Recalque é definido como deslocamento vertical descendente absoluto ou
relativo do solo (ABNT NBR 6122:2019). Foi estabelecido como norma obrigatória a partir da norma A norma ABNT NBR 6122:2010 representa a norma referente ao monitoramento contínuo.
1.1 POR QUE REALIZAR O MONITORAMENTO DE ESTRUTURAS
As estruturas, com o passar do tempo, podem sofrer mudanças devido a
fatores internos ou externos, dessa forma para maior segurança, as mesmas devem ser constantemente monitoradas. Barragens, taludes e outras construções, por exemplo, podem sofrer com diversos fatores, entre eles, interferências geológicas, deformações, trincas e rachaduras provocadas por excesso de peso, interferências climáticas ou fenômenos naturais, o que requer um monitoramento contínuo. Toda a estrutura tende a se movimentar adequando-se a interferências climáticas e fatores do relevo. O principal objetivo do monitoramento de estruturas de marcos superficiais é levantar informações sobre as estruturas e identificação de possíveis inconformidades e seus agentes causadores, possibilitando realizar uma ação corretiva ou se for o caso uma ação restritiva passando segurança para o gestor e toda a sociedade.
1.2 COMO É FEITO O MONITORAMENTO DE ESTRUTURAS?
Os primeiros monitoramentos eram realizados com inspeções visuais em
campo, com o passar do tempo, as inspeções visuais em campo foram acrescidas de dispositivos afim de permitir uma análise mais elaborada de todo o complexo. Hoje em dia são utilizados sistemas modernos e automatizados, utilizando estações totais robóticas, receptores GNSS, piezômetros e outros dispositivos geotécnicos, podendo seus dados serem enviados em tempo real para um software trimble 4D control. O monitoramento de cada estrutura é único e individual, mesmo estruturas próximas podem se comportar de maneira diferente, possuindo agentes de mudanças diferentes, porém toda barragem, ou estrutura com grande dano potencial associado, deve obedecer ao monitoramento contínuo seja ele preventivo ou de manutenção para assegurar a segurança dela.
1.3 O QUE É?
1.3.1 Monitoramento
Monitoramento diz respeito a determinação de coordenadas dos mesmos
pontos vinculados as estruturas em épocas diferentes, associadas ao mesmo referencial, permite que se acompanhe o comportamento destes ao longo do tempo e desta forma da própria estrutura. Segundo Corrêa (2012) e Dalazoana (2013), o monitoramento pressupõe: Observações de alta precisão (alto grau de acuracidade); Repetibilidade das observações ao longo do tempo; Integração entre observações de diferentes tipos, obtidas a partir de diferentes equipamentos; Análise estatística dos dados adquiridos. Os métodos de monitoramento são classificados em geodésicos (detectar primeiramente movimentos absolutos) e geotécnicos (detectar primeiramente movimentos relativos). Os métodos de monitoramento geodésico visam encontrar alterações de coordenadas planimétricas e/ou altimétricas, de uma série de leituras, de pontos- objetos, em determinado período de tempo. Os valores encontrados indicam se houve alterações nos valores das coordenadas, chamado de deslocamento (CÔRREA, 2012). No monitoramento podem ser identificados duas situações, o deslocamento e a deformação. O deslocamento pode ser definido como o movimento individual de um ponto (ou conjunto de pontos) de um corpo/objeto devido a ação de forças externas, ou seja, é a mudança da posição do ponto se dá em relação a um referencial definido. Pode ser classificado em: translações e/ou rotações, mudanças de comprimento: elongamento ou encurtamento e distorção: quando os ângulos entre as linhas se alteram. A translação e rotação estão associadas ao movimento do objeto como um todo, já a mudança de forma e distorção estão associados a movimentos diferenciais entre os pontos, alterando a forma do mesmo. A deformação ocorre quando as forças que atuam sobre o corpo/objeto, produzindo deslocamentos que modificam o tamanho e forma do mesmo, dizemos que houve uma deformação. Os métodos físicos e geodésicos podem ser usados para estudar deformações. Os métodos físicos são utilizados primeiramente para detectar movimentos relativos. Métodos físicos são deslocamentos relativos e os métodos geodésicos são deslocamentos absolutos. Os tipos de monitoramento se completam de uma forma geral, sendo os mais comuns: Monitoramento de verticalidade: tem como objetivo geral verificar a inclinação da estrutura avaliada antes, durante e depois do início das obras; Monitoramento de contenções: tem como objetivo geral verificar os deslocamentos de cortinas e a sua direção frente a escavações; Monitoramento de recalques: tem como objetivo geral verificar o desempenho das fundações antes, durante e depois do início das obras. Além da superestrutura de edifícios, estruturas de contenções podem ser monitoradas com o propósito de detectar movimentações acima do esperado nas estruturas avaliadas, possibilitando a detecção de variações de forma ocorridas na estrutura, de maneira que sejam antecipadas ações corretivas se necessárias.
1.3.2 Recalque
O monitoramento de recalque é a medição dos deslocamentos que ocorrem
numa edificação, podendo ser feito no decorrer da construção ou após a conclusão e entrega da obra. Com o monitoramento de recalque é possível verificar as premissas do projeto estrutural e de fundações, obter informações preciosas para o desenvolvimento de futuras obras e garantir a segurança do empreendimento realizado. Tendo em vista a grande necessidade de ferramentas de controle do desempenho estrutural das obras, em 2010, a norma brasileira NBR 6.122 – Projeto e Execução de Fundações, tornou obrigatória a execução do monitoramento de recalques em obras residenciais, comerciais e indústrias. Atualmente se enquadram edifícios com mais de 55 metros de altura ou de elevada esbeltez, além de obras especiais, como silos, reservatórios e estruturas não convencionais. Para realizar o monitoramento de recalque, utiliza-se o Benchmark, que consiste numa referência de nível indeslocável utilizado para realização do monitoramento de recalques. Com o auxílio topográfico é possível realizar a medição da distância entre os pinos fixados estrategicamente nos pilares da edificação e o ponto indeslocável. Essas informações, permitem acompanhar a interação solo-estrutura e aferir o desempenho das fundações. Além disso, é possível identificar as causas de eventuais patologias, fornecendo assim subsídios para a proposição de intervenções. As medidas dos recalques em prédios deve obedecer a um planejamento cuidadosamente elaborado, que inclui a implantação de uma Referência de Nível indeslocável (Benchmark) fora da zona de influência de estudo a execução das campanhas de medição. O acompanhamento dos recalques é feito com pinos metálicos fixos em pilares ou nas peças estruturais onde se quer efetuar a medição. Utiliza-se um nível ótico de alta precisão para acompanhamento dos deslocamentos através da realização de leituras periódicas. Recalques são basicamente deformações que acontecem no solo quando o mesmo é exposto às cargas de uma estrutura. São dois tipos de recalques existentes: O recalque diferencial e o absoluto. Recalques uniformes ou absolutos ocorre quando todos os pontos de fundação têm o mesmo nível de recalque, a estrutura afunda como um todo. A estrutura não sofre danos estruturais, mas pode sofrer danos funcionais. Recalques relativos ou diferenciais é o recalque relativo à diferença entre duas bases de fundação que sofreram esse fenômeno. Pode ser dividido em dois subgrupos, são eles: recalque de corpo rígido e recalque de distorção angular. O recalque de corpo rígido ocorre em estruturas muito rígidas que têm os valores de distorção angular constantes. Já o recalque de distorção angular acontece em estruturas que afundam de forma incompatível, possuindo valores de distorção angulares diferentes. De acordo com NBR 15575 de 2003, referentes aos projetos de impermeabilização, as diferenças entre trinca, fissura e microfissura são as seguintes: trincas: possuem aberturas entre 1,0 mm e 0,5 mm; fissuras: têm aberturas de até 0,5 mm; microfissuras: contêm aberturas menores que 0,05 mm. Para achar a origem da ocorrência de recalques alguns elementos podem ser observáveis pelo responsável técnico. Podem ser: angulação ou orientação da(s) patologia(s), sua(s) profundidade(s) no lado interior do componente e alteração da espessura da(s) patologia(s). As causas presumíveis do recalque podem ocorrer por alguns motivos, dentre eles: dilatação térmica na superestrutura ou na fundação, vibrações imprevisíveis na superestrutura, assim como tremores e terremotos, sobrecarga pontual ou uniforme no conjunto e ataque por substâncias químicas, não só como o cloro, mas também como líquidos ácidos ou básicos. Algumas técnicas são utilizadas para prevenir a ocorrência de recalques na estrutura, são elas: realizar um estudo de solo através de sondagem, adequação de um projeto estrutural organizado para as cargas autênticas a serem utilizadas e não fazer alterações no projeto sem adequar propriamente a estrutura como um todo.
1.4 TÉCNICAS UTILIZADAS
Para o monitoramento algumas técnicas podem ser empregadas, são elas:
triangulação, trilateração, irradiação e poligonação. Os pontos de controle ou de apoio são a referência para as medidas. Compõem a chamada rede geodésica de referência. A partir desta que todas as observações são realizadas. A premissa é que estes sejam pontos estáveis, ou seja, não sofram deslocamentos em sua posição. O acompanhamento das coordenadas destes pontos ao longo do tempo é importante para a verificação desta estabilidade. De acordo com Neimeier(1981) apud Granemann(2005), o projeto de redes geodésicas é dividido em: Projeto de ordem zero: definição do sistema de referência ideal, Projeto de primeira ordem: escolha da melhor localização para as estações da rede. O projeto de primeira ordem precisa de: local estável, fácil acesso, seguro, que não seja frágil, que possibilite o maior número de visadas em relação aos demais pontos e que possa servir de apoio para diversas técnicas. O Projeto de segunda ordem é referente a escolha das observações a serem realizadas, bem como seus respectivos níveis de precisão. O Projeto de terceira ordem é a melhoria ou otimização da rede pré-existente. Pontos objeto são pontos para os quais efetivamente deseja-se realizar o monitoramento e acompanhar a variação de duas coordenadas ao longo do tempo. A seleção da quantidade de pontos e de sua localização deve ser feita junto ao especialista na estrutura, que vai indicar quais pontos devem ser monitorados.
1.5 EQUIPAMENTOS
Cada estrutura é única e os equipamentos utilizados no processo de
monitoramento de estruturas variam de acordo com o porte da estrutura e envolve questões técnicas. Deve-se observar o tamanho da estrutura, se a mesma possui pontos estáveis nas proximidades para serem utilizados como pontos de controle, qual o dano potencial associado, para verificar se o monitoramento deve ser realizado em tempo real ou por campanha. Os equipamentos utilizados para o monitoramento, geralmente utilizados são: estações totais robóticas, Estações totais robóticas de alta precisão, como, por exemplo, as Trimble S5, S7 e S9, permitem que seja realizado o monitoramento por campanha, realizando a leitura de prismas instalados em locais estratégicos, definido pela Geotecnia/Engenharia responsável pela estrutura, o monitoramento por campanha, normalmente é associado a estruturas com médio e baixo dano potencial associado. Todo monitoramento necessita informar os parâmetros de deformação e deslocamento, além das Estações Totais o monitoramento também pode ser realizado por receptores GNSS de alta precisão, como os receptores Trimble Alloy e NetR9, estes receptores indicam a posição de um ponto com altíssima precisão, permitindo realizar o monitoramento em pontos que não possibilitem o uso de uma estação total ou ser utilizados em conjunto com uma estação total, sendo utilizado como ponto de controle em locais onde não existam pontos de controle estáveis. Todos os dados são enviados para o software Trimble 4D Control que realiza a análise de cada ponto monitorado, tanto por Estações Totais, GNSS, piezômetros, inclinômetros, estações metereológicas e outros dispositivos geotécnicos, permitindo a análise individual ou em grupo de cada componente em tempo real ou pós- processada, de cada vetor de deslocamento, permitindo geração de gráficos de tendência, relatórios automatizados, verificação da estabilidade do sistema, alertas por e-mail setorizando o envio para cada limiar de movimento previamente informado, envio de SMS, acesso remoto por dispositivos móveis ou ainda o acionamento de dispositivos como Sirenes sem a interferência humana. A Benchmark, ou Marco de Referência (MR), é uma referência de nível irrecalável utilizada para realização de monitoramentos de deslocamentos verticais. Para verificar os deslocamentos verticais ocorridos na estrutura é necessário a adoção de um ponto teoricamente fixo que sirva de referência de nível para as demais observações. Para garantir esta propriedade a bench-mark deve ser instalada em local que não sofra a influência da própria obra ou outras causas que comprometam sua estabilidade. Adotando a classificação N-47 (Petrobras), os marcos topográficos, dependendo do fim a que se destinam, devem ser dos seguintes tipos: a) Marcos tipo ‘A’ (40kg): devem ser utilizados nas etapas de projeto básico, estudo do traçado básico, implantação do traçado definitivo e como marcos intermediários; b) Marcos tipo ‘B’ (750kg): devem ser utilizados na etapa de implantação do projeto definitivo das áreas ou extremidades e derivações de faixas; c) Marcos tipo ‘C’ (200kg): são uma opção ao tipo ‘B’, mais leves, devendo ser implantados em locais cuja escolha fica a critério do cliente; d) Marcos de RNP (Referência de Nível Profunda): devem ser utilizados em locais sujeitos a recalques, de modo a garantir a confiabilidade da referência, onde a instalação de outros tipos de marcos não é recomendada. RNP é a referência de nível estável para as observações de recalque, sendo ancorada no terreno resistente em profundidade e fora do campo de deslocamentos provocados pela obra. É instalada em furo de sondagem de 63mm ou 75mm de diâmetro que atinge camadas resistentes do terreno com SPT N> 12. Similar ao tassômetro, porém com ancoragem em tereno indeslocável, para a sua execução é inicialmente instalado no terreno um tubo de revestimento de PVC, ou ferro galvanizado, com 50mm de diâmetro. Um tubo de ferro galvanizado com 20 ou 25mm diâmetro, que servirá de referência de nível, é inserido e tem a sua extremidade inferior injetada com calda de cimento sem pressão. Na extremidade superior deste tubo acopla-se uma semi-esfera de latão para apoiar a mira topográfica. Em torno do RNP deve-se executar uma proteção adequada.