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O uso da Reverencia ancestre na divinação

CONSTRUINDO UM SANTUÁRIO PARA OS ANCESTRAIS

Todos os sistemas de divinação radicados em Ifá são consider -


ados como métodos de comunicação direta com os Espíritos. Cada
sistema lida com Espíritos muito específicos de maneira muito estru -
turada. De modo a facilitar uma comunicação clara, é importante
saber quais Espíritos estão sendo contatados e o uso de invocações
apropriadas.

Ifá ensina que o poder para invocar com eficiência os Espíritos


vem como resultado da iniciação. A exceção a essa regra é Ẽgún (es-
píritos ancestrais). Em Ifá há iniciações aos ancestrais, mas a qual -
quer um é creditado ter o poder e habilidade para se comunicar com
os espíritos daqueles que passaram desta vida. Às vezes esta comu -
nicação pode simplesmente envolver lembrança de um ancestral rev -
erenciado e fazer uso desta memória como parte de um modelo para
decisões na vida. É também considerado possível manter contato
com um espírito ancestral através dos sonhos.

Na cultura yorùbá é comum para um não-iniciado manter con -


tato com espíritos ancestrais. Isto é freqüentemente feito através de
sua participação nos festivais aos ancestrais da comunidade. Como
os festivais não são facilmente acessíveis em nosso país, cultuadores
de Òrìs à ocidentais criaram várias alternativas. Usando estas alter -
nativas aproximadas, o primeiro passo para honrar os ancestrais é a
construção de um relicário que pode ser usado como ponto focal para
meditações e orações.

Há numerosos métodos tradicionais africanos para a construção


do relicário, alguns dos quais são muito complexos e carecem de
treinamento pessoal. Para aqueles que não tem acesso a um Babal-
awo ou a um Òrìs à awo, eu recomendo que o altar seja construído
com um mínimo de elementos. Uma vez que estes elementos estejam
colocados em lugar adequado, os espíritos ancestrais poderão ser di -
retamente consultados para orientação quanto a adições de elemen -
tos ao relicário.

PREPARAÇÃO DO LUGAR SAGRADO

Antes que um relicário aos ancestrais seja montado, vários pas -


sos preliminares são necessários. Primeiramente o quarto deverá ser
limpo e arrumado. Uma vez que o altar esteja construído, deve per -
manecer tão limpo quanto possível. Ifá ensina que sujeira e desor -
dem podem atrair forças espirituais indesejáveis. Isto pode soar sim -
plista, mas em minha experiência constatei que é uma consideração
muito importante a ser feita.

Após o quarto estar em ordem, é necessário incensa-lo. Incen -


sar é um processo de limpeza espiritual usando a fumaça de folhas
queimadas. Há muitos tipos de folhas que podem ser usadas, por ex -
emplo, Cedro e Artemísia. Comece colocando as folhas em um recipi -
ente adequado e diga a oração sobre estes ingredientes. A religião
de Ifá faz uso extensivo de muitas orações formais das quais muitas
têm estrutura claramente definida. A oração pode ser em Yorùbá ou
em sua própria língua. Muitas das orações em Ifá começam por con -
tatar um espírito em particular, seguido de uma identificação da pes -
soa que está fazendo a oração, como segue:

Ìbà se Ẽgún

(Eu saúdo os espíritos ancestrais)

Mo ni (nome)

(Eu sou “nome”).

Esta parte da oração é seguida por uma benção ao incenso


como segue:
Ìbà se Orí Ewé

(Eu saúdo o Espírito das Folhas).

Após as folhas serem consagradas, peça por uma tarefa especí -


fica, por exemplo:

Fun mi ni alãfia.

(traga-me paz).

Fun mi ni ilera.

(traga-me um lar estável).

Fun mi ni orí ire.

(traga-me sabedoria).

A oração finaliza com um agradecimento;

Ewé, mo dúp e , àse.

(Folhas, eu vos agradeço, assim seja).

Esta oração deverá ser pronunciada diretamente acima do in -


censo. Aqueles que foram iniciados em Ifá ou Òrìs à devem soprar so -
bre o incenso e dizer a palavra “ to”. A palavra “ to” significa “sufi -
ciência”. Quando um sacerdote ou sacerdotisa sopra sobre um ob -
jeto, o está consagrado para o propósito expresso na oração. Isto é
conhecido como colocar o seu àse na oração. A palavra “ to” funciona
como um selo encerrando a oração no objeto que está sendo
abençoado.

O propósito do incenso é limpar as influências negativas que


possam bloquear uma comunicação clara com os ancestrais. Ifá en-
sina que as emoções têm massa e que podem permanecer em deter -
minados lugares. Emoções como ira, ódio, desapontamento e inveja
podem aproximar espíritos ancestrais que se alimentam destas
emoções. Estes espíritos podem ser empecilho ao processo de trans -
formação espiritual.

Após a oração, acenda o incenso com um fósforo e espere até a


chama diminuir, formando uma nuvem de fumaça. Mova-se através
do quarto, certificando-se que a fumaça chegue até os cantos e ao
longo de todas as paredes. Concentre-se a favor de sua prece e
propósito da limpeza enquanto você se move pelo quarto. Se possível
continue a incensar o resto da casa ou apartamento. Mantenha-se
concentrado no que você está fazendo. Sua habilidade em se concen -
trar determinará a qualidade da limpeza. Se sua concentração se dis -
persar, as emoções associadas aos seus pensamentos aleatórios po -
dem frustrar seu propósito. Quando a fumigação é feita com forte in -
tento, a intuição pode guiar sua mão para áreas que necessitam
maior atenção.

Após o local ser bem limpo com a fumaça, use o incenso para
limpar a si mesmo. Comece pela frente do seu corpo, movendo-a da
altura dos seus pés até o topo de sua cabeça e desça por suas
costas. Cada passada deve ser feita sempre na mesma direção. Não
mova o incenso das costas para frente, por que você estaria retor -
nando aquelas influências que já foram removidas.

Nos rituais em Ifá, uma vez que a área esteja bem limpa é
tradição selar com ervas e água. Ifá utiliza uma faixa larga de selos
com o propósito de lacrar de modo positivo preces e invocações. O
mais simples selo para um não-iniciado é água pura. Pegue uma
vasilha com água e adicione pequena quantidade de perfume ou colô -
nia. Tenha certeza que você escolheu uma fragrância que você utiliza
periodicamente. como complemento, adicione pequena quantidade de
fluido corporal, tipo saliva ou urina a água. Fazendo isso, você está
colocando sua própria essência no selo. Isto se torna uma afirmação
aos espíritos de que você está com o controle de qualquer tentativa
na comunicação.

Uma oração deve ser feita sobre a água e é similar em estru -


tura à oração que foi feita no incenso.

Ìbà se Ẽgún

(Eu saúdo os Espíritos Ancestrais).

Mo ni (Seu nome).

Eu sou (Seu nome).

Ìbà se Orí Omi Tútù

(Eu saúdo os Espírito da Água Fria).

Fum mi ni à se adúrà Ẽgún

(Traga-me o poder para invocar os ancestrais).

Fum mi ni alãfia

(traga-me paz).

Fum mi ni orí ire

(traga-me boa fortuna).

Fum mi ni orí tútù

(traga-me a bênção da serenidade).

Fum mi ni ilera

(traga-me um lar estável).

Mo ti de iwa-p è lé

(Eu sou uma pessoa de bom caráter).

Mo dúpe gbogbo ire, omi tútù

(Eu agradeço a água por essas múltiplas bênçãos).

Àse
(assim seja).

Novamente, a oração deve ser falada diretamente sobre a água,


e o iniciado deve dizer a seguir a palavra àse com sopro e a palavra
to. Após a água ser consagrada, com a mão esquerda, aspergi-la por
todo local que foi limpo com incenso. Mantenha a atenção na idéia de
que o local está sendo limpo e consagrado. Muitos de nós temos an -
cestrais que não seriam bem-vindos ao altar, devido a falhas de
caráter desenvolvidas. É necessário excluir estes ancestrais e tornar
claro que nenhuma comunicação com eles é desejada. Antes de selar
o espaço com água, chame os nomes daqueles que serão excluídos
da participação e expresse firmemente suas razões para que eles não
sejam bem-vindos.

Há aqueles que não conhecem seus ancestrais. Não deixe que


isso impeça o trabalho. Simplesmente identifique os tipos de proble -
mas que você não permitirá no seu espaço. Esta mesma instrução
aplica-se `aqueles que não conhecem sua linhagem. Em particular,
você precisa excluir os espíritos que tenham padecido por abusos
substanciais, aqueles que tenham causado abuso físico e sexual,
aqueles que tiveram morte traumática e aqueles que cometeram
suicídio. Em uma data futura, você poderá realizar um ritual que
auxiliará a elevação daqueles espíritos ancestrais problemáticos que
você está excluindo de seu altar. Para aqueles que são novos no pro -
cesso de comunicação com os ancestrais, comecem pela auto-pro -
teção contra influências indesejáveis. Se um espírito ancestral inde -
sejável adentrar após a área estar selada, o problema deverá ser
levado a alguém mais experiente. Se não houver alguém mais expe -
riente disponível, simplesmente utilize o local como um lugar de
recordação e não faça mais invocações até que o problema seja re -
solvido.

CONSTRUÇÃO DO ALTAR PARA OS ANCESTRAIS


Quando o processo de limpeza for concluído, você estará pronto
para construir seu altar. O propósito do altar é servir como lem -
brança daqueles ancestrais cuja sabedoria e compreensão tenham
melhorado sua qualidade de vida. Novamente, para aqueles que não
conhecem sua linhagem, não deixem que isso iniba o trabalho. O al -
tar pode ser usado tanto para comunicação com um parente con -
hecido, como com figuras históricas que tenham lhe inspirado. Ifá
ensina que se traçarmos nossa ancestralidade, no final seremos to -
dos parentes.

Coloque um caixote ou mesa no lugar. Cubra com tecido branco


e coloque um copo de água fresca e uma vela branca em cima.
Coloque fotografias e desenhos de parentes ou figuras históricas so -
bre ou perto do altar. A veneração aos ancestrais é então praticada
para que cresçamos na sabedoria daqueles que vieram antes de nós.
Simplesmente observar a imagem de ancestrais inspirados pode
servir como lembrança subliminar das contribuições que eles
tiveram. Respeito aos ancestrais é parte da maioria das religiões na
Terra. Muitos de nós provemos de ancestralidade mista, e dentro
desta ancestralidade é provável que haja uma ampla faixa de crenças
e práticas religiosas. Em Ifá há uma aceitação de diversas influências
espirituais que têm contribuído positivamente para a qualidade da
vida humana. Eu vi santuários para os ancestrais na África com fotos
de profetas Budistas, Islâmicos e Cristãos. Não há necessidade de
limitar as influências espirituais que são representadas. Tudo que é
preciso é uma compreensão dos princípios universais que são expres -
sos em ampla faixa de formas histórico-culturais.

Quando o relicário estiver pronto, fique defronte a ele e acenda


uma vela. A primeira afirmação que deve ser feita aos ancestrais em
seu altar é um compromisso do uso regular do espaço para oração e
meditação. Eu chamo esse tipo de acordo de disciplina de auto-
ajuste. O pano branco, a vela, água e fotos são como um imã que
orientam os ancestrais até o altar. A corrente que põe em funciona -
mento o imã é formada pelas orações dirigidas a ele. Se você apenas
recorrer ao relicário em momentos de crise, o poder de atração será
fraco. Se você carrega a bateria regularmente a conexão espiritual
será forte tornando a conexão clara e acessível.

Neste ponto você pode dispender algum tempo para relembrar


daqueles parentes e daqueles modelos que têm influência no cam -
inho que você vê no mundo. Comece por examinar as influências do
passado que você deseja reforçar e influências do passado que de -
seje diminuir. Comece a identificar características positivas de ances -
trais específicos. Qualidades como coragem, honestidade, fidedig -
nidade e criatividade podem todas ser acentuadas através da inspi -
ração daqueles que demonstraram estas qualidades em vida. Assim
que você desenvolver esta conexão com os ancestrais, você estará
apto no decorrer do dia a sintonizar as qualidades desejadas. Uma
forma muito efetiva de comunicação com o ancestral é simplesmente
relembrar como ele em particular teria manipulado um problema.

Ao final de sua primeira sessão defronte ao altar, termine sua


meditação pelos dizeres;

Mo dúpe Orí Ẽgún

(Eu agradeço à sabedoria ancestre).

Àse

(Assim seja).

LIMPEZA ESPIRITUAL PESSOAL

Com a ponta de seus dedos tome uma pequena quantidade de


água da que foi utilizada para selar o quarto. Mova sua mão por todo
o corpo. Comece pela frente e depois passe para a parte de trás de
seu corpo. Este gesto tem como propósito retornar seu corpo e seus
sentidos para a esfera terrena. Você está limpando a si mesmo, en -
tão siga o processo até sentir-se totalmente aterrado. Esta limpeza é
feita para transformar o estado de consciência alterada em estado de
consciência normal e deve ser feita no fim de cada sessão defronte
ao altar. A água utilizada para esta limpeza é entornada fora de sua
moradia e fora da frente de sua porta.

Conforme sua intuição e habilidade em se comunicar com os


ancestrais melhorar, você desejará estar em total controle de quando
e onde esta comunicação tem efeito. Falhar com esta precaução pode
leva-lo a transformar-se em um médium sem controle. Na cultura
ocidental esta condição deveria receber um suporte mais comum,
visto que pode acarretar problemas no desenvolvimento do
médium.

VARA ANCESTRAL – IGI ẼGÚN

O próximo passo para concretizar o uso do relicário ancestral


é fazer uma vara ancestral. Em yorùbá a vara é chamada de igi ẽgún .
O processo para confeccionar um igi ẽgún é levar sete pedaços de
fruta a uma área arborizada. Embrulhe a fruta em um pano branco.
Antes de iniciar sua procura por uma vara pare na entrada da flo -
resta e se identifique. Declare o propósito de sua visita e peça per -
missão dos espíritos do local para adentrar em seu domínio. Esta
oração em yorùbá será como segue:

Ìbà se Orí Igbó

(Eu saúdo os Espíritos da Floresta).

Mo ni (seu nome).

[Eu sou (seu nome)].

Gbogbo ewé mo dúp e

(eu agradeço a todas as folhas)


Igbó, fun mi ni igi Ẽgún

(Floresta traga-me a vara de meus ancestrais).

Remova seus sete pedaços de fruta do pano branco, e coloque-


os na base de uma arvore grande. A fruta será comida pela vida sel -
vagem ou decompor-se-á no solo. É a sua oferta que está sendo
dada em troca da permissão para remover a vara do arvoredo. Con -
clua com a seguinte oração:

Igbó a dúp e

(floresta, eu vos agradeço).

Àse

(assim seja).

Você agora está pronto para procurar uma vara que possa ser
usada no processo de invocar ancestrais. Eu passei essas simples in -
struções para muitos de meus estudantes e eles têm registrado bons
resultados. Uma vez feita as oferendas, eles sentiram como que
sendo levados a um local particular, onde viram um galho de arvore
no chão, e sabiam que esta era a vara que procuravam. Eu re -
comendo aquela que tenha realmente caído de uma árvore, ao invés
de retira-la de um galho vivo. Quando deixar a área, mais uma vez
agradeça a floresta:

Igbó a dúp e

(floresta, eu vos agradeço).

Àse

(assim seja).
Quando chegar em casa, coloque a vara defronte ao altar e
limpe-a. Em Ifá a vara deverá ser limpa com um sabão negro
chamado ose . Se ose não for disponível, use um sabão cheiroso.
Após a vara estar limpa, incense e sele-a utilizando as mesmas téc -
nicas já descritas. Eu prefiro usar a vara simples, mas é tradicional
adorna-la com tiras rasgadas de pano, guizos, conchas e onarmentos
associados aos seus ancestrais. O pano deve ser rasgado de uma
roupa velha. Se possível, a roupa devera ter sido usada por um an -
cestral conhecido.

Após a vara ter sido decorada, leve-a ao altar, acenda uma vela
e refresque a água. A vara pode ser agora utilizada como parte do
processo de invocação. Invocar significa que você está convidando os
ancestrais a juntarem-se a você no altar, em alguma forma de comu -
nicação direta. Há muitas maneiras de invocar os ancestrais e muitas
linguagens as quais eles respondem também. Estou incluindo uma in -
vocação tradicional usada pela minha família espiritual. Eu encorajo
o uso de invocações que utilizam uma herança cultural e espiritual
de ancestrais que estão sendo invocados. Isto pode requerer alguma
pesquisa, mas em minha experiência, toda cultura possui uma forma
de reverencia ancestral. Use sua vara ancestral para bater no chão
enquanto você está dizendo sua evocação. A vara é tanto instru -
mento musical como veiculo de canalização de energias. Quando
ocorre possessão é comum para o ancestral mover a vara através do
médium. Como ela é um instrumento de invocação, deve apenas ser
usada em um contexto ritualístico. A invocação aos Ẽgún recomen -
dada é :

Ìbà á se Orí Ẽgun, ila Oorun.

(Eu saúdo os espíritos ancestrais do Leste)

Ìbà á se Orí Ẽgun, iwo Oorun.


(Eu saúdo os espíritos ancestrais do Oeste)

Ìbà á se Orí Ẽgun, Ariwa.

(Eu saúdo os espíritos ancestrais do Norte)

Ìbà á se Orí Ẽgun, Guusú.

(Eu saúdo os espíritos ancestrais do Sul)

Ìbà á se gbogbo Ẽgun Ò run.

(Eu saúdo a todos os espíritos ancestrais que estão no mundo


dos ancestrais).

Ìbà á se (nome do parente).

[Eu saúdo a (nome do parente)].

Nomeie cada parente que você deseja honrar, começando por


aqueles que faleceram mais recentemente até os mais afastados que
você conheça. Diga: “ Ìbà á se ” e chame pelo nome do ancestral. De -
pois disso chame pelo nome das figuras históricas que lhe tenham
trazido alguma forma de inspiração, sabedoria e conhecimento. Outra
vez diga: “ Ìbà á se ” antes de cada nome. É tradição finalizar a
recitação chamando para fora , da seguinte maneira,algo que você
imagina que algum de seus ancestrais possa ter passado em algum
momento,. Por exemplo:

Ìbà á se “todos aqueles ancestrais que morreram de fome”

Ìbà á se “todos aqueles ancestrais que morreram ao nascer ”

É também apropriado invocar a força e inspiração daqueles pro -


fessores espirituais que ainda estão vivos. Isto é feito dizendo:

Kikan ma’se (nome do professor).


Eu peço suporte de (nome do professor).

Liste cada professor após a frase kikan ma’se. Em Ifá é tradi -


cional chamar o nome dos mais velhos por ordem de senioridade. Em
geral a senioridade é baseada na ordem cronológica de iniciação ao
contrário da idade.

Neste ponto da invocação você deve se sentir motivado a can -


tar. É aconselhável cantar qualquer tipo de música que seja familiar
a sua linhagem familiar. Existem numerosas cantigas tradicionais
yorùbá. Aqui apresento duas das mais comuns:

ORIN (cantiga)

A Ìbà se , Ìbà se o.

(Eu saúdo, eu saúdo).

Ìbà Baba, ìbà Y é yé ,

(Eu saúdo aos pais, eu saúdo as mães),

Ìbà se o.

(Eu saúdo).

ORIN (cantiga)

Wo’lé wa Egúngun,

(Que os ancestrais entrem em meu lar),

Wo’lé wa

(Que eles entrem em minha casa).


OBLAÇÃO ANCESTRE – ADÍMU ẼGÚN

Após os cânticos você pode fazer uma oferenda de comida no


altar. O termo yorùbá para esse tipo de oferenda é Adímu Ẽgún . Na
África, a oferenda mais comum aos ancestrais é uma pequena porção
de comida que é colocada no extremo do tabuleiro de refeição. Como
na cultura ocidental geralmente se toma a refeição em uma mesa, a
oferenda pode ser colocada em um pequeno prato , colocado no
chão, defronte ao altar Ẽgún. É tradição utilizar um prato trincado. O
prato quebrado simboliza o corpo transformado que retorna a terra
enquanto a alma ( èmì) é elevada ao reino dos ancestrais ( Òrun). Em
adição a comida, é comum oferecer alguma coisa para beber. Uma xí -
cara de café ou chá pode ser colocada próxima ao prato. Se você
está oferecendo`uma libação, segure a garrafa em sua mão es -
querda e cubra a boca com seu polegar. Flores podem também ser
usadas como oferenda e elas podem ser colocadas diretamente no al -
tar. É uma prática comum dentro das comunidades de Culto Òrìs à no
ocidente usar cigarros como oferenda aos ancestrais. A fumaça é us -
ada como método de limpeza similar à defumação. Uma vez que você
esteja em contato com os ancestrais, eles farão pedidos específicos
dos tipos de oferendas que eles querem. Você deve fazer o possível
para cumprir o pedido, porque, segundo minha experiência isso ele -
vará a qualidade da comunicação.

Uma vez que as oferendas tenham sido feitas, você deve


agradecer aos ancestrais por todas as bênçãos que recebeu. Você
pode expressar sua gratidão em suas próprias palavras ou pode
usar a seguinte oração yorùbá:

E nle oo rami oo.

(Eu estou saudando vocês meus amigos).

Be ekolo ba juba ile a lanu.

(Se os vermes da terra homenageiam a terra, a terra sempre


lhes dará acesso).

Omode ki ijuba ki iba pa a.

(Uma criança que presta homenagem nunca sofre as conse -


qüências).

Ẽgún mo ki e o.

(Ancestrais eu vos saúdo).

Ẽgún mo ki e o ike eye.

(Ancestrais eu vos saúdo com respeito).

Ohun ti wo ba njhe lajule Ò run,

(Sejam quais forem as coisas boas que estejam comendo no


Céu),

Ni mo ba won je.

(Comam minhas oferendas junto com elas).

J’epo l’aiye o.

(Comam fartamente da terra).

O mo a t’ayie sola n’igbale.

(As crianças da terra são gratas por suas bênçãos).

Orí Ẽgún, mo dúp e .

(Eu agradeço a Sabedoria dos Ancestrais).

Àse

(Assim seja).

A Alimentação dos Ancestrais deve ser feita regularmente para


mante-los perto de seu altar. A freqüência da alimentação é parte
do acordo que você fez com os Ancestrais. Na África, alguns sacer -
dotes e sacerdotisas fazem oferenda a Ẽgún em todas as refeições
e antes de beber qualquer liquido. O calendário Yorùbá é baseado na
semana de cinco dias, então alguns sacerdotes e sacerdotisas fazem
uma oferenda especial a Ẽgún uma vez a cada cinco dias. Como nós
usamos a semana de sete dias é comum neste país fazer oferendas
em ciclo de sete dias. É aceitável alimentar os ancestrais com menos
freqüência, desde que você mantenha seu acordo.

Para aqueles que não são iniciados, ter um relicário ancestral


lhes dará um lugar para o uso do sistema de quatro búzios para div -
inação e dará acesso aos espíritos ancestrais, que falarão através da
divinação. Em todos os sistemas de divinação baseados em Dáfá, a
divinação e´ direcionada a um Espírito específico. Que os Espíritos
possam trazer mensagens para um número de diferentes fontes, mas
as invocações para abrir a divinação são sempre direcionadas a um
Ẽgún /Òris à em particular.

DIÁLOGO ANCESTRAL – EGÚNGUN

Em ifá, os médiuns que são possuídos por espíritos ancestrais


são chamados Egúngun. Esta é a contração das palavras Ẽgún, sig-
nificando “ancestral” e gun significando “médium”. Não há necessi -
dade de possessão para poder se comunicar com Ẽgún. Se você está
trabalhando sozinho, a possessão é indesejável devido ao espírito
não ter pra quem falar e o médium não ter ninguém para guia-lo de
volta ao estado normal de consciência.

É possível através da meditação, ouvir a voz de um Ẽgún e


também p ver a imagem de um Ẽgún. Algumas vezes a comunicação
pode simplesmente ser uma intuição que não tem fonte audível ou
visual. O tipo de comunicação não é importante. O foco deve estar
na qualidade da informação recebida.

Eu tenho encontrado no trabalho com meus estudantes, que


um simples conjunto de questões pode iniciar diálogo com um
Ẽgún. Após você ter feito a invocação e ter feito uma oferenda,
comece perguntando: “Há alguém que deseja falar?” . A resposta
não precisa ser clara logo de início, apenas siga a intuição. Se você
sentir que alguém deseja falar, assuma isto então. Poderá levar
várias sessões, mas quando houver comunicação, a próxima questão
será: “Qual o seu nome?”. Se o Ẽgún se recusar a responder, inter -
rompa o processo, limpe-se com água e apague a vela. A razão para
isso é que você está no comando do ritual e você deve manter este
controle. Qualquer Ẽgún que possa estar em assistência deverá dar o
nome claramente. Não se preocupe se você não reconhecer o nome.
Freqüentemente um espírito ancestral que responder não terá rela -
cionamento direto com sua linhagem familiar.

Uma vez que um nome for dado, questione o Ẽgun: “Você de -


seja que alguma coisa seja colocada no altar?”. Se possível, faça um
esforço para providenciar o que eles pediram antes de prosseguir
com o dialogo. Se o que foi pedido não estiver disponível no mo -
mento, faça a promessa de providenciar o que eles pediram dentro
de um prazo específico. Durante sua próxima sessão de meditação
defronte ao altar, inclua o nome do ancestral com o qual conversou,
nas orações de abertura. Se, futuramente você desejar se comunicar
com o Ẽgún, providencie a oferenda que ele pediu.

Após ter feito contato com o ancestral, peça-lhe orientação so -


bre questões pessoais não resolvidas. Comece pela negociação com
aquela questão cada vez que você adentrar seu sanctum. A melhor
maneira para você desenvolver sua habilidade nesta forma de comu -
nicação é começar formulando questões que podem ser respondidas
por um simples sim ou não. Quando terminar sua meditação, faça
um registro sobre a informação que foi recebida. Teste a qualidade
da informação, executando o conselho que foi dado, então tome al -
gum tempo para analisar objetivamente os resultados. Esta é uma
área subjetiva e carece de honesta avaliação para determinar tanto a
precisão de sua percepção, quanto seu julgamento sobre o valor da
informação recebida. Nem todo Ẽgún é suficientemente evoluído para
oferecer bons conselhos.Se isso ocorrer, agradeça ao Ẽgún e comece
procurar por orientação mais iluminada. É um princípio fundamental
em Ifá que todos os Espíritos respondem ao poder da palavra ( O fò
àse ). Use este poder para controlar a qualidade do trabalho de seu
Ẽgún. Tudo que é falado com suficiente vontade, manifestar-se-á. A
chave para o desenvolvimento da vontade é trabalhar através de
qualquer medo que possa aparecer enquanto trabalha com o Ẽgún.
Se isso se tornar difícil, simplesmente utilize o sanctum como um lu -
gar de introspecção e contemplação, evitando invocação direta.

Em minha experiência, o único perigo que pode advir com o


processo, ocorre quando alguém inconscientemente contata espíritos
sem evolução. Isto pode ocorrer como resultado de bebidas alcoóli -
cas e abuso de drogas. Certamente álcool e excessivo uso de drogas
pode abrir os canais de intuição, que estimulam contato com Ẽgún.
Se a pessoa que abusa destas substâncias, não estiver cônscia do
que está fazendo, os resultados podem ser destrutivos. Eu também
conheci pessoas que foram vitimas de abusos físicos e sexuais na in -
fância, que inconscientemente contataram Ẽgún. Quando uma criança
é sujeitada a um trauma extremo, pode deslocar-se para o astral
como forma de proteção. Viajem astral é a habilidade de separar a
mente consciente do corpo físico. Este processo pode leva-la a con -
tatar o Ẽgún,e alguns destes podem ser muito benevolentes. O prob -
lema que geralmente ocorre é que, devido à conexão ser feita com
pouca idade, não há uma compreensão clara do que acontece. Assim,
este fenômeno pode causar alguma confusão para aqueles que sofr -
eram abusos e então tentam contatar o Ẽgún quando adultos. Qual -
quer um nesta situação deve usar seu altar apenas como local de
meditação.

Vítimas de abusos físicos e de substâncias devem focar seus


ancestrais em questões que se referem à maneira de encontrar
orientação responsável que possa guia-lo a um estado de saúde. Em
minha experiência, os mais profundos conselhos de ancestrais nos
chegam como o resultado de relembrar como um parente lidou com
um determinado problema.
ATERRAMENTO E PURIFICAÇÃO SEGUINDO O RITUAL ẼGÚN.

Cada vez que você senta defronte ao seu altar ancestral, ali
deve haver água fresca sobre o pano e também uma vela acesa no
quarto. A vela e a água, mais chão sob o assoalho e o ar que respi -
ramos significam que o ritual esta sendo realizado em presença da
terra, ar, fogo e água. Estes são os elementos fundamentais da Cri -
ação e eles são as forças que representam os quatro primeiros Odù
em Dáfá. Ifá ensina que a interação entre esses quatro elementos
gerou a variedade de formas de vida que ascendem pela evolução.

Uma vez que você estabeleceu contato com um Ẽgún em partic-


ular, você deverá colocar um recipiente grande com água defronte ao
altar, toda vez que você planejar contata-lo. É tradição em muitas
comunidades Òrìs à no ocidente colocar pétalas de flores na água.
Limpe-se com a água do recipiente, antes de começar a invocar o
Ẽgún e não use a água que você colocou no altar. Quando você fi -
nalizar o ritual, limpe-se com a mesma água, pegando pequenas go -
tas e cobrindo seu corpo da cabeça aos pés. A limpeza é feita
movendo suas mãos, não é necessário imergir-se na água. Quando
a limpeza for concluída, termine o ritual dizendo:

Ìbà á se Orí Ẽgún,

(Eu saúdo a Sabedoria dos Ancestrais).

Ìbà á se Orí Ẽgún,

(Eu saúdo a Sabedoria dos Ancestrais).

Ìbà á se Orí Ẽgún,

(Eu saúdo a Sabedoria dos Ancestrais).

Àse

(Assim seja).

A frase é repetida três vezes devido ao número três simbolizar


o mistério que está oculto. É comum nas orações em Ifá, repetir cer -
tas secções três vezes, como reconhecimento dos mistérios in -
trínsecos na cerimônia. Quando a oração de encerramento for con -
cluída, apague a chama da vela, abafando- a com os dedos. Não so -
pre com a boca. Respirar sobre o altar pode puxar o Ẽgún de volta ao
altar e isto é o efeito contrário do que você está fazendo no mo -
mento. Quando você estiver aterrado, jogue a água em algum lugar,
longe de sua porta. Você deve entorna-la em algum lugar onde
ninguém passe, até que ela evapore e a energia do ritual tenha se
dissipado.

RITUAL ẼGÚN EM IFÁ

A reverencia ancestral dentro do contexto de Ifá é um estilo de


cerimônia altamente estruturada e formalizada. Na terra dos
Yorubas há sociedades Ẽgúngun , feita por membros de uma família
de indivíduos. Os médiuns se vestem com roupas consagradas, que
cobrem o corpo da cabeça aos pés. Muitas Sociedades Ẽgúngun re-
alizam encenações de eventos históricos de uma família específica.
Outros Ẽgúngun irão andar através da cidade, em épocas específi -
cas do ano, oferecendo suas bênçãos de casa em casa.

As sociedades Ẽgúngun possuem sofisticado sistema de inici -


ação e sistemas de invocação muito complexos. Muito deste material
foi perdido nos Estados Unidos. Contudo é experiência minha que
aqueles Ẽgún que falam com os cultuadores de Òrìs à neste país,são
encorajados a utilizar as formas antigas de ritual Ẽgúngun.

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