estava
tão cansado, que dormiu em um barco, em meio a uma
forte tempestade. E mesmo quando se afastava para
descansar um pouco, as multidões ainda o pressiona­
vam, e ele não se negava a falar-lhes. E em Cafar-
naum, certa vez, após um sábado muito cansativo, no
dia seguinte ele se levantou cedo, subtraindo tempo de
suas horas de descanso, para ir orar.
Sua vida foi caracterizada por incessante serviço, e
ainda hoje, em seu exaltado trono, está continuamen­
te empenhando-se no sentido de tornar seu amor ma­
nifesto. E assim ele nos disse que devemos imitá-lo.
Nenhum cristão consagrado pode ser indolente ou pa­
rasita. “ Assim como o Pai me enviou, eu também vos
envio.” Nós estamos aqui como missionários, e cada
um de nós tem sua própria tarefa, e cada um tem sua
missão tanto quanto os missionários que enviamos ao
estrangeiro. Vamos, cada um de nós, descobrir nossa
função, tal como Jesus o fez. “Tudo quanto te vier à
mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças.” (Ec
9.10.)
Separação
O valor de um homem nem sempre se mede pelo
número de amigos que tem, mas pelo de seus inimigos.
Todos aqueles que são avançados para sua época
certamente são incompreendidos, sofrem oposição e
muitas vezes são perseguidos e mortos. O próprio
Jesus disse certa vez: “Ai de vós, quando todos vos
louvarem.” (Lc 6.26.) “Se vós fôsseis do mundo, o
mundo amaria o que era seu.” (Jo 15.19.) E também
o apóstolo João: “Irmãos, não vos maravilheis, se
o mundo vos odeia.” (1 Jo 3.13.)
Portanto, devemos esperar ser impopulares, ficar
sozinhos e até ser maltratados, como aconteceu a
Jesus. Pode ser até que venhamos a ser dura e
falsamente acusados, e expulsos para “fora do arrai­
al” do mundo religioso. Não tenhamos medo de ser

76
impopulares, e nunca nos sintamos amargurados por
isso. Coloquemo-nos de pé, firmes, dignos e triunfan­
tes, com a certeza de fazer o que é certo e de que
temos a aprovação de nosso Mestre.
A Vida de Sofrimento
Só depois que uma pessoa passa pelo fogo da
provação é que se pode afirmar que está madura e que
chegou ao seu ápice. Assim também o supremo teste
dado pelo exemplo de Cristo foi o do sofrimento. E em
todos os seus sofrimentos, como diz Pedro, ele deixou-
nos “exemplo para seguirdes os seus passos” . (1 Pe 2.
21.)
Ele sofreu com as tentações de Satanás, pois foi
“tentado em todas as cousas, à nossa semelhança,
mas sem pecado” . Assim, ele nos convoca para que o
sigamos, no sofrimento e na vitória, “pois naquilo que
ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para
socorrer os que são tentados” (Hb 2.18). Ele sofreu
nas mãos dos homens, e nisto deu-nos um exemplo de
paciência, mansidão e perdão. “Pois ele, quando
ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltrata­
do não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que
julga retamente” (1 Pe 2.23).
O momento de maior glória de Jesus também foi o
da sua maior humilhação. Seu momento de maior
altruísmo foi aquele em que seu coração estava sendo
esmagado pelo sofrimento. Sua hora de maior vitória
foi aquela em que inclinou a cabeça, na amarga cruz,
e morreu por homens pecadores. Ele é o sofredor
supremo da humanidade, e apela a nós para que
soframos como ele, com brandura, submissão, fé e
amor.
Os Mais Belos Aspectos de um Caráter Santo
A perfeição de caráter é encontrada nas qualida­
des e nos pontos fortes de temperamento que quase
sempre passam despercebidos a um observador menos
atento. E é nessas coisas que o caráter de Cristo
sobressai, mostrando-se incomparavelmente supremo.

77
Uma das mais belas descrições de seu espírito é a
que Paulo nos dá, no segundo capítulo de Filipenses,
onde ele fala da humildade de Jesus, que poderia
ter-se agarrado a seus direitos divinos, mas voluntari­
amente os rendeu, esvaziou-se, e, de bom grado,
desceu à posição mais humilde (Fp 2.5-8). Seu altruís­
mo, quando trata com os fracos e arrogantes, é
belamente descrito com as seguintes palavras: “Por­
que também Cristo não agradou a si mesmo, antes,
como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam,
caíram sobre mim.” (Rm 15.1, 3, 7.) Sua brandura e
humildade são maravilhosamente expressas nas suas
próprias palavras: “Aprendei de mim, que sou manso
e humilde de coração.” (Mt 11.29.)
O mais elevado traço de caráter é o auto-sacrifício,
e neste aspecto também nosso Mestre se encontra
acima de todos os atos de sacrifício e heroísmo. “Se
alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-me.” (Mt 16.24.) “E quem
quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal
como o Filho do homem, que não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate
por muitos.” (Mt 20.27, 28.) Aqui vemos o que é andar
assim como ele andou. É levar uma vida sempre
rendida a ele, uma vida de auto-sacrifício. E Paulo
também expressou isso muito bem: “Andai em amor,
como também Cristo vos amou, e se entregou a si
mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus em
aroma suave.” (Ef 5.2.) Isto é amor, auto-sacrifício, e,
para Deus, isto é doce como as fragrâncias dos jardins
do Paraíso.
Havia no espírito de Jesus um elemento — que
também deveria estar presente no coração de todo
aquele que se consagrou a Deus — que só a palavra
“perfume” pode descrevê-lo. E é referindo-se a esse
elemento que o apóstolo Paulo diz: “Porque nós
somos para com Deus o bom perfume de Cristo; tanto
nos que são salvos, como nos que se perdem.” (2 Co
2.15.) Que Deus nos conceda esse perfume celestial
que brota do coração do Salvador, que em nós habita.

78
A fineza é um dos mais marcantes traços do
maravilhoso caráter de Jesus. Embora não tivesse
cursado as escolas da cultura humana, ele era o que
todos nós deveriamos ser: um perfeito cavalheiro. Sua
atenciosa consideração pelos outros se manifestava
muitas vezes nas circunstâncias incidentais de sua
vida. Certa vez, quando Simão Pedro estava preocu­
pado com o imposto que deveríam pagar em Cafar-
naum, e hesitava em mencionar isso para o Mestre, o
Senhor se antecipou a ele, e mandou que fosse ao lago
e pescasse um peixe, na boca do qual encontraria uma
moeda. Depois, com muito tato, acrescentou: “Toma-
o, e entrega-lhes por mim e por ti.” Ele assumiu a
responsabilidade da dívida para si, em primeiro lugar,
para não ferir a sensibilidade de Pedro.
Mais notável ainda foi sua extrema cortesia para
com a mulher apanhada em adultério, e que os
tariseus haviam arrastado até ele. Inclinando-se, ele
evitou olhar para ela, para que não fosse mais humi­
lhada diante daqueles homens, e, como se não tivesse
ouvido as acusações deles, atirou um dardo de santo
sarcasmo à consciência deles. Isso fez com que deban­
dassem da presença dele como cães. E só depois que
eles tinham ido embora, foi que ele olhou para o rosto
da mulher e, bondosamente, lhe disse: “Nem eu tão
pouco te condeno; vai, e não peques mais.” (Jo 8.11.)
Empenhemo-nos também em espelhar a brandura e
cortesia de Cristo, recomendemos nosso cristianismo e
adornemos a doutrina de Deus, principalmente atra­
vés de uma maneira amorosa de viver.
Há mais um traço próprio de nosso Mestre que ele
quer que imitemos, o espírito de alegria. Embora o
Senhor não fosse uma pessoa barulhenta ou espalha­
fatosa em sua manifestação de alegria, tinha uma
disposição alegre, animada e feliz. E o coração onde
ele habita deve manifestar-se também num rosto que
transmita contentamento e uma vida transbordante
de alegria.
Não há nada de que este mundo triste e pecamino­
so necessite mais do que um filho de Deus radioso. Os

79
momentos mais tocantes da vida de nosso Mestre
foram aqueles em que ele antevia o sofrimento do
jardim e da cruz, e só de pensar no que estava pela
frente seu coração parecia partir-se, e mesmo assim
ele era capaz de dizer a seus discípulos: “Não se turbe
o vosso coração.” (Jo 14.27.) “Tenho-vos dito estas
cousas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso
gozo seja completo.” (Jo 15.11.) Que Deus nos ajude a
irradiar essa mesma alegria e a não deixar que nossa
bandeira se arraste na lama; que nos ajude a não
pendurarmos nossas harpas nos salgueiros, nem per­
dermos a bênção celestial, nem deixarmos de nos
regozijar sempre.
Os Elementos de Poder da Vida de Jesus
Uma pessoa pode revelar bondade e brandura,
mas ao mesmo tempo ser fraca e sem sabedoria. Não
era assim o caráter de Jesus. Nenhum outro homem
tinha tamanha brandura, como a de uma criança,
e pem era de uma masculinidade mais imperiosa que
ele. Em todos os traços de seu caráter e em todas as
suas ações, vemos sempre uma forte virilidade, e
temos que reconhecer que o Filho do homem era de
fato um homem em todas as acepções da palavra.
Intelectualmente, sua mente era clara e magistral.
Não existe fato mais belo em sua vida do que a
maneira calma, superior, com que sempre respondeu
aos argutos escribas e doutores da lei que estavam
sempre a atormentá-lo com perguntas. Várias e várias
vezes eles foram humilhados e tiveram que se calar
perante a multidão zombeteira; tiveram até que fugir
da presença dele; e, depois disso, não lhe pergunta­
ram mais nada.
A eloqüência de Jesus era tão poderosa e impres­
sionante que certa vez os policiais que tinham sido
mandados para prendê-lo, esqueceram-se da tarefa de
que estavam incumbidos, e ficaram a ouvir suas
maravilhosas palavras. Voltaram aos seus superiores
com a exclamação: “Jamais alguém falou como este
homem.” (Jo 7.46.)
Sua pessoa era de uma nobreza tal, e por vezes
80
atingia tal sublimidade que, em certa ocasião, dei­
xando transparecer em seu rosto a firme decisão de
ir para Jerusalém, “ia diante dos seus discípulos, e
estes se admiravam e o seguiam tomados de apreen­
sões.” (Mc 10.32.) E na mais sombria hora de sua
agonia, ele manifestou uma nobreza tão santa, tão
elevada, que até Pilatos o fitou com admiração, e,
apontando para ele, que carregava todos aqueles
símbolos de humilhação e sofrimento, exclamou: “Eis
o homem!” (Jo 19.5.)
Mesmo na morte ele foi vitorioso, e pela ressurrei­
ção e ascensão colocou-se, de modo sublime, acima de
todos os poderes da morte e do inferno.
Então, como iremos andar “assim como ele an­
dou” ? (1 Jo 2.6.)
1. Temos que recebê-lo, para que viva em nós, pois
ele afirmou: “Habitarei e andarei entre eles.” (2 Co 6.
16.)
2. Temos que estudar sua vida até que a história
dele fique gravada em nossa consciência, e impressa
em nosso coração.
3. Temos que estar constantemente tentando vi­
sualizar mentalmente esse quadro, aplicando-o à nos­
sa vida e conduta, com todos os pormenores, e assim
“contemplando, como por espelho, a glória do Se­
nhor, somos transformados de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” . (2 Co
3.18.)
4. E, quando falharmos, não devemos nos desani­
mar. Não devemos ter receio de olhar no espelho, e ver
nossos defeitos em contraste com a vida imaculada do
Senhor. Isso nos estimulará a subir mais alto. O
verdadeiro segredo do progresso e do crescimento é
exatamente o auto-exame.
5. E finalmente, peçamos ao Espírito Santo, cuja
função é justamente tornar Jesus mais real para nós,
que nos dê a visão dele, e imprima o modelo em nosso
coração e vida. E assim seremos “transformados de
glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito” . (2 Co 3.18.)

81
6

Somos Guardados
“Porque sei em quem tenho crido, e estou certo de
que ele é poderoso para guardar o meu depósito
até aquele dia.” (2 Timóteo 1.12.)
“Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a
fé, para a salvação.” (1 Pedro 1.5.)
Quanto mais valioso é um tesouro, importa que se­
ja melhor preservado e guardado. A metáfora empre­
gada neste primeiro verso é a de um depósito bancá­
rio. E o que ele está dizendo aí. Normalmente, quando
está-se fazendo o transporte de grandes somas de
dinheiro e ele vai ser depositado nos cofres fortes de
um poderoso banco, a manobra é cercada de muita
segurança, com esquadrões de polícia à volta, e o
tesouro é guardado dentro de compartimentos com
fechaduras, trancas e paredes fortíssimas.
Mas, às vezes, os escritores bíblicos, usam figuras
de sentido militar. O segundo texto é um desses e lite­
ralmente ele diz o seguinte: “ Sois cercados pelo poder
de Deus, mediante a fé, para a salvação.” E que
grandes despesas se fazem e que quantidade de armas

82
se empregam para cercar os pontos estratégicos que
guardam os portais das nações!
E outras vezes, é empregada a figura de um pastor
e seu rebanho. “Aquele que espalhou a Israel o
congregará e o guardará, como o pastor ao seu
rebanho.” (Jr 31.10.)
Mas seja qual for a figura empregada ou a frase ali
escrita, o grande conceito que Deus quer transmitir ao
coração de seu povo sofrido e atribulado é de que
estão todos seguros em sua guarda. Ele é poderoso
para guardar o depósito que lhe foi confiado até
aquele dia. Vejamos algumas das maravilhosas pro­
messas que ele faz ao seu povo, a respeito da seguran­
ça dele.
1. Ele nos guardará onde quer que vamos ou
estejamos. Veja a primeira promessa que nosso Divino
Protetor fez a Jacó, num momento em que ele estava
só e temeroso: “Eis que eu estou contigo, e te guarda­
rei por onde quer que fores... porque te não desampa­
rarei, até cumprir eu aquilo de que te hei referido.”
(Gn 28.15.) E como ele cumpriu essa promessa dada a
Jacó! Em todas as partes aonde foi — na terra de
Labão, as cidades dos siquemitas, na terra de Gósen
— o Deus da aliança o guardou e protegeu.
Jacó não era uma personalidade muito atraente.
Não era mercedor de nenhuma atenção especial. Era o
“vermezinho de Jacó” , mas Deus, em sua infinita
graça, o amou e o guardou, disciplinou-o, instruiu-o, e
preparou-o para ser o cabeça das tribos de Israel. E
chegou o dia em que Jacó pôde dizer: “O Deus que me
sustentou durante a minha vida até este dia, o Anjo
que me tem livrado de todo mal.” (Gn 48.15, 16.)
Por vezes, podemos nos encontrar em lugares
estranhos, difíceis, perigosos, lugares de solidão; mas,
se tivermos assumido o Deus de Jacó como o nosso
Deus da aliança, poderemos ficar descansados e con­
fiar nessa velha promessa: “Eis que estou contigo, e te
guardarei por onde quer que fores... porque te não
desampararei, até cumprir eu aquilo de que te hei
referido.” (Gn 28.15.)

83
2. Ele nos guardará como a menina dos seus olhos.
“Guarda-me como a menina dos olhos.” (SI 17.8.)
Essa é uma imagem belíssima, que faz uma alusão à
sensibilidade do olho à intrusão de qualquer corpo
estranho. As pálpebras se fecham instintivamente
para impedir que qualquer coisa entre. E ali não há
tempo para se pensar, pois o gesto é instintivo e
involuntário.
O salmista afirma que somos tão caros a Deus,
quanto o nosso olho o é para nós, e que somos parte do
corpo de Cristo como se fôssemos o próprio cristalino
dos olhos dele. Ele demonstra grande sensibilidade
para com a aproximação de qualquer coisa que possa
prejudicar-nos, assim como faríamos em relação a um
cisquinho que caísse em nosso olho.
3. Ele nos guardará num esconderijo. “No recôn­
dito da tua presença tu os esconderás das tramas dos
homens; num esconderijo os ocultarás da contenda de
línguas.” (SI 31.20.) Deus não precisa de muito tempo
para erguer este esconderijo, mesmo nos lugares mais
solitários, e esconder seus filhos, com toda a seguran­
ça, entre suas paredes.
Existe uma história acerca de um grupo de crentes
escoceses que estavam abrigados num vale, na época
em que o cruel Claverhouse estava perseguindo os
crentes, derramando muito sangue. De repente ouviu-
se o grito da sentinela que estava vigiando num pe­
nhasco próximo, avisando-os de que guardas se apro­
ximavam. O pequeno grupo fora descoberto. Seria
impossível fugir. Mas os crentes simplesmente se
ajoelharam e se puseram a orar, pedindo a Deus o
cumprimento desta preciosa promessa deste salmo:
“Num esconderijo os ocultarás.” Imediatamente co­
meçou a formar-se ali nas colinas uma espessa nebli­
na, e todo o lugar ficou envolto como que numa
cortina. Os inimigos ficaram confusos, mas os crentes
puderam escapar silenciosamente, pelas estradinhas
que conheciam tão bem. Deus os ocultara com toda
segurança num esconderijo.
Talvez nossos inimigos não sejam tão ferozes

84
quanto os daqueles crentes escoceses, mas muitas
vezes uma língua ferina constitui uma espada mais
aguda e um ódio mais cruel. Quantas vezes encontra­
mos o salmista a queixar-se das palavras envenenadas
dos homens: “Que te será dado, ou que te será acres­
centado, ó língua enganadora? Setas agudas do valen-
le, e brasas vivas de zimbro.” (SI 120.3, 4.) Mas ele
pode proteger-nos até dessas coisas e nos dar uma
bênção para cada ataque malévolo de difamação que
recebemos.
Na ocasião em que o velho Simei estava amaldiço­
ando ao Rei Davi e alguns quiseram impedi-lo, a
reação do rei foi a seguinte: “Deixai-o, que amaldi­
çoe... Talvez o Senhor olhará para a minha aflição e
rne pagará com bem a sua maldição deste dia.” (2 Sm
16.11,12.) “Por isso também os que sofrem segundo a
vontade de Deus encomendem as suas almas ao fiel
Criador, na prática do bem.” (1 Pe 4.19.)
4. Ele nos conservará em perfeita paz. “Tu, Se­
nhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propó­
sito é firme; porque ele confia em ti.” (Is 26.3.)
Literalmente, este texto diz: “Paz, paz.” Trata-se de
uma paz dupla: paz com Deus, e em Deus. E o
original do Velho Testamento transcrito pelo apóstolo
é uma promessa ainda mais bela: “Não andeis ansio­
sos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conheci­
das diante de Deus as vossas petições, pela oração e
pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus,
que excede todo o entendimento, guardará os vossos
corações e as vossas mentes em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,
7.)
Nos dois textos, a paz mencionada é a mesma, um
descanso profundo, divino, que Cristo/coloca no cora­
ção daquele em que passa a habitar. E a paz de Deus
que excede todo o entendimento. Ela não é produto de
racionalizações; nem ocorre porque os fatos teriam
mudado e vemos a chegada da libertação; não. Ela
está presente mesmo quando tudo está escuro e
estranho para nós, e não temos nada, senão a palavra
dele.

85
O rei Senaqueribe, da Assíria, estava às portas de
Jerusalém, e parecia que não havia possibilidade de
libertação, quando se ouviu a voz do profeta: “ Sede
fortes e corajosos, não temais nem vos assusteis por
causa do rei da Assíria, nem por causa de toda a
multidão que está com ele; porque um há conosco
maior do que o que está com ele. Com ele está o braço
de carne, mas conosco o Senhor nosso Deus, para nos
ajudar e para guerrear nossas guerras.” (2 Cr 32.7, 8.)
E depois está escrito: “O povo recobrou ânimo.” (vs 8.)
Os assírios ainda estavam lá; o perigo ainda era imi­
nente, mas eles foram tomados por uma confiança in­
compreensível e sobrenatural, pois Deus assumira a
defesa deles.
E sabemos o que sucedeu depois. Como foi fácil
para Deus, com o toque da mão de um só anjo,
derrubar aqueles poderosos exércitos no pó. Assim, a
paz de Deus não é produzida pela visão de coisas, mas
pela fé. E as condições dela são as seguintes: “Conser­
varás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme;
porque ele confia em ti.” (Is 26.3.)
Alguém nos contou que certa vez houve uma
competição de quadros sobre a paz, sendo que um
grande prêmio seria dado ao vencedor. Dois eram os
competidores. Um deles retratava uma cena tranqüi-
la, um vale com árvores frondosas, no meio do qual
corria suavemente um regato cujas margens eram
cobertas de relva. Viam-se ainda pássaros gorjeando
e crianças brincando felizes e rebanhos deitados nos
pastos verdejantes. Tanto o céu como a terra estavam
em paz. Mas foi o outro quadro que ganhou o prêmio.
Retratava um mar tempestuoso, atirando para o alto
ondas fortes e espuma ao redor de um penhasco nu.
A distância, um navio estava navegando, à frente do
furacão, com todas as velas enfunadas, enquanto as
aves marinhas esvoaçavam pelo céu escuro, entre
nuvens negras, em terrível confusão. A paisagem
lembrava qualquer coisa, menos paz. Mas bem no
alto, numa fenda do penhasco, acima das ondas, e ao
abrigo da tormenta, via-se um ninho de pombas, onde

86
a mãe tranqüilamente protegia com as asas abertas os
seus filhotes, em perfeita paz.
A figura empregada no texto de Filipenses é a de
uma proteção militar, a paz de Deus que guarda nosso
coração e mente. A necessidade dessa proteção aqui
não é gerada por inimigos de fora, mas de dentro.
Quando estamos guardados na perfeita paz de Deus,
nada pode ameaçar-nos de fora.
Observamos também que são dois os pontos dessa
fortaleza que precisam ser protegidos e guardados.
Um é o coração, onde se abrigam dúvidas, temores e
ansiedades. O outro é a mente, onde nossos pensa­
mentos podem tornar-se fonte de inquietação, de dú­
vida, de preocupação; olhamos para a frente e para
trás, mas nunca para Deus. Pois a paz de Deus pode
acalmar nossos pensamentos e manter-nos tfanqüilos.
5. Ele nos guardará pelo seu poder. Isso é o que
nos diz nosso segundo texto: “Guardados pelo poder
de Deus, mediante a fé, para a salvação.” (1 Pe 1.5.) O
apóstolo acabou de dizer que há uma herança guarda­
da no céu para nós. Agora diz-nos que somos protegi­
dos para receber essa herança. Ela está reservada para
nós, e nós somos preservados para ela.
Mas embora a figura da proteção militar seja a
mesma de Filipenses, é uma proteção diferente. Ali
era a paz, aqui é o poder. A guarnição da paz tem por
fim proteger a fortaleza de inimigos internos; a do
poder, deve protegê-la dos inimigos externos. A pri­
meira guarnição vigia as ruas; a outra fica sobre as
muralhas. E se nos lembrarmos de que a palavra
poder, no grego, é dinamite, então a figura fica ainda
mais forte. A guarnição policial está armada com
munição divina.
Quando as tropas inglesas, sob o comando de Lord
Kitchener, se defrontaram com os enormes exércitos
de Mahdi, o dirigente das hordas de sudaneses, cujo
número superava o dos ingleses na proporção de dez
para um, elas protegeram seus arraiais com a artilha­
ria mais moderna, enquanto os africanos as atacavam
com antiquados mosquetes e rifles. Com uma força de

87
cem mil homens, a imensa horda avançou sobre o
pequeno grupo de soldados ingleses, e marchou para o
ataque com bandeiras desfraldadas, cavalos a galope
e um fabuloso entusiasmo.
E o historiador descreve detalhadamente o fato,
dizendo que os ingleses ficaram aguardando o ataque
calma e confiantemente, pois sabiam que tinham
consigo um enorme poderio, contra o qual aquelas
legiões de guerreiros não poderiam subsistir nem por
um momento. E, de repente, os canhões começaram
seu terrível fragor, e, como uma saraivada caindo do
céu, uma chuva de balas e cartuchos se abateu sobre o
exército africano, que literalmente desfez-se diante
deles, como a neve diante do sol. Era a força da
dinamite contra a simples coragem humana.
Deus nos tem protegido com a dinamite celestial, o
poder do Espírito Santo, e, como os soldados ingleses,
devemos ter confiança nisso, pois somos guardados
pela dinamite de Deus, mediante a fé. Temos que
contar sempre com sua poderosa força, e seguir em
frente, entoando nosso grito de batalha: “Graças,
porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em
triunfo.” (2 Co 2.14.)
6. Ele pode guardar-nos neste mundo, livres do
mal. Foi essa a petição de Cristo, na oração que fez
por seus discípulos. Vemos isso em João 17.15: “Não
peço que os tires do mundo; e, sim, que os guardes do
mal.” E uma proteção dupla. Somos preservados da
morte e das enfermidades, e de qualquer coisa que
possa tirar-nos do mundo; mas somos também guar­
dados do mal do mundo, e principalmente protegidos
do maligno. Na língua original o versículo diz o Malig­
no.
Não existe um mal abstrato, mas um diabo, que é
uma pessoa, o nosso adversário e que “anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém
para devorar” (1 Pe 5.8). Mas o poder e a proteção do
Senhor se coloca entre nós e suas garras destruidoras.
Ele é um inimigo já derrotado, e temos que encará-lo
como tal, e sair contra ele com o prestígio de um

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vencedor, em nome daquele que o derrotou, o Senhor
Jesus Cristo.
As vezes, o diabo nos ataca com suas artimanhas
e outras vezes com seus dardos inflamados, mas com o
escudo da fé poderemos resistir a ambos. Não preci­
samos ficar temerosos do diabo. Algumas pessoas têm
tanto medo do diabo que quase temem deixar que o
Senhor tenha total liberdade em seus cultos. O temor
do fanatismo tem impedido que muitos cristãos au­
tênticos, bem intencionados, deixem de receber o
batismo do Espírito Santo. Vamos nos apropriar
corajosamente de todas as bênçãos que Deus tem para
nós, e confiar em que ele nos protegerá de experiên­
cias falsas.
Se pedirmos pão a Deus, ele não vai nos dar uma
pedra; e se lhe pedirmos peixe, e realmente quisermos
fazer a vontade dele, ele não nos dará uma serpente.
Pelo nome de Jesus, e pelo seu precioso sangue,
ficaremos seguros e protegidos do maligno.
7. Ele pode nos guardar de tropeçar. Judas diz:
“Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de
tropeços e para vos apresentar com exultação.” (Jd
1.24.) Naturalmente ele pode nos proteger para não
nos perdermos. Existem muitos que se contentam em
apenas se salvar, mesmo que seja por um fio. É um
ideal muito rasteiro. Ele pode guardar-nos de trope­
çar, e pode apresentar-nos imaculados e com exulta­
ção perante a sua glória.
E se Deus pode guardar-nos por um segundo,
pode guardar-nos durante trinta e três milhões de
segundos — um ano — e até por muito mais tempo, se
continuarmos a confiar nele momento a momento.
Elevemos nosso ideal, e deixemos que ele nos guarde
de escorregar, tropeçar e cair.
8. Ele pode proteger-nos do toque do inimigo. No
último capítulo de 1 João há uma promessa muito
importante: “Aquele que nasceu de Deus o guarda, e
o maligno não lhe toca.” (1 Jo 5.18.) O Filho unigênito
de Deus guarda aquele que confia nele, e o guarda de
tal maneira que o maligno não lhe toca.

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E como aquele velho e conhecido quadro em que se
vê uma mosca num dos lados de uma vidraça, e um
pássaro do outro. O pássaro atira-se sobre a presa e
pensa que a pegou. A mosca estremece e pensa o
mesmo. Mas só se ouve um barulho surdo, algumas
penas esvoaçam, mas a mosca ainda está ali, sem
saber como escapou de ser apanhada. Mas nós sabe­
mos o que aconteceu! havia algo entre o pássaro e a
mosca, algo que o pássaro não viu e de que a mosca
havia-se esquecido.
Graças a Deus, quando o diabo se atira sobre nós
com todas as suas forças, existe Alguém entre nós e
ele. Para chegar até nós, ele tem que passar por Jesus
Cristo. Se tivermos sempre firme confiança em Deus,
o diabo ficará muito mais ferido do que nós.
9. Ele é poderoso para guardar seus servos e
ministros. Veja isso: “Eu, o Senhor, te chamei em
justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei
mediador da aliança com o povo, e luz para os
gentios.” (Is 42.6.) Esta bendita promessa é feita
primeiramente ao Senhor Jesus, mas em segundo
lugar a todos os seus servos fiéis nos quais habita e
opera.
Deus segura seus ministros em sua mão direita e
diz: “Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis
os meus profetas.” (1 Cr 16.22.) Quem faz um comen­
tário leviano sobre um verdadeiro servo de Deus ou
age contra ele de alguma forma é muito imprudente.
“Quem és tu que julgas o servo alheio? para o seu
próprio senhor está em pé ou cai... o Senhor é
poderoso para o suster.” (Rm 14.4.)
Se estivermos servindo a Cristo com coração since­
ro, não precisamos ter medo. Aquele a quem o Pai
contempla segurará nossa mão direita e nos guardará
e nos dirá: “Eu te amei, darei homens por ti e os povos
pela tua vida.” (Is 43.4.) “Agindo eu, quem o impedi­
rá?” (Is 43.13.) E Deus quem nos diz: “E te protejo
com a sombra da minha mão, para que eu estenda
novos céus, funde nova terra, e diga a Sião: Tu és o
meu povo.” (Is 51.16.)
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Um único soldado da cruz, que se levante por
Jesus e confie nele, é mais poderoso do que legiões e
legiões de fortes inimigos. Vamos confiar nele, mesmo
que estejamos cercados de perigos e de inimigos, e
mesmo quando os amigos são poucos. E mais fácil que
o céu venha abaixo e a terra se dissolva, do que ele
talhar para com um de seus servos que nele confiam.
10. Ele protegerá sua causa, sua Igreja, sua vinha.
“Cantai a vinha deliciosa! Eu, o Senhor, a vigio e a
cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça
dano, de noite e de dia eu cuidarei dela.” (Is 27.2, 3.)
As vezes parece que achamos que somos os protetores
da causa de Deus e que ele se esqueceu totalmente
dela. Achamos que temos que nos pôr a berrar e a
gritar para que ele nos ajude a cuidar da propriedade
dele. Mas o fato é que o Senb or está cuidando de nós e
de sua causa também. “Eu, o Senhor, a vigio... para
que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia eu
cuidarei dela.” (Is 27.2,3.)
Não há dúvida de que existem perigos, provações,
adversários, mas também há uma outra coisa: a
presença do Senhor. E há duas palavras que são mais
fortes do que todos os dês do dicionário, sejam eles
dificuldades, desânimo, divisões, declínio e o diabo.
Essas duas palavras são: mas Deus...
Existe uma bela figura profética nos versos iniciais
do livro de Zacarias, que foi escrito para confortar o
povo em momentos de grande dificuldade. Primeiro o
profeta viu quatro chifres vindo de todas as direções
— chifres fortes, aguçados, cruéis. Eles se arremetiam
contra tudo que estava à frente deles e o perfurava.
Quando ele olhava para o norte, ali via um chifre;
olhava para o sul, e lá estava outro. Os dois estavam
prestes a encontrar-se, e ele estaria no meio deles.
Quando olhava para o leste, via ali um chifre; olhava
para o oeste, e lá estava outro. E os dois iriam
encontrar-se bem junto ao peito dele, que estava
desprotegido.
Mas depois a cena mudou, e ele viu quatro

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ferreiros que vinham na mesma direção. Cada um
deles trazia ferramentas nas mãos — um grande
machado, uma serra afiada, e sem dúvida uma pesada
marreta. Daí a pouco ele passou a ouvir os golpes do
machado, o zumbido da serra; e os chifres iam sendo
destruídos, perdendo suas pontas, e sendo transfor­
mados em massa informe, macios como almofadas,
tornando-se incapazes de fazer mal a alguém.
Se estamos realizando a obra de Deus, lembremo-
nos de que as portas do inferno não poderão prevale­
cer contra ela; e Deus manda um ferreiro para cada
chifre que aparecer.
Deus é poderoso para guardar o depósito que
confiarmos a ele. “Porque sei em quem tenho crido, e
estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu
depósito até aquele dia.” (2 Tm 1.12.) Mas, o que
resta saber é: quanto é que de fato depositamos?

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